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Teologia Pactual de Adão a Cristo

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Prévia do material em texto

Em tempos mais saudáveis espiritualmente, a teologia pactual era mais
prontamente apreciada e menos mal compreendida do que é hoje. De um
lado temos a rejeição total do aliancismo por parte de alguns batistas e, por
outro lado, a superextensão herética dele por parte de alguns presbiterianos,
diante disso devemos obter tanta ajuda quanto pudermos a partir de nossa
herança protestante. Este livro reúne insights maravilhosos de dois fiéis
líderes da igreja de uma geração anterior e traz análises úteis de mestres
competentes da atualidade. O resultado é um recurso valioso para
estudantes, acadêmicos e pastores.
Thomas K. Ascol, Ph.D.
Grace Baptist Church, Cape Coral, FL
Editor, Founders Journal
É estranho que A Discourse of the Covenants, de Nehemiah Coxe, não tenha
sido reimpresso desde que apareceu pela primeira vez no século XVII, visto
que alguns de nossos antepassados batistas calvinistas — homens como
John Sutcliff de Olney — parecem tê-lo apreciado profundamente. Seja como
for, essa nova edição é extremamente bem-vinda, pois demonstra claramente
que os batistas calvinistas do século XVII, como Coxe — e seus
descendentes modernos neste século — fazem parte da corrente da teologia
reformada que adveio do trabalho de reforma de homens como Ulrico
Zuínglio, João Calvino, Heinrich Bullinger e Teodoro Beza. Mais vezes do que
consigo enumerar — e pessoalmente acho isso muito frustrante — ouvi a
teologia reformada ser definida de tal maneira que exclui aqueles que
defendem o batismo de crentes. Esta obra valiosa ajudará a esclarecer essa
questão.
Michael A.G. Haykin, Th.D.
Diretor, Toronto Baptist Seminary,
Toronto, Ontario, Canadá
A obra de Nehemiah Coxe sobre a doutrina das alianças é um importante
escrito por um eminente teólogo batista particular do século XVII. Sua
republicação está muito atrasada. Como um bônus, o leitor tem o próprio
Coxe resgatado da obscuridade através de uma introdução bem pesquisada
pelo Dr. James M. Renihan. E visto que Coxe referiu os seus leitores à análise
de John Owen sobre a natureza e as diferenças entre a Antiga e a Nova
Aliança, a exposição de Owen sobre Hebreus 8:6-13 está incluída. Tanto o
texto de Coxe quanto de Owen foram editados de maneira leve e sensível, e
foram acrescentadas notas explicativas. O ensaio de Richard C. Barcellos
posiciona o ensino de Owen sobre o pacto firmemente dentro do consenso
reformado mais amplo. O livro como um todo tem aplicação prática moderna.
Isso mostra que os batistas reformados têm uma doutrina sobre o pacto
consistente e bem fundamentada do ponto de vista argumentativo. Também
mostra que os pais batistas particulares do século XVII, embora enfatizassem
a novidade da Nova Aliança, argumentavam que o Decálogo permanece
como uma regra de vida para o crente. Esta obra é um recurso importante
para os batistas reformados do século XXI.
Robert W. Oliver, Ph.D.
Pastor,
Old Baptist Church Bradford on Avon, Reino Unido
Professor de História da Igreja/Teologia Histórica,
London Theological Seminary
Conferencista de Não-Conformidade na História da Igreja,
The John Owen Centre, Londres Professor convidado,
Westminster Theological Seminary, Londres
Na maior parte do material que foi reimpresso ao longo do último meio século,
a teologia pactual foi apresentada como se implicasse necessariamente na
doutrina e na prática do batismo infantil. Nós poderíamos preencher muito
espaço aqui simplesmente listando os livros que assumiram essa posição.
Muitos de nós, no entanto, não foram convencidos dessa estipulação por
acreditar que se trata de uma consequência desnecessária de raciocínio
teológico. Acreditamos que é muito possível, e até mesmo necessário,
formular uma teologia pactual baseada em exegese que defenda a
centralidade e a continuidade do plano divino da redenção através dos
tempos sem cair na dedução de que o batismo infantil deve fazer parte dessa
doutrina.
Infelizmente, tem havido poucas obras disponíveis que lidam com essas
questões em um profundo nível exegético e teológico. Os livros escritos de
uma perspectiva pedobatista frequentemente rejeitam o ponto de vista do
credobatista (isto é, o batismo de crentes) e aqueles que defendem o batismo
de crentes frequentemente falham em se esforçar o suficiente para apresentar
um sistema pactual plenamente desenvolvido. O resultado é que os
pedobatistas raramente ou nunca consideraram a possibilidade de uma
posição pactual credobatista e muitos batistas são simplesmente ignorantes
quanto a centralidade da teologia pactual e de sua utilidade na defesa de suas
próprias crenças. Este livro é uma tentativa de começar a corrigir essa
deficiência.
James M. Renihan, Ph.D.
Escondido Reformed Baptist Church, Escondido, CA Deão, Institute of
Reformed Baptist Studies Westminster Theological Seminary in California,
Escondido, CA
 
Título Original Covenant Theology From Adam to Christ
Contendo
A Discourse of the Covenants that God made with men before the
Law.
Wherein, the Covenant of Circumcision is more largely handled, and
the invalidity of the plea for paedobaptism taken from thence
discovered.
Por Nehemiah Coxe
e
An Exposition of Hebrews 8:6-13.
Wherein, the nature and differences between the Old and New
Covenants is discovered.
Por John Owen
Editado por Ronald D. Miller, James M. Renihan e Francisco Orozco
Copyright © 2005 Reformed Baptist Academic Press.
Todos os direitos reservados. Esse copyright não se aplica aos
materiais de Coxe e Owen.
■
Publicado por Reformed Baptist Academic Press
349 Sunrise Terrace Palmdale, CA 93551.
■
Copyright © 2020 Editora O Estandarte de Cristo Francisco Morato,
SP, Brasil ■
1ª edição em português: 2020.
■
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora O
Estandarte de Cristo. Proibida a reprodução por quaisquer meios,
salvo em breves citações, com indicação da fonte.
■
Salvo indicação em contrário e leves modificações, as citações
bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel
| ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica
Trinitariana do Brasil.
■
Tradução: Rafael Abreu, Renan Abreu, Camila Rebeca Teixeira e
William Teixeira Revisão: William Teixeira, Joerley Cruz e Leonardo
Honda Bastos Capa: William Teixeira Diagramação: William Teixeira
■
Visite: oestandartedecristo.com
 
 
Teologia Pactual
De Adão a Cristo
Contendo
Um Tratado sobre os Pactos que Deus fez com os homens antes da Lei.
Onde, o Pacto da Circuncisão é amplamente examinado e é demonstrada a
invalidade do argumento para o pedobatismo que é extraído desse pacto.
Por Nehemiah Coxe
&
Uma Exposição de Hebreus 8:6-13
Na qual a natureza e diferenças entre a Antiga e a Nova Alianças são
demonstradas.
Por John Owen
Editado por Ronald D. Miller, James M. Renihan e Francisco Orozco
 
1ª Edição
 
Francisco Morato, SP
O Estandarte de Cristo
2020
 
 
Sumário
Introdução
Por que Essa Reimpressão é Importante?
James M. Renihan
 
PARTE I
Nehemiah Coxe: Um Teólogo Excelente e Judicioso
James M. Renihan
 
Introdução do Editor
O Prefácio ao Leitor
 
Capítulo 1
Relacionamentos Pactuais com Deus
Uma Introdução Geral
O Pacto de Deus Proposto aos Homens e a Resposta Deles
A Ideia Geral de um Pacto e as Inferências Disso
Deus Sempre Lidou com os Homens por Meio de Aliança
As Transações Pactuais de Deus Sempre São Feitas com Um
Representante
Instruções Gerais para Entender Corretamente as Transações
Pactuais
 
Capítulo 2
As Transações de Deus para com Adão
A Importância desse Estudo
O Estado do Homem Antes da Queda
A Promessa de uma Recompensa Comprovada
A Recompensa e a Punição da Lei
Adão: Uma Pessoa Pública
A Transação de Deus com Adão: Uma Aliança
A Natureza Geral do Pacto com Adão
O Pecado de Nossos Primeiros Pais
O Estado e Condição do Homem Caído
A Misericórdia de Deus para com o Homem Caído
A Promessa de Redenção em um Pacto
O Estado e Condição da Posteridade de Adão
 
Capítulo 3
A Aliança de Deus com Noé
Um Novo Relacionamento é Estabelecido
A Palavra Revelada de Deus é a Regra de Fé doHomem
Enoque
A Propagação Geral da Igreja
A Arca como um Tipo
Deus Estabelece seu Pacto com Noé
O Pacto Noético Desenvolvido
Bençãos e Maldições para os Filhos de Noé
A Torre de Babel e a Confusão das Línguas
Os Males Advindos da Confusão das Línguas
 
Capítulo 4
O Pacto da Graça Revelado a Abraão
Deus Honra a Abraão de Forma Especial Através de seu
Pacto
A História de Abraão e sua Aparente Incapacidade
A Dupla Consideração de Abraão no Pacto
O Pacto da Graça Revelado a Abraão
O Tempo Determinado desses Pactos e a suas Inferências
Todas as Bênçãos Espirituais estão Incluídas nesse Pacto
Esse Pacto é Confirmado em Cristo
Abraão: Raiz das Bênçãos da Aliança e Pai dos Crentes
O Caminho de Salvação pela Fé em Cristo nesse Pacto
A Promessa Dada antes da Circuncisão
 
Capítulo 5
A Aliança da Circuncisão (I)
As Promessas Feitas a Abraão para sua Descendência
Natural
Abraão é Chamado para Fora de Ur dos Caldeus
A Jornada de Abraão e a Renovação das Promessas
Como a Promessa de Canaã Beneficiou Abraão
A Promessa Renovada e Expandida
A Descendência de Abraão
A Aliança da Circuncisão
A Promessa da Nova Aliança Repetida
A Distinção das Tribos em Israel
O Significado de Eterno em Relação a esse Pacto
A Igreja-Estado do Israel Segundo a Carne
 
Capítulo 6
A Aliança da Circuncisão (II)
Duas Proposições Estabelecidas
A Primeira Proposição Provada
Sua Confirmação Posterior
Seu Apoio a partir da História Sagrada
A Igreja-Estado de Israel foi Edificada sobre essa Aliança
Circuncisão: a Porta para a Comunhão em Israel
Como Levi pagou Dízimos estando ainda em Abraão
Israel foi Libertado do Egito em Virtude dessa Aliança
A Segunda Proposição Provada
O Exemplo de Esaú
Uma Objeção Respondida
Circuncisão: Um Selo da Aliança
Algumas Inferências a partir do Discurso Precedente
 
Capítulo 7
A Aliança da Circuncisão (III)
O Verdadeiro Significado da Grande Promessa
Várias Premissas para que Cheguemos ao Entendimento Correto
Israel Considerado de Duas Formas sob a Economia Mosaica
O Israel de Deus em Israel
A Promessa Plenamente Explicada
A Explicação Confirmada
A História de seu Cumprimento para com Israel
As Bênçãos de Israel Segundo a Carne
A Aliança da Circuncisão não é o Pacto da Graça
Outros Homens Santos que não Viveram Debaixo da Obrigação
da Circuncisão
O Conceito de Membresia Infantil na Igreja Considerado
Cinco Propostas Consideradas
 
Capítulo 8
A Referência Mútua das Promessas Feitas a Abraão
O Propósito Geral deste Capítulo
A Mistura das Promessas
A Relação Mútua das Promessas
A Grandeza da Provação de Abraão
A Aliança de Peculiaridade como um Tipo
Colossenses 2:11 Explicado
A Família de Abraão como um Tipo da Futura Igreja
Inferências Feitas a Partir desse Tipo
A Chave para Muitas Promessas no Antigo Testamento
Romanos 4:11 Explicado
A Circuncisão foi um Selo para a Fé de Abraão
A Conclusão desse Tratado
 
PARTE 2
Uma Breve Biografia de John Owen
Extraída do Memorial dos Não-Conformistas, por Samuel
Palmer
Introdução do Editor
Capítulo 1
Exposição do Versículo 6
A Diferença entre as Duas Alianças
Uma Afirmação da Excelência do Ministério de Cristo
A Introdução da Afirmação
Primeira Observação Prática
O que é Atribuído a Cristo na Afirmação
Segunda Observação Prática
Terceira Observação Prática
Quarta Observação Prática
Como Cristo Veio a esse Ministério
Quinta Observação Prática
A Qualidade desse Ministério
A Preeminência desse Ministério
Sexta Observação Prática
A Prova da Afirmação
O Ofício de Mediador
Sétima Observação Prática
Uma Descrição Adicional de seu Ofício Mediatório
De que Aliança Cristo era o Mediador?
Dificuldades do Contexto Respondidas
A Prova da Natureza dessa Aliança Quanto à sua Excelência
Toda Aliança é Estabelecida sobre Promessas
A Nova Aliança é Estabelecida com Promessas Melhores
Oitava Observação Prática
Nona Observação Prática
Um Discurso Acerca de Algumas Coisas em Geral
Uma Disputa em Relação às Duas Alianças
Quatro Pontos Consoantes Acerca das Duas Administrações
Cinco Diferenças entre as Duas Administrações
Os Argumentos Luteranos
Cinco Pontos sobre essa Questão
Três Coisas Relacionadas à Primeira Aliança que Provam que Ela
Não foi uma Administração do Pacto da Graça
Primeira, Ela não foi Feita para a Vida e Salvação da Igreja
Segunda, Ela Não Anulou a Promessa Feita a Abraão
Terceira, Ela Continha Outros Benefícios para a Igreja
Duas Perguntas sobre a Aliança do Sinai
A Substância de Toda a Verdade
Seis Razões para a Introdução da Primeira Aliança
A Diferença entre as Duas Alianças
A Opinião da Igreja de Roma
A Doutrina da Escritura sobre a Diferença entre as Alianças
Exposta em 17 Particularidades
Uma Resposta aos Socinianos
Décima Observação Prática
Décima Primeira Observação Prática
 
Capítulo 2
Exposição do versículo 7
A Necessidade de Uma Nova e Melhor Aliança
Uma Afirmação Positiva
A Prova desta Afirmação
Primeira Observação Prática
Segunda Observação Prática
 
Capítulo 3
Exposição do Versículo 8
A Nova Aliança
A Introdução do Testemunho
Sua Conexão
Seu Fundamento
Seu Verdadeiro Significado
Primeira Observação Prática
Segunda Observação Prática
Terceira Observação Prática
O Próprio Testemunho
O Autor da Promessa
Quarta Observação Prática
A Nota da Introdução
Quinta Observação Prática
Sexta Observação Prática
O Tempo da Realização
Sétima Observação Prática
A Coisa Prometida
Três Coisas que Coincidem na Nova Aliança
Por que Chamar de uma Aliança?
Oitava Observação Prática
As Coisas Contidas na Nova Aliança
O Autor dessa Aliança
Nona Observação Prática
As Pessoas com Quem essa Aliança é Feita
Décima Observação Prática
Décima Primeira Observação Prática
O Modo de Fazer a Nova Aliança
Seu Caráter Distintivo
 
Capítulo 4
Exposição do Versículo 9
A Novidade da Nova Aliança
As Razões para uma Aliança Diferente
A Primeira Aliança
Primeira Observação Prática
Segunda Observação Prática
Terceira Observação Prática
Quarta Observação Prática
Quem Eram Esses “Pais”?
A Quebra da Antiga Aliança
Quinta Observação Prática
Sexta Observação Prática
A Anulação da Antiga Aliança
A Verdade Dessas Coisas
A Promessa de Outra Aliança
Sétima Observação Prática
Oitava Observação Prática
Nona Observação Prática
Décima Observação Prática
 
Capítulo 5
Exposição dos Versículos 10-12
As Promessas da Nova Aliança
 
Exposição do versículo 10
Introdução da Declaração da Nova Aliança
O Assunto: A Criação de uma Aliança
Primeira Observação Prática
Segunda Observação Prática
Terceira Observação Prática
Quarta Observação Prática
O Autor dessa Aliança
Quinta Observação Prática
Com Quem a Nova Aliança é Feita
O Tempo de Fazer a Aliança
O Tempo Exato da Realização dessa Promessa
A Natureza das Promessas da Nova Aliança
A Natureza Geral dessas Promessas
Refutação da Interpretação Sociniana e Demonstração da
Verdadeira Interpretação em Seis Aspectos
Duas Objeções Respondidas
As Propriedades Abençoadas e os Efeitos da Nova Aliança
Primeira Bênção Geral – Restauração da Imagem de Deus em
Nós
O que é Atingido
Sexta Observação Prática
Em seus Entendimentos
O Modo de Produzir o Efeito
O que é Comunicado: Minhas Leis
A Natureza da Graça na Primeira Promessa
Sétima Observação Prática
Em seus Corações
Oitava Observação Prática
Nona Observação Prática
Décima Observação Prática
“E eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo.”
A Natureza dessa Relação
O Fundamento
O Mediador deve Ser Cristo
Décima Primeira Observação Prática
As Ações Mútuas
A Relação de Deus para com o Homem
Décima Segunda Observação Prática
Décima Terceira Observação Prática
Décima Quarta Observação Prática
Décima Quinta Observação Prática
A Relação do Homem com Deus
Décima Sexta Observação Prática
Décima Sétima Observação Prática
 
Exposição do Versículo 11
A Parte Negativa da Promessa
A Parte Positiva da Promessa
Refutação de uma Má Interpretação desse Texto
A Interpretação Correta do Texto
Em que Consistia a Remoção do Ensino?
O que Não Seria Mais Ensinado?
Várias Observações sobre Expressões Particulares
Décima Oitava Observação Prática
Décima Nona Observação Prática
Vigésima Observação PráticaVigésima Primeira Observação Prática
Vigésima Segunda Observação Prática
A Parte Positiva da Promessa (continuação)
Para Quem Ela é Feita
Vigésima Terceira Observação Prática
Vigésima Quarta Observação Prática
Qual é o seu Assunto?
Vigésima Quinta Observação Prática
Vigésima Sexta Observação Prática
Vigésima Sétima Observação Prática
 
Exposição do Versículo 12
Vigésima Oitava Observação Prática
A Promessa Considerada
Para Quem é Ela Feita
Objeção e Resposta
Vigésima Nona Observação Prática
O que é Prometido
O que se Entende por Pecados
Trigésima Observação Prática
Trigésima Primeira Observação Prática
Trigésima Segunda Observação Prática
Trigésima Terceira Observação Prática
O que se Entende pelo Perdão dos Pecados
 
Capítulo 6
Exposição do versículo 13
A Necessidade e Certeza da Abolição da Primeira Aliança
A Palavra Especial ou Testemunho Bíblico
Uma Máxima Geral da Verdade
 
 
Introdução
Por que Essa Reimpressão é Importante?
James M. Renihan
A partir de 1950 para cá o leitor cristão tem sido privilegiado com a
reimpressão de uma série de obras. A maioria desses livros tem
sido uma bênção incalculável para a igreja de Jesus Cristo, ao
ajudar os crentes a entender as grandes doutrinas históricas da fé.
Pela providência e bênção de Deus, o reavivamento do interesse
pela fé reformada deve ser, em grande parte, creditado à ampla
disponibilidade dessas obras-primas teológicas. À medida que a
verdade tem sido disseminada, vidas têm sido transformadas e
igrejas têm sido estabelecidas para a glória de Deus segundo as
Escrituras.
Outras obras valiosas da literatura teológica ainda precisam
ser redescobertas a partir do tesouro depositado do passado.
Mesmo que meio século de reimpressões tenha passado, as
gráficas continuam a emitir documentos vitais extraídos do valioso
tesouro de escritos da Reforma e da pós-Reforma, e esse tesouro
ainda está cheio de livros dignos de nossa atenção. Alguns
merecem a tradução para o inglês (e a maioria deles, para o
português) com o fim de aumentar a sua disponibilidade, enquanto
outros simplesmente esperam os recursos necessários para serem
disponibilizados ao público cristão. É um grande prazer dar um
passo adiante nesse processo através da publicação do presente
livro.
Como homens confessionalmente comprometidos com a fé
reformada, os editores modernos desta obra acreditam que ela
preenche uma lacuna muito importante no que diz respeito à
explicação desse sistema de teologia. Nós cremos que a estrutura
da Escritura é adequadamente definida pelo que foi designado
como teologia pactual — entender esse fato é compreender a
arquitetura central de toda a Bíblia. Seu autor divino se revelou aos
homens por meio de pactos, e nos chama a ver que esse é o meio
mais fundamental de compreender o panorama completo
apresentado em suas páginas sagradas.
Na maior parte do material que foi reimpresso ao longo do
último meio século, a teologia pactual foi apresentada como se
implicasse necessariamente na doutrina e na prática do batismo
infantil. Nós poderíamos preencher muito espaço aqui
simplesmente listando os livros que defenderam essa posição.
Muitos de nós, no entanto, não foram convencidos dessa
imposição, pois acreditamos que ela é consequência desnecessária
do raciocínio teológico. Acreditamos que é muito possível, e até
mesmo necessário, formular uma teologia pactual baseada em uma
exegese que defenda a centralidade e a continuidade do plano
divino da redenção através dos tempos sem com isso cairmos na
dedução de que o batismo infantil deve fazer parte dessa doutrina.
Infelizmente, temos poucas obras disponíveis que lidam com
essas questões em um profundo nível exegético e teológico. Os
livros escritos a partir de uma perspectiva pedobatista
frequentemente rejeitam o ponto de vista do credobatista (isto é, o
batismo de crentes), e aqueles que defendem o batismo de crentes
frequentemente falham em se esforçar o suficiente para apresentar
um sistema pactual plenamente desenvolvido. O resultado é que os
pedobatistas raramente, ou nunca, consideraram a possibilidade de
uma posição pactual credobatista, e muitos batistas são
simplesmente ignorantes da centralidade dos pactos de Deus e de
sua utilidade para a defesa de suas próprias crenças.
Este livro é uma tentativa de começar a corrigir essa
deficiência. No século XVII, as defesas pactuais do batismo de
crentes eram a regra e não a exceção, e essa obra de Nehemiah
Coxe, agora reimpressa, se destaca como um excelente exemplo
disso. Coxe viveu em um tempo em que os melhores exegetas e
teólogos, batistas e pedobatistas, explicavam e defendiam a
teologia pactual, e Coxe se uniu a eles para apresentar as suas
posições acerca dos pactos históricos. Reconhecendo os pactos
como a estrutura da revelação e da história da redenção, ele
progressivamente oferece uma exposição de cada um dos acordos
pactuais que Deus fez com os homens antes da lei. Ao fazer isso,
ele é capaz de demonstrar que os batistas compartilham com seus
outros amigos reformados um compromisso com essa revelação
histórica e progressiva da graça de Deus aos homens. Isso é de
vital importância, e tem sido fonte de surpresa e bênção para os
pedobatistas que descobriram esse ponto. Eles percebem que os
batistas reformados confessionais não são dispensacionalistas
enrustidos, mas confessam uma teologia pactual bem desenvolvida.
Nós optamos por incluir os comentários de John Owen em
Hebreus 8:6-13 junto com a obra de Coxe, por várias razões
importantes. Sabemos, é claro, que Owen foi um pedobatista por
toda a vida e que ele defende brevemente essa visão em outros de
seus escritos. Não pretendemos, de forma alguma, sugerir que
Owen teria endossado as objeções de Coxe (ou nossas) à posição
pedobatista. No entanto, pareceu ser bom incorporar seus pontos
de vista a essa obra. O leitor verá que Coxe, no prefácio de seu
tratado, indica que estava preparando materiais para escrever um
volume que dava continuidade à sua obra sobre dos pactos de
Deus na qual falaria sobre o pacto mosaico e a Nova Aliança, mas
isso foi “felizmente evitado” pela publicação do comentário de Owen
sobre o capítulo 8 de Hebreus. Para o batista Neemias Coxe, o
trabalho de John Owen sobre essa porção de Hebreus claramente
articulou as coisas que o próprio Coxe teria dito (e ele reconheceu
que Owen também as disse melhor). Isso não implica que Coxe
endossou cada jota e til do trabalho de Owen, mas simplesmente
indica o grande acordo que havia entre os dois. Owen, por sua vez,
exegeticamente demonstra que a Nova Aliança é profundamente
diferente da Antiga — ela é caracteristicamente nova. Para Coxe
(deve ser lembrado que ele é o candidato mais provável a ter
servido como editor da Segunda Confissão de Fé Batista de
Londres 1677/1689 [CFB1689]) e para os batistas reformados
confessionais que concordam com a sua teologia, a ênfase de
Owen na novidade da Nova Aliança é um progresso útil nessa
discussão.
Em nossos dias, há alguns que sugerem que a noção de que
a ênfase de Owen na novidade da Nova Aliança é equivalente à
perspectiva desenvolvida por alguns batistas que aderem à
chamada Teologia da Nova Aliança. Nada poderia estar mais longe
da verdade, e espera-se que a combinação dessas obras corrija
essa situação. Owen foi um dos principais arquitetos da teologia
pactual articulada na Declaração de Fé de Savoy de 1658, e a
relação de Coxe com a CFB1689, um documento amplamente
baseado em Savoy, é evidente. Em ambos os casos, esses
homens, comprometidos com as doutrinas apresentadas nessas
Confissões, não viram nenhuma contradição entre suas
formulações da teologia pactual e toda a gama de doutrinas
expressa em suas Confissões. Isso é especialmente evidente em
suas visões a favor da validade permanente da lei moral, resumida
nos Dez Mandamentos. Para ambos, a natureza progressiva dos
pactos históricos e a novidade da Nova Aliança não constituíram
uma barreira ao reconhecimento de uma continuidade permanente.
Existe unidade pactual, mesmo quando há diversidade pactual.
Como essaquestão é tão vital, incluímos como apêndice um
ensaio escrito por Richard Barcellos intitulado “John Owen e Nova
Aliança: Owen sobre a Antiga e a Nova Alianças e as Funções do
Decálogo na História Redentiva na Perspectiva Histórica e
Contemporânea”. Nesse ensaio, o pastor Barcellos demonstra
completamente que não há base real ou ilusória para afirmar que a
visão de Owen sobre os pactos era algo além de ortodoxa, que
estava em harmonia com os documentos confessionais e que não
tem nenhuma semelhança essencial com as visões emergentes da
assim chamada Teologia da Nova Aliança. A nossa esperança é
que esse ensaio não apenas coloque o prego no caixão (por assim
dizer), mas enterre esse erro a sete palmos de profundidade. É
tentador citar o nome e a reputação de Owen em apoio à sua
posição — mas nesse caso, o esforço mostrou-se um fracasso. A
justaposição de Coxe, Owen e do apêndice de Barcellos torna esse
fato claro como um cristal.
Esperamos que este livro sirva para vários propósitos. Por um
lado, desejamos fortalecer as mãos dos pastores das igrejas
batistas reformadas confessionais, fornecendo-lhes esse excelente
material que defende a sua teologia. Por outro lado, esperamos que
essa obra contribua para o processo pelo qual nossos amigos
pedobatistas reconhecem que somos muito sérios sobre a teologia
pactual. Nós estamos realmente convencidos de que isso é aquilo
em que a Bíblia se estrutura. Além disso, esperamos que alguns
daqueles que foram tentados a se desviar dos caminhos
confessionais para seguir após novidades possam leiam e retornem
a um compromisso com esse sistema maravilhoso, extraído das
páginas da Sagrada Escritura. Que o Senhor abençoe esse esforço
para a sua glória e para o bem da igreja. Amém.
James M. Renihan,
Escondido, Califórnia, fevereiro de 2004.
PARTE I
Nehemiah Coxe:
Um Teólogo Excelente e Judicioso
James M. Renihan
Na providência de Deus, muitos dos seus santos viveram e
morreram sem reconhecimento ou aclamação histórica. O livro de
Hebreus, no capítulo 11, resume a vida dos crentes de todas as eras
que perseveraram de modo fiel, não buscando a fama terrena, mas
a recompensa prometida, compartilhada com o povo de Deus
através de todas as épocas. Somente o último dia revelará a
plenitude do agir de Deus entre os seus eleitos. Nós somos gratos
pelo registro histórico que nos foi dado, fornecendo testemunhos
nobres daqueles que demonstraram que a vida de fé é a essência
da piedade. Muitos são famosos, mas a maioria é desconhecida. Tal
é o caso de Nehemiah Coxe. Embora seja possivelmente o principal
editor da mais célebre Confissão Batista de todos os tempos, o seu
nome não é conhecido pela maioria dos seus herdeiros teológicos.
Mesmo as edições da CFB1689 publicadas, ao listar os nomes dos
subscritores, não fazem menção a ele. É um prazer dedicar alguma
atenção à obra de Deus através desse devotado servo de Jesus
Cristo.
A história de sua vida deve começar com seu pai, Benjamin
Coxe. Provavelmente o filho de um clérigo[1] da Igreja da Inglaterra,
Benjamin se matriculou na Christ Church, Oxford, em abril de 1609,
quando tinha 14 anos de idade. Ele recebeu o título de bacharel em
artes em Broadgates Hall, Oxford em junho de 1613, e seu
mestrado em artes, em junho de 1617.[2] Foi nomeado reitor do
vilarejo ocidental Sampford Paverel, mas nesse momento de sua
carreira as suas convicções doutrinárias não são claras. W.T.
Whitley observa que o alto presbiteriano Thomas Edwards
“censurou” Coxe “por ter sido zeloso em relação às inovações de
Laud”.[3] Seja qual for a verdade dessa alegação, em 1642, Coxe
defendia uma posição não muito distante da dos batistas em seu
panfleto A Thesis or Position Concerning The Administering and
Receiving Of The Lord’s Supper Cleared and Confirmed. A tese de
seu argumento é: “Aquele que administra a ceia do Senhor a
alguém que é um fornicador, cobiçoso, idólatra, perjurador, bêbado
ou roubador, comete um pecado muito grave e odioso. Os filhos de
Deus não devem praticar esse pecado sério e odioso, mas reprová-
lo”.[4] Claramente, Coxe estava se movendo em direção a uma visão
batista sobre os sacramentos. Isso está a um pequeno passo em
direção a proteção da santidade da mesa do Senhor ao admitir
somente os crentes ao batismo. Whitley afirma bem: “Uma vez que
um homem se esforça para limitar a comunhão aos verdadeiros
crentes, é provável que ele seja desafiado sobre a crisma[5] e o
batismo infantil”.[6] Esse parece ter sido o caso, pois em 1643
Benjamin estava em Coventry, e foi desafiado por Richard Baxter
para debater sobre o tema do batismo infantil.[7] Sua presença lá
resultou em sua prisão por um período de tempo indeterminado,
mas aparentemente breve, de acordo com Baxter porque “ele se
recusou a prometer deixar a cidade e não voltar mais”.[8] Em 1645,
ele foi convidado a participar de um debate com Edmund Calamy,
entre outros, sobre o mesmo tema em Londres, mas foi impedido
pelo prefeito.[9]
A associação com os batistas de Londres é de grande
importância, pois demonstra a crescente proeminência de Benjamin
Coxe. Quando Daniel Featley atacou sete pontos da teologia da
Confissão de Londres de 1644, as igrejas que publicaram a
Confissão a revisaram para considerar as objeções de Featley. A
nova edição foi publicada em 1646, assinada por Benjamin Coxe
como representante de uma das igrejas de Londres. Além disso, ele
publicou, provavelmente por conta própria, um Apêndice à
Confissão, procurando explicar melhor algumas das posições
sustentadas pelos subscritores. Coxe cria que os homens sensatos
leriam e entenderiam que os batistas eram altamente ortodoxos em
seus pontos de vista, e talvez, como resultado, receberiam alguma
tolerância. Suas expectativas otimistas não foram cumpridas.
Murray Tolmie conta bem a história: Em 29 de janeiro de 1646,
Samuel Richardson e Benjamin Coxe ficaram do lado de fora da
Câmara dos Comuns para entregar cópias da segunda edição da
Confissão das sete igrejas aos membros quando eles entravam na
Câmara. A Confissão foi revisada com muito cuidado... Foi tomado
cuidado para que o panfleto fosse devidamente autorizado por John
Downham. A Câmara dos Comuns se mostrou antipática; enviou o
sargento de armas para apreender os panfletos e trazer Richardson
e Coxe para a prisão da Câmara, e ordenou à Companhia de
Livreiros que suprimisse a Confissão.[10]
A tolerância ainda estava longe. Em 1646, Coxe imprimiu uma
pequena obra, escrita durante o seu tempo de prisão em Coventry,
intitulada Some Mistaken Scriptures Sincerely Explained,[11] um
esforço para desfazer os efeitos nocivos do arminianismo que se
espalhava por todo o país. Ele tratou do mesmo assunto em uma
“Carta ao Leitor”, publicada no mesmo ano, como prefácio de God’s
Ordinance, The Saints Priviledge de John Spilsbury.[12] Coxe
ampliou algumas porções da segunda parte desse tratado que
lidavam com assuntos relacionados à doutrina calvinista da
redenção particular.
Dois anos depois, Coxe aparentemente estava em Bedford.
B.R. White afirma que “os presbiterianos de Londres insistiram em
setembro [de 1648] que uma carta fosse enviada às autoridades em
Bedford relatando opiniões ‘heterodoxas’ de Coxe; presumivelmente
a sua oposição ao batismo infantil”.[13] Até 1653, ele parece ter
mantido uma postura discreta, mas ele aparece naquele ano como
representante da igreja de Kensworth, Bedfordshire, em uma
reunião da Associação Abingdon.[14] Nos próximos sete anos, seu
nome aparece com regularidade e proeminência nas atas da
Associação. A essa altura, Benjamin teria cerca de 65 anos de
idade. Crosby relata que no Ato de Uniformidade, em 1662, Coxe
estava para se conformar com a Igreja da Inglaterra, mas logo se
arrependeu e voltou para o rebanho batista,[15] porém ele não
fornece evidências que corroborem sua afirmação. Como ele havia
recentemente escrito um argumento contundente contra a
adequação de ministros batistas receberem pagamento do governo,
[16] alguém teria bons motivos para pensar que essa história sobre
sua suposta conformidade é altamenteimprovável. Embora o ano
da sua morte não seja conhecido, ocorreu provavelmente por volta
de 1664.
Dois assuntos importantes devem ser mencionados antes de
prosseguirmos. O primeiro tem relação com a defesa de Benjamim
Coxe dos princípios da membresia fechada. Nas décadas seguintes
ao surgimento das igrejas batistas particulares, várias posições
sobre a relação entre o batismo e a membresia da igreja podem ser
observadas. Para alguns, o batismo de crentes era uma condição
sine qua non para a entrada de uma pessoa na membresia da
igreja; outros promoveram o batismo de crentes e resistiram ao
pedobatismo, mas permitiam a adesão de indivíduos que estavam
hesitantes quanto à necessidade do que consideravam ser um
rebatismo (por pensarem que o seu batismo enquanto bebês era
suficiente). Uma terceira posição argumentava que o batismo era
um assunto pessoal e, portanto, era irrelevante para a membresia
na igreja. Coxe, os batistas de Londres que publicaram a Confissão
de Londres em 1644/46 e as igrejas da Associação Abingdon, todos
mantinham firmemente a primeira posição. A segunda é
representada por igrejas como a de Broadmead, Bristol e indivíduos
como Henry Jessey.[17] A última opinião era a convicção e prática de
John Bunyan e da igreja de Bedford, onde ele ministrou. Benjamin
Coxe defendeu eloquentemente a necessidade do batismo de
crentes para a membresia, e essa defesa parece ter sido um legado
dado ao seu filho. Isso assumirá importância no estágio inicial do
ministério de Nehemiah.
A segunda questão que merece ser observada é a estreita
relação mantida pela igreja Petty France, em Londres, com as
igrejas da Associação Abingdon em geral, e com a igreja de
Kensworth em particular. Em 1656, as igrejas de Abingdon estavam
tendo dificuldades com questões relativas à escolha e instalação
(ordenação) de oficiais na igreja. Eles decidiram buscar ajuda e
enviaram uma carta à igreja Petty France pedindo conselho. A
congregação de Londres respondeu em uma longa epístola,
explicando a sua própria prática.[18] Evidentemente, essa grande
assembleia foi tida em alta estima pelas igrejas associadas. Talvez a
razão para isso seja encontrada na relação entre Benjamin Coxe,
Edward Harrison, Petty France e Kensworth. Quando Coxe assinou
a edição de 1646 da Confissão de Londres, ele o fez como
representante da igreja que viria a ser conhecida através de seu
local de encontro na Petty France. Edward Harrison, que se uniu a
essa igreja em 1651, e foi seu pastor em 1657, veio a Londres de
Kensworth, tendo servido como pastor da igreja paroquial de lá. Ele
abandonou o pedobatismo em 1645 e pode ter sido (depois da
Guerra Civil) o fundador da igreja de Kensworth.[19] Ao longo da
história dessas igrejas, parece ter havido comunicação regular.[20] O
significado dessa relação será observado abaixo.
Nas palavras de W.T. Whitley, “no lugar dos pais, levantaram-
se os filhos”.[21] Nehemiah Coxe foi filho de Benjamin Coxe. Não
sabemos quase nada sobre o seu nascimento e infância, exceto
presumimos que se passaram em Bedfordshire com o pai. Sua
primeira aparição conhecida no registro histórico é em 14 de maio
de 1669, quando se uniu à igreja de Bedford, de membresia aberta,
que ficou famosa devido a John Bunyan.[22] Embora ainda
relativamente jovem (como veremos abaixo), ele deve ter crescido
na estima da congregação, já que o seu nome é assinado,
juntamente com três outros homens, em uma carta escrita em 21 de
março de 1671 pela igreja de Bedford para um dos seus membros
desviados. William Whitbread havia se unido à assembleia, mas
parou de comparecer e de participar das atividades da igreja. Para
piorar a situação, ele foi visto frequentando os cultos públicos na
Igreja da Inglaterra. Para os congregados de Bedford, isso era uma
séria violação de princípios, como a seguinte carta indica: Irmão
Whitbread Nós, seus irmãos da congregação de Cristo, à qual você
ainda está vinculado, tendo o repreendido anteriormente por nossas
cartas, por diversas más condutas e isso por longo tempo,
esperávamos que Deus pudesse tê-lo abençoado com
arrependimento não fingido. Mas considerando que você tem
acrescentado mais iniquidade às suas transgressões anteriores nas
quais persiste por tanto tempo e as pratica diante dos cananeus que
habitam na terra, ao participar desse culto supersticioso e idólatra,
que pela força e crueldade tem se mantido em oposição à
verdadeira adoração e aos verdadeiros adoradores de Deus, com
quem por muito tempo você se alegrou, não podemos deixar de
sentir que o seu arrependimento anterior foi falso. Você tem
continuado nisso com uma impiedade que não pode ser suportada
por nós, a menos que também nos façamos culpados de suas
transgressões. E nós lhe dizemos, além disso, que nossa
sinceridade quanto a esse assunto é evidente para todas as igrejas,
e que se você não der resposta, nós usaremos aquele poder que
nos foi dado por Cristo para sua edificação, ainda que seja
necessário nos afastar de você como uma pessoa com a qual não
devemos nos acompanhar, na esperança de que você fique
envergonhado e seja salvo no dia do Senhor.
Esta carta foi escrita com o consentimento da congregação,
que também ordenou que ela fosse enviada a você pela mão
desses irmãos cujos nomes estão aqui subscritos como
testemunhas.[23]
Essa carta deixa transparecer o profundo desagrado que os
santos sofredores de Bedford tinham em relação aos seus
perseguidores. Ter comunhão com os tais era absolutamente
inaceitável. Na mesma reunião, Coxe foi nomeado, juntamente com
outro homem, para anunciar o ato da expulsão da igreja de mais um
membro, Richard Deane. A participação desse jovem em ambos os
casos no dá alguma evidência da estima em que ele foi tido pela
igreja. Essas duas questões eram da maior importância para a
disciplina da assembleia local.
Em junho do mesmo ano, Nehemiah assinou, dessa vez junto
com John Bunyan, uma nova carta escrita pela igreja. Ela foi dirigida
à irmã Tilney, uma mulher da congregação que se mudou para
Londres e desejava se unir a uma igreja pastoreada por seu genro,
o Sr. Blakey.[24] É uma carta fascinante, a qual expressa profunda
afeição por essa mulher que era muito amada pela igreja, mas
também demonstrava uma certa hesitação em enviá-la para os
cuidados daquela igreja, porque era desconhecida para eles. Eles
sugerem que ela considere várias opções, entre elas a obtenção de
uma “carta de recomendação” de “Irm. Owen, Irm. Coakain, Irm.
Palmer ou Irm. Griffith, confirmando a fé e os princípios da pessoa e
do povo que você mencionou”.[25] A referência é ao famoso Dr. John
Owen.[26] Em 12 de julho, a igreja se reuniu novamente, e Coxe
relatou à congregação que William Whitbread havia “confessado sua
culpa pela má conduta da qual o acusaram”[27] e havia um indício
esperançoso de “progresso do arrependimento nele”. Na mesma
reunião, os registros declaram que os “mesmos irmãos” (ou seja,
Coxe e seu companheiro) relataram os resultados de duas outras
visitas disciplinares para as quais foram designados. Segundo todos
os relatos, a igreja de Bedford estava disposta a confiar assuntos
sérios a esse jovem. A assinatura de seu nome continuou
aparecendo em correspondências oficiais da igreja.
Em dezembro de 1671, a posição de Nehemiah Coxe na igreja
deu mais um passo à frente. No dia 21 desse mês, John Bunyan foi
formalmente chamado para o “ofício pastoral ou presbitério” na
igreja. As atas indicam que “ao mesmo tempo e da mesma maneira,
a igreja solenemente aprovou os dons e chamou para a obra do
ministério” sete homens, entre os quais Nehemiah, “para o
progresso da obra de Deus e continuidade dessa obra nas reuniões
geralmente realizadas por essa congregação, cuja ocasião e
oportunidade devem ser ministradas por eles”. Esse não foi um
chamado completo e livre para o exercício dos dons, pois as atas
imediatamente declaram que a igreja determinou ainda que, se
algum novo lugar se oferecesse, ou outro povo que ainda não temos
pleno conhecimento ou comunhão, desejamos que qualquer um
desses irmãos vá e sejaútil para eles, através da palavra e doutrina,
para que então aquele irmão que assim desejar, apresente
primeiramente o assunto à congregação, a qual, após a devida
consideração determinará o caso, e conforme determinarem, o
irmão deve agir e fazer.[28]
As distinções nessas palavras precisam ser observadas. Esses
homens foram chamados para ser “ministros” ou “irmãos com dons”,
mas não presbíteros. Eles agiam em subordinação à vontade e à
disposição da igreja como um todo. As regras estritas que
circunscrevem a sua atividade demonstram a sobriedade com a qual
a igreja tratou a questão. O ministério público de qualquer tipo era
um chamado elevado e santo, e não podia ser tratado com
leviandade.
A responsabilidade desse reconhecimento trouxe consigo não
apenas oportunidades para o ministério público e para a liderança,
mas também para a reflexão teológica. Em 25 de junho de 1672, a
igreja “ordenou que uma breve confissão de fé fosse redigida pelos
presbíteros e irmãos com dons da congregação”. Infelizmente, não
há registro da obra finalizada. Em 29 de julho, os registros afirmam
que “o assunto até então proposto sobre a elaboração de uma breve
confissão de fé etc., foi adiado, em razão da ausência do Ir.
Bunyan”.[29] Parece não haver mais nenhuma menção a tal
confissão nos registros da igreja. Sabe-se, no entanto, que em 1672
Bunyan publicou, A Confession of My Faith, and a reason of My
Practice.[30] Podemos imaginar se há uma conexão entre essas
coisas.
No final da primavera de 1673, uma das congregações filhas
da igreja de Bedford fez um pedido importante: “Foi desejado pela
igreja em Hitchin que essa congregação lhes enviasse o nosso
irmão Nehemiah Coxe para que exercesse o ofício de presbítero ou
pastor para eles, o que a congregação decidiu levar em
consideração”.[31] Vários aspectos notáveis são observados nesse
momento. Entre as igrejas independentes e batistas, era crido que a
membresia deveria preceder um chamado ao ofício pastoral. As
igrejas geralmente não se aproximavam de um homem diretamente
e pediam a ele que aceitasse um chamado para servir em seu meio,
embora certamente isso fosse feito informalmente. O único
procedimento adequado era se dirigir à igreja na qual o homem
desejado era membro e pedir que o enviassem com o propósito de
assumir o novo ministério. Por essa razão, a igreja de Hitchin se
dirigiu ao povo de Bedford pedindo permissão para proceder.[32] Isso
implica que Coxe havia exercido alguma forma de ministério entre o
povo de Hitchin, muito provavelmente ao desempenhar entre eles o
trabalho de um irmão com dons como mencionado acima.
Curiosamente, a congregação de Bedford não aceitou
imediatamente o pedido, mas apenas o considerou. Os registros
não indicam se a solicitação foi alguma vez concedida, é quase
certeza que não foi.
Menos de um ano depois, em maio de 1674, Coxe,
aparentemente ainda membro da igreja de Bedford, enfrentou
censura por certas “condutas indevidas” que não foram definidas. A
observação no livro de registro é a seguinte: Nosso irmão Nehemiah
Coxe publicamente reconheceu ter cometido várias condutas
indevidas e declarou seu arrependimento por elas; e por que ele
cometeu falhas nessas coisas, foi desejado por alguns dos irmãos
que um relato de sua submissão fosse apresentado a nós por
escrito, o que foi feito como segue: Considerando que várias
palavras e práticas foram proferidas e cometidas por mim, as quais
poderiam ser justamente censuradas por ter uma tendência a
causar cismas e divisões na congregação, declaro-me sinceramente
entristecido e arrependido por elas. Ne. Coxe.[33]
Pode-se perguntar o que seriam essas condutas indevidas.
Thomas Armitage supõe que desde que “se relacionavam com
algum ponto de fé ou prática sobre o qual havia diferenças de
opinião no corpo, e como ele era um batista convicto, elas, muito
provavelmente, se referiram a algumas diferenças que haviam entre
os batistas”. T.E. Dowley sugere uma solução semelhante: Talvez as
“palavras e práticas” de Coxe estivessem relacionadas à questão da
membresia aberta ou fechada, tão debatida naquela época.[34]
Benjamin Coxe defendia claramente uma posição de membresia
fechada em seus escritos publicados, enquanto a igreja de Bedford,
e especialmente Bunyan, resistia a tal ideia com grande vigor.[35]
Será que Nehemiah defendeu opiniões que o povo de Bedford
considerou como tendo “uma tendência a causar cismas e divisões
na congregação”? O fato de que ele cometeu “falhas nessas coisas”
anteriormente mencionadas é uma indicação de que essa era a
natureza do problema? Parece que essa solução é muito provável.
A aparição de Nehemiah na igreja de membresia fechada Petty
France, logo depois disso, poderia ajudar a explicar a situação.
Walter Wilson registra um episódio interessante desse período
da vida de Coxe: Em uma página, no início de seu [de Coxe]
Discourse of the Covenants, na posse do sr. Sutcliff, o seguinte
episódio é registrado em um manuscrito. “O autor morava em
Cranfield, onde seguia trabalhando como um fabricante de calçados
de couro e, durante sua residência ali, foi preso por pregar o
Evangelho. Quando chegou ao julgamento em Bedford, ele primeiro
fez sua defesa em grego e depois em hebraico, pelo que o juiz que
solicitou a acusação contra Nehemiah Coxe, um sapateiro,
expressou a sua surpresa e declarou que ninguém poderia
respondê-lo. E sobre o argumento do Sr. Coxe de que era justo que
ele pudesse se defender na língua em que desejasse, ele foi
despedido”. O Sr. Sutcliff diz que ouviu várias vezes a anedota
acima repetida em conversas, na cidade e no bairro de Bedford, e
particularmente com esse acréscimo, que o juiz teria dito aos
conselheiros: “Bem, o sapateiro deu um nó em todos vocês,
senhores”.[36]
A partir dessa anotação, parece que Coxe, embora muito
inteligente, se sustentava como um fabricante de sapatos de couro
ou sapateiro.
Quinze meses após o incidente da censura, em 21 de
setembro de 1675, a seguinte nota foi registrada no livro das atas da
igreja Petty France (Londres): “Ir. Collins & Ir. Coxe foram
solenemente ordenados pastores ou presbíteros nesta igreja”.[37] É
provavelmente seguro assumir, baseado nos processos normais
envolvidos no chamamento de pastores para igrejas, que estes dois
homens foram examinados pela igreja e passaram por algum tipo de
período experimental. De qualquer forma, eles se tornaram co-
pastores naquele dia. É dito que William Collins teve um treinamento
universitário completo, seguido por uma jornada pelo continente
europeu. Ele permaneceu como pastor da igreja até sua morte em
30 de outubro de 1702. Em um sermão pregado por John Piggott,
quinze dias após a morte de Collins, menciona-se a animadora
“oferta que ele teve de se unir à Igreja Nacional, a qual ele
judiciosamente recusou, porque foi a consciência, não o capricho,
que fez dele um dissidente”.[38] Juntamente com Coxe, Collins deve
ter tido um lugar de liderança importante em sua base em Londres,
na igreja Petty France. A dupla Coxe pai e Coxe filho tinha, portanto,
completado um ciclo. A igreja da qual o pai fizera parte na década
de 1640, e que manteve uma forte ligação com Bedfordshire nas
décadas de 1650 e 1660, tornou-se a casa do filho na década de
1670.
Coxe tornou-se um médico qualificado,[39] hábil em latim,
grego e hebraico, e um teólogo de grande discernimento. Quando o
evangelista de West Country, Thomas Collier,[40] começou a se
desviar da ortodoxia calvinista das Igrejas de Londres, os
presbíteros de Londres pediram a Coxe para se comunicar com ele
na tentativa de recuperá-lo e/ou refutar a sua doutrina. Collier era
um homem eminente e importante. Ele foi enviado na década de
1640 pela igreja de William Kiffin, de Devonshire Square, em
Londres, e foi o líder mais influente entre os batistas particulares no
oeste. Seu trabalho foi tão eficaz que despertou a atenção de
Thomas Edwards, que escreveu em sua obra Gangraena (1646)
que Collier foi “o primeiro que semeou as descendências do
anabatismo” no oeste.[41] Por quarenta anos ele trabalhou
incansavelmentepara plantar e construir igrejas. Na década de
1650, havia evidências de seu desvio teológico e, em meados da
década de 1670, ele renunciou abertamente ao calvinismo das
igrejas de Londres. Tais ações não poderiam ser toleradas ou
ignoradas.
Nehemiah participou do seu processo de
restauração/refutação teológica de duas maneiras. Em 1676, ele
acompanhou uma delegação que viajou para o oeste para
confrontar Collier. The Broadmead Records descreve a situação: 5
presbíteros e irmãos... estavam vindo de Londres para visitar uma
igreja vizinha em seu país, a cerca de 15 milhas de proximidade de
Bradford ou Trowbridge, para resolverem alguma desordem
instalada ali; devido ao ser pastor, T.C., ter passado a sustentar
alguma doutrina infundada ou novas ideias contrárias aquilo que era
geralmente aceito entre homens sãos e ortodoxos. Os nomes dos
irmãos de Londres são Ir. Kiffin, Ir. Deane, Ir. Fitten, Ir. Coxe e Ir.
Moreton.[42]
A visita dessa delegação foi mal-sucedida, e Collier persistiu
em suas visões doutrinárias pervertidas.
Como resultado do fracasso da visita em cumprir seus
objetivos, Coxe foi convocado para expor e responder por escrito
aos pontos de vista de Collier. Ele fez isso em sua obra Vindiciae
Veritatis, or a Confutation of the Heresies and Gross Errours
Asserted by Thomas Collier. Em uma breve carta no início da obra,
os líderes de Londres mais antigos e mais conhecidos abordam a
questão da “inferioridade em anos” de Coxe, afirmando que ele não
escreveu o livro por se sentir pessoalmente capaz, mas porque foi
solicitado a fazê-lo, porque “nós o julgamos adequado e hábil para
esse serviço” e porque as responsabilidades dele na ocasião lhe
proporcionavam a oportunidade para responder aos erros de Collier.
Dizem dessa obra: “Esperamos e podemos verdadeiramente dizer,
sem respeito particular à sua pessoa, que ele se comportou com
aquela modéstia do Espírito, unida com aquela plenitude e clareza
de resposta e força de argumentação, que nós confortavelmente
concebemos (pelas bênçãos de Deus) que esse pode ser um bom e
absoluto antídoto contra o veneno”.[43] Mesmo sendo relativamente
jovem, esses líderes experientes viam nele habilidades e
capacidades incomuns, tanto que estavam dispostos a confiar a
Nehemiah essa grande responsabilidade. O resultado é uma
poderosa expressão da doutrina reformada, declarando bem o caso
contra Collier e expondo as doutrinas da ortodoxia calvinista
defendidas pela maioria das igrejas e ministros.
A proeminência de Collier forçou os líderes batistas
particulares a tomarem medidas firmes para evitar a disseminação
de seus pontos de vista e, por consequência, a possibilidade de
outra disputa teológica. Eles podem muito bem ter temido que seus
oponentes usassem contra eles a mesma caneta que usaram para
registrar os erros de Collier. Alguns sugeriram que pode haver uma
relação entre essa situação e o surgimento da Segunda Confissão
Batista de Londres em 1677.[44] Essa proposta é muito convincente.
De qualquer forma, a mais importante Confissão na história batista
apareceu naquele ano. A primeira referência de que se tem notícia a
esse documento é encontrada no livro de atas manuscritas da igreja
Petty France. Em 26 de agosto de 1677, esta nota foi inserida:
“Ficou acordado que uma confissão de fé, com o apêndice tendo
sido lido e considerado pelos irmãos, deveria ser publicada”.[45]
Joseph Ivimey, o historiador batista inglês do início do século XIX
considerou isso como indício que a confissão tenha se originado na
igreja Petty France.[46] Muito provavelmente essa é uma suposição
exata. Isso, é claro, significaria que Nehemiah Coxe e William
Collins são os candidatos mais prováveis a terem servido como
editores do documento. Na ausência de qualquer outra teoria, e
baseado nas evidências circunstanciais a que temos acesso, essa é
uma forte possibilidade.[47] Como Coxe já estava na vanguarda da
articulação teológica, tendo sido escolhido como porta-voz das
igrejas de Londres em sua controvérsia com Collier, ele seria uma
escolha natural para essa tarefa; e ele foi designado para um
trabalho semelhante enquanto ministro da igreja de Bedford.
A igreja Petty France era grande e proeminente em Londres.
Como uma das sete igrejas originais, tinha uma estatura histórica, e
isso aumentava à medida que o número de membros da igreja
crescia. Os registros da congregação indicam uma assembleia em
florescimento: de 1675 a 1688/89, parece ter havido mais de 530
pessoas como membros. A igreja estava envolvida em todas as
atividades normais associadas à vida eclesiástica, acrescentando
membros, realizando casamentos, batismos (o registro de 24 de
dezembro de 1676 afirma que duas mulheres foram admitidas ao
batismo, mas “a administração da ordenança foi adiada por algum
tempo; pois devido à intensidade da geada atual, não
conseguiremos nesse momento ir às águas”)[48] e disciplina
eclesiástica. Nehemiah Coxe aparece proeminentemente nos
registros, não apenas quanto aos assuntos internos, mas também
como um representante frequentemente escolhido da congregação
para representá-la em seu envolvimento com as associações de
igrejas em Londres e Hertfordshire. O vigor dessa igreja é
surpreendente, especialmente quando lembramos que a vida em
Londres, bem como em Bedford, não era fácil. As intensas
perseguições foram tão exacerbadas contra a igreja Petty France
que às vezes os membros não conseguiam se reunir em seu local
de encontro.[49] No entanto, eles continuavam a obra para a qual
haviam sido chamados.
Coxe e Collins voltaram a sua atenção para muitas questões
que se passavam fora de sua própria igreja. Em 1675, os dois
assinaram, junto com outros onze homens, uma carta a Andrew
Gifford,[50] da Igreja Pithay, em Bristol, argumentando que era dever
de todos os homens orar. Aparentemente, Gifford tinha entrado em
contato com alguns hiper-calvinistas que argumentavam que desde
que homens não convertidos não podiam realizar quaisquer boas
ações que acompanhassem a salvação, eles não tinham obrigação
de orar e adorar a Deus. Ele pediu aos pastores de Londres que
ponderassem sobre o assunto, e essa carta foi o resultado.[51] Em
1680, juntamente com William Kiffin, Hanserd Knollys,[52] John
Harris[53] e Daniel Dyke,[54] Coxe assinou uma introdução à narrativa
de John Russel sobre as lutas da nova igreja batista em Boston,
Nova Inglaterra. Eles afirmam que os batistas de Boston
“declararam seu acordo perfeito conosco nas questões de fé e
adoração, como estabelecido em nossa Confissão recente”, e
argumentam que é extremamente estranho que os cristãos que
possuem as mesmas doutrinas essenciais, diferindo apenas quanto
aos sujeitos do batismo, sejam perseguidos por aqueles que estão
tão próximo deles.[55] Eles eram igualmente ativos no auxílio a
outras igrejas. Além do caso de Collier, Coxe e Daniel Dyke (co-
pastor com William Kiffin em Devonshire Square, Londres)
ordenaram Andrew Gifford à sua posição pastoral em Bristol em
1677.[56]
Em 1681, durante um período de perseguição, Coxe publicou
A Sermon Preached at the Ordination of an Elder and Deacons in a
Baptized Congregation in London.[57] Esse sermão contém um
resumo útil das funções e responsabilidades dos presbíteros e
diáconos. O culto é a primeira ordenação pública conhecida em uma
congregação dissidente após a Restauração. Também em 1681,
Coxe publicou o livro que agora republicamos, A Discourse of the
Covenants that God made with Men before the Law. O
contemporâneo de Coxe, C.M. du Veil em seu Comentário sobre
Atos dos Apóstolos, de 1685, teceu altos elogios ao autor e ao livro,
chamando-o de “aquele grande teólogo, eminente em todas as
áreas da erudição”, e afirmando que “por meio de muitos
argumentos sólidos e ponderados demonstrou em seu excelente
tratado acerca dos pactos que Deus fez com os homens antes da
lei” que “pelo batismo e circuncisão, dois pactos completamente
diferentes deveriam ser selados; dos quais um era com aqueles que
pela lei da natureza nasceram da descendência de Abraão; o outro
com aqueles que,pelo dom da fé, como Abraão, nasceram de novo
espiritualmente”.[58] As palavras de Du Veil são ecoadas por John
Piggott, que chamou Coxe de um “um teólogo excelente e
judicioso”.[59]
O último escrito conhecido que foi publicado por Coxe foi A
Believers Triumph over Death, exemplified in a relation of the last
hours of Dr. Andrew Rivet. Essa parece ter sido uma tradução do
latim de um original francês, descrevendo a vida desse francês que
fugiu para a Holanda em busca de liberdade religiosa.[60] A tradição
de que ele tenha sido foi um médico é forte. Em uma nota não
assinada no Baptist Quarterly, nos é dito “Por Sloane MS 656,
aprendemos que ele era hon. F.R.C.P., e que ‘Institutiones Medica’
foi dedicado a ele por G. Needham”.[61] O British Museum General
Catalogue of Printed Books lista um livro publicado em 1684 por
Nehemiah Coxe sob o título Disputatio medica inauguralis de
arthride.[62] Não há registro conhecido de treinamento médico, nem
por que ele foi feito um membro honorário do Royal College of
Physicians. Pode-se apenas supor que certo nível de habilidade
estava presente em sua prática, e uma boa reputação deve ter se
desenvolvido a partir disso.
E quanto a sua vida doméstica? Há pouquíssima informação.
A mesma nota mencionada no parágrafo anterior diz que ele “se
casou com Margaret, segunda filha de Edmund e Margaret
Portman”.[63] Em 26 de janeiro de 1688/89, Margaret Coxe foi aceita
como membro da igreja Petty France, mas não há certeza que essa
era a esposa de Nehemiah. Vários anos antes (1679), uma “Irmã
Coxe” foi admoestada por falta de comparecimento e por “seguir os
Quaquers”.[64] Não há evidências de que ela tenha parentesco com
Nehemiah. Sabemos que ele teve um filho, pois logo após a sua
morte, as atas de Petty France afirmam: “Houve uma reunião dos
irmãos na casa de Ir. Lock, onde foi acordado que algumas
providências deveriam ser tomadas por escrito para sustento do
filho do Ir. Coxe; e a congregação deve se mobilizar para isso”.[65]
Nehemiah Coxe morreu em 5 de maio de 1689 e foi enterrado
no túmulo de seus sogros em Bunhill Fields, Londres. Considerando
que a sua morte precedeu a Assembleia Geral em quatro meses,
seu nome não foi registrado entre aqueles que participaram da
reunião, ou que subscreveram a Confissão de Fé. É estranhamente
irônico que alguém que parece ter sido tão intimamente associado à
sua origem tenha sido esquecido nessas circunstâncias. Que a
publicação da presente obra restaure às nossas memórias o nome e
a obra de uma nobre testemunha das verdades da Escritura.
Finis[66]
Um
Discurso Acerca dos Pactos Que Deus fez
com o homem
antes da Lei.
 
Onde,
A Aliança da Circuncisão é amplamente examinada, e
é demonstrada a invalidade do argumento em favor do
pedobatismo feita a partir dela.
 
By NEHEMIAH COXE.
 
“Examinai as Escrituras” João 5:39
 
Impresso por J. D. para ser vendido por Nathaniel
Ponder
em Peacock no Poultry; e por Benjamin Alsop no
Angel e BiBle no Poultry, 1681.[67]
 
Introdução do Editor
Faz-se necessária uma palavra sobre o método usado pelo editor. A
obra de Coxe não poderia simplesmente ser reimpressa – o seu
vocabulário e estilo do século XVII são muito estranhos ao leitor
contemporâneo para que essa abordagem seja edificante. Além
disso, Coxe faz referência a muitos detalhes que não são mais
óbvios para nós, embora sejam facilmente compreendidos por
leitores eruditos. Portanto, esta edição não é uma reprodução exata
do seu texto; antes, notas explicativas foram acrescentadas e a obra
foi editorialmente revisada conforme as seguintes diretrizes
gramaticais e estilísticas.
1. Ortografia e uso das palavras: Houve uma modernização;
por exemplo, “knowledg” para “knowledge” [conhecimento]; “&” para
“e”, “Fœderal” para “Federal” [federal], e “hath” para “have” [verbo
ter]. Palavras arcaicas incidentais foram modernizadas de acordo
com as definições do Dicionário de Inglês Oxford. Termos teológicos
técnicos como “restipulation” [reestipulação] são mantidos e é
acrescentada uma explicação em uma nota de rodapé.
2. Letras maiúsculas: Removidas de substantivos não próprios.
Era uma convenção de impressão padrão no século XVII deixar em
maiúsculo a primeira letra dos substantivos e de algumas outras
palavras importantes em um texto.
3. Itálico: Removidos textos em itálico, exceto quando trata-se
de uma citação latina ou grega ou em conformidade com o estilo
moderno.
4. Pontuação: Foram removidas as vírgulas em excesso, e
sentenças separadas por dois pontos e ponto e vírgula foram
substituídas por pontos.
5. Notas de rodapé: As notas de rodapé originais de Coxe
estão todas incluídas. As notas de rodapé do editor foram colocadas
entre colchetes ([…]). Erros óbvios de digitação e impressão são
corrigidos e anotados no rodapé.
6. Divisões de palavras e parágrafos: Sentenças e parágrafos
longos foram separados. Por vezes, palavras em uma sentença são
reorganizadas com o fim de obter maior clareza.
7. Títulos e cabeçalhos: Coxe prefaciava cada capítulo com um
esboço. Eles foram resumidos e usados como títulos de seções. A
numeração original das seções e os subpontos foram mantidos
como um auxílio à clareza.
Uma transcrição exata do texto original está disponível e pode
ser solicitada ao editor.
Gostaria de agradecer ao Dr. James M. Renihan e ao Sr. David
Goodwin pelo seu apoio incansável. J. Mark Sugars, Ph.D., tem meu
profundo agradecimento por traduzir e referenciar a maioria das
citações em latim.
Ronald D. Miller
Heritage Baptist Church
3585 Thruston Dermont Road
Owensboro, KY 42303
O Prefácio ao Leitor
A utilidade de toda a verdade divina revelada nas Sagradas
Escrituras e a grande importância do que concerne particularmente
àquelas transações federais[68] que são objeto do seguinte tratado
são minha justificativa para escrever esse tratado que busca
conhecer a mente de Deus a esse respeito.
Quanto à parte do tratado que é mais controversa, a qual se
refere à aliança da circuncisão, eu tenho me envolvido mais com ela
por ocasião dos tratados[69] do Sr. Whiston sobre o batismo,
especialmente seu último intitulado Infant Baptism Plainly Proved.
Ao observar que o ponto principal da controvérsia sobre os
indivíduos legítimos do batismo está ligado a Gênesis 17, concluí
que a única maneira de esclarecer esse grande ponto deve ser fazer
um exame diligente daquele relato que a Escritura nos dá sobre a
natureza e dos objetivos da aliança registrada ali. Recusei-me a
lidar com essas coisas de uma maneira polêmica e, portanto, não
me comprometi a responder especificamente a tudo o que foi
afirmado em oposição às minhas posições. Todavia, espero que o
leitor sincero observe atentamente o que tem sido dito contra
aqueles princípios aos quais sigo, e absorva-me da acusação de
que reafirmo, rudemente, coisas que já foram respondidas ou
refutadas, sem considerá-las, ou nem mesmo empenhar-me em
expor o fundamento daqueles erros os quais suponho que os outros
cometem.
Eu me volto para às Sagradas Escrituras para o julgamento do
que está escrito e sinceramente desejo que nada passe por
verdade, senão o que tiver o testemunho delas. Se, às vezes, ando
em um caminho inexplorado, não é devido a qualquer gosto por
novidade, mas pela busca daquela luz que as Sagradas Escrituras
me proporcionam. Talvez algumas pessoas ao verem que essas
coisas, aparentemente novas, são em sua maior parte deduzidas de
um registro claro dos fatos, possam refletir novamente e consentir
que elas são verdade, e não apenas opiniões advindas de
especulações complexas.
A noção (que muitas vezes é alegada neste discurso) de que a
Antiga e a Nova Alianças diferem em substância e não apenas no
modo de sua administração, certamente requer uma abordagem
maior e mais particular para livrá-la daqueles preconceitos e
dificuldades que foram lançados sobre ela por muitas pessoas
dignas, mas que pensam de maneira diferente. Assim, planejei dar
um relato adicional sobre esse assunto no tratado sobre o pacto
feito com Israel no deserto e sobre o estado da igrejasob a lei. Mas
quando eu terminei este tratado e providenciei alguns materiais para
o que também escreveria a seguir, percebi que meu trabalho que
deveria tratar desse tema foi felizmente evitado pela publicação do
terceiro volume do comentário do Dr. Owen sobre a epístola aos
Hebreus.[70] Ali, o assunto é discutido longamente e as objeções
que parecem militar contra ele são totalmente respondidas,
especialmente na exposição capítulo 8. Eu agora encaminho o meu
leitor para essa obra onde poderá aprender satisfatoriamente sobre
a diferença substancial entre a Antiga e Nova Alianças, tal obra
atende completamente as expectativas que se poderia ter acerca de
uma pessoa tão eminente e erudita.
A publicação desse pequeno tratado foi postergada por muito
tempo, em parte, por causa das dificuldades que as incansáveis
conspirações papistas[71] causaram em suas tentativas audazes de
nos oprimir com as piores misérias. Mas o atraso foi, também em
parte, devido à minha própria aversão a qualquer coisa que pareça
incentivar alguma controvérsia com aqueles que amam o Senhor
Jesus[72] e sinceramente defendem a causa protestante, embora
difiram de mim, em princípio e prática, em algum ponto controverso.
Não há nada que minha alma anseie mais na terra do que ver uma
união completa e sincera de todos que temem a Deus e estão
unidos como corpo ao Cabeça, Jesus Cristo, por mais diferentes
que sejam em suas posições sobre algumas coisas de menor
importância. Além do mais, uma sensação de insuficiência para
realizar meu empreendimento, para benefício da verdade, teve sua
parcela de culpa no atraso. No entanto, depois de ter considerado
todas as circunstâncias, fiquei satisfeito de que nenhum homem é
provocado por mim em qualquer reflexão inapropriada nem é dada
qualquer ocasião para disputas não caridosas e anticristãs. Minha
esperança — de que a presente obra possa informar alguns e
fornecer a outros uma ocasião para terem pensamentos mais exatos
acerca de uma investigação sistemática das verdades afirmadas —
me convenceu a lançar essa minha moedinha ao tesouro público.
Acrescentarei apenas mais uma coisa: que, no geral, meu
objetivo foi falar a verdade em amor e extrair argumentos a partir
das Escrituras, não acrescentando a isso quaisquer opiniões
preconcebidas por mim. Onde a evidência da verdade aparecer, que
ela não seja recusada porque é oferecida em uma roupagem
simples e apresentada sob a desvantagem de um estilo rude e não
polido. Mas, em vez disso, considere a razão do que é dito e, com
os nobres bereanos, examine as Escrituras para ver se essas coisas
são assim ou não. E que o Senhor lhe conceda entendimento em
todas as coisas.
N.C.
Capítulo 1
Relacionamentos Pactuais Com Deus
Uma Introdução Geral
§. 1. Um dos principais objetivos da religião é assegurar ao homem
a paz no presente e a felicidade eterna. Desde a queda do homem
toda religião verdadeira deve ser ensinada pela revelação divina que
Deus deu à sua igreja muitas vezes e de diversas maneiras.[73] Ele
fez com que essa luz, ou seja, a revelação, progredisse
gradualmente até que o mistério completo de sua graça fosse
perfeitamente revelado em e por Jesus Cristo, em quem estão
escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento de
Deus. Deus, que conhecia todas as suas obras desde o princípio
(Atos 15:18), dispôs e ordenou a revelação de sua vontade aos
homens em todas as eras, suas transações com eles e todas as
obras de sua santa providência para com eles, com referência à
plenitude do tempo[74] e ao convergir todas as coisas em Jesus
Cristo. Portanto, devemos voltar nossos olhos para Cristo em toda
nossa busca pela vontade de Deus nas Escrituras Sagradas.
Portanto, o melhor intérprete do Antigo Testamento é o Espírito
Santo falando conosco através do Novo. Ali temos a mais clara luz
do conhecimento da glória de Deus brilhando sobre nós a partir da
face de Jesus Cristo, ao revelar aqueles conselhos de amor e graça
que estavam ocultos em tempos e gerações passadas.
Todavia, o fato de o Novo Testamento possuir uma luz maior
de maneira alguma diminui a utilidade do Antigo; ao contrário,
obriga-nos ainda mais a estudá-lo humilde e diligentemente. Isso,
porque (como também por muitas razões além dessa) o mistério do
Evangelho não pode ser compreendido completamente por nós sem
um bom entendimento do funcionamento da lei e também do estado
das coisas antes da lei. A interrelação e interdependência do Antigo
e do Novo Testamentos é tal que nenhum dos dois pode ser
entendido à parte ou sem o outro, tampouco todo o sistema da
verdade tal como ela é em Jesus pode ser apreendido senão em
ambo.
Então, deve-se reconhecer a grande importância de estar
familiarizado com as transações de Deus com os homens e suas
dispensações para com eles, as quais estão registradas na história
sagrada das primeiras eras do mundo e da igreja de Deus nelas.
Empenhar-me-ei nesse tratado em explicar as tais transações e
dispensações até a época que precede o recebimento da lei por
Moisés, mas não tratarei do que se seguiu a isso. A fim de evitar a
repetição tediosa do que já foi extensivamente discutido e
completamente esclarecido por outros, limitar-me-ei a fazer breves
observações acerca dos relatos dessas coisas conforme nos foram
deixados nas Sagradas Escrituras. Insistirei principalmente naquelas
passagens que considero não terem sido suficientemente
explicadas por outros, ou que, pelo menos, não foram manejadas
com o método e segundo a ordem que parecem melhor se adequar
à natureza das coisas ali tratadas, as quais são mais adequadas
para comunicar, com maior clareza, às nossas mentes as ideias ali
contidas.
O Pacto de Deus Proposto aos Homens e a Resposta
Deles
§. 2. Neste tratado, veremos que as transações de Deus para
com os homens são de natureza federal, então primeiro será
necessário dizer algo sobre os relacionamentos pactuais com Deus
de forma geral.
As palavras originais que se referem a fazer ou entrar em um
pacto, bem como seus usos e aplicações diversas, já foram
completamente explicados por muitos.[75] Portanto, para o objetivo
que aqui se pretende, será suficiente relembrar que um pacto deve
ser considerada simplesmente como aquilo que é proposta por Deus
ou aquilo em que o homem entra por restipulação.[76]
1. Independentemente do que seja transacionado de um modo
federal entre Deus e os homens, o pacto é de iniciativa de Deus.
Como Cristo disse a seus discípulos em certa ocasião: “Não me
escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” (João 15:16).
Então podemos dizer que o homem nunca entrou em um pacto com
Deus, mas que foi Deus quem entrou em um pacto com o homem.
Os termos de um relacionamento pactual entre Deus e suas
criaturas são estabelecidos unicamente por Sua majestade
soberana, e é por causa de sua infinita bondade e sabedoria que
Ele propõe, escolhe e ordena tal aliança. Assim, o pacto que Ele fez
com os homens é frequentemente chamado na Escritura de aliança
do Senhor, como aparece em Salmo 25:14, Isaías 56:4, 6 e em
outras passagens.
2. Não obstante, um relacionamento pactual com Deus e o
interesse[77] nele não resultam imediatamente da proposta de um
pacto e dos termos de um relacionamento pactual com o homem.
Mas é através da restipulação na que homem entra, de fato, em um
pacto com Deus e se torna parte interessada nesse pacto. É por
consentimento mútuo das partes pactuadas que o relacionamento
pactual é estabelecido e completado. E isso é chamado de uma
garantia de que o Senhor passa a ser o Deus deles, mediante o
consentimento dos termos de um pacto proposto a eles
(Deuteronômio 26:16-18); uma assinatura com a mão ao Senhor
(Isaías 44:5); e se apossar de sua aliança (Isaías 56:4, 6). A ideia
formal de uma aliança estabelecida ou feita inclui comprometimento
mútuo.
3. Outrossim, não pode haver um pacto de benefício mútuo
entre Deus e os homens como pode haver entre um homem e outro.
Pois o ser e o bem-estar de todas as criaturas necessariamente
dependem da generosidade de seu Criador. Não há nada que elestenham que não tenha sido recebido dele e, portanto, o melhor
deles nada pode oferecer senão o que é devido a Deus pela lei de
sua criação. Ninguém pode ser proveitoso para a Deus,[78] embora
ser justo é proveitoso tanto para si mesmo quanto para o próximo.
Consequentemente, ninguém pode fazer Deus estar em alguma
obrigação para com ele e nem fazer dele seu devedor, exceto se Ele
mesmo condescender e se obrigar a isso por meio de uma aliança
ou promessa.
A Ideia Geral de um Pacto e as Inferências Disso
§. 3. A ideia geral de qualquer pacto de Deus com os homens,
considerada da parte de Deus e como proposta por Ele, pode ser
concebida como “uma declaração de sua vontade soberana no que
diz respeito aos benefícios que Ele concederá aos homens, a
comunhão que os homens terão com Ele, e a forma e os meios
pelos quais os homens usufruirão dele”.[79]
Para entender melhor o que pretendo com essa definição
geral, proporei brevemente algumas particularidades que estão
subentendidas nela ou que são as consequências necessárias dela.
1. Essa definição implica em um ato livre e soberano da
vontade divina exercido em amor e bondade condescendentes. Não
é por nenhuma necessidade da natureza que Deus entra em aliança
com os homens, mas por Sua própria boa vontade. Tal privilégio e
intimidade com Deus, como aquele que está incluído em um
benefício pactual, não pode resultar imediatamente do
relacionamento que eles têm com Deus como criaturas racionais,
mesmo se fossem justos ou perfeitos. O direito do homem à
promessa é dado gratuitamente por Deus através da promessa da
aliança.
2. A ideia de uma aliança acrescenta certeza para essa
promessa, uma vez que implica um vínculo especial de favor e
amizade que pertence à relação e ao interesse pactual. Pois uma
aliança é o alicerce de um relacionamento entre as partes
envolvidas nela. O tipo e o benefício desse relacionamento são
determinados pela própria aliança e sua natureza, promessas e fins.
3. O propósito imediato e direto de Deus ao entrar em um
pacto com o homem em algum momento (no que diz respeito ao
próprio homem) é a progressão e o aperfeiçoamento de seu estado.
Deus nunca fez um pacto com o homem no qual Sua bondade para
com ele não tenha se manifestado abundantemente. Sim, tal é Sua
infinita generosidade que Ele nunca propôs um fim menor para suas
transações pactuais com o homem do que trazê-los para um bendito
estado de alegria eterna nele próprio. Assim, quando um pacto
(devido à fraqueza do homem em seu estado caído) foi considerado
fraco ou inútil para esse grande fim, por ser insuficiente para efetuá-
lo, Deus encontra falha nele, aboli-o e introduz outro no qual é feito
uma provisão completa para a salvação perfeita daqueles que são
participantes dele (Hebreus 8:7-8).
4. O amor benevolente e condescendente demonstrado por
Deus ao entrar em um pacto com o homem fortalece aquele vínculo
de amor e obediência a Deus sob o qual o homem se encontra pela
lei de sua criação, ao acrescentar-lhe um novo dever. Então, o
pecado do homem ao quebrar o pacto com Deus é ainda maior, e é
acompanhado de maior agravo do que a transgressão deliberada de
uma lei, se nenhum relacionamento pactual como esse tivesse sido
acrescentado a ela.
5. Assim, a revelação do conselho da vontade de Deus em um
pacto proposto ao homem está longe de eliminar a restipulação por
parte do homem, ao contrário, essa revelação atribui um dever
necessário de sua parte. Esse não é o caso das transações pactuais
entre partes iguais, nas quais uma parte tem a liberdade de recusar
o pacto oferecido pela outra parte. Mas a compreensão de nossa
infinita distância, como criaturas, em relação a Deus, da
dependência que necessariamente temos recebido dele e do dever
que temos para com Ele por causa da inalterável de nossa criação
(bem como do nosso próprio benefício e proveito), nos obriga a
aceitar com gratidão e santo temor tanto os benefícios que Ele nos
oferece como os termos sob os quais eles são oferecidos nesse
pacto. Devemos cumprir diligentemente o que Ele nos ordena para
alcançarmos os fins propostos no pacto.
6. Além disso, essa restipulação (e, por conseguinte, o modo e
a maneira de se obter as bênçãos pactuais, bem como o direito pelo
qual nós as reivindicamos) necessariamente varia de acordo com as
diferentes naturezas e termos desses pactos que em algum
momento Deus faz com os homens. Se o pacto é de obras, a
restipulação se dá ao fazer as coisas requeridas nele, ao cumprir
suas condições por prestar uma obediência perfeita à sua lei. Assim,
a recompensa é devida de acordo com os termos de tal pacto
(Porém não devemos entender isso como um débito absoluto de
Deus para com os homens, mas como um débito por causa da
aliança, pois Deus obrigou-se a tal por meio dela). Mas se for um
pacto de graça livre e soberana, a restipulação requerida é o
recebimento humilde das promessas sobre as quais o pacto é
estabelecido ou crer nelas sinceramente. Portanto, a recompensa
ou a benção pactual é dada imediata e eminentemente por graça.
7. Portanto, quer a glória e o bem de qualquer pacto que Deus
faz com os homens sejam considerados em absoluto ou em
comparação com outro pacto, eles devem ser mensurados
principalmente por suas promessas e condições. Se uma aliança é
estabelecida em melhores promessas (i.e., prometendo um bem
mais excelente ou de forma mais excelente) que outra, então por
causa disso ela é chamada de — e por essa razão deve ser
estimada por nós como — uma aliança melhor do que a outra
(Hebreus 8:6).
Deus Sempre Lidou com os Homens por Meio de Aliança
§. 4. Além do mais, é oportuno observar que o Deus santo e
sábio sempre se relacionou com os filhos dos homens por meio de
aliança. A revelação da sua bondade infinita sempre acompanhou a
revelação de sua glória infinita ao tratar com o homem. Assim, Ele
não agiu para com os filhos dos homens exigindo o máximo direito
de sua soberania e domínio sobre eles. Se Ele houvesse feito isso,
jamais teria havido nenhuma recompensa de bênçãos futuras
designadas para serem e obtidas por meio da obediência deles,
como há por meio da aliança. Nem eles seriam trazidos a qualquer
relacionamento mais íntimo com Deus do que aquele que resultou
de sua criação. Mas o Deus grandioso não se manteve distante do
homem, ao contrário, foi condescendente em entrar em um acordo
com eles. Deus requereu obediência deles em algumas coisas além
dos ditames imediatos da lei da natureza por meio de instituições
positivas[80] e, assim, se agradou em também obrigar a si mesmo a
fazer coisas que estavam além de seu dever Criador ao fazer a
promessa de uma recompensa benevolente.
Então, devido a isso, segue-se que toda a adoração e
obediência que Deus requer e aceita dos filhos dos homens se dá
em termos pactuais. Acrescente-se a isso o fato de que a habilidade
ou capacidade moral dos homens para agradá-lo também lhes foi
dada, ou operada neles, de acordo com os fins do relacionamento
pactual. Portanto, essa habilidade deve ser o acréscimo inseparável,
não da proposta do pacto para eles considerada em si mesma, mas
naquela participação no pacto no qual eles foram admitidos. Disso
decorrem várias consequências.
1. Uma vez que os homens tenham caído sob a culpa de ter
quebrado o pacto por causa de sua própria falha, então eles tornam-
se completamente incapazes de prestar qualquer obediência
aceitável a Deus de acordo com os termos daquele pacto que
quebraram. A participação deles naquele relacionamento pactual foi
perdida. Eles permanecem sob a sanção penal do pacto, contudo
são completamente privados do poder para responder aos fins
daquele pacto e perdem completamente seu direito à recompensa
desse pacto.
2. Se eles não têm mais força para alcançar a condição e o fim
da aliança, na qual uma vez foram participantes e possuíram e
princípios adequados a ela, então, enquanto permanecem em seu
estado caído, eles possuem ainda menos força para cumprir os
termos de outra aliança mais excelente e misteriosa e totalmente
sobrenatural quanto à sua doutrina

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