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A PSIQUIATRIA NO CINEMA

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Rio de Janeiro, 2020
A psiquiatria no cinema: registros de uma experiência didática com discentes do curso de medicina
franco, Amanda Campos (org.)
rodrigues, Joice Meire (org.)
genelhu, Gustavo Fonseca (org.)
isbn: 978-65-5531-000-0
1ª edição, novembro de 2020.
Editora Autografia Edição e Comunicação Ltda.
Rua Mayrink Veiga, 6 – 10° andar, Centro
rio de janeiro, rj – cep: 20090-050
www.autografia.com.br
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem 
prévia autorização do autor e da Editora Autografia.
SUMÁRIO
PREFÁCIO � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 7
INTRODUÇÃO � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 11
I. A MULHER INVISÍVEL � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 13
Amanda Campos Franco
André Campos Franco
Daniel Souza Marques
II. BICHO DE SETE CABEÇAS � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 27
Roberta Nantes Costa
Joice Meire Rodrigues
III. ESTAMIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 35
Lorena Dias Araújo
Hugo Henrique de Menezes Vieira
Letícia Nacife Gomes
IV. FRAGMENTADO � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 49
Caroline Kelly de Alvarenga
Thaís Carvalho Cunha
V. GERAÇÃO PROZAC � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 65
Paula dos Santos Ribeiro Laborne de Mendonça
VI. LOLITA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 71
Olívia Vieira Amaral
Andrea Marinho Cachapuz
VII. MAR ADENTRO � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 81
Letícia Torres Delunardo
VIII. MEU NOME NÃO É JOHNNY � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 89
Thiago Dornelas de Oliveira
IX. O HOMEM DUPLICADO � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 99
Tamilis Guidi Venturim
X. O MÍNIMO PARA VIVER � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 109
Joice Meire Rodrigues
Tatiana Martins de Freitas Carmo
Theresa Cristina Ricardo Soares
XI. PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 117
Felipe Lamas Peixoto
XII. SE ENLOUQUECER NÃO SE APAIXONE � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 127
Marcelli Eliotério Gaspar
XIII. TRAINSPOTTING � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 137
Gustavo Gomes de Sá
XIV. UM ELO DE AMOR � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 147
Katyusquya Pereira Guingo
XV. UM ESTRANHO NO NINHO � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 153
Vanessa Loures Rossinol
Bruno Loures Rossinol
Cristiano Magno Silva Sampaio
Daniel Pereira Balieiro
CONSIDERAÇÕES FINAIS � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 165
A psiquiatria no cinema • 7
PREFÁCIO
Apresentar uma obra é sempre tarefa difícil. Dizer da escrita alheia, dos propósitos e dos desejos que se passavam na mente dos auto-
res sempre incorre no risco de não se fazer justiça. Mas assim também 
é a tarefa do ensino e da clínica, em que sempre corremos o risco da 
ação não alcançar a intensão. Ainda sim, é preciso se lançar à aventura 
para colher os frutos, e nos deliciarmos com eles. O presente livro é o 
relato de uma aventura na qual os autores – docentes e discentes – se 
dispuseram a dividir parte do saber que adquiriram ao analisar obras 
cinematográficas que de alguma forma nos fazem pensar no campo da 
psiquiatria e da saúde mental
Esta obra é o relato de uma estratégia inteligente de abrir o inte-
resse de alunos médico e aproximá-los do território desconhecido e 
por vezes confuso e espinhoso da psiquiatria, tão apartada do restante 
da clínica médica por seu vocabulário próprio e um tanto enigmático, 
do descrédito social e dentro da academia, e do inevitável estigma que 
acompanha não só os portadores de transtornos mentais, mas também 
todos os assuntos e esforços direcionados ao que trata deles.
A estratégia de ensino da psiquiatria através da arte é naturalmente 
pertinente. Dentre as especialidades médicas, a psiquiatria é a que mais 
se aproxima das humanidades, e nesse sentido, sempre dialogou com 
as ciências humanas e com as expressões artísticas. E se essa ligação 
parece ir esmorecendo na atualidade, torna-se ainda mais necessário 
e enriquecedor retomar essa irmandade de objeto: estamos aqui para 
8 • A psiquiatria no cinema
observar e pensar sobre as formas de ser e se expressar do ser humano. 
E se por um lado a psiquiatria se beneficia do contato com a arte, a seu 
turno a educação se beneficia da provocação - do belo, do feio e do es-
panto - advinda da arte. Poucos casamentos parecem ser tão profícuos 
e naturais como provocar para a existência do negligenciado, provocar a 
reflexão sobre o que nos causa estranhamento e provocar o desejo de se 
aproximar e entender as manifestações da mente humana por meio da 
arte. E de todas as artes, possivelmente entre as mais acessíveis à diver-
sidade do público e possíveis de se implementar numa tarde de aula, e 
que ao mesmo tempo permite no tempo contado em horas-aula entrar 
em alguma profundidade num tema ou atmosfera, o cinema parece ser 
uma escolha estrategicamente difícil de se superar.
Pela utilização de uma linguagem acessível, mesmo a quem nunca 
teve contato com os conceitos da psiquiatria, este livro busca introduzir 
o leitor neste mundo conceitual. Assim sendo, podemos dizer que ele 
se destina e seria de proveito aos estudantes de diversas áreas da saú-
de, e mesmo aos profissionaisque não possuem grande contato com a 
psiquiatria e a saúde mental. O seu espectro abrange uma diversidade 
de tópicos que vão além das doenças mentais, para se tornar focos da 
atenção clínica se tivermos uma concepção mais ampla das necessidades 
de saúde e dos papéis que os serviços de saúde poderiam e deveriam 
prestar às pessoas. Assim, temos análises e reflexões sobre aspectos da 
política de saúde mental, das questões de identidade de gênero – tão 
atuais – da eutanásia, da conduta antissocial e de várias condutas que 
merecem o eterno esforço da saúde mental em tentar navegar nessa 
fronteira entre o normal e o patológico sem naufragar.
A estrutura da obra é de capítulos independentes que tratam cada 
um da análise de um filme. Se iniciam com um breve resumo da nar-
rativa do filme, destacando em seguida os aspectos psicológicos que 
apontam para possíveis patologias, e se encerram com uma análise con-
ceitual, baseada nas principais referências bibliográficas da atualidade, 
sobre as patologias em questão. Não se destinam a esboçar extensas 
A psiquiatria no cinema • 9
descrições sobre os transtornos mentais ou a examinar com o detalha-
mento e precisão do especialista de conteúdo, mas nem por isso deixam 
de apresentar os principais conceitos e mesmo alguns menos conheci-
dos pela maioria dos profissionais, como o de neologismo ou de alteração 
da consciência do eu, tão caros à psiquiatria na descrição da psicose.
Aqui um alerta se faz necessário. Chamo a atenção para o fato de 
que os filmes são criados para o entretenimento e, portanto, nem sem-
pre os sintomas e patologias são apresentados da forma como se os vê 
na vida real. Nem é a intenção desse projeto dar exemplos fidedignos 
de transtornos mentais através do cinema. Aliás, para se apreender essa 
realidade, só os cenários de prática seriam um bom instrumento peda-
gógico. O relevante aqui é a discussão e apreensão conceitual que pode 
ser levantada através da análise dos filmes, e não o compromisso – que 
a ficção não tem – de se parecerem com a realidade.
Esta obra, ao final, pode ser entendida como um disparador de 
ideias, um exemplo de instrumento factível de ser implementado em 
qualquer cenário de ensino – em graduações ou pós-graduações da 
área da saúde ou das humanidades – e que pode ser utilizado para auxi-
liar o aluno ou profissional a levantar hipóteses que propiciem melhor 
entendimento do paciente, de seus sintomas e do mundo à nossa volta, 
além de ilustrar a rara oportunidade de se ter prazer com uma experiên-
cia pedagógica.
Alex Fabrício de Oliveira
A psiquiatria no cinema • 11
INTRODUÇÃO
A psiquiatria está mais viva do que nunca nesta obra. E nada mais genuíno do que a sétima arte para aproximar as mais singulares e 
complexas experiências humanas psicopatológicas aos olhos do público. 
E o ingresso para este espetáculo não tem preço. Aqui há o choro e a 
alegria, o embotamento e a euforia, a psicose e a realidade; aqui histórias 
fictícias ganham nomes, lembranças, projetam sonhos, nos permitem 
cair, levantar, sentir e viver a vida na sua mais profunda intensidade.
O transtorno mental não é o inimigo, o sofrimento mental não é um 
pesadelo eterno, crônico, incurável. Sim, é um caminho a ser percorri-
do, mais árduo ou longínquo que seja. Nesta jornada, somos o autor de 
nossa própria história. Surgem recaídas, mãos de novos personagens se 
estendem, renascem esperanças e reescrevemos nossos próprios capí-
tulos. O epílogo é a consequência de como conduzimos nossos proble-
mas e enfrentamos os nossos medos.
A arte do cinema transcende a própria tela e transforma gerações. 
Muda paradigmas, mexe nas feridas da alma humana. A psiquiatria in-
corpora este aliado na luta contra a psicofobia e contra todas as formas 
de discriminação e preconceito. E para que as pessoas se engajem nes-
te ideal, é preciso conhecer profundamente vivências fenomenológicas 
dos transtornos mentais e como estes fenômenos se transformam em 
sintomas psicopatológicos.
Esta obra constitui-se um conjunto de análises psicopatológicas que 
dissecam as personagens principais de filmes com tema relacionado à 
12 • A psiquiatria no cinema
psiquiatria e à saúde mental, revelando sintomas e comportamentos 
anormais com rigor descritivo e semiológico. Destina-se, não exclu-
sivamente, a alunos de graduação, de pós-graduação, mas também a 
profissionais que dedicam o trabalho à saúde mental e aos amantes da 
sétima arte.
Que comecem as mais desafiadoras interfaces do espetáculo da Vida 
e da Mente Humana. Apresentamos-lhe a psiquiatria no cinema: regis-
tros de uma experiência didática com discentes do curso de medicina.
Gustavo Fonseca Genelhu Soares
A psiquiatria no cinema • 13
I. A MULHER INVISÍVEL
Amanda Campos Franco
André Campos Franco
Daniel Souza Marques
1. Apresentação/ sinopse
Gênero: comédia�
Direção: Cláudio Torres�
Roteiro: Cláudio Torres�
Idioma: português�
Lançamento: 5 de junho de 2009�
A mulher invisível é um filme brasileiro que tem no elenco Selton 
Mello, Luana Piovani, Maria Manoella, Fernanda Torres, Vladimir 
Brichta, entre outros. Esta produção cinematográfica retrata a vida de 
Pedro (Selton Mello) e sua preocupação em amar e ser amado.
O filme inicia com uma cena em que dois homens entram em seus 
apartamentos, um ao lado do outro em um condomínio. Um deles che-
ga e passa direto pela esposa Vitória (Maria Manoella) que está sentada 
na sala de casa, senta-se no sofá e ignora a presença dela. O outro ho-
mem, Pedro, tem nas mãos um buquê de flores e procura sua amada 
pela casa com nomes carinhosos. Ao encontrar com ela, a mesma pede 
o divórcio e sai de casa.
Por ser abandonado pela esposa, Pedro passa a levar uma vida pro-
míscua por alguns dias com muitas mulheres que eram diferentes dele. 
Passa então a viver triste e se isolando de todos. Após três meses assim, 
bate à sua porta a mulher mais bonita que ele já havia visto, pedindo 
14 • A psiquiatria no cinema
uma xícara de açúcar, era Amanda (Luana Piovani), sua mais nova vi-
zinha. Pedro logo se apaixona pela mulher linda, incrível, que faz tudo 
por ele e ainda gosta de futebol.
A trama segue com Pedro e sua mulher perfeita cujo único defeito 
era não existir. Enquanto seu melhor amigo Carlos (Vladimir Brichta) 
tenta lhe mostrar que ela é apenas fruto de uma imaginação.
2. A mulher invisível e a Psiquiatria
2.1 Análise Psicopatológica
A primeira cena que o telespectador presencia é a voz de um ho-
mem dizendo que ama uma mulher e que tem o desejo de se casar e ter 
filhos com ela. Tal momento evidencia um homem apaixonado e que 
idealiza um futuro feliz. Essa voz mais adiante pode ser reconhecida 
como sendo do personagem protagonista, Pedro.
Logo em seguida o ambiente muda para o hall de um prédio, onde 
dois vizinhos entram em seus apartamentos. Um deles tem em mãos 
uma arma de fogo, passa pela esposa que está na sala de estar, igno-
rando a presença dela naquele ambiente, senta-se em frente à TV e re-
clama do seu dia. A esposa então, Vitória, vai até a parede da cozinha 
com um copo ouvir o que ocorria com seus vizinhos. Enquanto o ou-
tro homem, Pedro, leva consigo um buquê de flores e procura por sua 
mulher em todos os ambientes da casa com apelidos carinhosos. Quan-
do ele encontra a esposa, a trata bem, entretanto, ela diz que deseja o 
divórcio. Tanto Vitória que ouvia tudo quanto quem assiste a cena se 
chocam com aquela reação. O filme intercala as cenas dos dois apar-
tamentos para que o espectador possa comparar as situações opostas 
naquele momento.
Marina (Maria Luísa Mendonça) pede o divórcio e completa dizendo 
que apesar da vida do casal ser perfeita, ela se sente sufocada por ele. 
Ela pega sua mala e se prepara para ir embora com um estrangeiro que 
A psiquiatria no cinema • 15
havia conhecido há alguns meses. Pedro então pergunta como ela pode 
ter feito isso com ele sem que ao menos percebesse, e tem a seguinte 
resposta: “Há seis meses eu saio com ele, você via eu fazer isso, mas 
vocêsó vê o que você quer ver. Vive em um mundo perfeito que você 
criou e não enxerga nada que não se encaixe nele. Nada do que eu fizes-
se importava, era como se eu fosse invisível.” Nesse instante, é possível 
começar perceber como o protagonista vê o mundo, a partir do fato de 
que ele ignora tudo que não se encaixa na perfeição por ele criada.
Carlos, melhor amigo de Pedro, tenta ajudá-lo, levando-o para vá-
rias festas. Ocorre então um conjunto de cenas de Pedro com mulheres 
diferentes onde se evidencia o defeito, na visão dele, de cada uma de-
las. Uma tem namorado, a outra é tabagista, outras são homossexuais, 
outra tem transtorno psiquiátrico e assim em diante. Esse momento 
evidencia o quanto ele procura por uma mulher irreprovável. Mais uma 
vez cenas intercaladas com a do casal que mora no apartamento ao 
lado, onde o marido vive reclamando de sua vida de policial e a esposa é 
tratada de maneira grosseira.
Não se sentindo bem nessa vida de farra e festas, Pedro se isola em 
seu apartamento e passa a aumentar o consumo de bebidas alcoólicas. 
O personagem aparece escrevendo diversas cartas e poemas para Ma-
rina, em um momento em que fica evidente o transtorno depressivo 
enquanto três meses se passam. Em um momento de etilismo e deslei-
xo total do protagonista, a campainha toca. Ao abrir, ele vê um mulher 
linda, Amanda, que diz ser a outra vizinha dele, e que precisa de uma 
xícara de açúcar.
Ao entrar na casa toda bagunçada, Pedro diz a ela que sua luz e te-
lefone foram cortados e que ele está com sua despensa vazia, mas que 
tem o açúcar para dar. Mesmo vendo o personagem em estado lastimá-
vel, Amanda o elogia. Nesse instante, Pedro desmaia. A cena seguinte 
é com Lúcia (Fernanda Torres) dizendo para Vitória não se culpar pela 
morte do marido. Pode-se perceber então que a viúva não se sentiu mal 
com a morte de um homem que a tratava mal e que se sentia livre para 
16 • A psiquiatria no cinema
procurar seu vizinho, que ela sempre ouvia sendo carinhoso com a ex-
-esposa. Lúcia aconselha sua irmã a bater na porta dele pedindo uma 
xícara de açúcar (assim com Amanda havia feito).
Após dois dias, Pedro acorda em sua cama com Amanda olhando 
para ele. A casa está toda limpa, pois a bela moça havia limpado tudo 
e cuidado dele durante o tempo em que ficou desacordado. Pedro se 
declara para ela e é bem correspondido. Amanda diz que é como se ela 
fosse parte dele, conta que leu as cartas que o mesmo escreveu para 
Marina e diz que ele é bom com literatura.
O mocinho levanta da cama com vigor e ânimo e grita que se sente 
muito bem, logo pergunta a amada: “Quem é você?” “Eu sou quem 
você é. Sou solidão em busca de companhia, carinho em busca de afeto, 
mulher em busca de um marido e pai de seus filhos, alguém que queira 
amar, trabalhar e viver em paz e longe das loucuras do mundo, alguém 
para dividir a aventura que é viver!”, responde Amanda. É possível per-
ceber claramente que Amanda é a mulher incrível e sem defeitos que o 
rapaz procurava para dividir a vida.
Durante o momento da conversa, Vitória chega na porta com a xí-
cara e ouve tudo, desistindo então de tocar a campainha por pensar 
que Pedro estava acompanhado. Em seguida, o rapaz procura o ex-pa-
trão e tenta retomar o emprego de controlador de tráfego e toda sua 
vida. Carlos, que também trabalha no local, diz que arrumou todo o 
apartamento enquanto Pedro se encontrava em estado alcoolizado no 
sofá. Pode-se ver então que não foi Amanda que cuidou de tudo e que 
o estado mental do personagem poderia estar comprometido pelo uso 
de álcool. O protagonista aproveita a oportunidade do encontro com 
o amigo para contar da nova namorada, exaltando suas qualidades e é 
aconselhado a não se envolver tanto e a conhecer mais sobre o passado 
da moça.
Voltando para casa, uma cena onde Vitória e Lúcia sobem o eleva-
dor do prédio com Pedro e ele sequer repara a existência das moças. Ao 
entrar em casa, ele encontra a amada limpando a casa vestindo roupas 
A psiquiatria no cinema • 17
íntimas e ele fica entusiasmado com a mulher mais linda que já havia 
visto. Resolve então saber do passado dela e tem a seguinte resposta: 
“O passado não importa, comecei a existir quando conheci você.” Em 
vários momentos, Amanda evidencia que sua existência está ligada a 
Pedro e que ela depende dele para viver, o telespectador pode entender 
como algo romântico, mas também é possível perceber que a moça dá 
sinais de ser apenas fruto da consciência de Pedro.
Por insistência do jovem, Amanda conta uma história sobre seu pas-
sado, onde a moça se revela com defeitos e obsessão sexual, mas nada 
disso importa para ele. Mais uma vez, as duas irmãs no apartamento ao 
lado ouvindo a conversa, porém se queixam de ouvir apenas a voz dele, 
evidenciando ao público que não há ninguém com Pedro na sala e que 
o mesmo tem transtorno psicótico com alucinações visuais.
O filme mostra imagens de Amanda no cotidiano, exaltando as qua-
lidades que Pedro considera que uma mulher deve ter. A moça cada vez 
mais bonita e sensual, boa dona de casa e ainda gosta de futebol. Sendo 
assim, na visão do personagem, tudo era como ele queria. Como no 
início do filme, demonstrado pela ex-esposa Marina, ele não enxerga 
os defeitos daqueles que ama e seu desejo por uma vida perfeita é tão 
grandioso que o personagem tem transtorno conversivo-dissociativo 
para lidar com as situações do dia a dia que o incomodam.
O relacionamento do casal é de bastante intensidade e em pouco 
tempo de convivência eles decidem se casar. Porém, Carlos mais uma 
vez o aconselha ir mais devagar com o relacionamento e diz querer co-
nhecer a moça. Enquanto isso, Carlos vê Vitória na rua algumas vezes 
e se encanta por ela. O que futuramente será importante para o desen-
volver da história.
Para agradar o amigo, Pedro sai com Amanda em público pela pri-
meira vez e várias situações são apresentadas, como uma ida ao cine-
ma, o casal em um restaurante e os dois dançando em uma boate. Com 
isso, não restam dúvidas que a moça faz parte apenas do mundo ima-
ginário do protagonista, uma vez que todos ao redor do casal veem o 
18 • A psiquiatria no cinema
rapaz sozinho a todo momento e com comportamento estranho. Car-
los tenta alertar o amigo sobre seu transtorno psiquiátrico, entretanto 
não existe insight.
Pedro tenta então provar que Amanda existe e tira uma foto dela 
dormindo, ao mostrar para Carlos, ele diz ao amigo que na foto não 
tem mulher alguma. Nesse momento o protagonista tem o insight e 
percebe que realmente a fotografia é de uma cama vazia. Ao chegar em 
casa e conversar com a mulher perfeita, ela conta seu defeito, diz que é 
uma pessoa criada por Pedro, ou seja, é uma alucinação visual e audi-
tiva do personagem. Ele grita que gostaria de ser amado por alguém e 
não por ninguém e tem consciência que estava sozinho a todo instante.
Durante alguns dias, Amanda continua importunando a vida do ra-
paz que ama enquanto ele tenta a todo instante ficar livre dela. O fil-
me mostra mais cenas de Vitória tentando bater no apartamento dele, 
porém sempre há algum empecilho. Para sumir com suas alucinações, 
Pedro tem a ideia de começar a escrever um livro com a história de um 
homem que se apaixonou por uma mulher invisível.
Triste por não conseguir ser sequer vista pelo vizinho que ama, 
Vitória decide se mudar para o interior de Minas Gerais, mas é acon-
selhada pela irmã a bater na porta dele mais uma vez. Ela toca cam-
painha e pede a xícara de açúcar, do mesmo modo como Amanda 
havia feito. Tal fato confunde a cabeça do personagem, que acha que 
sua alucinação voltou e o mesmo desmaia novamente. Diversas cenas 
seguintes fazem com que o personagem tenha cada vez mais certeza 
que a nova moça também é imaginação sua. Em uma tentativa de 
acabar com a psicose, ele manda a moça ir embora e a trata grossei-
ramente.
Após esse momento, a vizinha real fica extremamente triste com 
tudo e resolve procurar pelo rapaz que sempre a admirava na rua, que 
por sua vez eraCarlos. Ao perceber todo mal entendido, ele não conta 
a verdade a Pedro com medo de perder a bela senhorita a qual cortejou 
algumas vezes. Há então uma cena onde os três se encontram e Pedro 
A psiquiatria no cinema • 19
percebe que dessa vez se tratava de uma mulher real. Após, ambos bri-
gam pelo amor de Vitória e ela recusa os dois.
Um período de dois anos se passa e há uma cena de Pedro lançando 
o livro que escreveu sobre Amanda e Carlos aparece para pedir uma de-
dicatória. Os amigos que não se viam desde o último ocorrido e fazem 
as pazes. Em um final previsível, Pedro volta a procurar Vitória e eles 
acabam juntos no final.
2.2 Transtorno conversivo–dissociativo
O transtorno conversivo é descrito pelo Manual Diagnóstico e Es-
tatístico de Transtornos Mentais – Quinta Edição (DSM-V) como uma 
perturbação e descontinuidade da consciência normal, sintomas moto-
res, emoções, memória, entre outros. Tais sintomas podem afetar to-
das as áreas psicológicas. Pode estar relacionado como consequência de 
traumas, refletindo uma relação próxima entre os diagnósticos de trans-
torno conversivo-dissociativo e transtorno do estresse pós-traumático. 
É um transtorno somatoforme que apresenta sintomas que acometem 
a função motora voluntária ou sensorial. Tem semelhança com condi-
ções neurológicas, mas não podem ser originados por essa causa, nem 
por efeito de substâncias, mas por fatores psicológicos. Causam sofri-
mento significativo, prejuízo ocupacional e no meio social (DSM-V).
De acordo com o DSM-IV, os sintomas sensoriais podem ser tais como 
cegueira, surdez, diplopia, convulsões e inclusive alucinações, como é o 
caso do personagem Pedro apresentado no filme descrito. Em pacientes 
leigos na área médica, mais inimagináveis são os sintomas, aqueles mais 
cultos podem simular perfeitamente condições médicas neurológicas e 
físicas. O diagnóstico deve ser concluído somente após longa e criteriosa 
avaliação médica geral e neurológica para evitar erros (DSM-IV).
Deve-se levar em consideração também a classificação feita pelo CID-
10 (Código Internacional de Doenças), cujo capítulo V apresenta os 
transtornos mentais e comportamentais. Os transtornos dissociativos e 
20 • A psiquiatria no cinema
de conversão têm o código F44 e são descritos como perda parcial ou to-
tal das funções psicológicas normais da consciência, identidade, lembran-
ças e até mesmo dos movimentos corporais. Os sintomas tendem a de-
saparecer após semanas ou meses, principalmente quando existe relação 
com trauma. Esses transtornos apresentam uma subdivisão no CID 10, 
sendo as subclasses: F44.0 - Amnésia dissociativa; F44.1 - Fuga dissociati-
va; F44.2 - Estupor dissociativo; F44.3 - Estado de transe e de possessão; 
F44.4 - Transtorno dissociativo do movimento; F44.5 - Convulsões dis-
sociativas; F44.6 - Anestesia e perda sensorial dissociativa; F44.7 - Trans-
torno dissociativo misto [e de conversão]; F44.8 - Outros transtornos 
dissociativos; F44.9 - Transtorno dissociativo [e de conversão] não espe-
cificado. O subitem F44.8 aborda temas como a confusão psicogênica, o 
estado crepuscular psicogênico, a personalidade múltipla e a síndrome de 
Ganser. Dessa forma é o mais adequado nesse contexto (CID-10).
Segundo Fiszman, em 2007, os transtornos conversivos eram rela-
cionados à ideia de histeria até a década de 80 e eram citadas por auto-
res com Freud, Janet e Breuer. Derivavam de uma única doença psiquiá-
trica, a neurose histérica de acordo com o DSM-II (FISZMAN, 2007). 
O termo histeria teve seu desmembramento com relação à origem e à 
localidade dos sintomas e ocorreu a partir do DSM-III com a evolução 
da psiquiatria e nosologia. Os sintomas de natureza física, como sensi-
tivos-motores, ganharam a denominação de somatoformes, que são os 
transtornos conversivos e as somatizações.
Já as manifestações psicológicas passam a ser denominadas como 
dissociativas. Esta última deve ser compreendida como um comporta-
mento, uma vez que o paciente apresenta sintomas direcionados para 
imitar uma determinada doença. Tal comportamento possibilita ao pa-
ciente um ganho primário inconsciente e fornece ainda um solução so-
cialmente aceitável para a inviabilidade da resolução de seus problemas 
pessoais (GALLUCCI NETO, 2009).
Segundo a psicanálise, a conversão tem como causa a repressão de 
conflitos psíquicos inconscientes, transformando sintomas ansiosos 
A psiquiatria no cinema • 21
em físicos. Tais situações permitem aos pacientes que os mesmos pos-
sam expressar sentimentos e necessidades pessoais e podem funcionar 
como um meio não verbal para controlar e ou manipular os outros 
(SADOCK, SADOCK 2008).
O aspecto epidemiológico dos transtornos somatoformes são 
mais comuns em populações rurais, em pacientes cujo quociente de 
inteligência é inferior, pessoas com menos instrução. Tem relação di-
reta com outras comorbidades psiquiátricas como a depressão maior, 
transtornos de ansiedade e esquizofrenia (SADOCK, SADOCK 2008) 
(KAPLAN, SADOCK, GREBB 1997).
O atendimento de um paciente onde existe a mínima suspeita de um 
quadro conversivo-dissociativo deve contar com uma avaliação clínica 
criteriosa cujo objetivo seja excluir condições médicas gerais, uso de 
drogas e substâncias psicoativas e doenças neurológicas que justifiquem 
o quadro. Podem ser sintomas motores como paralisias, paresterias, 
ataxias, convulsões, entre outros considerando a conversão. Existem 
aqueles relacionados à dissociação, sendo eles perturbações das funções 
miméticas ou da consciência, como fugas, transes, despersonalização 
e desrealização, amnésias e alucinações. Deve-se ainda observar se tais 
sintomas surgem de maneira voluntária e consciente com objetivos 
evidentes, sendo assim uma simulação, ou natureza voluntária e moti-
vo inconsciente, chamado então de sintoma factício, onde há apenas o 
desejo de estar doente. Após comprovação do total estado psicológico 
inconsciente, pode ser feito o diagnóstico. Deve-se levar em considera-
ção que a conversão e dissociação podem ocorrer juntamente com ou-
tras doenças psiquiátricas em conjunto ou independentes (GALLUCCI 
NETO, 2009). .
O atendimento de pacientes com esses transtornos ocorre primei-
ramente nas unidades básicas de saúde e se houver necessidade por 
maior gravidade ou complexidade, os centros de atenção psicossociais 
(CAPS) são mais indicados. Quando os pacientes estão descompensa-
dos, prontos-socorros hospitalares podem ser utilizados. O tratamento 
22 • A psiquiatria no cinema
e acompanhamento desses pacientes é ambulatorial, não necessitando 
primariamente de internação hospitalar. Primeiramente deve ser for-
mada uma relação entre médico e paciente onde haja confiança por 
parte do doente, em seguida deve haver confrontação do paciente me-
diante os sintomas apresentados, levando-o para a razão. A terapêutica 
é de suporte e apoio, em casos graves é necessário o uso de psicoterápi-
cos. Pode ser associado junto ao trabalho do médico psiquiatra, outros 
profissionais de saúde como os psicólogos (RAPS-SC, 2015).
2.3 Transtorno depressivo de humor
Alegria e tristeza são sentimentos comuns e normais que existem 
no psíquico da vida afetiva de qualquer pessoa. Entretanto, o termo de-
pressão na linguagem leiga é utilizado para indicar esses estados afeti-
vos. Tristeza é uma resposta global decorrente de situações de perda, 
desapontamento ou qualquer adversidade comum entre os seres huma-
nos. Deve-se lembrar que esse sentimento serve como alerta, pois pode 
ser indício de futuras doenças, necessidade de companhia ou ajuda. O 
luto ocorre em decorrência da perda e se caracteriza por uma tristeza 
profunda, deve durar no máximo por dois anos e são preservadas as res-
postas positivas ao ambiente e seus estímulos, não ocorrendo inibição 
psicomotora observada nos estados melancólicos (PORTO, 1999).
A depressão como um sintoma pode aparecer em diversos quadros 
clínicos, entre eles o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), de-
mência, transtornoesquizoafetivo, alcoolismo, doenças clínicas, situa-
ções pessoais (sociais e econômicas), entre outras. O termo depressão 
pode ainda indicar uma síndrome, nesse caso inclui outros sintomas 
como alterações cognitivas, psicomotoras, mudanças no sono e na fome. 
Por último, pode também significar doença e tem sido classificada de mo-
dos diversos considerando o período histórico utilizado (PORTO, 1999).
Os transtornos do humor fazem parte de um grupo diagnóstico que 
abrangem os transtornos unipolares como depressão maior e distimia e os 
A psiquiatria no cinema • 23
bipolares, como a depressão bipolar, mania, hipomania, ciclotimia e esta-
dos mistos. O humor do indivíduo é a exteriorização verbal de sentimen-
tos que ocorrem em decorrência de emoções. As patologias são aquelas 
que onde há alteração de modo constante de tais estados emocionais por 
período maior que duas semanas (GREVET e KNIJNIK, 2001).
A característica mais comum nos estados depressivos são sintomas 
de vazio e tristeza, embora nem todos os pacientes relatem estes sen-
timentos. Muitos referem incapacidade de experimentar coisas novas, 
prazer nas suas atividades e diminuição do interesse em geral, tem fre-
quente associação com redução da energia, cansaço, fadiga e lentifica-
ção (WIDLÖCHER, 1983).
Pelo CID-10, o episódio depressivo é classificado como F32 e pos-
sui outras subclassificações, sendo elas: F32.0 - episódio depressivo leve; 
F32.1 - episódio depressivo moderado; F32.2 - episódio depressivo grave 
sem sintomas psicóticos; F32.3 - episódio depressivo grave com sinto-
mas psicóticos; F32.8 - outros episódios depressivos; F32.9 - episódio de-
pressivo não especificado. Há ainda o transtorno depressivo recorrente 
cujo código é F33 (CID-10).
O diagnóstico da depressão leva em consideração sintomas psíqui-
cos, fisiológicos e comportamentais. Dentre os sintomas psíquicos tem-
-se o humor depressivo, com sensação de culpa e tristeza, falta de capa-
cidade de sentir alegria e prazer na vida. Pode haver um sentimento de 
falta de sentimento e pode ainda se sentir um estorvo para seus paren-
tes próximos. Além disso, são frequentes os motivos para pensamen-
tos suicidas. Os pacientes sentem qualquer dificuldade como obstáculo 
intransponível e surge então o desejo de dar fim à sua própria vida. O 
pensamento suicida é variável, indo do simples desejo de estar morto 
até a criação de planos estratégicos de como se matar. Tal pensamen-
to deve ser avaliado com atenção e cuidado e deve sistematicamente 
ser investigado com cautela para que possa haver a prevenção desses 
episódios. Para o diagnóstico, também são avaliadas situações como di-
minuição do prazer em realizar atividades que antes eram agradáveis, 
24 • A psiquiatria no cinema
fadiga e redução do pensamento e tomada de decisões. Além de evidên-
cias comportamentais como crises de choro, pensamentos e comporta-
mentos suicidas, retração social e retardo psicomotor (PORTO, 1999).
Para tratar o paciente com depressão, deve-se entender a pessoa de 
forma universal, levando em consideração o paciente como um todo. É 
necessário, portanto, tomar mão da psicoterapia, farmacoterapia e al-
terações no estilo de vida (STAHL, 1998). Existem muitos tipos de tra-
tamento, casos leves e moderados e também a prevenção de recorrên-
cias podem usufruir da psicoterapia. Entretanto, tratamentos isolados 
são menos eficazes, devendo portanto ter associação de medicamentos 
(PAMPALLONA, 2004).
A duração do tratamento varia de acordo com a necessidade de cada 
paciente. Em um primeiro episódio, o medicamento deve ser mantido 
por nove meses após a remissão dos sintomas, 16 enquanto pacientes 
com depressão recorrente tem maior duração (GARDARSDOTTIR et 
al, 2009).
Fonte: DUAILIBI e SILVA, 2014.
A droga psicoterápica de escolha vai ser decidida de acordo com o 
diagnóstico final e depende de cada especialista, levando em considera-
ção preço de mercado, disponibilidade no SUS (Sistema Único de Saú-
de) e efeitos colaterais e adversos (SOUZA, 1999).
3. Considerações Finais
Após refletir sobre os sintomas psicopatológicos apresentados, 
é possível perceber que o cinema usado como auxílio à psiquiatria é 
de suma importância. Uma vez que permite tanto a população leiga 
A psiquiatria no cinema • 25
quanto aos profissionais de saúde entenderem e discutirem tais temas. 
Transtornos psiquiátricos muitas vezes são interpretados erroneamen-
te pelo público geral e com o acesso aos filmes podem ter melhor en-
tendimento.
A análise psicopatológica do filme A mulher invisível nos permite en-
tender um pouco mais a respeito do transtorno conversivo-dissociativo 
e do transtorno depressivo de humor, o que evidencia a importância 
do cinema no auxílio ao aprendizado de forma prazerosa e dinâmica. 
Explorar o caso clínico ao longo de uma produção cinematográfica au-
menta a capacidade de entender a doença e, além disso, permite um 
melhor entendimento sobre as terapias a serem realizadas. Quanto an-
tes for realizado o diagnóstico, melhor prognóstico terá o paciente e 
assim sua melhora psicológica e social em seu meio de convivência.
4. Referências Bibliográficas
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A psiquiatria no cinema • 27
II. BICHO DE SETE CABEÇAS
Roberta Nantes Costa
Joice Meire Rodrigues
1. Apresentação/ sinopse
Gênero: Drama�
Direção: Laís Bodanzky�
Roteiro: Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi�
Autor: Austregésilo Carrano Bueno�
Idioma: português�
Lançamento: 22 de junho de 2001�
Bicho de sete cabeças é inspirado no livro Cantos dos Malditos, no qual 
o autor, Austregésilo Carrano, conta fatos reais de sua vida. Este filme 
narra a história de um relacionamento conturbado entre pai e filho, 
que piora no dia em que Seu Wilson (Othon Bastos), pai de Neto (Ro-
drigo Santoro), descobre um cigarro de maconha no casaco dele. Por 
pensar que o filho se transformará em um viciado, senhor Wilson o 
interna em um hospital psiquiátrico de forma involuntária. No decor-
rer do filme, são mostradas condições desumanas usadas como for-
ma de tratamento nos manicômios, sendo essas a principal causa da 
deterioração da psique dos pacientes. Quando Neto recebe alta pela 
primeira vez, tenta se readaptar à sociedade, porém as consequências 
do abuso sofrido no hospital irão surtir efeitos maléficos no cotidiano 
do personagem.
28 • A psiquiatria no cinema
2. Bicho de sete cabeças e a Psiquiatria
2.1 Análise psicopatológica
A história do filme Bicho de sete cabeças mostra a rotina dos hospícios 
brasileiros, contada em forma de flashback, na qual senhor Wilson co-
meça lendo uma carta feita pelo seu filho, Neto, e relembra os aconteci-
mentos que motivaram a redação – um texto que continha um desaba-
fo agressivo e furioso do filho para com o pai.
Neto era um adolescente rebelde, contemporâneo dos anos 2000, 
que saía nas horas vagas com os amigos para se divertir e usar drogas. 
Ao ser descoberto pelo pai, foi encaminhado para uma consulta, em 
que o médico, doutor Cintra Araújo, não o examina e o diagnostica 
como dependente de drogas. A partir desse momento, Neto é interna-
do de forma involuntária, sendo contido química e fisicamente.
A partir deste momento, a trama é voltada para o dia a dia do tra-
tamento manicomial encarcerado, onde Neto passa por abusos vindos 
desde a má higiene, uso excessivo de remédios, falta de profissionais 
capacitados, até o uso de camisas de força, eletrochoque sem anestesia 
e quarto “forte”, como forma de punição. Demonstrando como esse 
tratamento tira o paciente da sociedade e do seio familiar, causa deso-
rientação e alienação, além de deixar sequelas sociais, físicas e mentais, 
desumanizando o paciente e o transformando em um bicho, o que re-
mete ao título do filme Bicho de sete cabeças.
Depois de algum tempo e muitas súplicas do filho, senhor Wilson 
decide levar o filho embora para casa. Como tentativa de ser reinserido 
na sociedade, Neto consegue um emprego, porém, com as sequelas do 
tempo passado no manicômio, ele não cumpre suas obrigações. Nes-
ta fase, o personagem não recebe nenhuma assistência pós-recupera-
ção, ainda tem dificuldades de adaptação, tem alucinações auditivas e 
visuais, além de atitudes agressivas e incongruentes com os episódios 
do momento da trama. O que faz com que o próprio personagem 
A psiquiatria no cinema • 29
queira voltar ao manicômio, pois acreditava ser lá que ele estava me-
lhor adaptado.
Ao ir para uma nova instituição, o adolescente passa pelos mesmos 
tratamentos que já havia recebido antes. Desta vez, Neto, revoltado 
com as atitudes do enfermeiro Ivan, relata a violência do funcionário 
para um superior, o que provoca uma perseguição ainda maior contra 
o paciente. Em uma de suas prisões no quarto “forte”, Neto tenta sui-
cídio e ateia fogo na cela, de onde é socorrido depois de um tempo e 
levado definitivamente para casa pelo pai.
Todo o roteiro do filme é baseado na história de Austregésilo Car-
rano, que escreveu o livro Canto dos Malditos, no qual relata sua prisão 
em um manicômio, descrevendo desde o preconceito recebido pelos 
“anormais” da sociedade, até a falta de um humanismo e presença dos 
psiquiatras nas instituições.
Apesar do filme ser ilustrado nos anos 2000, depois da reforma psiquia-
tra, é possível perceber como a mudança foi lenta e submetida à corrupção 
e ganância, que encarcerava pessoas que poderiam receber um tratamen-
to simples e domiciliar ou até mesmo sem um diagnóstico confirmado.
O filme revela ainda o descaso dos médicos que, muitas vezes, pela 
ambição de trabalhar em vários locais e receber proporcionalmente 
mais, prestavam um atendimento/acompanhamento inadequado aos 
pacientes, com a justificativa da falta de fiscalização do trabalho exer-
cido. Fica evidente que o lugar que teoricamente propunha a tratar e 
curar os pacientes, nestes casos, contribuía para esgotar a saúde mental 
dos internos.
No mundo, há cerca de meio bilhão de pessoas com transtornos 
mentais, que necessitam de cuidados intensivos, eficazes e humanos. O 
que a história conta ao espectador foi a realidade de muitas instituições 
onde pessoas, com algum tipo de comportamento indesejável para a 
sociedade modelo, eram depositadas e às vezes, esquecidas.
O cotidiano dos encarcerados nestes locais acaba se resumindo 
em espancamentos, torturas, alimentação contaminada, frio, fome, 
30 • A psiquiatria no cinema
doenças não curadas e aos que não suportam, a morte. Na época pré-
-reforma psiquiátrica, as instituições se colocavam como bem feitoras 
de uma sociedade civilizada, disciplinada e moderna, tirando do conví-
vio social tudo que lhes parecia diferente, mesmo que os fins não jus-
tificasse os meios – afinal, o mundo deveria ser gerido e habitado por 
pessoas de razão e juízos de perfeitos estados.
No tempo em questão, os psicofármacos e a eletroconvulsoterapia 
eram amplamente usados, inclusive como forma coercitiva, o que acar-
retava danos físicos e psíquicos aos pacientes. No entanto, com o ad-
vento do modelo psicossocial que viria entrar em vigor, esse cenário 
mudou e trouxe uma associação racional entre a psicoterapia e todos 
os outros instrumentos disponíveis para uma boa remissão de sintomas 
apresentados pelos pacientes psiquiátricos.
2.2 Reforma Psiquiátrica
Como retratado no filme, muitas pessoas eram internadas sem um 
diagnóstico prévio ou ainda com um diagnóstico que não necessitava de 
um tratamento conservador e agressivo. Ao serem encarcerados e despro-
vidos de direitos, os pacientes, que tinham quadros leves, acabavam mer-
gulhando no “mundo dos loucos” e perdendo sua sanidade mental, assim 
como menciona Guimaraes at al (2013) nas narrativas de profissionais de 
enfermagem que serviram de base para o trabalho intitulado “Tratamen-
to em saúde mental no modelo manicomial entre 1960 a 2000”.
De certa forma, todos os direitos humanos dos pacientes eram feridos, 
passando pelos direitos da dignidade, da saúde até da liberdade, o que fez 
com que a sociedade se mobilizasse. A partir de então, se iniciou uma luta 
antimanicomial, que previa um tratamento digno, humanizado e assegu-
rados de direitos para os portadores de doenças mentais.
Conforme aborda Jr. Bezerra (2007), o movimento contra o cárce-
re em hospícios começou na década de 70 e objetiva a conscientiza-
ção do sofrimento trazido por esse tipo de tratamento e a importância 
A psiquiatria no cinema • 31
de um convívio afetuoso e digno para os pacientes. E o movimento de 
reforma foi compreendida como um conjunto de transformações de 
práticas, saberes, valores culturais e sociais. É no cotidiano da vida das 
instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da 
Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos 
e desafios (MS, 2005), conforme os relatórios do Ministério da Saúde, 
intitulado como documentos da ConferênciaRegional de Reforma dos 
Serviços de Saúde Mental: 15 anos após Caracas ficou registrado des-
de 1987, o que acontecera da primeira conferência de saúde mental do 
Brasil até aquele ano. Ficando explicito que além de racionalizar e mo-
dernizar os serviços de saúde, o Estado se dispôs a prestar direitos à 
saúde, justiça e melhoria na qualidade de vida de toda minoria social.
A partir de então, a visão de loucura e hospitais psiquiátricos foi 
reestruturada, garantindo aos pacientes psiquiátricos cidadania e a saú-
de mental começou a ser vista como uma área que abrangeria de forma 
multidisciplinar, saindo dos simples postos de saúde e dos manicômios 
macabros para o Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS.
O documento detalha desde o histórico da realidade vivenciada nas 
instituições psiquiátricas no Brasil, aponta o início da reforma em 1978; 
o processo de desinstitucionalização que propunha redução de leitos, 
avaliação anual dos hospitais, implementava as residências terapêuticas, 
se preocupava com o retorno do paciente para a casa; a rede de cuidados 
na comunidades e o importante papel de ter a saúde mental na atenção 
primária; um programa de inclusão social pelo trabalho; e ainda o re-
pensar de estratégias para redução de danos e riscos associados ao con-
sumo de álcool e drogas, e finalizando quais os desafios foram enfrenta-
dos durante toda a Reforma Psiquiátrica como acessibilidade, equidade, 
recursos financeiros e humanos e o debate no âmbito científico quanto à 
valorização da vida destes pacientes enquanto seres humanos.
Neste cenário vale destacar que a Reforma Psiquiátrica confunde-se 
com o próprio movimento pela Reforma Sanitária e com o processo 
de redemocratização do país. As lutas pela abertura política e por uma 
32 • A psiquiatria no cinema
saúde pública de acesso universal caminharam juntas com a busca por 
uma assistência psiquiátrica mais humana e voltada para a melhoria da 
qualidade de vida por meio da ampliação das redes afetivas e sociais 
(CAVALCANTI, 2008).
Como vimos, o debate sobre os rumos e diretrizes para o setor 
saúde culminaram com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) 
em 1990, e na saúde mental, a oposição ao modelo assistencial he-
gemônico centrado no hospital psiquiátrico deu origem à chamada 
Reforma Psiquiátrica, impulsionada pelo Movimento da Luta Anti-
manicomial, que veio pressionar as autoridades na busca por soluções 
e serviu de cenário para o estruturação e apresentação de estratégias 
fomentadas pelo Ministério da Saúde para criação de serviços de assis-
tência comunitária – como o CAPS (Centros de Atenção Psicossocial 
que surgiram na década de 80 e passaram a ter uma linha de finan-
ciamento específica do MS em 2002) e outros serviços residenciais 
terapêuticos, centros de convivência, ambulatórios de saúde mental 
e hospitais gerais, oferecidos pela rede pública de cuidados na comu-
nidade de base municipal.
Dentre as diversas estratégias de redimensionamento da assistên-
cia à saúde mental comunitária, cabe aqui mencionarmos a função do 
CAPS, conforme apresentação do Ministério da Saúde no relatório de 
2005 e Figueredo (2014), como um local que presta atendimento clínico 
em regime de atenção diária, evitando assim as internações em hospi-
tais psiquiátricos; promove a inserção social das pessoas com transtor-
nos mentais através de ações intersetoriais; regula a porta de entrada da 
rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação e dá supor-
te à atenção à saúde mental na rede básica.
Trata-se de uma rede assistencial que garante serviços sociais, tera-
pias ocupacionais, atendimento psicológico, consultas médicas, tiran-
do a necessidade de internação integral e reinserindo o paciente a uma 
vida estimada como normal. Uma forma de garantir que o sofrimento 
psíquico fosse aliviado e garantir ao indivíduo uma família, trabalho e 
A psiquiatria no cinema • 33
cultura, sempre com cuidados personalizados e individuais, desempe-
nhados pelos agentes.
Junto ao CAPS foi criado o NAPS, Núcleo de Assistência Psicosso-
cial, que é assegurado por três estratégias: regionalização, debate aos ci-
dadãos e terapêutica, para que todas as necessidades de uma pessoa em 
tratamento fossem abrangidas e entendidas, sendo elas culturais, reli-
giosas e sociais. Ambas estratégias inegavelmente impulsionaram a im-
plementação do SUS, atendendo ao compromisso da integralidade da 
atenção à saúde e proporcionando ganhos no contexto do atendimento 
a pacientes psiquiátricos, ao se preocupar em garantir uma unidade psi-
quiátrica obrigatória em todos os hospitais e equipes multidisciplinares 
preparadas para todos os tipos de atendimento, inclusive crises.
Entretanto, apesar dos avanços das políticas públicas, novas desco-
bertas e informações sobre determinadas patologias, e conhecimentos 
que possibilitam diagnósticos evitando tratamentos desnecessários con-
forme o filme Bicho de Sete Cabeças revela, no Brasil e no mundo, ainda 
presenciamos dificuldades dos pacientes e suas famílias em compreen-
der algumas patologias e direcionar ao tratamento que lhe é devido. 
Trata-se não apenas de novas legislações, mas de uma nova cultura, vi-
são e conscientização popular.
3. Considerações Finais
Ao conhecer o enredo do filme, o público passa a conhecer o cotidiano 
dos internos psiquiátricos e perceber a falta de valorização da vida, mesmo 
após Reforma Psiquiátrica no Brasil. Trata-se de um convite para repensar, 
discutir sobre os ideais antimanicomiais, exigindo a prática de todas as leis 
criadas em favor de uma vida digna aos pacientes psiquiátricos.
É possível concluir que muito além da lei que está no papel, é preci-
so prática, é preciso que a população entenda o que acontece nas ins-
tituições, cobre seus representantes e lute pelos direitos humanos, que 
seus parentes perdem ao receberem esse tipo de abordagem.
34 • A psiquiatria no cinema
E quanto ao CAPS e os NAPS não podemos negar que tiveram im-
portante papel durante o processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil ao 
proporcionarem o acolhimento e a atenção às pessoas com transtor-
nos mentais graves e persistentes na tentativa de fortalecer vínculos e 
proporcionar laços sociais aos pacientes. Neste sentido, acredita-se ser 
necessário maiores investimentos para sua manutenção como suporte 
válido ao tratamento dos pacientes.
4. Referências Bibliográficas
BRASIL – MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordena-
ção Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. 
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Janeiro, 17(2):243-250, 2007.
A psiquiatria no cinema • 35
III. ESTAMIRA
Lorena Dias Araújo
Hugo Henrique de Menezes Vieira
Letícia Nacife Gomes
1. Apresentação/ sinopse
Gênero: documentário�
Direção: Marcos Prado�
Roteiro: Marcos Prado�
Idioma: português�
Lançamento: 28 de julho de 2006�
O documentário brasileiro Estamira relata a rotina da personagem prin-
cipal, Estamira Gomes de Sousa, no lixão de Jardim Gramacho – RJ. Uma 
senhora de 63 anos com quadro de transtorno psicótico de curso crônico, 
alucinações auditivas, ideias de influência e discurso místico que revela sua 
visão de mundo a partir de seu distúrbio psiquiátrico, com inúmeros dis-
cursos contra Deus, contra alienação dosseres humanos em uma socie-
dade controladora estruturada para calar a voz daqueles que se rebelam e 
trazem a “verdade”, reflexões sobre a vida, o trabalho e sobre sua própria 
existência. Ela acreditava que sua missão era revelar a “verdade”.
Estamira, mãe de três filhos: Hernani, Carolina e Maria Rita que du-
rante o documentário ajudam a esclarecer sobre a alteração mental vi-
vida pela mãe, a partir de fatos e histórias. A protagonista veio a falecer 
em 2011 devido a uma septicemia.
Quando criança, morava com a mãe que também apresentava trans-
tornos psiquiátricos e com o pai Leopoldo. Esse forçou a internação da 
36 • A psiquiatria no cinema
mãe de Estamira em um hospital em Engenho de Dentro (um bairro no 
Rio de Janeiro), onde a dopavam e batiam. Depois de certo período, assim 
que deixou Leopoldo foi buscar sua mãe. E viveu com ela até a morte.
Durante a narrativa é revelado que o avô de Estamira (por parte de 
mãe) estuprava tanto sua mãe quanto ela. E aos 12 anos de idade foi le-
vada por esse avô para um bordel, onde conheceu Miguel Hernani, pai 
de Hernani (seu primeiro filho) com quem morou por certo período. 
Entretanto, o relacionamento não deu certo e Estamira foi com o filho 
para Brasília. Na capital federal conheceu um italiano, com quem teve 
uma filha, Carolina e um filho “invisível”. Esse relacionamento durou 
12 anos. E a partir daí Estamira começou a trabalhar no aterro sanitário 
de Jardim Gramacho.
Convencida pelos filhos a largar esse emprego, mudou de ocupação 
e aos finais de semana saía com os amigos da firma. Certo dia, voltando 
para casa foi estuprada no centro de Campo Grande e uma terceira vez 
na rua da própria casa. Como era muito religiosa nessa época, acredi-
tava ser uma provação de Deus. As alucinações começaram um tempo 
depois e a partir daí o documentário consegue captar toda a mensagem 
trazida por Estamira, com toda sua lucidez e “loucura”.
A ênfase dada no documentário é com relação à “verdade” trazida 
por Estamira, dando destaque na narrativa para seus pensamentos e 
sua forma de enxergar a vida que esboça para nós a realidade do quadro 
de Esquizofrenia Paranoide. Abordando de uma forma fidedigna, sem 
artifícios e interpretação equivocada.
2. Estamira e a Psiquiatria
2.1 Análise Psicopatológica
A primeira cena mostra imagens do lixão onde Estamira trabalhava e 
ela fala sobre sua missão: “A minha missão, além de ser a Estamira, é re-
velar a verdade e somente a verdade, seja mentira, seja capturar a mentira 
A psiquiatria no cinema • 37
e tacar na cara ou então ensinar a mostrar o que eles não sabem, os ino-
centes, não tem mais inocente, tem esperto ao contrário.” No relato dela 
percebemos uma alteração de linguagem típica da Esquizofrenia, um neo-
logismo – palavras novas, criadas ou um novo sentido dado à uma palavra 
já existente, evidenciado com a expressão “esperto ao contrário”.
Em um segundo momento, conversando com os cinegrafistas, mos-
trando as montanhas e a natureza ao redor do lixão de Jardim Grama-
cho, ela fala: “Olha lá, os morros, as serras, as montanhas, a paisagem… 
Estamira está em tudo quanto é canto, tudo quanto é lado, até meu 
sentimento mesmo vê, todo mundo vê a Estamira”. Temos aí uma al-
teração da consciência dos limites do eu, onde o indivíduo se expande 
para o meio externo, não há um limite nítido entre o ser e o ambiente.
O embotamento afetivo, um sintoma de segunda ordem da Esqui-
zofrenia (segundo Kurt Schneider) é um tipo de comportamento em 
que o indivíduo apresenta dificuldade em expressar emoções. É comum 
de acontecer na Esquizofrenia. Entretanto, no documentário, esse sin-
toma psicopatológico não fica tão evidente e a forma como reage a di-
versas situações pode ser parte de suas características pré-mórbidas. Há 
uma cena, com flash em preto e branco e Estamira fala: “Visivelmente, 
naturalmente, se eu me desencarnar eu tenho a impressão que eu serei 
muito feliz e talvez eu poderia ajudar alguém. Porque o meu prazer 
sempre foi esse, ajudar alguém”. Com isso, percebemos que os outros 
não são indiferentes para ela.
Os sintomas negativos da esquizofrenia não ficam bem definidos 
durante o documentário. Não há diminuição da fluência verbal, len-
tificação psicomotora, hipobulia, nem retraimento social (mostra um 
bom relacionamento com colegas de trabalho, por exemplo). Um sin-
toma negativo presente é a negligência consigo mesma, uma aparência 
descuidada, com poucos cuidados higiênicos e estéticos em relação ao 
corpo. Mas esse descuido deve ser bem analisado, tomando como base 
o contexto sociocultural em que vive e como era esse cuidado antes do 
início da doença.
38 • A psiquiatria no cinema
Em certo momento, Estamira reflete sobre como entende a morte: 
“… a carne se for para o chão, dissolve, derrete, fica só os ossos e raios, 
cabelos. E acontece que ele fica formato a mesma coisa, só que acon-
tece que fica transparente perto da gente. Meu pai tá perto de mim, 
minha mãe, os amigos… ó, tô vendo… Lá em casa eu vejo é muito, vai 
muito lá em casa”. Nesse trecho temos a representação de um delírio 
associado a alucinação, onde ela relata ver e ter a sensação de que pa-
rentes mortos ficam por perto.
A personagem começa a contar quando nasceu (07/04/41) e um 
pouco sobre a vivência com o pai, demonstrando certo saudosismo. 
Quando perdeu o pai, viveu com a mãe até a morte da mesma. “Coita-
da da minha mãe, mais perturbada do que eu. Eu sou perturbada, mas 
lúcida e sei distinguir a perturbação e a coitada da minha mãe não con-
seguia, mas pudera eu, sou a Estamira, se eu não der conta de distinguir 
a perturbação eu não sou a Estamira.”
A demonstração de um dos fatores causais mais seguramente impli-
cados no desenvolvimento da esquizofrenia vem dos estudos em gené-
tica epidemiológica que, por meio de mais de oito décadas de investi-
gações, confirmaram a influência genética para o transtorno (Vallada e 
Samaia, 2000).
Estamira explica que há dois “controles”, o controle remoto supe-
rior e o controle remoto artificial. Depois mostra uma cena dela tra-
balhando e de repente sente uma dor: “… passei menos mal depois 
daquele dia, mas depois voltou a atacar, aqui ó (aponta para a região 
lombar), é o controle remoto mesmo, é a força. A câmera natural não 
me faz mal, é artificial. É na costela, em tudo quanto é lugar. Ai até na 
cabeça.” Fica explícito uma alucinação cenestésica, interoceptiva, um 
erro sensorial em relação ao próprio corpo, uma vivência de influência 
corporal. É como se a pessoa sentisse algo dentro de si, o objeto aqui 
no caso seria o “controle remoto”.
“Agora tem o registrador do pensamento, você já viu? Você não viu, 
rapaz? Você tá brincando comigo! Puxa vida! É a mesma coisa que o 
A psiquiatria no cinema • 39
eletroesferograma.” Além do neologismo já citado anteriormente, evi-
denciado quando ela diz “eletroesferograma”, temos também um sin-
toma psicopatológico de publicação do pensamento, no qual Estamira 
dá a entender que alguém registra e conhece os seus pensamentos.
Um fenômeno muito encontrado no documentário é a condensação 
de conceitos. É assim chamada quando dois ou mais conceitos são fun-
didos, ou seja, quando, na produção da fala, o esquizofrênico, involun-
tariamente, condensa ideias em uma única palavra que, portanto, pode 
ser tomada como um neologismo (Dalgalarrondo, 2008, p. 195).
Em meados de dezembro, época do Natal, Estamira é questionada 
sobre o que pensa sobre essa festividade: “Eu não tenho nada contra 
o homem que nasceu. Para eles o que era bom era o Deus, depois 
eu revelei quem é Deus, porque eu posso… Revelei porque eu pos-
so, porque sei consciente, lúcido e ciente.” Inúmeras vezes durante 
o documentário a personagem apresenta delírios de grandeza, uma 
forte crença de ter poder, de ser portadora da verdade, de saber mais 
do que os outros. Nesse trecho se refere superior a Deus, visto que ela 
mesma O revelou.
O delírio constitui uma vivência individual. Todo delírio é de certa 
forma autorreferente, nosentido de que o seu conteúdo está direta e 
indiretamente relacionado ao enfermo. O delírio se transforma no eixo 
em torno do qual passa a girar a vida do indivíduo (CHENIAUX, 2011). 
Delírios são experimentados subjetivamente com características mais 
de saber do que acreditar (SEDLER, 1995). O indivíduo possui uma con-
vicção irremovível, não necessitando comprovar e convencer as pessoas 
de seu juízo.
Carolina, filha de Estamira, conta aos cinegrafistas como começou 
as alucinações e delírios da mãe: “Ela chegava em casa e falava com 
minha sogra que quando tinha chegado em seu quarto depois do tra-
balho, tinham feito trabalho de macumba para ela. Ela pisou na tal ma-
cumba e a jogou fora dizendo que não ia acreditar nessas coisas, que 
Deus a protegia, que Deus era tudo e a guiava e guardava”.
40 • A psiquiatria no cinema
Um mês após esse episódio, Estamira dizia ter gente do FBI atrás 
dela. Tinha a impressão que quando andava de ônibus as pessoas a fil-
mavam, com câmeras escondidas. Temos nesse trecho a exemplificação 
de um delírio persecutório, em que a personagem acredita estar sendo 
vigiada, filmada. Uma alteração do juízo de realidade, um delírio pri-
mário que surge de uma desestruturação do próprio pensamento.
Carolina continua contando que certa vez sua mãe estava no quintal 
observando os coqueiros e falou: “Isso que é o poder, isso que é tudo 
que é real”. A filha diz: “Naquele dia acho que ela desistiu mesmo de 
Deus, agora é só eu e eu, o poder real e acabou”. Estamira a partir de 
uma vivência normal (observar os coqueiros) dá uma significação nova 
a esse evento, caracterizando uma percepção delirante, sintoma de pri-
meira ordem da Esquizofrenia.
A percepção delirante se caracteriza em se atribuir a percepções 
reais, sem motivo emocional ou racionalmente compreensível, um sig-
nificado anormal. Este significado é de natureza particular, é importan-
te, enérgico e pessoal, como uma mensagem do outro mundo, ou um 
sinal (SCHNEIDER, 1968).
Seguindo o documentário, mostra uma cena de Estamira, aparen-
temente conversando sozinha: “Trocadilo safado, canalha, assaltante de 
poder, manjado, desmascarado”. O “trocadilo” é a forma como se refere 
a uma entidade com a qual discute. O solilóquio é um indicativo de 
alucinação auditiva, em que o indivíduo apresenta o comportamento 
de falar sozinho. Mas é válido elucidar que pode ocorrer em pessoas 
saudáveis.
Hernani, primogênito de Estamira, conta que já tentou internar a 
mãe. Estamira diz: “O desgraçado da família Itália juntamente com 
aquele meu filho me pegaram aqui dentro (no lixão) como se eu fosse 
uma fera, um monstro algemado e aquele meu filho ficou contaminado 
pela terra suja, pelo baixo nível, pelo insignificante.”
Estamira fala mais uma vez sobre sua alucinação cenestésica: “Contro-
le remoto atacou desde manhã, a noite inteira pelejando pra ver se atinge 
A psiquiatria no cinema • 41
alguma coisa, que é o coração meu. Ou então a cabeça.” Há sempre um 
conteúdo delirante, a ideia de estar lutando contra determinada força.
Mais uma evidência de alucinação auditiva é detectada em mais uma 
das reflexões da personagem: “Eu estou num lugar bem longe, num 
espaço bem longe, a Estamira está longe, Estamira está em todo lugar” 
… de repente fica com o olhar fixo, como que perplexa com algo e fala: 
“Espera aí que eu tô descendo”, como se alguém tivesse conversado 
algo com ela. Logo em seguida, Estamira começa a escutar algo e colo-
ca um objeto no ouvido, conversando em uma língua diferente, estra-
nha. Esse ato de conversar em uma língua estranha, produzindo sons 
ininteligíveis, é caracterizado como glossolalia.
Estamira era atendida no Centro de assistência social José Miller, em 
Nova Iguaçu. Relata sobre suas consultas: “… eu conheço médicos. Ela 
é copiadora. Eles estão fazendo sabe o quê? Dopando quem quer que 
seja com um só remédio… O tal do Diazepam então. Se eu beber Dia-
zepam, se eu sou louca, visivelmente, naturalmente eu fico mais lou-
ca.” Ela mostra alguns medicamentos que receitaram. “Toda coisa tem 
limite. Esses remédios são da quadrilha da armação do dopante, pra 
cegar os homi.” O conteúdo delirante de sua vivência leva a uma baixa 
adesão ao tratamento farmacológico.
“Eu tô desgovernada, querendo falar sem poder, agoniada… Eu já 
tive pensando em ficar um ano sem beber o remédio porque tem vez 
que a minha cabeça tá parecendo sabe o quê? Um copo cheio de Sonri-
sal fervendo”.
“Olha tem uma coisa zuando aqui no meu ouvido, fazendo – tiiimm 
– e eu acho que é os remédios, entendeu? Porque eu bebo muito remé-
dio e eles é tudo dopante”.
No documentário é possível observar uma ruptura de temporalida-
de, a perda de referência do Eu no tempo e espaço, uma cisão na inte-
gralidade, identidade do Eu: “Antes deu nascer eu já sabia disso tudo, 
antes deu tá com carne e sangue… É claro que eu sou a beira do mun-
do, eu sou a Estamira…”
42 • A psiquiatria no cinema
Há uma autointitulação grandiosa, com discurso místico que envol-
ve temas religiosos: “Eu sou perfeita, meus filhos são comuns. Eu sou 
melhor do que Jesus e orgulho por isso…”
“Agora vou revelar a verdade, quem quiser me matar pode matar, 
não mataram Jesus?”
Há um comprometimento social gerado pela doença da persona-
gem. Estamira tem um relacionamento instável com o filho Hernani, 
visto que ele frequenta a Igreja Adventista do 7° dia e a ira de sua mãe 
contra Deus o afasta. Ele acredita que a mãe é possuída por forças ma-
lignas. Ela diz: “ A minha cabeça trabalha muito, mas o trocadilo fez 
com que eu me separasse até dos meus parentes…”
“Se queimar o espaço todinho e eu tô no meio, pode queimar e eu 
tô no meio, invisível. Se queimar meu sentimento, minha carne, meu 
sangue, se for pra verdade, pela lucidez de todos os seres, por mim pode 
ser agora nesse segundo. E agradeço ainda.”
2.2 Esquizofrenia
O conceito moderno de Esquizofrenia foi formalizado pelo psiquia-
tra alemão Emil Kraepelin no final do século XIX, e o termo, criado por 
Eugenio Bleuler em 1911, a partir do grego schizo (dividir ou clivar) e 
phren (mente), significa literalmente mente desdobrada, ou seja, cisão 
das funções mentais, pensamento “separado” da realidade, dissociação 
entre o pensamento do doente e a realidade física do seu corpo e do 
ambiente (SADOCK e SADOCK, 2008).
A Esquizofrenia segundo a Organização Mundial de Saúde (2000) 
é conhecida como uma das doenças psiquiátricas mais graves e desa-
fiadoras e ainda por muito a ser estudada até hoje. Segundo a Classi-
ficação Internacional das Doenças é uma enfermidade complexa, ca-
racterizada por distorções do pensamento, da percepção de si mesmo 
e da realidade externa, além de inadequação e embotamento do afeto 
(OMS, 1998).
A psiquiatria no cinema • 43
Trata-se de uma doença bastante prevalente dentre as condições psi-
quiátricas. Atualmente, os pacientes com esquizofrenia são maioria nos 
leitos de hospitais psiquiátricos. No Brasil aparecem cerca de 75.000 no-
vos casos desse transtorno por ano, o que representa 50 casos para cada 
100.000 habitantes (CHAVES, 2000).
As causas da esquizofrenia são ainda desconhecidas. Porém, há con-
senso em atribuir a desorganização da personalidade, verificada na es-
quizofrenia, à interação de variáveis culturais, psicológicas e biológicas, 
entre as quais destacam-se as de natureza genética (SILVA, 2006).
Os primeiros sinais e sintomas da doença aparecem mais comumen-
te durante a adolescência ou início da idade adulta. Apesar de poder 
surgir de forma abrupta, o quadro mais frequente se inicia de maneira 
insidiosa. Sintomas prodrômicos pouco específicos, incluindo perda de 
energia, iniciativa e interesses, isolamento, comportamento inadequa-
do, negligência com a aparência pessoal e higiene, podem surgir e per-
manecer por algumas semanas ou até meses antes do aparecimento de 
sintomas mais característicos da doença. Familiares e amigos em geral 
percebem mudanças no comportamento do paciente, nas suas ativi-
dades pessoais, contatosocial e desempenho no trabalho e/ou escola 
(SILVA, 2006).
Segundo o DSM-V, apresenta os seguintes critérios diagnósticos:
(a) Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma 
quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou 
menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) 
ou (3): 1. Delírios. 2. Alucinações. 3. Discurso desorganizado. 4. Com-
portamento grosseiramente desorganizado ou catatônico. 5. Sintomas 
negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia).
(b) Por período significativo de tempo desde o aparecimento da per-
turbação, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas importantes 
do funcionamento como trabalho, relações interpessoais ou autocuida-
do, está acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou 
quando o início se dá na infância ou na adolescência, incapacidade de 
44 • A psiquiatria no cinema
atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou 
profissional).
(c) Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, 
seis meses. Esse período de seis meses deve incluir no mínimo um mês 
de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que precisam satisfa-
zer ao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos 
de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos prodrô-
micos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados 
apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no 
Critério A presentes em uma forma atenuada (p. ex., crenças esquisitas, 
experiências perceptivas incomuns).
(d) Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtor-
no bipolar com características psicóticas são descartados porque 1) não 
ocorreram episódios depressivos maiores ou maníacos concomitante-
mente com os sintomas da fase ativa ou 2) se episódios de humor ocor-
reram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em 
relação aos períodos ativo e residual da doença.
(e) A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma 
substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição 
médica.
(f ) Se há história de transtorno do espectro autista ou de um trans-
torno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de 
esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações proemi-
nentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão tam-
bém presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com 
sucesso).
O DSM-5 abandonou a divisão da esquizofrenia em subtipos: para-
noide, desorganizada, catatônica indiferenciada e residual. Os subtipos 
apresentavam pouca validade e não refletiam diferenças quanto ao cur-
so da doença ou resposta ao tratamento (ARAÚJO e NETO, 2014).
Estamira, no documentário, apresenta dois critérios maiores 
(Alucinações auditivas e delírios, em curso crônico). O tratamento 
A psiquiatria no cinema • 45
medicamentoso contínuo é fundamental no controle da sintomatolo-
gia do transtorno, especialmente quando associado a outras modalida-
des terapêuticas (Silva et. al 2012).
A não adesão é um problema persistente e relevante entre pessoas que 
tomam antipsicóticos. É um fenômeno complexo e multifatorial. Carac-
terísticas do contexto, cultura e crenças do indivíduo influenciam signi-
ficativamente a adesão ao tratamento medicamentoso (CHANG et. al 
2013). É de extrema importância o acompanhamento psiquiátrico desses 
pacientes e o uso de estratégias que visem maior adesão ao tratamento.
O objetivo principal do acompanhamento psiquiátrico é a preven-
ção de recaídas, pois essas contribuem para a deterioração do paciente. 
Como objetivos secundários estão a prevenção do suicídio, a reabilita-
ção do paciente e a diminuição do estresse familiar. O sucesso do tra-
tamento depende da adesão do paciente. Mesmo após várias crises e 
remissões, os pacientes param de tomar os antipsicóticos e voltam a ter 
recaídas. A relação médico-paciente e o vínculo devem ser trabalhados 
constantemente para o êxito do acompanhamento psiquiátrico. As es-
tratégias do tratamento variam conforme o paciente, sua família, a fase 
e a gravidade da doença (SHIRAKAWA, 2000).
Considerando a complexidade, a severidade, o intenso sofrimento e os 
inúmeros prejuízos que a esquizofrenia pode causar nos diversos aspectos 
da vida de seus portadores e seguindo as ideias de transformação dos concei-
tos de doença mental e assistência psiquiátrica, é importante um novo olhar 
para os portadores deste transtorno, dando-lhes voz, acolhendo e valorizan-
do seus sofrimentos neste processo de descoberta de novo sentido para a 
convivência com a esquizofrenia (MARQUES, BIM e SIQUEIRA, 2012).
3. Considerações Finais
O documentário nos traz uma reflexão acerca do estigma associa-
do à doença, que ocorre principalmente devido a sua contextualiza-
ção a eventos de cunho religioso, espiritual. No início dos tempos, os 
46 • A psiquiatria no cinema
distúrbios mentais eram vistos como uma revolta dos deuses ou posses-
são demoníaca.
A importância dessa reflexão é desmistificar as falsas crenças com 
relação à Esquizofrenia e nos fazer enxergar o ser humano que há por 
trás, trazendo à tona toda a dificuldade social enfrentada por esses in-
divíduos. É uma forma de alertar tanto a população quanto as autori-
dades sobre a necessidade de criar estratégias de saúde que recebam 
da melhor maneira esses pacientes, dando a eles toda acessibilidade e 
os acolhendo. Minimizando assim, os danos sociais e ocupacionais por 
eles vivenciados.
Além disso, favoreceria a uma maior adesão e procura dos portado-
res ao tratamento, visto que o principal obstáculo é o estigma envolto 
nas doenças mentais.
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A psiquiatria no cinema • 49
IV. FRAGMENTADO
Caroline Kelly de Alvarenga

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