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Género E Direitos Fundamentais

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Área de estudo: Género e Desenvolvimento
Tema: 	Género e Direitos Fundamentais – Fundamentos Constitucionais e Desafios para um exercício efectivo dos direitos Sexuais e Reprodutivos em Moçambique.
Amaela
Introdução
1. Conceito de género e o seu enquadramento na agenda pública em Moçambique
1.1 O conceito de género
1.2 Inclusão da perspectiva de género na agenda pública em Moçambique e o quadro normativo.
2. Direitos fundamentais de género no ordenamento jurídico pátrio
2.1 A Igualdade Perante a lei e a igualdade de género
2.2 Os direitos sexuais e reprodutivos na perspectiva de género
2.3 Desafios para um exercício efectivo dos direitos sexuais e reprodutivos em Moçambique
Conclusões.
Introdução
O debate em torno dos direitos sexuais e reprodutivos contemplados nos direitos fundamentais e de cidadania é uma realidade difundida a nível internacional e também no ordenamento jurídico interno, neste propósito específico, é elucidativa a afirmação segundo a qual o conceito de cidadania extravasa o direito de voto, significa o direito ao controlo do seu próprio corpo e da sua sexualidade (Osório & Arthur: 2003). A relevância do debate é inquestionável, não só por se tratar de direitos associados à dignidade da pessoa humana, mas também por fazerem parte do leque das realidades desiguais que se verificam nas relações entre homens e mulheres cujos resultados são nefastos e obstam o desenvolvimento da mulher e, consequentemente, a tão almejada igualdade de Género. A constituição da República de Moçambique (CRM), à semelhança de várias constituições modernas dos Estados de direito democráticos e de justiça social, elenca uma série de direitos fundamentais, os quais são inerentes à dignidade humana, porém, a prática mostra que a previsão constitucional destes direitos não tem significado a sua real efectivação, primeiro porque a norma constitucional carece de der complementada por outros instrumentos legais regulamentares, segundo porque a lei por si só não basta para garantir a efectivação dos direitos e no caso específico dos direitos humanos na perspectiva de género a lei mostra-se ineficaz, em virtude de ser neutra, objectiva e universal, aplicando-se a todos da mesma maneira, numa realidade social que se caracteriza pelas desigualdades de género (Silveira:2003). O presente trabalho irá identificar os fundamentos constitucionais atinentes aos direitos sexuais e reprodutivos e discutir a problemática da sua efectivação. O argumento principal do trabalho é de que a mera consagração dos direitos sexuais e reprodutivos na CRM não significa por si só uma garantia da sua efectivação, são necessárias acções práticas, afirmativas e inclusivas, conducentes à realização efectiva dos referidos direitos. A abordagem será feita numa perspectiva sócio – jurídica, com enfoque na construção social de desigualdades de género, no tratamento jurídico-constitucional dos direitos sexuais e reprodutivos em Moçambique, bem como os principais desafios que se verificam para a sua efectivação.
1. Conceito de género e o seu enquadramento na agenda pública em Moçambique
 1. Conceito
O termo género é utilizado no sentido de distinguir a diferenciação feita entre os homens e as mulheres em razão do sexo (diferenciação biológica entre masculino e feminino), daquela que resulta de construções sociais e abrange comportamentos de índole psicológico, social, e cultural das sociedades, essencialmente imbuídas por sistemas patriarcais (Silveira:2003).
Alguns doutrinários sustentam que o estudo das diferenças e da diversidade dos papéis femininos no mundo das representações na história é fundamental quando se pretende a reconstrução da sociabilidade no quotidiano, pois, o termo género nesta perspectiva é utilizado como contrapartida cultural do sexo biológico, na medida em que a cultura se apropria das diferenças entre os sexos para justificar as desigualdades de género (Tedeschi:2007).
Nesta senda, a descriminação de género ocorre quando se verifica um tratamento diferenciado de homens e mulheres em razão do sexo. As mulheres são regra geral associadas à maternidade e às lides domésticas, enquanto os homens são associados ao exercício do poder e num sentido mais amplo, à posição de domínio relativamente às mulheres (Ortner:1974)
A doutrina é rica na abordagem à problemática da discriminação da mulher, apontando para o surgimento e desenvolvimento dos movimentos feministas como o elemento precursor de novas dinâmicas nos debates e na institucionalização do problema a nível nacional e transnacional (Guzman:2001), que culminaram com a aprovação de vários instrumentos internacionais que foram posteriormente incorporados no Direito interno dos países.
Moçambique não se encontra alheio à problemática decorrente das relações de género, na verdade, vários estudos têm sido feito pelas organizações que trabalham em prol do desenvolvimento da mulher, constatada a sua posição subalterna na sociedade e que se manifesta através da falta de oportunidades para a educação, formação, acesso à saúde, emprego e outros serviços sociais (Loforte: 2007).
1.2 A inclusão da perspectiva de género na agenda pública em Moçambique e o quadro normativo
O país tem encetado um conjunto de acções significativas para a institucionalização e inclusão da perspectiva de género na agenda pública (Loforte:2007), com vista à redução eliminação dos factores que descriminam a mulher e o exercício dos seus direitos de cidadania.
O instrumento básico de actuação Estadual, considerando a tipicidade e o princípio da legalidade administrativa que norteia a sua actividade, tem sido a consagração legal de instrumentos que preconizam a igualdade entre homens e mulheres, com particular destaque para a Constituição da República de Moçambique no tocante aos direitos fundamentais.
Uma análise à evolução constitucional de 1975 a 2004, permite aferir que em cada um dos referidos dispositivos se consagrava a igualdade entre homens e mulheres, no entanto, a última constituição fá-lo, expressamente, na perspectiva de género (artigo 36 da CRM, 2004), deste modo extravasa a mera igualdade universal dos cidadãos perante a lei e torna possíveis uma série de actuações mais concretas para a defesa específica dos direitos fundamentais decorrentes das relações de género, mister, os direitos sexuais e reprodutivos.
A nível infraconstitucional verifica-se a aprovação de vários instrumentos e diplomas legais com destaque para o Parpa II, a Política Nacional de Género e Estratégia de Implementação, o Plano Nacional para o Avanço da Mulher, dentre outros. Refira-se ainda a criação de organismos institucionais para a operacionalização da agenda de género, designadamente, o Ministério da Mulher e Coordenação da acção Social que vai em 9 anos de actuação, o Conselho Nacional para o Avanço da Mulher, composto por representantes de órgãos do Estado e da sociedade civil, bem como a Comissão dos Assuntos Sociais, de Género e Ambientais na Assembleia da República.
Ainda a este nível, o país procedeu à uma reforma legal que culminou com a aprovação de diplomas legais mais consentâneos com a realidade objectiva e social em que o país vive no concernente à remoção de barreiras discriminatórias em relação à mulher, nomeadamente, a Lei de Terras, a Lei da Família, o Código Comercial, a Lei sobre a Violência Doméstica praticada contra a Mulher.
No tocante às iniciativas internacionais para a promoção dos direitos das mulheres, Moçambique assinou e ratificou a Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (CEDAW), a Plataforma de Acção Pós-Beijing, a Carta Africana sobre os direitos humanos e dos povos, a Declaração da SADC sobre o Género.
Acontece, porém, que não obstante os avanços que se verificam do ponto de vista institucional e normativo, os problemas continuam a verificar-se, mormente no tocante aos direitos sexuais e reprodutivos, conforme cuidaremos de elucidar ao longo da abordagem.
1. Direitos Fundamentais de Género –
 1. A igualdade perante a leie a Igualdade de género
Os artigos 35 e 36 da CRM são de extrema importância neste ponto, por serem o ponto de partida para a análise que se pretende.
O artigo 35 consagra o princípio da igualdade universal dos cidadãos perante a lei nos termos seguintes: “Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política”.
A igualdade preconizada neste princípio mereceu várias críticas pelo facto de partir de uma premissa igualitária para tratar situações à partida desiguais (Facio:2006), o que significa que o tratamento igualitário iria desde logo perpetuar a desigualdade já existente. Ou seja, é conhecida a posição desigual entre o homem e a mulher na sociedade decorrente de um longo processo de socialização, assim, a aplicação do princípio da igualdade perante a lei, iria manter a situação já verificada.
É neste sentido que o feminismo advoga que o princípio da igualdade reserva-se para os direitos, e o da diferença para marcar as diferenças, entre homens e mulheres no acesso aos direitos (Silva e Andrade:2005)
Já Osório e Artur afirmavam em 2002, que as reformas legais por si só não são suficientes para garantir a igualdade de género e uma das razões apontadas para sustentar a afirmação era o facto de a igualdade perante a lei não significar a igualdade social, pois, conforme se cuidou de ilustrar acima, a posição desigual entre o homem e a mulher na sociedade é real e vem de um longo processo de socialização.
Os autores sustentavam, ainda, que a lei faz caso omisso das causas sociais da desigualdade, sejam elas a riqueza, a classe, ou o sexo e trata os indivíduos sem as características sociais da desigualdade e chamavam atenção para a necessidade de se evitar tratar a lei por si mesma, sem se considerar o contexto em que a mesma se insere.
Deste modo, a luta dos movimentos que advogam a necessidade da promoção da igualdade de género, destaca a necessidade de se considerar a diferença já existente, para se procurar mecanismos que permitam elevar a posição do grupo colocado em posição subalterna para que possa então falar-se de igualdade entre homens e mulheres, no sentido de igualdade de oportunidades, de escolha e de decisão. Por conseguinte, a igualdade formal consagrada na lei deve ser efectivada no sentido de comportar a igualdade social.
É neste sentido que Alda Facio (2006) propõe que o direito seja entendido como sendo constituído por três tipos de normas, a saber: o direito legislado, o direito judicial e o direito dos usos e costumes, este último constituído por regras informais que determinam quem, quando e como se tem acesso à justiça e que direitos cada um tem.
Outro elemento criticado a nível doutrinário é o uso do termo “cidadãos”, quando se trata de preconizar a igualdade de direitos entre homens e mulheres, pelo facto de se entender que é um conceito construído com a abstracção das diferenças discriminatórias socialmente construídas. A proposta é que o termo seja substituído pela expressão Homens e Mulheres.
Como que acolhendo as críticas endereçadas ao princípio universal da igualdade perante a lei, o legislador constitucional em Moçambique foi mais além, e consagra no artigo 36, o princípio da igualdade de género nos seguintes termos: “O homem e a mulher são iguais perante a lei em todos os domínios da vida política, económica, social e cultural”.
A consagração expressa do direito fundamental da igualdade de género, tem um significado mais amplo, pois mostra que o legislador fê-lo consciente de que ao consagrar que todos os “cidadãos” são iguais perante a lei, subsistia a impessoalidade e a abstracção das diferenças contidas no mesmo, sendo necessário ir mais além, expressando de forma inequívoca a necessidade de se respeitar a igualdade de género.
Outra ilação importante que decorre da análise do artigo 36 da CRM é o facto de que partindo do pressuposto de que homens e mulheres são iguais perante a mulher, associado ao facto de caber ao Estado a defesa e a promoção da igualdade dos cidadãos perante a lei (alínea e) do artigo 11 da CRM), então é tarefa do Estado a adopção de políticas normativas e sociais que culminem com a erradicação das desigualdades que se verificam.
Neste sentido, as políticas a serem adoptadas devem a priori ser favoráveis às mulheres por serem as que se encontram em posição desfavorável resultado das discriminações de que são alvo na sociedade, o que necessariamente irá implicar a adopção de medidas designadas de acções afirmativas ou discriminações positivas (Comissão Europeia:1998).
As discriminações positivas legitimam situações em que é preciso diferenciar para se igualar, com o objectivo único de se promover a igualdade de género, obviamente que tais medidas apontam para a sua precariedade, pois, atingido o ponto de equilíbrio a sua continuidade não se justifica.
 O facto é que, existem algumas críticas contra este tipo de acções, no caso de Moçambique um dos exemplos a apontar foi aquando da discussão e aprovação da Lei sobre a Violência Doméstica praticada contra a mulher, onde o fundamento era que a lei pretende proteger a mulher em virtude desta ser regra geral a vítima da violência doméstica, enquanto alguns sectores da sociedade advogavam a sua inconstitucionalidade face ao princípio da igualdade consagrado na constituição. A discussão terminou com a introdução do artigo 36 que consagra a igualdade de género na aplicação da lei.
No entanto, e não obstante alguma resistência até mesmo da sociedade civil, na realidade moçambicana são conhecidos alguns exemplos destas acções afirmativas, como a introdução de quotas no parlamento e a criação de incentivos e mobilização para o envio e manutenção das meninas nas escolas até à 7.ª classe. Todavia, o Estado precisa ainda de trabalhar mais, uma vez que as avaliações feitas indicam que muito ainda está por se fazer para a promoção da igualdade de género no país[1].
2.2 Dos Direitos Sexuais e Reprodutivos na Perspectiva de Género
Os direitos sexuais e reprodutivos são direitos humanos fundamentais comummente associados ao direito fundamental à vida, neste sentido o n.º 1 do artigo 40 da CRM dispõe que: “Todo o cidadão tem direito à vida e a integridade física e moral e não pode ser sujeito à tortura ou tratamentos cruéis ou desumanos.”.
No entanto, o âmbito dos direitos sexuais e reprodutivos não se restringe ao direito à vida, na verdade é bastante mais amplo. Propomo-nos apresentar o seu espaço de abrangência com recurso à Carta dos Direitos Sexuais e Reprodutivos da autoria da Federação Internacional para o Planeamento da Família (http://www.ippf.org/en), cujo objectivo é a promoção e protecção dos direitos e liberdades sexuais e reprodutivas em todos os sistemas políticos, económicos e culturais, conforme sintetizamos a seguir:
 ✓ Direito à vida – (i) Nenhuma mulher, em virtude da gravidez, deve ter a sua vida ameaçada ou em risco; (ii) Nenhuma criança deve ter a sua vida ameaçada ou em perigo, em razões de sexo; (iii) Nenhuma pessoa deve ver a sua vida ameaçada ou em risco por falta de acesso aos serviços de saúde e/ou à informação, conselhos ou serviços de Saúde sexual e reprodutiva (SSR).
 ✓ Direito à liberdade e segurança – (i) liberdade de poder desfrutar e de controlar a vida sexual e reprodutiva, no direito pelo respeito dos outros; (ii) direito de não ser submetida/o a intervenção médica relativa à SSR, sem o pleno consentimento e informação; (iii) direito de não estar sujeito/a ao assédio sexual, ao medo, vergonha, culpa ou outros factores psicológicos que prejudiquem o relacionamento sexual ou resposta sexual.
 ✓ Direito à igualdade/e de ser livre de todas as formas de discriminação – (i) Ninguém deve ser discriminado em relação à vida sexual e reprodutiva e no acesso aos cuidados de saúde; (ii) direito à igualdade de acesso à educação/informação, incluindo aoaconselhamento e serviços SSR; (iii) Nenhuma pessoa deve ser discriminada, ou vítima de violência, nomeadamente no quadro da vida sexual e reprodutiva.
 ✓ Direito ao respeito pela vida privada - (i) Os serviços de SSR, incluindo a informação e o aconselhamento, devem ser prestados com privacidade e garantia de confidencialidade das informações pessoais dos utentes; (ii) direito efectuar escolha autónoma em matéria de reprodução, incluindo as opções relacionadas com o aborto seguro; (iii) direito de exprimir a orientação sexual, sempre respeitando o bem estar e o direito dos outros; (iv) Todos os serviços de SSR devem estar disponíveis para todos os indivíduos, casais e em particular jovens, na base do respeito pelos seus direitos à vida, privacidade e confidencialidade.
 ✓ Direito à liberdade de pensamento – (i) Direito à liberdade de pensamento e de expressão relativa à vida sexual e reprodutiva; (ii) Direito à protecção contra quaisquer restrições por motivos de pensamento, crença e religião, no acesso à educação e informação relativas à sua saúde sexual e reprodutiva; (iii) Os profissionais de saúde (não) têm o direito de invocar a objecção de consciência para recusar o fornecimento de serviços de contracepção ou aborto e o dever de encaminhar os utentes para outros profissionais dispostos a prestar o serviço solicitado (com excepções).
 ✓ Direito à informação e educação – (i) direito a receber uma educação e informação correctas sobre a sua saúde sexual e reprodutiva, sem estereótipos ou sexismo, de forma objectiva, crítica e pluralista; (ii) direito de receber uma educação e informação suficiente, de forma a assegurar que quaisquer decisões relacionadas com a sua saúde sexual e reprodutiva, sejam exercidas com consentimento pleno, livre e informado; (iii) direito de receber informações completas quanto às vantagens, eficácia ou riscos associados a todos os métodos de regulação da fertilidade e prevenção da gravidez não desejada.
 ✓ Direito de escolher casar ou não e de planear a família – direito de ser protegida contra a obrigação de se casar sem o seu pleno consentimento e de aceder aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo casos de infertilidade.
 ✓ Direito de decidir ter ou não filhos e quando – (i) direito de acesso à informações, à educação e aos serviços necessários a uma maternidade e aborto sem risco, que deve ser acessível, prático e aceitável, (ii) direito ao acesso à gama mais ampla possível de métodos seguros, eficazes e aceitáveis de regulação de nascimentos; (iii) liberdade de escolha e de utilização do método seguro de protecção contra a gravidez não desejada que seja seguro e aceitável.
 ✓ Direito aos cuidados e à protecção da saúde - direito de beneficiar de um gama completa de serviços de saúde sexual e reprodutiva de qualidade, incluindo a informação, o aconselhamento em matéria de gravidez e esterilidade, o acesso a todos os métodos de regulação da natalidade e aos cuidados de saúde sexual e reprodutiva, bem como a continuidade na prestação dos mesmos.
 ✓ Direito de beneficiar dos progressos da ciência – (i) direito de beneficiar das novas tecnologias em matéria de saúde reprodutiva seguras e reconhecidas, incluindo as relacionadas com a esterilidade e a contracepção. (ii) dever de protecção contra todos os efeitos nocivos para a saúde e bem-estar, de técnicas empregues e estar informada sobre o assunto.
 ✓ Direito à liberdade de reunião e de participação política - direito de associação que visa promover o bem-estar em matéria de sexualidade e reprodução, e de influenciar os governos para que a saúde e os direitos nessa matéria sejam uma prioridade dos mesmos.
 ✓ Direito de não ser submetido a tortura e a tratamento desumano ou degradante – (i) todas as crianças têm o direito à protecção contra todas as formas de exploração, especialmente da exploração sexual, da prostituição infantil e de todas as formas de abuso, violência e assédio sexuais; (ii) direito à protecção contra a violação, a agressão, o abuso e assédio sexuais.
Ressalta da análise aos direitos acima elencados, que a questão dos direitos sexuais e reprodutivos atinge directamente as mulheres, na medida em que a autonomia reprodutiva e o exercício da sexualidade são matérias envoltas em preconceitos, tabus e domínio. Há casos em que o homem não aceita que a mulher escolha um determinado método anticonceptivo, alegando desconforto (Taela:2009). Outros exemplos podem ser apontados como é o caso de religiões que proíbem o uso do preservativo e de qualquer outro método artificial de regulação da natalidade (Igreja católica, religião islâmica, dentre outras).
A este propósito é elucidativo o estudo realizado por Teresa Silva e Ximena Andrade (2005) sobre a feminização do SIDA em Moçambique, no qual as autoras referem que os modelos de educação e a influência religiosa determinam que a jovem não esteja preparada, quando adulta, para negociar com o parceiro o exercício da sexualidade, seja na reprodução como no prazer, por outro lado as mulheres encontram-se sujeitas à contaminação de doenças sexualmente transmissíveis sem que se possam precaver e também não têm o direito de escolha sobre o seu corpo.
Atente-se também a questão da penalização do aborto pelo código penal vigente, como um factor inibidor dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher, na verdade o aborto inseguro praticado fora dos serviços de saúde e sem o acompanhamento de pessoal técnico especializado, resulta em graves problemas de saúde que muitas vezes conduzem à morte, infertilidade ou infecções graves das mulheres que o praticam, regra geral pertencentes ao estrato social mais baixo, consequentemente, as mais desfavorecidas (Machungo:2004).
O aspecto positivo neste ponto é o de se constatar que a CRM permite a realização dos direitos acima preconizados, conforme o seu Título III atinente aos Direitos, Deveres e Liberdades fundamentais, o que significa que no nosso ordenamento jurídico a lei mãe protege estes direitos.
Todavia, também é claro que a sua realização não é tarefa fácil e carece de um grande comprometimento e empenho por parte do Estado enquanto garante da promoção dos direitos fundamentais e não só, a sociedade civil tem um grande papel na medida em que conforme atrás explanado os direitos em alusão estão envoltos em tabus e estereótipos que não permitem uma abordagem social franca, aberta e inclusiva, facto que constitui uma grave limitação ao gozo dos direitos fundamentais das mulheres e que deve ser combatido.
Outro aspecto que ficou patente na análise do campo dos direitos sexuais e reprodutivos é que, não obstante a sua transversalidade, as áreas da saúde e da educação são fundamentais para se conseguir a efectivação destes direitos. Com efeito, a saúde é tão crucial que não se pode pensar em direitos sexuais e reprodutivos sem cuidados de saúde básicos, nomeadamente, existência de hospitais e de pessoal técnico capacitado, disponibilização de informação técnica sobre SSR, tratamento e aconselhamento de doenças sexualmente transmissíveis incluindo o HIV-SIDA, garantia de informação e acesso aos métodos de regulação de natalidade, aconselhamento aos jovens e adolescentes, dentre outros.
Neste aspecto específico, importa destacar a análise feita pela Professara Ana Loforte (2007), no tocante aos desafios que se colocam no sector da saúde na implementação dos objectivos estratégicos do género para atenuar as desigualdades de género, na qual a autora reconhece que o Ministério da Saúde tem estado a tomar medidas significativas no tocante à integração da igualdade de género, contudo persistia um longo caminho por percorrer.
Um dos aspectos referidos prendia-se com a necessidade de se elaborarem políticas de saúde tendentes a elevar a autonomia das mulheres, em virtude destas terem menos controlo sobre os recursos e menos opinião política que os homens. Explicava, ainda, que o conceito de autonomia é entendido como o controlo sobre a própria vida e corpo, o direito a uma identidade independente e auto respeito.O aumento de centros de saúde, a melhoria dos serviços disponíveis, das habilidades e conhecimentos técnicos do pessoal de saúde, a necessidade de análise do conteúdo da legislação e das políticas públicas de saúde, foram algumas das recomendações deixadas pela autora. A verdade é que o estudo mostra-se válido até hoje, pois a limitação dos direitos sexuais e reprodutivos é ainda aponta nos relatórios e estudos sobre a situação de género em Moçambique.
A semelhança do que acontece com a saúde, o papel da educação no tocante à SSR é crucial, é preciso que as pessoas estejam esclarecidas para que se possa romper com os tabus e outras práticas conservadoras que influem negativamente sobra a mulher e a rapariga em especial. Reza a doutrina que os direitos sexuais e reprodutivos são melhor tratados no sentido libertário e igualitário e não no sentido prescritivo das normas, que apontam para um sentido repressivo e discriminatório, como é o caso da criminalização do aborto.
A educação é referida em termos formais através da introdução de matérias de SSR nos curricula, de forma gradual atendendo o público-alvo, mas também de iniciativas da própria sociedade civil que como já referimos tem um importante papel nesta matéria, através de acções de advocacia, divulgação e capacitação.
O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2005, no tocante a promoção da igualdade de género indicava que os factores sócio-culturais influenciavam a educação da rapariga, e esta tinha menor probabilidade de ingressar e permanecer na escola, em todos os níveis do sistema de educação, com maior enfoque nos primeiros anos de escolaridade.
Segundo os dados apresentados no mesmo e não obstante os esforços desenvolvidos pelo sector da educação em prol da equidade no acesso à educação básica, em 2004 as raparigas representavam, em média nacional, 45% dos efectivos escolares no EP1 e 40% no EP2 e no primeiro grau da educação secundária e 37% no segundo grau. Essas diferenças de acesso das raparigas à escola agravam-se nas províncias do centro e norte. Contudo, nem todas concluíam estes níveis, em virtude do abandono escolar das raparigas devido ao assédio e abuso sexual protagonizados por professores e alunos contra as mesmas. Grande parte das abusadas encontra-se nos níveis básicos, EP1 e EP2.
Esta situação já havia sido reportada em 2003, num artigo da autoria de Maria José Artur, intitulado “Assédio Sexual e Violação nas Escolas: Recortes de Imprensa”, o qual se referia à perda de confiança que se verifica quando a agressão sexual das crianças acontece na escola, uma vez que o papel da escola é de educar e orientar para a vida, o que faz com que as crianças, os seus pais e a sociedade sentam-se traídos.
O artigo condenava com veemência tal conduta e enfatizava que a agressão sexual de menores é uma das mais graves violações dos direitos humanos e cria problemas para o desenvolvimento e na vida futura das vítimas, maior gravidade assume o acto quando o agressor é o professor, que tem responsabilidades em relação aos seus educandos.
Por seu turno, o Fórum Mulher produziu um relatório da formação sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos na perspectiva de Género (Julho, 2009), no qual destaca, a existência de um fosso entre os rapazes e raparigas relativamente a matéria em análise e que se manifesta através do fraco poder de negociação das raparigas, que advém da construção da identidade feminina, nas dimensões cultural, religiosa, económica, social e política.
Verificou-se no decurso da aludida formação que os adolescentes têm pouco conhecimento sobre o seu corpo, por outro lado, as raparigas são educadas e preparadas para satisfazer o homem, por sua vez o homem é preparado e educado para mandar e manifestar a sua sexualidade. Associado a estas práticas, surgem ideias erradas segundo as quais: os homens por natureza têm maiores necessidades sexuais do que as mulheres; a virilidade masculina impõe que o homem tenha várias namoradas; o uso do preservativo reduz o prazer sexual.
No tocante ao direito à informação e à educação sexual, o relatório de formação faz menção ao n.º 1 do artigo 14 do Protocolo à Carta Africana sobre os Direitos da Mulher em África, segundo o qual, os Estados parte devem garantir os direitos da Mulher e a Saúde Sexual e Reprodutiva , bem como à alínea f) que preconiza o dever de se garantir a educação sobre o planeamento familiar.
Este ponto serviu para elucidar sobre a pertinência dos direitos sexuais e reprodutivos na perspectiva de género, dado que aos mesmos estão associadas práticas discriminatórias e que atentam contra a saúde, a integridade física e o desenvolvimento das mulheres.
2.4 – Desafios para um exercício efectivo dos direitos sexuais e reprodutivos em Moçambique
Os elementos a considerar para um exercício efectivo destes direitos foram sendo apontados ao logo do texto, no entanto, far-se-á uma síntese sobre os mesmos.
Importa também indicarem-se com clareza e a necessária fundamentação, as práticas mais comuns associadas a violação destes direitos, na realidade moçambicana.
A Woman Law in South Africa (WLSA)- Moçambique, apresenta um documento de 2007, que contém os comentários finais do Comité de Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, sobre o relatório da implementação do CEDAW em Moçambique, elaborado pelo Governo. No referido documento apontam-se áreas tidas como preocupantes, das quais destacamos as que relevam para o presente tema, nomeadamente:
 ✓ As disposições discriminatórias contidas no código penal e no direito sucessório.
 ✓ O desconhecimento dos direitos das mulheres contidos na CEDAW pela sociedade no geral e pelas próprias mulheres em particular.
 ✓ Falta de abordagem holística para que a convenção seja aplicada de direito e de facto.
 ✓ A persistência de estereótipos discriminatórios e práticas culturais e tradicionais de natureza patriarcal relacionadas com os papéis e responsabilidades das mulheres e dos homens na família e na sociedade, que obstam o gozo dos direitos pelas mulheres e contribuem para a violência doméstica.
 ✓ Os casamentos prematuros ou forçados, a poligamia, a violação e assédio sexual das mulheres e as gravidezes prematuras.
 ✓ Fraca educação da rapariga, abandono escolar e penalização das raparigas grávidas com transferência para o curso nocturno.
 ✓ Falta de uma educação sexual adequada nos curricula escolares, abuso sexual das raparigas por parte dos professores nas escolas e também de colegas.
 ✓ Altos índices de mortalidade materna, de gravidezes na adolescência e abortos ilegais, fraco acesso aos serviços de saúde reprodutiva e não só, decorrente da falta de infra-estruturas, vias de acesso deficitárias e falta de transporte, mormente nas zonas rurais.
 ✓ Rápida Propagação do HIV-SIDA entre as mulheres jovens e grávidas
Outro documento de referência é o Gender Development Index no Contexto da Avaliação do PARPA II (2006-2009), de Agosto de 2009, que no concernente a análise das variáveis com dimensão de género em Moçambique refere que:
“Moçambique tem um perfil de género único (veja os estudos sobre género realizados pelo CMI e os perfis de género encarregados pela SIDA, USAID e BAD). Dum lado, a mulher é muito activa na esfera económica, especialmente na agricultura e em trabalhos pouco qualificados, bem como a nível das estruturas políticas do país a nível central. De outro lado, existem múltiplas manifestações da desigualdade de género em muitos âmbitos tais como:
 1) Nos trabalhos mais qualificados e mais remunerados, que são realizados maioritariamente pelos homens.
 2) Na escola (abuso e assedio sexual, menor escolarização no ensino secundário, técnico e superior).
 3) Na prevalência e propagação do HIV/SIDA.
 4) Na tomada de decisões no agregado familiar (o qual se manifesta, por exemplo, na violência domestica).
 5) Na divisão do trabalho e acesso a recursos económicos no seio do agregado familiar (o qual se manifesta em casos de prostituição e trafico de crianças e mulheres)
 6) Nos órgãos e instituições públicasaos níveis provincial, distrital e autárquico.
 7) Nos cargos de direcção do sector privado.”.
Concluindo,
Conforme fica demonstrado, os problemas identificados no Relatório de Desenvolvimento Humano de 2005 e no documento do comité de avaliação de CEDAW em 2007 persistem, são novamente apontados no documento apresentado no âmbito do GDI, por outro lado, o abuso sexual da mulher e da rapariga, a mortalidade materna, gravidezes e casamentos precoces, falta de acesso aos cuidados básicos de saúde e ao planeamento familiar, fraca educação sexual dos rapazes e raparigas e a propagação do HIV-Sida com incidência nas mulheres grávidas e jovens, constituem as principais violações aos direitos sexuais e reprodutivos na perspectiva de género.
Os dados contidos no Relatório sobre o Impacto Demográfico do HIV/SIDA em Moçambique publicado pelo INE (Setembro de 2008), não são animadores e sustentam a precariedade da situação da mulher em termos de saúde sexual e reprodutiva, pois refere que em Moçambique, as mulheres tendem a infectar-se mais cedo que os homens. A prevalência entre as mulheres de 15-49 anos de idade é cerca de 1.4 vezes mais elevada que a dos homens da mesma idade. Entre as mulheres da faixa etária de 15-24 anos, a prevalência do HIV é cerca de 2.5 vezes superior à prevalência entre os homens da mesma idade. A projecção feita no documento em referência estima que o número de pessoas vivendo com o HIV poderá atingir 1.699 mil até 2010.
No entanto, a questão que se coloca no país não se prende essencialmente com a falta de instrumentos normativos, conforme atrás referido, várias acções e planos têm sido levados a cabo pelo Governo, o que é necessário é verificar, nos casos em existem os programas, se a sua operacionalização apresenta os resultados desejados, e nos casos em que existe um vazio, então delinearem-se planos e estratégias para atacar o problema.
No tocante à saúde reprodutiva, destaca-se a aprovação da estratégia sobre a prevenção da transmissão vertical do HIV, o tratamento de infecções transmitidas sexualmente, incluindo o HIV-SIDA e os cuidados pós-parto, no entanto, coloca-se no presente a questão do abandono do tratamento anti-retroviral (TARV) a falta de acompanhamento dos doentes em tratamento, o que torna a estratégia pouco eficaz.
Mais, ainda, o desenvolvimento do país é fortemente afectado, uma vez que a projecção dos números de óbitos causados pelo SIDA indica uma ascensão, espera-se que até finais de 2008, cerca de 855 mil Pessoas, entre adultos e crianças terão morrido por causas relacionadas com a SIDA, maior número de óbitos acumulados devido ao SIDA ocorre na região Centro (67%), seguido pela região Sul com cerca de 21% dos óbitos. (Impacto Demográfico do HIV-SIDA em Moçambique, 2008)
Refira-se que a meta do segundo Plano Estratégico Nacional de Combate ao HIV/SIDA (PEN-SIDA 2005-2009) implicava uma redução de 40% no número de novos casos do HIV até 2009 (ou seja, de 500 infecções diárias em 2005 para 300 em 5 anos, e para 150 em 10 anos). Tomando em conta a nova projecção, observa-se que a redução é de apenas 5% no número de novas infecções por dia (de 373 para 353) entre 2004 e 2009, portanto muito aquém do que se esperava.
Os principais desafios que se podem indicar não são novos, passam por um maior comprometimento do Estado em fortalecer os mecanismos existentes e financiar programas mais arrojados de saúde sexual e reprodutiva.
Proceder a revisão legal dos principais instrumentos discriminatórios com destaque para o Código Penal, com a autoridade necessária.
Divulgar ao nível das instituições do Estado, em coordenação com os Ministérios da Função Pública e da Mulher e Coordenação da Acção Social, os direitos das mulheres, particularmente no tocante à saúde sexual e reprodutiva.
Apostar na educação sexual e reprodutiva e garantir a abordagem do tema nos curricula de forma responsável e abrangente.
Trabalhar activamente com a sociedade civil para uma mudança de actitude na sociedade, a cultura é dinâmica o que significa que os estereótipos podem ser combatidos.
Mais do que isso, cada membro da sociedade tem um papel activo, pois, ganhar a batalha no plano de reformas legislativas é um avanço, no entanto é necessário que se exerça pressão para que se possa garantir um funcionamento mais equitativo em termos de género do sistema de administração da justiça e de todas as instituições do Estado, ao mesmo tempo que se prossegue com os programas de educação e de sensibilização para o desenvolvimento de uma cultura democrática que não exclua as mulheres do exercício da sua cidadania (Osório e Artur:2002).
Só será possível falar-se em gozo e exercício dos direitos sexuais e reprodutivos quando homens e mulheres tiverem acesso à informação e a educação sexual sem restrições e sem preconceitos, o que no nosso entender não irá acontecer sem a participação activa da sociedade.
Bibliografia
Facio, Alda (2006). A Partir do Feminismo Vê-se um Outro Direito.
Goicoechea, Santiago (2009). Calculando o Gender Development Index no Contexto da Avaliação do PARPA II (2006-2009). Maputo.
Guzman, Virgínia. (2001) La institucionalidad de género en el Estado: Nuevas perspectivas de análisis. Série mujer e desarrollo n.º 32. Santiago de Chile. 2001
Loforte, Ana Maria (2007). Políticas e Estratégias para a Igualdade de Género: Constrangimentos e ambiguidades. In Arthur, M. J. Memórias do Activismo, pelos direitos humanos das mulheres – Maputo
Machungo, Fernanda (2004). O aborto inseguro em Maputo. Outras Vozes n.º 7. Maputo.
Ortner, Sherry B. (1974). ‘Is female to male as nature is to culture?’ In M. Z. Rosaldo and L. Lamphere (eds), Woman, culture, and society. Stanford, CA: Stanford University Press, pp. 68-87.
Osório, Conceição e Arthur, Maria José (2002). A situação legal das mulheres em Moçambique e as reformas actualmente em curso. Publicado em “Outras Vozes”, n.º 1, Outubro de 2002.
Silva, Teresinha da, e Andrade, Ximena (2005). Feminização do SIDA em Moçambique: A cidade de Maputo, Quelimane e Distrito de Inhassunge na Província da Zambézia, como estudos de caso. Maputo.
Silveira, Maria Lúcia da. (2003) Políticas Públicas de Género: Impasses, e Desafios para fortalecer a Agenda Política na Perspectiva da Igualdade. São Paulo.
Taela, Kátia. (2009) Género e HIV – SIDA, MGAP – UEM, Maputo.
Legislação/ Relatórios:
Constituição da República de Moçambique
CEDAW -
Lei sobre a Violência Doméstica praticada contra a mulher.
Política de Género e Estratégia de Implementação
Relatório de Desenvolvimento Humano de 2005, PNUD. Publicado em, http://databases.sardc.net/books/MHDR2005port/index.php.
Impacto Demográfico do HIV-SIDA em Moçambique 2007 (Setembro, 2008). Publicado na página da internet do INE - www.ine.gov.mz.
Carta dos Direitos Sexuais e Reprodutivos, Portal de Saúde Sexual e Reprodutiva, em http://www.apf.pt/?area=004&mid=001.
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[1] Relatório Sombra do CEDAW;

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