Prévia do material em texto
Disciplina: Princípios de Radioproteção e Blindagem Aula 5: As grandezas radiológicas e suas aplicações I Apresentação Apresentaremos uma visão geral sobre a evolução da compreensão das grandezas radiológicas, de alguns parâmetros de controle da utilização da radiação no Brasil e no mundo e suas aplicações. Alguns órgãos nacionais e internacionais responsáveis pelo controle do uso das mais diversas fontes de radiação ionizante serão apresentados. Aprenderemos ainda sobre a ICRP-26, a ICRP-60, a Norma CNEN-3.01 e a ICRP-103, que determinam os parâmetros básicos de proteção radiológica. Veremos também qual é a maior preocupação da Comissão Internacional de Proteção Radiológica atualmente e como ela pode impactar o planejamento da saúde pública. Objetivo Reconhecer a evolução das grandezas radiológicas; Interpretar a de�nição das grandezas radiológicas baseadas nas ICRP-26 e ICRP-60; Identi�car aplicações práticas de algumas das grandezas radiológicas. Grandezas radiológicas Vários relatos e reportagens datados de 1986 já apontavam os riscos da exposição a fontes de raio x. Dentre os vários relatos, os mais importantes e impactantes foram aqueles ligados a um grupo de médicos experimentalistas que se expuseram a esse tipo de radiação ionizante e relataram sintomas como queda de cabelos e lesões na pele. Na tentativa de comprovar os efeitos danosos da exposição descontrolada à radiação, o engenheiro inglês Elihu Thomson expôs seu dedo mínimo esquerdo durante meia hora a uma fonte de raio x que distava, aproximadamente, 3 centímetros do ponto de aplicação. Após uma semana, ele relatou dores, in�amação e bolhas no dedo irradiado. Fonte: pixabay. Você deve ter notado que ao ter colocado parte de seu corpo próximo a fonte, esse cientista �cou exposto a sérios riscos, que poderiam ter comprometido seriamente sua saúde. Lembre-se sempre de que a intensidade da radiação cai com o quadrado da distância: Disponível em: //inversodoquadradocomarduino.blogspot.com/2011/07/lei-do-inverso-dos-quadrados.html. Acesso em: fev. 2020. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online = I1 I2 ( )d2 d1 2 Onde I é a intensidade a uma distância d da fonte e I é a intensidade a uma distância d da fonte. 1 1 2 2 Você já deve imaginar que após as constatações citadas, percebeu-se a necessidade de estabelecer parâmetros para a medida das radiações, bem como normas para prevenção de acidentes. javascript:void(0); Em 1925, aconteceu o Primeiro Congresso Internacional de Radiologia, na cidade de Londres. Nesse evento, discutiu-se a respeito da necessidade de se estabelecer unidades e normas de trabalho com fontes de raio x. Ainda foi criada a Comissão Internacional de Unidades e Medidas da Radiação (ICRU), que tinha como objetivo a pesquisa e a divulgação de recomendações internacionais sobre: 1. Grandezas e unidades de radiação e radioatividade. 2. Protocolos para medidas e aplicação das grandezas em radiologia clínica e radiobiologia. 3. Aquisição de dados físicos visando a garantia de excelência dos protocolos e assegurando a uniformidade dos relatos. Vale lembrar que, desde 1955, a ICRU mantém relação o�cial com órgãos o�ciais, como a Organização Mundial da Saúde. Atividade Você deve ter notado que a preocupação com os efeitos da exposição descontrolada frente às fontes de radiação ionizantes esteve presente desde a descoberta do raio x. Cientistas arriscaram sua integridade física para entender os efeitos da interação desse tipo de radiação com a matéria, dando origem a congressos e à criação da Comissão Internacional de Unidades e Medidas da Radiação (ICRU). Até pouco tempo, era comum nos consultórios odontológicos brasileiros a utilização de um procedimento equivocado para se obter uma radiogra�a dentária. A ação errônea consistia no fato de que o próprio dentista segurava o �lme radiográ�co, pois eles não acreditavam no perigo da exposição à radiação. Somente após relatos de quadros de radiodermite é que essa prática foi abandonada. Sabe-se que o operador do equipamento de raio x deve estar, no mínimo, a 2 metros de distância da fonte e oferecer ao paciente todos os equipamentos de proteção estabelecidos pela Portaria 453 garantindo, assim, o bem-estar de todos os envolvidos na ação. Com base em seus conhecimentos, redija um pequeno texto comentando o cenário descrito, correlacionando a prática utilizada com os princípios básicos de Física das Radiações e Proteção Radiológica. Comente, também, os efeitos danosos à integridade física do dentista e do paciente, caso as precauções básicas sejam ignoradas. Procedimento correto na tomada de raio x odontológico. Disponível em: https://www.correiodosmunicipios-al.com.br/2018/08/saude-de-santana-do-mundau-adquire-novo-e- moderno-aparelho-de-raio-x-odontologico/. Acesso em: fev. 2020. Saiba mais javascript:void(0); Quer saber mais sobre radiodiagnóstico odontológico ou entender o que estipula a Portaria 453? Aprenda um pouco mais assistindo ao vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=I-87BtMrjbI. Em 1928, ocorreu o segundo Congresso Internacional de Radiologia, em Estocolmo. Nesse evento fundou-se a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP), que passou a estipular os guias que norteiam o uso racional das radiações, assim como os limites máximos permitidos de exposição à radiação para trabalhadores e o público em geral. As comissões de diversos países se reúnem constantemente (geralmente, a cada três anos), sendo que cada uma delas tem um órgão responsável por realizar as adequações nas normas internacionais para adotá-las. No Brasil, o órgão incumbido dessa tarefa é a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), que legisla e normatiza o uso da radiação em todo o território nacional. Fonte: wikimedia. É interessante notar que, em vários países, os limites máximos permitidos de radiação foram alterados durante o passar dos anos. Por exemplo, a recomendação para trabalhadores em 1924 era de 40000mSv/ano na França, entretanto, hoje, no Brasil, a CNEN adota o valor de 50mSv/ano. Fica claro que houve uma drástica redução no limite tolerado e você já deve imaginar que ela se deu por causa do melhor entendimento da ação da radiação em tecidos biológicos. Leitura Na página da CNEN (//www.cnen.gov.br) encontram-se todas as Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica elaboradas por esse órgão em 1973. No início, a maior preocupação era com os efeitos agudos da radiação, que surgem quando o indivíduo �ca submetido a altas doses. Vale ressaltar, ainda, que muito pouco se sabia sobre os possíveis efeitos genéticos oriundos da exposição à radiação; lembre-se de que, como foi discutido anteriormente, esses efeitos podem ser desencadeados pela exposição a baixas doses de javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); radiação. Em 17 de janeiro de 1977, a Comissão Internacional de Proteção Radiológica declarou quais eram os parâmetros centrais de Proteção Radiológica (contidas na ICRP-26): 1 Proteger indivíduos, seus descendentes e toda a humanidade contra os efeitos danosos da radiação. 2 Evitar a ocorrência de efeitos não estocásticos. 3 Limitar a probabilidade de ocorrência de efeitos estocásticos a níveis aceitáveis. A ICRP-26 especi�ca que qualquer exposição à radiação deve ser justi�cada com algum benefício líquido e que deve ser obedecido o princípio ALARA (“as low as reasonably achievable” que, em português, signi�ca “tão baixo quanto razoavelmente exequível”), levando em conta fatores econômicos e sociais. Você sabe qual é a maior preocupação da Comissão Internacional de Proteção Radiológica atualmente? Se você pensou em indução de câncer está correto! A Comissão Internacional de Proteção Radiológica estabeleceu os limites máximos tendo, como base, estudos quantitativos e comparações com mortes relacionadas a acidentes de trabalhode indústrias altamente seguras (1 em 10.000 trabalhadores morrem por ano devido aos acidentes de trabalho). O risco de morte pela indução de câncer pode ser estimado pela equação a seguir: R = f × HT Onde R é o risco de morte, f o fator de risco e H a dose equivalente. O fator de risco pode ser consultado na literatura pertinente. T Com essa equação é possível calcular o número de morte por leucemia em uma população. Atividade Considere a cidade de São Paulo e imagine que você foi contratado para um estudo sobre a mortalidade de pessoas devido ao câncer. Dentre as suas mais diversas tarefas e levantamentos de dados, existe a necessidade de se estimar o número de mortes ocasionadas por leucemia, considerando que a população �cou exposta a uma dose equivalente àquela oriunda da radiação de fundo, ou seja, 1mSv/ano na medula óssea. Considere o fator de risco igual a 0,0020 risco/Sv. Saiba mais Que tal saber um pouco sobre a ICRP-26? Faça uma leitura do artigo a seguir: https://www.bjrs.org.br/revista/index.php/REVISTA/article/view/3. E�cácia Biológica Relativa (RBE) Você já ouviu falar no conceito de E�cácia Biológica Relativa (RBE)? Será que esse conceito poderia ser utilizado em radioproteção de funcionários e pacientes expostos a algum nível de radiação? A RBE é uma medida da in�uência da qualidade de um tipo de radiação na produção de efeitos radiobiológicos no tecido e nos sistemas biológicos irradiados. Ela tem uma dependência com a dose de radiação, a taxa de dose, o fracionamento da dose e a idade da pessoa exposta. A RBE é uma função da qualidade da radiação e é expressa pela Transferência Linear de Energia (LET), que representa a perda média de energia, por colisão, de uma partícula carregada por unidade de comprimento da trajetória no tecido irradiado. Esse conceito não deve ser utilizado em radioproteção humana, já que sua utilização resultaria uma grande variedade de valores, ou seja, um para cada alvo biológico e para todos os diferentes tipos de radiações oriundas dos mais variáveis tipos de radionuclídeos. O que se faz na prática é o uso de uma “espécie de RBE simpli�cada”. Esse novo conceito utiliza um fator de ponderação para radiação (WR). O fator de ponderação para radiação (WR) permite ao pro�ssional realizar uma conversão direta da dose absorvida para a dose equivalente. javascript:void(0); Lembre-se de que a dose equivalente oferece uma estimativa do dano biológico em função do tipo de radiação. De maneira simpli�cada, esse fator de ponderação considera que, quanto maior o número de ionizações produzidas por unidade de comprimento, maior será o dano. Para a CNEN-3.01, que estabelece os limites de dose individual, os valores de W são baseados na publicação 60 da ICRP. Existe, também, um fator de ponderação para tecidos (W ). Ele está relacionado com a sensibilidade do órgão ou de um dado tecido frente a exposição à radiação, no que se refere a indução de câncer e efeitos hereditários. A �gura a seguir mostra os fatores de peso, segundo a CNEN-3.01 e a ICRP-60. Assim, as grandezas radiológicas de proteção como a dose equivalente no tecido ou órgão e a dose efetiva, �cam sujeitas a fatores de ponderação estipulados pela CNEN e baseados na ICRP de 1990. R T Adaptado de: https://docplayer.com.br/34395764-Comparacao-entre-a-norma-brasileira-de-radioprotecao-e-a-recomendacao-da-international-commission-on-radiological- protection-publicadas-em-2007.html. Acesso em: fev. 2020. javascript:void(0); Atividades 1. Imagine que você é um professor e que ministra a disciplina de Proteção Radiológica. Durante a aula, você apresenta os conceitos relacionados aos fatores de ponderação para a radiação e para os tecidos, sendo interrompido pelo seguinte questionamento: “Professor, os fatores de ponderação, segundo a CNEN-3.01 e a ICRP-60, não estão ultrapassados quando comparados a ICRP-103”? Faça uma pesquisa rápida sobre a atualização da ICRP-60 para a ICRP-103 e, também, uma pequena argumentação sobre o tema. Saiba mais Gostaria de saber mais sobre a ICRP-103? Aprenda um pouco mais com o artigo a seguir: //www.icrp.org/docs/ICRP_Publication_103-Annals_of_the_ICRP_37(2-4)-Free_extract.pdf. 2. Para um determinado ajuste de técnica radiográ�ca, a intensidade dos raios x a 1 m é de 4,19mSv. Assim, a intensidade do feixe de raios x na cabine a uma distância de 3 metros é de: a) 0,33mSv b) 0,47mSv c) 0,19mSv d) 0,42mSv e) 0,14mSv 3. A criação da Comissão Internacional de Unidades e Medidas da Radiação (ICRU), tinha como objetivo a pesquisa e a divulgação de recomendações internacionais sobre: a) Controle e fiscalização de processos industriais para produção de tubos de raio x. b) Protocolos para medidas e aplicação das grandezas em radiologia clínica, mas não em radiobiologia. c) Aquisição de dados físicos visando a garantia de excelência dos protocolos para que assegurassem a não uniformidade dos relatos. d) Criação e controle de instituições regionais responsáveis pela aplicação do uso de fontes radioativas no controle de pragas. e) Protocolos para medidas e aplicação das grandezas em radiologia clínica e radiobiologia. javascript:void(0); 4. Em 17 de janeiro de 1977, a Comissão Internacional de Proteção Radiológica declarou quais eram os parâmetros centrais de Proteção Radiológica. A respeito dessas declarações, são realizadas as seguintes a�rmações: I – Os parâmetros centrais de Proteção Radiológica estavam contidos na ICRP-106. II – O conjunto de parâmetros declarados sobre Proteção Radiológica tem como um de seus objetivos evitar a ocorrência de efeitos não estocásticos. III – O conjunto de parâmetros declarados sobre Proteção Radiológica tem como um de seus objetivos limitar a probabilidade de ocorrência de efeitos estocásticos a níveis aceitáveis. Assinale a alternativa que contém a sequência correta: a) I-V; II-V; III-V. b) I-F; II-V; III-V. c) I-V; II-F; III-V. d) I-F; II-F; III-F. e) I-F; II-F; III-V. 5. Considere uma cidade que tenha, aproximadamente, 2 milhões de habitantes. Sabe-se que a radiação cósmica de fundo ocasiona a morte de um certo número de pessoas, provavelmente expostas a uma dose equivalente de 1mSv durante o ano (medula óssea). Uma estimativa da prefeitura concluiu que 80 pessoas morrem de leucemia por ano. Então, considerando que o fator de risco seja 0,0020 risco/Sv, podemos estimar que as mortes se deviam, exclusivamente, à exposição à radiação cósmica de fundo são de: a) Quatro pessoas. b) Dez pessoas. c) Vinte e seis pessoas. d) Trinta e sete pessoas. e) Dezenove pessoas. 6. Sobre o conceito de E�cácia Biológica Relativa (RBE), são realizadas as seguintes a�rmativas: I – A RBE é uma medida da in�uência da qualidade de um tipo de radiação na produção de efeitos radiobiológicos no tecido e nos sistemas biológicos irradiados. II – A RBE tem uma dependência com a dose de radiação, a taxa de dose, o fracionamento da dose e a idade da pessoa exposta. III – O conceito da RBE não deve ser utilizado em radioproteção humana, já que sua utilização resultaria uma grande variedade de valores, ou seja, um para cada alvo biológico e para todos os diferentes tipos de radiações oriundas dos mais variáveis tipos de radionuclídeos. Assinale a alternativa que contém a sequência correta: a) I-V; II-V; III-V. b) I-F; II-V; III-V. c) I-V; II-F; III-V. d) I-F; II-F; III-F. e) I-F; II-F; III-V. 7. Assinale a alternativa que contenha apenas informações corretas: a) O fator de ponderação para radiação (W ) considera que, quanto maior o número de ionizações produzidas por unidade de comprimento, menor será o dano. R b) Para a CNEN-3.01, que estabelece os limites de dose individual, os valores de W são baseados na publicação 103 da ICRP.R c) O Brasil não se encontra defasado em relação às diretrizes de radioproteção mundial. d) No Brasil, as grandezas radiológicas de proteção, como a dose equivalente no tecido ou órgão e a dose efetiva, ficam sujeitas a fatores de ponderação estipulados pela CNEN ebaseados na ICRP de 2007. e) O fator de ponderação para tecidos (W ) está relacionado com a sensibilidade do órgão ou de um dado tecido frente à exposição à radiação, no que se refere à indução de câncer e efeitos hereditários. T Notas Referências ARRUDA, W. O. Wilhelm Conrad Röntgen: 100 anos da descoberta dos raios X. In: Arquivos de neuropsiquiatria. v. 54. n. 3. 1996. p. 525-531. BREVIGLIERO, E.; POSSEBON, J.; SPINELLI, R. Higiene ocupacional: agentes biológicos, químicos e físicos. 6. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2012. CHRISTOVAM, A. C. M; MACHADO, O. Manual de física e proteção radiológica. São Paulo: Difusão, 2018. OKUNO, E.; YOSHIMURA, E. M. Física das radiações. São Paulo: O�cina de Textos, 2010. SALIBA, T. M. Manual prático de higiene ocupacional e PPRA. Avaliação e controle de riscos ambientais. 3. ed. São Paulo: LTR, 2011. TERINI, R. A.; MACHADO, A. C. B. Uma introdução à física médica: da antiguidade aos tempos atuais. São Paulo: Livraria da Física, 2017. Próxima aula Relação entre as grandezas radiológicas, algumas em situações práticas; Papel das instituições normalizadoras como a CNEN quanto ao controle da radiação e o uso de dosímetros. Explore mais Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor on-line por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.