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TCC WILLIAM AGBRIEL (1)

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Curso de Direito
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS
WILLIAM GABRIEL DE OLIVEIRA ALVES
Rio de Janeiro
2021.2
WILLIAM GABRIEL DE OLIVEIRA ALVES
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS
Artigo Científico Jurídico apresentado à Universidade Estácio de Sá, Curso de Direito, como requisito parcial para conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso.
Orientadora: Profa. Dra. Marcia dos Santos Pimentel Nunes
Rio de Janeiro
Campus Campo Grande-RJ
2021.2
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS
William Gabriel de Oliveira Alves
RESUMO:
O presente trabalho trata das formas de recuperação econômica das associações desportivas, em especial o instituto da Recuperação Judicial, previsto na lei nº 11.101/05. A referida lei estabelece que somente é aplicável a Recuperação Judicial aos empresários e às sociedades empresárias. Como a grande maioria dos clubes desportivos são estruturados em formato de Associação, ou seja, não exercem atividades com fins lucrativos, eles não possuem elemento de empresa, não se enquadrando no rol exemplificativo da Lei de Falência e Recuperação de Empresas. Como uma alternativa para esses clubes, em 06 de agosto de 2021, foi sancionada a Lei nº 14.193, que discorre acerca da instituição da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) e do Clube-empresa. Tal lei busca garantir a subsistência das entidades desportivas, criando o Regime Especial de Tributação de Entidades de Prática Desportiva Profissionais de Futebol (Simples-Fut), além de outras providências, como a possibilidade dos clubes se utilizarem do instituto da Recuperação Judicial.
Palavras-chave: Recuperação Judicial. Associações Desportivas. Lei de Falência e Recuperação de Empresas. Clubes de Futebol. Sociedades Empresárias. Clube Empresa. Empresário
SUMÁRIO:
1. Introdução; 2. Desenvolvimento; 2.1. Empresa e empresário: Conceito; 2.2. As Associações Desportivas Sem Fins Lucrativos no Ordenamento Jurídico Brasileiro; 2.3 A Recuperação Judicial E Sua Aplicação, Nos Termos Da Lei 11.101/05; 2.4. Entendimento Doutrinário e Jurisprudencial Acerca Da Legitimidade Ativa Dos Clubes De Futebol No Tocante À Recuperação Judicial; 3. Conclusão; Referências.
1. INTRODUÇÃO
	A pandemia instaurada em virtude do novo COVID-19 trouxe diversos problemas para os mundo esportivo. Segundo dados da Ondina Investimentos, uma boutique de fusões e aquisições no Recife, com o adiamento, cancelamento e os portões fechados nos jogos durante a maior parte do ano de 2020, os clubes brasileiros de futebol da série A registraram queda de 10% nas suas receitas, que somaram R$ 5,5 bilhões, e um aumento de 15,6% no total dos passivos, para R$ 14,1 bilhões. A situação é ainda mais desesperadora ao observarmos os clubes que disputam da série B em diante, que muitas vezes se encontram em situação de realizações de praças para a arrecadação de estádios ou até mesmo suas sedes sociais. 
	Como se não bastasse, muitos clubes estão entregues à administrações amadoras, onde são geridos por pessoas descapacitadas para o exercício das funções atribuídas, bem como, em alguns casos, de sujeitos maliciosos que utilizam da instituição para interesse próprio. Um exemplo dessa situação é o caso do Botafogo de Futebol e Regatas que, em balanço auditado, demonstrou que há uma deficiência de capital de giro de R$ 270 milhões. Além disso, houve um prejuízo de R$ 21 milhões causado, principalmente, pelas despesas financeiras relativas a juros e multas de obrigações tributárias. O passivo total do clube em 2020 foi de R$ 890 milhões.
	É inegável a importância que o futebol tem para a cultura do brasileiro, onde por diversas vezes se apresenta como uma válvula de escape para aqueles em que a sua única alegria é o clube do coração e não são poucas as vezes em que as pessoas esquecem as adversidades e mergulham no mundo mágico do esporte. Essa importante função social exercida pelos clubes acaba sendo ameaçada pelas crescentes dívidas e muitas das vezes não são encontradas soluções para uma reestruturação econômica o que leva essas associações a entram em colapso financeiro. Seu dirigentes, advogados e políticos prontamente começam a falar em recuperação judicial como alternativa para corrigir os danos causados pelos erros cometidos na gestão e administração. Em clubes como Vasco e Cruzeiro essa palavra já faz parte do vocabulário do dia a dia, mas é importante destacar que o assunto é interessante para todos os clubes endividados e que percorre por todos os corredores o interesse em recorrer a esse instituto para melhorar a situação de endividamento das instituições.
	A Recuperação Judicial de uma associação desportiva significa a oportunidade de reduzir o endividamento e preservar sua atividade, podendo ser suspensos por um período de 180 dias todos os bloqueios e penhoras sofridos. Na maioria das vezes o processo recuperacional envolve até o perdão de parte das dívidas, pois o credor, ciente de que o devedor não teria condições de pagar toda a dívida, acaba perdoando parte dos valores devidos em troca do pagamento programado. Assim é aberta a possibilidade de renegociação das dívidas dos clubes, por exemplo, por meio da aplicação de deságio sobre os créditos existentes contra a entidade e de prazos alongados para os pagamentos. Com a derrubada de vetos presidenciais a alguns dispositivos da Lei 14.112/2020 (Nova Lei de Falências), até mesmo os débitos tributários tiveram o pagamento facilitado, sendo autorizada a utilização dos prejuízos fiscais para pagamento de tributos, além de condições especiais de pagamento, com a concessão de descontos e prazo de até 84 meses.
	No dia 11 de março de 2021 o Figueirense, clube de futebol brasileiro da cidade de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, ingressou com tutela cautelar antecedente preparatória de pedido de Recuperação Judicial, onde tinha como objetivo principal buscar por um dos efeitos mais céleres e de grande impacto desta medida, que é a suspensão de todas as ações existentes movidas em face da recuperanda, para posterior apresentar o regular pedido de recuperação no prazo legal. No documento, o clube apontou que as atividades corriam risco de se encerrarem imediatamente caso não conseguissem paralisar a execução das dívidas. 
	Cabe ressaltar que estamos diante de uma cautelar antecedente de pedido de recuperação judicial híbrida pelo fato de o clube Figueirense ser composto por uma associação civil, o Figueirense Futebol Clube, e por uma sociedade empresária de responsabilidade limitada, a Figueirense Ltda.
	O pedido foi negado pelo juiz da Vara Regional de Recuperações Judiciais, Falências e Concordatas de Florianópolis. O magistrado Luiz Henrique Bonatelli acompanhou a corrente de entendimento que defende a impossibilidade de as associações sem fins lucrativos figurarem como atores que poderiam utilizar-se do instituto da falência e da recuperação judicial "por não se enquadrarem no conceito de sociedade empresária".
"Com a devida vênia aos entendimentos em sentido contrário, este magistrado filia-se à primeira corrente doutrinária tida positivista, de modo que, por esta razão, entendo que as associações civis sem fins lucrativos não podem utilizar-se da recuperação judicial por não constituírem sociedade empresária." (LUIZ HENRIQUE BONATELLI, 2021)
Já em 2º grau, houve um entendimento foi diferente. O desembargador inferiu que o fato de clube se enquadrar como associação civil não retira sua legitimidade para pleitear a Recuperação Judicial. Para Torres Marques, as atividades desenvolvidas constituem elemento típico de empresa.
"Concluo, portanto, que o fato de o primeiro apelante enquadrar-se como associação civil não lhe torna ilegítimo para pleitear a aplicação dos institutos previstos na Lei n. 11.101/2005, porquanto não excluído expressamente do âmbito de incidência da norma (art. 2º), equiparado às sociedades empresárias textualmente pela Lei Pelé e, notadamente, diante da sua reconhecida atividade desenvolvidaem âmbito estadual e nacional desde 12/6/1921, passível de consubstanciar típico elemento de empresa (atividade econômica organizada)." (Torres Marques, 2021)
	Considerando que grande maioria dos clubes de futebol no Brasil estão constituídos como Associações Desportivas e não como Empresa, o assunto levanta algumas questões. Poderia uma pessoa jurídica sem fins lucrativos se valer do procedimento da recuperação judicial, previsto na lei 11.101/05? E, se tratando de associação desportiva, até que ponto é necessário edição normativa para que seja possível a Recuperação Judicial dessas instituições?
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 EMPRESA E EMPRESÁRIO: CONCEITO.
	O conceito de empresa e empresário tem como base os fundamentos da Teoria da Empresa (Sistema Italiano), que foram recepcionados pelo Código Civil de 2002. Esta teoria substituiu a Teoria dos Atos de Comércio (Sistema Francês) que baseava o código comercial de 1850. Sobre o tema, Ricardo Negrão (2008) versa que 
"com a adoção da Teoria da Empresa, grandemente desenvolvida pelo pelo jurista italiano Alberto Asquini, o Código Civil brasileiro optou por introduzir o sistema italiano para caracterização dos atos empresariais". (NEGRÃO, RICARDO. Direito Empresarial: estudo unificado. Saraiva: São Paulo, 2008, p. 3.)
	Evidentemente, o artigo 966 do Código Civil acusa os elementos necessários para caracterização do empresário: "Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.". Vale ressaltar que não existe na Lei o conceito de empresa expressamente. Este pode ser retirado da definição de empresário, ou seja, uma empresa se caracteriza como a "atividade econômica organizada que será desenvolvida pelo empresário para a produção ou a circulação de bens ou serviços.
	Sendo assim, de acordo com a Lei, o empresário é o sujeito e a empresa é o atividade exercida na relação empresária. De acordo com Fábio Ulhoa Coelho, "se o empresário é o exercente profissional de uma atividade econômica organizada, então empresa é uma atividade". Completa ainda dizendo que "a empresa, enquanto atividade, não se confunde com o sujeito de direito que a explora, o empresário". Entende-se assim que o empresário é uma pessoa física ou jurídica, pois são essas que desenvolvem a empresa, ou seja, a atividade econômica organizada. 
	Além de diversos outros elementos que caracterizam a figura do empresário, como por exemplo a habitualidade em suas atividades, há de se ressaltar que a atividade econômica desenvolvida pelo empresário tem como objetivo principal a obtenção de lucro fim, assim considerado como a distribuição do resultado aos sócios de sociedade empresária ou titular de EIRELI ou firma individual.
	Este é um elemento que não se encontra nas demais pessoas jurídicas elecandas no Art. 44 do Código Civil :
Art. 44 "São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)"
	Portanto, não seria possível caracterizar como empresário uma associação desportiva, pois as atividades exercidas por elas possuem o lucro como um meio e não como fim, faltando um dos elementos da definição legal contemplada no Art. 966 do Código Civil.
2.2 AS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS SEM FINS LUCRATIVOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.
	Uma associação desportiva pode se resumir como uma entidade de direito privado que reúne pessoas em favor de um bem comum em prol do bem estar social, da cultura, política, filantropia ou realização de processos produtivos de bens e/ou serviços coletivos, sem visar o lucro, como se pode observar disposto no artigo 54 do Código Civil “Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. 
Para se constituir uma associação é necessário que se reúna um grupo de pessoas interessadas em um objetivo em comum, que devem se identificar com as finalidades e objetivos da futura entidade. No Ordenamento Jurídico Nacional, em seu artigo 5º inciso XVII, é possível identificar o direito de constituir associações como uma garantia fundamental “é plena a liberdade de associação para fins lícitos...”, ainda, no o inciso XVIII versa que “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.” 
O modelo no qual se organizam, seu estatuto e o tocante à dissolução das associações estão dispostos nos artigos 53 a 61 do Código Civil, destaca-se:
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações
conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos
associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos
deliberativos;
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias
e para a dissolução;
VII - a forma de gestão administrativa e de aprovação das
respectivas contas. 
	Ao tratarmos da criação das associações podemos observar o que diz ANDRADE FILHO (2005):
"A criação de associações ou fundações é uma manifestação do direito livre de associação para o qual a Constituição Federal de 1988 reservou a mais ampla liberdade de configuração. Toda e qualquer associação pode ser livre; todavia a associação dotada de personalidade jurídica deve passar pelo crivo da lei. Portanto aquela liberdade pode ser regulada pela lei que, todavia, não deve em principio, impor que as restrições] não passem pela bitola do principio da proporcionalidade a exemplo do que ocorre com o principio da livre empresa". (ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Desconsideração da personalidade jurídica no novo Código Civil. São Paulo: MP Editora, 2005.)
	Quanto à proibição da busca pelo lucro, apenas se permite lucro para um aumento de patrimônio da própria associação, jamais aumento pessoal de seus associados, conforme analisou PEREIRA (1999): 
"Associação de fins não lucrativos é aquela que se propõe a realizar atividades não destinadas a proporcionar interesse econômico a seus associados. Com esse critério, classificam-se ainda na categoria de associações ideias que realizam negócios visando ao alargamento patrimonial da pessoa jurídica, sem proporcionar ganhos aos associados. Assim, a procura de vantagens matérias acessórias, indispensáveis à sobrevivência da associação não lhe retira o caráter não lucrativo do fim social.” (PEREIRA, Caio Mario da Silva. Curso de direito Civil. Parte Geral. V1. 19. ed, Rio de Janeiro: Forense, 1999.)
	A palavra associação pode ser entendida como aquela instituição sem fins lucrativos que possui um ideal, no caso abordado neste trabalho, de manifestação desportiva, cultural e social sem a finalidade econômica final, ainda que seja atividade que gera renda. Acerca do tema discorre PERRUCI (2006):
"Importante observar que o viés econômico da associação deve ser entendido de maneira restrita. Significa dizer que a caracterização da atividade econômica deve ser compreendida como sinônima do animus lucrandi e sua partilha posterior entre os integrantes da pessoa jurídica. Significa dizer que a simples verificação de resultado positivo – lucro – não é suficiente para descaracterizar o ente como associação. Nesta hipótese pelo fato de não se admitir na associação comunhão de diretos e obrigações reciprocas entre seus integrantes, não se poderá falar de economicidade da pessoa jurídica. A economicidade da atividade do ente jurídico informa a necessidade de ser produtora de riquezas e, por isto de bens, ou ainda de serviços patrimonialmente avaliáveis. Essas atividades podem ser exercidas como meio ou como finalidade. Na primeira hipótese ter-se-á a reversão integral do resultado obtidoem benefício da própria entidade, como ocorre no seio das associações. É o caso, por exemplo, de entidade de pratica desportiva que vende a seus membros uniformes e outros produtos do clube, sem dividir o resultado com seus sócios, mas vertendo-o para a própria entidade, visto que possuem como principal motivação e objetivo o exercício e promoção de atividades esportivas.". (PERRUCI, Felipe Falcone. Clube-Empresa: O modelo brasileiro para a transformação dos clubes de futebol em sociedades empresárias. Faculdade de Direito Nova Lima – MG, 2006, disponível em)
	Conforme já exposto, quase 100% dos clubes de futebol adotou o regime associativo como maneira de se constituir. O motivo disso é que, no contexto da época de criação dessas entidades, apenas era permitido tal regime, tendo em vista a finalidade da mera prática desportiva e a impossibilidade de obtenção de lucro com a atividade. O debate a respeito desse regime surgiu no momento em que começaram a ser injetados recursos financeiros astronômicos em torneios, ligas, patrocínios e etc. A partir daí surgiram previsões legislativas determinando a transformação dos clubes em sociedades empresárias, porém, essas legislações foram alvo de resistência e críticas por parte dos clubes e dos estudiosos do assunto. Álvaro Melo Filho repele totalmente tal obrigação trazida pela Lei Pelé:
“Registre-se que compelir um ente de futebol profissional a adotar a tipologia de “sociedade comercial”, com fins lucrativos é, sem dúvida, interferir na sua organização e funcionamento, derruindo o postulado constitucional da autonomia desportiva (art. 217, I, CF), a par de constranger Conselhos Deliberativos ou Assembleias Gerais de entes privados desportivos a adotar modelos legais que podem trazer prejuízos incalculáveis às suas tradições, patrimônio e identidade desportivas, dando suporte jurídico à apropriação e “comercialização” pelos acionistas de seus símbolos e sentimentos dos clubes construídos ao longo da história. Vale dizer, inserir na lex sportiva imposição do modelo de “sociedade comercial” aos centenários clubes desportivos, fundado num pressuposto de assegurar moralização e de gestão profissionalizada do desporto, integra tese irresponsável de ruptura, onde se combinam ficção jurídica e “mitologia” desportiva, cumuladas com inconstitucionalidade.” (FILHO, ALVARO MELO, 2011)
A Lei Pelé (Lei nº 9.615 de 1998) alterou modificou a estrutura do futebol brasileiro, mas, além dela, algumas outras leis também regulamentam a prática do desporto, entre elas, destacam-se: 
· A Lei Zico (Lei nº 8.672 de 1993), que instituiu a faculdade das entidades esportivas contratarem sociedades com fins lucrativos para gerir suas atividades. Ela tentou ainda modernizar a gestão desportiva, mas foi, infelizmente, rebatida por toda a classe dirigente, vez que não permitia qualquer benefício para esta nova adoção de gerenciamento; 
· A Lei nº 9.981 de 2000, que alterou alguns dispositivos da Lei nº 9.615, versando sobre a transformação da obrigatoriedade para a faculdade dos clubes em se tornarem empresas, sobre os contratos de atletas profissionais, sobre transmissão de jogos, sobre bingos e outros. Segundo Oliveira Junior (2004), a obrigatoriedade dos clubes em se tornarem empresas feria e fere a Constituição Federal.
O grande dilema dos clubes em se constituir como associação desportiva ou sociedade empresária está no fato de uma poder exercer atividades com fins lucrativos e outra não. Enquanto a sociedade tem finalidade lucrativa, a associação não pode gozar de qualquer proveito econômico. Esse detalhe acaba mudando a forma que a instituição se sujeita às leis normativas e existe uma grande questão a ser considerada pelos clubes na hora de escolher a forma de se constituir, que são os benefícios dados às associações, como a imunidade tributária e isenção de imposto de renda, porém, também pode haver um ônus nesse caso: A impossibilidade de requerer uma recuperação judicial, com base na lei 11.101/05, instituto de suma importância para a sobrevivência de entidades em situação de crise econômico-financeira e assunto principal do presente trabalho.
2.3 A RECUPERAÇÃO JUDICIAL E SUA APLICAÇÃO, NOS TERMOS DA LEI 11.101/05.
	Para evitar demissões, falta de pagamentos e até seu fechamento, as companhias em situação de insolvência veem como solução a renegociação de suas dívidas acumuladas através de uma Recuperação Judicial. O instituto é utilizado como meio de evitar que essas empresas sejam levadas à falência e tem como principal objetivo apresentar um plano de recuperação que mostre que a empresa, ainda que diante das dificuldades, consegue se restabeleces, caso consiga negociar suas dívidas para continuar operando sua atividade. O objetivo não é simplesmente ajudar os donos do empreendimento, mas também evitar que trabalhadores fiquem sem emprego, que fornecedores percam clientes, que consumidores percam um serviço ou produto e o que Estado deixe de arrecadar impostos. 
	No transcorrer da recuperação, as dívidas da organização ficam congeladas por um período pré-determinado enquanto as atividades seguem seu fluxo, na esperança de que seja possível gerar os recursos financeiros necessários para pagar todos os credores ou a maior parte deles. O hora ideal para buscar a recuperação judicial é aquela que antecede o caos, ou seja, quando o gestor prevê que não conseguirão arcar com suas obrigações e precisarão de ajuda para sair da situação que chegaram. Contudo, ela também pode ser solicitada após o caos ser instaurado, desde que haja possibilidade de recuperação. Isso é o que acaba acontecendo na grande maioria dos casos, uma vez que os gestores, normalmente, não estão preparados para identificar quando, de fato, a organização precisará se socorrer nessa alternativa.
	A recuperação judicial é concedida após a apresentação do Plano de Recuperação Judicial (artigo 53, caput). Nesse plano deverão constar todos os requisitos da lei, como o laudo de avaliação dos bens e ativos do devedor, e será “o elemento central para a análise da estratégia desenhada para o sucesso, ou não, da recuperação judicial” (SZTAJN, 2007, p. 265). Ele tem como principal função demonstrar aos credores a viabilidade econômica de recuperação do devedor, mediante apresentação dos meios a serem utilizados para tanto, previstos no rol exemplificativo no artigo 50, nos quais se distinguem a dilatação de prazos para pagamento das dívidas submetidas ao plano e a aplicação de deságio sobre essas. 
	Atendidos os requisitos legais, a recuperação judicial será concedida pelo juiz à requerente caso os credores tenham aprovado o plano ou não tenham surgido objeções. 
	Muitas vezes pode haver confusão entre o conceito de recuperação judicial e o de falência. Contudo, apesar de serem procedimentos que possuem uma certa ligação, eles são completamente diferentes. A recuperação, em suma, serve para evitar que a falência ocorra. Mas, quando a recuperação judicial fracassa, as organizações acabam tendo quer encerrar completamente as suas atividades e todos os seus bens são oferecidos para a quitação de suas dívidas, ficando caracterizada, assim, a falência. Em contrapartida, a recuperação judicial busca sanear a crise que a empresa vem enfrentando, ou seja, ela busca identificar o fator causador do problema e dar apoio ao gestor da empresa, lhe oferecendo subsidio para que consiga superar a crise, negociando com os credores e oportunizando, assim, que empresa a continue operando e cumprindo com sua função social.
	Embora seja um processo que traga benefícios para ambos os lados, é preciso ter alguns cuidados antes de formular um plano de recuperação judicial. Vale ressaltar que é fundamental que, na documentação que registrará o plano de ação da recuperação, estejam todos os credores da organização, sendo necessário verificar o potencial do negócio em gerar resultados que cubram todos os valores que a empresa deverá pagar. Além disso, é preciso ter atenção aos prazos. Caso o plano não seja apresentado pela empresa duranteo período estipulado pela Lei, o juiz poderá decretar a falência ex officio e não terá mais como voltar atrás nesse processo.
	Fato é que uma eventual interrupção nas atividades exercidas pelos clubes há de gerar bastante comoção social, tanto pelo fechamento de milhares de postos de trabalho, aumentando consequentemente a taxa de desemprego, tanto pela frustração de milhares de torcedores que têm em seu clube a sua única alegria. É de suma importância a subsistência das entidades desportivas, principalmente os grandes clubes, para a economia nacional, bem como a função social que exercem e evidente que a falência de uma dessas entidades prejudica todos que dela dependem. 
	Dessa forma, deve-se por em prática o princípio de conservação da empresa juntamente com o princípio da razoabilidade. Toda vez que uma entidade desportiva se encontrar em situação de insolvência, responde-se a seguinte questão: É razoável mantê-la em atividade? 
	Tal questão deve ser respondida em observância de uma série de fatores, principalmente a viabilidade financeira. Uma associação desportiva em situação de crise e que não seja viável se torna perigosa, ao ponto que, se não interrompidas suas atividades, ela continuará operando e se endividando cada vez mais. À medida em que suas dívidas crescem, também aumenta o número de credores prejudicados, assim, coloca-se em risco não só a associação desportiva, como também todos os seus credores, que cada vez mais têm créditos atrasados ou não pagos.
	A recuperação judicial é disciplinada pela Lei 11.101/05 (Lei de Falência e Recuperação de Empresas), que em seu Art. 1º, traz o seguinte texto 
"Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.". (ART 1º DA LEI Nº 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005.)
	A lei indica expressamente sua aplicação apenas aos empresários e sociedades empresárias, não havendo qualquer disposição quanto às associações, pois se tratam de um tipo diferente de pessoa jurídica. No caso dos clubes de futebol, por se tratarem de associação desportiva, inclusive sem fins lucrativos, o tema não foi abordado, existindo assim uma lacuna quanto a possibilidade do pedido recuperação judicial por parte destas associações desportivas. 
	A já mencionada Lei 9.615 (Lei Pelé), dispõe em seu artigo 27, § 13, que: 
"Para os fins de fiscalização e controle do disposto nesta Lei, as atividades profissionais das entidades de que trata o caput deste artigo, independentemente da forma jurídica sob a qual estejam constituídas, equiparam-se às das sociedades empresárias." (ART. 27, § 13 DA LEI Nº 9.615, DE 24 DE MARÇO DE 1998)
	Resta claro que a referida lei equipara as entidades desportivas às sociedades empresárias. 
2.4. ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E JURISPRUDÊNCIAL ACERCA DA LEGITIMIDADE ATIVA DOS CLUBES DE FUTEBOL NO TOCANTE À RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
	A notícia de que o Figueirense teve seu o seu pedido de recuperação judicial reconhecido pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina causou enorme discussão por parte dos doutrinadores, tendo em vista que a aplicação da recuperação para associações sem fins lucrativos ainda não é um tema pacificado no Brasil. Não obstante, casos semelhantes ao do clube se multiplicam por todo o país, de forma que deixou de ser um exagero afirmar que se trata de uma tendência. 
	Tal polêmica existe porque Lei de Recuperação Judicial e Falências (Lei 11.101/05) não esclarece se as associações sem fins lucrativos possuem ou não o direito de utilizar da recuperação. O artigo 1º versa que o instituto deve ser utilizado pela "sociedade empresária" (o que não é o caso das associações), mas o 2º diz quem não pode se beneficiar da RJ e dele não constam as entidades que não visam o lucro. 
	Como resultado temos duas correntes doutrinárias que se dividem ao tratar da legitimidade ativa das associações desportivas em relação à recuperação judicial. Existe a primeira, que é mais conservadora e positivista, ela defende que apenas as entidades desportivas que se constituírem na forma de sociedade empresária podem postular recuperação judicial. Já a segunda corrente, mais principiológica e sistemática, entende ser possível juridicamente entidades desportivas, constituídas como associações civis sem fins lucrativos, postularem recuperação judicial, na forma da Lei 11.101/05. Um dos pressupostos adotados nessa tese é a ideia de que as leis não devem ser interpretadas de forma isolada, utilizando, assim, a teoria do diálogo das fontes, segundo a qual o ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma sistemática, conjunta e unitária. 
	O caso do Clube é um reflexo dessa divisão e diversas situações parecidas têm ocorrido com outras associações que buscam fazer uso da recuperação para tentar escapar da crise financeira, principalmente hospitais e instituições de ensino mantidos por entidades beneficentes, como o Grupo Metodista e a Universidade Cândido Mendes
	Em dezembro de 2020, foi publicada a Lei 14.112, que modernizou o texto da Lei de Recuperação e Falências. Só que os parlamentares acabram “esquecendo” das associações sem fins lucrativos, que não foram incluídas na nova versão da referida lei, para a indignação dos operadores do Direito dedicados ao assunto. Segundo Wilmara Lourenço Santos, sócia-coordenadora do escritório Nelson Wilians Advogados no departamento tributário "A nova lei poderia claramente ter incluído as associações, tendo em vista a discussão sobre a matéria no período pandêmico, que impactou severamente a manutenção dessas associações". Concorda ainda o Dr. Pedro Henrique Sili Vieira, advogado sênior da área de reestruturação e insolvência do BMA Advogados, ao dizer que 
"O legislador poderia ter aproveitado a recente reforma da LRF para enfrentar diretamente o tema, o que acabou não sendo feito. Parece ter preferido delegar para a doutrina e para a jurisprudência a definição sobre o assunto, o que pode gerar alguma insegurança para as associações enquanto a matéria não for pacificada". (PEDRO HENRIQUE SILI VIEIRA, 2021.)
	Com esses pedidos de Recuperação Judicial foram colacionados importantes precedentes para a aplicação da Lei de 11.101/05 e da recuperação judicial às associações sem fins lucrativos. Sabe-se que a segurança jurídica e a certeza são dois pilares fundamentais na esfera do direito empresarial, onde os operadores dependem de regras claras para que possam calcular seus riscos e tomar suas decisões. A insegurança jurídica é um termo que tem saído com muita facilidade da boca dos especialistas em recuperação judicial. Afinal, as associações sem fins lucrativos que desejam buscar esse caminho sabem que, para elas, entrar com uma ação de RJ é como fazer uma aposta: se forem contempladas, vão ter seu caso apreciado por um juiz que pertence à corrente que não se prende estritamente ao texto da lei. Caso contrário, terão o pedido negado prontamente.
	Sendo assim, não se tem visto como aconselhável que a falência e recuperação judicial sejam aplicadas a associações simplesmente baseado em interpretação genérica do art. 1º da Lei de Recuperação de Empresas, causando divergências doutrinárias e jurisprudenciais. Isso traria muita instabilidade ao sistema. Segundo o Dr. Alex Hatanaka, advogado da área de reestruturação e insolvência do escritório Mattos Filho. Expõe que:
"Do ponto de vista da segurança jurídica, a situação não é boa, há muitas associações pedindo a recuperação sem ter previsão na lei, só com base na jurisprudência. Se houvesse clareza na lei seria bem mais fácil, as associações não ficariam ao sabor da interpretação de quem julga. " (ALEX HATANAK, 2021.)
	Um argumento que tenta justificar o cabimento da recuperação judicial, extrajudicial e da falência para as associações civis desportivas se relaciona com o caráter eminentemente empresarial da gestão e exploração do esporte profissional por entidades desportivas. No ponto, vale esclarecer que há, na doutrina, quem revele a possibilidadede as associações civis desenvolverem atividades com finalidade lucrativa desde que sejam utilizadas para cobrir os gastos da associação, isto é, para a manutenção das atividades. Nesse sentido, discorre a Professora Maria Helena Diniz: 
"Não perde a categoria de associação mesmo que se realizem negócios para manter ou aumentar o seu patrimônio, sem, contudo, proporcionar gastos aos associados, p. ex., associação esportiva que vende aos seus membros uniformes, alimentos, bolas, raquetes etc., embora isso traga, como consequência, lucro ara a entidade". (MARIA HELENA DINIZ, 2021.) 
	Ainda, conforme preceitua o Professor Felipe Falconi Pernuci, "as associações que praticam o desporto de modo profissional dos dias atuais há muito desvalvularam-se do ideal associativo".
	Como argumento dificultador à recuperação judicial de associações desportivas sem fins lucrativos, tem-se a necessidade de que a associação desportiva possua o mínimo de recursos financeiros para promover a recuperação judicial, cujos custos podem ser elevados. Há necessidade de se arcar com o pagamento de consultores para avaliar previamente a efetiva situação econômico-financeira da agremiação desportiva e estruturar um plano de. Também haverá despesas com pagamento de advogados e auditores, convocações e realização de assembleias de credores, honorários do administrador judicial e a própria reestruturação da empresa e execução do plano de recuperação. 
	Já que a legislação não tratou de resolver o problema, surgiu um consenso entre os especialistas em recuperação judicial de que a tão querida e aguardada uniformidade só poderá ser alcançada quando o STJ for invocado a se pronunciar a respeito do assunto. O advogado Pedro Escosteguy, do Moraes & Savaget Advogados, explica que: 
"É o papel da jurisprudência auxiliar os operadores do Direito a criar uma segurança jurídica lastreada em julgados similares e jurisprudência consolidada. O Código de Processo Civil de 2015 possui previsão específica sobre incidentes de solução de controvérsias repetitivas, assim como os tribunais editam súmulas sobre entendimentos já pacificados. Não duvido de que eventualmente essa questão venha a ser abordada por alguma delas". (PEDRO ESCOSTEGUY, 2021.)
	Porém, não é esperado que o STJ se pronuncie tão cedo sobre a recuperação judicial de associações sem fins lucrativos. 
2.4. O CLUBE EMPRESA COMO ALTERNATIVA PARA REQUERER A RECUPERAÇÃO JUDICIAL
	Em 06 de agosto desse ano foi sancionada a Lei do Clube-Empresa (Lei nº 14.193/2021), muito aguardada pelos principais dirigentes do futebol brasileiro, que foi considerada um marco para a profissionalização e modernização desse mercado, tornando-o mais atrativo para possíveis investidores e financeiramente sadio para os clubes de futebol. Nessas circunstâncias, a lógica do projeto original era a de que o clube de futebol constituiria uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), mediante a transferência de parte de seus ativos para a SAF, que sucederia o clube em campeonatos e contratos relativos ao futebol, ficando a SAF sujeita a determinadas regras de governança, controle e transparência. Em compensação, a SAF se beneficiaria de regime tributário especial (Simples-Fut) e poderia obter recursos no mercado financeiro, inclusive por meio das debêntures-fut, que teriam tributação específica e incentivada.
	A Lei do Clube-Empresa trouxe a faculdade do clube ou pessoa jurídica cumprir com suas obrigações diretamente aos seus credores utilizando do Regime Centralizado de Execuções ou da recuperação judicial e extrajudicial, baseado na Lei 11.101/05. No Regime Centralizado de Execuções, o clube ou pessoa jurídica concentrará em um único local (juízo) através de concurso de credores as execuções, as suas receitas e os valores, bem como a distribuição desses valores aos credores em concurso e de forma ordenada. 
	O clube de que solicitar a centralização das suas execuções receberá um prazo de até 60 dias para apresentar seu plano de credores, podendo o Poder Judiciário conceder o prazo de até seis anos para pagamento dos credores. Se o clube comprovar a adimplência de pelo menos 60% do seu passivo ao final do prazo estipulado, ele poderá obter a prorrogação do Regime Centralizado de Execuções por mais quatro anos.
	Na caso do clube escolher a recuperação judicial como meio de suprimir seu passivo, este passará a ser legitimado para requerer a recuperação judicial a partir do momento em que se transformar em sociedade na anônima de futebol (SAF). Na recuperação judicial, o clube de futebol deverá fazer a declaração de suas dívidas e de seus credores, apresentando um plano de recuperação judicial que será analisado pelos credores, que poderão aceitar, rejeitar ou modificar o mesmo; havendo aprovação, este será homologado pela Justiça.
	Este ano, o Cruzeiro Esporte Clube contratou a empresa de investimentos XP para a analisar a captação desses recursos e a viabilidade de transformação do clube em sociedade anônima de futebol. Já o Club de Regatas Vasco da Gama e Associação Portuguesa de Desporto Associação Portuguesa de Desportos já requereram o regime centralizado de execuções baseados na nova legislação. O clube paulista conseguiu a programação do prazo para pagamento de suas dívidas para seis anos.
	A Lei veio para encerrar a discussão que tem dividido os comentários dos especialistas na área: a possibilidade de reorganização da dívida de clubes de futebol por meio de recuperação judicial. Nesse ponto, as sociedades na anônimas de futebol estarão definitivamente legitimadas para apresentarem pedidos recuperacionais, nos termos da Lei nº 11.101/2005. Dessa forma, a Lei do Clube-Empresa confere legitimidade ativa aos clubes de futebol para o ajuizamento de recuperação judicial e extrajudicial, independentemente da constituição da SAF.
	Todavia, deve-se observar alguns pontos da Lei 14.193. Na proposta aprovada os clubes, após o período de transição, ficam submetidos uma carga fiscal superior à das associações civis, apesar de inferior à carga fiscal das demais sociedades empresárias. O texto prevê a Tributação Específica do Futebol (TEF) para as SAFs. Nos primeiros cinco anos a partir da constituição da SAF, incidirá a alíquota de 5%, em regime de caixa mensal, exceto sobre a cessão de direitos de atletas. A partir do sexto ano da constituição da SAF, incidirá a alíquota de 4%, em “regime de caixa mensal”, sobre todas as receitas, inclusive sobre cessão de direitos de atletas. Bruno Coaracy expõe o seguinte: 
"Do ponto de vista negativo, se assim posso dizer, vejo a incidência tributária a partir do 6° ano em relação as receitas oriundas das transferências de atletas, digo, pois, para alguns clubes essa é a principal fonte de receita, logo, penso ser este um ponto sensível que certamente será muito debatido em momento futuro e oportuno, embora o texto traga uma diminuição da alíquota de 5% para 4% quando da incidência da respectiva receita". (BRUNO COARACY, 2021)
	Outro ponto importante a ser observado é o abandono por parte dos proprietários. Os donos podem simplesmente perder o interesse em investir no clube, focando seu objetivo nos ganhos com venda de jogadores e publicidade. Existe aindaa o risco da marca ser explorada financeiramente e abandonada no âmbito esportivo. Este tema implica também na chance de falência. 
	Uma associação desportiva pode ser alvo de insolvência civil caso possua mais obrigações do que rendimentos que cubram tais pagamentos, situação bastante similar à falência. Como há uma rotatividade de mandatários, regida pelo sistema presidencial, o fato de não haver responsáveis pelo ativo do clube dificulta essa ação. Na realidade, é extremamente improvável a insolvência de um clube de futebol, levando em consideração as oportunidades que envolvem o capital da compra e venda de jogadores, bilheteria, publicidade e etc. Mesmo que em estado crítico, os clubes conseguem se manter. Já no modelo empresarial, a situação é diferente, pois uma empresa está sujeita a falir. A falência no futebol implicaem o clube ter de reiniciar todas as competições estaduais e nacionais da última divisão, um risco que pode ser considerado altíssimo.
3. CONCLUSÃO
	No presente trabalho observou-se uma grande controvérsia a respeito da legitimidade ativa de determinadas entidades em se valer do instituto da recuperação judicial, previsto na Lei nº 11.101/2005. Verificou-se a difícil situação econômico-financeira enfrentada pelos clubes de futebol brasileiros, bem como suas dificuldades em se recuperar dessa situação.
	Na sequência, foi possível entender o conceito de empresário e como ele se constitui no ordenamento jurídico brasileiro. Pôde-se ainda observar, conforme disposto no artigo 54 do Código Civil, que “Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. A partir daí entendeu-se que o conceito de Associação pode se resumir como uma entidade de direito privado que reúne pessoas em favor de um bem comum em prol do bem estar social, da cultura, política, filantropia ou realização de processos produtivos de bens e/ou serviços coletivos, sem visar o lucro.
	Foi verificada também a disposição do instituto da recuperação judicial no ordenamento jurídico, bem como os requisitos para sua aplicação prática. Foi apresentado o entendimento doutrinário doutrinário acerca da sua aplicação às associações desportivas, o qual se divide em duas vertentes. Como a lei que regula as recuperação judicial é vaga, abriu-se entendimento para a possibilidade de sua aplicação. Foram apresentadas decisões que abriram precedente para a discussão, como o caso do Figueirense Futebol Clube, que teve sua recuperação judicial deferida.
 	Dada a importância e a função social exercida pelo futebol, atrelada à insegurança jurídica existente devido à não especifidade da lei de recuperação judicial e falência, foi editada uma nova lei com intuito de possibilitar a subsistência dos clubes insolventes, a chamada Lei do Clube Empresa. Entre outras vantagens, a lei trouxe a possibilidade dos clubes requererem a recuperação judicial. Porém, no decorrer do trabalho, foram mencionados alguns pontos que merecem observação, como o regime de tributação e a sujeição à falência por parte dos clubes que aderirem a nova forma de se constituir. Como qualquer empresa, as Sociedade Anônimas do Futebol, criadas pela Lei do Clube Empresa, estarão sujeitas à falência. Portanto, caso não tenha seu plano de recuperação judicial aprovado ou torne-se inadimplente, pode ter sua falência requerida pelos credores.
 	A falência significa, a grosso modo, a “morte” da empresa. Com a falência da Sociedade Anônima de Futebol, para o time de futebol renascer, é necessário que seja criada uma nova pessoa jurídica, que será obrigada a recomeçar sua trajetória desportiva da última divisão do seu campeonato estadual. Logo, o simples fato de “virar” clube-empresa pode representar um risco para o clube. 
	Desta forma, levando em conta os pros e contras da Lei do Clube-empresa, conclui-se que melhor a solução para que os clubes saiam da eventual crise econômico-financeira e para que haja uma restruturação das dívidas desse clube está em requerer o instituto da recuperação judicial, baseado na Lei 11.101/05 combinada com o Art. 27, § 13 da Lei 9.615/88.
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