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TECNOLOGIA DE ALIMENTOS Sarah Winck de Almeida Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 T255 Tec nologia de alimentos [recurso eletrônico] / Organizadora, Sara Winck. – Porto Alegre : SAGAH, 2016. Editado como livro impresso em 2016. ISBN 978-85-69726-35-7 1. Nutrição. 2. Tecnologia de alimentos. I. Winck, Sara. CDU 612.39:62 Métodos de conservação de alimentos: uso do calor Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a importância da utilização do calor como meio de conservação dos alimentos. � Diferenciar as principais características dos meios de conservação dos alimentos com a utilização do calor. � Relacionar os alimentos e sua melhor forma de conservação através da utilização do calor. Introdução Desde sua primeira utilização, há mais de 150 anos, o processamento térmico tornou-se fundamental para a conservação dos alimentos. Acredita-se que a aplicação de altas temperaturas para fins de conservação foi inventada por Nicolás Appert, que possivelmente observou que, os alimentos aquecidos em recipientes hermeticamente fechados poderiam se conservar durante longo tempo se não fossem abertos. Como forma de conservação, o calor é importante para destruir os microrganismos presentes no alimento, sejam eles patogênicos ou deteriorantes. Pela utilização do calor como meio de conservação, surgiram diferentes processos térmicos, que têm suas especificidades e melhores formas de aplicação. Conservação dos alimentos pelo uso do calor Utilização de altas temperaturas nos alimentos A aplicação de altas temperaturas nos alimentos tem como objetivo a destrui- ção de microrganismos e a inativação de enzimas para produzir alimentos com vida de prateleira prolongada. Além disso, com o tratamento térmico pode ocorrer a destruição de fatores antinutricionais (como os inibidores de tripsina) e o aumento da disponibilidade de alguns nutrientes (como o aumento na diges- tibilidade de proteínas, que são desnaturadas pelas altas temperaturas). Diferentes microrganismos e enzimas possuem resistência térmica distin- ta (e que podem variar também em função de outros parâmetros, como pH e umidade). O pH de 4,5 é um dos fatores utilizados para definir o tipo de tra- tamento térmico a ser utilizado nos alimentos. Em alimentos com pH acima de 4,5 e em ausência de oxigênio (anaerobiose), os esporos do Clostridium botulinum (bactéria patogênica) conseguem se desenvolver, isso se o alimento apresentar alta aw (atividade de água) e for conservado em temperaturas que permitam a produção dos esporos. Essa bactéria produz uma toxina muito po- tente (a toxina botulínica), que pode causar a morte da pessoa que a consumir. De maneira geral, utiliza-se os binômios temperatura e tempo de trata- mento térmico para minimizar os danos produzidos à qualidade do produto. O calor aplicado a um alimento durante o tratamento térmico (ou seja, o bi- nômio tempo versus temperatura utilizado) dependerá dos microrganismos existentes no produto, das enzimas indesejáveis presentes e da sensibilidade do produto ao tratamento térmico. Vale lembrar que, a velocidade das reações enzimáticas aumenta com o aumento da temperatura, até que a temperatura ótima de atividade da enzima seja atingida. De- pois dessa temperatura, a velocidade da reação começa a decrescer, o que pode ser explicado pelo início da inativação e destruição das enzimas pelas altas temperaturas. Fique atento Tipos de tratamentos térmicos Os dois principais processos de conservação pelo uso do calor são a pasteuri- zação e a esterilização. Esses processos apresentam características diferentes, em especial a temperatura de processo utilizada. Pasteurização A pasteurização utiliza temperaturas inferiores a 100°C e objetiva destruir os microrganismos patogênicos não esporulados e reduzir significativamente os deteriorantes, podendo oferecer ao consumidor um produto seguro e com vida útil aceitável. Para isso, é necessário um método combinado de conservação (como refrigeração, controle do pH, utilização de aditivos alimentares, etc.). 9Métodos de conservação de alimentos: uso do calor Em alimentos de baixa acidez (com pH > 4,5), a pasteurização é utilizada para minimizar riscos à saúde devido à presença de microrganismos patogêni- cos e para aumentar a vida de prateleira por diversos dias pela diminuição no número de microrganismos deteriorantes e inativação de algumas enzimas. Em alimentos ácidos (com pH < 4,5), a pasteurização é utilizada para aumen- tar a vida de prateleira dos alimentos através da destruição de microrganismos deteriorantes (nesse caso, bolores e leveduras) e ou pela inativação de enzimas. Os tipos de pasteurização utilizados dependerão do método e do produto a ser tratado, e apresentam relações diferentes dos binômios tempo versus temperatura: � A pasteurização baixa (LTH – low temperature holding) emprega tempera- turas baixas (de 62 a 68°C) durante longo tempo (aproximadamente 30 min). � A pasteurização alta (HTST – high temperature, short time) emprega tem- peraturas elevadas (de 72 a 85°C) durante curto tempo (de 15 a 20 s). Esterilização A esterilização é o processo de maior importância industrial, no qual se utiliza temperaturas superiores a 100°C e pode ser realizada após colocar o produ- to dentro da embalagem ou antes, embalando-o depois de forma asséptica. É aplicada em alimentos em que se deseja a destruição das bactérias termófilas, além das mesófilas e das psicotróficas (ou seja, um alimento comercialmente estéril). As bactérias termófilas são aquelas termorresistentes com a capacidade de formar esporos. Os esporos são estruturas de resistência da célula formadas em condições adversas (altas temperaturas, baixa aw, baixo pH, etc.). Os esporos são, portanto, um importante problema na indústria de alimentos, sendo que os gêneros bacterianos mais relevantes são Clostridium e Bacillus. A esterilização visa, portanto, destruir todos os microrganismos, incluin- do seus esporos. Com isso, os alimentos alcançam uma vida de prateleira igual ou maior que seis meses, mesmo sendo conservados à temperatura am- biente. Em relação às enzimas, a maioria é menos resistente termicamente do que os esporos das bactérias termófilas. A esterilização pode ser realizada nos alimentos antes de serem embala- dos e nos alimentos já dentro da embalagem: � A esterilização dos alimentos antes de serem embalados, denominado processo UHT (utra high temperature), é utilizada em alimentos líquidos 10 Tecnologia de alimentos e semilíquidos (leites, sopas nata, etc.), em que são submetidos a altas temperaturas (de 135 a 150°C) durante um tempo muito curto (de 2 a 5 s). � A esterilização dos alimentos já acondicionados pode ser realizada em em- balagens, como latas, garrafas de vidro ou sacos plásticos com estabilidade térmica. O processo segue a seguinte sequência: preenchimento da embala- gem, retirada de ar e fechamento. Posteriormente, é realizado o tratamento térmico. As temperaturas utilizadas para a esterilização de alimentos pouco ácidos e muito ácidos são superiores a 100°C (de 110 a 125°C). Tratamentos térmicos e suas aplicações A pasteurização é utilizada nos alimentos em que a utilização de temperaturas muito elevadas pode interferir nas suas características sensoriais, como é o caso de sucos integrais e do leite. É utilizada também em alimentos onde os microrganismos pre- sentes possuem baixa resistência à temperatura, ou quando mesmo que esses micror- ganismos resistam ao tratamento térmico, podem ser destruídos por microrganismos adicionados intencionalmente para fins de fermentação (como ocorre na produção de queijos e iogurtes, por exemplo). De maneira geral, a pasteurização deverá ser complementada por algum ou- tro método que atuará em sinergia para aumento da durabilidade dos alimentos. Isso acontece na adição de sacarose para produção de leite condensado,na aplicação de refrigeração para o leite pasteurizado e no embalamento a vácuo, resultando em um ambiente anaeróbio. Entretanto, independente de qual seja o método comple- mentar de conservação, a pasteurização, diferentemente da esterilização, confere um tempo curto para a manifestação da perecibilidade dos alimentos. Exemplo Já a esterilização é utilizada quando se deseja destruir os microrganismos mais termorresistentes para obter um produto com esterilidade comercial, ou seja, com a durabilidade superior à dos produtos pasteurizados. Uma das principais aplicações da esterilização são os leites UHT, em que o leite é es- terilizado para posteriormente ser acondicionado nas embalagens assépticas, tendo durabilidade superior ao leite pasteurizado, além de não necessitar ser conservado sob refrigeração. 11Métodos de conservação de alimentos: uso do calor Reações indesejáveis causadas nos alimentos Embora o uso de temperaturas elevadas traga inúmeros benefícios para a con- servação dos alimentos, sua utilização também pode modificar as caracte- rísticas organolépticas e nutricionais dos alimentos de forma negativa. Por exemplo, podem ser perdidos nutrientes termolábeis (como algumas vitami- nas), além de desnaturação de proteínas e reações de oxidação de lipídeos. 1. Sobre a pasteurização, é uma infor- mação INCORRETA: a) É um tratamento térmico, consi- derado brando, com o objetivo de destruir os microrganismos patogênicos não esporulados. b) Os esporos de microrganismos termófilos não são destruídos. c) Os microrganismos não esporula- dos são destruídos. d) Os alimentos pasteurizados têm vida útil limitada, com elevada dependência das condições de estocagem, principalmente da temperatura. e) Como uma parcela dos microrga- nismos deterioradores sobrevive à pasteurização, normalmente associa-se a ela um processo complementar de conservação. 2. Sobre os processos de conservação de alimentos pelo uso do calor, é CORRETO afirmar que: a) Na pasteurização pretende-se des- truir os microrganismos patogêni- cos não esporulados, enquanto na esterilização pretende-se destruir os microrganismos esporulados. b) Na pasteurização pretende-se destruir os microrganismos pato- gênicos esporulados, enquanto na esterilização pretende-se destruir os microrganismos não esporulados. c) Na pasteurização pretende- -se reduzir os microrganismos patogênicos não esporulados, enquanto na esterilização preten- de-se reduzir os microrganismos esporulados. d) Na pasteurização e na esterili- zação pretende-se destruir os microrganismos esporulados. e) Na pasteurização e na esterili- zação pretende-se reduzir os microrganismos esporulados. 3. A esterilização pode ser feita de duas formas: em alimentos já embalados ou em alimentos não embalados. Sobre esses processos, é INCORRETO afirmar: a) A esterilização sem acondicionar consiste em aquecimento instan- tâneo a temperaturas muito altas, durante pouco tempo. b) Para a esterilização de alimentos acondicionados, não é necessária a retirada de ar da embalagem. c) Na esterilização de alimentos embalados, o tratamento térmico é precedido do preenchimento da embalagem com o alimento, retirada de ar e fechamento. Exercícios 12 Tecnologia de alimentos d) A esterilização de alimentos sem acondicionar não é utilizada para alimentos sólidos. e) As embalagens usadas no proces- so de esterilização de alimentos acondicionados não precisam ser previamente esterilizadas. 4. Em relação aos processos de esterili- zação e pasteurização, é INCORRETO afirmar que: a) São processos em que se utiliza a temperatura elevada para destrui- ção/diminuição de microrganis- mos e consequente aumento na durabilidade dos alimentos. b) Ambos processos resultam em produtos estéreis. c) Produtos esterilizados têm maior vida de prateleira que produtos pasteurizados. d) A esterilização é um tratamento térmico de maior intensidade do que a pasteurização, e visa à completa destruição dos esporos dos microrganismos patogênicos e deterioradores. e) Na pasteurização ocorre um tratamento térmico mais brando do que na esterilização. 5. Sobre os efeitos provocados pela temperatura sobre os microrganis- mos e enzimas, é uma informação CORRETA: a) A destruição dos microrganismos é mais rápida em valores de pH ácido e, por essa razão, alimentos ácidos são mais fáceis de esterili- zar do que os menos ácidos. b) A susceptibilidade ao calor é diferenciada entre os microrga- nismos: os mesófilos são os mais sensíveis, seguidos dos psicotró- ficos e dos termófilos, que são os mais resistentes. c) A pasteurização é adequada em alimentos de pH menos ácido. d) A esterilização é adequada em alimentos de pH mais ácido. e) Os tratamentos esterilizantes mais drásticos são aplicados aos alimentos menos ácidos, pH maior que 4,5. EVANGELISTA, J. Tecnologia de alimentos. São Paulo: Atheneu, 2005. ORDÓÑEZ, J. A. et al. Tecnologia de alimentos: componentes dos alimentos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2005. v.1. ROSENTHAL, A. Tecnologia de alimentos e inovação: tendências e perspectivas. Brasília: Ed. Embrapa, 2008. p.165 - 174. Leituras recomendadas 13Métodos de conservação de alimentos: uso do calor Conteúdo:
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