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Processo Civil I Maria Catarina Farias PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 1. Introdução Freddie Didier Jr. entende o processo como um fato complexo, pois, simultaneamente, tem um conjunto de atos e fatos processuais (citações, sentenças etc.), que se encadeiam para a produção de um ato final, e um conjunto das situações jurídicas (direitos, deveres etc.) que esses atos de fatos processuais produzem. Ao entendermos o processo como o conjunto de relações jurídicas distintas daquela que constitui o seu objeto, precisamos da presença de determinados elementos para condicionar a existência destas. Os pressupostos processuais serão o que precisa ser feito para chegar ao mérito da decisão 2. Conceito Os pressupostos processuais, são requisitos mínimos que conformam um processo em um Estado democrático, buscando a paridade de armas entre as partes, o afastamento da arbitrariedade etc. Serão o conjunto de elementos que versam acerca da existência, da validade e da eficácia do processo como um todo – podendo ser do procedimento principal, incidental ou recursal. Os pressupostos de eficácia, apesar de ser pouco trabalhado, são aqueles que versam sobre os efeitos do processo, como é exemplo a citação (o processo só é eficaz para o réu/terceiro quando se a verifica). São de interesse público e relativos à regularidade, validade, do processo, por isso cabe ao Estado juiz, de ofício, analisá-los. Essas questões podem ser questionadas a qualquer momento/grau do processo, não dependendo do interesse da parte. Obs. Pressupostos processuais, em sentido amplo, serão os critérios para o processo como procedimento – o conjunto de atos e fatos processuais. Logo, não pode ser confundido com os pressupostos de cada um dos atos do processo, que serão específicos para cada um dos atos processuais (ex. pressupostos da petição inicial, da contestação etc.). 3. Mitos processuais ¹A falta de um pressuposto processual é causa para extinção do processo: Nem sempre a inexistência de um dos pressupostos processuais será sinônimo de extinção do processo – inclusive, é importante entender que não se pode conceituar o pressuposto processual pelo efeito que a sua falta causa; podemos ter como exemplo a competência, apesar de ser classificada como pressuposto processual, a sua falta no processo não tem como consequência a extinção, como regra, será remetido ao juízo competente. ²Toda falta de pressuposto processual pode ser conhecida de ofício pelo juiz: Novamente, não se pode generalizar, visto que o legislador traz inúmeras situações em que a falta de pressuposto processual só poderá ser alegada pela parte, ex. incompetência relativa, existência de convenção de arbitragem (art.337, §5) etc. ³A falta de um pressuposto processual pode ser conhecida a qualquer tempo: Também não está certo, tendo em vista, os casos em que não havendo a alegação de falta de pressuposto processual em determinado tempo, considera-se causa de preclusão; ex. incompetência relativa, convenção de arbitragem, citação (se o réu vem a juízo e não alega falta de citação); Obs. Em doutrina, e em julgado do STF, temos que mesmo os casos em que a lei configura com a possibilidade de alegação a qualquer tempo, podem ser questionados, ex. caso em que um processo com defeito continua a seguir, criando elevada confiança processual entre as partes (muitos atos praticados), há a possibilidade de perder o poder de invalidar o processo – seja pela proteção da boa-fé com o desenvolvimento de um possível supressio. A falta de um pressuposto processual é um defeito tão grave que não pode ser corrigido: A regra é exatamente o oposto, toda falta de PP pode e deve ser corrigida, ressalvadas aquelas que não haja possibilidade fática – segue o sistema das invalidades do processo, a regra é da sanabilidade dos defeitos. A falta de um pressuposto processual impede o exame do mérito: O CPC, deixa claro que existe a possibilidade de exame do mérito mesmo a falta de um pressuposto processual, como é exemplo o art.282, §2 e 488 – quando o juiz puder julgar o Processo Civil I Maria Catarina Farias mérito em favor de quem se favorece a falta do pressuposto processual. ⁶O exame dos pressupostos processuais não passa pelo mérito: É muito difícil imaginar que a análise dos pressupostos seja separada do mérito do processo, como se verificaria uma possível imparcialidade de um juiz se não se sabe a que pedido estamos discutindo? como se sabe acerca da compacidade processual de um eleitor de 16 anos quando não se analisa que é uma ação popular em questão? 4. Classificação O processo é um feixe de relações jurídicas, do ponto de vista da eficácia, e um procedimento, do ponto de vista existência, e como em toda relação jurídica, impõe-se a coexistência de elementos subjetivos (sujeitos) e objetivos (fato jurídico e objeto). [...] Mas somente comprometerão o procedimento, e por isso podem ser considerados requisitos processuais, só fatos que digam respeito à demanda originária: relacionados ao autor, ao juízo ou ao objeto litigioso. - Fredie Didier Jr. Nesse sentido, poderemos classificar os pressupostos processuais como: Pressupostos processuais de existência Subjetivos Capacidade de ser parte, também chamada de personalidade processual ou judiciária, é a capacidade, ativa ou passiva, de ser sujeito da relação jurídica processual – é a aptidão para exercer direitos e deveres processuais. Pontes de Miranda a entende como um conceito anterior a capacidade processual, dessa forma, se configura como um pressuposto processual, já que se relaciona com a pretensão à tutela jurídica. É importante lembrar que, aqueles que possuem capacidade de ser parte nem sempre serão possuidores de personalidade civil ou jurídica (ex. nascituro, condomínio, entes despersonalizados etc.); e que não é exigido que eles sejam os sujeitos do direito (parte material) que está sendo discutido na lide. Soma-se ainda que sua análise é a priori, não dependendo de legitimatio ad causam. Obs. A capacidade do réu não é exigida como pressuposto processual, visto que, o processo nasce com a demanda, não com a presença do réu em juízo. Além disso, há hipóteses de processo sem réu na petição inicial, o que levará ao magistrado intimar o autor para a sua regularização, não havendo esta, pode ter a extinção do processo sem análise do mérito – observa-se que o processo já se estabeleceu existente, o que fica prejudicada é a eficácia do processo em face do réu. Órgão investido de jurisdição, será pressuposto de existência do processo e dos atos jurídicos processuais efetuados pelo juiz (decisões, despachos), assim como de sua eficácia jurídica. São exemplos de “não juiz”: aquele que não foi investido de jurisdição pela posse no cargo, em virtude de nomeação ou concurso; aquele que, embora tenha prestado concurso ou tenha sido nomeado, ainda não tomou posse etc. Objetivos Existência da demanda, será compreendida como o ato de pedir (≠ do conteúdo, aquilo que se pede). É requisito necessário para a instauração do processo, sendo seu fato jurídico, quando o autor se dirige ao Poder Judiciário para requerer a prestação jurisdicional protocolando a petição inicial, originando o processo, no qual terá o pedido e a causa de pedir como objeto sobre o qual versará – se o ato inicial não tiver pedido, é causa de extinção do processo por inadmissibilidade do procedimento. Pressupostos processuais de validade Subjetivos Em relação as Partes Capacidade processual, ou capacidade processual stricto sensu ou legitima persona standi in iudicio, definida no art. 70 do CPC, é a aptidão para a prática de atos processuais independentemente de assistência ou representação, pessoalmente ou por pessoasindicadas por lei (ex. curador especial). A capacidade processual pressupõe a capacidade de ser parte, versando sobre a prática e a recepção eficaz dos atos processuais. Processo Civil I Maria Catarina Farias CPC, Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício. § 1º Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária: I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor; II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber; III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo, dependendo do polo em que se encontre. § 2º Descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal de justiça, tribunal regional federal ou tribunal superior, o relator: I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente; II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido. Obs. A capacidade processual das pessoas casadas vai possuir regramento próprio: CPC, Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges. § 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. § 3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos. Somente o cônjuge preterido vai ter a legitimidade para pleitear a invalidação do ato praticado sem o seu consentimento. Desse modo, o juiz não poderá invalidar ex officio, mas tem o dever de provocar o cônjuge supostamente preterido para ratificar ou negar o seu consentimento, havendo o silêncio, será interpretado como consentimento tácito. O magistrado poderá suprir o consentimento de um dos cônjuges, se houver recusa sem justo motivo ou quando for impossível ao cônjuge concedê-la (art.74, CPC e 1.648, CC). Capacidade postulatória, ou ius postulandi, é a capacidade técnica para demandar em juízo, sendo atribuída aos advogados regularmente inscritos na OAB, aos defensores públicos, aos membros do Ministério Público e, em alguns casos, às próprias partes quando autorizadas pelo ordenamento jurídico (ex. Juizados Especiais, nas causas trabalhistas e na impetração de habeas corpus). A incapacidade postulatória será causa de nulidade do ato, podendo gerar a extinção do processo quando não sanada. Obs. Há atos processuais que não exigem a capacidade técnica, (por exemplo, o ato de testemunhar e o ato de indicar bens à penhora); a capacidade postulatória somente é exigida para a prática de alguns atos processuais, os postulatórios (pelos quais se solicita do Estado-juiz alguma providência). Obs.² Diferente da incapacidade postulatória, as situações em que um advogado postula sem procuração serão imbuídas de uma ineficácia relativa, submetendo-se a uma condição legal suspensiva: a ratificação da representação judicial voluntária – desde que entregue dentro do prazo estabelecido, o vício é sanado (art.104, CPC e art.662, CC). Em relação ao Juízo Competência, será a medida da jurisdição definida pela lei para cada grupo de órgãos jurisdicionais, aqui, o juiz que julgar a demanda tem que ser relativo ou absolutamente competente. Imparcialidade, é o dever que todo juiz deve seguir dentro do processo, não podendo julgar se possui interesse no resultado do litígio. Há dois graus de parcialidade: o impedimento e a suspeição. A parcialidade é vício que não gera a extinção do processo: verificado o impedimento ou a suspeição do magistrado, os autos do processo devem ser remetidos ao seu substituto legal, e os atos decisórios praticados devem ser invalidados Processo Civil I Maria Catarina Farias Objetivos Intrínseco Respeito ao formalismo processual, é a totalidade formal do processo, "compreendendo não só a forma, ou as formalidades, mas especialmente a delimitação dos poderes, faculdades e deveres dos sujeitos processuais, coordenação da sua atividade, ordenação do procedimento e organização do processo, com vistas a que sejam atingidas as suas finalidades primordiais" – ex. petição inicial apta; comunicação dos atos processuais. A nulidade fruto do desrespeito ao formalismo jurídico somente será decretada quando impossível a correção ou o aproveitamento do ato. Extrínseco Positivos: CPC, Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade. Obs. Interesse e legitimidade são exigidos para qualquer postulação em juízo, não apenas para a propositura da demanda ou apresentação da respectiva defesa; sendo causa de extinção do processo sem julgamento do mérito (art.267, VI, CPC). Legitimação para agir, ou legitimidade ad causam, é o requisito de admissibilidade que verifica se os sujeitos da demanda estão em determinada situação jurídica que lhes autorize a condução do processo para discutir o direito material posto em juízo - “Aquele que está postulando é titular do direito pleiteado? Ou é permitido por lei estar em posição de demandar? O réu tem relação com a pretensão resistida discutida?” Nesse sentido, a parte legítima é aquela que possui relação com o que será discutido em juízo, podendo apenas propor a ação em face daquele réu relacionado (bilateralidade). A legitimidade do autor vai ser dentro da ordinária, quando a parte processual é o próprio titular do direito; ou na extraordinária, determinada em lei, a parte no processo defende direito alheio, substituição processual – ex. o condômino na defesa da posse (art.623, II, CC). Nos casos de ilegitimidade processual da parte ré, o CPC permite que esta venha a juízo e peça a sua retirada do processo (podendo o juiz extinguir o processo), assim como indicar aquele que deveria estar sendo posto no polo passivo, realizando uma sucessão processual. Interesse processual, será analisado em dois momentos: ¹interesse necessidade, é a vontade do autor de resolver a demanda, descrevendo o litígio; ²interesse adequação, vinculação da demanda em um meio processual adequado; e o ³interesse utilidade, o resultado que o demandante pretende obter. Negativos: Inexistência de litispendência, perempção, coisa julgada e convenção de arbitragem. CPC, Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; Substituição processual → existe quando não há a coincidência entre a parte processual e material, desse modo, o novo sujeito vai pleitear em nome próprio o direito alheio. Quem está dentro do processo é o substituto e o detentor do direito fora do processo é o substituído – também pode ser entendido como um sinônimo ou uma derivação da legitimação extraordinária. CPC, Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial. Obs. Não se pode ainda confundir esse instituto com a representação processual, essa será quando um sujeito está em juízo em nome alheio defendendointeresse alheio. O representante processual não é parte; parte é o representado. O representante processual atua em juízo para suprir a incapacidade processual da parte. Processo Civil I Maria Catarina Farias Note que o substituto processual é parte; o substituído não é parte processual, embora os seus interesses jurídicos estejam sendo discutidos em juízo. O substituto processual age em nome próprio defendendo interesse alheio. Sucessão processual → se configura quando um sujeito sucede outro no processo, assumindo a sua posição processual – existe uma mudança subjetiva na relação jurídica processual, podendo ser tanto no polo ativo, como passivo. É exemplo: CPC, Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores. LITISCONSÓRCIO 1. Conceito Litisconsórcio é a pluralidade de sujeitos em um dos polos de uma relação processual, ou seja, um conjunto de pessoas vai se unir para defender um direito. Ex. Em uma ação contra um produto com defeito, há solidariedade entre o vendedor e o fabricante, ambos entram como réus no processo. É importante lembrar que o litisconsórcio não se restringe ao procedimento principal, podendo existir em incidentes processuais (ex. quando mais de um sujeito requer a instauração de um conflito de competência), assim como no recurso (ex. quando o autor e o réu se consorciam para opor embargos de declaração contra uma sentença). CPC, Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. (impróprio) 2. Classificação • Ativo, quando é formado no autor; • Passivo, quando é formado no réu; • Misto, quando é formado por ambos os polos, autor e réu. • Inicial, quando a sua formação foi anterior a instauração do procedimento ou do incidente – podendo ser porque mais de uma pessoa postulou, ou porque é demandado em face de mais de uma pessoa; • Ulterior, é aquele que surge após o procedimento ter sido formado. É visto como excepcional, podendo surgir a) em razão de uma intervenção de terceiro (chamamento ao processo e denunciação da lide, por exemplo); b) pela sucessão processual (o ingresso dos herdeiros no lugar da parte falecida, art. 110 do CPC); c) pela conexão ou continência (arts. 55 e 58 do CPC), se impuserem a reunião das causas para processamento simultâneo. • Unitário, em acordo com o art. 116/CPC, se configura quando existe uma única relação jurídica sendo discutida, nesse sentido, a situação jurídica dos litisconsortes será regulada de modo uniforme pela provimento jurisdicional de mérito, ou seja, o julgamento terá que ser o mesmo para todos por envolver uma relação jurídica indivisível. Ex. Quando dois condôminos demandam para proteger a coisa comum. • Simples, ou comum, é aquele em que a decisão judicial acerca do mérito pode ser diferente para os litisconsortes, existe autonomia entre estes. Ele ocorre quando os litisconsortes discutem uma pluralidade de relações jurídicas ou quando discutem uma relação jurídica cindível (como normalmente ocorre nos casos de solidariedade, conforme já visto). CPC, Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes. Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes Processo Civil I Maria Catarina Farias distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar. • Necessário, aqui, para a validade do processo, há exigência, legal (ex. litisconsórcio entre cônjuges) ou da situação jurídica (ex. litisconsórcio unitário passivo), acerca da formação do litisconsórcio. CPC, Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. • Facultativo, é o litisconsórcio que pode ou não se formar, sua formação fica a critério dos litigantes. Pode se estabelecer em algumas modalidades especiais, como o litisconsórcio sucessivo, eventual e alternativo. a) Se houver litisconsórcio necessário unitário passivo, a falta de citação de qualquer dos réus torna a sentença de mérito, que é ineficaz em relação a qualquer um deles, passível de invalidação a qualquer tempo, por provocação, também, de qualquer deles (art.115, I. CPC). Do mesmo modo, a falta de integração do litisconsórcio necessário ativo torna a sentença ineficaz em relação a ele. b) Se o caso é de litisconsórcio necessário simples, a sentença é válida e eficaz em relação àqueles que participaram do feito, e ineficaz em relação àquele que não foi citado (art. 115, 11, CPC), isso "porque a sentença, no caso, tem um conteúdo específico em relação a ele e somente em relação a ele”. Obs. A existência de um litisconsórcio ativo necessário é debatida na doutrina, visto que, o direito de ir a juízo não pode depender da vontade de outrem. Se houvesse litisconsórcio necessário ativo, seria possível imaginar a situação de um dos possíveis litisconsortes negar-se a demandar, impedindo o exercício do direito de ação do outro. Obs.² O negócio jurídico processual também pode se tornar uma fonte de litisconsórcio necessário. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS 1. Introdução Os sujeitos do processo são todos aqueles que participam das várias situações jurídicas surgidas conforme há a prática dos atos processuais. Temos então as partes da relação jurídica processual. O conceito de parte pode ser definido como aquele que participa do processo com parcialidade, tendo interesse em determinado resultado do julgamento, nesse sentido, serão aqueles que possuem situações jurídicas dentro do processo. São formas para o estabelecimento das partes: 1. Quando o sujeito propõe a ação (autor); 2. Quando tem uma ação movida contra si (réu); 3. Terceiro que entrou no processo já existente entre outras pessoas (ex. chamamento ao processo); 4. Modificação dentro do processo em que há troca das partes (ex. sucessão processual). Terceiros interessados, são aqueles que estão fora do processo, não possuem relação ao contraditório, mas, possuem interesse no destino da demanda. 2. Conceito A intervenção de terceiros vai ser o ato jurídico processual pelo qual um terceiro, autorizado por lei, ingressa em processo pendente, transformando-se em parte. No Direito brasileiro, a intervenção de terceiros só é autorizada quando há uma vinculação jurídica, ou, em alguns casos, por conta de interesse econômico. Obs. Toda intervenção de terceiro é um incidente de processo, pois terceiro ingressa em processo existente, impondo-lhe alguma modificação e dele passando a fazer parte – uma ramificação do processo originário. Podem ser: Voluntárias, quando o terceiro requere a sua participação dentro do processo por conta do interesse daquela demanda na sua esfera jurídica; Provocadas, dentro do processo, quando uma das partes ou juiz requere a intervenção do terceiro para a continuação do processo. Processo Civil I Maria Catarina Farias 3. Cabimento As intervenções de terceiro cabem no procedimento comum do processo de conhecimento. Essa é a regra. A assistência, a intervenção de amicus curiae e o incidente de desconsideração da personalidade jurídica também cabem em execução. Há outras intervençõesde terceiro, exclusivas para o processo de execução. Há leis que vedam intervenções de terceiro em determinados procedimentos, como é o caso dos processos de controle concentrado de constitucionalidade (art. 7º, Lei n. 9.868/1999) e no procedimento especial para o exercício do direito de resposta ou retificação do ofendido (art. 5º, § 2º, III, Lei n. 13.188/2015). Obs. Nos Juizados Especiais Cíveis, de acordo com o art.10, Lei n. 9.099/1995, não se admite intervenção de terceiro. Eduardo Sodré, porém, defende o cabimento do recurso de terceiro no âmbito dos Juizados Especiais, porque não compromete a razoável duração do processo. O art 1.062 do Código de Processo Civil alterou um pouco esse microssistema, ao permitir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica no âmbito dos juizados Especiais Cíveis. 4. Espécies • Assistência: É a modalidade de intervenção de terceiro ad coadjuvandum, espontânea, pela qual um terceiro ingressa em processo alheio para auxiliar uma das partes. Pode ocorrer a qualquer tempo e grau de jurisdição, assumindo o terceiro o processo no estado em que se encontre. A assistência é admissível em qualquer procedimento (art. 119, par. ún., CPC). Permite-se a assistência porque esse terceiro pode vir a sofrer prejuízos jurídicos com a prolação de decisão contra o assistido. Desse modo, é o interesse jurídico que autoriza a assistência, podendo ser manifestado pelo terceiro por sua presença em relação jurídica vinculada à discutida no processo, pela afirmação de titularidade da relação jurídica discutida ou por legitimação extraordinária. Assistência simples, o terceiro alega ter uma relação jurídica vinculada a discutida no processo, nesse contexto, intervém para ser parte auxiliar, sujeito parcial, mas que, em razão de o objeto litigioso do processo não lhe dizer respeito diretamente, fica submetido à vontade do assistido (ex. sublocação). O assistente simples é parte, tendo uma legitimação extraordinária subordinada. Não por acaso arca com as despesas processuais, se submete aos deveres processuais de parte, assume as situações jurídicas processuais ativas (alegar, provar, recorrer etc.). É, porém, parte auxiliar, por isso que, ao assistente simples, é vedado praticar atos processuais de disposição, como a conciliação, renúncia a direito, reconhecimento jurídico do pedido, entre outros. Assistente litisconsorcial, se configura quando o terceiro alega a existência do seu interesse jurídico na causa discutida, afirmando sua titularidade do direito ou sua legitimação extraordinária para a defesa deste. Nesse contexto, vai possuir todos os poderes que a parte tem, se tornando autônomo à esta, podendo realizar atos processuais sem a necessidade de sua anuência. • Denunciação da lide: Normalmente pelo réu, cabe na evicção e na garantia, havendo o direito de regresso, o sujeito do processo pode vir a chamar à lide, denunciar o terceiro que tem que ser responsabilizado acerca de determinada situação (ex. quando um réu condenado ao pagamento de uma indenização, denuncia sua seguradora a lide). STJ tem fixado limites para quais as relações jurídicas podem ser aqui consideradas, seguindo no curso de que quando a denunciação da lide não gera dilação probatória, ela é válida; quando há a necessidade da dilação probatória deve ser utilizado uma ação própria. CPC, Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam; II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. Processo Civil I Maria Catarina Farias • Chamamento ao processo: Trata-se de intervenção de terceiro provocada apenas pelo réu na contestação, cabível apenas no processo de conhecimento, que se funda na existência de um vínculo de solidariedade entre o chamante e o chamado (ex. litisconsórcio ulterior). Só cabe o chamamento ao processo se, em face da relação material deduzida em juízo, o pagamento da dívida pelo chamante dê a este o direito de reembolso, total, ou parcial, contra o chamado. Obs. Diferente da denunciação da lide, o chamamento ao processo não vai implicar demanda regressiva (para buscar o quinhão que cabe a cada um na solidariedade passiva). O chamado, codevedor que é, pode, ao final, pagar a dívida (com a expropriação de bens que compõem o seu patrimônio) e, então, é ele que se voltará, regressivamente, só que contra o chamante. CPC, Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu: I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu; II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum. • IDPJ, Incidente de desconsideração da personalidade jurídica: A pessoa jurídica é um instrumento técnico- jurídico desenvolvido para facilitar a organização da atividade econômica. A chamada função social do pessoa jurídica, implica o condicionamento do instituto ao pressuposto do atingimento do fim jurídico a que se destina. Qualquer desvio ou abuso deve dar margem para a aplicação da sanção contida na desconsideração da personalidade jurídica, segundo a doutrina brasileira. Trata-se de uma ação incidental (tramita dentro de um processo já em curso), pela qual se pretende a desconstituição da eficácia da personalidade de uma pessoa jurídica, para o fim de atingir o patrimônio dela (quando o sócio é a parte originária no processo) ou o patrimônio de seu sócio (quando ela é a parte originária). Trata-se de intervenção de terceiro, pois se provoca o ingresso de terceiro em juízo (para o qual se busca dirigir a responsabilidade patrimonial), sendo cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento da sentença e na execução de título extrajudicial. Obs. Chama-se desconsideração inversa a técnica de suspensão episódica da eficácia do ato constitutivo da pessoa jurídica, de modo a buscar bens no patrimônio da pessoa jurídica, por dívidas contraídas pelo sócio. • Amicus curiae: É o terceiro que não é propriamente parte, não favorecendo o réu ou o autor, mas buscando o melhor para a condução do processo, para melhorar a qualidade da decisão. CPC, Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação. § 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º. § 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae . § 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.
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