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TCC WILLIAM GABRIEL

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS 
WILLIAM GABRIEL DE OLIVEIRA ALVES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2021.2 
 
WILLIAM GABRIEL DE OLIVEIRA ALVES 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS 
 
 
 
 
 
Artigo Científico Jurídico apresentado à 
Universidade Estácio de Sá, Curso de Direito, como 
requisito parcial para conclusão da disciplina 
Trabalho de Conclusão de Curso. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Marcia dos Santos Pimentel 
Nunes 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
Campus Campo Grande-RJ 
2021.2 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS 
 
William Gabriel de Oliveira Alves 
 
RESUMO: 
 
O presente trabalho trata das formas de recuperação econômica das associações 
desportivas, em especial o instituto da Recuperação Judicial, previsto na lei nº 
11.101/05. A referida lei estabelece que somente é aplicável a Recuperação Judicial 
aos empresários e às sociedades empresárias. Como a grande maioria dos clubes 
desportivos são estruturados em formato de Associação, ou seja, não exercem 
atividades com fins lucrativos, eles não possuem elemento de empresa, não se 
enquadrando no rol exemplificativo da Lei de Falência e Recuperação de Empresas. 
Como uma alternativa para esses clubes, em 06 de agosto de 2021, foi sancionada a 
Lei nº 14.193, que discorre acerca da instituição da Sociedade Anônima de Futebol 
(SAF) e do Clube-empresa. Tal lei busca garantir a subsistência das entidades 
desportivas, criando o Regime Especial de Tributação de Entidades de Prática 
Desportiva Profissionais de Futebol (Simples-Fut), além de outras providências, como 
a possibilidade dos clubes se utilizarem do instituto da Recuperação Judicial. 
 
Palavras-chave: Recuperação Judicial. Associações Desportivas. Lei de Falência e 
Recuperação de Empresas. Clubes de Futebol. Sociedades Empresárias. Clube 
Empresa. Empresário 
 
SUMÁRIO: 
 
1. Introdução; 2. Desenvolvimento; 2.1. Empresa e empresário: Conceito; 2.2. As 
Associações Desportivas Sem Fins Lucrativos no Ordenamento Jurídico Brasileiro; 
2.3 A Recuperação Judicial E Sua Aplicação, Nos Termos Da Lei 11.101/05; 2.4. 
Entendimento Doutrinário e Jurisprudencial Acerca Da Legitimidade Ativa Dos Clubes 
De Futebol No Tocante À Recuperação Judicial; 3. Conclusão; Referências. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 A pandemia instaurada em virtude do novo COVID-19 trouxe diversos 
problemas para os mundo esportivo. Segundo dados da Ondina Investimentos, uma 
boutique de fusões e aquisições no Recife, com o adiamento, cancelamento e os 
portões fechados nos jogos durante a maior parte do ano de 2020, os clubes 
brasileiros de futebol da série A registraram queda de 10% nas suas receitas, que 
somaram R$ 5,5 bilhões, e um aumento de 15,6% no total dos passivos, para R$ 14,1 
bilhões. A situação é ainda mais desesperadora ao observarmos os clubes que 
disputam da série B em diante, que muitas vezes se encontram em situação de 
realizações de praças para a arrecadação de estádios ou até mesmo suas sedes 
sociais. 
 Como se não bastasse, muitos clubes estão entregues à administrações 
amadoras, onde são geridos por pessoas descapacitadas para o exercício das 
funções atribuídas, bem como, em alguns casos, de sujeitos maliciosos que utilizam 
da instituição para interesse próprio. Um exemplo dessa situação é o caso do Botafogo 
de Futebol e Regatas que, em balanço auditado, demonstrou que há uma deficiência 
de capital de giro de R$ 270 milhões. Além disso, houve um prejuízo de R$ 21 milhões 
causado, principalmente, pelas despesas financeiras relativas a juros e multas de 
obrigações tributárias. O passivo total do clube em 2020 foi de R$ 890 milhões. 
 É inegável a importância que o futebol tem para a cultura do brasileiro, onde 
por diversas vezes se apresenta como uma válvula de escape para aqueles em que 
a sua única alegria é o clube do coração e não são poucas as vezes em que as 
pessoas esquecem as adversidades e mergulham no mundo mágico do esporte. Essa 
importante função social exercida pelos clubes acaba sendo ameaçada pelas 
crescentes dívidas e muitas das vezes não são encontradas soluções para uma 
reestruturação econômica o que leva essas associações a entram em colapso 
financeiro. Seu dirigentes, advogados e políticos prontamente começam a falar em 
recuperação judicial como alternativa para corrigir os danos causados pelos erros 
cometidos na gestão e administração. Em clubes como Vasco e Cruzeiro essa palavra 
já faz parte do vocabulário do dia a dia, mas é importante destacar que o assunto é 
interessante para todos os clubes endividados e que percorre por todos os corredores 
o interesse em recorrer a esse instituto para melhorar a situação de endividamento 
das instituições. 
 A Recuperação Judicial de uma associação desportiva significa a oportunidade 
de reduzir o endividamento e preservar sua atividade, podendo ser suspensos por um 
período de 180 dias todos os bloqueios e penhoras sofridos. Na maioria das vezes o 
processo recuperacional envolve até o perdão de parte das dívidas, pois o credor, 
ciente de que o devedor não teria condições de pagar toda a dívida, acaba perdoando 
parte dos valores devidos em troca do pagamento programado. Assim é aberta a 
possibilidade de renegociação das dívidas dos clubes, por exemplo, por meio da 
aplicação de deságio sobre os créditos existentes contra a entidade e de prazos 
alongados para os pagamentos. Com a derrubada de vetos presidenciais a alguns 
dispositivos da Lei 14.112/2020 (Nova Lei de Falências), até mesmo os débitos 
tributários tiveram o pagamento facilitado, sendo autorizada a utilização dos prejuízos 
fiscais para pagamento de tributos, além de condições especiais de pagamento, com 
a concessão de descontos e prazo de até 84 meses. 
 No dia 11 de março de 2021 o Figueirense, clube de futebol brasileiro da cidade 
de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, ingressou com tutela cautelar 
antecedente preparatória de pedido de Recuperação Judicial, onde tinha como 
objetivo principal buscar por um dos efeitos mais céleres e de grande impacto desta 
medida, que é a suspensão de todas as ações existentes movidas em face da 
recuperanda, para posterior apresentar o regular pedido de recuperação no prazo 
legal. No documento, o clube apontou que as atividades corriam risco de se 
encerrarem imediatamente caso não conseguissem paralisar a execução das dívidas. 
 Cabe ressaltar que estamos diante de uma cautelar antecedente de pedido de 
recuperação judicial híbrida pelo fato de o clube Figueirense ser composto por uma 
associação civil, o Figueirense Futebol Clube, e por uma sociedade empresária de 
responsabilidade limitada, a Figueirense Ltda. 
 O pedido foi negado pelo juiz da Vara Regional de Recuperações Judiciais, 
Falências e Concordatas de Florianópolis. O magistrado Luiz Henrique Bonatelli 
acompanhou a corrente de entendimento que defende a impossibilidade de as 
associações sem fins lucrativos figurarem como atores que poderiam utilizar-se do 
instituto da falência e da recuperação judicial "por não se enquadrarem no conceito 
de sociedade empresária". 
 
"Com a devida vênia aos entendimentos em sentido contrário, este 
magistrado filia-se à primeira corrente doutrinária tida positivista, de 
modo que, por esta razão, entendo que as associações civis sem fins 
lucrativos não podem utilizar-se da recuperação judicial por não 
constituírem sociedade empresária." (LUIZ HENRIQUE BONATELLI, 
2021) 
 
Já em 2º grau, houve um entendimento foi diferente. O desembargador inferiu 
que o fato de clube se enquadrar como associação civil não retira sua legitimidade 
para pleitear a Recuperação Judicial. Para Torres Marques, as atividades 
desenvolvidas constituem elemento típico de empresa. 
 
"Concluo, portanto, que o fato de o primeiro apelante 
enquadrar-secomo associação civil não lhe torna ilegítimo para 
pleitear a aplicação dos institutos previstos na Lei n. 11.101/2005, 
porquanto não excluído expressamente do âmbito de incidência da 
norma (art. 2º), equiparado às sociedades empresárias textualmente 
pela Lei Pelé e, notadamente, diante da sua reconhecida atividade 
desenvolvida em âmbito estadual e nacional desde 12/6/1921, passível 
de consubstanciar típico elemento de empresa (atividade econômica 
organizada)." (Torres Marques, 2021) 
 
 Considerando que grande maioria dos clubes de futebol no Brasil estão 
constituídos como Associações Desportivas e não como Empresa, o assunto levanta 
algumas questões. Poderia uma pessoa jurídica sem fins lucrativos se valer do 
procedimento da recuperação judicial, previsto na lei 11.101/05? E, se tratando de 
associação desportiva, até que ponto é necessário edição normativa para que seja 
possível a Recuperação Judicial dessas instituições? 
 
2. DESENVOLVIMENTO 
 
2.1 EMPRESA E EMPRESÁRIO: CONCEITO. 
 
 O conceito de empresa e empresário tem como base os fundamentos da Teoria 
da Empresa (Sistema Italiano), que foram recepcionados pelo Código Civil de 2002. 
Esta teoria substituiu a Teoria dos Atos de Comércio (Sistema Francês) que baseava 
o código comercial de 1850. Sobre o tema, Ricardo Negrão (2008) versa que 
 
"com a adoção da Teoria da Empresa, grandemente desenvolvida pelo 
pelo jurista italiano Alberto Asquini, o Código Civil brasileiro optou por 
introduzir o sistema italiano para caracterização dos atos 
empresariais". (NEGRÃO, RICARDO. Direito Empresarial: estudo 
unificado. Saraiva: São Paulo, 2008, p. 3.) 
 
 Evidentemente, o artigo 966 do Código Civil acusa os elementos necessários 
para caracterização do empresário: "Considera-se empresário quem exerce 
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação 
de bens ou de serviços.". Vale ressaltar que não existe na Lei o conceito de empresa 
expressamente. Este pode ser retirado da definição de empresário, ou seja, uma 
empresa se caracteriza como a "atividade econômica organizada que será 
desenvolvida pelo empresário para a produção ou a circulação de bens ou serviços. 
 Sendo assim, de acordo com a Lei, o empresário é o sujeito e a empresa é o 
atividade exercida na relação empresária. De acordo com Fábio Ulhoa Coelho, "se o 
empresário é o exercente profissional de uma atividade econômica organizada, então 
empresa é uma atividade". Completa ainda dizendo que "a empresa, enquanto 
atividade, não se confunde com o sujeito de direito que a explora, o empresário". 
Entende-se assim que o empresário é uma pessoa física ou jurídica, pois são essas 
que desenvolvem a empresa, ou seja, a atividade econômica organizada. 
 Além de diversos outros elementos que caracterizam a figura do empresário, 
como por exemplo a habitualidade em suas atividades, há de se ressaltar que a 
atividade econômica desenvolvida pelo empresário tem como objetivo principal a 
obtenção de lucro fim, assim considerado como a distribuição do resultado aos sócios 
de sociedade empresária ou titular de EIRELI ou firma individual. 
 Este é um elemento que não se encontra nas demais pessoas jurídicas 
elecandas no Art. 44 do Código Civil : 
 
Art. 44 "São pessoas jurídicas de direito privado: 
I - as associações; 
II - as sociedades; 
III - as fundações. 
IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 
22.12.2003) 
V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 
22.12.2003) 
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. 
(Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)" 
 
 Portanto, não seria possível caracterizar como empresário uma associação 
desportiva, pois as atividades exercidas por elas possuem o lucro como um meio e 
não como fim, faltando um dos elementos da definição legal contemplada no Art. 966 
do Código Civil. 
 
2.2 AS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS SEM FINS LUCRATIVOS NO 
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. 
 
 Uma associação desportiva pode se resumir como uma entidade de direito 
privado que reúne pessoas em favor de um bem comum em prol do bem estar social, 
da cultura, política, filantropia ou realização de processos produtivos de bens e/ou 
serviços coletivos, sem visar o lucro, como se pode observar disposto no artigo 54 do 
Código Civil “Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem 
para fins não econômicos”. 
Para se constituir uma associação é necessário que se reúna um grupo de 
pessoas interessadas em um objetivo em comum, que devem se identificar com as 
finalidades e objetivos da futura entidade. No Ordenamento Jurídico Nacional, em seu 
artigo 5º inciso XVII, é possível identificar o direito de constituir associações como uma 
garantia fundamental “é plena a liberdade de associação para fins lícitos...”, ainda, no 
o inciso XVIII versa que “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas 
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu 
funcionamento.” 
O modelo no qual se organizam, seu estatuto e o tocante à dissolução das 
associações estão dispostos nos artigos 53 a 61 do Código Civil, destaca-se: 
 
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações 
conterá: 
I - a denominação, os fins e a sede da associação; 
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos 
associados; 
III - os direitos e deveres dos associados; 
IV - as fontes de recursos para sua manutenção; 
V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos 
deliberativos; 
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias 
e para a dissolução; 
VII - a forma de gestão administrativa e de aprovação das 
respectivas contas. 
 
 Ao tratarmos da criação das associações podemos observar o que diz 
ANDRADE FILHO (2005): 
 
"A criação de associações ou fundações é uma manifestação do direito 
livre de associação para o qual a Constituição Federal de 1988 
reservou a mais ampla liberdade de configuração. Toda e qualquer 
associação pode ser livre; todavia a associação dotada de 
personalidade jurídica deve passar pelo crivo da lei. Portanto aquela 
liberdade pode ser regulada pela lei que, todavia, não deve em 
principio, impor que as restrições] não passem pela bitola do principio 
da proporcionalidade a exemplo do que ocorre com o principio da livre 
empresa". (ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Desconsideração da 
personalidade jurídica no novo Código Civil. São Paulo: MP Editora, 
2005.) 
 
 Quanto à proibição da busca pelo lucro, apenas se permite lucro para um 
aumento de patrimônio da própria associação, jamais aumento pessoal de seus 
associados, conforme analisou PEREIRA (1999): 
 
"Associação de fins não lucrativos é aquela que se propõe a realizar 
atividades não destinadas a proporcionar interesse econômico a seus 
associados. Com esse critério, classificam-se ainda na categoria de 
associações ideias que realizam negócios visando ao alargamento 
patrimonial da pessoa jurídica, sem proporcionar ganhos aos 
associados. Assim, a procura de vantagens matérias acessórias, 
indispensáveis à sobrevivência da associação não lhe retira o caráter 
não lucrativo do fim social.” (PEREIRA, Caio Mario da Silva. Curso de 
direito Civil. Parte Geral. V1. 19. ed, Rio de Janeiro: Forense, 1999.) 
 
 A palavra associação pode ser entendida como aquela instituição sem fins 
lucrativos que possui um ideal, no caso abordado neste trabalho, de manifestação 
desportiva, cultural e social sem a finalidade econômica final, ainda que seja atividade 
que gera renda. Acerca do tema discorre PERRUCI (2006): 
 
"Importante observar que o viés econômico da associação deve ser 
entendido de maneira restrita. Significa dizer que a caracterização da 
atividade econômica deve ser compreendida como sinônima do animus 
lucrandi e sua partilha posterior entre os integrantes da pessoa jurídica.Significa dizer que a simples verificação de resultado positivo – lucro – 
não é suficiente para descaracterizar o ente como associação. Nesta 
hipótese pelo fato de não se admitir na associação comunhão de 
diretos e obrigações reciprocas entre seus integrantes, não se poderá 
falar de economicidade da pessoa jurídica. A economicidade da 
atividade do ente jurídico informa a necessidade de ser produtora de 
riquezas e, por isto de bens, ou ainda de serviços patrimonialmente 
avaliáveis. Essas atividades podem ser exercidas como meio ou como 
finalidade. Na primeira hipótese ter-se-á a reversão integral do 
resultado obtido em benefício da própria entidade, como ocorre no seio 
das associações. É o caso, por exemplo, de entidade de pratica 
desportiva que vende a seus membros uniformes e outros produtos do 
clube, sem dividir o resultado com seus sócios, mas vertendo-o para a 
própria entidade, visto que possuem como principal motivação e 
objetivo o exercício e promoção de atividades esportivas.". (PERRUCI, 
Felipe Falcone. Clube-Empresa: O modelo brasileiro para a 
transformação dos clubes de futebol em sociedades empresárias. 
Faculdade de Direito Nova Lima – MG, 2006, disponível em) 
 
 Conforme já exposto, quase 100% dos clubes de futebol adotou o regime 
associativo como maneira de se constituir. O motivo disso é que, no contexto da época 
de criação dessas entidades, apenas era permitido tal regime, tendo em vista a 
finalidade da mera prática desportiva e a impossibilidade de obtenção de lucro com a 
atividade. O debate a respeito desse regime surgiu no momento em que começaram 
a ser injetados recursos financeiros astronômicos em torneios, ligas, patrocínios e etc. 
A partir daí surgiram previsões legislativas determinando a transformação dos clubes 
em sociedades empresárias, porém, essas legislações foram alvo de resistência e 
críticas por parte dos clubes e dos estudiosos do assunto. Álvaro Melo Filho repele 
totalmente tal obrigação trazida pela Lei Pelé: 
 
“Registre-se que compelir um ente de futebol profissional a adotar a 
tipologia de “sociedade comercial”, com fins lucrativos é, sem dúvida, 
interferir na sua organização e funcionamento, derruindo o postulado 
constitucional da autonomia desportiva (art. 217, I, CF), a par de 
constranger Conselhos Deliberativos ou Assembleias Gerais de entes 
privados desportivos a adotar modelos legais que podem trazer 
prejuízos incalculáveis às suas tradições, patrimônio e identidade 
desportivas, dando suporte jurídico à apropriação e “comercialização” 
pelos acionistas de seus símbolos e sentimentos dos clubes 
construídos ao longo da história. Vale dizer, inserir na lex sportiva 
imposição do modelo de “sociedade comercial” aos centenários clubes 
desportivos, fundado num pressuposto de assegurar moralização e de 
gestão profissionalizada do desporto, integra tese irresponsável de 
ruptura, onde se combinam ficção jurídica e “mitologia” desportiva, 
cumuladas com inconstitucionalidade.” (FILHO, ALVARO MELO, 2011) 
 
A Lei Pelé (Lei nº 9.615 de 1998) alterou modificou a estrutura do futebol 
brasileiro, mas, além dela, algumas outras leis também regulamentam a prática do 
desporto, entre elas, destacam-se: 
 
• A Lei Zico (Lei nº 8.672 de 1993), que instituiu a faculdade das entidades 
esportivas contratarem sociedades com fins lucrativos para gerir suas 
atividades. Ela tentou ainda modernizar a gestão desportiva, mas foi, 
infelizmente, rebatida por toda a classe dirigente, vez que não permitia 
qualquer benefício para esta nova adoção de gerenciamento; 
• A Lei nº 9.981 de 2000, que alterou alguns dispositivos da Lei nº 9.615, 
versando sobre a transformação da obrigatoriedade para a faculdade 
dos clubes em se tornarem empresas, sobre os contratos de atletas 
profissionais, sobre transmissão de jogos, sobre bingos e outros. 
Segundo Oliveira Junior (2004), a obrigatoriedade dos clubes em se 
tornarem empresas feria e fere a Constituição Federal. 
 
O grande dilema dos clubes em se constituir como associação desportiva ou 
sociedade empresária está no fato de uma poder exercer atividades com fins 
lucrativos e outra não. Enquanto a sociedade tem finalidade lucrativa, a associação 
não pode gozar de qualquer proveito econômico. Esse detalhe acaba mudando a 
forma que a instituição se sujeita às leis normativas e existe uma grande questão a 
ser considerada pelos clubes na hora de escolher a forma de se constituir, que são os 
benefícios dados às associações, como a imunidade tributária e isenção de imposto 
de renda, porém, também pode haver um ônus nesse caso: A impossibilidade de 
requerer uma recuperação judicial, com base na lei 11.101/05, instituto de suma 
importância para a sobrevivência de entidades em situação de crise econômico-
financeira e assunto principal do presente trabalho. 
 
2.3 A RECUPERAÇÃO JUDICIAL E SUA APLICAÇÃO, NOS TERMOS DA LEI 
11.101/05. 
 
 Para evitar demissões, falta de pagamentos e até seu fechamento, as 
companhias em situação de insolvência veem como solução a renegociação de suas 
dívidas acumuladas através de uma Recuperação Judicial. O instituto é utilizado como 
meio de evitar que essas empresas sejam levadas à falência e tem como principal 
objetivo apresentar um plano de recuperação que mostre que a empresa, ainda que 
diante das dificuldades, consegue se restabeleces, caso consiga negociar suas 
dívidas para continuar operando sua atividade. O objetivo não é simplesmente ajudar 
os donos do empreendimento, mas também evitar que trabalhadores fiquem sem 
emprego, que fornecedores percam clientes, que consumidores percam um serviço 
ou produto e o que Estado deixe de arrecadar impostos. 
 No transcorrer da recuperação, as dívidas da organização ficam congeladas 
por um período pré-determinado enquanto as atividades seguem seu fluxo, na 
esperança de que seja possível gerar os recursos financeiros necessários para pagar 
todos os credores ou a maior parte deles. O hora ideal para buscar a recuperação 
judicial é aquela que antecede o caos, ou seja, quando o gestor prevê que não 
conseguirão arcar com suas obrigações e precisarão de ajuda para sair da situação 
que chegaram. Contudo, ela também pode ser solicitada após o caos ser instaurado, 
desde que haja possibilidade de recuperação. Isso é o que acaba acontecendo na 
grande maioria dos casos, uma vez que os gestores, normalmente, não estão 
preparados para identificar quando, de fato, a organização precisará se socorrer 
nessa alternativa. 
 A recuperação judicial é concedida após a apresentação do Plano de 
Recuperação Judicial (artigo 53, caput). Nesse plano deverão constar todos os 
requisitos da lei, como o laudo de avaliação dos bens e ativos do devedor, e será “o 
elemento central para a análise da estratégia desenhada para o sucesso, ou não, da 
recuperação judicial” (SZTAJN, 2007, p. 265). Ele tem como principal função 
demonstrar aos credores a viabilidade econômica de recuperação do devedor, 
mediante apresentação dos meios a serem utilizados para tanto, previstos no rol 
exemplificativo no artigo 50, nos quais se distinguem a dilatação de prazos para 
pagamento das dívidas submetidas ao plano e a aplicação de deságio sobre essas. 
 Atendidos os requisitos legais, a recuperação judicial será concedida pelo juiz 
à requerente caso os credores tenham aprovado o plano ou não tenham surgido 
objeções. 
 Muitas vezes pode haver confusão entre o conceito de recuperação judicial e o 
de falência. Contudo, apesar de serem procedimentos que possuem uma certa 
ligação, eles são completamente diferentes. A recuperação, em suma, serve para 
evitar que a falência ocorra. Mas, quando a recuperação judicial fracassa, as 
organizações acabam tendo quer encerrar completamente as suas atividades e todos 
os seus bens são oferecidos para a quitação de suas dívidas, ficando caracterizada, 
assim, a falência. Em contrapartida,a recuperação judicial busca sanear a crise que 
a empresa vem enfrentando, ou seja, ela busca identificar o fator causador do 
problema e dar apoio ao gestor da empresa, lhe oferecendo subsidio para que consiga 
superar a crise, negociando com os credores e oportunizando, assim, que empresa a 
continue operando e cumprindo com sua função social. 
 Embora seja um processo que traga benefícios para ambos os lados, é preciso 
ter alguns cuidados antes de formular um plano de recuperação judicial. Vale ressaltar 
que é fundamental que, na documentação que registrará o plano de ação da 
recuperação, estejam todos os credores da organização, sendo necessário verificar o 
potencial do negócio em gerar resultados que cubram todos os valores que a empresa 
deverá pagar. Além disso, é preciso ter atenção aos prazos. Caso o plano não seja 
apresentado pela empresa durante o período estipulado pela Lei, o juiz poderá 
decretar a falência ex officio e não terá mais como voltar atrás nesse processo. 
 Fato é que uma eventual interrupção nas atividades exercidas pelos clubes há 
de gerar bastante comoção social, tanto pelo fechamento de milhares de postos de 
trabalho, aumentando consequentemente a taxa de desemprego, tanto pela frustração 
de milhares de torcedores que têm em seu clube a sua única alegria. É de suma 
importância a subsistência das entidades desportivas, principalmente os grandes 
clubes, para a economia nacional, bem como a função social que exercem e evidente 
que a falência de uma dessas entidades prejudica todos que dela dependem. 
 Dessa forma, deve-se por em prática o princípio de conservação da empresa 
juntamente com o princípio da razoabilidade. Toda vez que uma entidade desportiva 
se encontrar em situação de insolvência, responde-se a seguinte questão: É razoável 
mantê-la em atividade? 
 Tal questão deve ser respondida em observância de uma série de fatores, 
principalmente a viabilidade financeira. Uma associação desportiva em situação de 
crise e que não seja viável se torna perigosa, ao ponto que, se não interrompidas suas 
atividades, ela continuará operando e se endividando cada vez mais. À medida em 
que suas dívidas crescem, também aumenta o número de credores prejudicados, 
assim, coloca-se em risco não só a associação desportiva, como também todos os 
seus credores, que cada vez mais têm créditos atrasados ou não pagos. 
 A recuperação judicial é disciplinada pela Lei 11.101/05 (Lei de Falência e 
Recuperação de Empresas), que em seu Art. 1º, traz o seguinte texto 
 
"Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação 
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade 
empresária, doravante referidos simplesmente como 
devedor.". (ART 1º DA LEI Nº 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO 
DE 2005.) 
 
 A lei indica expressamente sua aplicação apenas aos empresários e 
sociedades empresárias, não havendo qualquer disposição quanto às associações, 
pois se tratam de um tipo diferente de pessoa jurídica. No caso dos clubes de futebol, 
por se tratarem de associação desportiva, inclusive sem fins lucrativos, o tema não foi 
abordado, existindo assim uma lacuna quanto a possibilidade do pedido recuperação 
judicial por parte destas associações desportivas. 
 A já mencionada Lei 9.615 (Lei Pelé), dispõe em seu artigo 27, § 13, que: 
 
"Para os fins de fiscalização e controle do disposto nesta Lei, as 
atividades profissionais das entidades de que trata o caput deste artigo, 
independentemente da forma jurídica sob a qual estejam constituídas, 
equiparam-se às das sociedades empresárias." (ART. 27, § 13 DA LEI 
Nº 9.615, DE 24 DE MARÇO DE 1998) 
 
 Resta claro que a referida lei equipara as entidades desportivas às sociedades 
empresárias. 
 
2.4. ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E JURISPRUDÊNCIAL ACERCA DA 
LEGITIMIDADE ATIVA DOS CLUBES DE FUTEBOL NO TOCANTE À 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
 
 A notícia de que o Figueirense teve seu o seu pedido de recuperação judicial 
reconhecido pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina causou enorme discussão por 
parte dos doutrinadores, tendo em vista que a aplicação da recuperação para 
associações sem fins lucrativos ainda não é um tema pacificado no Brasil. Não 
obstante, casos semelhantes ao do clube se multiplicam por todo o país, de forma que 
deixou de ser um exagero afirmar que se trata de uma tendência. 
 Tal polêmica existe porque Lei de Recuperação Judicial e Falências (Lei 
11.101/05) não esclarece se as associações sem fins lucrativos possuem ou não o 
direito de utilizar da recuperação. O artigo 1º versa que o instituto deve ser utilizado 
pela "sociedade empresária" (o que não é o caso das associações), mas o 2º diz quem 
não pode se beneficiar da RJ e dele não constam as entidades que não visam o lucro. 
 Como resultado temos duas correntes doutrinárias que se dividem ao tratar da 
legitimidade ativa das associações desportivas em relação à recuperação judicial. 
Existe a primeira, que é mais conservadora e positivista, ela defende que apenas as 
entidades desportivas que se constituírem na forma de sociedade empresária podem 
postular recuperação judicial. Já a segunda corrente, mais principiológica e 
sistemática, entende ser possível juridicamente entidades desportivas, constituídas 
como associações civis sem fins lucrativos, postularem recuperação judicial, na forma 
da Lei 11.101/05. Um dos pressupostos adotados nessa tese é a ideia de que as leis 
não devem ser interpretadas de forma isolada, utilizando, assim, a teoria do diálogo 
das fontes, segundo a qual o ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma 
sistemática, conjunta e unitária. 
 O caso do Clube é um reflexo dessa divisão e diversas situações parecidas têm 
ocorrido com outras associações que buscam fazer uso da recuperação para tentar 
escapar da crise financeira, principalmente hospitais e instituições de ensino mantidos 
por entidades beneficentes, como o Grupo Metodista e a Universidade Cândido 
Mendes 
 Em dezembro de 2020, foi publicada a Lei 14.112, que modernizou o texto da 
Lei de Recuperação e Falências. Só que os parlamentares acabram “esquecendo” 
das associações sem fins lucrativos, que não foram incluídas na nova versão da 
referida lei, para a indignação dos operadores do Direito dedicados ao assunto. 
Segundo Wilmara Lourenço Santos, sócia-coordenadora do escritório Nelson Wilians 
Advogados no departamento tributário "A nova lei poderia claramente ter incluído as 
associações, tendo em vista a discussão sobre a matéria no período pandêmico, que 
impactou severamente a manutenção dessas associações". Concorda ainda o Dr. 
Pedro Henrique Sili Vieira, advogado sênior da área de reestruturação e insolvência 
do BMA Advogados, ao dizer que 
 
"O legislador poderia ter aproveitado a recente reforma da LRF para 
enfrentar diretamente o tema, o que acabou não sendo feito. Parece 
ter preferido delegar para a doutrina e para a jurisprudência a definição 
sobre o assunto, o que pode gerar alguma insegurança para as 
associações enquanto a matéria não for pacificada". (PEDRO 
HENRIQUE SILI VIEIRA, 2021.) 
 
 Com esses pedidos de Recuperação Judicial foram colacionados importantes 
precedentes para a aplicação da Lei de 11.101/05 e da recuperação judicial às 
associações sem fins lucrativos. Sabe-se que a segurança jurídica e a certeza são 
dois pilares fundamentais na esfera do direito empresarial, onde os operadores 
dependem de regras claras para que possam calcular seus riscos e tomar suas 
decisões. A insegurança jurídica é um termo que tem saído com muita facilidade da 
boca dos especialistas em recuperação judicial. Afinal, as associações sem fins 
lucrativos que desejam buscar esse caminho sabem que, para elas, entrar com uma 
ação de RJ é como fazer uma aposta: se forem contempladas, vão ter seu caso 
apreciado por um juiz que pertence à corrente que não se prende estritamente ao 
texto da lei. Caso contrário, terãoo pedido negado prontamente. 
 Sendo assim, não se tem visto como aconselhável que a falência e recuperação 
judicial sejam aplicadas a associações simplesmente baseado em interpretação 
genérica do art. 1º da Lei de Recuperação de Empresas, causando divergências 
doutrinárias e jurisprudenciais. Isso traria muita instabilidade ao sistema. Segundo o 
Dr. Alex Hatanaka, advogado da área de reestruturação e insolvência do escritório 
Mattos Filho. Expõe que: 
 
"Do ponto de vista da segurança jurídica, a situação não é boa, há 
muitas associações pedindo a recuperação sem ter previsão na lei, só 
com base na jurisprudência. Se houvesse clareza na lei seria bem mais 
fácil, as associações não ficariam ao sabor da interpretação de quem 
julga. " (ALEX HATANAK, 2021.) 
 
 Um argumento que tenta justificar o cabimento da recuperação judicial, 
extrajudicial e da falência para as associações civis desportivas se relaciona 
com o caráter eminentemente empresarial da gestão e exploração do esporte 
profissional por entidades desportivas. No ponto, vale esclarecer que há, na 
doutrina, quem revele a possibilidade de as associações civis desenvolverem 
atividades com finalidade lucrativa desde que sejam utilizadas para cobrir os 
gastos da associação, isto é, para a manutenção das atividades. Nesse sentido, 
discorre a Professora Maria Helena Diniz: 
 
"Não perde a categoria de associação mesmo que se realizem 
negócios para manter ou aumentar o seu patrimônio, sem, contudo, 
proporcionar gastos aos associados, p. ex., associação esportiva que 
vende aos seus membros uniformes, alimentos, bolas, raquetes etc., 
embora isso traga, como consequência, lucro ara a entidade". (MARIA 
HELENA DINIZ, 2021.) 
 
 Ainda, conforme preceitua o Professor Felipe Falconi Pernuci, "as associações 
que praticam o desporto de modo profissional dos dias atuais há muito desvalvularam-
se do ideal associativo". 
 Como argumento dificultador à recuperação judicial de associações 
desportivas sem fins lucrativos, tem-se a necessidade de que a associação desportiva 
possua o mínimo de recursos financeiros para promover a recuperação judicial, cujos 
custos podem ser elevados. Há necessidade de se arcar com o pagamento de 
consultores para avaliar previamente a efetiva situação econômico-financeira da 
agremiação desportiva e estruturar um plano de. Também haverá despesas com 
pagamento de advogados e auditores, convocações e realização de assembleias de 
credores, honorários do administrador judicial e a própria reestruturação da empresa 
e execução do plano de recuperação. 
 Já que a legislação não tratou de resolver o problema, surgiu um consenso 
entre os especialistas em recuperação judicial de que a tão querida e aguardada 
uniformidade só poderá ser alcançada quando o STJ for invocado a se pronunciar a 
respeito do assunto. O advogado Pedro Escosteguy, do Moraes & Savaget 
Advogados, explica que: 
 
"É o papel da jurisprudência auxiliar os operadores do Direito a criar 
uma segurança jurídica lastreada em julgados similares e 
jurisprudência consolidada. O Código de Processo Civil de 2015 possui 
previsão específica sobre incidentes de solução de controvérsias 
repetitivas, assim como os tribunais editam súmulas sobre 
entendimentos já pacificados. Não duvido de que eventualmente essa 
questão venha a ser abordada por alguma delas". (PEDRO 
ESCOSTEGUY, 2021.) 
 
 Porém, não é esperado que o STJ se pronuncie tão cedo sobre a recuperação 
judicial de associações sem fins lucrativos. 
 
2.4. O CLUBE EMPRESA COMO ALTERNATIVA PARA REQUERER A 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 
 Em 06 de agosto desse ano foi sancionada a Lei do Clube-Empresa (Lei nº 
14.193/2021), muito aguardada pelos principais dirigentes do futebol brasileiro, que 
foi considerada um marco para a profissionalização e modernização desse mercado, 
tornando-o mais atrativo para possíveis investidores e financeiramente sadio para os 
clubes de futebol. Nessas circunstâncias, a lógica do projeto original era a de que o 
clube de futebol constituiria uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), mediante a 
transferência de parte de seus ativos para a SAF, que sucederia o clube em 
campeonatos e contratos relativos ao futebol, ficando a SAF sujeita a determinadas 
regras de governança, controle e transparência. Em compensação, a SAF se 
beneficiaria de regime tributário especial (Simples-Fut) e poderia obter recursos no 
mercado financeiro, inclusive por meio das debêntures-fut, que teriam tributação 
específica e incentivada. 
 A Lei do Clube-Empresa trouxe a faculdade do clube ou pessoa jurídica cumprir 
com suas obrigações diretamente aos seus credores utilizando do Regime 
Centralizado de Execuções ou da recuperação judicial e extrajudicial, baseado na Lei 
11.101/05. No Regime Centralizado de Execuções, o clube ou pessoa jurídica 
concentrará em um único local (juízo) através de concurso de credores as execuções, 
as suas receitas e os valores, bem como a distribuição desses valores aos credores 
em concurso e de forma ordenada. 
 O clube de que solicitar a centralização das suas execuções receberá um prazo 
de até 60 dias para apresentar seu plano de credores, podendo o Poder Judiciário 
conceder o prazo de até seis anos para pagamento dos credores. Se o clube 
comprovar a adimplência de pelo menos 60% do seu passivo ao final do prazo 
estipulado, ele poderá obter a prorrogação do Regime Centralizado de Execuções por 
mais quatro anos. 
 Na caso do clube escolher a recuperação judicial como meio de suprimir seu 
passivo, este passará a ser legitimado para requerer a recuperação judicial a partir do 
momento em que se transformar em sociedade na anônima de futebol (SAF). Na 
recuperação judicial, o clube de futebol deverá fazer a declaração de suas dívidas e 
de seus credores, apresentando um plano de recuperação judicial que será analisado 
pelos credores, que poderão aceitar, rejeitar ou modificar o mesmo; havendo 
aprovação, este será homologado pela Justiça. 
 Este ano, o Cruzeiro Esporte Clube contratou a empresa de investimentos XP 
para a analisar a captação desses recursos e a viabilidade de transformação do clube 
em sociedade anônima de futebol. Já o Club de Regatas Vasco da Gama e 
Associação Portuguesa de Desporto Associação Portuguesa de Desportos já 
requereram o regime centralizado de execuções baseados na nova legislação. O 
clube paulista conseguiu a programação do prazo para pagamento de suas dívidas 
para seis anos. 
 A Lei veio para encerrar a discussão que tem dividido os comentários dos 
especialistas na área: a possibilidade de reorganização da dívida de clubes de futebol 
por meio de recuperação judicial. Nesse ponto, as sociedades na anônimas de futebol 
estarão definitivamente legitimadas para apresentarem pedidos recuperacionais, nos 
termos da Lei nº 11.101/2005. Dessa forma, a Lei do Clube-Empresa confere 
legitimidade ativa aos clubes de futebol para o ajuizamento de recuperação judicial e 
extrajudicial, independentemente da constituição da SAF. 
 Todavia, deve-se observar alguns pontos da Lei 14.193. Na proposta aprovada 
os clubes, após o período de transição, ficam submetidos uma carga fiscal superior à 
das associações civis, apesar de inferior à carga fiscal das demais sociedades 
empresárias. O texto prevê a Tributação Específica do Futebol (TEF) para as SAFs. 
Nos primeiros cinco anos a partir da constituição da SAF, incidirá a alíquota de 5%, 
em regime de caixa mensal, exceto sobre a cessão de direitos de atletas. A partir do 
sexto ano da constituição da SAF, incidirá a alíquota de 4%, em “regime de caixa 
mensal”, sobre todas as receitas, inclusive sobre cessão de direitos de atletas. Bruno 
Coaracy expõe o seguinte: 
 
"Do ponto de vista negativo, se assim posso dizer, vejo a incidência 
tributária a partir do 6° ano em relação as receitas oriundas das 
transferências de atletas, digo, pois, paraalguns clubes essa é a 
principal fonte de receita, logo, penso ser este um ponto sensível que 
certamente será muito debatido em momento futuro e oportuno, 
embora o texto traga uma diminuição da alíquota de 5% para 4% 
quando da incidência da respectiva receita". (BRUNO COARACY, 
2021) 
 
 Outro ponto importante a ser observado é o abandono por parte dos 
proprietários. Os donos podem simplesmente perder o interesse em investir no clube, 
focando seu objetivo nos ganhos com venda de jogadores e publicidade. Existe aindaa 
o risco da marca ser explorada financeiramente e abandonada no âmbito esportivo. 
Este tema implica também na chance de falência. 
 Uma associação desportiva pode ser alvo de insolvência civil caso possua mais 
obrigações do que rendimentos que cubram tais pagamentos, situação bastante 
similar à falência. Como há uma rotatividade de mandatários, regida pelo sistema 
presidencial, o fato de não haver responsáveis pelo ativo do clube dificulta essa ação. 
Na realidade, é extremamente improvável a insolvência de um clube de futebol, 
levando em consideração as oportunidades que envolvem o capital da compra e 
venda de jogadores, bilheteria, publicidade e etc. Mesmo que em estado crítico, os 
clubes conseguem se manter. Já no modelo empresarial, a situação é diferente, pois 
uma empresa está sujeita a falir. A falência no futebol implica em o clube ter de 
reiniciar todas as competições estaduais e nacionais da última divisão, um risco que 
pode ser considerado altíssimo. 
 
3. CONCLUSÃO 
 
 No presente trabalho observou-se uma grande controvérsia a respeito da 
legitimidade ativa de determinadas entidades em se valer do instituto da recuperação 
judicial, previsto na Lei nº 11.101/2005. Verificou-se a difícil situação econômico-
financeira enfrentada pelos clubes de futebol brasileiros, bem como suas dificuldades 
em se recuperar dessa situação. 
 Na sequência, foi possível entender o conceito de empresário e como ele se 
constitui no ordenamento jurídico brasileiro. Pôde-se ainda observar, conforme 
disposto no artigo 54 do Código Civil, que “Constituem-se as associações pela união 
de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. A partir daí entendeu-se 
que o conceito de Associação pode se resumir como uma entidade de direito privado 
que reúne pessoas em favor de um bem comum em prol do bem estar social, da 
cultura, política, filantropia ou realização de processos produtivos de bens e/ou 
serviços coletivos, sem visar o lucro. 
 Foi verificada também a disposição do instituto da recuperação judicial no 
ordenamento jurídico, bem como os requisitos para sua aplicação prática. Foi 
apresentado o entendimento doutrinário doutrinário acerca da sua aplicação às 
associações desportivas, o qual se divide em duas vertentes. Como a lei que regula 
as recuperação judicial é vaga, abriu-se entendimento para a possibilidade de sua 
aplicação. Foram apresentadas decisões que abriram precedente para a discussão, 
como o caso do Figueirense Futebol Clube, que teve sua recuperação judicial 
deferida. 
 Dada a importância e a função social exercida pelo futebol, atrelada à 
insegurança jurídica existente devido à não especifidade da lei de recuperação judicial 
e falência, foi editada uma nova lei com intuito de possibilitar a subsistência dos clubes 
insolventes, a chamada Lei do Clube Empresa. Entre outras vantagens, a lei trouxe a 
possibilidade dos clubes requererem a recuperação judicial. Porém, no decorrer do 
trabalho, foram mencionados alguns pontos que merecem observação, como o regime 
de tributação e a sujeição à falência por parte dos clubes que aderirem a nova forma 
de se constituir. Como qualquer empresa, as Sociedade Anônimas do Futebol, criadas 
pela Lei do Clube Empresa, estarão sujeitas à falência. Portanto, caso não tenha seu 
plano de recuperação judicial aprovado ou torne-se inadimplente, pode ter sua 
falência requerida pelos credores. 
 A falência significa, a grosso modo, a “morte” da empresa. Com a falência da 
Sociedade Anônima de Futebol, para o time de futebol renascer, é necessário que 
seja criada uma nova pessoa jurídica, que será obrigada a recomeçar sua trajetória 
desportiva da última divisão do seu campeonato estadual. Logo, o simples fato de 
“virar” clube-empresa pode representar um risco para o clube. 
 Desta forma, levando em conta os pros e contras da Lei do Clube-empresa, 
conclui-se que melhor a solução para que os clubes saiam da eventual crise 
econômico-financeira e para que haja uma restruturação das dívidas desse clube está 
em requerer o instituto da recuperação judicial, baseado na Lei 11.101/05 combinada 
com o Art. 27, § 13 da Lei 9.615/88. 
 
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