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Introdução à História da Comunicação (1)

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Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
Introdução à 
História da 
Comunicação
Organizado por
Pablo Laignier e Rafael Fortes
Rio de Janeiro, 2009
Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
© Pablo Laignier e Rafael Fortes (org.)/E-papers Serviços Editoriais Ltda., 2009.
Todos os direitos reservados a Pablo Laignier e Rafael Fortes (org.)/E-papers 
Serviços Editoriais Ltda. É proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou 
parte dela, por qualquer meio, sem a prévia autorização dos editores.
Impresso no Brasil.
ISBN 978-85-7650-203-6
Projeto gráfico e diagramação
Livia Krykhtine
Capa
Renan de Araujo
Revisão
Helô Castro
Esta publicação encontra-se à venda no site da
E-papers Serviços Editoriais.
http://www.e-papers.com.br
E-papers Serviços Editoriais Ltda.
Rua Mariz e Barros, 72, sala 202
Praça da Bandeira – Rio de Janeiro
CEP: 20.270-006
Rio de Janeiro – Brasil
CIP-Brasil. Catalogação na fonte 
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
I48
Introdução à História da Comunicação/organizadores Pablo Laig-
nier e Rafael Fortes. - Rio de Janeiro: E-papers, 2009.
134p. 
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7650-203-6
1. Comunicação - História. I. Laignier, Pablo. II. Fortes, Rafael.
09-1760. CDD: 302.209
CDU: 316.77(09)
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Sumário
5 Introdução: sobre o termo “comunicação”
9 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento 
da escrita
Pablo Laignier
29 2. Da impressão à liberdade de imprensa 
(séc. XV-XVIII)
Rafael Fortes
39 3. A industrialização da imprensa no século XIX
Andréa Vale
49 4. Os impressos brasileiros de 1808 a 1930
Rafael Fortes
61 5. A história da fotografi a e do cinema: mais que 
imagens, sensações
Wilson Oliveira Filho
77 6. Rádio e memória
Isabel Spagnolo
91 7. Televisão
Rogério Sacchi de F. Werneck
105 8. Imprensa e política no Brasil
Isabel Spagnolo
121 9. Breve história dos computadores e do ciberespaço
Pablo Laignier
133 Sobre os autores
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Introdução: sobre o termo “comunicação” 5
Introdução: 
sobre o termo “comunicação”
Escrever sobre comunicação não é uma atividade simples, por di-
versos motivos: em primeiro lugar, este campo do saber é bastan-
te recente do ponto de vista histórico. A noção de comunicação 
recebeu grande atenção acadêmica a partir do século XIX, mas 
foi somente durante o século XX que se colocou a Comunicação 
Social como um campo de estudos próprio (Mattelart; Mattelart, 
2001). Ainda assim, até hoje um estudante de jornalismo ou pu-
blicidade que queira adquirir seu diploma universitário terá de 
se deparar, primeiramente, com paradigmas e correntes de pen-
samento oriundos de outros campos epistemológicos, tais como: 
Sociologia, Antropologia, História, Filosofia.
Em segundo lugar, a dificuldade em situar com precisão o 
 objeto de estudo de um campo cuja transdisciplinaridade vem 
sendo uma das características principais faz com que se discuta, 
constantemente, a definição do termo “comunicação”. Segundo 
Martino (2001, p.23), “comunicar é simular a consciência de ou-
trem, tornar comum (participar) um mesmo objeto mental (sen-
sação, pensamento, desejo, afeto).”
A troca de mensagens ou até mesmo a troca de mercadorias entre 
duas ou mais pessoas são exemplos de comunicação, se tomarmos o 
termo em sentido mais amplo. Segundo Sodré (1996, p.11), 
diz-se comunicação quando se quer fazer referência 
à ação de pôr em comum tudo aquilo que, social, 
política ou existencialmente, não deve permanecer 
isolado. Isso significa que o afastamento originário 
criado pela diferença entre os indivíduos, pela al-
teridade, atenua-se graças a um laço formado por 
recursos simbólicos de atração, mediação ou vin-
culação. 
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6 Introdução: sobre o termo “comunicação”
Há um sentido mais estrito de “comunicação” que parece pre-
dominar no mundo atual: o de que o termo refere-se, sobretudo, 
à transmissão de mensagens midiáticas através de um canal.1 Mas 
este não é o único sentido possível, principalmente em se tratan-
do de uma abordagem histórica dos processos comunicacionais. 
Deste modo, discutir a história da comunicação, ainda que de 
forma breve, como este livro pretende, significa apresentar tam-
bém as características dos primórdios da comunicação humana, 
em um tempo que se estendeu por milênios e que é fundamental 
para o entendimento da comunicação, pois esta não foi iniciada 
com o advento da prensa de Gutenberg ou da relação mediada 
por canais informativos em sistemas elétricos.
Os nove capítulos que se seguem abordam diferentes aspectos 
e períodos da história da comunicação. A variedade se dá não 
apenas em função dos temas e períodos, mas também dos estilos 
e propósitos dos autores. Consideramos esta diversidade positiva. 
Cabe ressaltar, ainda, que os capítulos se apresentam em ordem 
cronológica, mas podem ser lidos separadamente.
Por fim, ressaltamos que é importante compreender o poten-
cial de inovação de cada meio, mas também seus usos e apropria-
ções sociais. Os meios de comunicação, em si, não são bons ou 
maus. O que importa é quem os usa, e com que propósitos. Meios 
surgidos como formas de controlar e manter o estado vigente das 
forças sociais podem ser tomados como ferramentas revolucioná-
rias pelos setores oprimidos. As mídias não são, por si mesmas, 
conservadoras ou progressistas. Progressistas ou conservadores 
podem ser os seus usos, a sua propriedade, os interesses a que 
servem. Como argumenta o escritor português José Saramago, 
“a informação só nos torna mais sábios se ela nos aproxima das 
pessoas” (Saramago, 2007). 
Os organizadores.
1. A este respeito, a Teoria Matemática da Comunicação ou Teoria da Informação, 
de Shannon e Weaver, ocupa uma posição de destaque, por reduzir os problemas 
comunicacionais ao critério da eficiência técnica de sua transmissão através de 
canais midiáticos (Mattelart; Mattelart, 2001, p.57-61).
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Introdução: sobre o termo “comunicação” 7
Referências bibliográfi cas
MARTINO, Luiz C. De qual comunicação estamos falando? In: HOHL-
FELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga (org). Teorias 
da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis, RJ: Vozes, 
2001. p. 11-25.
MATTELART, Armand; MATTELART, Michele. História das teorias da co-
municação. Trad. Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Loyola, 2001.
SARAMAGO, José. Para que serve a comunicação? In: Comunicação, Cul-
tura e Política. Texto disponível em: http://comcult2006.blogspot.com, 
publicado em 06/04/2007 [1999]. Acessado em: 23 jan. 2008.
SODRÉ, Muniz. Reinventando a cultura: a comunicação e seus produtos. 
Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
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1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 9
1. Primórdios: 
da comunicação oral 
ao advento da escrita
Pablo Laignier
Este primeiro capítulo pretende apresentar, de forma sucinta, os 
aspectos principais da comunicação humana antes do surgimento 
da prensa tipográfica (século XV), período que compreende tanto 
as sociedades baseadas na oralidade quanto aquelas baseadas na 
escrita.
1.1 A origem da linguagem falada
Não é possível afirmar com exatidão quando a comunicação pro-
to-humana teve seu início. Apesar do árduo trabalho de arqueó-
logos em todo o planeta, a pré-história (como o próprio nome 
indica) foi um período em que fatos e acontecimentos dos gru-
pamentos proto-humanos não eram registrados com a finalidade 
de deixá-los para aposteridade. Isso ocorria, principalmente, de-
vido à própria ausência de uma linguagem desenvolvida. Assim, 
desse tempo restaram fósseis e outros indícios, muitos dos quais 
chegaram ao tempo presente em fragmentos, o que exigiu dos 
profissionais da área uma reconstrução detalhada e nem sempre 
completamente possível. Há animais pré-históricos que se supõe 
terem sido de tal forma, mas cuja constituição física não é possí-
vel detalhar com precisão. Ou seja, ao escrever sobre os primór-
dios da comunicação proto-humana, o pesquisador trabalha com 
hipóteses e probabilidades. 
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10 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita
Com relação à comunicação inicial dos proto-humanos, Defleur 
e Ball-Rokeach (1993, p. 26) constatam o seguinte:
o que parece mais plausível, dos exíguos indícios de 
que dispomos, é que as primeiras formas humanas 
se comunicavam através de um número limitado 
de sons que eram fisicamente capazes de produzir, 
tais como rosnados, roncos e guinchos, além de lin-
guagem corporal, provavelmente incluindo gestos 
com mãos ou braços, e movimentos e posturas de 
maior amplitude. 
Assim, através de símbolos e sinais mutuamente compreendi-
dos, os primeiros proto-humanos se comunicavam de forma inci-
piente. Isso ocorria por dois motivos principais: a) a capacidade 
de aprendizagem das espécies proto-humanas não era suficiente 
para criar códigos complexos, o que foi se modificando gradual-
mente conforme se alterava a relação entre cérebro e corpo; b) 
os proto-humanos eram incapazes de falar, devido a sua própria 
constituição física no que se refere aos elementos constitutivos da 
fala (a posição da laringe no corpo, por exemplo) (Defleur e Ball-
Rokeach, op. cit.).
O sistema comunicativo de símbolos e sinais era extremamen-
te básico no que se refere ao nível de complexidade das mensa-
gens. Não era possível transmitir mensagens muito longas, pois 
uma sequência grande de sinais e símbolos poderia fazer com que 
o receptor esquecesse o início da mensagem quando o emissor 
chegasse ao fim. Existem vários estudos em psicologia cognitiva 
que atestam ser a memória humana de curto prazo mais efêmera 
do que a memória humana de longo prazo. Se por um lado a me-
mória de curto prazo mobiliza mais a atenção, por outro ela ten-
de a tornar as mensagens mais próximas do esquecimento (Lévy, 
1993, p. 75-85).
Não obstante, a comunicação através de símbolos e sinais era 
superior a dos outros animais e começou a constituir um sistema 
de comunicação que evoluiria para outros mais complexos. No 
que diz respeito à mudança do sistema de símbolos e sinais para o 
sistema de comunicação oral (baseado em uma linguagem codifi-
cada mais complexa), os estudos com sociedades atuais iletradas 
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1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 11
demonstra que o uso de gestos é bastante difundido no auxílio 
à linguagem oral. Assim, Giovannini (1987, p. 27) afirma que 
“interpretou-se a linguagem como um estágio sucessivo à comu-
nicação através dos gestos”.2
A passagem da comunicação proto-humana através de símbo-
los e sinais para a comunicação através da fala codificada ocorreu 
em algum momento entre 40 e 35 mil anos atrás, quando a espé-
cie dos Cro-Magnon iniciou o uso de um código mais complexo 
de sons. Segundo Defleur e Ball-Rokeach (op. cit., p. 30), “o Cro-
Magnon tinha uma estrutura craniana, assim como da língua e da 
laringe, exatamente como a nossa, hoje em dia. Evidentemente, 
tinham capacidade para falar e parece escassa a dúvida de o ha-
verem feito”.
A oralidade trouxe novas possibilidades para os proto-huma-
nos. Em primeiro lugar, os sistemas de pensamento evoluem em 
conjunto com a linguagem falada. A mesma codificação que torna 
determinados sons socialmente identificáveis (como possuidores 
dos mesmos significados) permite também que o pensamento se 
complexifique. Ou seja, o ser humano interioriza a linguagem so-
cial, de forma a tornar o pensamento uma espécie de conversa 
interior. Os mesmos dispositivos utilizados em uma conversação 
com outras pessoas serão utilizados pelo indivíduo em uma con-
versação consigo próprio. Além disso, a possibilidade de trans-
mitir mensagens mais longas deve-se ao início da oralidade. Esta 
foi tão importante que, segundo Defleur e Ball-Rokeach (op. cit., 
p. 30-31), teria sido a utilização da linguagem falada a provável 
causa de sobrevivência dos Cro-Magnon enquanto espécie.3
2. É importante ressaltar que exemplos gestuais como o do árbitro de futebol 
durante uma partida oficial e o dos surdos-mudos quando se comunicam entre 
si, não servem como referência para o entendimento do que seria a comunicação 
pré-histórica através de símbolos e sinais. Isto ocorre devido ao fato destas lingua-
gens gestuais citadas terem sido criadas após a consolidação e amplo uso social 
da linguagem falada e de outros códigos ainda mais complexos (como a escrita). 
Assim, há um código complexo que precisa ser aprendido pelo receptor antes do 
possível entendimento dessas mensagens gestuais. Ou seja, não se trata de um 
gestual intuitivo e que pretende comunicar questões básicas para a sobrevivência 
dos seres humanos envolvidos em sua emissão/recepção.
3. O Homem de Neanderthal, por exemplo, era mais forte fisicamente e exímio 
caçador; porém, não dominava a linguagem falada. Desse modo, os autores cita-
dos apresentam a hipótese de que o domínio da fala pelo Cro-Magnon teria sido 
decisivo no que diz respeito à coordenação dos grupamentos de proto-humanos 
em sua mudança para áreas menos inóspitas (por ocasião do derretimento das 
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12 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita
1.2 Características das sociedades baseadas na 
oralidade
Segundo Lévy (op. cit., p. 76-78), seria possível identificar duas 
diferentes formas de utilização do sistema de comunicação oral 
ao longo dos tempos: a oralidade primária e a oralidade secun-
dária. A primeira diz respeito ao uso da linguagem no período 
anterior ao advento de novos sistemas de comunicação mais com-
plexos, tais como a escrita, a impressão, a comunicação de massa 
e a comunicação informática. A segunda forma se refere às so-
ciedades que possuem outro(s) sistema(s) de comunicação em 
uso, nas quais a oralidade continua a ser usada, embora não seja 
mais a única forma de comunicação possível entre os elementos 
que constituem o tecido social. Isso ocorre porque os sistemas de 
comunicação são cumulativos, e a introdução de um novo sistema 
não determina o fim dos anteriores. Ou seja, o que se modifica é 
a posição de destaque ocupada pelo sistema de comunicação no 
grupamento social. Segundo Lévy (op. cit., p. 77), “na oralidade 
primária, a palavra tem como função básica a gestão da memória 
social, e não apenas a livre expressão das pessoas ou a comunica-
ção prática cotidiana”.
Assim, em sociedades totalmente baseadas na oralidade (o que 
ocorreu entre cerca de 40 mil e quatro mil a.C.) os proto- humanos 
e humanos utilizavam a gestualidade como complemento impor-
tante à fala. Este aspecto, inclusive, torna evidente o fato de que 
a oralidade desenvolveu-se a partir da crescente complexificação 
dos sistemas de símbolos e sinais. 
Além disso, Lévy (op. cit., p. 78-81) afirma que as formas de 
inscrição das mensagens na mente humana se dão (conforme 
atestam diversos estudos do campo da psicologia cognitiva) de 
duas maneiras: através da repetição e da elaboração. A repetição 
é efetiva nos casos em que se solicite o funcionamento da me-
mória de curto prazo.4 Com relação à memória de longo prazo, 
 geleiras e das consequentes mudanças climáticas ocorridas no planeta). Portanto, 
o Homem atual é descendente do Cro-Magnon, provavelmente devido à capacida-
de deste de articular uma linguagem falada.
4. Um exemplo de fácilentendimento seria o caso no qual um indivíduo encontra 
uma pessoa conhecida de longa data, porém há muito não vista. O indivíduo pre-
tende guardar o telefone desta pessoa, mas não há nenhum meio de registrá-lo, a 
não ser na própria mente (não há papel nem caneta, o celular está descarregado 
Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 13
sua utilização é feita a partir de um processo conhecido como 
elaboração, que surge através de representações que o cérebro 
associa ao elemento central da mensagem. São, portanto, men-
sagens mais duradouras, que podem ser “acessadas” na memória 
a qualquer momento (quando algum evento ou mensagem susci-
tar aquela outra mensagem) através da representação.5 Segundo 
Lévy (op. cit., p. 79), 
cada vez que nós procuramos uma lembrança ou 
uma informação, a ativação deverá propagar-se dos 
fatos atuais até os fatos que desejamos encontrar. 
Para isto, duas condições devem ser preenchidas. 
Primeiro, uma representação do fato que buscamos 
deve ter sido conservada. Segundo, deve existir um 
caminho de associações possíveis que leve a esta 
representação. A estratégia de codificação, isto é, 
a maneira pela qual a pessoa irá construir uma re-
presentação do fato que deseja lembrar, parece ter 
um papel fundamental em sua capacidade poste-
rior de lembrar-se deste fato. 
Desse modo, o mesmo autor define que nas sociedades cuja 
oralidade é primária as representações têm mais chances de per-
durar na memória dos indivíduos caso atendam às seguintes ca-
racterísticas: a) precisam ser ricamente interconectadas entre si; 
b) essas conexões entre as representações devem envolver, princi-
palmente, relações de causa e efeito; c) as proposições devem fa-
zer referência a domínios do conhecimento concretos e familiares 
para os membros do grupamento social em questão; d) devem, 
também, manter uma relação estreita com os obstáculos e pro-
blemas cotidianos, nos quais o indivíduo possa se sentir ligado 
emocionalmente (Lévy, op. cit., p. 82).
etc.). Assim, o indivíduo repetirá para si mesmo, várias vezes, o número do tele-
fone em questão até estar próximo de um suporte material para o registro desta 
informação.
5. Voltando ao exemplo da nota anterior, quando aquele número de telefone esti-
ver devidamente registrado na memória do indivíduo, ele será suscitado, no mo-
mento oportuno, através de uma elaboração (o número associado à pessoa em 
questão e às situações que ligam esta mesma pessoa ao indivíduo).
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14 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita
Para ajudar na elaboração das ideias a serem inscritas na men-
te dos indivíduos pertencentes a um grupamento social baseado 
na oralidade primária, a presença de recursos como as imagens, 
os gestos, a música e a dramatização dos fatos torna mais eficaz a 
permanência de uma mensagem na memória dos indivíduos.
O próprio conceito de indivíduo não poderia ser atribuído, 
adequadamente, aos grupamentos sociais anteriores à escrita. A 
relação de pertencimento destes seres humanos ocorria para com 
uma memória comum partilhada socialmente através de ritos e 
mitos. Os ritos repetiam sistematicamente certas ações, enquanto 
os mitos davam conta do real através de representações. Em or-
ganizações sociais pré-históricas, a presença da memória coletiva 
foi fundamental para a passagem de tradições e conhecimentos 
de geração a geração.
Com relação ao tempo e ao espaço, duas características prin-
cipais dos mitos e ritos utilizados pelas organizações sociais base-
adas na oralidade podem ser apontadas: a) em primeiro lugar, o 
tempo, nestas sociedades, era circular; e b) em segundo lugar, os 
mitos e ritos possuíam uma relação estreita com um outro mundo 
que não a Terra conhecida por todos.
No que se refere à primeira característica, passava-se de uma 
narrativa mítica a outra, sendo todas interligadas e procurando 
explicar a origem e o funcionamento dos elementos presentes 
no cotidiano destes grupamentos sociais. Dessa forma, não havia 
grandes projetos de longo prazo, pois o eterno retorno ao presen-
te era uma característica essencial dessas sociedades. Os ritos e 
mitos eram repetidos dramaticamente, pois havia um todo a ser 
apreendido, mais do que inovações a serem descobertas. Como 
afirma Lévy (op. cit., p. 83-84), “nestas culturas, qualquer pro-
posição que não seja periodicamente retomada e repetida em voz 
alta está condenada a desaparecer”.
Com relação à segunda característica, a narrativa mítica traba-
lhava com elementos contidos em um devir ao qual os humanos 
reportavam-se para transmitir sua herança social. Como os pri-
meiros grupamentos humanos eram nômades e, por isso mesmo, 
baseavam seu modo de vida na coleta de frutos silvestres e na 
Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 15
caça, as narrativas e rituais eram fundamentais para que esses se 
posicionassem no mundo.
1.3 O advento da escrita
O homo sapiens (ou seja, a espécie humana) surgiu entre 30 mil 
e 10 mil anos atrás. Entre 10 mil e 6.500 anos atrás, os seres 
humanos começaram a se estabelecer em determinadas regiões 
do Oriente Médio, tais como: Palestina, Egito, Mesopotâmia. Os 
grupamentos sociais humanos pré-históricos operaram uma tran-
sição importante nessa época: passaram, gradualmente, de gru-
pos “caçadores e coletores” para grupos “agricultores e pastores”. 
O nomadismo foi substituído pelo sedentarismo e, por volta de 
6.500 anos atrás, os grupamentos humanos já se encontravam 
situados em territórios específicos, principalmente nas regiões ci-
tadas acima.
No período em que os grupamentos humanos começaram 
a habitar um mesmo território de forma perene, iniciou-se seu 
processo de enraizamento à terra habitada, onde se trabalhava 
coletivamente para o seu cultivo: surgiam as condições para o 
advento da escrita. 
1.4 A escrita como ferramenta econômica
Embora a escrita seja vista por diversos autores como uma forma 
de melhoria na transmissão da informação, ou seja, um avanço no 
processo comunicativo dos seres humanos, fortes indícios existem 
de que a motivação principal que levou os seres humanos ao re-
gistro da informação em suportes materiais (como pedra e argila, 
inicialmente) foram fatores econômicos. A partir do momento em 
que o ser humano passou a habitar locais determinados, iniciando 
uma vida sedentária, adquiriu, gradualmente, a necessidade de 
estabelecer limites para este território. Além disso, os limites de 
propriedade entre os indivíduos que cultivavam a terra adquiri-
ram extrema importância para o funcionamento do grupamento 
social. Como afirma Giovannini (op. cit., p. 29),
Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
16 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita
chegou-se à escrita por razões essencialmente eco-
nômicas. Os produtos da terra eram postos em cir-
culação e uma grande parte deles acabava como 
tributo ao deus da cidade. Portanto, eis que surge 
a necessidade de um sistema de controle e de con-
tabilidade, que foi gerenciado pela poderosa casta 
dos sacerdotes. 
Segundo os autores Defleur e Ball-Rokeach (op. cit., p. 33), 
“não é de surpreender, por conseguinte, que a escrita tenha se 
iniciado na antiga Suméria e no Egito, regiões onde a agricultura 
foi inicialmente praticada”.
1.5 Precursores da escrita
Muitos povos foram importantes no que diz respeito ao início da 
cultura letrada. Devido à brevidade deste capítulo, apenas alguns 
serão citados, com base em sua contribuição histórica para a co-
municação humana.
1.5.1 Os sumérios e a escrita cuneiforme
Os primeiros registros de um sistema de linguagem escrita são 
datados de 3.300 a.C. e provenientes da cidade-Estado de Uruk, 
localizada na Mesopotâmia:6 são pequenas tábulas de argila nasquais eram gravados com varetas alguns sinais em forma de 
cunha. Trata-se da escrita cuneiforme, criada pelos sumérios.
A escrita dos sumérios era, inicialmente, baseada em um sis-
tema pictográfico,7 isto é, cada sinal gráfico assemelhava-se a um 
desenho. Deste modo, convencionava-se o significado daquele 
desenho e, toda vez que ele aparecesse em uma tábula de argila 
ou pedra, quem o “lesse” saberia a que se referia. Apenas a título 
6. A Mesopotâmia ocupava o território onde atualmente está localizado o Iraque.
7. Há divergências com relação a este aspecto. Segundo Martins (2002, p. 44), 
“no caso da escrita cuneiforme, os documentos arqueológicos demonstraram que, 
ao contrário do que se pensou por muitos anos (...), não há nenhuma ligação 
histórica entre esse sistema e os processos pictográficos”. Porém, o autor deste 
capítulo adota como pressuposto a visão tanto de Giovannini (op. cit.) quanto de 
Defleur e Ball-Rokeach (op. cit.), de que os sumérios passaram da pictografia aos 
sinais fonéticos. 
Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 17
de exemplo hipotético: um sol poderia significar que é dia de co-
lheita; um arco ou uma lança poderiam indicar a data de uma 
caçada. Apesar do uso de pictogramas ter constituído a primeira 
tentativa sistemática de registro da linguagem, em poucos séculos 
os sumérios conseguiram passar ao estágio seguinte da linguagem 
escrita: “o sinal, em vez de indicar um objeto, passou a indicar um 
som, tornando assim possível à escrita exprimir a língua com as 
relações das palavras entre si” (Giovannini, op. cit., p. 29). A des-
peito disso, os sumérios não chegaram à escrita alfabética, estágio 
mais elaborado de registro.
Embora os primeiros registros escritos tenham sido encontra-
dos em edificações, pintados ou encravados na pedra, os sumérios 
passaram a utilizar cada vez mais a argila como suporte da infor-
mação, devido à facilidade de realizar suas inscrições na própria 
com varetas. Além disso, era possível carregar as inscrições na 
argila para diferentes lugares. Segundo Giovannini (op. cit., p. 
33), “os últimos textos em cuneiforme, datados do I século a.C., 
provêm da mesma cidade de Uruk, onde, mais de 3.000 anos an-
tes, tinha nascido a escrita”.
1.5.2 Os egípcios e a escrita ideográfi ca
No Egito Antigo, ao contrário do que aconteceu na Mesopotâ-
mia, mais do que por questões estritamente econômicas, a escrita 
surgiu por fatores políticos. Como afirma Giovannini (op. cit., p. 
33), 
o Egito contou, desde os primeiros tempos de sua 
história, com uma monarquia capaz de unificar 
o país, de impor aquela unidade política que, ao 
contrário, faltou por muito tempo à Mesopotâmia. 
Portanto, pode-se compreender como a escrita era 
necessária à ideologia monárquica, na sua qualida-
de de instrumento capaz de registrar os feitos do 
rei e reforçar seu poder. 
Havia também a preocupação religiosa que fazia com que os 
túmulos egípcios fossem ricamente ilustrados com desenhos e ins-
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18 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita
crições. Os primeiros documentos egípcios são datados de 3.100 
a.C. e sua escrita, com o passar do tempo, diversificou-se.
De início, a escrita egípcia era composta por centenas de si-
nais ideográficos:8 os hieróglifos. Devido ao valor que se dava às 
tradições fúnebres e à vasta gama de símbolos que constituíam 
esse sistema escrito, no Egito Antigo desenvolveu-se uma nume-
rosa casta de escribas. Porém, o preciosismo atribuído à escrita 
hieroglífica fez com que lá surgissem formas cursivas de escrita: a 
escrita hierática (que recebeu este nome por ser atribuída princi-
palmente aos textos religiosos dos sacerdotes) e a escrita demóti-
ca (que suplantou a hierática nos documentos de direito privado, 
espalhando-se amplamente por outros setores da vida social).
Com relação ao suporte da informação, os egípcios foram pre-
cursores do uso do papiro (material proveniente de uma mistura 
vegetal). Segundo Giovannini (op.cit., p. 36),
comparado com os outros materiais usados na vida 
diária, o papiro constituía uma base leve, porém 
mais consistente, e, portanto, mais fácil de se trans-
portar, razão pela qual não tardou a ultrapassar as 
fronteiras, alcançando a região do Oriente Médio 
e suplantando as tábulas de argila, até difundir-se 
por todo o mundo antigo, após a conquista do Egi-
to por parte de Alexandre, o Grande (332 a.C.). 
O povo egípcio também foi precursor no uso de um pioneiro 
sistema de correios. Ainda que esse sistema fosse, ao que tudo in-
dica, utilizado apenas no caso de mensagens oficiais, Giovannini 
(op.cit., p. 39) afirma que “os escribas deviam ser especializados 
na redação de cartas, e nas escolas eram feitos exercícios calcados 
em modelos”.
1.5.3 Os fenícios e a escrita silábica
Os fenícios9 eram exímios comerciantes, o que os levou à ampla di-
fusão de seu sistema escrito. Este, ao contrário dos sistemas picto-
8. A linguagem ideográfica é aquela na qual cada sinal (ou ideograma) representa 
um conceito completo. 
9. Os fenícios habitaram a região na qual se localiza atualmente o Líbano. 
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1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 19
gráfico e ideográfico, aproximava-se de um sistema alfabético.10 
Composto por 22 sinais e tendo sido desenvolvido por volta do 
final do século XII a.C., o sistema escrito fenício diferia dos siste-
mas alfabéticos posteriores por só apresentar as consoantes (este 
sistema, porém, originou o primeiro alfabeto ocidental conhecido, 
como se verá no próximo tópico) (Giovannini, op. cit., p. 43).
A habilidade no que diz respeito à navegação, ao comércio e 
às relações diplomáticas fez com que o sistema silábico fenício 
fosse difundido tanto no mediterrâneo (Chipre, Malta, Sardenha) 
quanto no Oriente Médio (Palestina, Síria e Arábia) (Ibid.).
1.5.4 Os gregos e a invenção do alfabeto
Com relação à escrita, os gregos criaram o primeiro código alfabé-
tico completo, no século VIII a.C., anexando as vogais ao código 
silábico dos fenícios (devido ao comércio entre os dois povos). 
Segundo (Giovannini, op. cit., p. 43), “a origem semítica das le-
tras gregas é comprovada tanto pelo nome das próprias letras 
como por sua forma, inconfundivelmente semelhante àquela do 
alfabeto fenício”. 
Sabe-se que a cultura escrita na Grécia Antiga cobriu um va-
riado espectro de assuntos. Além disso, ao contrário do que ocor-
reu em outras culturas pioneiras na linguagem escrita, há indícios 
de que esta não ficou restrita, na Grécia, a uma classe única de 
escribas. Como afirma Giovannini (op. cit., p. 49) com relação 
aos gregos,
entre os mais antigos exemplos de escrita encon-
tramos versos ocasionais e anotações pessoais, 
inscritos em cerâmica ou gravados na rocha, que 
demonstram como esse novo alfabeto não era um 
patrimônio limitado a uma restrita casta de escri-
bas, mas por sua simplicidade estava ao alcance 
de qualquer pessoa que dispusesse de meios para 
aprendê-lo: pintores de vasos, cinzeladores, grava-
dores de bronze, cidadãos privados. 
10. “Por alfabeto entende-se a lista de 20-30 letras que indicam os sons mais sim-
ples nos quais uma língua pode se decompor e que permitem escrever essa mesma 
língua” (Giovannini, op. cit., p. 40).
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20 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita
 Ainda que não contemplasse toda a sociedade grega (as mu-
lheres, por exemplo, não possuíam o direito à alfabetização), hou-
ve uma espécie de “democratização” do saber na Grécia Antiga, o 
que se refletiu na construção de imensas bibliotecas (como a de 
Alexandria, durante o período conhecido como Império Helenísti-
co11) e no desenvolvimento de um comércio rudimentar de livros. 
Apesardisso, a cultura grega era fortemente baseada na oralida-
de, se comparada aos padrões da cultura ocidental atual. 
Outro fator de destaque dos gregos com relação à escrita foi 
a invenção do pergaminho, um suporte informacional mais resis-
tente, caro e cuja preparação exigia maior especialização do que 
o papiro. Como afirma Martins (2002, p. 65), 
sob a fé de Plínio, o Antigo (responsável por tantas 
inexatidões de graves historiadores!), as histórias 
do livro costumam repetir que Ptolomeu Epifânio, 
desejando combater a biblioteca de Pérgamo, criada 
por Eumênio II (197-158 a.C.), que se mostrava pe-
rigosa rival da de Alexandria, proibiu a exportação 
do papiro. Com isso, teria obrigado os engenhosos 
habitantes de Pérgamo a inventar um novo material 
de escrita, extraído de peles de animais (...).
Há diversos autores que consideram esta história uma lenda, 
pois existem registros anteriores de peles animais utilizadas como 
suporte para a escrita em outras civilizações humanas. Porém, no 
período entre 197 e 158 a.C., houve um aprimoramento das téc-
nicas de utilização de materiais de origem animal como suportes 
da escrita em que a colônia grega de Pérgamo ocupou uma posi-
ção de destaque. Não por acaso, seu nome serviu para definir o 
novo suporte: pergaminho (Giovannini, op. cit., p. 52).
1.5.5 Os chineses e a invenção do papel
Paralelamente ao que ocorria no Ocidente, os chineses desenvol-
veram um padrão escrito ideográfico (com mais de quatro mil 
11. “Geralmente entende-se por helenismo o período da história grega que vai de 323 
a.C., ano da morte de Alexandre, o Grande, até 31 a.C., ano da conquista do Egito – 
último reino helenístico independente – pelos romanos” (Giovannini, op. cit., p. 51).
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1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 21
caracteres) cujo principal suporte adotado era a madeira. A busca 
por materiais mais leves e portáteis que pudessem servir de su-
porte para a informação escrita fez com que os chineses desen-
volvessem também a escrita sobre a seda. Ainda assim, em se 
tratando de um material cuja produção era cara, os escritos sobre 
a seda passaram a ser utilizados somente no caso de mensagens 
imperiais e afins. Como afirma Martins (op. cit., p. 111), “os chi-
neses fabricavam livros desde uns dois séculos antes de Cristo, 
segundo as mais recentes pesquisas (os amantes da precisão his-
tórica indicam o ano 213 a.C.)”.
Atentos ao que ocorria em outras partes do mundo, devido 
a expedições e conflitos internacionais, os chineses já haviam 
 adquirido, por volta do século II a.C., conhecimento da existência 
do papiro e do pergaminho. A tentativa de descobrir como se pro-
duziam suportes informacionais leves e portáteis como aqueles 
levou os chineses à criação do papel (cuja base também era vege-
tal, assim como o papiro, só que consistia em um material mais 
resistente) (Giovannini, op. cit., p. 73).
É atribuída ao eunuco Tshai Lun, durante o século II d.C., a 
invenção do papel. Apesar disso, os chineses já produziam há al-
gum tempo o “papel de seda”, cuja produção é similar a do papel, 
só que utilizando outros materiais. Alguns autores observam que 
já se escrevia sobre papel antes de Tshai Lun; porém, este era 
diretor das Oficinas Imperiais, e, na China daquela época, havia 
o costume de atribuir tudo que fosse importante à Corte Imperial 
(Martins, op. cit., p. 111-112).
Outro aspecto histórico a ser destacado é que os chineses de-
senvolveram a técnica de impressão sobre a madeira alguns sé-
culos antes da criação da prensa tipográfica por Gutenberg. O 
ingresso na burocracia estatal através de exames criou a neces-
sidade de um alto número de livros idênticos. Além disso, a di-
fusão das mensagens religiosas (totalmente atreladas ao Estado) 
também influiu no advento da prensa xilográfica pelos chineses. 
Segundo Giovannini (op. cit., p. 74-75), “muito cedo começou-se 
a fazer, na China, a impressão com matrizes de madeira; esta in-
venção recebeu um notável estímulo por parte da dinastia budista 
Thang (séculos VIII a X d.C.)”.
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22 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita
1.5.6 Os árabes e a difusão do papel pela Europa
Se os chineses inventaram o papel, foram os árabes que implanta-
ram esse novo suporte material da informação escrita na Europa. A 
expansão do islamismo pelo Oriente fez com que alguns chineses 
fabricantes de papel fossem capturados (na batalha do rio Talas, 
ocorrida em 751 d.C.). Assim, os árabes começaram a aprender o 
modo de produção do papel com os chineses, tendo sido o povo 
pioneiro a exportar o novo material para a Europa e lá implantar 
as primeiras fábricas (na Espanha, no século XI d.C., e na Sicília, 
no século XII d.C.). Devido às vantagens que o papel apresentava 
com relação ao pergaminho (a de proporcionar um custo inferior e 
também um maior volume de produção), o suporte material para a 
informação criado pelos chineses difundiu-se por toda a Europa até 
o século XIV (Giovannini, op. cit., p. 75-76).
Embora a civilização árabe tenha dado enorme importância 
ao papel por motivos religiosos (devido à obrigação de se copiar 
o Alcorão antes de decorá-lo), desenvolveu, também, uma vasta 
quantidade de literatura profana. No século IX d.C. (auge da cul-
tura árabe no Oriente), havia, na capital Bagdá, “uma centena 
de livreiros, e as bibliotecas eram impressionantes. Foram exata-
mente os árabes que conservaram e transmitiram grande parte da 
literatura grega para o Ocidente” (Giovannini, op.cit., p. 76).
1.5.7 O Império Romano e o alfabeto latino
A escrita alfabética chegou à região da Toscana entre os séculos 
VIII e VII a.C., através de uma adaptação do alfabeto grego, que 
se expandiu por esta região devido às colônias da Magna Grécia12 
(especialmente a de Cumas): tratava-se do alfabeto etrusco, uti-
lizado até o século I a.C, cujos poucos escritos deixados sugerem 
um predomínio de textos religiosos (Giovannini, op. cit., p. 54).
Há traços da língua etrusca no latim, devido a um longo pe-
ríodo de dominação dos etruscos sobre Roma.13 Não se sabe ao 
certo se o alfabeto romano foi diretamente adaptado do grego de 
12. Magna Grécia é o nome dado ao conjunto de cidades fundadas pelos gregos na 
região da Sicília e do sul da Itália, a partir do século VIII a.C.
13. Foi o povo oriundo da região da Etrúria que provavelmente fundou Roma, no 
século VIII a.C. Sua dominação sobre Roma estendeu-se até o século VI a.C. 
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1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 23
Cumas ou se o seu desenvolvimento ocorreu a partir do alfabeto 
etrusco, mas o fato é que no período compreendido entre os sé-
culos VII e VI a.C. (data dos mais antigos documentos da escrita 
latina) os romanos utilizavam-se menos da escrita do que gregos 
e etruscos. Porém, tanto para os etruscos como para os romanos a 
palavra escrita possuía um caráter mágico e religioso, pois desa-
fiava o tempo em sua longevidade e transmitia o saber (Giovan-
nini, op. cit., p. 54-55).
Após alguns séculos de utilização da palavra escrita e da ex-
pansão do Império Romano sobre outros povos, a quantidade de 
bibliotecas públicas e particulares em Roma era significativa (o 
que demonstrava uma crescente difusão dos livros na região). 
Em 370 d.C., a cidade contava com 28 bibliotecas. Estas, por sua 
vez, continham salas de leitura e de discussão, além de gabinetes 
apropriados para os funcionários. Desempenhavam, ainda, uma 
adequada conservação dos livros (Giovannini, op. cit., p. 58).
A difusão de livros em Roma criou um mercado inicial, onde 
comerciantes utilizavam escravos especializados para reprodu-
zir, de forma manuscrita, textos que seriam vendidos. Não havia 
regras claras sobre direitos autorais e o império eventualmente 
censurava (e punia) obras e autorescujas ideias incomodavam o 
poder hegemônico (Giovannini, op. cit., p. 58-61).
1.6 A Idade Média ou a “Era da Exclusão de Massa”
A delimitação do período de tempo conhecido como Idade Média 
gera discordâncias na literatura especializada. Porém, o fato é que 
entre os séculos IV e XV d.C. ocorreram transformações importan-
tes no que concerne à comunicação social. O hiato temporal pres-
suposto por uma Era cuja denominação indica justamente uma 
transição entre os mundos Antigo e Moderno foi também o tempo 
da criação da Igreja Católica Apostólica Romana e da concentra-
ção do saber junto às Ordens religiosas.
Se a Antiguidade já havia conhecido as bibliotecas, foi na Ida-
de Média que o advento do livro no formato em que conhecemos 
tornou-se cada vez mais usual. Se antes os manuscritos eram en-
rolados sobre pedaços de madeira, formando os volumina (ou, no 
singular, volumen, de onde deriva a palavra volume), durante a 
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24 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita
Idade Média o formato do codex (mais próximo do formato dos 
livros atuais) difundiu-se pelos mosteiros católicos da Europa. 
Como afirma Martins (op. cit., p. 80), “o manuscrito enrolado se 
mantém até o ano 300, mais ou menos, aparecendo o codex por 
volta do século IV”. 
Dos diferentes tipos de biblioteca medievais (monacais, parti-
culares e universitárias), houve um claro predomínio das ligadas 
aos monastérios. A difusão da Igreja Católica, a partir do século 
IV d.C., instaurou a presença dos mosteiros em grande parte da 
Europa, onde os monges copistas eram responsáveis pela cópia 
dos manuscritos antigos e, dependendo do monastério e do sécu-
lo, pela produção de novos manuscritos. A despeito disso, mais do 
que difundir o saber dos antigos, os monges católicos guardavam 
este conhecimento para si. Com relação aos gregos, por exemplo, 
apenas alguns poetas eram traduzidos para o latim pelos monges. 
Os textos de caráter teatral e histórico eram ignorados por eles. 
Nada que pudesse se opor à doutrina do catolicismo chegaria ao 
conhecimento de pessoas laicas, o que gerou um paradoxo in-
teressante: os mesmos monges que conservaram boa parte dos 
textos helênicos que seriam fundamentais para o Renascimento 
europeu foram também os que esconderam este saber de seus 
contemporâneos laicos. Como afirma Martins (op. cit., p. 72), “do 
ponto de vista intelectual, a humanidade se dividiu, por séculos e 
séculos, entre “clérigos” e “laicos”, entre iniciados à palavra escri-
ta e os não-iniciados”.
Assim, Giovannini (op. cit., p. 64-65) conclui que os livros 
(juntamente com a escrita), do final da Antiguidade até boa parte 
da Idade Média, sofreram uma transformação: passaram a ser não 
mais um instrumento de transmissão do conhecimento, mas um 
instrumento de dominação das classes hegemônicas. A própria 
iconografia da Igreja, a partir do século VII d.C., passou a apre-
sentar o livro sempre fechado junto ao peito, sugerindo às pessoas 
laicas que se devia venerar seu conteúdo, mas não conhecê-lo.
Esta situação começou a mudar a partir do século XII d.C., 
como afirma Giovannini (op. cit., p. 70), devido aos seguintes 
fatores: a) o renascer das cidades; b) a obra dos tradutores (que 
difundiam as obras helênicas); e c) o crescente interesse pelo di-
Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 25
reito (motivado pelo acirramento da disputa pelo poder entre a 
nobreza e o clero).
Nesse contexto, surgiram as universidades, que fomentavam 
uma nova produção de livros manuscritos (através de um sistema 
de fascículos que permitia maior agilidade em sua circulação), 
aumentando sua difusão e trazendo à tona, aos poucos, as obras 
de origem grega (responsáveis em grande parte pelas ideias re-
nascentistas que viriam a florescer nos séculos seguintes). Como 
afirma Wanderley (1983, p. 16), destacaram-se neste período as 
universidades de Bolonha (fundada em 1108), Paris (1211), Sa-
lamanca (1243), Oxford (1249), Coimbra (1290), Praga (1348), 
Viena (1365), Leipzig (1409), entre outras.
1.7 Características das sociedades escritas
Foi através da escrita e dos (cada vez mais portáteis) suportes 
materiais da informação que o ser humano passou a dominar o 
tempo e o espaço. Como afirma Lévy (1999, p. 114),
a escrita abriu um espaço de comunicação desco-
nhecido pelas sociedades orais, no qual se tornava 
possível tomar conhecimento das mensagens pro-
duzidas por pessoas que se encontravam a milha-
res de quilômetros, ou mortas há séculos, ou então 
que se expressavam apesar de grandes diferenças 
culturais ou sociais. A partir daí, os atores da co-
municação não dividiam mais necessariamente a 
mesma situação, não estavam mais em interação 
direta.
A comunicação escrita não mais restringia a mensagem ao 
“aqui-agora” da oralidade. Giovannini (op. cit., p. 28) afirma que 
o advento da escrita possibilitou que cada mensagem pudesse ser 
“relida, meditada, analisada”; adquirindo, desse modo, “durabili-
dade, profundidade, clareza.” 
Portanto, se nas sociedades orais a comunicação servia para 
solidificar as tradições, garantindo sua própria longevidade en-
quanto grupo social, nas sociedades escritas a perenidade das 
mensagens fez com que se buscasse uma uniformidade na sua 
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26 1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita
interpretação. Segundo Lévy (1993, p. 89), “quando mensagens 
fora de contexto e ambíguas começam a circular, a atribuição do 
sentido passa a ocupar um lugar central no processo de comu-
nicação”. Este autor afirma ainda que a partir do momento em 
que mensagens puderam ser transmitidas e retransmitidas fora 
do contexto em que foram produzidas, a comunicação humana 
tendeu a tornar-se menos “dramática” e mais “sistemática”. Já 
não era mais a encenação (gestos, cânticos, narrativas) que pre-
dominava, mas a construção e desenvolvimento de um sistema 
difusor de mensagens. 
A comunicação escrita condicionou também uma nova forma 
de ver (ou ler) o mundo: o devir circular da oralidade e suas 
simultaneidades perderam espaço para a linearidade sequencial 
dos sistemas escritos. A busca por uma uniformidade interpreta-
tiva, no que se refere ao sentido das mensagens escritas e à in-
dividualidade que as mesmas proporcionam em sua leitura “fora 
de contexto”, constituiu um fator que o homem ocidental-alfa-
bético empregou em outros setores sociais. O mercado, segundo 
McLuhan (2003, p. 106), seria um bom exemplo: “a mais formi-
dável expressão da cultura letrada talvez seja o nosso sistema de 
preços uniformes, que atinge os mercados distantes e acelera o 
rodízio dos bens de consumo”.
Uma última consideração sobre o advento da escrita consiste 
em analisar suas implicações político-sociais. Embora os aspectos 
cognitivos e espaço-temporais já descritos criem a impressão de 
que a escrita foi extremamente positiva (por ter permitido o sur-
gimento deste mundo ocidental que hoje conhecemos, onde os 
dados são armazenados e se pode dialogar com o passado, como 
este livro mesmo faz), desde os seus primórdios a comunicação 
escrita criou um abismo social entre os letrados e os não-letrados 
(Giovannini, op.cit., p. 30). Só para se ter uma ideia, a popula-
ção brasileira, como afirma Sodré (2002, p. 31), é “constituída 
em quase dois terços por analfabetos e semi-alfabetizados”. Dos 
escribas do Egito Antigo aos intelectuais da atualidade, participar 
ativamente da comunicação escrita (como produtor de mensa-
gens) constitui uma forma de ascensão social. Por outro lado, não 
participar da comunicação escrita, nem mesmo como receptor de 
Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
1. Primórdios: da comunicação oral ao advento da escrita 27
mensagens (ou seja, o leitor comum), significa estar excluídode 
elementos essenciais das sociedades letradas.
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Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
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2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII) 29
2. Da impressão à liberdade 
de imprensa (séc. XV-XVIII)
Rafael Fortes
Este capítulo divide-se em duas partes. A primeira trata da invenção 
da imprensa e de alguns impactos como aumento da oferta de 
livros, panfletos e outras formas de manifestação escrita, até 
então manuscritas, e padronização do conteúdo das obras (texto 
e imagem). A segunda trata de movimentos que não podem ser 
considerados consequências da imprensa, mas tampouco seriam 
possíveis – nem alcançariam a dimensão que tiveram – sem 
tal invenção: a Reforma protestante, o Renascimento italiano, 
o surgimento do saber “científico” e os movimentos políticos 
relacionados a eventos revolucionários em países como Inglaterra, 
França e Estados Unidos.
2.1 Invenção e consequências
Embora tentativas e experiências tenham sido feitas em outras re-
giões geográficas e períodos históricos, a imprensa disseminou-se 
no Ocidente a partir da segunda metade do século XV, sendo sua 
invenção um dos marcos de passagem da Época Medieval para a 
Época Moderna.
A penetração da imprensa não foi igual nos continentes e, 
mesmo na Europa, nos países e regiões (Eisenstein, 1998, p. 110). 
Assim como ocorrera com outras invenções, a imprensa sofreu 
oposição – no caso, de fabricantes e compradores que preferiam 
livros copiados à mão, bem como da Igreja Católica, que em mo-
mentos posteriores ordenou restrições ou proibições à circulação 
de certos textos impressos. Os livros manuscritos continuaram a 
ser comprados e utilizados por diferentes públicos, com destaque 
para os aristocratas (Castagni, 1987, p. 129).
Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de MARCIA XIMENES - 10211684
30 2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII)
Por outro lado, espalhou-se rapidamente pela Europa, sendo 
adaptada e transformada segundo as características locais (Cas-
tagni, 1987, p. 121). Editoras e gráficas de diversas cidades con-
tratavam especialistas alemães para implantar tipografias.
A imprensa trouxe uma série de consequências importantes, 
entre elas: a) possibilidade de imprimir numerosas cópias – idên-
ticas – de um mesmo livro; b) aumento da variedade e quantida-
de de títulos disponíveis; c) tornou-se comum a tradução de obras 
para o vernáculo, diferentemente das edições anteriores, disponí-
veis apenas em latim e grego; d) redução do preço dos livros.
Por essas e outras razões, expande-se o público leitor. Quem já 
lia pôde travar contato com títulos desconhecidos; quem sabia ler, 
mas não comprava por falta de dinheiro, teve acesso a obras mais 
baratas. Ter mais livros à disposição, em si, já é algo digno de nota. 
Espalha não só conhecimento novo mas, principalmente, conhe-
cimento antigo que existia, mas não circulava (Eisenstein, 1998, 
p. 58-59). A disseminação da leitura possibilitou a rápida difusão, 
crítica, comentário e discussão de velhos e novos saberes.
Nem todos esses desdobramentos e consequências ocorreram 
imediatamente após a invenção da imprensa. Alguns se deram 
logo nos primeiros anos e décadas. Outros levaram um século ou 
mais para surgirem ou se consolidarem.
Diversos aprimoramentos técnicos foram fundamentais para o 
desenvolvimento da imprensa, entre eles a disseminação do uso 
do papel e o desenvolvimento de técnicas de impressão que evita-
vam borrões e levaram à secagem mais rápida da tinta. No início, 
havia pouquíssima diferença entre uma página manuscrita e uma 
página impressa (Eisenstein, 1998, p. 36-37). A substituição de 
tipos em estilo gótico por românico foi gradual.
Com a imprensa, o livro deixa de ser um objeto único e se tor-
na padronizado e produzido industrialmente. Diminui bastante 
o número de horas e de trabalhadores necessários para produzir 
um livro (Eisenstein, 1998, p. 28).
Até o século XV, os textos escritos buscavam aproximar-se da 
cultura oral, fosse usando diálogos como recurso de redação, 
fosse estruturando-se na forma de comentários à obra copiada. 
Ambos ocorriam de maneira pouco sistemática. Com a imprensa, 
a apresentação dos assuntos tornou-se mais sistematizada e di-
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2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII) 31
reta. Isso contribuiu para a publicação de edições cada vez mais 
“limpas” das obras antigas, as quais, livres de notas, comentá-
rios, digressões e outras interferências dos copistas, muitas vezes 
recuperaram o vigor original. Surgia, assim, a possibilidade de 
comparar diferentes versões de um texto, até mesmo através de 
redes internacionais de estudiosos que colaboravam na discussão 
de obras específicas (Lévy, 1993, p. 94-98).
Essa experiência intensa de trocas, aprendizado e intercâmbio 
foi definida por Elizabeth Eisenstein como “efervescência inte-
lectual”. A comparação de textos possibilitou a correção e redução 
de erros (de conteúdo, autoria, datação). Mas isso só foi possível 
a longo prazo, por meio de estudos e cruzamento de dados. Num 
primeiro momento, a disseminação de obras com “erros” ajudou 
a espalhá-los. Ou seja, o aumento da quantidade abriu espaço 
para o posterior aprimoramento da qualidade (Eisenstein, 1998, 
p. 61-62).
Um texto ser olhado por muitos é bem diferente de ser lido 
por apenas uma pessoa. Estudiosos se debruçando sobre a mesma 
cópia de um livro podiam discutir melhor conteúdo, erros, su-
gestões etc. O erro “padronizado” possibilita correção do mesmo 
tipo, através das erratas, algo inexistente no tempo das cópias 
manuscritas. Editores pediam ajuda a leitores para encontrar e 
corrigir falhas, prometendo em troca publicar seus nomes. Isso 
estimulava os leitores comuns a travar conhecimento do mundo 
concreto, visando a encontrar informações para corrigir ou acres-
centar aos livros. Tal processo, somado à divulgação – ficcional 
ou não – das descobertas que resultaram da expansão para novas 
regiões do globo, configura o que Eisenstein (1998, p. 66-68; 90) 
define como “explosão de conhecimento”.
O desenvolvimento da impressão permitiu a produção de ima-
gens exatas por meio de técnicas de xilografia e gravura, coo-
perando decisivamente para o avanço de muitas áreas de saber 
dependentes de ilustrações, gráficos e tabelas numéricas precisas, 
como astronomia, anatomia e geografia. A reprodução fiel não 
dependia mais da habilidade individual do copista (Lévy, 1993, p. 
99). A reprodução exata foi importante não apenas para imagens 
e palavras, mas também tabelas matemáticas, fórmulas, equações 
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32 2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII)
e outros tipos de representação visual, possibilitando referência 
aos textos nas imagens, e vice-versa (Eisenstein, 1998, p. 39).
Padronizou-se o uso de ordem alfabética em índices, listas, 
compilações, manuais e catálogos, organizando tanto o conjunto 
de obras existentes (para consulta e/ou venda) quanto o conteú-
do interno de cada uma delas. A exatidão do número de páginas 
facilitou a ordenação de conteúdos e sua localização no interior 
dos livros, e a consequente elaboração de índices e referências 
cruzadas. Tornou-se comum a elaboração de páginas de rosto, 
fundamentais para as tarefas de divulgação, identificação e cata-
logação (Eisenstein, 1998, p. 80-89).
Como alerta Lévy (1993, p. 99), não foi um tempo apenas de 
avanço: a impressão também foi usada para publicar textos pre-
gando dominação, conhecimentos “falsos”, ódio e guerra. Havia 
também “impressores ignorantes, somente interessados em obter 
lucros rápidos”, em poder dos quais “os dados tendiam a adulterar-
se em ritmo cada vez mais acelerado” (Eisenstein, 1998, p. 90).
Vale lembrar que as tecnologias da comunicação não explicam 
sozinhas a evolução do pensamento e do conhecimento; na ver-
dade, abrem possibilidades, assim como a mera existência de im-
pressos não garante um uso uniforme (Eisenstein, 1998, p. 111; 
Lévy, 1993). As tecnologias, as mídias, os aparelhos, as formas de 
comunicação social não são, em si, bons ou ruins. Dependem da 
apropriação e do uso sociais; em outras palavras, do que homens 
e mulheres fizerem deles.
Outra contribuição da nova tecnologia relaciona-se à viabilidade 
de conservação integral de livros e documentos, sem adulteração a 
cada cópia. O político estadunidense Thomas Jefferson foi um dos 
que, séculos atrás, perceberam o potencial da imprensa, defenden-
do a ideia de preservar espalhando. Se todo documento está sujeito 
à destruição (por fogo, enchente, guerra, roubo, fungos, insetos 
etc.), a melhor forma de conservá-lo não é mais a guarda a sete 
chaves, mas a reprodução e distribuição. Não apenas duplicá-lo, 
mas torná-lo público e útil (Eisenstein, 1998, p. 95-97).
Houve alguma evolução técnica entre o século XV e meados 
do XVIII. Mesmo assim, até o século XVIII, a impressão, realizada 
com a prensa manual, exigia força física humana. Só se livrou dis-
so com a utilização do vapor como fonte de energia – o que, por 
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2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII) 33
sinal, caracteriza a Revolução Industrial do mesmo século, mas 
só se concretizou na imprensa no século XIX (Lombardi, 1987, p. 
169-170).
Além de países europeus como França, Alemanha e Inglaterra, 
a imprensa teve papel relevante nos EUA. A crescente importân-
cia da precisão aliada à nova noção de autoria levaram à criação, 
na Inglaterra, da Lei de Direito e Propriedade (1709) (Lombardi, 
1987, p. 144-145). A ideia de propriedade (direito) autoral sobre 
textos e invenções veio após a imprensa. Noções como a de plágio 
inexistiam anteriormente (Eisenstein, 1998, p. 100-101).
É impossível precisar a data de circulação do primeiro jornal. 
Informativos e gazetas com temas variados circularam nos sécu-
los XVI e XVII. Não eram veículos de peso, no sentido de seus tex-
tos terem grande impacto social. Isso muda no século XVIII, com 
destaque para a política, primeiramente na Inglaterra. Figuras cé-
lebres começam a debater ideias por meio dos jornais. No mesmo 
século, já circulavam jornais diários e um deles, Daily Advertiser, 
recebia “regularmente (aliás, de modo notável) anúncios publici-
tários pagos” (Lombardi, 1987, p. 146-149).
Os impressos contribuíram para mudar o sentido de lidar com 
questões públicas e para o “enfraquecimento dos vínculos comu-
nitários locais”: antes deles, para discutir, falar e ouvir era preciso 
que as pessoas se juntassem no mesmo local, ao passo que os 
escritos podem – e, com o passar do tempo, tendem mais e mais 
a – ser lidos isoladamente. Por outro lado, possibilitaram o forta-
lecimento de outros tipos de vínculo, como o nacional. O desen-
volvimento da impressão auxiliou a formação dos Estados-nação 
modernos e contemporâneos. A tradução da Bíblia e a publicação 
em geral de material impresso em vernáculo foram passos deci-
sivos para a transformação de alguns dialetos em idioma-padrão, 
construindo os idiomas nacionais europeus (Eisenstein, 1998, p. 
98; 112-113; 182).
2.2 Relação entre imprensa e alguns movimentos 
importantes
A impressão de grandes tiragens da Bíblia em vernáculo, ocorrida 
pouco após a invenção da imprensa, foi decisiva para a ocorrência 
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34 2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII)
da Reforma Protestante. Heresias e divergências dentro da Igreja 
não eram novidade, mas possuíam alcance limitado até então. A 
imprensa foi encarada pelos dissidentes como um presente dos 
céus que ofereceu aos cristãos um novo rumo de fé (Castagni, 
1987, p. 133; Eisenstein, 1998, p. 169-170; 173).
As teses de Lutero, escritas em latim, tinham como objetivo 
inicial travar um debate acadêmico restrito. Rapidamente se so-
maram interesses comerciais de impressores, que traduziram as 
obras para a língua vernácula; táticas de publicidade e venda; e, 
claro, vontade do autor de ver suas ideias divulgadas (Eisenstein, 
1998, p. 171-172).
O protestantismo fez amplo uso da impressão, tendo sido “o 
primeiro movimento de qualquer tipo, religioso ou secular, a utili-
zar os novos prelos como meio de propaganda e agitação abertas 
contra uma instituição estabelecida”. Os autores usaram livros, 
mas também panfletos e cartazes, incluindo caricaturas ácidas 
contra os opositores (Eisenstein, 1998, p. 167-169).
Seguiu-se uma fervilhante atividade gráfica, com produção e 
divulgação de Bíblias, manuais, sermões e outros materiais, tanto 
contra como a favor dos dogmas de Roma. Novas edições da Bí-
blia elaboradas por estudiosos de grego e hebraico vinham a pú-
blico, muitas vezes sem passar pelo aval da Igreja, permitindo aos 
leigos realizar, por conta própria, o cruzamento entre a palavra 
de Deus contida no livro e a doutrina de Roma. O protestantismo 
estimulava a leitura individual e em família da Bíblia, ao passo 
que o catolicismo as condenava. Houve uma articulação entre os 
autores protestantes e os impressores, pois a venda de Bíblias e 
manuais para ritos religiosos caseiros, como se pode imaginar, in-
teressava bastante aos últimos. A Igreja, é claro, reagia, proibindo 
livros e edições não-autorizadas da Bíblia. Os impressores sedia-
dos em regiões – protestantes ou não – situadas fora do domínio 
de Roma, por sua vez, usavam o Índex (índice de livros proibidos 
pela Igreja Católica) para selecionar o que publicar, aumentan-
do os lucros. Fosse pela maior vendagem, fosse pela liberdade 
para imprimir livros variados, os impressores prosperaram mais 
em terras protestantes do que em católicas (Eisenstein, 1998, p. 
176-180; 187-193).
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2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII) 35
No que diz respeito ao Renascimento já em andamento na Itá-
lia, a imprensa teve impactos relevantes. Para Eisenstein (1998, 
p. 135-136; 143-146), o fator fundamental para a Renascença 
italiana ter se firmado – ao contrário de pelo menos duas ou-
tras revivescências do período clássico ocorridas durante a Época 
Medieval – foi aproveitar-se da imprensa. A recuperação de ele-
mentos da Antiguidade e o seu estudo só foram possíveis pela 
disseminação, exatidão e sistematização/codificação (obras de 
referência) proporcionadas pela imprensa.
Embora seja discutível o uso do termo “cientista” para se re-
ferir aos estudiosos dos séculos XVI e XVII, a impressão foi es-
sencial para a revelação de conhecimentos e ciências ocultas,e, 
posteriormente, para que estes tipos de saber se separassem, aos 
poucos, de um saber científico em construção (Eisenstein, 1998, 
p. 160-162; 249).
Elizabeth Eisenstein dá um breve panorama de obras que vie-
ram a público através da imprensa, fazendo grande sucesso:
Descobertas de pedras filosofais, chaves para todos 
os conhecimentos, curas para todos os males, tudo 
isso foi livremente prometido por certos profissio-
nais do milagre, autodidatas e autoproclamados 
(...) (1998, p. 160).
Portanto, o aumento do número de livros oferecendo explica-
ções para o mundo e seus fenômenos não resulta automaticamen-
te em evolução científica. Foi preciso muita discussão até que cer-
tas obras e autores fossem colocados à parte por serem esotéricos 
e se buscasse explicar o mundo através de observação, métodos e 
conclusões mais próximos do que entendemos hoje por ciência.
A produção exata de imagens e a troca de informações foram 
fundamentais para a existência da ciência moderna. Havia mui-
to mais textos, guias e outros materiais disponíveis, facilitando o 
trabalho dos estudiosos. A quantidade de informações a que um 
indivíduo tinha acesso era infinitamente maior. Soma-se a isso a 
possibilidade de registrar precisamente os dados e ideias, trocá-
los com outros entendidos e corrigi-los. Aliás, com frequência, a 
contribuição maior da impressão para o avanço do saber não foi 
levá-lo a todas as pessoas, mas a todos os estudiosos de um de-
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36 2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII)
terminado assunto, de maneira que este pudesse ser discutido e, 
assim, avançar (Eisenstein, 1998, p. 215-219; 227; 266).
A relação entre imprensa e liberdade política é cheia de idas e 
vindas, avanços e recuos. As atividades aumentavam em momen-
tos de conflito intenso e diminuíam em tempos de paz relativa 
(Briggs e Burke, 2004, p. 82).
Referindo-se ao século XVI, Briggs e Burke afirmam que
as guerras religiosas francesas eram tanto de mídia 
quanto de espadas e armas de fogo – conflitos onde 
tinham suma importância a panfletagem, a feitura 
de imagens, sua destruição e a comunicação oral 
(2004, p. 93).
O mesmo se deu na Holanda. As guerras civis travadas entre 
católicos e protestantes foram disputas em torno de religião, mas 
também pelo poder político. Nesse sentido, as táticas de propa-
ganda fizeram amplo uso da imprensa (livros, panfletos, carta-
zes) para divulgar ideias próprias e atacar as adversárias (e os 
adversários, pessoalmente) (Briggs e Burke, 2004, p. 94-95).
O uso da imprensa para fins políticos difundiu-se ainda mais 
no século XVII, embora haja dúvidas quanto ao real efeito dos 
impressos sobre a vida das pessoas comuns e a participação des-
tas nas questões políticas. Surgiam, na Inglaterra, defensores do 
direito de imprimir sem autorização prévia ou submissão do con-
teúdo a quem quer que fosse. Estava inaugurado o debate sobre 
liberdade de imprensa (Briggs e Burke, 2004, p. 95-98). Também 
na França, os ideais de liberdade que conduziram à Revolução 
Francesa foram importantes para a evolução da imprensa, pois 
se reivindicava o direito de exprimir e divulgar ideias através de 
textos. (Lombardi, 1987, p. 149).
Aliás, aí residem, em parte, as bases de uma confusão muito 
comum hoje no Brasil. Mistura-se liberdade de imprensa com li-
berdade do jornal(ista). A expressão liberdade de imprensa é parte 
de um conceito mais amplo, liberdade de expressão, que significa 
que os cidadãos são livres para acreditar nas ideias – políticas, 
religiosas, econômicas – que quiserem e para expressá-las, seja 
falando, escrevendo, encenando, cantando etc. Como a escrita é 
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2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII) 37
uma ferramenta poderosa de divulgação, a liberdade de imprensa 
garante a cada um o direito de colocar as ideias no papel e fazê-
las circular pela sociedade, assumindo em contrapartida a respon-
sabilidade da autoria. Trata-se, portanto, de um direito de todos 
os brasileiros, garantido na Constituição, e não de algo limitado a 
uma categoria profissional (jornalistas).
A possibilidade de imprimir foi decisiva para o combate à situa-
ção vigente nos regimes monárquicos da Europa. A liberdade e as 
restrições passariam por avanços e recuos em momentos posterio-
res ainda no século XVII, e no XVIII. Impostos e outras medidas 
eram adotados ou abandonados pelos governos em função do in-
teresse destes em restringir ou estimular a circulação de impres-
sos (Lombardi, 1987, p. 149; Briggs e Burke, 2004, p. 96-97).
O “surgimento da imprensa periódica não-oficial” nos anos 
1690, na Inglaterra, permitiu que a discussão pública de assuntos 
políticos se integrasse de forma permanente ao cotidiano “de consi-
derável proporção da população” (Briggs e Burke, 2004, p. 102).
A mídia impressa foi fundamental para a divulgação das ideias 
do Iluminismo francês, no século XVIII. Embora escrevessem sob 
um regime moderado de censura, os autores levaram a público 
suas ideias críticas a respeito de política e de outros temas em 
obras como a Enciclopédia. Através de conversas em bares, cafés, 
salões e outros locais de reunião, de manifestações públicas e das 
artes também foram divulgados pontos de vista contrários aos va-
lores tradicionais. No entanto, para Briggs e Burke, nos anos ante-
riores a movimentos como a Revolução Francesa e a independên-
cia dos EUA, foi a circulação de materiais impressos que se tornou 
crucial para ampliar o debate e angariar adeptos em torno da ne-
cessidade de mudança. Em contextos de grande agitação política, 
como os revolucionários, cresce a curiosidade e a necessidade das 
pessoas de saber o que está acontecendo, inclusive para poderem 
posicionar-se e atuar. Com isso, aumenta o interesse pelos meios 
que elas julguem adequados para informá-las. Entre os séculos 
XV e XVIII, os impressos ganharam espaço desempenhando esse 
papel (Briggs e Burke, 2004, p. 103-106).
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38 2. Da impressão à liberdade de imprensa (séc. XV-XVIII)
Referências bibliográfi cas
BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg 
à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
EISENSTEIN, Elizabeth L. A revolução da cultura impressa: os primórdios 
da Europa Moderna. São Paulo: Ática, 1998.
CASTAGNI, Nicoletta. Gutenberg: a maravilhosa invenção. In: GIOVAN-
NINI, Giovanni (coord.). Evolução na comunicação: do sílex ao silício. Rio 
de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 85-139.
LÉVY, Pierre. Os três tempos do espírito. In: As tecnologias da inteligência: 
o futuro do pensamento na era da informação. Rio de Janeiro: 34, 1993. 
p. 75-134.
LOMBARDI, Carlo. Do pombo-correio ao sistema editorial. In: GIOVAN-
NINI, Giovanni (coord.). Evolução na comunicação: do sílex ao silício. Rio 
de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 141-211.
STEPHENS, Mitchell. História das comunicações: do tantã ao satélite. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994.
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3. A industrialização da imprensa no século XIX 39
3. A industrialização da 
imprensa no século XIX
Andréa Vale
3.1 A Revolução Industrial 
Se a atividade de imprensa nos séculos XVII e XVIII inventou e 
consolidou a forma-jornal,14 no século XIX o jornalismo foi trans-
formado em grande empresa capitalista, impulsionado pela Revo-
lução Industrial.
Segundo Beaud (2004), a Revolução Industrial, iniciada na 
Inglaterra, pode ser compreendida como a passagem para a pro-
dução capitalista propriamente dita, ocasionada por uma con-
fluência de fatores: 
1) A exploração colonial e o comércio mundial produziram um 
aumento das trocas, tanto no que diz respeito ao aumento da 
oferta de produtos básicos quanto ao crescimento dos merca-
dos para produtos têxteis e manufaturados.15 Chegou-se,as-
sim, à necessidade de produzir mais para vender mais, o que 
impulsionou a industrialização.
2) A expulsão dos camponeses, o cercamento dos campos e a 
primeira modernização tecnológica da agricultura. No sécu-
lo XVIII, mais especificamente a partir de 1760, retomou-se 
o violento processo de expulsão dos camponeses das terras 
rurais através dos enclosure acts, aprovados pelo Parlamento 
14. As características que diferenciam a forma-jornal de outros tipos de publica-
ções noticiosas, além de ser acessível a uma parte significativa de uma população, 
são: frequência e a periodicidade, a variedade de assuntos em uma mesma edição 
e a existência de um título consistente ou de um formato reconhecível que doe 
identidade ao veículo. Ver Stephens, 1993, p. 328-329.
15. É importante lembrar que neste período o comércio inglês é o primeiro do 
mundo. No século XVIII, o valor das trocas comerciais inglesas é “multiplicado por 
5,5”. Ver Beaud, 2004, p. 102.
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40 3. A industrialização da imprensa no século XIX
inglês.16 Segundo Baiardi (1997), essa legislação é obra de 
uma necessidade de inserir a produção agrícola em moldes 
capitalistas. “Tratava-se de criar condições para intensificar a 
produção e especializá-la em certos tipos de produtos alimen-
tares e matérias-primas, de modo a favorecer a acumulação 
capitalista” (Baiardi, 1997, p. 461).
Com a propriedade das terras concentrada nas mãos dos ca-
pitalistas agrários e de uma aristocracia fundiária, foram implan-
tadas novas técnicas de cultura e criação de rebanhos para abas-
tecer as regiões urbanas. Assim, um enorme contingente de mão-
de-obra (desprovido de qualquer outro meio para garantir sua 
subsistência, bem como de suas famílias, que não seja a própria 
força de trabalho a ser vendida para outros) foi tornado disponí-
vel para a atuação na produção mineira e de manufaturas.
3) A aplicação da ciência e das invenções técnicas ao mundo da 
produção foi ao encontro das necessidades de aumentar a 
produção. Este processo vai desaguar na invenção por Watt, 
no ano de 1769, da máquina a vapor.17 Os progressos técni-
cos espraiaram-se pela indústria têxtil e pelas outras (papel 
e serralheria), introduzindo uma nova forma de produção, a 
fábrica. Construídas com o capital originário do comércio e da 
agricultura, as fábricas permitiram um crescimento exponen-
cial da produção ao longo do século XIX, principalmente nos 
setores-chave da época: o têxtil e a metalurgia.18 
São essas as condições econômicas e técnicas que vão moldar 
a imprensa periódica no século XIX. Pode-se, então, afirmar que 
o jornalismo popular de massa é um filho das inovações técni-
cas produzidas a partir da Revolução Industrial, mas também das 
condições socioculturais que nasceram junto com ela.
16. Segundo Marx, os enclosure acts representaram a transformação em lei das 
ferramentas de roubo das terras pertencentes ao povo (Marx, 1980). 
17. Na realidade, Watt aperfeiçoou o modelo apresentado por Newcomen, redu-
zindo a perda de energia por conta do processo de condensação.
18. Essa industrialização, obviamente, não aconteceu simultânea e identicamente 
em todos os países: a pioneira foi a Inglaterra. França e Alemanha a seguiram 
com atraso, bem como os Estados Unidos, onde este processo só aconteceu após a 
Independência. Ver Beaud, 2004.
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3. A industrialização da imprensa no século XIX 41
3.2 As rotativas e as amplas tiragens
A transformação da imprensa periódica em atividade comercial 
de larga escala dependeu, em grande parte, da adoção de uma 
série de inovações técnicas características da produção industrial. 
Por mais de três séculos, a prensa inventada por Gutenberg havia 
sofrido algumas pequenas modificações, mas, em sua essência, o 
processo continuava o mesmo: dependia-se da força humana para 
exercer a pressão da placa sobre o papel.
De acordo com Lombardi (1987), a primeira inovação na ativi-
dade tipográfica foi elaborada pelo conde Charles Mahon Sthan-
hope, que criou um mecanismo metálico para que se exercesse 
pressão no momento da impressão, rapidamente adotado pelo 
The Times londrino e seguido por outros jornais. Outros mecanis-
mos se seguiram a este, mas para que as máquinas pudessem ser 
operadas com recursos diferentes da força humana, era necessá-
rio uma fonte de energia para colocá-las em funcionamento. Este 
tipo de máquina chegaria apenas com a Revolução Industrial.
Até então, ainda segundo Lombardi (1987, p. 171), “o vento 
e a água eram os únicos elementos aproveitados para acionar as 
máquinas elementares”. Mas tanto um quanto o outro dependiam 
de fatores climáticos assim como forçavam uma localização restri-
ta (cursos d’água potentes, por exemplo), o que certamente não 
era interessante nem para a indústria comum nem para as ativi-
dades jornalísticas e tipográficas. A máquina a vapor resolveria 
esta questão e constituir-se-ia como a grande personagem da Re-
volução Industrial. Foi assim que nasceram as primeiras máquinas 
para a imprensa, mais tarde aperfeiçoadas.
Frederick Koenig, tipógrafo saxão, construiu sob encomenda 
de um editor chamado Bensley a primeira máquina a vapor uti-
lizada na atividade de impressão, em 1810. Este sistema – que 
consistia em um processo de tingimento dos tipos por uma es-
trutura cilíndrica – foi adotado pelo The Times em 1814, o que 
permitiu uma edição de 1.100 cópias por hora,19 apesar de seu 
19. Koenig concretizou este invento a partir do experimento realizado e patentea-
do 20 anos antes por Willian Nicholson. Nicholson, então preso, revelara algumas 
informações a Koenig e ao editor Bensley sobre seu projeto. Koenig adaptaria as 
ideias de Nicholson, mais ousadas e avançadas, a sua própria experiência, crian-
do um – na época não muito reconhecido – importante avanço na história da 
imprensa.
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42 3. A industrialização da imprensa no século XIX
funcionamento ser praticamente o mesmo da prensa. É assim que 
o The Times tornou-se uma espécie de laboratório técnico da im-
prensa, o que se confirmaria em 1828, quando dois técnicos do 
jornal, Applegath e Cowper, aperfeiçoaram a máquina de Koenig, 
imprimindo-se, a partir de então, quatro folhas (apenas de um 
lado, denominado de “branca”) com uma única matriz, elevando 
a tiragem para 4.000 cópias/hora. 
Entre os anos de 1845 e 1861, a tecnologia de impressão cami-
nhou decisivamente para a invenção da prensa rotativa, cujo pro-
tótipo teria sido pensado e patenteado pelo americano Richard 
Hoe e utilizado na sede do jornal Philadelphia Public Ledger (Lom-
bardi, 1987). Mas foi em 1861 que Hoe conseguiu produzir uma 
máquina que combinava uma série de elementos: a impressão 
através de cilindros com matrizes curvas estereotípicas e papel 
em bobina. O resultado foi fundamental para o desenvolvimen-
to da imprensa industrializada: mais páginas seriam impressas 
simultaneamente, usando mais a própria máquina, que entrega 
organizado o produto final. Em 1884, o alemão Ottmar Mergen-
thaler terminou o aperfeiçoamento da linotipo, uma máquina 
compositora dos tipos que funciona de modo automático (Lom-
bardi, 1987, p. 178). Estavam dadas as condições técnicas para a 
imprensa de massa.
3.3 A mercadoria jornal: a penny press
Para Thompson (1995, p.235), “essas inovações técnicas foram 
cruciais para o aumento dramático da capacidade reprodutiva da 
indústria jornalística”. O barateamento dos custos, fruto também 
da abolição dos impostos sobre a impressão, conjugado com o 
aumento populacional e com um sistema de educação que fez 
declinarem os números do analfabetismo, tornaram possível a 
implantação da imprensa de negócios a partir de 1830, com seu 
desenvolvimento pleno após 1875 (Marcondes Filho, 1989).
Ora, esse desenvolvimento tecnológico exigiu formas de sus-
tentação econômica diferentes

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