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Coalizões Internacionais e Política Externa Brasileira

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Aula 28
Política Internacional p/ CACD
(Diplomata) Primeira Fase - Com
Videoaulas - Pós-Edital
Autor:
Alexandre Vastella
Aula 28
11 de Agosto de 2020
 
 
 
Aula 29 - Política Internacional - O Brasil, as coalizões internacionais e a cooperação Sul-Sul 
Introdução ao PDF ................................................................................................................................. 1 
Coalizões internacionais e cooperação Sul-Sul............................................................................... 2 
Política Externa Brasileira e reforma da governança global ...................................................................... 2 
Arranjos de geometria variável ........................................................................................................... 8 
Introdução aos arranjos de geometria variável ......................................................................................... 8 
Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS) .............................................................................. 10 
Elementos em comum dos países do IBAS .......................................................................................... 10 
Pilares do IBAS .................................................................................................................................... 11 
Reuniões de Cúpula do IBAS ............................................................................................................... 16 
Histórico do IBAS ................................................................................................................................ 17 
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) .................................................................................. 22 
Surgimento do termo “BRIC” .............................................................................................................. 22 
Antecedentes históricos do BRICS e da cooperação entre os emergentes .......................................... 24 
Comércio e desenvolvimento do BRICS .............................................................................................. 26 
Reuniões de Cúpula do BRICS ............................................................................................................. 27 
 
 
INTRODUÇÃO AO PDF 
 Nesta aula, estudaremos sobre as coalizações internacionais – ou arranjos de geometria variável 
–as suas relações com as estratégias de cooperação Sul-Sul e reforma da governança global defendidas 
pela política externa brasileira. Na primeira parte, estudaremos os aspectos teóricos dessas discussões. Já 
na segunda parte, focaremos em dois arranjos que costumam ser mais frequentes nas provas do CACD: o 
Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS) e o BRICS – acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, 
China e África do Sul. Embora já tivéssemos visto sobre esses grupos em aulas anteriores, agora vamos 
estuda-los com mais profundidade. 
Alexandre Vastella
Aula 28
Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital
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2 
 
COALIZÕES INTERNACIONAIS E COOPERAÇÃO SUL-SUL 
Política Externa Brasileira e reforma da governança global 
A formação de coalizões de geometria variável como IBAS, BRICS e BASIC é uma das marcas da 
política externa brasileira dos últimos 15 anos. Essa ênfase decorre das estratégias de diversifação de 
parcerias e da priorização das relações sul-sul, além de ser expressão e instrumento do soft balancing 
praticado pelo Brasil, em sua busca pela reforma da governança global. Inclusive, as provas do Cespe têm 
tratado essas coalizões por essa abordagem política. Ou seja, como esses grupos têm sido utilizados pelo 
Brasil para ampliar seu poder e sua capacidade de influência no sistema internacional. 
Coalizões de geometria variável 
Neste quadro, vamos relembrar alguns dos principais arranjos de geometria variável que o Brasil faz parte. 
 
Fórum de Diálogo Brasil, Índia e África do Sul (IBAS) 
Implantado em 2003 por meio da Declaração de Brasília, o IBAS é um grupo de 
cooperação entre Brasil, Índia e África do Sul suportado pelo Fundo IBAS. O 
grupo enfraqueceu – porém, não deixou de existir – após a entrada da África do 
Sul no BRICS, em 2011. 
 
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) 
Um grupo de cooperação entre estes cinco países considerados emergentes – 
embora a Rússia seja uma potência militar e a China, uma potência econômica. 
Criado em 2006, o grupo se institucionalizou em 2009 e admitiu a África do Sul 
em 2011. 
 
Brasil, África do Sul, Índia e África do Sul (BASIC) 
Grupo criado em 2009 e derivado do BRICS para atuação coordenada em 
questões ambientais durante a COP 15, em 2009 – a conferência climática da 
ONU. Na prática, trata-se do BRICS sem a Rússia, um grande produtor e 
consumidor de combustíveis fósseis. 
 
G-20 
Fundado em 1999 (após as crises financeiras da década de 1990) e com a primeira 
Reunião de Cúpula em 2008 (em cenário pós-crise de 2008), o G-20 reúne as 19 
maiores economias globais mais a União Europeia, incluindo o Brasil. 
 
Nações G-4 – Brasil, Alemanha, Japão e Índia. 
Grupo que une quatro países - Brasil, Índia, Japão e Alemanha e que possui como 
objetivo reunir forças para a reforma do Conselho de Segurança da ONU, tema 
que encontra forte oposição entre as grandes potências. Os quatro países, além 
de lutarem juntos, se apoiam mutuamente. 
Alexandre Vastella
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3 
 
 
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) 
É o grupo de países lusófonos com o objetivo de promover e difundir a língua 
portuguesa. Na prática, além da questão linguística, é um espaço importante de 
concertação política para o Brasil, principalmente no que diz respeito à 
estratégia africanista. 
Essas coalizões começaram a se adensar a partir da chegada do presidente Lula da Silva ao poder 
e, portanto, a chegada do chanceler Celso Amorim – um homem que já havia sido chanceler na época do 
Itamar Franco e que agora repetia a função sob uma nova realidade global. Amorim deu uma grande 
ênfase à estratégia de diversificação de parcerias. Conforme vimos nas outras aulas, essa estratégia não 
era nada nova, pois vinha desde o início do universalismo, na década de 1960. No entanto, foi nesse 
período recente que se as relações sul-sul realmente foram adensadas, atingindo um novo patamar. 
Para entendermos como essas relações se adensaram, devemos voltar um pouco no tempo, antes 
mesmo do Celso Amorim. As primeiras tentativas de cooperação sul-sul ocorreram durante a primeira e a 
segunda UNCTAD – as conferências sobre desenvolvimento da ONU realizadas em 1964 e 1968 da qual se 
destaca a segunda ocasião. Na época, foi firmado o grupo dos países periféricos chamado G-77, do qual 
Brasil e Índia passaram a liderar. Foi também, uma época que o Brasil passou a se aproximar dos terceiro 
mundistas, especialmente dos países do Oriente Médio, por conta da crise do petróleo. 
Nos anos 1980, a situação se inverteu. Os países em desenvolvimento, que na década anterior 
estavam crescendo, agora estavam em crise, incluindo o Brasil. A ascensão do neoliberalismo nos países 
desenvolvidos – corrente que estava obtendo grandes resultados econômicos – minou as pretensões dos 
países periféricos de regulamentarem o sistema financeiro global e projetou o livre mercado como sendo 
a principal solução para os problemas econômicos. No cenário político, a cooperação foi dificultada pelo 
reaquecimento da Guerra Fria (o primeiro aquecimento havia sido nos anos 1960) e, como desfecho, pela 
falência da União Soviética no final da década. 
 Com o fim da lógica de Guerra Fria – que abriu aquela série de dúvidas e perspectivas na década 
de 1990 – os países procuraramaplicar o receituário do Consenso de Washington e, de algum modo, se 
alinhar de forma mais incisiva aos Estados Unidos, a maior potência global. No entanto, ainda na década 
de 1990, próximo à transição para o século XXI, o neoliberalismo dava sinais de cansaço nos países 
subdesenvolvidos, incluindo no Brasil. Nesse novo contexto, já a partir dos anos 2000, houve uma corrida 
pela integração do sul global. A cooperação sul-sul ganhou novo fôlego e foi nesse contexto que os 
arranjos ou coalizões de geometria variável surgiram ou se intensificaram. Não por acaso, o IBAS, o BRICS 
e o BASIC surgiram todos na mesma década, um seguido do outro. 
 Percebemos, portanto, que essas coalizões de geometria variável servem para buscar concertação 
política, para aumentar o poder de barganha dos Estados participantes para e garantir o soft balancing. 
Esse termo significa que os Estados buscam fazer reformas no sistema internacional, mas não de forma 
revolucionária, abrupta ou profunda. Buscam fazê-las de modo suave, apenas para torna-lo mais 
representativo, legítimo e verdadeiramente multilateral. 
A partir das linhas abaixo, diante dessa lógica, veremos de que modo o Brasil procura se inserir 
nesses grupos. Primeiramente, veremos alguns desafios e objetivos da política externa brasileira do século 
XXI: 
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 A partir do final da Guerra Fria, havia a expectativa de que, sem o combate ideológico travando as 
negociações, as organizações internacionais iam, finalmente, ampliar a sua multilateralidade. No entanto, 
esse ideal de ordem multilateral não se concretizou. A ONU, por exemplo, continuou representando o 
antigo mundo de 1945 e as grandes potências continuaram vetando questões importantes no Conselho de 
Segurança. Por isso, o Brasil vê a necessidade de reforçar o multilateralismo e, para conseguir esse 
objetivo, busca atuar de forma proativa e propositiva, tentando se comportar como um país 
verdadeiramente capaz de mudar a ordem internacional, evidentemente, para atender a seus interesses. 
 O fato é que após o final da Guerra Fria, havia um grande otimismo, tanto por parte dos países 
desenvolvidos quanto por parte dos países subdesenvolvidos, de que haveria um longo período pacífico; 
e, se caso algum conflito ocorresse, não teria mais a mesma gravidade ou densidade do que havia tido 
anteriormente. É verdade que um conflito da magnitude da Segunda Guerra Mundial nunca mais voltou a 
ocorrer, no entanto, esse otimismo foi sendo quebrado com o tempo, sobretudo após os ataques de 11 de 
setembro que desencadearam a Guerra ao Terror e as consequentes invasões do Afeganistão e do Iraque; 
esta última, sem o aval da ONU. No século XXI, ao invés do otimismo, há consenso de fragilidade da 
ordem multilateral. 
 Diante desse contexto, países como Brasil, Índia, África do Sul, China e Rússia têm reforçado seus 
discursos no âmbito de reforçar o multilateralismo e reformar as organizações internacionais, para que 
outras grandes potências não ajam de forma unilateral, a seu próprio prazer, especialmente os Estados 
Unidos. Há, portanto, objetivos compartilhados de desconcentrar o poder e promover a reforma da 
governança global. Para esses países, um bom modelo seria o da Assembleia da ONU, no qual todos os 
países – independentemente da economia ou força militar – possuem o mesmo poder de voto, havendo 
horizontalidade nas decisões. 
 
 Portanto, quando nós pensamos em IBAS ou BRICS, necessariamente nós pensamos em aumento 
da representatividade e da legitimidade, que é exatamente o que o Brasil e esses outros países procuram 
no sistema internacional. No caso do Brasil, embora a diplomacia oficial não coloque o país dessa 
maneira, há uma evidente liderança regional, sendo o país mais expressivo da América do Sul. No caso da 
Rússia, assiste-se, após uma grave crise nos anos 1990, ao crescimento de poder do país, que voltou a 
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recuperar seu prestígio geopolítico e militar anteriormente perdido com a falência da União Soviética. No 
caso da Índia, há a segunda maior população e a maior democracia do mundo, um país em processo de 
crescimento e urbanização. No caso da China, há a maior população, a segunda maior economia global e 
taxas de crescimento econômico estratosféricas, mesmo após a crise de 2008. Embora apresentem 
profundas diferenças em muitos aspectos, todos esses países estão alinhados nas reformas das 
organizações internacionais – ainda que a China e a Rússia estejam em posição privilegiada com poder de 
veto no Conselho de Segurança da ONU. 
 No caso da África do Sul, conforme veremos posteriormente, a sua inclusão no BRICS ocorreu 
tardiamente, em 2011. Ao contrário do que ocorre com o Brasil – cuja liderança na América do Sul é 
inquestionável – há certos debates sobre se realmente a África do Sul seria uma líder regional. No 
continente africano, há outros países expressivos como a Nigéria, por exemplo. 
Geometria variável 
 
 
 
Três latos Quatro lados Cinco lados Sete lados... etc. 
Exemplo: IBAS Exemplo: G4 Exemplo: BRICS Exemplo: G7 
 O que importa entendermos, por enquanto, é que essas coalizões de geometria variável não 
necessariamente estão vinculadas a uma lógica econômica, a um contexto geográfico ou a políticas em 
comum. Trata-se de agrupamentos pontuais para fins específicos. É mais fácil encontrar diferenças 
entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul do que semelhanças. No entanto, todos estão envolvidos 
nos mesmos objetivos, ainda que pontuais. Quando as divergências afloram, simplesmente novos arranjos 
são criados, sem traumas, sem grandes rupturas, afinal, são alianças intermitentes. O BASIC, por exemplo, 
é essencialmente o BRICS sem a Rússia, criado apenas para tratar de questões climáticas e ambientais. 
 Diante desse contexto, a política externa brasileira tem adotado três estratégias concomitantes. 
Primeiramente, há a aplicação do soft-balancing – a reinvindicação de ajustes e reformas no sistema 
internacional, no entanto, sem provocar grandes revoluções (daí o termo “soft”). Em segundo lugar, tendo 
em vista o soft balance, busca-se uma postura não-revisionista e não confrontacionista. Ou seja, não se 
busca revisar os ideais, os valores, os princípios e os propósitos das organizações internacionais. O que o 
Brasil e os demais aliados querem é fazer um balanceamento para que estas sejam mais representativas, 
sem alterar a sua essência. Em terceiro lugar, há uma busca pela restrição do poder das grandes 
potências estatais estabelecidas. Nesse caso, podemos pensar principalmente na contenção dos Estados 
Unidos da América e em segundo plano, dos Estados europeus. Nesse caso, há a tentativa de “acorrentar 
Gulliver”: 
 
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Política Externa Brasileira no século XXI 
Assim como no livro de Swift (imagem), pequenas pessoas 
conseguem acorrentar o gigante Gulliver; o Brasil junta 
pequenos países, em grande número, para “acorrentar” as 
grandes potências e aumentar sua margem de manobra. 
Reforma da governança global 
– Estratégia: soft balancing. 
– Postura não revisionista e não confrontacionista. 
– Busca restringir o poder das grandes potências 
estabelecidas. 
Acorrentar Gulliver – acorrentar o gigante 
– Multipolaridade: centralidade do Sistema ONU 
– Democratização das instâncias decisórias. 
– Representatividade e legitimidade. 
– Ação coordenada e multilateral. 
 O termo “acorrentar Gulliver” veio do livro As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift, escrito no 
século XVIII. Durante a narrativa, pequenas pessoas acorrentamum gigante e assim, conseguem mantê-lo 
sob controle. Mesmo que o gigante seja mais poderoso que os demais, a união dos pequenos consegue 
imobilizar suas ações. Trazendo essa metáfora à realidade internacional, o Brasil e seus aliados tentam 
“acorrentar” as grandes potências e assim, ampliar seus respectivos poderes de barganha. 
 Segundo a diplomacia brasileira, para “acorrentar” os grandes atores, é necessário reforçar a 
multipolaridade – especialmente o sistema ONU; democratizar as instâncias decisórias, dando-lhes 
maior representatividade e legitimidade; e também, promover ações coordenadas e ações coletivas – 
que não sejam de forma unilateral. É justamente na ânsia de buscar esses objetivos que o Brasil e seus 
aliados formam os arranjos de geometria variável. Vejamos mais detalhes desse processo: 
Política Externa Brasileira no Século XXI (Reforma da Governança Global) 
No plano 
multilateral: 
democratização 
Ativismo na OMC 
(G20) e na ONU (G4, 
Haiti). 
No plano multilateral, o Brasil busca a democratização das organizações 
internacionais. Para isso, pratica diversos tipos de ativismos internacionais, sendo na 
OMC, no G-20 ou na própria ONU. 
Dentro da ideia de reforma do Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, se 
destaca o G-4, grupo formado por Brasil, Alemanha, Japão e Índia. 
O Brasil, na busca por maior destaque internacional, também utiliza as operações de 
paz como “vitrines” de capacidade de liderança e contribuição para à paz e 
estabilidade mundiais. 
Tendência à 
minilateralização. 
Também há uma tendência a minilaterização, ou seja, a multilateralização em 
pequena escala, com pequeno número de Estados. É muito mais fácil, por exemplo, 
fazer concertação política entre os membros do G-4, do IBAS ou do BRICS do que no 
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antigo G-77, um grupo extremamente numeroso e diversificado. 
Reforma do sistema 
financeiro pós-crise 
de 2008. 
Além disso, se busca reformar o sistema financeiro após a crise mundial de 2008. Foi 
nesse contexto, por exemplo, que ocorreu a primeira cúpula de Chefes de Estado do 
G-20. 
No entanto, mesmo com algumas demandas brasileiras tendo sido atendidas, o 
Brasil continua insistindo nas reformas do sistema financeiro global para que seja 
mais eficiente aos emergentes. 
No plano regional: 
desenvolvimento e 
adensamento. 
 
Se no plano multilateral, o Brasil preza pela democratização; no plano regional, preza 
pelo desenvolvimento e pelo adensamento de relações. Há, portanto, uma busca, 
por parte do Itamaraty, de tornar as relações regionais mais profundas e aumentar a 
credibilidade do país na América do Sul. 
Isso começou a ser feito nos anos 1980, com a chegada de Sarney ao poder. Naquela 
época, o então presidente visitou todos os países da região, buscando garantir que o 
Brasil, agora democrático, iria adotar uma postura amistosa e cordial a partir de 
então. 
Ênfase na América do 
Sul e criação de novas 
instituições regionais 
(UNASUL). 
Expansão da área 
prioritária para a 
América Latina. 
Há, portanto, uma ênfase na América do Sul, o que reflete na criação de instituições 
regionais como, por exemplo, a UNASUL – ainda que hoje esteja enfraquecida. 
A ideia é basicamente encapsular as questões próprias da América do Sul e deixar os 
Estados Unidos do lado de fora, de modo que o Brasil possa ter uma proeminência 
maior. 
Para além da América do Sul, o Brasil enxerga toda a América Latina como área 
prioritária. Portanto, vale a mesma lógica: buscar encapsular as questões para ter 
maior autonomia na região. 
 O Brasil, de acordo com o quadro e as informações acima, pretende deixar de ser um system-
affecting (um Estado que só consegue projeção se articulando) para ser, finalmente, um system-
influencing (um Estado que influencia, de fato, o sistema internacional). Esses termos fazem parte da 
classificação de Estados proposta peloo professor Robert Keohane que consiste em: 
 
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 Para Keohane, há uma hierarquia entre os Estados. Trazendo a teoria para a realidade atual, 
potências como Estados Unidos e China seriam hoje consideradas system-determining, pois, de acordo 
com seus respectivos poderes, possuem real capacidade de determinar os rumos do sistema 
internacional. Em seguida, destacam-se os system-influencing; ou seja, aqueles Estados que embora não 
sejam tão poderosos quanto os da categoria anterior, possuem poder de influenciar o sistema 
internacional. São Estados fortes, no entanto, nem sempre são grandes potências. O Brasil, por meio de 
sua diplomacia, pretende se estabelecer nessa faixa – embora ser um system-determining, em um cenário 
ideal, seja a meta final de todos os países, inclusive a do Brasil. 
 Em seguida, há os system-affecting; ou seja, Estados que devem se articular para ter maior 
projeção. Os países emergentes como, por exemplo, Brasil, Índia e África do Sul, na posição de system-
affecting, almejam se tornar system-influencing. Por fim, há os system-ineffectual, aqueles Estados sem 
poder expressivo, pequenos países e territórios, que apenas sofrem as consequências do sistema 
internacional. 
 
ARRANJOS DE GEOMETRIA VARIÁVEL 
Introdução aos arranjos de geometria variável 
 Conforme vimos no item anterior, o Brasil se utiliza dos arranjos de geometria variável para ampliar 
seu poder de barganha internacional, cujos exemplos mais expressivos são o IBAS, o BRICS, o G-20 e a 
CPLP. Perceba que para cada um desses agrupamentos, há a similaridade de interesses e/ou 
características pontuais em comum, além disso, diferentes quantidades de membros. No caso do IBAS, 
há convergências nas pautas de desenvolvimento, em especial a de fármacos que deu origem ao grupo. 
No caso do BRICS, todos são emergentes. No caso do G-20, são as vinte maiores economias do globo. No 
caso da CPLP, são todos os países de língua portuguesa do mundo. Por conta disso, conseguimos 
entender o termo arranjos de geometria variável, pois além da função, esses grupos intermitentes tem 
diferentes lados como se fossem formas geométricas. O IBAS, por exemplo, tem três lados; o BRICS, cinco 
lados. O G-20, vinte lados, e etc. 
 No quadro abaixo, listamos cinco elementos que definem uma economia emergente – o principal 
fator adotado pelo BRICS como elemento aglutinador. Evidentemente, poderíamos contestar se uma 
potência como a China seria de fato emergente. De fato, embora tenha um grande PIB, a China possui 
inúmeros bolsões de pobreza, até piores do que os encontrados na África Subsaariana. A Índia está na 
mesma situação. São países economicamente prósperos, mas que não conseguiram traduzir a 
expressividade da economia para benefícios para a população. 
 
Principais características das economias emergentes 
 
Desregulamentação 
Economias que se encontram em processo de abertura econômica e de 
desregulamentação. 
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Problemas na infraestrutura e na educação 
Infraestrutura de transportes obsoleta ou precária e também, déficit educacional e de 
formação técnica. 
 
Desigualdades 
Uma parte do país é rica, possuindo características de países desenvolvidos. No 
entanto, outra parte é pobre, possuindo bolsões de pobreza. 
 
Baixa atividade no mercado de capitais. 
Possuem menos acionistas do que os países desenvolvidos. Como resultado, há mais 
investidores estrangeiros do que do próprio país. 
 
Capitais especulativos 
Presença massiva de capitais especulativos, atraídos pelas altas taxas de juros 
oferecidas pelos países da dívida pública. 
 Primeiramente, trata-se de economias quese encontram em processo de abertura econômica e 
desregulamentação. Esse lento e oscilante processo se iniciou no final da Guerra Fria com a adoção do 
Estado Normal e do Consenso de Washington. Embora tivéssemos estudado sobre o contexto brasileiro, 
a verdade é que quase todos os países, em maior ou menor grau, adotaram o neoliberalismo nos anos 
1990, não sendo uma realidade exclusivamente brasileira, portanto. Mesmo a China, um país 
politicamente comunista, acabou intensificando seu socialismo de mercado no período, buscando maior 
abertura comercial, desregulamentação e frouxidão de leis trabalhistas. 
 Há também, dificuldades nas infraestruturas de transporte comunicação – um fator 
autoexplicativo. Como as economias são menos desenvolvidas, falta verba para investir nesses aspectos. 
Outro problema derivado dessas dificuldades é o déficit educacional de formação técnica indispensável 
ao desenvolvimento dessas infraestruturas. Por muitas vezes, os emergentes acabam importando essa 
mão de obra qualificada. Além disso, são países com grandes desigualdades regionais e sociais. No caso 
do Brasil, por exemplo, há uma grande concentração de renda nas regiões Sudeste e Sul. No caso da 
China, nas cidades à leste do país. 
 Países emergentes têm baixa atividade no mercado de capitais. Isso significa que, em relação aos 
países desenvolvidos, possuem menos acionistas – ou seja, menos pessoas investindo e mais pessoas 
consumindo. Nesse caso, os investidores acabam sendo de maioria estrangeira. No caso do Brasil, por 
exemplo, há dois ou três anos, as taxas de juros estavam elevadas, o que contribuía para a chegada de 
capitais estrangeiros procurando estabilidade. No geral, embora o cenário econômico possa mudar, são 
países que contam com a presença maciça de capitais especulativos atraídos principalmente pelas altas 
taxas de juros oferecidas pelos papéis da dívida pública. 
 
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Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS) 
 Neste item, vamos estudar o Fórum de Diálogo Índia, Brasil 
e África do Sul (IBAS) que possui um grau considerável de 
institucionalização e também, elementos em comum entre os 
membros que justifiquem esse agrupamento. No quadro abaixo, 
veremos mais detalhes sobre o IBAS. Podemos notar que apesar da 
concertação política em comum, há poucos elementos de 
complementariedade econômica no sentido de, por exemplo, o 
Brasil vender algo que a Índia busque ou vice-versa. Durante muito 
tempo, essa foi uma grande dificuldade para a aproximação dos 
países do IBAS. Conforme o quadro: 
Elementos em comum dos países do IBAS 
Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS) – Elementos em comum 
 Países emergentes 
– Posição intermediária. 
– Líderes regionais. 
– Potencial de se tornarem 
países desenvolvidos. 
O primeiro ponto em comum dos membros do IBAS é que são todos países 
emergentes. Ou seja, estão em uma posição intermediária entre as grandes 
potências globais e os países passivos do sistema internacional. 
A Índia, por exemplo, é um país nuclearizado com grande população, o que 
lhe garante certo destaque regional. Do mesmo modo, o Brasil é um líder 
natural da América do Sul e a África do Sul, líder regional da África 
Subsaariana. 
Há, portanto, a potencialidade de se tornarem países desenvolvidos desde 
que superem seus desafios de pobreza, distribuição de renda, desigualdades 
regionais, de questões ambientais, etc. Por isso, há a convergência para a 
resolução de problemas estruturais que impeçam esse progresso. 
Potências médias regionais. Portanto, são países considerados potências médias regionais, cada uma em 
seu contexto regional. O Brasil na América do Sul; a África do Sul na África 
Subsaariana e a Índia em parte da Ásia. 
Países intermediários – 
posicionamento 
intermediário no sistema 
internacional. 
Além disso, são países intermediários no sistema internacional, entre as 
grandes potências e os países passivos. Não dá para dizer, por exemplo, que o 
Brasil seja tão importante quando os Estados Unidos ou a Alemanha. No 
entanto, não é verdade que tenha a mesma inexpressividade e problemas 
estruturais do Haiti ou do Sudão do Sul, por exemplo. 
Trata-se, portanto de Estados system-affecting, que possuem o poder de 
afetar o sistema internacional desde que se articulem em conjunto. 
Países-baleia – destaque 
pelo tamanho, peso 
populacional. 
Também podem ser considerados países-baleia. Esse conceito está 
relacionado a Estados que possuem grande tamanho e grande peso 
populacional, sobretudo quando pensamos em Brasil e Índia. 
Representam Ásia, África e 
América Latina. 
Interessante notar que o IBAS possui representantes da Ásia, da África e da 
América Latina, três regiões que historicamente demandaram projetos de 
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– São as três regiões que 
historicamente 
demandaram mudanças no 
sistema internacional. 
– São regiões que tentam 
superar o passado colonial 
ou afastar grandes 
potências. 
desenvolvimento nos fóruns multilaterais e que tiveram bastante 
expressividade na Conferência de Bandung e no movimento dos não-
alinhados. 
Embora o Brasil nunca tivesse feito parte dos países não-alinhados, foi 
durante muito tempo um observador que participou e influenciou das 
discussões, sobretudo durante a primeira e a segunda UNCTAD, em 1964 e 
1968. Pelos mesmos motivos que o Brasil, a Índia também ganhou grande 
destaque nessa época. 
Desde aquela época, essas três regiões procuram maior autonomia no sentido 
de superar o processo de descolonização. Embora a América Latina já tivesse 
sido descolonizada há muito mais tempo, há convergência com a Ásia e a 
África no sentido de conseguir sair da zona de influência das grandes 
potências. Nos casos asiático e africano, das metrópoles colonizadoras. No 
caso da América Latina, dos Estados Unidos, principalmente. 
Compartilhamento de 
valores e desafios. 
Entre os países do IBAS há um compartilhamento de valores e desafios. Não 
estamos falando sobre valores religiosos ou morais, mas sim, sobre valores 
buscados dentro da inserção internacional, incluindo o compartilhamento 
de estratégias e medidas práticas, a exemplo do êxito obtido no exemplo dos 
fármacos. 
Tanto Brasil quanto Índia ou África do Sul possui estratégias vinculadas ao 
desenvolvimento e à superação de problemas estruturais. Embora o 
Apartheid tenha manchado a imagem dos sul-africanos, os três são 
democracias consolidadas, o que facilita essa convergência política. 
 
Pilares do IBAS 
O IBAS possui três pilares: concertação multilateral, cooperação trilateral e desenvolvimento. 
São países que se aproximam não apenas para consultar um ao outro e verificar quais são as posições um 
dos outros em questões especificas, mas também fazer uma concertação na medida do possível para que 
votem em conjunto, para que façam isso sempre juntos em prol do desenvolvimento. Vejamos mais 
detalhes desses pilares: 
 
O primeiro pilar é o de concertação multilateral. Conforme veremos adiante, essa concertação 
nasceu da necessidade dos três países de defenderem maior acesso a medicamentos no âmbito da OMC, 
sobretudo aqueles de combate a AIDS. Na época, o Ministro da Saúde brasileiro era José Serra, um grande 
entusiasta dos medicamentos genéricos. A Índia, por sua vez, era grande produtora de fármacos e 
desejava ampliar seu mercado. A África do Sul, assim como os demais países da África Subsaariana, sofria 
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muito – e ainda sofre – com a AIDS. Portanto, os três tinham interesse no licenciamento compulsóriode 
fármacos, a famosa quebra de patente. 
 
 Em uma primeira experiência, não conseguiram fazer frente aos países desenvolvidos. No entanto, 
com o passar do tempo, algumas conquistas práticas foram obtidas. O IBAS conseguiu a diminuição dos 
royalties dos medicamentos genéricos e a flexibilização das regras no combate a AIDS, o que permitiu 
que mais pessoas desses três países utilizassem o coquetel antiaids. No final, a Índia também se tornou a 
maior fornecedora desses medicamentos. 
 Como a concertação multilateral deu certo no caso dos fármacos na OMC, em busca de novas 
vitórias, Brasil, Índia e África do Sul decidiram manter a aprofundar essa concertação. Isso não significa 
que entre os três países deva haver sempre consenso, ou que os devam fechar todas as questões em 
conjunto. O que significa é que antes de qualquer reunião importante – especialmente na ONU e na OMC 
– haveria uma consulta trilateral para eventualmente, caso seja de interesse dos três, combinar posições 
e votar em conjunto nesses mecanismos, ampliando a capacidade dos membros do IBAS de afetarem o 
sistema internacional. Além disso, conforme veremos adiante, foi decidido que os três aprofundariam a 
cooperação técnica em temas dos quais existam maior complementariedade facilitando, enfim, o 
desenvolvimento de Brasil, Índia e África do Sul. 
O segundo pilar do IBAS é o da cooperação trilateral. Para estimulá-la, os Estados membros 
buscam mapear as áreas onde possa haver maior complementariedade multitemática entre os três. 
Apesar de hoje colaborarem em diversos assuntos, os membros dos BRICS nem sempre tiveram esse grau 
de complementariedade. 
 
No caso das relações do Brasil com a Índia, por exemplo – país que se tornou independente 
somente no final dos anos 1940 – a cooperação demorou a acontecer. Foi somente no final da década de 
1960 que ambos passaram a fazer concertação política no âmbito da II UNCTAD, da liderança dos países 
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periféricos e na rejeição mútua ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear – que segundo eles, traria um 
congelamento de poder. Com o tempo, não obstante o baixo fluxo econômico, Brasil e Índia se tornaram 
parceiros importantes, com desafios a serem enfrentados em comum. Enquanto a Índia estava tentando 
se livrar da zona de influência de sua antiga metrópole britânica; o Brasil, no mesmo período, estava na 
transição entre o americanismo e o universalismo, tentando se livrar do excesso de influência norte-
americana. Nesta época, inclusive, a primeira ministra Indira Ghandi visitou o Brasil. Contudo, o que 
precisamos entender nessa aula é que apesar dos avanços na esfera política, não havia 
complementariedade econômica entre Brasil e Índia, afinal, ambos produziam praticamente os mesmos 
produtos. Aliás, até mesmo nos dias atuais, a relação entre ambos é mais política do que comercial. 
Tendo em vista esse contexto de grande relevância política e baixa relevância comercial, os países 
do IBAS se comprometeram a mapear as áreas de complementariedade e buscar maior cooperação 
entre elas. Embora o IBAS tenha enfraquecido com a chegada do BRICS, muitos projetos foram 
desenvolvidos, especialmente nos setores de marinha, tecnologia espacial, defesa, pesquisa, energia, 
comércio e saúde – este último, o primeiro de todos os setores a ser desenvolvido no âmbito do grupo. 
Entre os casos de sucesso, podemos citar, por exemplo, o SIBAS, o IBSAMAR, o IBSAOCEAN. Vejamos 
mais detalhes no quadro abaixo: 
Alguns projetos de complementariedade desenvolvidos no IBAS 
SIBAS 
O satélite do IBAS 
O SIBAS foi uma proposta de satélite conjunto do IBAS. Inicialmente proposto para 
2006, acabou sendo adiado para 2009, adiado novamente para 2016 e, 
posteriormente, acabou não sendo concluído. 
A crise nos países emergentes ajuda a explicar o abandono da ideia. Apesar disso, a 
proposta do SIBAS comprovou que os países do IBAS são capazes de se articulação 
para além da proposta inicial de fármacos. 
Caso desse certo, o projeto seria amplamente respaldado pela Índia, um país com 
avançada tecnologia espacial. O Brasil também seria útil fornecendo tecnologia e, 
principalmente, matérias primas minerais necessárias à construção. 
IBSAMAR 
Cooperação entre 
as marinhas 
IBSAMAR é um programa de cooperação entre as marinhas do Brasil, Índia e África do 
Sul (sobre a sigla, “IBSA” é “IBAS” em inglês). 
Nesse projeto estão incluídos, por exemplo, exercícios militares conjuntos, 
principalmente na região do Oceano Atlântico entre Brasil e África do Sul e, em menor 
intensidade, na região próxima à Índia. A quinta edição foi realizada em fevereiro de 
2016. 
IBSAOCEAN 
Pesquisa dos 
oceanos 
Se o IBSAMAR visa principalmente a cooperação entre as marinhas, o IBSAOCEAN 
tem como objetivo a cooperação na área de pesquisa dos oceanos. 
Há, por exemplo, engenheiros brasileiros atuando na busca de petróleo e recursos 
naturais. O Brasil, inclusive, leva a sua expertise do pré-sal para ajudar a Índia e a 
África do Sul. 
Ainda no âmbito do IBSAOCEAN, os três países cooperam juntos na Antártica, em 
pesquisas científicas conjuntas. 
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Cooperação entre 
Escolas de 
Administração 
Pública 
Há também, uma cooperação entre as escolas de administração pública para melhorar a 
qualidade da democracia, dos funcionários e dos servidores públicos. 
Essa cooperação consiste, basicamente, na troca de experiências de boas práticas. Esse 
projeto, contudo, não foi aprofundado. 
Além desses projetos, entre os outros temas de cooperação que chegaram a ser discutidos está a 
cooperação na área nuclear. Conforme já ressaltamos em outras aulas, a Índia é uma potência nuclear, 
não-signatária do TPN, com avançada tecnologia militar e energética – ainda que nem de longe se 
compare às grandes potências como Estados Unidos e Rússia. A África do Sul é um caso a parte: embora 
tenha desenvolvido a tecnologia para energia e armamentos, abriu mão de seu programa nuclear em 
prol de outras vantagens. Já o Brasil, é declaradamente um país que utiliza a energia nuclear para fins 
pacíficos; no entanto, possui uma grande quantidade de urânio que interessa os demais países do IBAS. 
Apesar dessas similaridades, a cooperação nuclear pouco avançou desde então. 
Outro projeto de cooperação que chegou a ser discutido foi a implementação de um sistema de 
certificação expressa para exportações e importações entre os três países visando, principalmente, a 
melhora do fluxo comercial. Nesse sentido, havia a expectativa de que houvesse uma cooperação na 
utilização de moedas, substituindo o dólar na transação entre os países-membros. No entanto, essa 
discussão só foi avançar no âmbito do BRICS, conforme veremos adiante. 
O terceiro pilar diz respeito ao desenvolvimento, não somente dos países do IBAS, mas de outros 
Estados menos favorecidos. Ou seja, o desenvolvimento não é pensado somente nos três, mas se 
estende, numa perspectiva solidária, aos demais países do globo, especificamente aos mais fracos. 
Nesse sentido, Brasil, Índia e África do Sul têm a consciência que devem ajudar Estados que estão 
passando por dificuldades maiores do que eles. Portanto, mesmo os membros do IBAS tendo sérios 
problemas estruturais, têm a consciência de que são mais fortes e estáveis do que alguns países, por 
exemplo, da África e da Ásia Central e que por isso, devem auxiliá-los. Há, portanto, uma lógica da não-
indiferença baseada na solidariedade. 
 
Essa solidariedade aos mais fracos se manifesta pelo Fundo IBAS, um fundo conjunto entre os 
países do grupo. Cada um dos três membros deposita 1 milhão de dólares por ano, contribuindo, 
portanto, com US$ 3 milhões ao todo. Com esse dinheiro, oIBAS conseguiu, por exemplo, construir 
hospitais na Palestina e colaborar com a situação humanitária delicada no Haiti. O Fundo IBAS, portanto, 
tem a missão de combater a fome e a pobreza extrema. 
 
 
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Alguns projetos financiados pelo Fundo IBAS (retirado do site do MRE) 
– Reforço à infraestrutura e à capacitação no combate ao HIV/AIDS, em Bujumbura 
(Burundi); 
– Reforma da Infraestrutura do Sistema de Saúde nas cidades de Covoada e Ribeira Brava 
(Cabo Verde); 
– Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes com Necessidades Especiais e Suas Famílias 
(Camboja); 
– Desenvolvimento Agropecuário (Fase I), em Bissa, N’tatelai e Capafa (Guiné-Bissau); 
– Desenvolvimento da Agropecuária e de Serviços a Comunidades Rurais (Fase II), nas 
regiões de Bafatá, Oio e Biombo (Guiné-Bissau); 
– Coleta e Reciclagem de Resíduos Sólidos: Uma Ferramenta para a Redução da Violência e 
Conflito em Carrefour Feuilles (Fases I e II), em Porto Príncipe (Haiti); 
– Desenvolvimento de Liderança e Capacitação Institucional para o Desenvolvimento 
Humano e a Redução da Pobreza, em Freetown (Serra Leoa); e 
– Construção de Centro Multiesportivo, em Ramalá (Palestina). 
 Mesmo que os países do IBAS estejam ajudando, o fato é que US$ 1 milhão é uma quantia 
simbólica, tendo mais efeito político do que prático – ainda que seja uma fortuna para nós, indivíduos 
comuns, é uma quantia pequena para Estados do porte de Brasil, Índia e África do Sul. Apesar dessas 
críticas, o Fundo IBAS possui um grande peso político no sentido de evidenciar a preocupação social do 
grupo e melhorar a imagem dos três no sistema internacional. Como reconhecimento a essa postura 
solidária, o Fundo IBAS recebeu duas honrarias importantes: o Prêmio Parceria Sul-Sul para Aliança Sul-
Sul e o Prêmio MDG Awards (ODM) na categoria de Cooperação Sul-Sul; revelando, portanto, um caso de 
sucesso no sistema internacional. 
Países que o Fundo IBAS possui projetos 
 
Países que o Fundo IBAS possui projetos: Haiti, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Serra Leoa, Burundi, Palestina. Na Ásia, Laus, Camboja e 
Vietnã são alguns dos beneficiados. 
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Reuniões de Cúpula do IBAS 
 Conforme vimos anteriormente, o histórico do IBAS antecede às reuniões de Cúpula. As 
primeiras articulações, ainda no âmbito dos fármacos, ocorreram por volta de 2001. Posteriormente, após 
as conquistas obtidas, o IBAS foi oficialmente criado em 2003. No entanto, a primeira cúpula só foi 
ocorrer três anos depois, em 2006. É verdade que em 2003 houve uma reunião de Ministros das Relações 
Exteriores, contudo, não eram Chefes de Estado. Reuniões desse porte, somente após 2006, conforme a 
lista abaixo: 
IBAS – Reuniões de Cúpula 
Presidentes da África do Sul, Brasil e Índia na 1ª Reunião 
de Cúpula do IBAS, em 2006. 
2003 – Criação do IBAS 
2006 – Brasília (Brasil) 
2007 – Pretória (África do Sul) 
2008 – Nova Déli (Índia) 
2010 – Brasília (Brasil) 
2011 – Pretória (África do Sul) 
2013 – Nova Déli (Índia) – cancelada 
2017 – Nova Déli (Índia) – cancelada 
Perceba que entre 2006 e 2011, os encontros ocorreram com regularidade, ocorrendo em três anos 
seguidos: 2006, 2007 e 2008. No entanto, a partir de 2011, com a entrada da África do Sul no BRICS, o 
ritmo dos encontros diminuiu. Ou melhor, não houve mais reuniões de cúpula desde então. Devemos 
pensar que, a partir do ingresso sul-africano, todos os países do IBAS passaram a fazer parte do BRICS. 
Na prática, o BRICS se tornou o IBAS acrescido da Rússia e da China. Por isso, os membros do IBAS, ao se 
reunirem no âmbito do BRICS, já conseguem se articular, de forma suficientemente satisfatória, para não 
precisarem mais se reunir. Em 2012, por exemplo, houve Cúpula do BRICS – consequentemente, com o 
encontro dos países do IBAS. Na ocasião, os Chefes de Estado de Brasil, Índia e África do Sul já se 
articularam o bastante a ponto da cúpula do IBAS de 2013 não ter sido mais necessária. Por isso, após 
2011, o BRICS foi fortalecido e o IBAS foi enfraquecido. 
Embora as reuniões de cúpula tenham se escasseado, o IBAS continua existindo e seus projetos 
continuam atuantes. Afinal, não é de interesse – nem do Brasil, nem da Índia e nem da África do Sul – 
abandonar esse tipo de concertação trilateral. Isso ocorre porque Rússia e China são Estados com 
condições bem distintas aos membros do IBAS. Apesar de serem considerados emergentes, a China é 
uma potência econômica e a Rússia, uma potência militar. No mais, ambos são membros permanentes do 
Conselho de Segurança da ONU, uma situação bem distinta dos demais. Sendo assim, Rússia e China 
estão, no âmbito geopolítico, muito acima dos membros do IBAS, o que revela uma clara assimetria no 
âmbito dos BRICS. 
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Além disso, como a Índia possui atritos com a China, tenta encapsular algumas questões no 
IBAS sem leva-las para o BRICS. Dentre as principais disputas entre ambos podemos citar, por exemplo, 
o litígio fronteiriço na região do Tibete, uma área reivindicada tanto pela China quanto pela Índia. Sendo 
assim, é muito interessante para a Índia fortalecer o IBAS e deixar a China de fora de algumas 
negociações. 
 
Histórico do IBAS 
Nesse breve item, iremos expor o histórico do IBAS. O pouco aprofundamento decorre do fato de 
que já expomos muitos aspectos históricos nas linhas anteriores. Por isso, vamos focar nas características 
da Declaração de Brasília (2003) que criou o grupo, analisando os contextos de concertação antes e 
depois desse documento. 
IBAS – Breve histórico antes da Declaração de Brasília 
 
Em 2001, Brasil sugeriu à OMC quebra de patentes do tratamento à AIDS. Africa do Sul e Índia se uniram à demanda brasileira. Ao saírem 
vitoriosos, os três decidiram criar o IBAS, em 2003, para que novas concertações fossem feitas, desta vez, em vários assuntos. 
2001: convergência na Cúpula da OMC 
– questão dos fármacos – tratamento à 
AIDS. 
O primeiro grande acontecimento do IBAS – ou melhor, que levou à 
criação do IBAS – foi a convergência entre Brasil, África do Sul e 
Índia na Cúpula da OMC em 2001 sobre a questão dos fármacos e 
a universalização do combate à AIDS. Ali, naquele momento, os 
três países começaram a perceber que juntos teriam mais força 
para que suas demandas fossem atendidas. 
África do Sul e Índia se unem à 
demanda brasileira. 
Essa demanda foi feita pelo governo brasileiro – na época, o 
Ministro da Saúde era José Serra, um entusiasta dos medicamentos 
genéricos que recentemente se tornou Ministro das Relações 
Exteriores. 
Na ocasião, a África do Sul, um país que sofre bastante com a AIDS, 
se juntou à demanda brasileira. A Índia, um grande produtor de 
medicamentos, também apoiou a pauta do Brasil. Com isso, 
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estavam lançadas as sementes do IBAS. 
Na prática, algumas autorizações para 
produzir medicamentos são 
conseguidas. 
Apesar das dificuldades em lidar com as grandes potências, Brasil, 
Índia e África do Sul conseguem vitórias práticas. Com isso, a 
Índia foi autorizada a produzir medicamentos para o combate à 
AIDS, beneficiando os três países. 
2003: assinatura da Declaração de 
Brasília que cria oficialmente o IBAS. 
 
Depois dessa experiência bem sucedida, Brasil, Índia e África do 
Sul chegaram à conclusão de que juntos, poderiam obter vitórias 
em outros temas. Por isso, começaram a se articular para 
institucionalizar um arranjode geometria variável vantajoso para 
todos. 
Nesse contexto, foi assinada a Declaração de Brasília (2003), como 
fruto de uma reunião de Ministros das Relações Exteriores na 
capital brasileira. Trata-se de uma carta de intenções que cria 
oficialmente o IBAS – o Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do 
Sul. Na língua inglesa, o IBAS passou a ser conhecido como IBSA – 
India, Brazil and South Africa. 
Nas linhas abaixo, veremos mais detalhes da Declaração de Brasília. 
IBAS – Declaração de Brasília (2003) 
 
Países do IBAS – grupo oficialmente criado em 2003, pela Declaração de Brasília. 
Necessidade urgente de reformar a 
ONU. 
A Declaração de Brasília trazia alguns princípios compartilhados 
entre os três Estados. Entre eles estava a necessidade urgente em 
reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Conforme 
já ressaltamos, os três buscam assentos permanentes no Conselho. 
Sendo assim, um apoia o outro para que esse pleito tenha mais 
peso. O Brasil reconhece o pleito da África do Sul e da Índia. A 
África do Sul reconhece o pleito do Brasil e da Índia. E a Índia 
reconhece o pleito da África do Sul e do Brasil. 
O argumento utilizado para a reforma é aquele que já conhecemos: 
o aumento da representatividade e da legitimidade, 
reconhecendo que o Conselho de Segurança reflete uma 
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“fotografia” de 1945 que não existe mais. 
O terrorismo e os ilícitos internacionais 
precisam ser combatidos sem violar a 
soberania e o direito internacional. 
A Declaração de Brasília foi assinada em 2003, no mesmo ano da 
invasão norte-americana ao Iraque, em contexto de Guerra ao 
Terror. Diante desse contexto, o IBAS reconhece que o terrorismo e 
os atos ilícitos internacionais devam ser combatidos. 
No entanto, para o IBAS, o combate ao terrorismo não justifica a 
violação de soberania e o desrespeito ao direito internacional. 
Basicamente, uma indireta – ou melhor, uma “direta” mesmo – aos 
Estados Unidos que nesse momento, haviam acabado de invadir o 
Iraque de forma unilateral, sem o aval da ONU. 
Combate à fome e fomento do 
desenvolvimento 
Promoção do desenvolvimento 
humano. 
Os três países também afirmam seu compromisso no combate à 
fome e ao fomento do desenvolvimento, dentro daquela lógica de 
não indiferença solidariedade que já vimos acima. 
O IBAS entende que o desenvolvimento não é somente 
crescimento do PIB, mas envolve qualidade de vida, uma 
concepção adotada pelas Nações Unidas a partir da década de 
1990. Portanto, além da economia, elementos como direitos 
humanos e meio ambiente, por exemplo, também entram no 
contexto de desenvolvimento promovido pelo IBAS. 
Avançar a Rodada Doha. Se, na esfera de segurança, o IBAS tem a necessidade urgente de 
reformar o Conselho de Segurança da ONU; na esfera do comércio, 
tem a necessidade urgente de fazer avançar a Rodada Doha da 
OMC, iniciada sob fortes polêmicas em 2001. 
Na condição de países emergentes e agroexportadores – sobretudo 
nos casos do Brasil e da Índia – há uma defesa conjunta na luta 
pela eliminação ou diminuição de subsídios por parte dos países 
desenvolvidos, especialmente da União Europeia. 
Buscar maior aproximação e 
cooperação. 
Além disso, há a necessidade de buscar maior aproximação e 
cooperação, algo presente no segundo eixo do IBAS. Essa 
cooperação não se restringe somente ao âmbito econômico, ao 
invés disso, possui caráter multitemático. Os países, portanto, 
buscam mapear as áreas com maior potencial de 
complementariedade. 
Realizar reuniões de cúpula. Na Declaração de Brasília (2003) – assinada em reunião ministerial – 
ficou acordado que haveria a necessidade de realizar reuniões de 
cúpula. Ou seja, não somente reuniões com Ministros das Relações 
Exteriores, mas com Chefes de Estado; garantindo assim, um peso 
político muito maior. 
 
 
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IBAS – Breve histórico após a Declaração de Brasília 
Criado em 2004, o Fundo IBAS têm investido em muitos projetos, principalmente na África. Embora a contribuição seja pequena, 
reforça a lógica da solidariedade da qual o Brasil coaduna. 
2004: Fundo de combate à fome e à 
miséria - Fundo IBAS. 
–Fundo de Combate ao 
Subdesenvolvimento – América Latina, 
Ásia e África. 
Um ano após a Declaração de Brasília e a consequente criação 
do IBAS, foi estabelecido o Fundo IBAS – um fundo de 
combate à fome e à miséria. 
Conforme já mencionamos, o fundo promove ações solidárias 
na África, na América Latina e na Ásia, em Estados menos 
favorecidos. Embora conte com uma quantia relativamente 
pequena, o fundo funciona como uma excelente vitrine para os 
países-membros do IBAS. 
2006: Primeira reunião de Cúpula do IBAS 
– Brasília 
– Compromisso de reforçar o comércio 
trilateral, dando ao fórum um contorno 
comercial. 
– Compromisso aumentar o comércio 
intragrupo em 50%. 
Em 2006 ocorreu a Primeira Reunião de Cúpula do IBAS que, 
assim como a Declaração de Brasília, ocorreu na capital 
brasileira. 
Na ocasião, houve o consenso da necessidade de reforçar o 
comércio trilateral – ou seja, entre os três Estados do IBAS. 
Com isso, o IBAS não seria somente um grupo de relevância 
política, mas também, de relevância econômica. 
Conforme já ressaltamos, apesar dos grandes êxitos na 
concertação política, o comércio entre os três era – e ainda é – 
pouco relevante. Em termos práticos, houve o compromisso de 
aumentar o comércio intragrupo em 50%. Ou seja, o comércio 
entre Brasil, África do Sul e Índia. 
Imediatamente após a I Cúpula do IBAS (Brasília, 2006), também foi realizada a II Cúpula do IBAS 
Pretória (África do Sul, 2007), a III Cúpula do IBAS Nova Déli (Índia, 2008) e a IV Cúpula do IBAS (Brasília, 
2009) No quadro abaixo, veremos mais detalhes sobre essas reuniões: 
 
 
 
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Detalhes da Terceira Reunião de Cúpula – Nova Déli – 2008 
I – Reforça a necessidade de reforma do CSNU e de avanço da Rodada Doha 
Durante a III Reunião de Cúpula do IBAS, houve o aprofundamento dos compromissos de reformar o Conselho 
de Segurança da ONU e avançar a Rodada Doha, dois temas considerados urgentes pelos membros do 
grupo. 
Novamente, há o reforço de que Brasil, Índia e África do Sul devem coordenar esforços para influenciar o 
sistema internacional e, obtendo maior poder de barganha, conseguirem atender às suas demandas. 
II – Compromisso de aumentar em 50% o fluxo de comércio trilateral até 2010. 
Em segundo lugar, houve o compromisso de aumentar em 50% o fluxo de comércio trilateral até 2010, ou 
seja, em um prazo de dois anos. Embora esse compromisso já tivesse sido firmado na Declaração de Brasília 
(2003), ainda não havia sido estabelecido um prazo para que isso ocorresse. 
III – Parcerias em infraestrutura. 
Na Terceira Cúpula, também foram firmadas parcerias em infraestrutura intragrupo. Conforme já 
mencionamos, os gargalos de infraestrutura são uma das principais dificuldades dos países emergentes, um 
dos fatores limitadores ao seu desenvolvimento. E, portanto, havia o consenso de que era necessário dar uma 
atenção maior a esse tema. 
IV – Energia: cooperação nuclear e na área dos biocombustíveis. 
No âmbito da energia, foram firmadas duas cooperações: uma na área nuclear e outra na área de 
biocombustíveis. No primeiro caso, Índia e África do Sul entrariam com sua expertise nuclear, auxiliando o 
grupo como um todo. No caso dos biocombustíveis, o Brasil teria um papel preponderante no 
fornecimento de etanol – o combustível de cana-de-açúcar produzido em nosso território, levando essa 
tecnologia paraa África do Sul e para a Índia. 
V – Transporte: aumentar as rotas marítimas e aéreas e a infraestrutura. 
No âmbito dos transportes, houve o compromisso de aumentar as rotas marítimas e aéreas e também, a 
infraestrutura, algo que está intimamente relacionado à integração entre os três Estados. 
VI – Saúde: reforçar a cooperação na fabricação de medicamentos, além de desenvolver iniciativas para o 
mundo periférico. 
No campo da saúde, houve o compromisso de reforçar a cooperação na fabricação de medicamentos, além 
de desenvolver iniciativas para o mundo periférico. 
Interessante notar que foi justamente a cooperação na área de medicamentos que impulsionou a criação do 
IBAS. Trata-se, portanto, de uma espécie de retorno às origens. 
VII – Lógica de solidariedade periférica. 
Por fim, foram firmados compromissos com a solidariedade periférica, reforçando a lógica de não-
indiferença que já havíamos mencionado. 
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Isso significa que os membros do IBAS não buscariam somente seus próprios desenvolvimentos, mas também 
auxiliam os Estados mais necessitados. Ainda que isso fosse feito com uma quantidade baixa (US$ 3 milhões ao 
todo), mostraria o lado altruísta e humanitário do grupo, o que seria muito positivo a sua imagem. 
 
Detalhes da Quarta Reunião de Cúpula – Brasília – 2009 
I – Compromisso com o reforço da regulamentação do sistema financeiro e defesa da reforma urgente do 
FMI e do Bird. 
Na IV Cúpula do IBAS, foram firmados compromissos no reforço à regulamentação do sistema financeiro, o 
que incluía a reforma urgente do FMI e do Banco Mundial. É importante ressaltar que essa reunião foi 
realizada no contexto da crise mundial de 2008. Não por acaso, o BRICS e alguns membros do G20 também 
estavam buscando os mesmos objetivos. Na verdade, após a eclosão da crise, os países emergentes estavam 
convergindo nesses objetivos. 
Nessa época, a crise econômica abalou significativamente a economia dos países desenvolvidos. No 
entanto, os países emergentes pouco se abalaram. A despeito da crise global, a China, por exemplo, 
continuou crescendo a taxas cavalares. Já o Brasil, apenas sentiu a “marolinha” da crise. 
Diante dessa situação, os emergentes estavam bem posicionados para defender suas reformas. Ou seja, já 
que não haviam sucumbido a crise, tinham maior propriedade para lutarem pelas suas pautas. 
Por fim, devemos lembrar que embora novas cúpulas do IBAS tivessem ocorrido em 2010 e 2011, 
os temas mais importantes foram discutidos até 2009. A partir de 2011, com a entrada da África do Sul no 
BRICS, o IBAS se enfraqueceu. Contudo, ao contrário do que muitos possam pensar, o IBAS continua 
existindo. 
 
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) 
 O BRICS – acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, 
China e África do Sul – é um importante grupo de 
concertação política, tanto para os interesses da política 
externa brasileira quanto para desses outros países, 
fazendo parte da estratégia brasileira de cooperação Sul-
Sul – ainda que China e Rússia sejam consideradas 
potências econômica e militar, respectivamente. Nesse 
item, iremos estudar o surgimento do grupo, os seus 
antecedentes históricos, seus principais dados 
econômicos e sociais e, por fim, o detalhamento de 
algumas das mais importantes Reuniões de Cúpula. 
 
Surgimento do termo “BRIC” 
 Primeiramente, embora com objetivos semelhantes, o surgimento do BRICS foi bem distinto ao do 
IBAS. Primeiramente, o termo BRIC – assim mesmo, sem o “S” de África do Sul – veio de uma frase do 
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economista Jim O'Neill, um dos altos nomes do Banco Goldman Sachs. Segundo Neill, Brasil, Rússia, 
China e Índia seriam países emergentes com boas perspectivas de investimento e, portanto, boas 
potencialidades de retorno financeiro. Nessa época, havia a expectativa de que a economia da China 
ultrapassasse a dos Estados Unidos e que Rússia e Brasil, se tivessem um bom desempenho, 
ultrapassariam as economias tradicionais da Alemanha e do Reino Unido, colocando inclusive, o G8 em 
cheque. 
Interessante notar que Neill chegou a considerar a entrada do México e da Coreia do Sul, mas 
acabou desistindo porque o primeiro já estava muito bem integrado ao NAFTA e o país asiático, bem 
integrado a economia desenvolvida. Ao contrário dos países do BRIC, a Coreia do Sul já superou os 
desafios de infraestrutura e pobreza, por exemplo. Também é importante dizer que em nenhum 
momento Neill considerou a entrada da África do Sul. Seu ingresso só ocorreu posteriormente, por 
motivos puramente políticos. 
 Nesse sentido, quando Neill cunhou o termo BRIC, não estava se referindo a política externa, 
mas sim, a investimentos. Inicialmente, era apenas um grupo de países com maiores potencialidades de 
lucro e nada mais do que isso. Com o passar do tempo, o BRIC ganhou um caráter político não previsto 
pelo economista do Goldman Sachs. Em 2006, os quatro países – ainda sem a África do Sul – fizeram uma 
concertação informal em uma reunião de trabalho com os seus respectivos chanceleres visando 
principalmente, articulação em conjunto na Assembleia Geral da ONU. 
 
Jim O’Neill – economista-chefe do banco Banco Goldman Sachs. 
Economista que fez recomendações para investimentos em Brasil, Rússia, 
China e Índia, países emergentes com boas perspectivas de investimento, 
cunhando a sigla BRIC. A África do Sul não foi incluída nessa análise. 
Neill não pretendia criar um grupo de concertação política, apenas ressaltar 
os bons países para investir. Foi depois que esses países se articularam. 
 Inicialmente, o BRIC era puramente informal. Primeiramente, a sigla havia sido criada por um 
economista que jamais imaginava que seu acrônimo fosse virar um grupo de concertação política. Além 
disso, as negociações entre chanceleres ocorriam de maneira simples, sem nenhum grau de 
institucionalização. Entre 2006 e 2007, quando ocorreram as primeiras conversas, ficou claro que o grupo 
precisava de um grau maior de institucionalização. 
Já com essa evolução em mente, o BRIC promoveu sua primeira Cúpula de Chefes de Estado, que 
foi realizada em Ecaterimburgo, na Rússia, em 2009. Na ocasião, ficou acordado que Brasil, Rússia, Índia e 
China deveriam buscar mais convergências, elementos comuns que poderiam ser utilizados para politizar 
o grupo e garantir maior margem de manobra aos quatro países. Para o Brasil e para a Índia, o BRIC 
passou a ser particularmente interessante no sentido de se aproximarem da Rússia e da China, duas 
potências com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU que poderiam facilitar o pleito pelo 
assento permanente. 
Recapitulando, primeiro houve a sigla BRIC cunhada por Jim O’Neill. Depois, entre 2006 e 2007, 
conversas informais entre chanceleres. Em 2008, uma Cúpula de Chefes de Estado. Em 2011, houve a 
inclusão da África do Sul, um fato que já mencionamos quando falamos sobre o IBAS. Em 2014, durante 
encontro realizado no Brasil, foi criado o Banco de Desenvolvimento dos BRICS. Mais tarde, ainda nessa 
aula, explicaremos mais detalhes sobre esse banco. Por enquanto, vejamos alguns antecedentes históricos 
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da concertação política que levou ao BRICS. Como a maioria desses antecedentes já estudamos ao longo 
do curso, seremos breves: 
 
Antecedentes históricos do BRICS e da cooperação entre os emergentes 
BRICS – Antecedentes – Anos 1970 
Anos 1970 – Crises 
econômicas 
Nos anos 1970, os países desenvolvidos estavam em crise; no entanto, os 
países do terceiro mundo estavam em crescimento. ACrise do Petróleo, 
deflagrada a partir de 1973, afetou mais os países ricos do que os países 
pobres. 
– 1971: G-24 (8 latino-
americanos, 8 asiáticos, 8 
africanos). 
Nesse contexto, os países do terceiro mundo – ou países em 
desenvolvimento, começaram a buscar maior alinhamento. Como fruto desse 
objetivo, nasceu G-77 e, posteriormente, o G-24 – ambos agrupando os países 
periféricos. O G-24 tinha oito países de cada região: África, América Latina e 
Ásia. As desenvolvidas América do Norte e Europa não tinham 
representantes. 
Blue Book 
– Reforma do FMI. 
– Regulamentação do SFI 
– Nova Ordem Econômica 
Internacional 
Esses Estados do G-24 propuseram o Blue Book, um documento defendendo 
a reforma do FMI, a regulamentação do sistema financeiro internacional e, 
por fim, a proposição de uma Nova Ordem Econômica Internacional. 
Contudo, essas ideias não vingaram. 
1975: G-7 (EUA, Canadá, 
França, Alemanha, Itália, 
Japão e UK) – soluções 
liberais. 
Ao invés de dar ouvidos às propostas dos Estados do G-24, os países 
desenvolvidos criaram seu próprio grupo: o G-7 que existe até hoje; sendo 
formado por Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino 
Unido. 
Ao contrário do intervencionismo econômico defendido pelo G-24, o G-7 
propôs soluções liberais para a crise, incluindo a desregulamentação do 
sistema financeiro internacional. Portanto, algo exatamente oposto ao que 
os países periféricos queriam. 
BRICS – Antecedentes – Anos 1980 
Medidas liberais do G-7 
fizeram efeito. 
Medidas estatizantes do G-
24 não fizeram efeito. 
Como resultado, perda de 
poder dos periféricos. 
Nos anos 1980, as medidas liberais implantadas pelo G-7 surtiram efeito, 
fazendo com que as economias dessas sete potências passassem a crescer 
novamente. Enquanto isso, as economias do G-24 que defendiam medidas 
estatizantes estavam, em grande parte, estagnadas. 
Por conta dessa inversão, houve perda de poder dos países em 
desenvolvimento. 
 
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BRICS – Antecedentes – Anos 1990 
1997: G-7 + 1 (G-8) Com o colapso da Guerra Fria e da União Soviética, o modelo liberal ganhou 
ainda mais força. Com isso, os países periféricos que outrora defendiam 
medidas intervencionistas tiveram que, finalmente, se curvar ao receituário 
liberal. 
Nessa época, a Rússia passou a fazer parte do G-7; criando assim, o G-7 mais 
1; ou, G-7 mais Rússia; ou ainda, simplesmente G8. Isso foi um marco 
importante porque foi entendido que até mesmo a antiga União Soviética, a 
principal potência comunista, estava se rendendo ao capitalismo liberal. 
Posteriormente, já na segunda década do século XXI, a Rússia foi suspensa 
do G8 por conta da crise na Crimeia. Desde então, se mantém afastada das 
atividades do grupo. 
1999: G-20 Financeiro Em 1999, foi criado o G-20 Financeiro englobando uma série de Estados 
anteriormente pertencentes ao G-24 e também, as maiores economias 
mundiais. O Brasil e a União Europeia fazem parte do grupo. 
O objetivo do G-20 não é construir uma nova ordem econômica nem reformar 
as instituições de Bretton Woods como o G-24 propunha. Trata-se de um 
espaço onde os países mais pobres aprendem com os países mais ricos. Há, 
portanto, uma postura cooperativa com os países emergentes e 
subdesenvolvidos e não um anseio de transformação sistêmica. 
No G-20 Financeiro, Ministros da Fazenda (ou da Economia) dos países mais 
pobres aprendem técnicas para melhorar a economia de seus países; 
normalmente, por um viés liberal. 
 BRICS – Antecedentes – Século XXI 
Acordo de Crescimento 
Contínuo 
– 2008 – Setembro: Crise 
financeira. 
– 2008 – Novembro: 1a 
Cúpula do G-20. 
A partir de 2008, os Estados emergentes voltaram a crescer mais do que os 
desenvolvidos, dando maior poder os países periféricos no G-20. Não por 
acaso, a Primeira Cúpula do G-20 ocorreu justamente nessa época. 
Menos afetados pela crise, os emergentes tiveram maior poder de barganha 
na defesa de suas demandas como, por exemplo, a maior regulamentação do 
sistema financeiro internacional. 
Foi nessa época – e também, nesse mesmo contexto – que ocorreu a Primeira 
Cúpula do BRICS na Rússia, realizada em 2009. 
2009 – Abril: 2a Cúpula. 
–Maior participação dos 
emergentes no SFI. 
– FMI – Transferência de 5% 
das cotas. 
– Regulamentação. 
Em 2009, durante a Segunda Cúpula do G-20, houve maior compromisso, por 
parte dos Estados que formavam o G-7, em aceitar a maior participação dos 
emergentes no sistema financeiro internacional. 
Ficou acordado que haveria uma transferência de 5% das cotas do FMI – ou 
seja, do poder decisório do grupo – para os países emergentes. 
Importante notar que esse processo se dava de forma concomitante à criação 
do BRICS. Inclusive, a concertação política dos emergentes no G-20 foi 
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fundamental para a consolidação do grupo. 
 
Comércio e desenvolvimento do BRICS 
De acordo com o infográfico abaixo, os membros do BRICS possuem quase 3 bilhões de habitantes, 
correspondendo a 42% da população mundial. Também ocupam uma impressionante área de quase 40 
milhões de quilômetros quadrados – 26% da superfície emersa do planeta, e um PIB de quase US$ 16 
trilhões, representando 14% do PIB mundial. O BRICS, portanto, é altamente estratégico para o Brasil. 
Não por acaso, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) instalou escritórios em todos os países do 
grupo. 
 
Do ponto de vista econômico, de acordo com projeção feita pelo Banco Mundial (mais detalhes na 
tabela abaixo), o BRICS cresce acima da média global, estando sempre acima dos 5%; em grande parte, 
puxados pela pujança da economia chinesa. No entanto, há uma tendência de desaceleração desse 
crescimento: a contribuição do PIB global está aumentando para os desenvolvidos e diminuindo para os 
mercados em desenvolvimento, relevando uma tendência contrária à bonança dos periféricos no pós-crise 
de 2008. 
 
 
 
 
 
 
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Entendendo a economia do BRICS 
 
Os gráficos acima revelam dois fatos importantes. O da esquerda, que o PIB do BRICS vem crescendo mais do 
que a média mundial e, inclusive, do que a média dos países desenvolvidos. No entanto, o gráfico da direita 
mostra que há uma tendência de desaceleração das economias emergentes, o que pode reverter esse cenário a 
médio prazo. 
Em relação ao fluxo comercial, o principal parceiro do Brasil no BRICS é a China, 
correspondendo a aproximadamente 80% das exportações e importações. Conforme vimos nas outras 
aulas, os chineses ultrapassaram os norte-americanos como os maiores parceiros econômicos do Brasil. 
Outro aspecto a ser mencionado é que enquanto Índia e China lideram, com folga absoluta, o crescimento 
global; Brasil e Rússia possuem apresentaram crescimentos negativos em 2016. 
 
Reuniões de Cúpula do BRICS 
Embora as primeiras articulações do BRICS tenham 
ocorrido entre 2006 e 2007, foi somente em 2009 que 
Chefes de Estado se reuniram, na 1ª Cúpula do BRICS em 
Ecaterimburgo, Rússia. A partir da 3ª Cúpula, realizada em 
Sanya, na China, a África do Sul passou a ser incluída ao 
grupo. Sendo assim, o nome passou de BRIC para BRICS. 
Em 2014, durante a Cúpula no Brasil, foi criado o Novo 
Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do BRICS, 
com sede na China. 
A Cúpula de 2016 foi a primeira que o presidente Michel Temer participou. Nessa época, havia um 
temor de que o novo governo fosse mudar os rumos da política externa brasileira, o que não ocorreu. 
Muito pelo contrário, Temer fez questão de ir à Cúpula e reforçar a prioridade queo BRICS tinha para o 
Brasil. Além disso, reforçou a importância das relações bilaterais do Brasil com a China, a Rússia, a Índia e 
a África do Sul. Portanto, é correto dizer que o governo mudou, mas a política externa não. 
Em 2017, na Cúpula de Xiamen, na China, o fato mais importante é o 1º Relatório do Novo Banco 
de Desenvolvimento. Além disso, merece destaque o relaxamento das tensões entre China e Índia que, 
Logo da 11ª Cúpula do BRICS, prevista para ser realizada 
no Brasil. 
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pouco tempo antes da reunião, desmobilizaram suas tropas militares do Tibete em sinal de conciliação – 
ainda que as tensões continem, houve uma trégua diplomática na ocasião. 
 Nas linhas abaixo, detalharemos a 1ª Reunião de Cúpula (2009), quando foram estabelecidas as 
principais decisões do BRICS; e, a 4ª Reunião de Cúpula (2014), quando foi criado o Banco do BRICS 
2008 – Reunião dos Ministros de Relações Exteriores do BRICS 
Reafirmação do DIP e do multilateralismo como a base das relações internacionais. 
Durante a Primeira Reunião de Ministros das Relações Exteriores do BRICS, uma série de compromissos foi 
firmada. O primeiro deles foi a reafirmação do direito internacional público e do multilateralismo como a 
sendo a base das relações internacionais, um elemento que também aparecia no IBAS e que foi incorporado ao 
BRICS. 
Apoio à admissão de Brasil e Índia como membros permanentes do CSNU. 
Os países do BRICS passaram a apoiar o Brasil e a Índia como membros permanentes do Conselho de 
Segurança da ONU. Trata-se de um apoio de peso da Rússia e da China, duas potências com poder de veto, 
mostrando o quão vantajoso poderia ser para o Itamaraty, a estratégia de investir no BRICS. 
Defesa de um sistema econômico global justo. 
Também foi feita a defesa de um sistema econômico global justo, o que já vinha sendo dialogado no IBAS e no 
G-20. Portanto, nenhuma novidade aqui. 
Apoio à implementação da Estratégia Global contra o Terrorismo da ONU. 
Além disso, houve apoio do BRICS à implementação da Estratégia Global contra o Terrorismo da ONU, uma 
estratégia global que reforçava o multilateralismo no combate ao terror e, deste modo, evitava os excessos 
dos Estados Unidos. Em síntese, todos esses compromissos citados acima têm algo em comum: reforçam o 
multilateralismo, o direito internacional público e a reforma da governança global. 
Após a realização desse encontro de chanceleres, ocorreu a Primeira Cúpula de Chefes de Estado, 
realizada na Rússia, em 2009. Após isso, o grupo mantém uma tradição de se reunir anualmente, cada vez 
em um local diferente. Conforme o quadro abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Reuniões de Cúpula do BRICS 
 
Presidentes Lula (Brasil), Medvedev (Rússia), Hu Jintao (China) e Singh (Índia) na 1ª Cúpula do BRICS, realizada na Rússia, em 2009. A 
África do Sul ainda não estava presente no grupo. 
Primeira reunião de chanceleres – 2008 5a Cúpula dos BRICS – Durban (2013) 
1a Cúpula dos BRICS – Ecaterimburgo (2009) 6a Cúpula dos BRICS – Fortaleza (2014) 
2a Cúpula dos BRICS – Brasília (2010) 7a Cúpula dos BRICS – Ufa (2015) 
3a Cúpula dos BRICS – Sanya (2011) 8a Cúpula dos BRICS – Goa (2016) 
4a Cúpula dos BRICS – Nova Déli (2012) 9a Cúpula dos BRICS – Xiamen (2017) 
 
2009 – Primeira Reunião de Cúpula dos Líderes dos BRICS 
Elevação do G-20 à condição de principal foro de articulação de políticas e ações financeiras. 
Na primeira Reunião de Cúpula dos BRICS – desta vez, com os Chefes de Estado e não somente com os 
chanceleres – foi estabelecido que o G-20 seria o principal foro de articulação de políticas e ações financeiras 
tendo, portanto, seu status elevado. 
Nesse momento, conforme já havíamos mencionado, apesar da crise nos países desenvolvidos, os países 
emergentes estavam em um bom momento econômico. Na Cúpula do G-20, por exemplo, foi acordado que 
5% das cotas do FMI iriam para os emergentes. Essas cotas funcionam como se fossem ações, quanto mais 
um país tem, mais poder decisório possui dentro do órgão. 
Como resultado dessas mudanças, o G-20 se tornou o principal fórum para discussão de políticas econômicas 
após a crise de 2008, deixando o G-7 em segundo plano. 
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A promoção de reforma das instituições financeiras internacionais. 
Também houve a defesa das reforças das instituições financeiras internacionais, assunto que já tratamos 
com exaustão nas últimas aulas. Trata-se, especificamente, da reforma de órgãos como o FMI e o Banco 
Mundial. 
Países desenvolvidos devem destinar 0,7% de seu PIB às ações relativas à Ações Operacionais de 
Desenvolvimento (AOD). 
Os países do BRICS também demandaram 0,7% de seus respectivos PIBs para ações relativas ao 
desenvolvimento. 
Diálogo sobre as mudanças climáticas: "responsabilidades comuns, porém diferenciadas". 
O BRICS também passou a se preocupar com as mudanças climáticas, porém, não da mesma forma que os 
países desenvolvidos. Havia, por parte do grupo, a defesa de responsabilidades comuns, porém, 
diferenciadas. Isso significa que o BRICS, na condição de países emergentes, demandavam condições distintas 
às dos países desenvolvidos no combate ao aquecimento global e aos gases do efeito estufa. 
Por essa lógica, como os países desenvolvidos já haviam desenvolvido suas economias, proporcionado boas 
condições de qualidade de vida a suas populações e promovido desenvolvimento humano adequado, 
estariam em um patamar superior aos emergentes que ainda enfrentavam desafios de combate à pobreza e à 
miséria. 
Ou seja, estando em condições superiores, os desenvolvidos deveriam ter mais responsabilidades. Já os 
emergentes, por estarem em um patamar inferior, deveriam ter suas políticas ambientais mais flexíveis. Foi 
essa a ideia defendida pelo BRICS. 
Adoção da Convenção Abrangente sobre Terrorismo Internacional, no âmbito da ONU. 
Os países do BRICS defenderam a adoção da Convenção Abrangente sobre Terrorismo Internacional no 
âmbito da ONU, basicamente reforçando aquela ideia de que o terrorismo deve ser combatido 
multilateralmente, sem ações unilaterais ou que desrespeitem o primado do direito internacional, ainda em 
crítica à postura dos Estados Unidos no sistema internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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BRICS – Resultados da Cúpula de Fortaleza (2014) 
 
Os líderes do BRICS posam para a foto, em Fortaleza, 2014. Na ocasião, foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), uma 
importante alternativa ao sistema de Bretton Woods. 
Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) 
– US$ 50 bilhões (US$ 10 bilhões de cada Estado). 
– Visa o fomento de obras de infraestrutura. 
Acordo Contingente de Reservas (ACR). 
– Reserva de cerca de US$ 100 bilhões. 
– A China ofereceu US$ 41 bilhões. 
– Brasil, Rússia e Índia disponibilizam US$ 18 bilhões 
cada. África do Sul disponibilizou US$ 5 bilhões. 
A Cúpula do BRICS em Fortaleza merece destaque porque foi nessa ocasião, já com a África do Sul, 
que houve o estabelecimento de dois marcos importantes: o Acordo Contingente de Reservas (ACR) e o 
Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) – também conhecido como Banco de Desenvolvimento dos 
BRICS ou, simplesmente, Banco dos BRICS. Trata-se, ao mesmo tempo, de uma instituição complementar 
e também concorrente do sistema de Bretton Woods, especialmente do Fundo Monetário Internacional 
(FMI). 
O Novo Banco de Desenvolvimento

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