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O%20TRANSTORNO%20MENTAL%20E%20A%20DESINSTITUCIONALIZAÇÃO

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O TRANSTORNO MENTAL E A DESINSTITUCIONALIZAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TRANSTORNO MENTAL E A DESINSTITUCIONALIZAÇÃO 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como trabalho de conclusão Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, sob a orientação da Profa. Rosângela Carreira Ortegosa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TRANSTORNO MENTAL E A DESINSTITUCIONALIZAÇÃO 
 
 
 
Monografia apresentada como trabalho de conclusão Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos, sob a orientação da Profa. Rosângela Carreira Ortegosa. 
 
 
______________________________ 
 Rosângela Carreira Ortegosa Faculdades Guarulhos. 
 
 
 
______________________________ 
 Gláucia T. Purin Banca Examinadora Faculdades Guarulhos. 
 
 
______________________________ 
 Valquíria M. Ramos 
 Banca Examinadora Faculdades Guarulhos. 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS 
2020 
SARAH OLIVEIRA LIMA 
SARAH OLIVEIRA LIMA 
SARAH OLIVEIRA LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para os meus pais, que sempre acreditaram no meu potencial. 
 
 
Agradecimentos 
 
Primeiramente meus agradecimentos aos meus pais, Sandra Neves de oliveira lima e Adilson Sousa lima. Obrigada por incentivarem meus estudos, me apoiarem nas decisões que faço e sempre contribuindo e dando suporte para que a conclusão do meu curso. 
Agradeço também as minhas amigas Thalita Archanjo e Tatiane Ribeiro, pois, quando estive desmotivada para a realização deste trabalho elas foram as que mais me ajudaram e incentivaram, obrigada pelos conselhos e apoio para a conclusão desse projeto. 
A minha orientadora Rosângela Ortegosa, por todos seus conhecimentos e orientação para que meu projeto conquistasse excelência. 
Obrigada aos meus irmãos Lucas, Renata e Eduarda, que embora imperfeitos, alegram os meus dias. 
Meus últimos agradecimentos ao Caio Tucci, Thais Helena e Sidney Vieira por estarem presentes nesses cincos anos ao meu lado me incentivando e torcendo por mim e meus estudos. 
Para todos aqueles qual passaram por essa trajetória junto a mim, muito obrigada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois, é a loucura que detém a verdade da psicologia” 
Michel Foucault.
 
 
• Sarah Oliveira Lima. O transtorno mental e a desinstitucionalização. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos. Guarulhos, 2020, 27 p. 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho visa reconhecer o despreparo que temos como sociedade para a inclusão de uma pessoa com transtorno mental. Sabe-se que o movimento da reforma psiquiátrica tomou grande proporção, começou a se discutir e reivindicar melhorias na qualidade de vida destas pessoas. Porém mesmo, com a luta antimanicomial a inclusão social ainda é uma grande barreira. Este trabalho tem como objetivo estudar toda a história da loucura e entender os estereótipos causados em cima dos doentes mentais, além de estudar como a visão da sociedade favorece na influência para uma desinstitucionalização de qualidade. 
Para a realização do trabalho houve embasamentos em cima de uma revisão de literatura, onde se pesquisou toda a trajetória da história da loucura, além de estudar a visão atual que a sociedade tem sobre os pacientes com transtorno mental, para que assim pudéssemos entender que somos uma sociedade corresponsável, pois apesar de todos os avanços ainda temos uma visão muito estereotipada e pejorativa em torno das doenças mentais, prejudicando assim a inclusão social desses indivíduos. Para a finalização e conclusão do trabalho foi realizada uma análise cinematográfica do filme O coringa. 
 
Abaixo palavras-chave: transtorno mental; reforma psiquiátrica. (loucura; história da loucura; exclusão social.) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 
2. OBJETIVO .................................................................................................................. 3 
2.1 Geral .............................................................................................................. 3 
2.2 Específicos .................................................................................................... 3 
3. REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................... 3 
3.1 A historia da loucura ..................................................................................... 3 
3.2 A reforma psiquiátrica .................................................................................... 7 
3.3 A reforma psiquiátrica no Brasil .................................................................... 8 
3.4 A visão da sociedade sobre o doente mental ............................................... 9 
3.5 Influencias externas na reinserção do doente mental................................ 11 
4. METODOLOGIA ....................................................................................................... 14 
5. METODOLOGIA: ANALISE DE FILMES ................................................................. 15 
5.1 Instrumento .................................................................................................. 16 
5.1.1 Resumo do filme – O coringa .................................................................. 16 
5.1.2 Analise de dados ...................................................................................... 17 6. ANALISE DA OBRA CINEMATOFRAFICA .............................................................. 18 
6.1 Cena 1 – Visão de mundo por Arthur ........................................................ 18 
6.1.1 Analise da cena 1 ..................................................................................... 18 
6.2 Cena 2 - Descredibilidade ........................................................................... 19 
6.2.2 Analise da Cena 2 .................................................................................... 19 
6.3 Cena 3 – A piada ........................................................................................ 20 
6.3.3 Analise da cena 3 .................................................................................... 20 
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................................................22 
8. CONSIDERAÇOES FINAIS .................................................................................... 24 
REFERENCIAS BIBILOGRAFICAS ............................................................................ 26 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Sabe-se que o doente mental era visto como louco, sendo levado a uma exclusão social onde era mantido e esquecido em hospital psiquiátrico. Apesar do grande avanço com o movimento da reforma psiquiátrica, quando se começou a discutir melhorias na qualidade de vida destas pessoas. Ainda hoje a inclusão social tem sido um processo de paradigma que envolve uma transformação cultural. 
 
Para a realização do trabalho foi utilizada a revisão de literatura e análise cinematográfica do filme O coringa,com isso o objetivo foi o estudo da trajetória da história da loucura e seus avanços, buscando observar como as influências sociais têm forte impacto na desinstitucionalização do paciente. 
 
Dessa forma decidi me debruçar na temática sobre transtorno mental e a desinstitucionalização. O desejo de falar sobre o tema surgiu através de uma experiência de estágio no CAPS (centro de atenção psicossocial) onde tive a oportunidade de conhecer os pacientes. Dentro desse estágio percebi o quanto a maioria dessas pessoas tem como único ambiente de interação social o próprio CAPS, eles são nitidamente excluídos pela sociedade e não possui oportunidades de relações interpessoais. 
 
Foucault em sua obra “A história da loucura” (1972) faz uma crítica às práticas psicológicas e psiquiátricas. Entendendo que a loucura não é algo natural ou uma doença, mas uma questão histórica e cultural. A história da loucura e a sua exclusão tem início com a necessidade de conter a lepra. A partir dos leprosários, surge a ideia dos hospitais gerais que na época não tinham contribuição da medicina apenas serviam para se hospedar essas pessoas. Com a lepra controlada, esses espaços passam a ser utilizados para tratar todo tipo de doentes, inclusive loucos 
(FOUCAULT, 1972). 
 
Na década de 70 o Brasil estava sob comando da ditadura militar, nesse mesmo momento estava acontecendo o movimento da reforma sanitária, para rever as questões de saúde no país. Na época era muito difícil acessar serviços de saúde no país. Só em 1988 que acontece o grande marco do movimento social pelos direitos dos pacientes com transtornos mentais. O movimento dos trabalhadores de saúde mental teve como objetivo a melhoria no tratamento para pacientes com transtornos mentais e também a denúncia contra os maus tratos que aconteciam em hospícios e manicômios (BATISTA, 2014). 
 
A exclusão do doente mental foi normalizada por um grande período, influenciando para que ainda hoje haja resquícios dessa exclusão, como afirma 
Desviat (MACIEL, 2008). 
 
Assim, está pesquisa é socialmente relevante para que possamos entender como a sociedade tem importância e influências para que a desinstitucionalização desses pacientes tenha avanços relevantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. OBJETIVOS 
 
2.1 Geral 
 O presente trabalho tem como objetivo compreender como a sociedade interfere na reinserção do doente mental. 
 
2.2 Específicos 
a) Estudar a História da Loucura; 
b) Entender a reforma psiquiátrica; 
c) Estudar a visão da sociedade sobre o doente mental; 
d) Compreender como a visão social pode interferir na reinserção do doente mental. 
 
3. REVISÃO DE LITERATURA 
 
3.1 A história da loucura 
 
Segundo Rooney (2016), em sua obra “A história da psicologia”, foi por falta de argumento que a doença mental era relacionada a causas sobrenaturais. Os médicos do oriente atribuíam a doença mental ao desequilíbrio dos humores, já os árabes acreditavam que eram causadas pelas entidades. Na Europa, a igreja católica acreditava em demônios e espíritos malignos. 
Antes da expressão “doença mental” eram chamados de lunáticos, idiotas, imbecis e retardados mentais como significado médico. Qualquer mínimo comportamento considerado “estranho” pela sociedade era suficiente para serem acusados de bruxaria e condenados à morte. As explicações para a causa de doenças mentais tiveram interpretações sobrenaturais por um longo período. 
Segundo Rooney (2016) a melhor opção de cura na época era através de práticas de feitiços, talismã e orações, ou até mesmo o uso de tratamento de “trepanação”, método onde se cortava uma parte do crânio com algum objeto pontudo, acreditando na expulsão de espíritos. 
Como relata Ronney (2016) Sigmund Freud e Joseph Breuer foram os primeiros a estudar as causas dos distúrbios emocionais. Segundo Freud as experiências negativas vividas na infância podem se tornar traumas na vida adulta. 
Como cita Ronney (2016) Emil Kreapelin diz que as doenças psiquiátricas são causadas por desordens genéticas e biológicas. Desenvolvendo um novo método de diagnóstico Kreapelin foi o pioneiro no campo da psicofarmacologia, inspirando a publicação do Diagnostic and Statistical Manual (DSM- manual diagnóstico e estatístico feito para definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais). 
Foucault em sua obra “história da loucura” (1976) faz uma crítica às práticas psicológicas e psiquiátricas. Entendendo que a loucura não é algo natural ou uma doença, mas uma questão histórica e cultural. A loucura antes de ser motivo de exclusão era comum ser vista entre obras artísticas. Os loucos que de certa forma produziam para a sociedade eram tolerados, mas os loucos com comportamentos considerados estranhos, incluindo os alcoólatras eram aprisionados em navios com objetivo de purificação, chamado de a nau dos loucos. 
 
Confiar o louco aos marinheiros é com certeza evitar que ele ficasse vagando indefinidamente entre os muros da cidade, é ter a certeza de que ele irá para longe, é torná-lo prisioneiro de sua própria partida. Mas a isso a água acrescenta a massa obscura de seus próprios valores: ela leva embora, mas faz mais que isso, ela purifica. (FOUCAULT, 1976, p. 16) 
 
A história da loucura e a sua exclusão dá início com a necessidade de conter a lepra. A partir dos leprosários, surge a ideia dos hospitais gerais que na época não tinham contribuição da medicina apenas serviam para se hospedar essas pessoas. 
Com a lepra controlada, esses espaços passam a ser utilizados para tratamento das doenças venéreas. Logo, os leprosários também passam a ser usados para tratar todo tipo de doentes, inclusive loucos. Segundo Foucault (1996) a grande internação da loucura é quando ela passa a ser percebida na pobreza 
 
Momento em que a loucura é percebida no horizonte social da pobreza, da incapacidade para o trabalho, da impossibilidade de integrar-se no grupo; o momento em que começa a inserir-se no texto dos problemas da cidade. 
(Ibidem, p. 89) 
 
Segundo Ronney (2016) em XVII os manicômios começaram a crescer com intuito de renda através do espetáculo dos “lunáticos”, atração turística paga para ver os loucos, além de lucrar com as famílias que queriam se livrar dos loucos. 
Segundo Desviat (2015) o encarceramento de pessoas que não produziam para a sociedade como, mendigos, desempregados ou sem tetos, serviu para ocultar a miséria. 
Para Foucault (1976) a internação foi usada como instrumento político-social, sem qualquer contribuição médica, apenas com o objetivo de exclusão daqueles incapazes na produção social. Com o passar dos períodos a loucura passa a ser encarcerada, por conta da incapacidade dos loucos de produzirem para a sociedade. Até que a loucura começa a ser chamada de alienação mental e surgem os asilos com a contribuição da medicina, proposto por Philippe Pinel e separa-se os doentes mentais dos demais marginalizados. 
Pinel liberta os loucos e defende sua reeducação através do controle social e moral. Apesar das internações as práticas propostas eram mais humanizadas, se falava de valores, família, religião e trabalho. As práticas usadas nesses asilos, propostas por Pinel para a reeducação social, eram através de camisas de força e banhos de água fria. “O exercício ao ar livre, os passeios regulares, o trabalho no jardim e na fazenda têm sempre um efeito benéfico "e são favoráveis à cura dos loucos" (FOUCAULT, 1976, p. 514). 
 
O objetivo desses asilos eram tratar os doentes mentais com métodos “humanizados”, porém os doentes mentais eram isolados do seu convívio familiar com a ideia de mudar toda sua rotina. “Distancia-los do seu local de residência e separa-los da família... E assim os doentes ficariam cercados por estranhos e com novos hábitos de vida”. (ROONEY, 2016, p 204). 
 
Segundo Foucault (1976) a loucura passa a ser vista como o oposto da razão, e compreende-se que os asilos seriam o melhor método de cura para essas pessoas e de protege-las da sociedade. Como proposta de cura o trabalho passou a ser usado como método de formaros alienados úteis para a sociedade. Apesar da mudança dos manicômios para os asilos as pessoas começaram a reconhecer a necessidade da reforma psiquiátrica, pois como o número de pacientes aumentou em grande proporção mais uma vez os pacientes estavam passando por situações de condições deploráveis. 
Como reconta Ronney (2016) Esquirol diferencia demência (doença mental) e amência (deficiência mental). Tendo grande contribuição na reforma de asilos e hospícios franceses, fundou o primeiro curso para o tratamento das enfermidades mentais e a aprovação da primeira Lei de Alienados na França. 
Narra Ronney (2016) que no século XX a ciência começa a realizar tratamentos radicais para a cura de transtorno mental. O tratamento mais conhecido era realizado através de eletroconvulsoterapia (ECT) técnica de tratamento psiquiátrico no qual são provocadas alterações na atividade elétrica do cérebro na região temporal, causando convulsão. Era comum que os pacientes se machucassem durante as seções quebrando alguns ossos por conta da dor de se debaterem. Acreditavam que a convulsão diminuía sintomas de depressão e esquizofrenia, porém com os avanços na psicofarmacologia esse método foi deixando de ser comum. Nos dias atuais para realizar a ECT é necessário o consentimento do paciente e hoje é realizado sob condição de anestesia geral. 
Ao longo da história da loucura por muito tempo os pacientes sofreram negligência e preconceitos pela sociedade, podemos identificar que os transtornos mentais por um longo período foram tratados como uma questão social, toda exclusão cometida com os pacientes, desde uma visão de fenômenos sobrenaturais até os manicômio e asilos não tinham apenas como objetivo protege-los da sociedade, mas acima de tudo passar uma visão de sociedade limpa, excluindo aqueles que de certa forma eram diferentes do considerado normal para a época e que não produziam para a sociedade. 
Os pacientes não tinham a oportunidade de escolher a forma de vida que desejavam, foram afastados de suas famílias, mercado de trabalho e seus direitos como ser social. A psiquiatria daquela época tinha apenas como objetivo reeducá-los para que pudessem retornar a sociedade prontos para o trabalho, afinal de alguma forma, era necessário dar continuidade ao processo de crescimento da cidade burguesa. 
Segundo Foucault (1976) os trabalhos oferecidos nós asilos traziam melhoria para os doentes e eram uma das mais fortes intervenções para a época “O exercício ao ar livre, os passeios regulares, o trabalho no jardim e na fazenda têm sempre um efeito benéfico “e são favoráveis à cura dos loucos” (FOUCAULT, 1976, p.514). 
 
Com o passar do tempo algumas transformações começaram a aparecer e com isso um novo olhar para com os doentes mentais, novas formas de tratamento foram usadas e novas lutas para a reformar da psiquiatria surgiram. 
O cenário da loucura inserida em um mundo capitalista, que causa uma exclusão daqueles vistos como inúteis para a sociedade, passar a entender o lado do paciente e reivindicar seus direitos. As mudanças começaram a ocorrer não somente na visão da medicina, mas todo um contexto social começou a ser transformado. 
Apresentarei a trajetória histórica da Reforma Psiquiátricas Italiana, introduzida por Franco Basaglia e a Brasileira. 
 
Quando dizemos não ao manicômio, estamos dizendo não à miséria do mundo (BASAGLIA, 1982 apud LAKI, 2017 p. 8). 
 
3.2. A reforma psiquiátrica 
 
Com a grande internação começam a não dar conta de tantas pessoas que estavam sendo internadas. A falta de um lugar para dormir, remédios, cuidados básicos e até mesmo a higiene estavam se tornando muito difíceis. Dando origem as comparações de manicômios a campos de concentração. 
 
Vi-os nus, cobertos de trapos, tendo apenas um pouco de palha para abrigarem-se da fria umidade do chão sobre o qual se estendiam. Vi-os mal alimentados, sem ar para respirar, sem água para matar a sede e sem as coisas mais necessárias à vida. Vi-os entregues a verdadeiros carcereiros, abandonados a sua brutal vigilância. Vi-os em locais estreitos, sujos, infectos, sem ar, sem luz, fechados em antros onde se hesitaria em fechar os animais ferozes, e que o luxo dos governos mantém com grandes despesas nas capitais. (FOUCAULT, 1976, p. 56) 
 
O percursor da reforma psiquiátrica se inicia com Franco Basaglia, psiquiatra italiano que tem uma visão diferente em relação à psiquiatria, com o conceito de que a doença mental deve ser acompanhada e cuidada. 
 Laki descreve (2017) que em 1961, Basaglia assume a direção do hospital psiquiátrico de Gorizia observando de perto a exclusão praticada pelas instituições, almejando então a reforma de tratamentos mais humanizados desses lugares. Basaglia deu início às transformações dos manicômios, e a substituição desses locais por serviços territoriais e pelos direitos sociais desses doentes mentais. Com a psiquiatria democrática começa a se espalhar essa visão de reforma pelo resto do país revendo todas a questão da psiquiatria e dos próprios hospícios. 
Segundo Basaglia (2005 apud BATISTA, 2014) tanto a família e a escola quanto as prisões e os manicômios são as instituições da violência. 
A Reforma Psiquiátrica teve como principal objetivo superar o modelo de manicômio e usar de método a desinstitucionalização e a busca pela inclusão social, trazendo os direitos para as pessoas com transtorno mental. 
Segundo Laki (2017) Junto à ideia de reformar a psiquiatria no mundo inteiro começou a surgir novas propostas. Esses hospitais psiquiátricos se tornam locais como instituições, escolas e universidades. Basicamente Basaglia propôs na Itália que qualquer manicômio fosse fechado e que houvesse mudança nos direitos das pessoas com transtorno mental, como descrita na Lei 180, de 1978 conhecida atualmente como Lei Basaglia. 
 
3.3 A reforma psiquiátrica no Brasil 
 
Segundo Batista (2014) Na década de 70 o Brasil estava sobe comando da ditadura militar, onde nesse mesmo momento estava acontecendo o movimento da reforma sanitária, para rever as questões de saúde no pais e principalmente propor transformações. Na época era muito difícil acessar serviços de saúde no país. Só em 1988 que acontece o grande marco do movimento social pelos direitos dos pacientes com transtornos mentais. 
O movimento dos trabalhadores de saúde mental teve como intuito a melhoria no tratamento para pacientes com transtornos mentais e também a denuncia contra os maus tratos causados em hospícios e manicômios. 
O movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil iniciou no final dos anos 70 e Assim como na Europa, seu principal objetivo era lutar pelos direitos dos pacientes Psiquiátricos. 
Em 1986 acontece a 8ª conferência nacional de saúde, sendo um grande marco para a criação de um sistema único de saúde, o SUS. 
Como relata Batista (2014) em 1987 foi quando aconteceu o 2º congresso dos trabalhadores de saúde mental e, onde é exigido uma sociedade sem manicômios. No mesmo ano é construído o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), tendo uma grande relevância na estruturação da rede de cuidado em saúde mental. O objetivo do CAPS é oferecer atendimento à população, realizando atendimento e acompanhamento das pessoas com Transtorno mental e focando na reinserção social dos pacientes. 
 
Promover a inserção social dos usuários através de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrentamento dos problemas. Os CAPS também têm a responsabilidade de organizar a rede de serviços de saúde mental de seu território. (BRASILIA, 2004 , p. 13) 
 
Segundo Laki (2017) foi só no inicio da década de 90 que a ditadura é encerrada e se implanta um sistema único de saúde, em 2001 se implanta a lei 10.216 ou a lei Paulo delgado que prevê a proteção e os direitos de pessoas portadoras de transtornos mentais, com a proposta de buscar a autonomia e a e reinserção social dos pacientes. 
 
3.4 A visão da sociedade sobre o doente mental 
 
Maciel et al, (2008) realiza algumas entrevistas semiestruturadas,na cidade de João Pessoa-PB, com 25 profissionais, dentre eles psiquiatras, psicólogos, enfermeira-chefe, técnicos de enfermagem e assistente social; e 24 familiares de pacientes institucionalizados. 
Na entrevista realizada a visão que a família tem com os pacientes é de medo com a instabilidade emocional. Como exemplo algumas das falas das famílias são: “... têm muito medo à sociedade e a família também...”, “... tenho falta de confiança...”, ““... A gente não confia, não é. “Fácil...” (familiares) (MACIEL et al, 
2008, p.117) 
 
Segundo Maciel et al (2008), a exclusão do doente mental foi normalizada por um grande período, influenciando para que ainda hoje houvesse resquícios dessa exclusão. Apesar de todo o avanço que a reforma psiquiátrica trouxe o doente mental continua passando por rotulações. 
Ainda segundo o autor, o avanço também deve ser melhorado na forma em como a sociedade olha para o doente mental, para que a desinstitucionalização seja feita por completo. 
 
Essa forma de representar a atitude da sociedade em relação ao doente mental, de forma exclusivamente negativa, faz com que a reforma Psiquiátrica e a desospitalização, com consequente Inclusão familiar e social, não ocorra, posto que a sociedade é representada como ameaçadora para este ser “indefeso”, surgindo o hospital como elemento protetor. (MACIEL et al, 2008, p. 119) 
 
Segundo Maciel et al (2008) a psiquiatria isolou o doente mental da família e da sociedade colocando-o em instituições. No que se refere aos manicômios, ou ocorre a sua transformação ou se propõe seu fechamento para que assim ocorra uma reforma, como afirma Desviat (1999). 
Maciel et al (2008) Afirma que a desinstitucionalização não se limita apenas na desospitalização, mas trata de um movimento de reconstrução de pensamentos, significa romper paradigmas. 
Segundo Salles et al (2006) é justamente a convivência na comunidade que favorece a formação dos relacionamentos que os pacientes têm. 
Segundo Viana (2002) só se pode afirmar que qualquer doença pode ser considerada inserida na sociedade quando ocorre na classe social do indivíduo e ela é respeitada pelos demais. 
Segundo Pelbart (1989 apud VIANA, 2002, p.88) “se nós realmente desejamos eliminar de nosso horizonte àquilo que é o outro de nossa cultura – a desrazão”. 
 
Ao longo dos anos a história nos mostra uma exclusão social sobre o transtorno mental, apesar dos avanços na medicina, nos tratamentos e na desinsitucionalização ainda ocorre de certa forma uma exclusão no olhar em que a sociedade tem sobe essas pessoas. Ainda há pessoas que relacionam transtornos mentais à loucura, o termo “loucura” está relacionado a comportamentos tidos como anormais pela sociedade, no entanto, o preconceito com doenças mentais ainda persiste. É necessário mudar o estereotipo de que quem tem transtorno mental está relacionado à anormalidade. 
Referente à inclusão social através do trabalho, ainda existe um grande desafio que corresponde ao modelo de uma produção capitalista, onde excluem do mundo do trabalho as pessoas consideradas improdutivas junto ao mercado. A conquista pela cidadania destas pessoas é um grande desafio que envolve diferentes espaços sociais, entre eles estão o convívio familiar, a escola, o trabalho, a igreja, dentre outros. Estes ambientes são principalmente importantes para fortalecer laços de empatia e socialização entre os indivíduos, cultivar laços de qualidade com vizinhos, família e amigos é extremamente importante para uma vida com mais qualidade. Deste modo, condições socioeconômicas, culturais, educacionais, dentre outras, devem ser levados em consideração. No entanto, é necessária a importância da estabilidade dos sintomas clínicos. 
Eles lutam por sua identidade mesmo sabendo que irão ter que lidar com o preconceito da sociedade de que são pessoas emocionalmente instáveis ou perigosas. 
 
3.5 Influencias externas na reinserção do doente mental 
 
Segundo Vygotsky (1934) o aprendizado ocorre em função do homem através das interações sociais, e essa formação se dá numa relação dialética entre o indivíduo e a sociedade ao seu redor, ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. 
Vygotsky (1934) fala sobre a mediação. Segundo a teoria, toda relação do indivíduo com o mundo é feita por meio de instrumentos, como, por exemplo, a linguagem que traz conceitos da cultura à qual pertence o sujeito. 
Para o autor todo ser humano é mutável, ninguém nasce e passa a sua vida sem adquirir novos conhecimentos e com isso transformando novas mudanças. A importância dos vínculos afetivos entre familiares, amigos, ambientes de trabalho, escola e comunidades são extremamente necessários para a nossa evolução como homens. 
De acordo com Vygotsky (1934) existem três pilares para o desenvolvimento, sendo eles o nível de desenvolvimento real, nível de desenvolvimento potencial e zona de desenvolvimento proximal, o autor chegou a essa teoria baseado nos seus estudos com crianças. O nível de desenvolvimento real trata do conhecimento que o indivíduo já tem consigo, fazendo com que o sujeito tenha capacidade de resolver situações de forma autônoma. O nível de desenvolvimento proximal é constituído através de estímulos, geralmente dialéticos que levam o sujeito a conseguir chegar à zona de desenvolvimento potencial, é nesse nível que se faz necessário os vínculos externos e as interações com o meio. A zona de desenvolvimento potencial é o nível em que o sujeito tem a capacidade de desenvolver novos conhecimentos, porém é necessário o auxílio de outros indivíduos. 
Dissemos que, em colaboração, a criança pode sempre fazer mais do que pode independentemente. No entanto, é preciso acrescentar: não infinitamente mais. A contribuição da colaboração para a performance da criança restringe-se aos limites determinados pelo estado de seu desenvolvimento e por sua potencialidade intelectual ( VYGOTSKY, 1987 apud DANIELS, 2003, p. 85). 
 
 Baseando se nas teorias de Vygotsky pode-se observar o quão importantes são as influências externas para o nosso desenvolvimento como individuo, não proporcionar uma total inclusão social para os pacientes com transtorno mental é proporcionar uma dificuldade de desenvolvimento para os mesmos. Como mencionado nos capítulos anteriores toda relação social se faz necessária. 
Segundo Vygotsky (1896 – 1934) o saber que não vem da experiência não é realmente saber. Por isso a inclusão deve ser mais do que as substituições de manicômios para novas instituições com novos métodos de psiquiatria. A oportunidade de trabalho e a quebra de estereótipos em relação aos doentes mentais devem ser melhoradas. 
Os avanços de diagnósticos, psicofarmacologia e da psicoterapia melhoraram a qualidade de vida dos pacientes, mas a qualidade da sua interação social ainda tem muito a ser melhorada, muitos desses pacientes tem apenas como comunidade de relacionamento, instituições como o CAPS, apesar de ser uma boa instituição não é saudável que a rotina do paciente seja fechada apenas nesse ciclo. 
A interação com diversas comunidades, especialmente no ambiente de trabalho, gera desenvolvimento de habilidades, alto realização, relacionamento interpessoal, disciplina e responsabilidade. É de extrema importância compreender que nós, indivíduos, funcionamos como um todo, ou seja, vários fatores influenciam ao mesmo tempo os nossos comportamentos, e as nossas escolhas. 
De forma resumida, não existe apenas o fator físico ou biológico que influenciam a doença mental, mas os fatores ambientais e os emocionais também são algumas das razões. 
Os fatores ambientais tem grande influência sobre nossas atitudes e nossas escolhas diárias, tanto externa quanto internamente, isto é, como nos sentimos e enxergamos a nós mesmos, dentro desse fator envolve aspectos sociais, culturais e econômicos. Como sociais podemos compreender todas as interações que temos com o outro. Nos fatores ambientais culturais podemos lembrar de todo o sistema de regras crenças, valores, costumes, leis, moral e línguas no qualestamos envolvidos. O econômico diz sobre as condições financeiras, podendo influenciar a vulnerabilidade social. Quando falamos da reinserção do doente mental devemos lembrar-nos de todos esses fatores mencionados, pois tudo isso influencia na qualidade da sua inclusão e até mesmo na melhora do transtorno. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. METODOLOGIA 
 
O presente trabalho parte da concepção de que para se estudar um fenômeno deve-se compreendê-lo e interpretá-lo a partir dos seus significados e do contexto em que está inserido. 
 
O presente trabalho parte da concepção de que para se estudar um fenômeno deve-se compreendê-lo e interpretá-lo a partir dos seus significados e do contexto em que está inserido. 
 
Segundo Denzin e Lincoln (2006) a pesquisa qualitativa é um conjunto de atividades práticas e interpretativas que dão visibilidade ao mundo, seja ele, representado por entrevistas, conversas, fotografias ou gravuras, uma vez que cabe ao pesquisador apresentar o entendimento e/ou interpretação dos fenômenos a partir dos significados que as pessoas atribuíram a ele. 
 
Para os autores, 
 
A pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos — estudo de caso; experiência pessoal; introspecção; história de vida; entrevista; artefatos; textos e produções culturais; textos observacionais, históricos, interativos e visuais — que descrevem momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos. Portanto, os pesquisadores dessa área utilizam uma ampla variedade de práticas interpretativas interligadas, na esperança de sempre conseguirem compreender melhor o assunto que está ao seu alcance. 
(DENZIN E LINCOLN, 2006, p.17) 
 
 
Dessa forma, neste trabalho pretende-se analisar o filme O coringa, pois apresenta aspectos relevantes da temática em estudo. 
 
 
 
 
5. METODOLOGIA: ANÁLISE DE FILME 
 
O cinema hoje, não tem só um sentido comercial, mas também passou a ser visto como um instrumento de possibilidades variadas. 
Conforme Nascimento (2008) a “força e a abrangência da linguagem imagética, seja de qualquer natureza, é uma das principais características do mundo moderno” (p.10). 
Segundo Carvalho (1998) o mundo do cinema está prenhe de historicidade, pois é produto do seu tempo, reproduzindo a relação dos homens consigo mesmos. 
 A autora aponta ainda que em um filme além da apresentação dos elementos audiovisuais, é representado não só um dado momento histórico, mas também como o ser humano vive, pensa e se relaciona. É preciso dissecar os significados ocultos, porém presentes. 
Um filme se constitui numa fonte alternativa para se compreender a realidade histórica e social, pois ao apresentar as particularidades da vida real, permite observarmos as ações dos homens no seu cotidiano, possibilitando uma apreensão palpável dos comportamentos humanos (CARVALHO, 1998). 
Para a mesma autora qualquer gênero de filme pode se transformar num instrumento de análise da realidade, porque o filme propicia a reflexão sobre fatos e acontecimentos, a partir do contato com as imagens, estimulando a capacidade de análise. 
Fazer a leitura de um filme buscando apreender seu significado global expresso por símbolos, ideias, valores e sentimentos e relacionando-o com o objetivo proposto no trabalho, pressupõe propiciar uma relação entre o conteúdo teórico com os comportamentos e situações apresentados no filme (CARVALHO, 1998). 
Assim foi analisado o filme “O coringa” porque apresenta uma história pertinente aos objetivos deste trabalho. 
 
 
 
5.1 instrumento 
 
5.1.1 resumo do filme – O coringa 
 
Diferente dos filmes já vistos do Coringa, em que apenas retravam o personagem como um vilão, nesse novo enredo é aprofundado a vida do personagem, não como um psicopata, mas como um psicótico. 
O filme retrata a vida de Arthur Fleck um homem que sofre de um problema neurológico que faz com que ele ria em momentos inapropriados e, por isso, visita regularmente um serviço de assistência social para adquirir remédios. Ele trabalha como um palhaço, enquanto mora com sua mãe, Penny, em Gotham City. Arthur se relaciona com poucas pessoas até conhecer Sophie, uma mãe solteira que vive no mesmo prédio que ele, a quem ele convida para conhecer seu outro trabalho como comediante de stand-up. 
Devido aos seus problemas mentais Arthur nunca é levado a sério e as pessoas sempre associam suas falas com a mentira ou desrazão. Após ser demitido, por estar carregando uma arma no seu trabalho, cujo um colega de trabalho lhe deu para que pudesse se defender do perigo da sociedade. Arthur reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos geram uma série de protestos contra os ricos de Gotham em que os manifestantes se fantasiam de palhaços tal como o assassino não identificado. Posteriormente, Arthur descobre que o programa de assistência social teve seu orçamento cortado e ele ficará sem seus remédios. 
Arthur lê uma carta de sua mãe para o bilionário e candidato a prefeito Thomas Wayne, para quem ela trabalhou por 30 anos; na carta, ela alega que Arthur é filho de Thomas. Depois de se exaltar com sua mãe, Arthur vai até a mansão Wayne atrás de satisfações. Mas ele só encontra o filho de Thomas, Bruce, e é barrado por um segurança, a quem Arthur agride através do portão antes de fugir. Quando ele chega em casa descobre que sua mãe sofreu um acidente vascular cerebral e foi internada depois que dois detetives interrogaram-na quanto à possibilidade do envolvimento de Arthur com as mortes no metrô. 
Após entrar disfarçado num evento, Arthur encontra Thomas, que diz que Penny (sua mãe) tem problemas mentais e não é sua mãe biológica. Depois dessa revelação, Artur avisa-o seriamente para não voltar a cruzar-se com seu filho. 
Descrente, Arthur vai ao asilo e rouba a ficha da sua mãe. Ele lê que ele foi adotado após ser abandonado quando era bebê e que Penny tinha um namorado abusivo que agredia ela e Arthur. 
Atordoado, Arthur vai ao hospital, mata sua mãe e volta para seu prédio, entrando no apartamento de Sophie sem avisar. Assustada, Sophie pede para ele sair e é revelado que os encontros anteriores entre os dois foram produtos da mente de Arthur. 
Isolado em seu apartamento, ignorando as ligações da polícia, recebe a proposta de aparecer no programa de Murray por causa da popularidade dos vídeos do seu show. 
Arthur é visitado por seus antigos colegas de trabalho Gary e Randall. Arthur mata Randall, mas poupa Gary, pois ele o tratava bem no passado. 
Antes de o programa entrar no ar, Arthur pede a Murray que o apresente como "Coringa", Arthur passa a contar suas piadas e assume o assassinato dos homens no trem e expressa sua raiva sobre o deboche de Murray e sobre como a sociedade trata pessoas como ele. Arthur então mata Murray e é preso, mas, inadvertidamente, provoca uma onda de protestos violentos. Outro grupo, usando uma ambulância, colide com o carro da polícia e liberta Arthur, que é aclamado pela multidão. 
Tempos depois, Arthur está num manicômio e ri sozinho, alegando a sua psiquiatra que ela não entenderia a piada. Arthur então foge pelos corredores, deixando um rastro de pegadas ensanguentadas. 
 
5.1.2 Analise de dados 
 
A análise de dados será realizada de forma qualitativa, utilizando 5 cenas do filme. A análise será realizada com base nos dados apresentados sobre a relação da sociedade com o Arthur e posteriormente, como o protagonista se relaciona com a sociedade. 
Serão levados em consideração a história da loucura e a sua reforma psiquiátrica e sua evolução até os dias atuais. 
 
 
 
6. ANALISE DA OBRA CINEMATOGRAFICA 
 
6.1 Cena 1 - Visão de mundo por Arthur 
 
Em uma das cenas iniciais do filme, Arthur está trabalhando em seu ramo de palhaço como divulgador de serviços e sofre um ataque contra três garotos que o veem trabalhando. Os meninos roubam sua placa de divulgação e fazem com que Arthur corra atrás deles, após um determinado momento em que Arthur se sente encurralado ele sofre agressões físicaspelos garotos fazendo com que o mesmo sinta dor ao ponto de não conseguir levantar, para que assim eles possam fugir do local. 
 Após o ocorrido Arthur vai para sua reunião com a assistente social e começa a ter manifestações de epilepsia gelástica (o transtorno que faz com que o personagem tenha crises de riso involuntário) após essa manifestação Arthur para de rir e diz uma frase “é impressão minha ou o mundo está ficando mais doido”, depois dessa frase a sua assistente social o responde dizendo “A tensão está grande, o povo sente um desconforto, estão lutando, procurando emprego, são tempos difíceis”. Com a resposta da assistente social, Arthur apenas sorri. 
 
6.1.1 Análise da Cena 1 
 
Esta cena é responsável por ilustrar a visão que o Arthur tem sobre a sociedade, pois apesar dele ser considerado o “louco” da história por conta dos seus comportamentos considerados anormais para a sociedade, para ele a loucura está nos comportamentos sociais, em que garotos roubarem a ferramenta de trabalho de um palhaço é simplesmente visto como “atitude de garotos”. 
É possível ver essa contradição em toda a história da loucura onde a igreja e a sociedade puniam, agrediam e excluíam o doente mental de todo o contexto social. 
Além dessa visão após a resposta dada pela assistente social Arthur se mostra desconfortável pela fala “A tensão está grande, o povo sente um desconforto, estão lutando, procurando emprego, são tempos difíceis” é notória que apesar de serem “tempos difíceis” para a população, para Arthur essa frase não faz sentido, pois para ele a dificuldade real está na forma em que a sociedade o trata com a falta de boas relações sociais. 
 
6.2 Cena 2 - Descredibilidade 
 
Nessa Cena após Arthur sofrer o roubo e as agressões físicas por três garotos, seus colegas de trabalho ficam sabendo do ocorrido e um deles lhe dá uma arma para que ele possa se proteger. Nessa mesma cena Arthur é chamado na sala do seu chefe onde o mesmo o questiona sobre o ocorrido com os garotos, ele diz “muita gente acha que você é doido, mas eu gosto de você, porém recebi outra reclamação” então seu chefe diz que ele deve pagar pela placa perdida, Arthur responde dizendo que ele sofreu agressões, então seu chefe o responde desacreditando “por um cartaz? Isso não tem logica”, Arthur então continua escutando todas as acusações sem se defender, apenas escutando as falas do seu chefe com um sorriso no rosto. Em um momento seu chefe fala “os outros caras não ficam a vontade perto de você, te acham estranho e eu não posso aceitar isso”. 
 
6.2.2 Análise da Cena 2 
 
Em uma análise simples é possível identificar como Arthur não é levado a sério, apesar de no filme mostrar que o personagem cuida da sua mãe, trabalha, cuida da casa, tem sonhos e pratica serviços sociais, parece que nada que ele faça é suficiente para ser levado a sério, mesmo sendo uma pessoa com uma vida normal como de qualquer cidadão. 
Os sintomas de seu transtorno fazem com que ele seja subestimado em todos os ambientes em que ele se encontra, provavelmente se qualquer outro colega de trabalho passasse pela mesma situação não seria questionado em dizer: “por um cartaz? Isso não tem logica”, além disso, na primeira oportunidade seu chefe mencionou seu transtorno como motivo do ocorrido “os outros caras não ficam a vontade perto de você, te acham estranho e eu não posso aceitar isso”. 
Arthur é apenas um personagem de um filme, dentro do contexto social, mas pessoas que apresentam algum sintoma de transtorno mental, muitas vezes perdem oportunidades por que a primeira coisa notada neles é o sintoma de seu transtorno, independentemente de suas qualidades, sonhos, vida e etc. Fazendo com que a desinstitucionalização como funciona dentro do contexto atual não tenha uma aplicabilidade eficaz, uma qualidade por completo. 
 
6.3 Cena 3 – A piada 
 
Arthur tem o sonho de trabalhar como comediante em Stand-up, na cena mencionada a seguir Arthur decide ir para um show de Stand-up em busca de inspiração para piadas. Em seu caderno Arthur usa como diário para suas reuniões com a assistente social, neste mesmo caderno ele relata seu humor e sentimentos e também usa como anotação para novas piadas. Após assistir ao show de stand-up Arthur percebe que as piadas tem um ar sarcástico, ao chegar em casa Arthur começa a anotar suas piadas, entre elas ele anota “A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você seja como se não tivesse”. 
 
6.3.3 Análise da Cena 3 
 
Entre tantas frases marcantes, essa, com certeza é uma grande crítica social, o fato de Arthur tratar isso como piada traz uma grande reflexão, porque apesar de parecer uma frase tão óbvia é assim que a sociedade trata o doente mental. 
Por muito tempo, as pessoas chamaram de “loucos” aqueles que sofriam de algum distúrbio psicológico. Infelizmente, até hoje isso está enraizado na sociedade. Somos uma sociedade incapaz de lidar com o diferente. 
Por conta de uma sociedade não acostumada a lidar com os ditos sintomas dos transtornos mentais, os indivíduos diagnosticados são sempre cobrados a agir como se não estivessem doentes. 
Essa frase usada nessa cena foi mais uma forma de Arthur demonstrar que a sociedade o culpa pelos seus transtornos mentais. No filme apesar de Arthur carregar consigo um cartão onde dizia “Desculpe a risada tenho uma doença, questão médica que causa incontroláveis gargalhadas não compatíveis com o sentimento.”, toda vez que ele mostrava esse cartão para justificar seu comportamento a atitude das pessoas sempre eram as mesmas, se afastar, virar a cara e até o agredir, como se ele tivesse que ter controle dos sintomas de seu transtorno e fosse obrigado a mudar seu comportamento. 
O uso de medicamentos e terapia é necessário para a melhoria dos sintomas do transtorno, mas ninguém escolhe ter um transtorno mental, as atitudes e pensamentos dessas pessoas condizem com a realidade delas, da mesma forma que nossas atitudes condizem com a nossa realidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES 
 
Diante das informações coletadas os resultados encontrados demonstraram a importância da visão social para a evolução da reforma psiquiátrica, referente ao doente mental observou-se que ainda existe uma atmosfera insatisfatória e visões estereotipadas. Relacionado ao tema da estereotipia para com o doente mental o autor Maciel entende que “Tais estereótipos encontram-se presentes, ainda hoje, com representações como sem-juízo, sem-razão e agressivo; com atitudes de medo e exclusão.” (MACIEL et al. 2008, p. 123). 
Segundo Laki “sobre as teorias da história da loucura, estigma e Exclusão social, percebi o lugar marginalizado das pessoas em sofrimento Mental na nossa sociedade, e a consequente negação de seus direitos.” (LAKI, 2017 p. 22). Tem se observado com as informações encontradas que a exclusão social dificulta a desinstitucionalização. 
 Por falta de conhecimento a doença mental foi relacionada a questões sobrenaturais, porém nos últimos anos, tem se observado que ainda hoje é comum essa associação, principalmente por relacionar as doenças mentais a falta de Deus. Assim como não evoluímos nas questões de estereótipos, da mesma forma que na história da loucura aqueles que não produziam para sociedade eram excluídos, ainda atualmente a sociedade tem uma visão capitalista pensando no crescimento da economia, então tornasse mais fácil e cômodo excluir aqueles que não tem contribuído para esse crescimento do que pensar na inclusão social. Segundo Foucault (1996) a grande internação da loucura é quando ela passa a ser percebida na pobreza. 
 Com isso percebe-se que apesar dos avanços ainda repetimos atitudes retrógradas. Esses são apenas dois exemplos do que aconteceu na história da loucura, entretanto, quando paramos para fazer uma discussão e comparação, percebemos o quanto ainda temos para evoluir, a temática abordada ainda é muito limitada, os conhecimentos são poucos e a evolução da reforma psiquiátrica não deve parar. 
O filme “Ocoringa” traz justamente todos esses aspectos de forma ilustrativa. 
Na obra cinematográfica o personagem tem uma doença mental e ele é justamente o vilão da história, trazendo todo o estereotipo de uma pessoa violenta, sempre que nas obras artísticas aparece um paciente psiquiátrico ele surge para matar alguém e com o filme O coringa não foi diferente. A história do personagem retrata a exclusão de muitos pacientes psiquiátricos, em vários momentos do filme percebemos um preconceito da sociedade e a dificuldade que o personagem tem com essa exclusão. 
No início do filme aparece cenas do personagem dando uma risada muito alta, por conta das crise de epilepsia gelástica, porém, como ainda está na abertura do filme não temos esse conhecimento, e é justamente para causar esse desconforto no telespectador da mesma forma que o personagem se sente quando as pessoas não entendem seu distúrbio neurológico. 
O filme nos coloca na visão do personagem principal o Arthur Fleck, é interessante o diretor colocar o telespectador nessa situação porque quando assistimos o filmes é comum se colocar no lugar do mesmo, tendo sentimentos de empatia por Arthur em toda a trajetória da obra. Com isso percebemos que existe uma sociedade corresponsável, pois muito da formação do personagem aconteceu através do contexto em que ele se encontrava e isso nos mostra como além da condição de saúde, o contexto e o ambiente tem influências sobre o paciente psiquiátrico. 
O estudo sobre o tema contribui e corrobora para que possamos obter conhecimento e quebrar paradigmas e preconceitos que tem se perpetuado por um longo período. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Ainda se percebe na sociedade dificuldade para pensar e lidar com a “loucura”, é comum ver através da sociedade a criminalização, injustiça e estigmas criados em cima dos doentes mentais. 
 Por sermos uma sociedade que não sabe lidar com o desconhecido, recorremos a uma exclusão social, com a finalidade de isolá-lo e solucionar o problema. Observa-se que a loucura vem de uma crítica social que normatiza e dita o que é normal. Essa visão de separar o que deve ser excluído ou não, tem uma grande Influência na qualidade da reinserção do doente mental. 
 A mudança de paradigma da saúde mental não se refere apenas a novos métodos de desinstitucionalização ou ao modo de cuidado; o olhar social para com o doente mental vai muito além da classificação dos sintomas em categorias, podemos afirmar que ainda não ocorre uma efetiva reinserção social dos usuários. A mudança no modo de tratamento da saúde mental tem como o CAPS o nosso melhor avanço, porém, a reinserção ainda não atingiu outros espaços que não o próprio CAPS. Como mencionado anteriormente os espaços para a participação do indivíduo com doença mental é muito limitado, as influências externas para a reinserção tem grande domínio para determinar a qualidade de vida do indivíduo. Como ser social temos necessidade de nos relacionarmos com outras pessoas, e assim como o ambiente tem influências sobre o indivíduo, o indivíduo tem influência sobre o ambiente. A internalização de novos conhecimentos é necessária para a evolução do indivíduo, um paciente que está limitado apenas a um ambiente perde a oportunidade de novos aprendizados, e isto faz parte do íntimo de cada um. 
A socialização com o outro nunca pode deixar de existir, pois, a razão da existência humana, as descobertas, que sabemos que existem, vem dessa troca de influências, a própria história da loucura e seus avanços partiram da forma de diferentes modos de observar uma única situação, O homem é um ser social e a sociedade é uma conquista, por meio dos processos interativos. É a partir da interação que o indivíduo desenvolve a comunicação estabelecendo o contato social e criando redes de relações, resultando em determinados comportamentos sociais. 
Resumindo é importante entender que as influências externas na reinserção do doente mental são extremamente necessárias e fazem parte da sua recuperação, é um conjunto da psiquiatria, psicofarmacologia, afeto, ambiente familiar, hospitalar, interação social, etc. A sociedade não é totalmente responsável pelo indivíduo, porém, é corresponsável, são vários fatores que definem a saúde do doente mental, um fator complementa o outro. 
Assim como na história da loucura apesar de vários métodos de correção para a melhoria dos pacientes muitos deles só causavam dor e sofrimento não tinha avanço na saúde do mesmo, só mais tarde, com novos métodos de tratamento inclusive tratamentos que focava na interação social que começa a haver avanço, qualidade e melhoria, pois assim, como as influências externas afetam, o isolamento também afeta. A questão do entendimento com a saúde mental como um todo é muito inicial ainda, infelizmente não temos muito avanço no cenário. 
 Pessoas que vivem um estado de isolamento sem terem sido inseridas na sociedade tanto no âmbito do desenvolvimento educacional, intelectual, cultural e todos os desenvolvimentos que existem na nossa vida, quando elas são inseridas para ter o contato com a sociedade, a forma de como serão recebidas é muito mais dura do que para aquela pessoa que já convive ao meio. 
Dessa forma percebemos neste trabalho que a visão social pode interferir na reinserção do doente mental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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