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Em tempos mais saudáveis espiritualmente, a teologia pactual era mais prontamente apreciada e menos mal compreendida do que é hoje. De um lado temos a rejeição total do aliancismo por parte de alguns batistas e, por outro lado, a superextensão herética dele por parte de alguns presbiterianos, diante disso devemos obter tanta ajuda quanto pudermos a partir de nossa herança protestante. Este livro reúne insights maravilhosos de dois fiéis líderes da igreja de uma geração anterior e traz análises úteis de mestres competentes da atualidade. O resultado é um recurso valioso para estudantes, acadêmicos e pastores. Thomas K. Ascol, Ph.D. Grace Baptist Church, Cape Coral, FL Editor, Founders Journal É estranho que A Discourse of the Covenants, de Nehemiah Coxe, não tenha sido reimpresso desde que apareceu pela primeira vez no século XVII, visto que alguns de nossos antepassados batistas calvinistas — homens como John Sutcliff de Olney — parecem tê-lo apreciado profundamente. Seja como for, essa nova edição é extremamente bem-vinda, pois demonstra claramente que os batistas calvinistas do século XVII, como Coxe — e seus descendentes modernos neste século — fazem parte da corrente da teologia reformada que adveio do trabalho de reforma de homens como Ulrico Zuínglio, João Calvino, Heinrich Bullinger e Teodoro Beza. Mais vezes do que consigo enumerar — e pessoalmente acho isso muito frustrante — ouvi a teologia reformada ser definida de tal maneira que exclui aqueles que defendem o batismo de crentes. Esta obra valiosa ajudará a esclarecer essa questão. Michael A.G. Haykin, Th.D. Diretor, Toronto Baptist Seminary, Toronto, Ontario, Canadá A obra de Nehemiah Coxe sobre a doutrina das alianças é um importante escrito por um eminente teólogo batista particular do século XVII. Sua republicação está muito atrasada. Como um bônus, o leitor tem o próprio Coxe resgatado da obscuridade através de uma introdução bem pesquisada pelo Dr. James M. Renihan. E visto que Coxe referiu os seus leitores à análise de John Owen sobre a natureza e as diferenças entre a Antiga e a Nova Aliança, a exposição de Owen sobre Hebreus 8:6-13 está incluída. Tanto o texto de Coxe quanto de Owen foram editados de maneira leve e sensível, e foram acrescentadas notas explicativas. O ensaio de Richard C. Barcellos posiciona o ensino de Owen sobre o pacto firmemente dentro do consenso reformado mais amplo. O livro como um todo tem aplicação prática moderna. Isso mostra que os batistas reformados têm uma doutrina sobre o pacto consistente e bem fundamentada do ponto de vista argumentativo. Também mostra que os pais batistas particulares do século XVII, embora enfatizassem a novidade da Nova Aliança, argumentavam que o Decálogo permanece como uma regra de vida para o crente. Esta obra é um recurso importante para os batistas reformados do século XXI. Robert W. Oliver, Ph.D. Pastor, Old Baptist Church Bradford on Avon, Reino Unido Professor de História da Igreja/Teologia Histórica, London Theological Seminary Conferencista de Não-Conformidade na História da Igreja, The John Owen Centre, Londres Professor convidado, Westminster Theological Seminary, Londres Na maior parte do material que foi reimpresso ao longo do último meio século, a teologia pactual foi apresentada como se implicasse necessariamente na doutrina e na prática do batismo infantil. Nós poderíamos preencher muito espaço aqui simplesmente listando os livros que assumiram essa posição. Muitos de nós, no entanto, não foram convencidos dessa estipulação por acreditar que se trata de uma consequência desnecessária de raciocínio teológico. Acreditamos que é muito possível, e até mesmo necessário, formular uma teologia pactual baseada em exegese que defenda a centralidade e a continuidade do plano divino da redenção através dos tempos sem cair na dedução de que o batismo infantil deve fazer parte dessa doutrina. Infelizmente, tem havido poucas obras disponíveis que lidam com essas questões em um profundo nível exegético e teológico. Os livros escritos de uma perspectiva pedobatista frequentemente rejeitam o ponto de vista do credobatista (isto é, o batismo de crentes) e aqueles que defendem o batismo de crentes frequentemente falham em se esforçar o suficiente para apresentar um sistema pactual plenamente desenvolvido. O resultado é que os pedobatistas raramente ou nunca consideraram a possibilidade de uma posição pactual credobatista e muitos batistas são simplesmente ignorantes quanto a centralidade da teologia pactual e de sua utilidade na defesa de suas próprias crenças. Este livro é uma tentativa de começar a corrigir essa deficiência. James M. Renihan, Ph.D. Escondido Reformed Baptist Church, Escondido, CA Deão, Institute of Reformed Baptist Studies Westminster Theological Seminary in California, Escondido, CA Título Original Covenant Theology From Adam to Christ Contendo A Discourse of the Covenants that God made with men before the Law. Wherein, the Covenant of Circumcision is more largely handled, and the invalidity of the plea for paedobaptism taken from thence discovered. Por Nehemiah Coxe e An Exposition of Hebrews 8:6-13. Wherein, the nature and differences between the Old and New Covenants is discovered. Por John Owen Editado por Ronald D. Miller, James M. Renihan e Francisco Orozco Copyright © 2005 Reformed Baptist Academic Press. Todos os direitos reservados. Esse copyright não se aplica aos materiais de Coxe e Owen. ■ Publicado por Reformed Baptist Academic Press 349 Sunrise Terrace Palmdale, CA 93551. ■ Copyright © 2020 Editora O Estandarte de Cristo Francisco Morato, SP, Brasil ■ 1ª edição em português: 2020. ■ Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora O Estandarte de Cristo. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte. ■ Salvo indicação em contrário e leves modificações, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. ■ Tradução: Rafael Abreu, Renan Abreu, Camila Rebeca Teixeira e William Teixeira Revisão: William Teixeira, Joerley Cruz e Leonardo Honda Bastos Capa: William Teixeira Diagramação: William Teixeira ■ Visite: oestandartedecristo.com Teologia Pactual De Adão a Cristo Contendo Um Tratado sobre os Pactos que Deus fez com os homens antes da Lei. Onde, o Pacto da Circuncisão é amplamente examinado e é demonstrada a invalidade do argumento para o pedobatismo que é extraído desse pacto. Por Nehemiah Coxe & Uma Exposição de Hebreus 8:6-13 Na qual a natureza e diferenças entre a Antiga e a Nova Alianças são demonstradas. Por John Owen Editado por Ronald D. Miller, James M. Renihan e Francisco Orozco 1ª Edição Francisco Morato, SP O Estandarte de Cristo 2020 Sumário Introdução Por que Essa Reimpressão é Importante? James M. Renihan PARTE I Nehemiah Coxe: Um Teólogo Excelente e Judicioso James M. Renihan Introdução do Editor O Prefácio ao Leitor Capítulo 1 Relacionamentos Pactuais com Deus Uma Introdução Geral O Pacto de Deus Proposto aos Homens e a Resposta Deles A Ideia Geral de um Pacto e as Inferências Disso Deus Sempre Lidou com os Homens por Meio de Aliança As Transações Pactuais de Deus Sempre São Feitas com Um Representante Instruções Gerais para Entender Corretamente as Transações Pactuais Capítulo 2 As Transações de Deus para com Adão A Importância desse Estudo O Estado do Homem Antes da Queda A Promessa de uma Recompensa Comprovada A Recompensa e a Punição da Lei Adão: Uma Pessoa Pública A Transação de Deus com Adão: Uma Aliança A Natureza Geral do Pacto com Adão O Pecado de Nossos Primeiros Pais O Estado e Condição do Homem Caído A Misericórdia de Deus para com o Homem Caído A Promessa de Redenção em um Pacto O Estado e Condição da Posteridade de Adão Capítulo 3 A Aliança de Deus com Noé Um Novo Relacionamento é Estabelecido A Palavra Revelada de Deus é a Regra de Fé doHomem Enoque A Propagação Geral da Igreja A Arca como um Tipo Deus Estabelece seu Pacto com Noé O Pacto Noético Desenvolvido Bençãos e Maldições para os Filhos de Noé A Torre de Babel e a Confusão das Línguas Os Males Advindos da Confusão das Línguas Capítulo 4 O Pacto da Graça Revelado a Abraão Deus Honra a Abraão de Forma Especial Através de seu Pacto A História de Abraão e sua Aparente Incapacidade A Dupla Consideração de Abraão no Pacto O Pacto da Graça Revelado a Abraão O Tempo Determinado desses Pactos e a suas Inferências Todas as Bênçãos Espirituais estão Incluídas nesse Pacto Esse Pacto é Confirmado em Cristo Abraão: Raiz das Bênçãos da Aliança e Pai dos Crentes O Caminho de Salvação pela Fé em Cristo nesse Pacto A Promessa Dada antes da Circuncisão Capítulo 5 A Aliança da Circuncisão (I) As Promessas Feitas a Abraão para sua Descendência Natural Abraão é Chamado para Fora de Ur dos Caldeus A Jornada de Abraão e a Renovação das Promessas Como a Promessa de Canaã Beneficiou Abraão A Promessa Renovada e Expandida A Descendência de Abraão A Aliança da Circuncisão A Promessa da Nova Aliança Repetida A Distinção das Tribos em Israel O Significado de Eterno em Relação a esse Pacto A Igreja-Estado do Israel Segundo a Carne Capítulo 6 A Aliança da Circuncisão (II) Duas Proposições Estabelecidas A Primeira Proposição Provada Sua Confirmação Posterior Seu Apoio a partir da História Sagrada A Igreja-Estado de Israel foi Edificada sobre essa Aliança Circuncisão: a Porta para a Comunhão em Israel Como Levi pagou Dízimos estando ainda em Abraão Israel foi Libertado do Egito em Virtude dessa Aliança A Segunda Proposição Provada O Exemplo de Esaú Uma Objeção Respondida Circuncisão: Um Selo da Aliança Algumas Inferências a partir do Discurso Precedente Capítulo 7 A Aliança da Circuncisão (III) O Verdadeiro Significado da Grande Promessa Várias Premissas para que Cheguemos ao Entendimento Correto Israel Considerado de Duas Formas sob a Economia Mosaica O Israel de Deus em Israel A Promessa Plenamente Explicada A Explicação Confirmada A História de seu Cumprimento para com Israel As Bênçãos de Israel Segundo a Carne A Aliança da Circuncisão não é o Pacto da Graça Outros Homens Santos que não Viveram Debaixo da Obrigação da Circuncisão O Conceito de Membresia Infantil na Igreja Considerado Cinco Propostas Consideradas Capítulo 8 A Referência Mútua das Promessas Feitas a Abraão O Propósito Geral deste Capítulo A Mistura das Promessas A Relação Mútua das Promessas A Grandeza da Provação de Abraão A Aliança de Peculiaridade como um Tipo Colossenses 2:11 Explicado A Família de Abraão como um Tipo da Futura Igreja Inferências Feitas a Partir desse Tipo A Chave para Muitas Promessas no Antigo Testamento Romanos 4:11 Explicado A Circuncisão foi um Selo para a Fé de Abraão A Conclusão desse Tratado PARTE 2 Uma Breve Biografia de John Owen Extraída do Memorial dos Não-Conformistas, por Samuel Palmer Introdução do Editor Capítulo 1 Exposição do Versículo 6 A Diferença entre as Duas Alianças Uma Afirmação da Excelência do Ministério de Cristo A Introdução da Afirmação Primeira Observação Prática O que é Atribuído a Cristo na Afirmação Segunda Observação Prática Terceira Observação Prática Quarta Observação Prática Como Cristo Veio a esse Ministério Quinta Observação Prática A Qualidade desse Ministério A Preeminência desse Ministério Sexta Observação Prática A Prova da Afirmação O Ofício de Mediador Sétima Observação Prática Uma Descrição Adicional de seu Ofício Mediatório De que Aliança Cristo era o Mediador? Dificuldades do Contexto Respondidas A Prova da Natureza dessa Aliança Quanto à sua Excelência Toda Aliança é Estabelecida sobre Promessas A Nova Aliança é Estabelecida com Promessas Melhores Oitava Observação Prática Nona Observação Prática Um Discurso Acerca de Algumas Coisas em Geral Uma Disputa em Relação às Duas Alianças Quatro Pontos Consoantes Acerca das Duas Administrações Cinco Diferenças entre as Duas Administrações Os Argumentos Luteranos Cinco Pontos sobre essa Questão Três Coisas Relacionadas à Primeira Aliança que Provam que Ela Não foi uma Administração do Pacto da Graça Primeira, Ela não foi Feita para a Vida e Salvação da Igreja Segunda, Ela Não Anulou a Promessa Feita a Abraão Terceira, Ela Continha Outros Benefícios para a Igreja Duas Perguntas sobre a Aliança do Sinai A Substância de Toda a Verdade Seis Razões para a Introdução da Primeira Aliança A Diferença entre as Duas Alianças A Opinião da Igreja de Roma A Doutrina da Escritura sobre a Diferença entre as Alianças Exposta em 17 Particularidades Uma Resposta aos Socinianos Décima Observação Prática Décima Primeira Observação Prática Capítulo 2 Exposição do versículo 7 A Necessidade de Uma Nova e Melhor Aliança Uma Afirmação Positiva A Prova desta Afirmação Primeira Observação Prática Segunda Observação Prática Capítulo 3 Exposição do Versículo 8 A Nova Aliança A Introdução do Testemunho Sua Conexão Seu Fundamento Seu Verdadeiro Significado Primeira Observação Prática Segunda Observação Prática Terceira Observação Prática O Próprio Testemunho O Autor da Promessa Quarta Observação Prática A Nota da Introdução Quinta Observação Prática Sexta Observação Prática O Tempo da Realização Sétima Observação Prática A Coisa Prometida Três Coisas que Coincidem na Nova Aliança Por que Chamar de uma Aliança? Oitava Observação Prática As Coisas Contidas na Nova Aliança O Autor dessa Aliança Nona Observação Prática As Pessoas com Quem essa Aliança é Feita Décima Observação Prática Décima Primeira Observação Prática O Modo de Fazer a Nova Aliança Seu Caráter Distintivo Capítulo 4 Exposição do Versículo 9 A Novidade da Nova Aliança As Razões para uma Aliança Diferente A Primeira Aliança Primeira Observação Prática Segunda Observação Prática Terceira Observação Prática Quarta Observação Prática Quem Eram Esses “Pais”? A Quebra da Antiga Aliança Quinta Observação Prática Sexta Observação Prática A Anulação da Antiga Aliança A Verdade Dessas Coisas A Promessa de Outra Aliança Sétima Observação Prática Oitava Observação Prática Nona Observação Prática Décima Observação Prática Capítulo 5 Exposição dos Versículos 10-12 As Promessas da Nova Aliança Exposição do versículo 10 Introdução da Declaração da Nova Aliança O Assunto: A Criação de uma Aliança Primeira Observação Prática Segunda Observação Prática Terceira Observação Prática Quarta Observação Prática O Autor dessa Aliança Quinta Observação Prática Com Quem a Nova Aliança é Feita O Tempo de Fazer a Aliança O Tempo Exato da Realização dessa Promessa A Natureza das Promessas da Nova Aliança A Natureza Geral dessas Promessas Refutação da Interpretação Sociniana e Demonstração da Verdadeira Interpretação em Seis Aspectos Duas Objeções Respondidas As Propriedades Abençoadas e os Efeitos da Nova Aliança Primeira Bênção Geral – Restauração da Imagem de Deus em Nós O que é Atingido Sexta Observação Prática Em seus Entendimentos O Modo de Produzir o Efeito O que é Comunicado: Minhas Leis A Natureza da Graça na Primeira Promessa Sétima Observação Prática Em seus Corações Oitava Observação Prática Nona Observação Prática Décima Observação Prática “E eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo.” A Natureza dessa Relação O Fundamento O Mediador deve Ser Cristo Décima Primeira Observação Prática As Ações Mútuas A Relação de Deus para com o Homem Décima Segunda Observação Prática Décima Terceira Observação Prática Décima Quarta Observação Prática Décima Quinta Observação Prática A Relação do Homem com Deus Décima Sexta Observação Prática Décima Sétima Observação Prática Exposição do Versículo 11 A Parte Negativa da Promessa A Parte Positiva da Promessa Refutação de uma Má Interpretação desse Texto A Interpretação Correta do Texto Em que Consistia a Remoção do Ensino? O que Não Seria Mais Ensinado? Várias Observações sobre Expressões Particulares Décima Oitava Observação Prática Décima Nona Observação Prática Vigésima Observação PráticaVigésima Primeira Observação Prática Vigésima Segunda Observação Prática A Parte Positiva da Promessa (continuação) Para Quem Ela é Feita Vigésima Terceira Observação Prática Vigésima Quarta Observação Prática Qual é o seu Assunto? Vigésima Quinta Observação Prática Vigésima Sexta Observação Prática Vigésima Sétima Observação Prática Exposição do Versículo 12 Vigésima Oitava Observação Prática A Promessa Considerada Para Quem é Ela Feita Objeção e Resposta Vigésima Nona Observação Prática O que é Prometido O que se Entende por Pecados Trigésima Observação Prática Trigésima Primeira Observação Prática Trigésima Segunda Observação Prática Trigésima Terceira Observação Prática O que se Entende pelo Perdão dos Pecados Capítulo 6 Exposição do versículo 13 A Necessidade e Certeza da Abolição da Primeira Aliança A Palavra Especial ou Testemunho Bíblico Uma Máxima Geral da Verdade Introdução Por que Essa Reimpressão é Importante? James M. Renihan A partir de 1950 para cá o leitor cristão tem sido privilegiado com a reimpressão de uma série de obras. A maioria desses livros tem sido uma bênção incalculável para a igreja de Jesus Cristo, ao ajudar os crentes a entender as grandes doutrinas históricas da fé. Pela providência e bênção de Deus, o reavivamento do interesse pela fé reformada deve ser, em grande parte, creditado à ampla disponibilidade dessas obras-primas teológicas. À medida que a verdade tem sido disseminada, vidas têm sido transformadas e igrejas têm sido estabelecidas para a glória de Deus segundo as Escrituras. Outras obras valiosas da literatura teológica ainda precisam ser redescobertas a partir do tesouro depositado do passado. Mesmo que meio século de reimpressões tenha passado, as gráficas continuam a emitir documentos vitais extraídos do valioso tesouro de escritos da Reforma e da pós-Reforma, e esse tesouro ainda está cheio de livros dignos de nossa atenção. Alguns merecem a tradução para o inglês (e a maioria deles, para o português) com o fim de aumentar a sua disponibilidade, enquanto outros simplesmente esperam os recursos necessários para serem disponibilizados ao público cristão. É um grande prazer dar um passo adiante nesse processo através da publicação do presente livro. Como homens confessionalmente comprometidos com a fé reformada, os editores modernos desta obra acreditam que ela preenche uma lacuna muito importante no que diz respeito à explicação desse sistema de teologia. Nós cremos que a estrutura da Escritura é adequadamente definida pelo que foi designado como teologia pactual — entender esse fato é compreender a arquitetura central de toda a Bíblia. Seu autor divino se revelou aos homens por meio de pactos, e nos chama a ver que esse é o meio mais fundamental de compreender o panorama completo apresentado em suas páginas sagradas. Na maior parte do material que foi reimpresso ao longo do último meio século, a teologia pactual foi apresentada como se implicasse necessariamente na doutrina e na prática do batismo infantil. Nós poderíamos preencher muito espaço aqui simplesmente listando os livros que defenderam essa posição. Muitos de nós, no entanto, não foram convencidos dessa imposição, pois acreditamos que ela é consequência desnecessária do raciocínio teológico. Acreditamos que é muito possível, e até mesmo necessário, formular uma teologia pactual baseada em uma exegese que defenda a centralidade e a continuidade do plano divino da redenção através dos tempos sem com isso cairmos na dedução de que o batismo infantil deve fazer parte dessa doutrina. Infelizmente, temos poucas obras disponíveis que lidam com essas questões em um profundo nível exegético e teológico. Os livros escritos a partir de uma perspectiva pedobatista frequentemente rejeitam o ponto de vista do credobatista (isto é, o batismo de crentes), e aqueles que defendem o batismo de crentes frequentemente falham em se esforçar o suficiente para apresentar um sistema pactual plenamente desenvolvido. O resultado é que os pedobatistas raramente, ou nunca, consideraram a possibilidade de uma posição pactual credobatista, e muitos batistas são simplesmente ignorantes da centralidade dos pactos de Deus e de sua utilidade para a defesa de suas próprias crenças. Este livro é uma tentativa de começar a corrigir essa deficiência. No século XVII, as defesas pactuais do batismo de crentes eram a regra e não a exceção, e essa obra de Nehemiah Coxe, agora reimpressa, se destaca como um excelente exemplo disso. Coxe viveu em um tempo em que os melhores exegetas e teólogos, batistas e pedobatistas, explicavam e defendiam a teologia pactual, e Coxe se uniu a eles para apresentar as suas posições acerca dos pactos históricos. Reconhecendo os pactos como a estrutura da revelação e da história da redenção, ele progressivamente oferece uma exposição de cada um dos acordos pactuais que Deus fez com os homens antes da lei. Ao fazer isso, ele é capaz de demonstrar que os batistas compartilham com seus outros amigos reformados um compromisso com essa revelação histórica e progressiva da graça de Deus aos homens. Isso é de vital importância, e tem sido fonte de surpresa e bênção para os pedobatistas que descobriram esse ponto. Eles percebem que os batistas reformados confessionais não são dispensacionalistas enrustidos, mas confessam uma teologia pactual bem desenvolvida. Nós optamos por incluir os comentários de John Owen em Hebreus 8:6-13 junto com a obra de Coxe, por várias razões importantes. Sabemos, é claro, que Owen foi um pedobatista por toda a vida e que ele defende brevemente essa visão em outros de seus escritos. Não pretendemos, de forma alguma, sugerir que Owen teria endossado as objeções de Coxe (ou nossas) à posição pedobatista. No entanto, pareceu ser bom incorporar seus pontos de vista a essa obra. O leitor verá que Coxe, no prefácio de seu tratado, indica que estava preparando materiais para escrever um volume que dava continuidade à sua obra sobre dos pactos de Deus na qual falaria sobre o pacto mosaico e a Nova Aliança, mas isso foi “felizmente evitado” pela publicação do comentário de Owen sobre o capítulo 8 de Hebreus. Para o batista Neemias Coxe, o trabalho de John Owen sobre essa porção de Hebreus claramente articulou as coisas que o próprio Coxe teria dito (e ele reconheceu que Owen também as disse melhor). Isso não implica que Coxe endossou cada jota e til do trabalho de Owen, mas simplesmente indica o grande acordo que havia entre os dois. Owen, por sua vez, exegeticamente demonstra que a Nova Aliança é profundamente diferente da Antiga — ela é caracteristicamente nova. Para Coxe (deve ser lembrado que ele é o candidato mais provável a ter servido como editor da Segunda Confissão de Fé Batista de Londres 1677/1689 [CFB1689]) e para os batistas reformados confessionais que concordam com a sua teologia, a ênfase de Owen na novidade da Nova Aliança é um progresso útil nessa discussão. Em nossos dias, há alguns que sugerem que a noção de que a ênfase de Owen na novidade da Nova Aliança é equivalente à perspectiva desenvolvida por alguns batistas que aderem à chamada Teologia da Nova Aliança. Nada poderia estar mais longe da verdade, e espera-se que a combinação dessas obras corrija essa situação. Owen foi um dos principais arquitetos da teologia pactual articulada na Declaração de Fé de Savoy de 1658, e a relação de Coxe com a CFB1689, um documento amplamente baseado em Savoy, é evidente. Em ambos os casos, esses homens, comprometidos com as doutrinas apresentadas nessas Confissões, não viram nenhuma contradição entre suas formulações da teologia pactual e toda a gama de doutrinas expressa em suas Confissões. Isso é especialmente evidente em suas visões a favor da validade permanente da lei moral, resumida nos Dez Mandamentos. Para ambos, a natureza progressiva dos pactos históricos e a novidade da Nova Aliança não constituíram uma barreira ao reconhecimento de uma continuidade permanente. Existe unidade pactual, mesmo quando há diversidade pactual. Como essaquestão é tão vital, incluímos como apêndice um ensaio escrito por Richard Barcellos intitulado “John Owen e Nova Aliança: Owen sobre a Antiga e a Nova Alianças e as Funções do Decálogo na História Redentiva na Perspectiva Histórica e Contemporânea”. Nesse ensaio, o pastor Barcellos demonstra completamente que não há base real ou ilusória para afirmar que a visão de Owen sobre os pactos era algo além de ortodoxa, que estava em harmonia com os documentos confessionais e que não tem nenhuma semelhança essencial com as visões emergentes da assim chamada Teologia da Nova Aliança. A nossa esperança é que esse ensaio não apenas coloque o prego no caixão (por assim dizer), mas enterre esse erro a sete palmos de profundidade. É tentador citar o nome e a reputação de Owen em apoio à sua posição — mas nesse caso, o esforço mostrou-se um fracasso. A justaposição de Coxe, Owen e do apêndice de Barcellos torna esse fato claro como um cristal. Esperamos que este livro sirva para vários propósitos. Por um lado, desejamos fortalecer as mãos dos pastores das igrejas batistas reformadas confessionais, fornecendo-lhes esse excelente material que defende a sua teologia. Por outro lado, esperamos que essa obra contribua para o processo pelo qual nossos amigos pedobatistas reconhecem que somos muito sérios sobre a teologia pactual. Nós estamos realmente convencidos de que isso é aquilo em que a Bíblia se estrutura. Além disso, esperamos que alguns daqueles que foram tentados a se desviar dos caminhos confessionais para seguir após novidades possam leiam e retornem a um compromisso com esse sistema maravilhoso, extraído das páginas da Sagrada Escritura. Que o Senhor abençoe esse esforço para a sua glória e para o bem da igreja. Amém. James M. Renihan, Escondido, Califórnia, fevereiro de 2004. PARTE I Nehemiah Coxe: Um Teólogo Excelente e Judicioso James M. Renihan Na providência de Deus, muitos dos seus santos viveram e morreram sem reconhecimento ou aclamação histórica. O livro de Hebreus, no capítulo 11, resume a vida dos crentes de todas as eras que perseveraram de modo fiel, não buscando a fama terrena, mas a recompensa prometida, compartilhada com o povo de Deus através de todas as épocas. Somente o último dia revelará a plenitude do agir de Deus entre os seus eleitos. Nós somos gratos pelo registro histórico que nos foi dado, fornecendo testemunhos nobres daqueles que demonstraram que a vida de fé é a essência da piedade. Muitos são famosos, mas a maioria é desconhecida. Tal é o caso de Nehemiah Coxe. Embora seja possivelmente o principal editor da mais célebre Confissão Batista de todos os tempos, o seu nome não é conhecido pela maioria dos seus herdeiros teológicos. Mesmo as edições da CFB1689 publicadas, ao listar os nomes dos subscritores, não fazem menção a ele. É um prazer dedicar alguma atenção à obra de Deus através desse devotado servo de Jesus Cristo. A história de sua vida deve começar com seu pai, Benjamin Coxe. Provavelmente o filho de um clérigo[1] da Igreja da Inglaterra, Benjamin se matriculou na Christ Church, Oxford, em abril de 1609, quando tinha 14 anos de idade. Ele recebeu o título de bacharel em artes em Broadgates Hall, Oxford em junho de 1613, e seu mestrado em artes, em junho de 1617.[2] Foi nomeado reitor do vilarejo ocidental Sampford Paverel, mas nesse momento de sua carreira as suas convicções doutrinárias não são claras. W.T. Whitley observa que o alto presbiteriano Thomas Edwards “censurou” Coxe “por ter sido zeloso em relação às inovações de Laud”.[3] Seja qual for a verdade dessa alegação, em 1642, Coxe defendia uma posição não muito distante da dos batistas em seu panfleto A Thesis or Position Concerning The Administering and Receiving Of The Lord’s Supper Cleared and Confirmed. A tese de seu argumento é: “Aquele que administra a ceia do Senhor a alguém que é um fornicador, cobiçoso, idólatra, perjurador, bêbado ou roubador, comete um pecado muito grave e odioso. Os filhos de Deus não devem praticar esse pecado sério e odioso, mas reprová- lo”.[4] Claramente, Coxe estava se movendo em direção a uma visão batista sobre os sacramentos. Isso está a um pequeno passo em direção a proteção da santidade da mesa do Senhor ao admitir somente os crentes ao batismo. Whitley afirma bem: “Uma vez que um homem se esforça para limitar a comunhão aos verdadeiros crentes, é provável que ele seja desafiado sobre a crisma[5] e o batismo infantil”.[6] Esse parece ter sido o caso, pois em 1643 Benjamin estava em Coventry, e foi desafiado por Richard Baxter para debater sobre o tema do batismo infantil.[7] Sua presença lá resultou em sua prisão por um período de tempo indeterminado, mas aparentemente breve, de acordo com Baxter porque “ele se recusou a prometer deixar a cidade e não voltar mais”.[8] Em 1645, ele foi convidado a participar de um debate com Edmund Calamy, entre outros, sobre o mesmo tema em Londres, mas foi impedido pelo prefeito.[9] A associação com os batistas de Londres é de grande importância, pois demonstra a crescente proeminência de Benjamin Coxe. Quando Daniel Featley atacou sete pontos da teologia da Confissão de Londres de 1644, as igrejas que publicaram a Confissão a revisaram para considerar as objeções de Featley. A nova edição foi publicada em 1646, assinada por Benjamin Coxe como representante de uma das igrejas de Londres. Além disso, ele publicou, provavelmente por conta própria, um Apêndice à Confissão, procurando explicar melhor algumas das posições sustentadas pelos subscritores. Coxe cria que os homens sensatos leriam e entenderiam que os batistas eram altamente ortodoxos em seus pontos de vista, e talvez, como resultado, receberiam alguma tolerância. Suas expectativas otimistas não foram cumpridas. Murray Tolmie conta bem a história: Em 29 de janeiro de 1646, Samuel Richardson e Benjamin Coxe ficaram do lado de fora da Câmara dos Comuns para entregar cópias da segunda edição da Confissão das sete igrejas aos membros quando eles entravam na Câmara. A Confissão foi revisada com muito cuidado... Foi tomado cuidado para que o panfleto fosse devidamente autorizado por John Downham. A Câmara dos Comuns se mostrou antipática; enviou o sargento de armas para apreender os panfletos e trazer Richardson e Coxe para a prisão da Câmara, e ordenou à Companhia de Livreiros que suprimisse a Confissão.[10] A tolerância ainda estava longe. Em 1646, Coxe imprimiu uma pequena obra, escrita durante o seu tempo de prisão em Coventry, intitulada Some Mistaken Scriptures Sincerely Explained,[11] um esforço para desfazer os efeitos nocivos do arminianismo que se espalhava por todo o país. Ele tratou do mesmo assunto em uma “Carta ao Leitor”, publicada no mesmo ano, como prefácio de God’s Ordinance, The Saints Priviledge de John Spilsbury.[12] Coxe ampliou algumas porções da segunda parte desse tratado que lidavam com assuntos relacionados à doutrina calvinista da redenção particular. Dois anos depois, Coxe aparentemente estava em Bedford. B.R. White afirma que “os presbiterianos de Londres insistiram em setembro [de 1648] que uma carta fosse enviada às autoridades em Bedford relatando opiniões ‘heterodoxas’ de Coxe; presumivelmente a sua oposição ao batismo infantil”.[13] Até 1653, ele parece ter mantido uma postura discreta, mas ele aparece naquele ano como representante da igreja de Kensworth, Bedfordshire, em uma reunião da Associação Abingdon.[14] Nos próximos sete anos, seu nome aparece com regularidade e proeminência nas atas da Associação. A essa altura, Benjamin teria cerca de 65 anos de idade. Crosby relata que no Ato de Uniformidade, em 1662, Coxe estava para se conformar com a Igreja da Inglaterra, mas logo se arrependeu e voltou para o rebanho batista,[15] porém ele não fornece evidências que corroborem sua afirmação. Como ele havia recentemente escrito um argumento contundente contra a adequação de ministros batistas receberem pagamento do governo, [16] alguém teria bons motivos para pensar que essa história sobre sua suposta conformidade é altamenteimprovável. Embora o ano da sua morte não seja conhecido, ocorreu provavelmente por volta de 1664. Dois assuntos importantes devem ser mencionados antes de prosseguirmos. O primeiro tem relação com a defesa de Benjamim Coxe dos princípios da membresia fechada. Nas décadas seguintes ao surgimento das igrejas batistas particulares, várias posições sobre a relação entre o batismo e a membresia da igreja podem ser observadas. Para alguns, o batismo de crentes era uma condição sine qua non para a entrada de uma pessoa na membresia da igreja; outros promoveram o batismo de crentes e resistiram ao pedobatismo, mas permitiam a adesão de indivíduos que estavam hesitantes quanto à necessidade do que consideravam ser um rebatismo (por pensarem que o seu batismo enquanto bebês era suficiente). Uma terceira posição argumentava que o batismo era um assunto pessoal e, portanto, era irrelevante para a membresia na igreja. Coxe, os batistas de Londres que publicaram a Confissão de Londres em 1644/46 e as igrejas da Associação Abingdon, todos mantinham firmemente a primeira posição. A segunda é representada por igrejas como a de Broadmead, Bristol e indivíduos como Henry Jessey.[17] A última opinião era a convicção e prática de John Bunyan e da igreja de Bedford, onde ele ministrou. Benjamin Coxe defendeu eloquentemente a necessidade do batismo de crentes para a membresia, e essa defesa parece ter sido um legado dado ao seu filho. Isso assumirá importância no estágio inicial do ministério de Nehemiah. A segunda questão que merece ser observada é a estreita relação mantida pela igreja Petty France, em Londres, com as igrejas da Associação Abingdon em geral, e com a igreja de Kensworth em particular. Em 1656, as igrejas de Abingdon estavam tendo dificuldades com questões relativas à escolha e instalação (ordenação) de oficiais na igreja. Eles decidiram buscar ajuda e enviaram uma carta à igreja Petty France pedindo conselho. A congregação de Londres respondeu em uma longa epístola, explicando a sua própria prática.[18] Evidentemente, essa grande assembleia foi tida em alta estima pelas igrejas associadas. Talvez a razão para isso seja encontrada na relação entre Benjamin Coxe, Edward Harrison, Petty France e Kensworth. Quando Coxe assinou a edição de 1646 da Confissão de Londres, ele o fez como representante da igreja que viria a ser conhecida através de seu local de encontro na Petty France. Edward Harrison, que se uniu a essa igreja em 1651, e foi seu pastor em 1657, veio a Londres de Kensworth, tendo servido como pastor da igreja paroquial de lá. Ele abandonou o pedobatismo em 1645 e pode ter sido (depois da Guerra Civil) o fundador da igreja de Kensworth.[19] Ao longo da história dessas igrejas, parece ter havido comunicação regular.[20] O significado dessa relação será observado abaixo. Nas palavras de W.T. Whitley, “no lugar dos pais, levantaram- se os filhos”.[21] Nehemiah Coxe foi filho de Benjamin Coxe. Não sabemos quase nada sobre o seu nascimento e infância, exceto presumimos que se passaram em Bedfordshire com o pai. Sua primeira aparição conhecida no registro histórico é em 14 de maio de 1669, quando se uniu à igreja de Bedford, de membresia aberta, que ficou famosa devido a John Bunyan.[22] Embora ainda relativamente jovem (como veremos abaixo), ele deve ter crescido na estima da congregação, já que o seu nome é assinado, juntamente com três outros homens, em uma carta escrita em 21 de março de 1671 pela igreja de Bedford para um dos seus membros desviados. William Whitbread havia se unido à assembleia, mas parou de comparecer e de participar das atividades da igreja. Para piorar a situação, ele foi visto frequentando os cultos públicos na Igreja da Inglaterra. Para os congregados de Bedford, isso era uma séria violação de princípios, como a seguinte carta indica: Irmão Whitbread Nós, seus irmãos da congregação de Cristo, à qual você ainda está vinculado, tendo o repreendido anteriormente por nossas cartas, por diversas más condutas e isso por longo tempo, esperávamos que Deus pudesse tê-lo abençoado com arrependimento não fingido. Mas considerando que você tem acrescentado mais iniquidade às suas transgressões anteriores nas quais persiste por tanto tempo e as pratica diante dos cananeus que habitam na terra, ao participar desse culto supersticioso e idólatra, que pela força e crueldade tem se mantido em oposição à verdadeira adoração e aos verdadeiros adoradores de Deus, com quem por muito tempo você se alegrou, não podemos deixar de sentir que o seu arrependimento anterior foi falso. Você tem continuado nisso com uma impiedade que não pode ser suportada por nós, a menos que também nos façamos culpados de suas transgressões. E nós lhe dizemos, além disso, que nossa sinceridade quanto a esse assunto é evidente para todas as igrejas, e que se você não der resposta, nós usaremos aquele poder que nos foi dado por Cristo para sua edificação, ainda que seja necessário nos afastar de você como uma pessoa com a qual não devemos nos acompanhar, na esperança de que você fique envergonhado e seja salvo no dia do Senhor. Esta carta foi escrita com o consentimento da congregação, que também ordenou que ela fosse enviada a você pela mão desses irmãos cujos nomes estão aqui subscritos como testemunhas.[23] Essa carta deixa transparecer o profundo desagrado que os santos sofredores de Bedford tinham em relação aos seus perseguidores. Ter comunhão com os tais era absolutamente inaceitável. Na mesma reunião, Coxe foi nomeado, juntamente com outro homem, para anunciar o ato da expulsão da igreja de mais um membro, Richard Deane. A participação desse jovem em ambos os casos no dá alguma evidência da estima em que ele foi tido pela igreja. Essas duas questões eram da maior importância para a disciplina da assembleia local. Em junho do mesmo ano, Nehemiah assinou, dessa vez junto com John Bunyan, uma nova carta escrita pela igreja. Ela foi dirigida à irmã Tilney, uma mulher da congregação que se mudou para Londres e desejava se unir a uma igreja pastoreada por seu genro, o Sr. Blakey.[24] É uma carta fascinante, a qual expressa profunda afeição por essa mulher que era muito amada pela igreja, mas também demonstrava uma certa hesitação em enviá-la para os cuidados daquela igreja, porque era desconhecida para eles. Eles sugerem que ela considere várias opções, entre elas a obtenção de uma “carta de recomendação” de “Irm. Owen, Irm. Coakain, Irm. Palmer ou Irm. Griffith, confirmando a fé e os princípios da pessoa e do povo que você mencionou”.[25] A referência é ao famoso Dr. John Owen.[26] Em 12 de julho, a igreja se reuniu novamente, e Coxe relatou à congregação que William Whitbread havia “confessado sua culpa pela má conduta da qual o acusaram”[27] e havia um indício esperançoso de “progresso do arrependimento nele”. Na mesma reunião, os registros declaram que os “mesmos irmãos” (ou seja, Coxe e seu companheiro) relataram os resultados de duas outras visitas disciplinares para as quais foram designados. Segundo todos os relatos, a igreja de Bedford estava disposta a confiar assuntos sérios a esse jovem. A assinatura de seu nome continuou aparecendo em correspondências oficiais da igreja. Em dezembro de 1671, a posição de Nehemiah Coxe na igreja deu mais um passo à frente. No dia 21 desse mês, John Bunyan foi formalmente chamado para o “ofício pastoral ou presbitério” na igreja. As atas indicam que “ao mesmo tempo e da mesma maneira, a igreja solenemente aprovou os dons e chamou para a obra do ministério” sete homens, entre os quais Nehemiah, “para o progresso da obra de Deus e continuidade dessa obra nas reuniões geralmente realizadas por essa congregação, cuja ocasião e oportunidade devem ser ministradas por eles”. Esse não foi um chamado completo e livre para o exercício dos dons, pois as atas imediatamente declaram que a igreja determinou ainda que, se algum novo lugar se oferecesse, ou outro povo que ainda não temos pleno conhecimento ou comunhão, desejamos que qualquer um desses irmãos vá e sejaútil para eles, através da palavra e doutrina, para que então aquele irmão que assim desejar, apresente primeiramente o assunto à congregação, a qual, após a devida consideração determinará o caso, e conforme determinarem, o irmão deve agir e fazer.[28] As distinções nessas palavras precisam ser observadas. Esses homens foram chamados para ser “ministros” ou “irmãos com dons”, mas não presbíteros. Eles agiam em subordinação à vontade e à disposição da igreja como um todo. As regras estritas que circunscrevem a sua atividade demonstram a sobriedade com a qual a igreja tratou a questão. O ministério público de qualquer tipo era um chamado elevado e santo, e não podia ser tratado com leviandade. A responsabilidade desse reconhecimento trouxe consigo não apenas oportunidades para o ministério público e para a liderança, mas também para a reflexão teológica. Em 25 de junho de 1672, a igreja “ordenou que uma breve confissão de fé fosse redigida pelos presbíteros e irmãos com dons da congregação”. Infelizmente, não há registro da obra finalizada. Em 29 de julho, os registros afirmam que “o assunto até então proposto sobre a elaboração de uma breve confissão de fé etc., foi adiado, em razão da ausência do Ir. Bunyan”.[29] Parece não haver mais nenhuma menção a tal confissão nos registros da igreja. Sabe-se, no entanto, que em 1672 Bunyan publicou, A Confession of My Faith, and a reason of My Practice.[30] Podemos imaginar se há uma conexão entre essas coisas. No final da primavera de 1673, uma das congregações filhas da igreja de Bedford fez um pedido importante: “Foi desejado pela igreja em Hitchin que essa congregação lhes enviasse o nosso irmão Nehemiah Coxe para que exercesse o ofício de presbítero ou pastor para eles, o que a congregação decidiu levar em consideração”.[31] Vários aspectos notáveis são observados nesse momento. Entre as igrejas independentes e batistas, era crido que a membresia deveria preceder um chamado ao ofício pastoral. As igrejas geralmente não se aproximavam de um homem diretamente e pediam a ele que aceitasse um chamado para servir em seu meio, embora certamente isso fosse feito informalmente. O único procedimento adequado era se dirigir à igreja na qual o homem desejado era membro e pedir que o enviassem com o propósito de assumir o novo ministério. Por essa razão, a igreja de Hitchin se dirigiu ao povo de Bedford pedindo permissão para proceder.[32] Isso implica que Coxe havia exercido alguma forma de ministério entre o povo de Hitchin, muito provavelmente ao desempenhar entre eles o trabalho de um irmão com dons como mencionado acima. Curiosamente, a congregação de Bedford não aceitou imediatamente o pedido, mas apenas o considerou. Os registros não indicam se a solicitação foi alguma vez concedida, é quase certeza que não foi. Menos de um ano depois, em maio de 1674, Coxe, aparentemente ainda membro da igreja de Bedford, enfrentou censura por certas “condutas indevidas” que não foram definidas. A observação no livro de registro é a seguinte: Nosso irmão Nehemiah Coxe publicamente reconheceu ter cometido várias condutas indevidas e declarou seu arrependimento por elas; e por que ele cometeu falhas nessas coisas, foi desejado por alguns dos irmãos que um relato de sua submissão fosse apresentado a nós por escrito, o que foi feito como segue: Considerando que várias palavras e práticas foram proferidas e cometidas por mim, as quais poderiam ser justamente censuradas por ter uma tendência a causar cismas e divisões na congregação, declaro-me sinceramente entristecido e arrependido por elas. Ne. Coxe.[33] Pode-se perguntar o que seriam essas condutas indevidas. Thomas Armitage supõe que desde que “se relacionavam com algum ponto de fé ou prática sobre o qual havia diferenças de opinião no corpo, e como ele era um batista convicto, elas, muito provavelmente, se referiram a algumas diferenças que haviam entre os batistas”. T.E. Dowley sugere uma solução semelhante: Talvez as “palavras e práticas” de Coxe estivessem relacionadas à questão da membresia aberta ou fechada, tão debatida naquela época.[34] Benjamin Coxe defendia claramente uma posição de membresia fechada em seus escritos publicados, enquanto a igreja de Bedford, e especialmente Bunyan, resistia a tal ideia com grande vigor.[35] Será que Nehemiah defendeu opiniões que o povo de Bedford considerou como tendo “uma tendência a causar cismas e divisões na congregação”? O fato de que ele cometeu “falhas nessas coisas” anteriormente mencionadas é uma indicação de que essa era a natureza do problema? Parece que essa solução é muito provável. A aparição de Nehemiah na igreja de membresia fechada Petty France, logo depois disso, poderia ajudar a explicar a situação. Walter Wilson registra um episódio interessante desse período da vida de Coxe: Em uma página, no início de seu [de Coxe] Discourse of the Covenants, na posse do sr. Sutcliff, o seguinte episódio é registrado em um manuscrito. “O autor morava em Cranfield, onde seguia trabalhando como um fabricante de calçados de couro e, durante sua residência ali, foi preso por pregar o Evangelho. Quando chegou ao julgamento em Bedford, ele primeiro fez sua defesa em grego e depois em hebraico, pelo que o juiz que solicitou a acusação contra Nehemiah Coxe, um sapateiro, expressou a sua surpresa e declarou que ninguém poderia respondê-lo. E sobre o argumento do Sr. Coxe de que era justo que ele pudesse se defender na língua em que desejasse, ele foi despedido”. O Sr. Sutcliff diz que ouviu várias vezes a anedota acima repetida em conversas, na cidade e no bairro de Bedford, e particularmente com esse acréscimo, que o juiz teria dito aos conselheiros: “Bem, o sapateiro deu um nó em todos vocês, senhores”.[36] A partir dessa anotação, parece que Coxe, embora muito inteligente, se sustentava como um fabricante de sapatos de couro ou sapateiro. Quinze meses após o incidente da censura, em 21 de setembro de 1675, a seguinte nota foi registrada no livro das atas da igreja Petty France (Londres): “Ir. Collins & Ir. Coxe foram solenemente ordenados pastores ou presbíteros nesta igreja”.[37] É provavelmente seguro assumir, baseado nos processos normais envolvidos no chamamento de pastores para igrejas, que estes dois homens foram examinados pela igreja e passaram por algum tipo de período experimental. De qualquer forma, eles se tornaram co- pastores naquele dia. É dito que William Collins teve um treinamento universitário completo, seguido por uma jornada pelo continente europeu. Ele permaneceu como pastor da igreja até sua morte em 30 de outubro de 1702. Em um sermão pregado por John Piggott, quinze dias após a morte de Collins, menciona-se a animadora “oferta que ele teve de se unir à Igreja Nacional, a qual ele judiciosamente recusou, porque foi a consciência, não o capricho, que fez dele um dissidente”.[38] Juntamente com Coxe, Collins deve ter tido um lugar de liderança importante em sua base em Londres, na igreja Petty France. A dupla Coxe pai e Coxe filho tinha, portanto, completado um ciclo. A igreja da qual o pai fizera parte na década de 1640, e que manteve uma forte ligação com Bedfordshire nas décadas de 1650 e 1660, tornou-se a casa do filho na década de 1670. Coxe tornou-se um médico qualificado,[39] hábil em latim, grego e hebraico, e um teólogo de grande discernimento. Quando o evangelista de West Country, Thomas Collier,[40] começou a se desviar da ortodoxia calvinista das Igrejas de Londres, os presbíteros de Londres pediram a Coxe para se comunicar com ele na tentativa de recuperá-lo e/ou refutar a sua doutrina. Collier era um homem eminente e importante. Ele foi enviado na década de 1640 pela igreja de William Kiffin, de Devonshire Square, em Londres, e foi o líder mais influente entre os batistas particulares no oeste. Seu trabalho foi tão eficaz que despertou a atenção de Thomas Edwards, que escreveu em sua obra Gangraena (1646) que Collier foi “o primeiro que semeou as descendências do anabatismo” no oeste.[41] Por quarenta anos ele trabalhou incansavelmentepara plantar e construir igrejas. Na década de 1650, havia evidências de seu desvio teológico e, em meados da década de 1670, ele renunciou abertamente ao calvinismo das igrejas de Londres. Tais ações não poderiam ser toleradas ou ignoradas. Nehemiah participou do seu processo de restauração/refutação teológica de duas maneiras. Em 1676, ele acompanhou uma delegação que viajou para o oeste para confrontar Collier. The Broadmead Records descreve a situação: 5 presbíteros e irmãos... estavam vindo de Londres para visitar uma igreja vizinha em seu país, a cerca de 15 milhas de proximidade de Bradford ou Trowbridge, para resolverem alguma desordem instalada ali; devido ao ser pastor, T.C., ter passado a sustentar alguma doutrina infundada ou novas ideias contrárias aquilo que era geralmente aceito entre homens sãos e ortodoxos. Os nomes dos irmãos de Londres são Ir. Kiffin, Ir. Deane, Ir. Fitten, Ir. Coxe e Ir. Moreton.[42] A visita dessa delegação foi mal-sucedida, e Collier persistiu em suas visões doutrinárias pervertidas. Como resultado do fracasso da visita em cumprir seus objetivos, Coxe foi convocado para expor e responder por escrito aos pontos de vista de Collier. Ele fez isso em sua obra Vindiciae Veritatis, or a Confutation of the Heresies and Gross Errours Asserted by Thomas Collier. Em uma breve carta no início da obra, os líderes de Londres mais antigos e mais conhecidos abordam a questão da “inferioridade em anos” de Coxe, afirmando que ele não escreveu o livro por se sentir pessoalmente capaz, mas porque foi solicitado a fazê-lo, porque “nós o julgamos adequado e hábil para esse serviço” e porque as responsabilidades dele na ocasião lhe proporcionavam a oportunidade para responder aos erros de Collier. Dizem dessa obra: “Esperamos e podemos verdadeiramente dizer, sem respeito particular à sua pessoa, que ele se comportou com aquela modéstia do Espírito, unida com aquela plenitude e clareza de resposta e força de argumentação, que nós confortavelmente concebemos (pelas bênçãos de Deus) que esse pode ser um bom e absoluto antídoto contra o veneno”.[43] Mesmo sendo relativamente jovem, esses líderes experientes viam nele habilidades e capacidades incomuns, tanto que estavam dispostos a confiar a Nehemiah essa grande responsabilidade. O resultado é uma poderosa expressão da doutrina reformada, declarando bem o caso contra Collier e expondo as doutrinas da ortodoxia calvinista defendidas pela maioria das igrejas e ministros. A proeminência de Collier forçou os líderes batistas particulares a tomarem medidas firmes para evitar a disseminação de seus pontos de vista e, por consequência, a possibilidade de outra disputa teológica. Eles podem muito bem ter temido que seus oponentes usassem contra eles a mesma caneta que usaram para registrar os erros de Collier. Alguns sugeriram que pode haver uma relação entre essa situação e o surgimento da Segunda Confissão Batista de Londres em 1677.[44] Essa proposta é muito convincente. De qualquer forma, a mais importante Confissão na história batista apareceu naquele ano. A primeira referência de que se tem notícia a esse documento é encontrada no livro de atas manuscritas da igreja Petty France. Em 26 de agosto de 1677, esta nota foi inserida: “Ficou acordado que uma confissão de fé, com o apêndice tendo sido lido e considerado pelos irmãos, deveria ser publicada”.[45] Joseph Ivimey, o historiador batista inglês do início do século XIX considerou isso como indício que a confissão tenha se originado na igreja Petty France.[46] Muito provavelmente essa é uma suposição exata. Isso, é claro, significaria que Nehemiah Coxe e William Collins são os candidatos mais prováveis a terem servido como editores do documento. Na ausência de qualquer outra teoria, e baseado nas evidências circunstanciais a que temos acesso, essa é uma forte possibilidade.[47] Como Coxe já estava na vanguarda da articulação teológica, tendo sido escolhido como porta-voz das igrejas de Londres em sua controvérsia com Collier, ele seria uma escolha natural para essa tarefa; e ele foi designado para um trabalho semelhante enquanto ministro da igreja de Bedford. A igreja Petty France era grande e proeminente em Londres. Como uma das sete igrejas originais, tinha uma estatura histórica, e isso aumentava à medida que o número de membros da igreja crescia. Os registros da congregação indicam uma assembleia em florescimento: de 1675 a 1688/89, parece ter havido mais de 530 pessoas como membros. A igreja estava envolvida em todas as atividades normais associadas à vida eclesiástica, acrescentando membros, realizando casamentos, batismos (o registro de 24 de dezembro de 1676 afirma que duas mulheres foram admitidas ao batismo, mas “a administração da ordenança foi adiada por algum tempo; pois devido à intensidade da geada atual, não conseguiremos nesse momento ir às águas”)[48] e disciplina eclesiástica. Nehemiah Coxe aparece proeminentemente nos registros, não apenas quanto aos assuntos internos, mas também como um representante frequentemente escolhido da congregação para representá-la em seu envolvimento com as associações de igrejas em Londres e Hertfordshire. O vigor dessa igreja é surpreendente, especialmente quando lembramos que a vida em Londres, bem como em Bedford, não era fácil. As intensas perseguições foram tão exacerbadas contra a igreja Petty France que às vezes os membros não conseguiam se reunir em seu local de encontro.[49] No entanto, eles continuavam a obra para a qual haviam sido chamados. Coxe e Collins voltaram a sua atenção para muitas questões que se passavam fora de sua própria igreja. Em 1675, os dois assinaram, junto com outros onze homens, uma carta a Andrew Gifford,[50] da Igreja Pithay, em Bristol, argumentando que era dever de todos os homens orar. Aparentemente, Gifford tinha entrado em contato com alguns hiper-calvinistas que argumentavam que desde que homens não convertidos não podiam realizar quaisquer boas ações que acompanhassem a salvação, eles não tinham obrigação de orar e adorar a Deus. Ele pediu aos pastores de Londres que ponderassem sobre o assunto, e essa carta foi o resultado.[51] Em 1680, juntamente com William Kiffin, Hanserd Knollys,[52] John Harris[53] e Daniel Dyke,[54] Coxe assinou uma introdução à narrativa de John Russel sobre as lutas da nova igreja batista em Boston, Nova Inglaterra. Eles afirmam que os batistas de Boston “declararam seu acordo perfeito conosco nas questões de fé e adoração, como estabelecido em nossa Confissão recente”, e argumentam que é extremamente estranho que os cristãos que possuem as mesmas doutrinas essenciais, diferindo apenas quanto aos sujeitos do batismo, sejam perseguidos por aqueles que estão tão próximo deles.[55] Eles eram igualmente ativos no auxílio a outras igrejas. Além do caso de Collier, Coxe e Daniel Dyke (co- pastor com William Kiffin em Devonshire Square, Londres) ordenaram Andrew Gifford à sua posição pastoral em Bristol em 1677.[56] Em 1681, durante um período de perseguição, Coxe publicou A Sermon Preached at the Ordination of an Elder and Deacons in a Baptized Congregation in London.[57] Esse sermão contém um resumo útil das funções e responsabilidades dos presbíteros e diáconos. O culto é a primeira ordenação pública conhecida em uma congregação dissidente após a Restauração. Também em 1681, Coxe publicou o livro que agora republicamos, A Discourse of the Covenants that God made with Men before the Law. O contemporâneo de Coxe, C.M. du Veil em seu Comentário sobre Atos dos Apóstolos, de 1685, teceu altos elogios ao autor e ao livro, chamando-o de “aquele grande teólogo, eminente em todas as áreas da erudição”, e afirmando que “por meio de muitos argumentos sólidos e ponderados demonstrou em seu excelente tratado acerca dos pactos que Deus fez com os homens antes da lei” que “pelo batismo e circuncisão, dois pactos completamente diferentes deveriam ser selados; dos quais um era com aqueles que pela lei da natureza nasceram da descendência de Abraão; o outro com aqueles que,pelo dom da fé, como Abraão, nasceram de novo espiritualmente”.[58] As palavras de Du Veil são ecoadas por John Piggott, que chamou Coxe de um “um teólogo excelente e judicioso”.[59] O último escrito conhecido que foi publicado por Coxe foi A Believers Triumph over Death, exemplified in a relation of the last hours of Dr. Andrew Rivet. Essa parece ter sido uma tradução do latim de um original francês, descrevendo a vida desse francês que fugiu para a Holanda em busca de liberdade religiosa.[60] A tradição de que ele tenha sido foi um médico é forte. Em uma nota não assinada no Baptist Quarterly, nos é dito “Por Sloane MS 656, aprendemos que ele era hon. F.R.C.P., e que ‘Institutiones Medica’ foi dedicado a ele por G. Needham”.[61] O British Museum General Catalogue of Printed Books lista um livro publicado em 1684 por Nehemiah Coxe sob o título Disputatio medica inauguralis de arthride.[62] Não há registro conhecido de treinamento médico, nem por que ele foi feito um membro honorário do Royal College of Physicians. Pode-se apenas supor que certo nível de habilidade estava presente em sua prática, e uma boa reputação deve ter se desenvolvido a partir disso. E quanto a sua vida doméstica? Há pouquíssima informação. A mesma nota mencionada no parágrafo anterior diz que ele “se casou com Margaret, segunda filha de Edmund e Margaret Portman”.[63] Em 26 de janeiro de 1688/89, Margaret Coxe foi aceita como membro da igreja Petty France, mas não há certeza que essa era a esposa de Nehemiah. Vários anos antes (1679), uma “Irmã Coxe” foi admoestada por falta de comparecimento e por “seguir os Quaquers”.[64] Não há evidências de que ela tenha parentesco com Nehemiah. Sabemos que ele teve um filho, pois logo após a sua morte, as atas de Petty France afirmam: “Houve uma reunião dos irmãos na casa de Ir. Lock, onde foi acordado que algumas providências deveriam ser tomadas por escrito para sustento do filho do Ir. Coxe; e a congregação deve se mobilizar para isso”.[65] Nehemiah Coxe morreu em 5 de maio de 1689 e foi enterrado no túmulo de seus sogros em Bunhill Fields, Londres. Considerando que a sua morte precedeu a Assembleia Geral em quatro meses, seu nome não foi registrado entre aqueles que participaram da reunião, ou que subscreveram a Confissão de Fé. É estranhamente irônico que alguém que parece ter sido tão intimamente associado à sua origem tenha sido esquecido nessas circunstâncias. Que a publicação da presente obra restaure às nossas memórias o nome e a obra de uma nobre testemunha das verdades da Escritura. Finis[66] Um Discurso Acerca dos Pactos Que Deus fez com o homem antes da Lei. Onde, A Aliança da Circuncisão é amplamente examinada, e é demonstrada a invalidade do argumento em favor do pedobatismo feita a partir dela. By NEHEMIAH COXE. “Examinai as Escrituras” João 5:39 Impresso por J. D. para ser vendido por Nathaniel Ponder em Peacock no Poultry; e por Benjamin Alsop no Angel e BiBle no Poultry, 1681.[67] Introdução do Editor Faz-se necessária uma palavra sobre o método usado pelo editor. A obra de Coxe não poderia simplesmente ser reimpressa – o seu vocabulário e estilo do século XVII são muito estranhos ao leitor contemporâneo para que essa abordagem seja edificante. Além disso, Coxe faz referência a muitos detalhes que não são mais óbvios para nós, embora sejam facilmente compreendidos por leitores eruditos. Portanto, esta edição não é uma reprodução exata do seu texto; antes, notas explicativas foram acrescentadas e a obra foi editorialmente revisada conforme as seguintes diretrizes gramaticais e estilísticas. 1. Ortografia e uso das palavras: Houve uma modernização; por exemplo, “knowledg” para “knowledge” [conhecimento]; “&” para “e”, “Fœderal” para “Federal” [federal], e “hath” para “have” [verbo ter]. Palavras arcaicas incidentais foram modernizadas de acordo com as definições do Dicionário de Inglês Oxford. Termos teológicos técnicos como “restipulation” [reestipulação] são mantidos e é acrescentada uma explicação em uma nota de rodapé. 2. Letras maiúsculas: Removidas de substantivos não próprios. Era uma convenção de impressão padrão no século XVII deixar em maiúsculo a primeira letra dos substantivos e de algumas outras palavras importantes em um texto. 3. Itálico: Removidos textos em itálico, exceto quando trata-se de uma citação latina ou grega ou em conformidade com o estilo moderno. 4. Pontuação: Foram removidas as vírgulas em excesso, e sentenças separadas por dois pontos e ponto e vírgula foram substituídas por pontos. 5. Notas de rodapé: As notas de rodapé originais de Coxe estão todas incluídas. As notas de rodapé do editor foram colocadas entre colchetes ([…]). Erros óbvios de digitação e impressão são corrigidos e anotados no rodapé. 6. Divisões de palavras e parágrafos: Sentenças e parágrafos longos foram separados. Por vezes, palavras em uma sentença são reorganizadas com o fim de obter maior clareza. 7. Títulos e cabeçalhos: Coxe prefaciava cada capítulo com um esboço. Eles foram resumidos e usados como títulos de seções. A numeração original das seções e os subpontos foram mantidos como um auxílio à clareza. Uma transcrição exata do texto original está disponível e pode ser solicitada ao editor. Gostaria de agradecer ao Dr. James M. Renihan e ao Sr. David Goodwin pelo seu apoio incansável. J. Mark Sugars, Ph.D., tem meu profundo agradecimento por traduzir e referenciar a maioria das citações em latim. Ronald D. Miller Heritage Baptist Church 3585 Thruston Dermont Road Owensboro, KY 42303 O Prefácio ao Leitor A utilidade de toda a verdade divina revelada nas Sagradas Escrituras e a grande importância do que concerne particularmente àquelas transações federais[68] que são objeto do seguinte tratado são minha justificativa para escrever esse tratado que busca conhecer a mente de Deus a esse respeito. Quanto à parte do tratado que é mais controversa, a qual se refere à aliança da circuncisão, eu tenho me envolvido mais com ela por ocasião dos tratados[69] do Sr. Whiston sobre o batismo, especialmente seu último intitulado Infant Baptism Plainly Proved. Ao observar que o ponto principal da controvérsia sobre os indivíduos legítimos do batismo está ligado a Gênesis 17, concluí que a única maneira de esclarecer esse grande ponto deve ser fazer um exame diligente daquele relato que a Escritura nos dá sobre a natureza e dos objetivos da aliança registrada ali. Recusei-me a lidar com essas coisas de uma maneira polêmica e, portanto, não me comprometi a responder especificamente a tudo o que foi afirmado em oposição às minhas posições. Todavia, espero que o leitor sincero observe atentamente o que tem sido dito contra aqueles princípios aos quais sigo, e absorva-me da acusação de que reafirmo, rudemente, coisas que já foram respondidas ou refutadas, sem considerá-las, ou nem mesmo empenhar-me em expor o fundamento daqueles erros os quais suponho que os outros cometem. Eu me volto para às Sagradas Escrituras para o julgamento do que está escrito e sinceramente desejo que nada passe por verdade, senão o que tiver o testemunho delas. Se, às vezes, ando em um caminho inexplorado, não é devido a qualquer gosto por novidade, mas pela busca daquela luz que as Sagradas Escrituras me proporcionam. Talvez algumas pessoas ao verem que essas coisas, aparentemente novas, são em sua maior parte deduzidas de um registro claro dos fatos, possam refletir novamente e consentir que elas são verdade, e não apenas opiniões advindas de especulações complexas. A noção (que muitas vezes é alegada neste discurso) de que a Antiga e a Nova Alianças diferem em substância e não apenas no modo de sua administração, certamente requer uma abordagem maior e mais particular para livrá-la daqueles preconceitos e dificuldades que foram lançados sobre ela por muitas pessoas dignas, mas que pensam de maneira diferente. Assim, planejei dar um relato adicional sobre esse assunto no tratado sobre o pacto feito com Israel no deserto e sobre o estado da igrejasob a lei. Mas quando eu terminei este tratado e providenciei alguns materiais para o que também escreveria a seguir, percebi que meu trabalho que deveria tratar desse tema foi felizmente evitado pela publicação do terceiro volume do comentário do Dr. Owen sobre a epístola aos Hebreus.[70] Ali, o assunto é discutido longamente e as objeções que parecem militar contra ele são totalmente respondidas, especialmente na exposição capítulo 8. Eu agora encaminho o meu leitor para essa obra onde poderá aprender satisfatoriamente sobre a diferença substancial entre a Antiga e Nova Alianças, tal obra atende completamente as expectativas que se poderia ter acerca de uma pessoa tão eminente e erudita. A publicação desse pequeno tratado foi postergada por muito tempo, em parte, por causa das dificuldades que as incansáveis conspirações papistas[71] causaram em suas tentativas audazes de nos oprimir com as piores misérias. Mas o atraso foi, também em parte, devido à minha própria aversão a qualquer coisa que pareça incentivar alguma controvérsia com aqueles que amam o Senhor Jesus[72] e sinceramente defendem a causa protestante, embora difiram de mim, em princípio e prática, em algum ponto controverso. Não há nada que minha alma anseie mais na terra do que ver uma união completa e sincera de todos que temem a Deus e estão unidos como corpo ao Cabeça, Jesus Cristo, por mais diferentes que sejam em suas posições sobre algumas coisas de menor importância. Além do mais, uma sensação de insuficiência para realizar meu empreendimento, para benefício da verdade, teve sua parcela de culpa no atraso. No entanto, depois de ter considerado todas as circunstâncias, fiquei satisfeito de que nenhum homem é provocado por mim em qualquer reflexão inapropriada nem é dada qualquer ocasião para disputas não caridosas e anticristãs. Minha esperança — de que a presente obra possa informar alguns e fornecer a outros uma ocasião para terem pensamentos mais exatos acerca de uma investigação sistemática das verdades afirmadas — me convenceu a lançar essa minha moedinha ao tesouro público. Acrescentarei apenas mais uma coisa: que, no geral, meu objetivo foi falar a verdade em amor e extrair argumentos a partir das Escrituras, não acrescentando a isso quaisquer opiniões preconcebidas por mim. Onde a evidência da verdade aparecer, que ela não seja recusada porque é oferecida em uma roupagem simples e apresentada sob a desvantagem de um estilo rude e não polido. Mas, em vez disso, considere a razão do que é dito e, com os nobres bereanos, examine as Escrituras para ver se essas coisas são assim ou não. E que o Senhor lhe conceda entendimento em todas as coisas. N.C. Capítulo 1 Relacionamentos Pactuais Com Deus Uma Introdução Geral §. 1. Um dos principais objetivos da religião é assegurar ao homem a paz no presente e a felicidade eterna. Desde a queda do homem toda religião verdadeira deve ser ensinada pela revelação divina que Deus deu à sua igreja muitas vezes e de diversas maneiras.[73] Ele fez com que essa luz, ou seja, a revelação, progredisse gradualmente até que o mistério completo de sua graça fosse perfeitamente revelado em e por Jesus Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento de Deus. Deus, que conhecia todas as suas obras desde o princípio (Atos 15:18), dispôs e ordenou a revelação de sua vontade aos homens em todas as eras, suas transações com eles e todas as obras de sua santa providência para com eles, com referência à plenitude do tempo[74] e ao convergir todas as coisas em Jesus Cristo. Portanto, devemos voltar nossos olhos para Cristo em toda nossa busca pela vontade de Deus nas Escrituras Sagradas. Portanto, o melhor intérprete do Antigo Testamento é o Espírito Santo falando conosco através do Novo. Ali temos a mais clara luz do conhecimento da glória de Deus brilhando sobre nós a partir da face de Jesus Cristo, ao revelar aqueles conselhos de amor e graça que estavam ocultos em tempos e gerações passadas. Todavia, o fato de o Novo Testamento possuir uma luz maior de maneira alguma diminui a utilidade do Antigo; ao contrário, obriga-nos ainda mais a estudá-lo humilde e diligentemente. Isso, porque (como também por muitas razões além dessa) o mistério do Evangelho não pode ser compreendido completamente por nós sem um bom entendimento do funcionamento da lei e também do estado das coisas antes da lei. A interrelação e interdependência do Antigo e do Novo Testamentos é tal que nenhum dos dois pode ser entendido à parte ou sem o outro, tampouco todo o sistema da verdade tal como ela é em Jesus pode ser apreendido senão em ambo. Então, deve-se reconhecer a grande importância de estar familiarizado com as transações de Deus com os homens e suas dispensações para com eles, as quais estão registradas na história sagrada das primeiras eras do mundo e da igreja de Deus nelas. Empenhar-me-ei nesse tratado em explicar as tais transações e dispensações até a época que precede o recebimento da lei por Moisés, mas não tratarei do que se seguiu a isso. A fim de evitar a repetição tediosa do que já foi extensivamente discutido e completamente esclarecido por outros, limitar-me-ei a fazer breves observações acerca dos relatos dessas coisas conforme nos foram deixados nas Sagradas Escrituras. Insistirei principalmente naquelas passagens que considero não terem sido suficientemente explicadas por outros, ou que, pelo menos, não foram manejadas com o método e segundo a ordem que parecem melhor se adequar à natureza das coisas ali tratadas, as quais são mais adequadas para comunicar, com maior clareza, às nossas mentes as ideias ali contidas. O Pacto de Deus Proposto aos Homens e a Resposta Deles §. 2. Neste tratado, veremos que as transações de Deus para com os homens são de natureza federal, então primeiro será necessário dizer algo sobre os relacionamentos pactuais com Deus de forma geral. As palavras originais que se referem a fazer ou entrar em um pacto, bem como seus usos e aplicações diversas, já foram completamente explicados por muitos.[75] Portanto, para o objetivo que aqui se pretende, será suficiente relembrar que um pacto deve ser considerada simplesmente como aquilo que é proposta por Deus ou aquilo em que o homem entra por restipulação.[76] 1. Independentemente do que seja transacionado de um modo federal entre Deus e os homens, o pacto é de iniciativa de Deus. Como Cristo disse a seus discípulos em certa ocasião: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” (João 15:16). Então podemos dizer que o homem nunca entrou em um pacto com Deus, mas que foi Deus quem entrou em um pacto com o homem. Os termos de um relacionamento pactual entre Deus e suas criaturas são estabelecidos unicamente por Sua majestade soberana, e é por causa de sua infinita bondade e sabedoria que Ele propõe, escolhe e ordena tal aliança. Assim, o pacto que Ele fez com os homens é frequentemente chamado na Escritura de aliança do Senhor, como aparece em Salmo 25:14, Isaías 56:4, 6 e em outras passagens. 2. Não obstante, um relacionamento pactual com Deus e o interesse[77] nele não resultam imediatamente da proposta de um pacto e dos termos de um relacionamento pactual com o homem. Mas é através da restipulação na que homem entra, de fato, em um pacto com Deus e se torna parte interessada nesse pacto. É por consentimento mútuo das partes pactuadas que o relacionamento pactual é estabelecido e completado. E isso é chamado de uma garantia de que o Senhor passa a ser o Deus deles, mediante o consentimento dos termos de um pacto proposto a eles (Deuteronômio 26:16-18); uma assinatura com a mão ao Senhor (Isaías 44:5); e se apossar de sua aliança (Isaías 56:4, 6). A ideia formal de uma aliança estabelecida ou feita inclui comprometimento mútuo. 3. Outrossim, não pode haver um pacto de benefício mútuo entre Deus e os homens como pode haver entre um homem e outro. Pois o ser e o bem-estar de todas as criaturas necessariamente dependem da generosidade de seu Criador. Não há nada que elestenham que não tenha sido recebido dele e, portanto, o melhor deles nada pode oferecer senão o que é devido a Deus pela lei de sua criação. Ninguém pode ser proveitoso para a Deus,[78] embora ser justo é proveitoso tanto para si mesmo quanto para o próximo. Consequentemente, ninguém pode fazer Deus estar em alguma obrigação para com ele e nem fazer dele seu devedor, exceto se Ele mesmo condescender e se obrigar a isso por meio de uma aliança ou promessa. A Ideia Geral de um Pacto e as Inferências Disso §. 3. A ideia geral de qualquer pacto de Deus com os homens, considerada da parte de Deus e como proposta por Ele, pode ser concebida como “uma declaração de sua vontade soberana no que diz respeito aos benefícios que Ele concederá aos homens, a comunhão que os homens terão com Ele, e a forma e os meios pelos quais os homens usufruirão dele”.[79] Para entender melhor o que pretendo com essa definição geral, proporei brevemente algumas particularidades que estão subentendidas nela ou que são as consequências necessárias dela. 1. Essa definição implica em um ato livre e soberano da vontade divina exercido em amor e bondade condescendentes. Não é por nenhuma necessidade da natureza que Deus entra em aliança com os homens, mas por Sua própria boa vontade. Tal privilégio e intimidade com Deus, como aquele que está incluído em um benefício pactual, não pode resultar imediatamente do relacionamento que eles têm com Deus como criaturas racionais, mesmo se fossem justos ou perfeitos. O direito do homem à promessa é dado gratuitamente por Deus através da promessa da aliança. 2. A ideia de uma aliança acrescenta certeza para essa promessa, uma vez que implica um vínculo especial de favor e amizade que pertence à relação e ao interesse pactual. Pois uma aliança é o alicerce de um relacionamento entre as partes envolvidas nela. O tipo e o benefício desse relacionamento são determinados pela própria aliança e sua natureza, promessas e fins. 3. O propósito imediato e direto de Deus ao entrar em um pacto com o homem em algum momento (no que diz respeito ao próprio homem) é a progressão e o aperfeiçoamento de seu estado. Deus nunca fez um pacto com o homem no qual Sua bondade para com ele não tenha se manifestado abundantemente. Sim, tal é Sua infinita generosidade que Ele nunca propôs um fim menor para suas transações pactuais com o homem do que trazê-los para um bendito estado de alegria eterna nele próprio. Assim, quando um pacto (devido à fraqueza do homem em seu estado caído) foi considerado fraco ou inútil para esse grande fim, por ser insuficiente para efetuá- lo, Deus encontra falha nele, aboli-o e introduz outro no qual é feito uma provisão completa para a salvação perfeita daqueles que são participantes dele (Hebreus 8:7-8). 4. O amor benevolente e condescendente demonstrado por Deus ao entrar em um pacto com o homem fortalece aquele vínculo de amor e obediência a Deus sob o qual o homem se encontra pela lei de sua criação, ao acrescentar-lhe um novo dever. Então, o pecado do homem ao quebrar o pacto com Deus é ainda maior, e é acompanhado de maior agravo do que a transgressão deliberada de uma lei, se nenhum relacionamento pactual como esse tivesse sido acrescentado a ela. 5. Assim, a revelação do conselho da vontade de Deus em um pacto proposto ao homem está longe de eliminar a restipulação por parte do homem, ao contrário, essa revelação atribui um dever necessário de sua parte. Esse não é o caso das transações pactuais entre partes iguais, nas quais uma parte tem a liberdade de recusar o pacto oferecido pela outra parte. Mas a compreensão de nossa infinita distância, como criaturas, em relação a Deus, da dependência que necessariamente temos recebido dele e do dever que temos para com Ele por causa da inalterável de nossa criação (bem como do nosso próprio benefício e proveito), nos obriga a aceitar com gratidão e santo temor tanto os benefícios que Ele nos oferece como os termos sob os quais eles são oferecidos nesse pacto. Devemos cumprir diligentemente o que Ele nos ordena para alcançarmos os fins propostos no pacto. 6. Além disso, essa restipulação (e, por conseguinte, o modo e a maneira de se obter as bênçãos pactuais, bem como o direito pelo qual nós as reivindicamos) necessariamente varia de acordo com as diferentes naturezas e termos desses pactos que em algum momento Deus faz com os homens. Se o pacto é de obras, a restipulação se dá ao fazer as coisas requeridas nele, ao cumprir suas condições por prestar uma obediência perfeita à sua lei. Assim, a recompensa é devida de acordo com os termos de tal pacto (Porém não devemos entender isso como um débito absoluto de Deus para com os homens, mas como um débito por causa da aliança, pois Deus obrigou-se a tal por meio dela). Mas se for um pacto de graça livre e soberana, a restipulação requerida é o recebimento humilde das promessas sobre as quais o pacto é estabelecido ou crer nelas sinceramente. Portanto, a recompensa ou a benção pactual é dada imediata e eminentemente por graça. 7. Portanto, quer a glória e o bem de qualquer pacto que Deus faz com os homens sejam considerados em absoluto ou em comparação com outro pacto, eles devem ser mensurados principalmente por suas promessas e condições. Se uma aliança é estabelecida em melhores promessas (i.e., prometendo um bem mais excelente ou de forma mais excelente) que outra, então por causa disso ela é chamada de — e por essa razão deve ser estimada por nós como — uma aliança melhor do que a outra (Hebreus 8:6). Deus Sempre Lidou com os Homens por Meio de Aliança §. 4. Além do mais, é oportuno observar que o Deus santo e sábio sempre se relacionou com os filhos dos homens por meio de aliança. A revelação da sua bondade infinita sempre acompanhou a revelação de sua glória infinita ao tratar com o homem. Assim, Ele não agiu para com os filhos dos homens exigindo o máximo direito de sua soberania e domínio sobre eles. Se Ele houvesse feito isso, jamais teria havido nenhuma recompensa de bênçãos futuras designadas para serem e obtidas por meio da obediência deles, como há por meio da aliança. Nem eles seriam trazidos a qualquer relacionamento mais íntimo com Deus do que aquele que resultou de sua criação. Mas o Deus grandioso não se manteve distante do homem, ao contrário, foi condescendente em entrar em um acordo com eles. Deus requereu obediência deles em algumas coisas além dos ditames imediatos da lei da natureza por meio de instituições positivas[80] e, assim, se agradou em também obrigar a si mesmo a fazer coisas que estavam além de seu dever Criador ao fazer a promessa de uma recompensa benevolente. Então, devido a isso, segue-se que toda a adoração e obediência que Deus requer e aceita dos filhos dos homens se dá em termos pactuais. Acrescente-se a isso o fato de que a habilidade ou capacidade moral dos homens para agradá-lo também lhes foi dada, ou operada neles, de acordo com os fins do relacionamento pactual. Portanto, essa habilidade deve ser o acréscimo inseparável, não da proposta do pacto para eles considerada em si mesma, mas naquela participação no pacto no qual eles foram admitidos. Disso decorrem várias consequências. 1. Uma vez que os homens tenham caído sob a culpa de ter quebrado o pacto por causa de sua própria falha, então eles tornam- se completamente incapazes de prestar qualquer obediência aceitável a Deus de acordo com os termos daquele pacto que quebraram. A participação deles naquele relacionamento pactual foi perdida. Eles permanecem sob a sanção penal do pacto, contudo são completamente privados do poder para responder aos fins daquele pacto e perdem completamente seu direito à recompensa desse pacto. 2. Se eles não têm mais força para alcançar a condição e o fim da aliança, na qual uma vez foram participantes e possuíram e princípios adequados a ela, então, enquanto permanecem em seu estado caído, eles possuem ainda menos força para cumprir os termos de outra aliança mais excelente e misteriosa e totalmente sobrenatural quanto à sua doutrina
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