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Petição inicial

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AO JUÍZO DA VARA DE REGISTROS PÚBLICOS DA COMARCA DO RIO DE JANEIRO - ESTADO DO RIO DE JANEIRO
QUINZINHO MACHADO DE ASSIS, brasileiro, casado, autônomo, portador da cédula de identidade (RG) XXXXXXX-X, expedida pela SESP/RJ, inscrito no CPF sob o n.º XXX.XXX.XXXXX, telefone (XX) XXXX-XXXX, não possui e-mail; e CAROLINA MACHADO DE ASSIS, brasileira, casada, autônoma, portadora da cédula de identidade (RG) XXXXXXX-X, expedida pela SSP/RJ, inscrita no CPF sob o n.º XXX.XXX.XXX-XX, telefone (XX) XXXXXXXX, não possui e-mail, ambos residentes e domiciliados no Bairro Quincas Borba, s/n.º, Zona Rural, CEP XXXXX.XXX na cidade do RIO DE JANEIRO/RJ, vêm, perante este Juízo, através de seu bastante procurador e advogado infra-assinado, ajuizar
AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL COM PEDIDO LIMINAR DE TUTELA DE URGÊNCIA,
em face de CAPITU, brasileira, solteira, autônoma, inscrita no CPF sob o n.º XXX.XXX.XXX-XX, telefone (XX) XXXX-XXXX, não possui e-mail, residente e domiciliada no Bairro Quincas Borba, s/n.º, Zona Rural, CEP XXXXX.XXX na cidade do RIO DE JANEIRO/RJ, demais dados ignorados, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor:
I – SÍNTESE DOS FATOS
QUINZINHO MACHADO DE ASSIS (requerente) alega ocupar o imóvel desde o dia 10 de fevereiro do ano de 2006. Imóvel este com área de 2 (dois) hectares, localizado no Bairro Quincas Borba, s/n.º, Zona Rural, CEP XXXXX.XXX na cidade do RIO DE JANEIRO/RJ. A obtenção desse imóvel se deu através de um instrumento particular de Cessão de Direitos Possessórios firmado com o antigo possuidor.
Imóvel este registrado em nome da CAPITU (titular de domínio), posteriormente a conhecimento de moradia, a CAPITU fez o pedido de forma verbal a QUINZINHO, convidando-lhe a se retirar com intuito na desocupação do imóvel, contudo, até o momento não ajuizou qualquer ação, entretanto QUINZINHO a notificou para comunicar uma prescrição aquisitiva, e ela se manteve taciturna.
Entrando em fatos do quesito posse, QUINZINHO constituiu família casando-se com CAROLINA, com regime de comunhão universal (arts. 1.667 ao 1.671, CC), advindo quatro filhos. 
Com o passar dos anos, o casal requerente, que não possuíam nenhum outro imóvel, construíram uma casa no terreno e passaram a tirar da terra o próprio sustento e de sua família. Estando, o casal, até credenciados no programa de agricultura familiar, criado pela Lei nº 11.326 de 2006 - onde estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Nunca tendo aparecido qualquer outra pessoa para reclamar a propriedade do referido imóvel. 
Vale mencionar que CAPITU, depois de todo esse período de posse do casal e os filhos, achou ter sido violada no seu direito e comunicou verbalmente para imediata desocupação do imóvel. 
O requerente possui mansa e pacificamente o imóvel por mais de 15 anos, sem que houvesse interrupção, nem oposição, ali mantendo sua residência e domicilio. Porém, os autores não possuem título de domínio do mesmo, e querem adquiri-lo através da presente ação de usucapião, respeitando-se os termos do artigo 1.238 e ss. do CC. 
II – GRATUIDADE DA JUSTIÇA
Consoante declaração de hipossuficiência anexa, afirma a parte autora não dispor de suficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios, razão pela qual pleiteia a gratuidade da justiça, na forma do art. 98 e seguintes do Código de Processo Civil.
III – AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO
Em atenção ao disposto no art. 319, VII, do Código de Processo Civil, a parte requerente manifesta desinteresse na realização da audiência de conciliação ou de mediação.
IV – FUNDAMENTOS DE DIREITO
Consoante o preceito constitucional estabelece o (artigo 5º, inciso XXII, CF)[footnoteRef:1] ser garantido o direito de propriedade, principiando, ao mesmo tempo, um direito e uma garantia fundamental. [1: Art. 5º, XXII - é garantido o direito de propriedade;.
] 
Rememora-se que a Constituição Federal em : 
Art. 191 Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade;
É cabível mencionar, o art. 1.242 do Código Civil onde afirma que “adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.”
Há, portanto, uma grandeza de normas, das mais variadas hierarquias, assegurando o direito de propriedade do imóvel, visto que, como descrito nos fatos, de forma continua e incontestada, pois nele foi construída residência familiar, o que caracteriza que exercem a posse de forma pacifica e continua, como também participações em programas governamentais.
Nunca é demais recordar que no caso em tela trata-se de um direito totalmente aparado em lei que, pois, para que seja configurada a usucapião, é necessário que o possuidor esteja na propriedade de forma contínua e sem interrupção, não sendo admitidos intervalos para a configuração desse requisito. Além disso, é necessário a manifestação do interesse do possuidor ser dono dela, de maneira a apresentar boa-fé, uma vez que acredita que a coisa lhe pertença. A construção da residência, bem como, o pagamento de tributos, água, luz, demonstra comprometimento com este e perceptibilidade do direito real adquirido, previstos no artigo 201[footnoteRef:2] do Código Civil. [2: Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.
] 
Dentre uma das jurisprudências, se ampara a do Tribunal de Justiça de Pernambuco TJ-PE - Apelação: APL 0002485-07.2015.8.17.0710 PE, onde diz respeito a não exigência de certas documentações para comprovar aos autos como um dos requisitos para continuidade da ação:
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO POR AUSÊNCIA DE DOCUMENTO INDISPENSÁVEL AO JULGAMENTO DA LIDE. CERTIDÕES VARAS CÍVEIS. INFORMAÇÃO SOBRE AÇÕES POSSESSÓRIAS QUE ENVOLVAM AS MESMAS PARTES DESTE PROCESSO. PETIÇÃO INICIAL NÃO SE CONSTATA A AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 319 E 320 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO PROVIDO. À UNANIMIDADE. A rigor, não há determinação legal no sentido de exigir a parte autora para juntada de certidões cíveis das ações envolvendo as partes na presente ação, vez que tal requisito não se encontra presente na Lei processual. A usucapião rural, também denominado pro labore, tem como requisitos a posse como sua por 5 (cinco) anos ininterruptos e sem oposição, de área rural não superior a cinquenta hectares, desde que já não seja possuidor de qualquer outro imóvel, seja este rural ou urbano. Ainda apresenta como requisito o dever de tornar a terra produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia. Com efeito, cabe à parte autora trazer aos autos provas dos requisitos necessários ao deferimento da usucapião, dentre elas a posse mansa, pacífica e ininterrupta pelo lapso temporal necessário, podendo para tanto se utilizar de todos os meios de prova reconhecidos pela Lei processual, que não exige apresentação específica das certidões mencionadas pelo recorrente. A ação já perdura mais de três anos, inclusive a certidão que não foi providenciada a tempo é da própria vara que a presente ação tramita, assim, não caberia o indeferimento com referência ao artigo 321 do CPC, uma vez que não demonstrada a ausência dos requisitos dos artigos 319 e 320 do Código de Processo Civil. Recurso provido à unanimidade. (Apelação Cível N.º 0002485-07.2015.8.17.0710, data da publicação: 12/06/2019).
Diante de tudo o que foi discorrido linhas acima, dúvidas não há de que a os requerentes tem por direito, totalmente aparado em lei que o bem é de fato seus configurando assim a posse total do bem.
V – TUTELA DE URGÊNCIA
Evidenciadaa subsunção da situação fática aos fundamentos jurídicos acima expostos, insta discorrer sobre os nefastos efeitos que o tempo de duração do processo, ainda que razoável, pode causar ao direito ao qual se pleiteia a tutela, justificando, então, a concessão da tutela de urgência. 
Os requisitos para a sua concessão veem elencados no art. 300, caput, do Código de Processo Civil, in verbis: “A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.” Deve haver ainda a reversibilidade dos efeitos do provimento, a teor do disposto no § 3º[footnoteRef:3] do dispositivo em tela. [3: § 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.] 
 A documentação que acompanha a inicial consubstancia elementos mais que satisfatórios a evidenciar a probabilidade do direito.
Vale destacar que a legislação processual civil não mais exige a prova inequívoca da verossimilhança da alegação. Igualou-se, pois, “(...) o grau de probabilidade de o direito existir para a concessão de qualquer espécie de tutela de urgência, independentemente de sua natureza.[footnoteRef:4]” [4: NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo código de processo civil – Lei 13.105/2015. São Paulo: Método, 2015, p. 208.] 
Considerada a urgência do caso, é imperiosa a concessão da tutela liminarmente, inaudita altera pars, sob pena de grave comprometimento à efetividade desta. E a autorização para tanto advém do § 2º do art. 300 do CPC[footnoteRef:5]. [5: Art. 300 (...) § 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.] 
Presentes os requisitos para a concessão da tutela de urgência, o deferimento é medida de rigor, garantindo o acesso à justiça, que é um direito adquirido. 
VI – PEDIDOS
Diante dos fatos e fundamentos jurídicos expostos, requer:
A) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, na forma do art. 98 e seguintes do Código de Processo Civil;
B) A intimação do Ministério Público, nos termos do art. 178, I e II, do Código de Processo Civil;
C) O deferimento do pedido liminar para fins de determinar a manutenção de posse aos autores, garantindo o local como residência da família já constituída; 
D) A condenação da parte requerida ao ressarcimento das custas e despesas processuais e no pagamento de honorários advocatícios;
 E)Ao fim, a conversão da tutela provisória de urgência em definitiva, resolvendo o mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC, expedindo-se o termo de usucapião;
Protesta pela produção de todas as provas admitidas em direito, notadamente a pericial e documental.
Pedem deferimento.
Rio de Janeiro/RJ, 19 de outubro de 2021.
________________________ 
ADVOGADO
OAB XXXX/X
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