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Pressupostos Processuais APRESENTAÇÃO A concepção dos pressupostos processuais tem origem na obra de Oskar Von Bülow, que lhes deu autonomia. A instauração regular e o desenvolvimento do processo dependem de preenchimento de alguns requisitos. Esses requisitos são conhecidos como pressupostos processuais e estão divididos em duas categorias. São elas: pressuposto de existência e pressuposto de validade do processo. Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá a definição de pressupostos processuais, vai analisar cada um deles separadamente e, por fim, vai explorar a aplicação dos pressupostos Porcessuais nas Cortes Superiores. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o que são Pressupostos Processuais.• Analisar cada um dos Pressupostos Processuais.• Explorar a aplicação dos Pressupostos Processuais pelas Cortes Superiores. • DESAFIO O processo é um feixe de relações jurídicas, por meio do qual ocorre o exercício do poder democrático estatal. Como em toda relação jurídica, impõe-se a coexistência de elementos subjetivos e objetivos. Os elementos subjetivos de existência são os sujeitos principais do processo, ou seja, as partes e o Estado-juiz. Já os elementos objetivos de uma relação jurídica são os fatos jurídicos e o objeto. Rafaela, menor impúbere, representada por sua mãe Melina, ajuizou Ação de Alimentos na Comarca de sua residência, em face de Emerson, seu pai. Você é o advoigado de Melina, acompanhe, na imagem a seguir, o que Melina relatou sobre a audiência de reconciliação. Na qualidade de advogado de Rafaela, qual a providência cabível para a defesa imediata dos interesses de sua cliente? Fundamente nos termos da legislação vigente. INFOGRÁFICO Pressupostos processuais têm a ver com a existência do processo, sem os quais a relação jurídica processual poderá não existir e se desenvolver validade. Os pressupostos processuais podem ser classificados em dois. Acompanhe, no infográfico a seguir, essa classificação e suas características. CONTEÚDO DO LIVRO Neste capítulo, você vai ver que os requisitos de existência, validade do processo, denominam- se pressupostos processuais. Verá sobre o conceito de pressupostos processuais, bem como analisará cada um dos pressupostos processuais, separadamente. Ainda, vamos explorar a sua aplicação nas Cortes Superiores. Com relação a cada um dos pressupostos apontados pela doutrina, o estudo está sistematizado da seguinte forma: são pressupostos processuais de existência; um juízo investido de jurisdição; partes; e a demanda. E os pressupostos processuais de validade: um juízo competente e imparcial, partes capazes (processual e postulatória) e uma demanda regularmente formulada. (requisitos intrínseco e extrínseco). Leia mais no capítulo Pressupostos Processuais, que faz parte do livro Teoria Geral do Processo e é base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. TEORIA GERAL DO PROCESSO Rosana Antunes Pressupostos processuais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o que são pressupostos processuais. Analisar cada um dos pressupostos processuais. Explorar a aplicação dos pressupostos processuais pelas Cortes Superiores. Introdução Neste capítulo, você vai estudar os pressupostos processuais e explorar a sua aplicação pelas Cortes Superiores. A concepção dos pressupostos processuais tem origem na obra de Oskar Von Bülow, que lhes deu autonomia. A doutrina de Bülow serviu para elevar o Direito processual a uma posição de destaque, afastando-o dos domínios do Direito material. Os pressupostos processuais são requisitos necessários para que o processo atinja seu objetivo, ou seja, uma sentença de mérito, compondo condições imprescindíveis para que o processo exista e se desenvolva de forma válida e regular, evitando, assim, o acometimento de vícios graves e constituindo um filtro capaz de reter postulações formalmente inviáveis. A teoria dos pressupostos processuais ainda é alvo de constantes críticas pela doutrina, sendo um tema controverso na sua sistematização. Entretanto, não há maiores inconvenientes em seguir uma ou outra sistematização ou classificação. O que mais importa para os operado- res do Direito é saber as consequências advindas do desrespeito aos pressupostos processuais de validade e existência do processo e se a sua ausência vai afetar todo o procedimento, alguns atos ou apenas um ato isolado. C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 1 28/06/2018 16:31:30 Pressupostos processuais A instauração regular e o desenvolvimento do processo dependem do preenchi- mento de alguns requisitos. Tais requisitos são conhecidos como pressupostos processuais, os quais estão divididos em duas categorias: pressuposto de existência e pressuposto de validade. Essa terminologia é aceita pela doutrina e pela jurisprudência. Apesar disso, há autores que fazem críticas quanto à terminologia pressupostos processuais de existência e pressupostos de validade processual, preferindo utilizar a terminologia pressupostos de existência e requisitos de validade, sistematizando o tema de forma diferente da proposta nesse capítulo. Contudo, nos esquemas didáticos, não se mostra inconivente utilizar a terminologia consagrada na doutrina, na lei e na jurisprudência, sendo assim, examinaremos dessa forma. Inicialmente, você precisa entender que o processo é um feixe de relações jurídicas, por meio do qual ocorre o exercício do poder democrático estatal. Ainda, segundo Alexandre Câmara (2017, p. 33), o processo “[...] é mecanismo de exercício do poder democrático estatal, e é através dele que são construídos os atos jurisdicionais”. Pois bem, como em toda relação jurídica, impõe-se a coexistência de elementos subjetivos e objetivos. Os elementos subjetivos de existência são os sujeitos principais do processo, ou seja, as partes (autor e réu) e o Estado-juiz. Para que um processo exista, é necessário que uma pessoa postule perante a um órgão investido de jurisdição. É importante fixar que a existência do autor postulando a um órgão investido de jurisdição completa o elemento subjetivo do processo, ou seja, o processo existe sem o réu. Contudo, para que o processo exista para o réu, ou seja, para produzir consequências jurídicas para ele, é necessário a sua citação válida. Esse é o co- mando do artigo 312 do Código de Processo Civil (CPC) de 2015 (BRASIL, 2015). Vale ressaltar que o citado artigo tem incidência nos processos de conhe- cimento, no processo de execução ou a qualquer outro cuja instauração seja de inciativa de parte. Já os elementos objetivos de uma relação jurídica são os fatos jurídicos e o objeto. O fato jurídico é ato postulatório, pois instaura a relação processual. É o que chamamos de ato inaugural. O objeto litigioso do processo é a prestação jurisdicional solicitada no ato inaugural, o que a doutrina chamada de demanda. A ausência de algum pressuposto de existência implica na própria inexis- tência jurídica do processo. Preenchidos os elementos de existência subjetivos e objetivos, o processo existe. Entretanto, pode ser que o processo exista, mas lhe falte um pressuposto Pressupostos processuais2 C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 2 28/06/2018 16:31:30 de existência jurídica. A doutrina costuma citar como exemplo a sentença proferida por alguém que não é juiz. Nesses casos, o processo existe, mas o ato (sentença) não preencheu os elementos mínimos, o que impede a sua existência jurídica (validade). Assim, havendo pressupostos de existência, haverá processo. Contudo, é preciso verificar se foram preenchidos todos os pressupostos de validade processual e a validade de todo procedimento ou, especificamente, de cada um dos atos jurídicos praticados no procedimento, uma vez que o procedimento é um ato jurídico complexo de formação sucessiva.Surge, então, a análise dos pressupostos processuais objetivos, subjetivos e de validade. A ausência de um dos pressupostos de validade está diante de um processo inválido. Entretanto, é bom frisar que sempre será preciso apurar a possibilidade de corrigir o vício. Sendo possível sanar o vício, o processo seguirá em direção à análise do mérito. Do contrário, ou seja, se o vício não puder ser sanado, o processo deverá ser extinto sem julgamento de mérito. São pressupostos de validade subjetivos o juiz competente e imparcial e as partes capazes. Sobre os pressupostos de validade objetivos, pode ser citada a demanda devidamente formulada, respeitando os requisitos intrínsecos e extrínsecos exigidos por lei. Em resumo, por ora, você precisa saber que: São pressupostos processuais de existência: o juízo investido de jurisdição, as partes e a demanda. São pressupostos processuais de validade: o juízo competente e imparcial, as partes capazes (processual e postulatória) e uma demanda regularmente formulada (requisitos intrínseco e extrínseco). Na ausência de um dos pressupostos processuais de existência, sequer haverá processo. Presente os pressupostos de existência, para que ocorra desenvolvimento válido e regular do processo, é necessário haver a presença dos pressupostos processuais de validade. No processo inexistente, o juiz, por ato meramente administrativo, determinará o cancelamento da distribuição do processo, enquanto no processo invalido o juiz irá prolatar a sentença de extinção do processo sem a resolução de mérito. 3Pressupostos processuais C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 3 28/06/2018 16:31:30 Pressupostos processuais de existência e validade Vamos agora analisar cada um dos pressupostos processuais objetivo e subjetivo de existência e validade do processo. Pressupostos processuais subjetivos de existência: capacidade de ser parte e existência de órgão investido de jurisdição A capacidade de ser parte É um pressuposto processual subjetivo. A capacidade de ser parte pode ser con- siderada como aptidão para, em tese, ser um sujeito da relação processual (autor, réu, assistente, etc.). Alguns doutrinadores denominam personalidade judiciária. Esses sujeitos são dotados da capacidade de serem partes, bem como todos aqueles que têm a personalidade civil (pessoas naturais e jurídicas). Podemos citar como exemplo: o nascituro, o condomínio, a sociedade de fatos, a so- ciedade não personificada e a sociedade irregular (art. 986 do CC), os entes formais (espólio, massa falida, herança jacente etc.), as comunidades indígenas ou tribais e os órgãos públicos, como o Ministério Público, o PROCON, os Tribunais de Contas, entre outros. Essa capacidade decorre do mandamento previsto no inciso XXX, do art. 5º da Constituição Federal. Trata-se da inafastabilidade do Poder Judiciário. Observe que não existe alguém que tenha meia capacidade de ser parte, ou seja, ou ela tem ou não tem capacidade judiciária. Para que o processo exista, não se exige a capacidade de ser parte do réu. Primeiramente, porque pode existir processo sem réu, o que ocorre nos casos de jurisdição voluntária. Em segundo lugar, o processo existe com a demanda, e não com a presença do réu. Diante da inexistência do réu, o juiz deve extinguir o processo, sem análise do mérito, pois o processo já existe. O autor demanda sem indicar o réu. Nos casos em que a sua presença é exigida, o juiz intimará o autor para que este regularize a petição inicial. Se o autor não o fizer, o processo será extinto sem julgamento de mérito. Pressupostos processuais4 C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 4 28/06/2018 16:31:30 Existência de órgão investido de jurisdição A investidura na função jurisdicional é um dos pressupostos subjetivos de existência do processo. Assim, são inexistentes os atos jurídicos se a demanda for ajuizada perante um órgão que não esteja investido na jurisdição. Exemplos: sentenças prolatadas por quem não é juiz de Direito, colheita de provas feita por aquele que não foi investido na jurisdição, devido ao fato de ainda não ter tomado posse do cargo de juiz de Direito, apesar de passar no concurso público, entre outras. Para melhor entendimento desse pressuposto, é necessário conhecer o conceito de jurisdição. Segundo Fredie Didier Júnior (2018, p. 187), jurisdição “[...] é a função atribuída a terceiro imparcial de realizar o Direito de modo imperativo e criativo, reconhecendo, efetivando e protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas, em decisão insuscetível de controle externo, e com a aptidão para tornar-se indiscutível”. A jurisdição é a manifestação de um poder e só é controlada pela própria jurisdição. Pressuposto processual objetivo de existência: demanda O pressuposto processual objetivo de existência é a demanda compreendida no ato de pedir ao Estado-juiz uma providência jurisdicional. Dessa forma, o ato de pedir é necessário para a inauguração do processo. O processo se instaura quando o autor se dirige ao Poder Judiciário, o qual delimita a prestação jurisdicional, apresentando o seu pedido e a causa de pedir (art. 312 do CPC). Contudo, se a petição inicial não trouxer o pedido, o magistrado extinguirá o processo sem julgamento do mérito. Pressupostos processuais de validade subjetivos: capacidade processual, capacidade postulatória e juízo competente e imparcial A capacidade processual está relacionada às partes. Segundo a doutrina, é uma tríplice capacidade, sendo elas: capacidade de ser parte, capacidade de estar em juízo e capacidade postulatória. A capacidade processual é a aptidão para praticar atos processuais pesso- almente em juízo, ou seja, independente de assistência ou representação, ou por meio das pessoas indicadas pela lei (art. 75 do CPC). 5Pressupostos processuais C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 5 28/06/2018 16:31:30 Na forma do artigo 70 do CPC de 2015, todas as pessoas que se encontram em exercício de seus direitos têm capacidade de estar em juízo. O artigo 71 do CPC de 2015 afirma que o incapaz será representado ou assistido por seus pais, tutores ou curadores na forma da lei. Assim, os relativamente capazes deverão ser assistidos, enquanto os absolutamente incapazes serão representados. Com isso, a capacidade processual diz respeito à prática e à recepção, de forma eficaz, dos atos processuais, iniciando ao pedir ou ao ser citado validamente. Pressupõe-se a capacidade de ser parte, entretanto, é possível ter capacidade de ser parte e não ter capacidade processual. Porém, a recíproca não é verdadeira. No caso de ausência de capacidade processual, o artigo 76 do CPC de 2015 informa que ela é sanável. Assim, verificando a incapacidade processual, o órgão jurisdicional deve conceder um prazo razoável para que seja sanado esse vício de validade. Somente a capacidade processual do autor pode ser vista como pressuposto processual de validade capaz de extinguir o processo sem análise do mérito. Por fim, você precisa se atentar para o fato de que apenas a capacidade para estar em juízo do demandante é pressuposto subjetivo de validade. Se o demandado regulamente citado não comparecer em juízo de forma regular, o processo, em regra, seguirá, muito embora seja considerado revel. Se o deman- dado for incapaz, ele deverá ser representado ou assistido, conforme o caso. A capacidade postulatória (ius postulandi) também é um pressuposto pro- cessual relacionado às partes. Em primeiro lugar, você aprendeu que os atos processuais exigem um especial tipo de capacidade, denominado capacidade processual, entretanto, é necessária, ainda, a capacidade postulatória, assim entendida como a aptidão para dirigir petições ao órgão jurisdicional, para que possam ser praticados, validamente, os atos processuais. Alguns atos processuais, além da capacidade processual, exigem a ca- pacidade técnica, sem a qual não será possível a realização de atos válidos. Segundo FredieDidier Júnior (2018, p. 398), isso significa que a capacidade para praticar atos jurídicos válidos é “[...] bipartida em: capacidade processual e capacidade técnica.”. A essa capacidade técnica se dá o nome de capacidade postulatória. Ela abrange a capacidade de pedir e a capacidade de responder. Os advogados regularmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) têm ca- pacidade postulatória, bem como os defensores públicos, os membros do Ministério Público, entre outros. Em alguns casos, as próprias pessoas poder direcionar seu pedido diretamente aos órgãos jurisdicionais. Podemos citar como exemplo os Juizados Especiais Cíveis (nas causas inferiores a 20 salários mínimos) na impetração do habeas corpus. Pressupostos processuais6 C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 6 28/06/2018 16:31:30 Assim, a capacidade postulatória somente é exigida na prática de de- terminados atos processuais, portanto, há atos processuais que não exigem capacidade postulatória. Como exemplo, podemos citar o ato de testemunhar. As pessoas que não são advogadas precisam integrar a sua capacidade processual com a capacidade postulatória, nomeando o seu representante judicial, sendo este um advogado ou um defensor público, por exemplo. A ausência de capacidade postulatória é caso de nulidade do ato processual que pode ser sanada. Contudo, se isso não ocorrer, haverá implicação na extinção do processo para o autor. No caso do réu, há o prosseguimento do processo à sua revelia (art. 76 do CPC). O advogado postula, por meio de outorga de instrumento de representação, a procuração. Dessa forma, a procuração é o instrumento de representação judicial. É possível o advogado postular sem a procuração para evitar a preclu- são, a prescrição, as decadências ou as práticas de atos considerados urgentes (art. 104 do CPC), entretanto, ele deverá, posteriormente, apresentá-la no prazo de 15 dias, sendo prorrogável por igual período. Caso a procuração não seja juntada ao processo nesse prazo, os atos não são ratificados, além de serem considerados relativamente ineficazes. Os requisitos da procuração estão enumerados no artigo 105 do CPC de 2015. Competência e imparcialidade do órgão jurisdicional ligadas ao juízo: pressupostos de validade subjetiva do procedimento A competência é o limite de exercício de um poder, ou seja, é o poder de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos por lei. Há uma divisão de trabalhos, no território nacional, que é estabelecida a partir de critérios fixados em lei, na qual os juízos ou os órgãos jurisdicio- nados estão autorizados a exercer o poder. Essa competência é denominada competência interna. A distribuição de competência se dá por meio de normas. Há fontes nor- mativas de diversas naturezas que estão aptas a atribuir competência aos órgãos jurisdicionais. O artigo 44 do CPC traz o agrupamento de fontes que fixam competência. Uma informação importante é o regime jurídico de fixação de competência. Assim, quando a regra de competência é fixada para atender, principalmente, ao interesse público, ela é chamada de competência absoluta. Já a competência fixada para atender ao interesse particular é denominada regra de competência relativa. A competência absoluta e a relativa são defeitos processuais, que, em regra, não levam à extinção do processo (art. 64 do CPC). 7Pressupostos processuais C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 7 28/06/2018 16:31:30 A competência é, segundo Alexandre Câmara (2017), a área de atuação de cada órgão jurisdicional. Sempre que um processo se instaurar perante um juízo, será preciso verificar, então, se esse juízo está legitimado a atuar naquela causa. Se a resposta for positiva, o juízo é considerado competente para a causa, ou então incompetente se a resposta for negativa. As regras de competência internas estão fixadas no CPC dos arts. 42 a 66. Outro pressuposto processual de validade subjetiva é a imparcialidade do juízo. Imparcial é o juiz que não tem interesse no objeto do processo nem queira favorecer uma das partes. Assim, a imparcialidade do juízo consiste na ausência de vínculos subjetivos com o processo, mantendo-se, o julgador, distante o quanto for necessário para que possa conduzir com isenção. Assim, podemos considerar a parcialidade do juízo como um vício proces- sual, mas que, apesar disso, não gera a extinção do processo. Há dois graus de parcialidade: o impedimento e a suspeição. Verificado o impedimento e a suspeição do magistrado, os autos devem ser remitidos ao seu substituto legal. Por fim, convém lembrar que a imparcialidade e a competência são pres- supostos processuais relativos as órgão julgador e que derivam da garantia fundamental do Direito ao juiz natural, que é o juiz devido, de acordo com as regras gerais e abstratas previamente estabelecidas. Pressupostos processuais de validade objetivo: intrínseco e extrínseco O pressuposto de validade objetivo intrínseco está relacionado ao formalismo processual, ou seja, todas as formalidades processuais (formas e formalidades) que delimitam os poderes, as faculdades e os deveres dos sujeitos processuais. O formalismo processual é verificado no conjunto de regras que disciplinam a atividade processual. Podemos citar algumas funções que o formalismo exerce no processo, como, por exemplo, o fato de o formalismo indicar o início e o fim do processo, disciplinar o poder do Juiz, controlar os eventuais excessos das partes, equilibrar todos os poderes das partes, entre outros. Segundo Didier Júnior (2018, p. 396), o formalismo “[...] é como funciona o processo, e quais são as regras do jogo”. Por isso, o desrespeito ao formalismo processual leva à invalidade do ato jurídico processual. Presente a invalidade por não observância do formalismo, deverá, em primeiro lugar, buscar-se o aproveitamento dos atos processuais ou a sanação do vício. Somente quando for impossível a correção do vício ou o aproveitamento é que o ato não deve ser aceito e, dessa forma, se for o caso, a extinção do processo. O sistema de Pressupostos processuais8 C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 8 28/06/2018 16:31:30 nulidade está previsto nos arts. 276 a 283 do CPC. Esses dispositivos legais têm, principalmente, o objetivo de evitar a decretação de nulidade. Pressupostos processuais objetivos extrínsecos Vamos cuidar agora dos pressupostos processuais objetivos extrínsecos, os quais podem ser positivos ou negativos. Consideram-se como pressuposto processual objetivo negativo aqueles fatos que não podem ocorrer para que o procedimento se instaure validamente. Ou seja, fatos estranhos ao processo que, uma vez existente, impedem a sua formação válida. São fenômenos externos a relação processual, que têm o condão de impedir o seu normal prosseguimento, a litispendência, a coisa julgada, a perempção e a convecção de arbitragem. Estes constituem situações que ocorrem fora do processo, cuja verificação depende da validade e da eficácia da sua constituição, do seu desenvolvimento e da sua extinção. Uma vez verificados tais fenômenos, a relação processual estará comprometida. Assim, a existência de um desses fatos leva à extinção do processo, conforme determina os incisos V e VII no rol do art. 485. Já o pressuposto processual objetivo extrínseco positivo é aquele que devem existir para que a instauração do processo seja válida. Segundo o artigo 17 do CPC, “[...] para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”. (BRASIL, 2015). O interesse de agir e a legitimidade são exigidos para qualquer postulação em juízo, ou seja, para propositura da demanda, para a apresentação da defesa, para recorrer, entre outros atos processuais. A legitimidade para agir nada mais é do que a legitimidade ad causa ou a pertinência subjetiva da ação: capacidade para conduzir um processo em que se discute uma determinada relação jurídica, tanto ao que se refere a polo ativo, como a polo passivo. A principal classificaçãode legitimidade ad causa apresentada pela doutrina é: legitimidade ordinária e legitimidade extraordinária. Na ordinária, o legitimado está em juízo em nome próprio, defendendo o próprio interesse, enquanto na extraordinária o legitimado está em juízo em nome próprio, mas defendendo o interesse alheio. Segundo o artigo 18 do CPC (BRASIL, 2015): Legitimidade ordinária: o legitimado está em juízo em nome próprio e defendendo o próprio interesse. Legitimidade extraordinária: o legitimado está em juízo em nome próprio, mas defendendo o interesse alheio. Sinônimo de substituição processual. 9Pressupostos processuais C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 9 28/06/2018 16:31:30 O interesse de agir é um interesse instrumental e de natureza processual. Deve ser aferido diante do objeto litigioso, em concreto, e tem por objeto o provimento que se pede ao juiz como meio de obter a satisfação de um interesse primário lesado. Observe que há falta de interesse processual quando não for mais possível a obtenção do resultado almejado (perda do objeto da causa). Exemplo: o cumprimento da obrigação se deu antes da citação do réu. Agora que você já aprendeu o que são os pressupostos processuais de existência e validade, e a sua importância para a regular a tramitação das demandas, vamos, na próxima seção, explorar a aplicação dos pressupostos processuais pelas Cortes Superiores. A jurisdição é uma função estatal exercida em todo território nacional. Por questão de conveniência, há setores específicos da função jurisdicional. Já a competência se refere aos limites dentro dos quais cada juízo pode, legitimamente, exercer a função jurisdicional. As Cortes Superiores e os pressupostos processuais Você aprendeu que os pressupostos processuais se ligam à validade existência do processo. Preenchidos os pressupostos da existência e a validade do processo, aponta-se para a validade jurídica da demanda. São indispensáveis, portanto, para que se tenha processo válido. Nas Cortes Superiores, os atos processuais que têm por finalidade inva- lidar, reformar ou integrar determinada decisão judicial, dentro da mesma relação processual, têm natureza jurídica de extensão do direito de ação, pois se pretende que um órgão diferente e hierarquicamente superior reanalise o pedido feito. Assim, para cada tipo de decisão judicial, há um recurso expressamente previsto e correspondente na legislação processual. Contudo, todos os elemen- tos de existência e validade e as condições de eficácia do procedimento, que é um ato complexo de forma sucessiva, precisam ser observados pelos Tribunais. Pressupostos processuais10 C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 10 28/06/2018 16:31:30 Portanto, há pressupostos do procedimento recursal que devem ser ob- servados. Esses pressupostos são divididos pela doutrina em: pressupostos recursais intrínsecos e extrínsecos. Pressupostos recursais intrínsecos são os pressupostos inerentes ao direito de recorrer, sendo considerados pressupostos de existência desse direito, pois, na ausência do preenchimento de um deles, considera-se inexiste o direito de recurso. Exemplos: a) Cabimento: decorrente do princípio da taxatividade. Afirma-se que o recurso deve ser cabível, isto é, só será aceito o recurso que tenha previsão na lei. b) O interesse recursal: é um binômio, pois o recorrente deve ter a ne- cessidade de recorrer e atuar de forma adequada. c) Necessidade: é preciso a existência de uma decisão que cause prejuízo à parte, sendo necessária a utilização do recurso para buscar a melhora de sua situação. d) Adequação: tem base no princípio da correspondência, uma vez que o tipo de recurso interposto deve ser hábil para proporcionar a melhor posição processual almejada. e) Legitimidade recursal: é a legitimidade ad causam, na qual só se terá legitimidade para recorrer à parte sucumbente. Já os pressupostos recursais extrínsecos são os relativos ao exercício do direito de recorrer, isto é, existindo o direito de recorrer pelo preenchimento dos pressupostos intrínsecos, deve-se observar os requisitos para a validade do recurso interposto. Exemplos: a) Tempestividade: o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei. b) Preparo: devem ser recolhidas taxas judiciais de alguns recursos para a sua interposição. c) Regularidade formal: consiste na necessidade de o recorrente atender a todos os requisitos especificados na lei para determinado tipo de recurso. Preenchidos os pressupostos recursais intrínsecos e extrínsecos, o recurso será conhecido, ou seja, admitido e no mérito será provido ou não (juízo de mérito). Chegando o processo em seus termos finais. 11Pressupostos processuais C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 11 28/06/2018 16:31:31 A seguir, você pode ver um exemplo de legitimidade ad causam. Quando alguém pretende obter uma indenização de outrem, é necessário que o autor seja aquele que está em posição jurídica de vantagem e o réu seja o titular, ao menos em tese, do dever de indenizar. BRASIL. Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105. htm>. Acesso em: 14 jun. 2018. CÂMARA, A. F. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2017. DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 20. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. v. 1. Leituras recomendadas ALVIM, J. E. C. Teoria geral de processo. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. CINTRA, A. C. de A.; GRINOVER, A. P.; DINAMARCO, C. R. Teoria geral do processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. TUCCI, J. R. C. e. A causa petendi no processo civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção estudos de direito de processo Enrico Tullio Liebman, 27). Pressupostos processuais12 C12_Teoria_Geral_do_Processo.indd 12 28/06/2018 16:31:31 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: DICA DO PROFESSOR Pressupostos processuais de existência e pressupostos de validade processual também podem ser chamados, respectivamente, de pressupostos de existência e requisitos de validade. A ausência de algum pressuposto de existência implica a própria inexistência jurídica do processo, já a ausência de um dos pressupostos de validade está diante de um processo inválido. Na dica do professor a seguir, serão abordados alguns pontos que ainda causam muitas dúvidas no que se refere às consequências processuais, quando verificada a ausência de alguns dos pressupostos processuais. Fredie Didier chamou de “mitos” sobre os pressupostos processuais, vamos ver alguns desses mitos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) São considerados pressupostos de existência do processo: A) capacidade de ser parte; órgão investido de jurisdição, existência de uma demanda. B) capacidade processual, órgão, demanda. C) capacidade postulatória, competência e imparcialidade. D) litispendência, competência e imparcialidade. E) capacidade ad causam, existência de uma demanda, convenção de arbitragem. 2) Quanto aos pressupostos processuais, o que é correto afirmar? Os pressupostos processuais são os requisitos a serem preenchidos para que o processo A) possa ter um desenvolvimento válido e regular. B) Não preenchidos os pressupostos processuais, estará prejudicada a análise da demanda, pois é um vício insanável. C) Se o não preenchimento dos pressupostos processuais não for alegado pela parte, a matéria torna-se preclusa, não podendo ser reexaminada judicialmente. D) Se os pressupostos processuais não forem preenchidos, a ação deverá ser extinta com resolução do mérito. E) Os pressupostos processuais podem ser de validade e de invalidade, segundo aclassificação da doutrina. 3) São considerados pressupostos de validade do processo: A) juízo competente e imparcial. B) juízo competente e parcial. C) capacidade de ser parte. D) órgão investido de jurisdição. E) existência de uma demanda. 4) A capacidade é um dos pressupostos processuais. Caso o juiz verifique que uma das partes é incapaz ou há irregularidade de representação, qual é a providência correta a ser tomada pelo magistrado? A) Julgar o processo sem resolução de mérito. B) Julgar o processo com resolução de mérito. C) Nomear um representante para o incapaz. D) Julgar em desfavor do incapaz. E) Suspender o processo e designar prazo razoável para que seja sanado o vício. 5) A capacidade postulatória é um pressuposto processual de validade. Dentre as opções abaixo, marque a resposta correta. Tem capacidade postulatória: A) qualquer das partes. B) os advogados. C) somente o réu. D) o juiz competente. E) todos aqueles que têm interesse processual. NA PRÁTICA Há pressupostos do procedimento principal, como do procedimento recursal. No julgado a seguir, você verá como o Tribunal examina a matéria, quando da análise do pressuposto admissibilidade do recurso. Assim, o acordão analisado vai ajudar na compreenção do papel desempenhado pelos presupostos processuais no desenvolvimento regular do processo e a sua importância na prática jurídica. Na imagem a seguir, você vai analisar uma decisão do Tribunal de Justiça que, verificando os pressupostos processuais de recorribilidade, não conhece do recurso, por ausência de um dos pressupostos exigidos, nomeadamente, o interesse de agir. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Pressupostos processuais no novo CPC Neste link, você terá acesso a um vídeo que aborda, de forma mais aprofundada, o tema de pressupostos processuais pela OAB de Londrina. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O Novo Código de Processo Civil e os pressupostos processuais e as condições da ação – impactos no processo do trabalho Neste link, você terá acesso a um artigo que abordará sobre o novo CPC, os pressupostos processuais, as condições da ação e quais são os impactos no processo do trabalho. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Oskar Von Bülow e a Difusão das Ideias de Relação Jurídica e Pressupostos Processuais Neste link, você terá acesso a um artigo que aborda, com maior profundidade, a difusão das ideias de relações jurídicas e pressupostos processuais de Oskar Von Bülow. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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