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62 Unidade II Unidade II 5 GLOBALIZAÇÃO Quem poderia imaginar, no início do século XIX, que, após alguns toques, em milésimos de segundos, se poderia conectar o Brasil e a China? Pensando em aspectos práticos, o que uma criança nascida no século XXI pensaria sobre a inexistência da internet? Parece muito sutil pensar que chegamos num mundo globalizado, mas o que de fato é essa globalização? Figura 10 – Avanços tecnológicos: espaço e tempo No início da década de 1990, o processo de globalização ecoou pelo mundo, dado o boom das tecnologias, aproximando em espaço e tempo os atores internacionais. Os avanços tecnológicos ocorridos nos sistemas de comunicação, transportes, telefonia e informática interligaram o espaço geográfico mundial econômica, política, social e culturalmente, sendo considerado esse fenômeno como a Terceira Revolução Industrial. Para Barbosa (2003, p. 12), [...] a Globalização caracteriza‑se, portanto, pela expansão dos fluxos de informações – que atingem todos os países, afetando empresas, indivíduos e movimentos sociais –, pela aceleração das transações econômicas – envolvendo mercadorias, capitais e aplicações financeiras que ultrapassam as fronteiras nacionais – e pela crescente difusão de valores políticos e morais em escala universal. 63 RELAÇÕES INTERNACIONAIS Figura 11 – Mundo globalizado: conexões e formações de redes De acordo com Albuquerque (2005), podemos observar três perspectivas possíveis sobre os efeitos da globalização: perspectiva benigna; perspectiva crítica; e perspectiva pragmática. A primeira perspectiva enxerga que a globalização decorre do aperfeiçoamento científico e tecnológico e, portanto, seria benéfica para a humanidade. Ao enfocar principalmente o avanço e a velocidade nos fluxos comerciais, a perspectiva benigna compreende que a globalização torna as relações internacionais mais transparentes, pois a competição se torna mais aberta. A segunda é intitulada de perspectiva crítica e aponta os resultados negativos da globalização. Entre eles, destaca‑se não só o aumento nas taxas de desemprego, já que muitas empresas mudam seus parques industriais para áreas mais baratas que podem resultar em maior lucro, mas também o processo de desregulamentação, já que a crescente competição pode levar a uma flexibilização das normas em favor de maiores vantagens. Em síntese, o autor aponta que a globalização pode gerar “muitos ganhos para poucos, poucos ganhos para muitos e ganho nenhum, ou até perda, para outros tantos” (ALBUQUERQUE, 2005, p. 93). Por fim, a terceira perspectiva aborda os efeitos da globalização de uma forma mais pragmática, ou seja, trata‑se de uma análise mais cuidadosa do processo que busca identificar os pontos positivos e negativos, o que é irreversível dentro desse processo e o que pode ser alterado. Essa perspectiva se aproxima de uma visão mais realista das relações internacionais e tem como objetivo “confrontar os efeitos da globalização sobre a economia com a percepção dos interesses nacionais” (ALBUQUERQUE, 2005, p. 94). Cabe apontar que há duas formas de compreender o marco histórico da globalização. Para alguns, trata‑se de um fenômeno antigo, que apresenta distintas fases. O que há de diferente na dinâmica que toma forma ao final do século XX é sua exacerbação, seu caráter mais profundo e acelerado. Para outros, o conceito de globalização deve ser restrito ao fenômeno do fim do século passado, sendo precedido de outras dinâmicas. Para a primeira visão, talvez a mais difundida, apesar de o fim da Guerra Fria ter representado um momento de aceleração da globalização – especialmente com os novos meios de comunicação e transporte, a partir do avanço e barateamento das tecnologias –, não se trata de um fenômeno novo. A globalização, de fato, ganhou um caráter mais acelerado e generalizado a partir da década de 1990. No 64 Unidade II entanto, alguns autores apontam que esse foi apenas o início de uma nova fase da globalização, e não o início do processo todo. É possível dividir o processo de globalização em quatro fases: • 1ª fase (século XV‑século XIX): caracterizada pela expansão marítima europeia, que altera a forma de relacionamento entre os Estados, passando de uma lógica mais isolada – inclusive geograficamente –, para uma lógica de maior interação. • 2ª fase (século XIX‑1946): caracterizada pelo aumento do domínio colonial europeu sobre a África e a Ásia, além da consolidação do modelo industrial nos países europeus. • 3ª fase (1947‑1989): período da Guerra Fria, marcado principalmente pelas relações bipolares em termos de zonas de influência. • 4ª fase (1990‑dias atuais): período atual de grande avanço tecnológico e encurtamento das distâncias, seja de informações, bens ou pessoas. Porém, há uma segunda perspectiva, que marca o início da globalização nos anos 1970 e seu aprofundamento nos anos 1990. Arenal (2008) defende essa visão, sustentando que a globalização foi precedida de um outro fenômeno, a mundialização, a qual apresenta seu início em meados do século XV e culmina em princípios do século XX. Segundo o autor, trata‑se de uma dinâmica marcada pela lógica do Estado e de seu poder, com o estabelecimento de fronteiras territoriais estáveis e delimitadas, sendo fundamentada em um domínio do espaço terrestre. Aumentam as interações entre as distintas partes do globo, mas em um sentido de domínio e unificação do tempo a escala planetária. Em suma, é o processo de conformação de uma sociedade internacional de escala planetária. Arenal (2008) defende que a globalização é marcada pela superação do tempo e do espaço como condicionante das relações sociais e por uma lógica de transnacionalização. Em outras palavras, uma lógica que ultrapassa as fronteiras nacionais, salientando assim um marco distinto das limitações impostas pelas demarcações fronteiriças. Por sua vez, a questão do tempo e do espaço diz respeito a como, devido à evolução dos meios de transporte e comunicação, tais categorias não constituem mais barreiras para a interação humana. Nesse sentido, o mundo globalizado caracteriza‑se pela instantaneidade, pela interdependência crescente e pela ubiquidade, ou seja, a capacidade de estar em toda parte no mesmo momento (ARENAL, 2008). Observação Ubiquidade, de acordo com o dicionário Michaelis (2019), representa a “qualidade do que está ou existe em todos ou em praticamente todos os lugares”. 65 RELAÇÕES INTERNACIONAIS Quadro 3 – Mundialização e globalização Mundialização Globalização Domínio e unificação do espaço e do tempo em nível planetário. Superação do espaço e do tempo como marco para interação. Tem início em meados do século XV e culmina em princípios do século XX. Tem início na década de 1970 e aprofunda‑se nos anos 1990. Estados como protagonistas. Destaque aos atores transnacionais. Estabelecimento das fronteiras territoriais bem delimitadas. Superação da determinação das fronteiras territoriais. Exclusividade do Estado sobre território e população. Fim da exclusividade do Estado sobre território e população. Fundamentada no controle dos espaços terrestres. Fundamentada no controle das redes e nichos centrais, como o financeiro, o produtivo, o científico‑tecnológico, o cultural‑religioso. Adaptado de: Arenal (2008, p. 256). De todo modo, pode‑se considerar que há semelhanças entre as duas formas de conceber o marco temporal da globalização. Trata‑se de um processo que assume grande dinamicidade nos anos 1990, estando estreitamente relacionado aos avanços nos meios de transporte e comunicação. Trata‑se de uma lógica que não surge sem nenhum tipo de antecedente, mas que no momento atual se caracteriza por ser transnacional e por estar associada a possibilidades de protagonismo para distintos atores internacionais. Considerando o mercado internacional, o encurtamento do espaço e tempo beneficiou estrategicamente as empresas multinacionais, que passaram a atuar em outros países com o objetivo dereduzir suas despesas e aumentar o seu lucro. Por outro lado, esse deslocamento beneficiou a comunidade que vive em torno da planta instalada, propiciando o emprego ou até mesmo o desenvolvimento da cidade. Ao mesmo tempo em que há a geração de emprego e crescimento, há aqueles que criticam uma dinâmica de exploração, em que as empresas buscam países com poucos direitos trabalhistas assegurados, firmando relações de trabalho que seriam consideradas degradantes no seu lugar de origem. Sobre os aspectos ambientais, podemos citar o recente caso do rompimento da barragem de Brumadinho e o de Mariana, ambos em Minas Gerais. Apesar de ocorrerem em terras brasileiras, o impacto ambiental reverberou pelo mundo. Organizações Não Governamentais exigiram da Vale S.A. providências imediatas e, atualmente, a mineradora responde por inquéritos instaurados. A expressiva dinâmica da modernização a partir do final do século XX concede espaço e maior possibilidade de atuação para outros atores internacionais, para além do Estado. Não significa que o Estado perde a sua relevância ou que esteja desaparecendo, mas que deve lidar com desafios emergentes da atuação de ONGs e empresas, por exemplo. Tais atores não estatais muitas vezes demandam alteração de posturas dos Estados em um mundo interligado e com a comunicação instantânea, o que não significa que atuam necessariamente contra o Estado (CERVO, 2007). Representam, sim, a necessidade de se estabelecerem novas formas de relacionamento e rever funções que eram tidas como exclusividade do Estado desde a formação do sistema de Estados modernos, com a Paz de Vestfália, de 1648. 66 Unidade II Lembrete O Tratado de Vestfália é considerado um marco na construção dos Estados modernos. Ele tem como uma de suas principais características o descolamento do poder da Igreja diante de suas decisões e, por isso, influenciou a sua postura neutra no campo religioso. O Tratado também cuidou de estabelecer a soberania do espaço territorial, bem como o entendimento do direito de governar sem interferência de outro Estado nas políticas domésticas dos outros Estados, nem como do reconhecimento da soberania dos Estados já consagrados. Além desses ordenamentos, Vestfália colocou fim na Guerra dos 30 Anos, trazendo paz na Europa e promovendo, por meio de seus princípios, um ordenamento no Sistema Internacional. Desta forma, Vestfália estabelece o poder do Estado enquanto instituição, e para isso incentiva a construção do Direito Internacional, que estabelece as primeiras regras de convívio entre as nações, promovendo a igualdade de direito para todos. De todo modo, ao mesmo tempo que o processo de globalização é benéfico para uns, outros sofrem. A água mais cara do mundo (Aurum 79) custa hoje uma média de R$ 1,8 milhão por uma garrafa de 500 ml, enquanto 2,1 milhões de pessoas não têm acesso à água potável no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A globalização não atinge a todos do mesmo modo, sendo que alguns aproveitam seus benefícios e outros são excluídos. A lógica de um mundo cada vez mais interconectado deixa mais evidente as diferenças existentes entre ricos e pobres, entre centro e periferia. Stiglitz (2002) aponta que a globalização, apesar dos benefícios que trouxe, não satisfez expectativas de um mundo melhor e acentuou graves problemas. Para o autor, o fenômeno apresenta ligação com a melhora da expectativa de vida ao redor do mundo, o crescimento possibilitado pela abertura do comércio internacional, a ajuda externa e pressões públicas transfronteiriças. Contudo, para uma grande parte do mundo subdesenvolvido, a globalização não trouxe os benefícios econômicos prometidos, persistindo a miséria, a baixa expectativa de vida, a dificuldade de alguns países em obter investimentos externos, o medo de crises financeiras e a instabilidade política. Segundo o autor, a maior crítica à globalização está no fato de que, ainda que as distâncias tenham diminuído e a comunicação tenha se acelerado, os interesses globais estão ainda muito concentrados, o que acaba por marginalizar o mundo em desenvolvimento. Nesse sentido, seria necessária uma reformulação dessa globalização, a fim de que as instituições possam “agir em conformidade com regras justas para toda a sociedade global” (STIGLITZ, 2002, p. 48). A economia mundial impacta ou é impactada pelas políticas econômicas internas. As instabilidades vividas durante o período das eleições ocorridas em 2018 no Brasil sofreram fortes influências externas e foram acompanhadas por governos, empresas e organizações de diversos países. Há rumores de que o Brasil esteve sob os olhos dos Estados Unidos e do Irã, e foi apontado que ganhava força no Brasil uma 67 RELAÇÕES INTERNACIONAIS onda conservadora que já atingira outros países como Estados Unidos, Itália e Hungria e que tendia ao fortalecimento em diversas partes. Enquanto a corrida presidencial ocorria, a migração de venezuelanos foi intensificada no norte do país, chegando ao ponto de forças militares brasileiras e ONGs se unirem para atender à demanda dos refugiados venezuelanos. Observação O termo globalização militar, para Held (apud Silva, 2010), “trata apenas do processo, e os modos, de uma conexão militar que transcende as principais regiões do mundo, e se reflete nas características espaço‑temporais e organizacionais das relações, redes e interações militares”. No caso apresentado, o Brasil enviou o exército brasileiro para a fronteira com a Venezuela para proteger o seu território. Parte da população civil da Venezuela, vendo a crise interna, migrou para o Brasil, com o intuito de obter apoio social para o momento vivido. Do outro lado, o exército venezuelano protegia o seu território, preparando‑se contra uma possível agressão externa. Enquanto isso, do outro lado do mundo, na Síria, continuava a ocorrer uma guerra marcada pelo envolvimento de diferentes países, com origens em clamores populares por democracia, pela atuação de grupos fundamentalistas e pela realização de atos terroristas. Trata‑se de um jogo complexo em que diversos interesses estão colocados, sendo que as repercussões são amplas. Nesse sentido, é originado um movimento de refugiados com destino a diversos países, incluindo o aparentemente distante Brasil. Dessa forma, podemos dizer que a globalização não é homogênea. Ela trouxe consequências importantes na vida de todos, tanto com aspectos positivos quanto negativos. Segundo Barbosa (2003, p. 17), a globalização [...] não pode ser rotulada como necessariamente boa ou má, sendo antes o resultado de um conjunto complexo de fatores econômicos, políticos e sociais que afetam o mundo inteiro, mas não por igual, já que alguns países possuem maior capacidade de intervenção no cenário internacional do que outros. O Sistema Internacional opera em um ambiente complexo e acirrado, onde os atores com maior poder de comando ditam as regras, como enfatizam os realistas. Para os liberais, é possível promover a paz por meio da cooperação entre os Estados, sendo que o fortalecimento da dinâmica de interdependência pode contribuir nesse sentido. Os movimentos observados desde o século XIX – sejam os políticos, de ativistas, de ambientalistas ou feministas – exercem influência na política mundial. Mas é possível haver um controle total, em que seja possível atender a todos de maneira uniforme? Seria possível haver uma constituição universal, que atendesse ao interesse de todos? 68 Unidade II Ainda assim, tal como na economia, a consolidação de uma arena de interação global que transcende os vários países não elimina a diversidade dos sistemas políticos e culturais existentes nem a natureza particular da pobreza e do desemprego, com marca das diferenças entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos (BARBOSA, 2003, p. 15). Portanto, apesar de nenhuma nação ser igual à outra, pode haver dependência mútua ou interdependência, ou seja, um processo em que um protagonistadepende do outro. Mas essa interdependência, geralmente, não é equilibrada. Nye Jr. (2009, p. 251) contextualiza muito bem a interdependência quando a relaciona ao matrimônio. Seja “na riqueza ou na pobreza, ou no melhor ou no pior”, assim são as nações em suas relações de interdependência. Às vezes, mantendo a cooperação para alcançar interesses, às vezes em conflito, para manter a segurança nacional. De acordo com Keohane e Nye (2005), interdependência pode ser definida como dependência mútua, referindo‑se, na política mundial, a situações que geram efeitos recíprocos entre países, ou até mesmo entre atores que se encontram em distintas unidades territoriais. Desse modo, é marcante a presença de efeitos recíprocos de custos, enquanto em um intercâmbio ocorre uma simples interconexão. Pela existência dos custos, a interdependência diminui a autonomia dos envolvidos, mas não é possível determinar a priori se os benefícios prevalecerão. Ressalta‑se que a interdependência não implica em um nível igual de dependência entre todos os envolvidos, podendo ser assimétrica. As assimetrias que existem em uma dependência proporcionam meios de influência para os atores nos seus vínculos com os demais e nas disputas internacionais. Assim, a interdependência assimétrica constitui uma fonte de poder ao se considerar a sensibilidade e a vulnerabilidade. De acordo com Keohane e Nye (2005), a primeira pode ser social, política ou econômica e pressupõe interações dentro de um quadro constante de política, implicando então em graus de respostas dentro de determinada infraestrutura. Em termos de custos da dependência, significa encontrar‑se sujeito a esses antes que políticas possam ser adotadas para provocar mudanças na situação. Já a vulnerabilidade diz respeito aos custos das alternativas que os atores encontram e baseia‑se na disponibilidade relativa de recursos. É aplicada tanto a relações sócio‑políticas quanto político‑econômicas e pode ser entendida como o fato de certo ator, mesmo com mudanças de políticas, continuar experimentado custos impostos por fatores externos. Embora os dois conceitos sejam proeminentes ao se tratar de política, a vulnerabilidade é particularmente relevante para o entendimento da interdependência, pois se existe a possibilidade de um ator reduzir seus custos pela mudança de políticas, a sensibilidade não pode ser tomada como um indicador forte de recursos de poder (KEOHANE; NYE, 2005). Além disso, a interdependência de vulnerabilidade pode ser manipulada para se tornar um instrumento de poder. 69 RELAÇÕES INTERNACIONAIS Exemplo de aplicação Leia o texto a seguir e reflita sobre os impactos da globalização para o Brasil. Com a Globalização, o mundo produz mais, diz Scheinkman – por Flávia Furlan Um dos mais respeitados economistas brasileiros no exterior, o carioca José Alexandre Scheinkman afirma que a maior integração global traz benefícios que nem sempre são percebidos. Hoje, o fato de as empresas serem capazes de aproveitar o que cada país oferece de melhor, formando uma cadeia de produção global, aumenta a produtividade e favorece a todos. Para ele, que é professor na Universidade Colúmbia e professor emérito na Universidade Princeton, nos Estados Unidos, os países precisam investir na qualificação dos trabalhadores que perderam o emprego nesse processo. “As pessoas se esquecem de que estamos produzindo mais com menos quantidade de trabalho. Isso é bom para a sociedade como um todo”, diz. Qual é a maior contribuição da globalização? Um dos aspectos mais importantes é a facilitação do comércio internacional e do investimento. Isso permite que os países aproveitem suas vantagens comparativas, ou seja, ampliem as atividades que fazem bem e reduzam as que fazem mal. O comércio internacional também possibilita uma divisão da produção, o que leva a um ganho de escala e permite que investidores e firmas estrangeiras tragam para o país técnicas e métodos de produção mais eficientes. É algo muito benéfico para a economia. Por que esse benefício não chega a toda a população? Os economistas imaginavam que, havendo um ganho líquido, seria possível compartilhá‑lo. Mas na prática isso nem sempre acontece, prejudicando uma parcela da população. Nos Estados Unidos, esse grupo é formado por pessoas menos escolarizadas que ganhavam salários altos em comparação com trabalhadores de outros países. Nos anos 60, um americano que terminava o ensino médio e morava em Detroit poderia conseguir emprego numa montadora e ter uma vida próspera. Hoje, ele ficaria com os empregos de pior qualidade. Por isso, muitos estão decepcionados. Mas as pessoas se esquecem de que estamos produzindo mais com menos quantidade de trabalho. Isso é bom para a sociedade como um todo. O ideal é que os governos compensem aqueles que perderam o emprego, ajudando‑os a estudar ou a se aposentar. Mas isso não foi feito, com algumas exceções. Quais são as exceções? Luxemburgo é um exemplo. O país tinha uma economia baseada na produção do aço. De repente, por causa da competição japonesa, nas décadas de 60 e 70, a indústria perdeu competitividade. O país, então, investiu em treinamento e se estabeleceu como um centro financeiro mundial, uma espécie de backoffice da Europa. Por que os demais países não seguiram o exemplo? No caso americano, há uma resistência forte a todo tipo de intervenção do Estado. O governo americano teria de aumentar os gastos e cobrar mais impostos para ajudar as pessoas prejudicadas. 70 Unidade II Mesmo no Brasil, que é muito menos globalizado, houve setores que sofreram a concorrência estrangeira, e o país não fez nenhum programa de recolocação de trabalhadores. O Brasil perdeu ou ganhou com a globalização? Os países que mais se beneficiam são aqueles que estão ativamente perseguindo uma integração com o resto do mundo. Os países perdedores são os que não fizeram esse movimento. No caso do Brasil, não é que o país perca com isso, mas ganha menos do que poderia porque faz menos esforço para se integrar com o resto do mundo. Qual seria o melhor caminho para o Brasil? Deveria se integrar mais à economia mundial. Infelizmente, essas coisas acontecem em ondas. Houve uma época em que era relativamente fácil se integrar ao resto do mundo. Hoje, com Donald Trump na Presidência, a impressão é que os Estados Unidos estão muito menos interessados em ampliar sua integração mundial. Eu não perderia tempo tentando fazer acordos comerciais com os Estados Unidos agora. Não parece um bom uso do tempo. Há, evidentemente, como fazer acordos com outros países, como os da União Europeia ou o Reino Unido. No fundo, a globalização só aumenta a necessidade de o Brasil fazer aquilo que precisa fazer há muito tempo: educar a população, criar um sistema de produção de tecnologia e oferecer condições para que as pessoas possam investir e produzir bem. Estamos atrasados? Há setores que conseguiram fazer isso bem, como o agronegócio. O agronegócio é eficiente, é altamente tecnológico e consegue competir com o mundo inteiro. Mas isso não surgiu de repente. É resultado de investimento em pesquisa. Acho que o Brasil precisa repetir o que fez na agricultura em outros setores. Por que há tanta resistência? Vários setores se beneficiam do fato de o Brasil se manter um país fechado, e eles têm muito poder político. A indústria automobilística brasileira é um exemplo. Ela defendeu várias medidas protecionistas para proteger sua produção local. Não é uma surpresa. Em qualquer país do mundo, existem setores assim. Mas certos sistemas políticos conseguiram diminuir a dependência desses setores. É mais fácil fazer essas reformas agora que o mundo voltou a crescer? Todo momento é bom para tomar essas medidas. Agora talvez seja o momento mais fácil. À medida que os países crescem, aumenta a arrecadação de recursos pelos governos. Se eles souberem gastar esses recursos de uma maneira melhor, poderão de fato fazer mais pelas pessoas, para enfrentar uma fasede transição. Fonte: Furlan (2018). 71 RELAÇÕES INTERNACIONAIS 5.1 Interdependência Os sistemas financeiros de vários países determinam regulamentações de modo a proteger a economia interna. Como exemplo, podemos citar os conflitos comerciais entre Estados Unidos e China, bem como a saída do Reino Unido da União Europeia. Apesar de ocorrerem em determinadas nações, impactam a economia mundial, gerando um ambiente de incertezas. Em outras palavras, o risco de recessão na Europa e a desaceleração no ritmo do crescimento da China são fatores relevantes não apenas para esses locais, mas para a economia mundial. Por outro lado, essa desaceleração global propicia um ambiente favorável para países emergentes. Em 2019, houve um aumento no fluxo de capitais nos países emergentes, em comparação ao ano de 2018. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2019), [...] os preços de commodities caíram 13,5% no último trimestre de 2018, refletindo o temor de uma desaceleração mais forte da economia mundial, além de fatores particulares a commodities específicas, como o petróleo. Em janeiro e fevereiro de 2019, contudo, houve recuperação nesses preços – novamente em razão da combinação de condições financeiras menos apertadas no mercado internacional com fatores específicos a determinados mercados (como o do petróleo, mas também o de minério de ferro, devido ao acidente em Brumadinho, Minas Gerais). Observação Commodities é um termo em inglês que significa “mercadorias”. Referem‑se aos produtos de baixo valor agregado: matérias‑primas como soja, café, petróleo, madeira, energia, minério de ferro, algodão, borracha, entre outros. Voltemos ao caso de Brumadinho. O rompimento da barragem da mineradora Vale, em Minas Gerais, além de ter um grande impacto ambiental, pois espalhou rejeitos de minério, devastando 133,27 hectares de vegetação nativa – segundo o Ibama (2019) –, também impactou o mercado internacional, pois o minério de ferro é um commodity. Pode‑se identificar a interdependência econômica ocorrida, pois houve escolhas políticas sobre valores e custos e uma interdependência ecológica, já que uma vegetação nativa foi devastada. Segundo John Aston (apud NYE JR., 2009, p. 252), “não existe essa coisa de clima estável para um país ou um continente a menos que o clima seja estável para todos. A segurança é um patrimônio público mundial”. A redução da produção do minério de ferro no Brasil impactou o valor dele no mercado mundial, uma vez que a interrupção reduziu a oferta. 72 Unidade II Figura 12 – Preço do minério de ferro (em CNY/tonelada) Estrategicamente, o banco central americano (Federal Reserve Board), observando o mercado, passou a ser menos agressivo na elevação de juros em 2019. Essa mudança levou a uma estabilização do dólar, recuperando o preço da commodity. Figura 13 – CRB e DXY O petróleo, por exemplo, teve grandes variações de preço no último trimestre. Em 2015, um acordo entre grandes potências e o Irã definia que o programa nuclear do Irã focaria em pesquisas para fins pacíficos. Em contrapartida, isso beneficiou o retorno do fornecimento de petróleo do Irã aos mercados mundiais. No final de 2018, Donald Trump se retirou desse acordo, depois de pressionar o Irã para que reduzisse o programa nuclear e deixasse de apoiar militantes contra o Oriente Médio. Para tanto, em 2019, eliminou as medidas que isentam alguns fornecedores de petróleo, a fim de que o fornecimento permaneça adequado. Tal decisão impacta a economia iraniana, pois reduz as exportações de petróleo iraniano. Na América Latina, a crise política na Venezuela reduziu também a produção do petróleo, sendo um fator de preocupação mundial. Para manter o fornecimento, a Arábia Saudita coordenará os fornecedores, buscando manter o mercado equilibrado. 73 RELAÇÕES INTERNACIONAIS Observam‑se os custos da interdependência causada pelo petróleo. Apesar de sensíveis à redução de fornecimento do petróleo, que ocasionou o aumento dos preços do petróleo, os Estados Unidos não estão vulneráveis, pois mudaram as regras do jogo para escapar dos custos dessa interdependência. Por outro lado, o Irã ficou vulnerável. O cenário apresentado não é tão diferente do que aconteceu em 1973, quando ocorreu a primeira crise do petróleo. Os Estados Unidos dependiam da importação da energia, mas o grau de dependência do Japão para essa commodity era maior. Em 1979, quando Mohammad Reza Pahlavi, xá iraniano, foi deposto, a produção nacional de petróleo ficou desestabilizada, porém a demanda estava elevada. De acordo com Nye Jr. (2009, p. 255), [...] a perda do petróleo iraniano fez com que a quantidade total de petróleo nos mercados mundiais caísse cerca de 5%. Os mercados estavam sensíveis, e a escassez de oferta causou um aumento acelerado nos preços do petróleo. No entanto, os americanos puderam reduzir 5% de seu consumo de energia simplesmente baixando seus termostatos e dirigindo a até 90 quilômetros por hora. Parece que os Estados Unidos estavam sensíveis, mas não tão vulneráveis se puderam evitar o prejuízo com medidas tão simples. Observa‑se nos relatos acima a importância do petróleo, tanto em aspectos políticos quanto em aspectos econômicos. Estamos na era da informação e, no geral, as matérias‑primas não são essenciais na economia atual como foram na era industrial. De todos os commodities, o petróleo é, sem dúvida, o mais importante no mundo. As bacias petrolíferas estão espalhadas pelo mundo, mas a maior concentração encontra‑se no Oriente Médio. Não é à toa que o Oriente Médio é palco de conflitos constantes. Manter um controle geopolítico sobre a região dá maior poder de controle na economia mundial. Em 1971, a maior produção de petróleo era dos Estados Unidos, que nessa época mantinham o seu arsenal militar envolvido na Guerra do Vietnã, enquanto a Grã‑Bretanha, com dificuldades na economia, recuou de seus compromissos de defesa internacionais. Estrategicamente, os Estados Unidos usaram o Irã como hegemonia regional, pois precisava importar petróleo. É nesse momento que a Arábia Saudita, com o Irã, passa a deter o poder de equilíbrio do mercado petrolífero. A Arábia Saudita é a primeira produtora da lista atualmente. Outros países produtores são Estados Unidos, Venezuela, Rússia, China, Irã, México, Canadá, Emirados Árabes, Brasil, Nigéria, Iraque, Noruega, Equador, Líbia, Cazaquistão, Argélia, Ásia Central e a costa ocidental da África. Para Nye Jr. (2009, p. 266), o petróleo também é um problema que ilustra aspectos tanto de realismo quanto de interdependência complexa. Em 1960, foi criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que regulamenta a venda e a produção de petróleo nos países que integram a organização. O valor do petróleo nesse período era estabelecido considerando a produção das grandes companhias transnacionais de petróleo e quanto os países ricos, que demandavam do minério, podiam pagar. Dessa forma, o Sistema Internacional era controlado pelas grandes potências militares, tornando perene o mercado do petróleo. 74 Unidade II Depois da Crise do Petróleo, em 1973, os países produtores passaram a estabelecer a taxa de produção do petróleo. Isso mudou drasticamente o regime internacional de controle do minério, uma vez que o preço não era mais estabelecido considerando apenas a demanda dos países ricos. Nye Jr. (2009) aponta que o regime internacional foi afetado pelo equilíbrio do poder global, pelo equilíbrio de poder na questão do petróleo e pelas instituições internacionais. Nesse período, observou‑se uma expansão do mercado mundial, quando empresas multinacionais e, mais adiante, as transnacionais passaram a buscar os mercados externos para atuar. Países como o Kuwait e a Arábia Saudita aprenderam a explorar o petróleo e também a manusear as estações de bombeamento e as docas de carregamento (NYE JR., 2009). Com a tecnologia e o conhecimento necessário para a exploração do petróleo, ospaíses mais pobres passaram a exigir maior participação nos lucros. Observação Multinacional: possui filiais em outros países, porém o poder de decisão é centrado no país de origem. Transnacional: possui filiais em outros países, mas possuem autonomia de decisão. Com o aumento exorbitante do preço do petróleo e o fato de a Opep não conseguir frear esse aumento, as companhias de petróleo se viram obrigadas a atenuar a crise. Os Estados Unidos ameaçaram empregar a força e foi embargado com a redução em 25% das exportações. Era iminente que um conflito econômico passasse a ser militar (NYE JR., 2009). Atualmente, os países que compõem a Opep são: Arábia Saudita, Angola, Argélia, Catar, Equador, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria e Venezuela. Mesmo que o discurso ideológico seja o de manter preços justos e estáveis, sabe‑se que 75% das reservas mundiais de petróleo encontram‑se nos países que integram a Opep, que controla o mercado mundial em prol das exportadoras de minério, afetando diretamente a economia dos países importadores do petróleo. Exemplo de aplicação Leia o texto a seguir e reflita sobre a globalização. É hora de sair em defesa da globalização Menos miseráveis Os indicadores das últimas décadas comprovam: a globalização fez bem ao mundo. O sinal mais claro é a redução da miséria. Em 1990, vivia na pobreza extrema 1,9 bilhão de pessoas. Em 2015, eram 700 milhões, sendo que a população mundial cresceu 40% no período. Também a economia global multiplicou de tamanho. Em menos de 40 anos, ela passou de 11 trilhões de dólares para 76 trilhões em 2106. Parte dessa riqueza foi gerada pelo avanço do comércio exterior e dos investimentos estrangeiros – 75 RELAÇÕES INTERNACIONAIS ou seja, pura globalização. As trocas de bens e serviços já responderam por 56% do PIB global e o volume de investimento direto no mundo subiu de 50 bilhões de dólares, em 1980, para 2,3 trilhões, em 2016. À luz da teoria econômica, não chega a ser surpresa. Os economistas suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin formularam a chamada “teoria do comércio internacional” nos anos 30, apontando ganhos mútuos entre países que se empenhassem na abertura comercial. A ideia era simples: os países tendem a se especializar na fabricação dos produtos em que têm vantagens comparativas. Não se trata, porém, de apenas vender mais, mas também de fazer melhor. Um estudo recente da OCDE, o clube dos países ricos, mostra que há espaço para aumentos de produtividade e ganhos reais de salários com mais integração das economias. De acordo com a OCDE, a média anual de elevação da produtividade nos países‑membros do clube, que foi de 0,5% de 2008 a 2015, poderia chegar a 0,8% em 2025 – taxa similar à do período 1998‑2007, antes da grande crise financeira. Parte da solução está na remoção dos obstáculos ao comércio internacional. A globalização também intensificou a difusão tecnológica entre as nações. No passado recente, o desenvolvimento da inovação local era peça importante para ter uma indústria competitiva – o que acabava ocorrendo somente nos países desenvolvidos. Com a crescente globalização, o esforço local tornou‑se menos importante. Uma pesquisa da Universidade Xavier, em Ohio, nos Estados Unidos, mostra que hoje a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico feitos no exterior respondem, em média, por 55% dos ganhos de produtividade doméstica nos países mais inovadores do mundo. O índice chega a 90% quando se trata de países emergentes. Ou seja, a parcela de tecnologia estrangeira embarcada nos produtos e serviços faz com que os países sejam mais ou menos eficientes. Por muito tempo também, a globalização foi vista como uma batalha que definia os países ganhadores e perdedores. Mais recentemente, foi adicionado à discussão um novo elemento, e que não tem nada a ver com a globalização. O desemprego tecnológico e seus reveses deram novos argumentos aos movimentos antiglobalização. Mais uma vez os dados mostram uma história diferente. As evidências são de que, em vez de acabar com os empregos de gente capacitada, a globalização tem valorizado esses profissionais. De 1995 a 2010, a demanda por profissionais das ocupações chamadas “abstratas”, altamente especializados, cresceu, em média, 20% nos países da União Europeia, segundo dados da OCDE. Para quem cumpre tarefas repetitivas, o efeito foi inverso: houve queda de 20% nos empregos. É verdade também que os efeitos negativos da globalização nunca haviam reverberado de forma tão eloquente em Davos, considerado o templo do liberalismo, neste ano com o recorde de 3.000 participantes da elite política e econômica – entre eles 70 chefes de Estado e centenas de presidentes de grandes empresas, como Sundai Pichai, do Google. Anos atrás, ali seriam ignorados relatórios com os da britânica Oxfam, ONG que primeiro divulgou seu balanço anual de desigualdade, segundo o qual 82% da riqueza mundial gerada de setembro de 2016 a setembro de 2017 ficaria nas mãos de 1% mais rico da população. Governar a globalização O que fazer, então? A questão da globalização se assemelha à da democracia. O sistema é imperfeito, precisa ser aprimorado, mas é melhor com ele do que sem ele. Ou alguém prefere viver num mundo mais restrito na circulação de bens, serviços, tecnologias e pessoas? Em Davos, emergiu a ideia de que a única 76 Unidade II solução e “governar a globalização”. Controlar seus excessos e levar adiante reformas estruturais que garantam um crescimento de longo prazo robusto, inclusive sustentável. “Precisamos mudar o contrato social no mundo. E não se muda o contrato social dando mais dinheiro aos bilionários à custa da classe média, como fez Donald Trump com sua recente reforma tributária. Nem atacando os outros países ou fechando as fronteiras”, disse a EXAME o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz. Uma das saídas apontadas é mais cooperação internacional. Ou seja, mais globalização. E, se os países desejam agir localmente contra os reveses que colocam suas economias em risco, a melhor aposta é em educação e treinamento da mão de obra para as competências que serão exigidas no futuro. “A proficiência digital está aumentando a diferença entre as pessoas que tem sucesso e as que são deixadas para trás. O mundo não precisa e 2 bilhões de engenheiros da computação, mas de profissionais mais criativos e inovadores”, diz Devin Wening, presidente do site de comércio eletrônico eBay. Eis uma trilha mais promissora para a prosperidade do que um recrudescimento de velhas políticas. Adaptado de: Cauti (2018). 5.2 Lideranças e instituições mundiais O cenário econômico mundial é orquestrado pelas grandes potências. Em geral, as políticas que são estabelecidas pelo Estado com maior poder ditam as regras de como caminhará a economia mundial. Quando a Grã‑Bretanha detinha essa posição, propiciou a abertura de mercado, permitindo a livre navegação nos mares. Após a luta contra a Alemanha, na Primeira Grande Guerra, a Grã‑Bretanha perde a posição para os Estados Unidos, que passam a comandar a economia mundial. Ingenuamente, os Estados Unidos consideravam que podiam seguir sozinhos. Não obstante, após a Segunda Guerra Mundial, aprenderam com a lição anterior. Na Conferência Internacional em Bretton Woods, instituições foram criadas para manter a abertura no mercado internacional (NYE JR., 2009). O FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), a OMC (Organização Mundial do Comércio) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) propiciaram um aumento da interdependência econômica, abrindo o mercado de atuação de empresas multinacionais e transnacionais privadas. Vale ressaltar que o FMI foi dirigido por um banco europeu e o Banco Mundial, por americanos. Ou seja, até que ponto essas instituições visavam o bem comum, e não estabeleciam regras que beneficiassem os países ricos? (NYE JR., 2009). A seguir, analisaremos de modomais detido algumas dessas Organizações Internacionais e a forma como elas impactam as relações internacionais. 6 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS As Organizações Internacionais possuem um papel muito importante não apenas nas relações internacionais, mas também na nossa realidade social, já que muitas das normas que influenciam nossa vida cotidiana em alguma medida são debatidas ou criadas nesses âmbitos – como convenções sobre mudanças climáticas, discriminação e violência, entre outros. Portanto, para melhor compreender questões políticas, econômicas, militares ou culturais nas relações internacionais, é importante analisar 77 RELAÇÕES INTERNACIONAIS o papel dessas Organizações Internacionais, como elas surgiram, assim como a estrutura e os objetivos de algumas das principais OIs. É possível definir as OIs como organizações formadas voluntariamente por Estados, possuidoras de alto grau de institucionalização e que buscam promover a cooperação internacional, usualmente com enfoque em áreas determinadas. As Organizações Internacionais devem conter um instrumento jurídico básico que estabeleça seus objetivos, estrutura e procedimentos operacionais. Além disso, possuem caráter permanente, contando com aparatos burocráticos, orçamentos e localizações físicas (HERZ; HOFFMANN, 2004). O caráter permanente das OIs é um aspecto importante a se destacar, porque os processos seriam muito lentos e pouco efetivos se fosse necessário criar – ou recriar – uma Organização Internacional sempre que ocorresse um novo conflito ou tensão no cenário internacional. Imagine como seria ter que pensar toda a estrutura da organização – quem faria parte, quem coordenaria as ações e sob quais normas – enquanto o conflito internacional vai se tornando cada dia mais grave. O fato de já existirem sedes físicas e estruturas predefinidas em constante operação facilita um acionamento rápido desses atores internacionais e possibilita maior eficiência. No que se refere ao papel das Organizações Internacionais, é fundamental levar duas questões em consideração. A primeira diz respeito ao caráter anárquico do Sistema Internacional, ou seja, à ausência de uma entidade supranacional capaz de impor aos Estados um determinado arcabouço jurídico de normas e procedimentos. Nesse ambiente internacional anárquico, em que pode prevalecer a lógica da competição, as Organizações Internacionais cumprem o papel de espaço de mediação entre os Estados, podendo oferecer parâmetros de atuação (PECEQUILO, 2012, p. 757). As OIs criam uma forma institucionalizada de cooperação no âmbito internacional, com espaço para diálogos e troca de conhecimentos. São fruto, então, do desejo de diferentes Estados de encontrar soluções para problemas comuns, agravados pela acentuada complexidade do mundo atual, no qual as fronteiras estatais parecem estar cada vez mais porosas e que exigem um novo tratamento de questões antes consideradas de competência exclusivamente do Estado. Lembrete Isso pode parecer contraditório, já que a própria definição de Organização Internacional exposta anteriormente fala justamente em instrumentos jurídicos básicos e procedimentos operacionais. No entanto, a adesão dos Estados não é obrigatória e, mesmo aqueles que se tornam membros dessas OIs, não perdem sua soberania. Ou seja, ainda que tenham assinado e ratificado sua participação em uma Organização Internacional, caso queiram, os Estados podem agir de modo contrário ao que essa OI propõe. Isso ocorre porque as Organizações Internacionais podem apenas causar constrangimentos e aplicar sanções aos Estados, mas nunca podem impedir que eles adotem determinadas ações. 78 Unidade II A segunda questão a ser considerada sobre as OIs diz respeito à sua legitimidade. Herz e Hoffmann (2004) apontam que as Organizações Internacionais se tornam legítimas por meio da adesão dos Estados e do reconhecimento do seu aparato técnico de qualidade. Além disso, as OIs também desempenham um importante papel na legitimação de normas e regras no âmbito internacional, uma vez que oferecem espaço para que essas normas e regras sejam discutidas de modo mais plural e participativo do que seriam, caso fossem elaboradas em nível bilateral ou regional. Usualmente, as OIs são sistematizadas a partir de mecanismos de cooperação mais simples e específicos, bilaterais ou regionais, a partir dos quais ocorre um processo de institucionalização mais robusto. Em outras palavras, a maioria surge a partir de mecanismos estabelecidos entre um grupo de Estados com o objetivo de promover maior estabilidade nesse cenário e que, com base nesse arcabouço, se expandem e se institucionalizam em Organizações Internacionais de caráter permanente. Entre esses mecanismos, podemos destacar: • Mecanismo ad hoc: mecanismo de cooperação extra‑regular voltado para um problema específico e que possui um tempo determinado para permanecer em operação. Ou seja, uma vez resolvido o problema, o mecanismo se estingue. • Mecanismo multilateral: mecanismo de coordenação entre três ou mais Estados, regido por um conjunto de princípios, como a não discriminação, a indivisibilidade ou a reciprocidade entre os Estados‑membros. • Aliança militar: coalizão de Estados formada para enfrentar um inimigo real ou potencial, agregando forças militares e outros recursos para a defesa coletiva, seja de modo defensivo ou ofensivo. • Segurança coletiva: sistema baseado no compromisso de uma reação coletiva no caso de ameaça à paz ou à segurança de qualquer Estado‑membro. Conforme já debatido, as OIs podem ser compreendidas como atores das relações internacionais, na medida em que possuem relativa autonomia em relação aos Estados‑membros, além de possuírem personalidade jurídica de acordo com o direito internacional público. No entanto, elas também podem ser compreendidas como espaço de atuação de outros atores – em sua maioria, os próprios Estados‑membros –, ou como mecanismos para a promoção da cooperação e/ou constrangimento para haver respeito às normas por parte de outros atores. Esse constrangimento pode ocorrer por meio de pressão política, imposição de sanções ou mesmo emprego da força militar, em alguns casos (HERZ; HOFFMANN, 2004). Mingst (2006) sistematiza que, no Sistema Internacional, as OIs podem contribuir para hábitos de cooperação, dedicar‑se à coleta de informações, auxiliar na resolução de disputas, realizar atividades de caráter operacional, servir como palco para negociações e contribuir para a criação de regimes internacionais. Por outro lado, as OIs podem ser utilizadas pelos Estados como instrumento de política externa ou para legitimar tal política, pois atuam com a finalidade de melhorar as informações disponíveis para os Estados e causam constrangimentos àqueles Estados que agem de modos considerados ilegítimos. 79 RELAÇÕES INTERNACIONAIS De modo geral, é possível remontar à existência de Organizações Internacionais desde a Liga de Delos, criada para facilitar a cooperação militar entre as cidades‑Estado da Grécia Antiga. No entanto, apesar de essas iniciativas ocorrerem há muito tempo, é possível também notar as dificuldades de colocá‑las em prática. Como exemplo, podemos citar a proposta de Henrique IV e de seu ministro Duque de Sully, ainda no início do século XVII, que sugeriram a “formação de uma instância internacional centrada na ideia de um sistema de arbitragem permanente onde os soberanos deveriam resolver suas pendências sem o recurso da guerra” (SATO, 2003, p. 164). Quase um século depois, o Abade de Saint‑Pierre retomou essa proposta de modo mais elaborado e sugeriu um “Projeto de paz perpétua”. Mas foi apenas com o fim das guerras napoleônicas que as grandes potências conseguiram construir algo similar à inciativa, que ficou conhecido como Concerto Europeu. Entretanto, [...] esse arranjo não apresentava, nem de longe, o grau de institucionalização contido na proposta de [Abade de] Saint‑Pierre e nem tinha a pretensão de seconstituir num tribunal arbitral internacional. Os reinos, especialmente os mais poderosos, manteriam sua soberania de forma plena, aceitando apenas a ideia de que suas demandas poderiam ser discutidas em encontros de governantes e de plenipotenciários e que a busca do consenso passaria a figurar entre os objetivos da diplomacia. O Concerto Europeu, portanto, apresentava um nível muito baixo de institucionalização e, formalmente, seus participantes praticamente não tinham qualquer obrigação, dever ou mesmo custo derivado de sua participação no arranjo, a não ser o de discutir suas demandas com as demais potências (SATO, 2003, p. 165). O fim do Concerto Europeu é marcado pelo início da Primeira Guerra Mundial, que culmina na criação da Liga das Nações, discutida com mais detalhes a seguir. Diferentes perspectivas teóricas entendem o papel e as possibilidades das Organizações Internacionais de modo distinto. Os autores liberais consideram que a racionalidade humana faz com que seja possível transformar relações sociais e progredir. Essa tradição fundamenta, assim, as propostas de geração de maior cooperação e ordem no Sistema Internacional por meio de OIs e do direito internacional, que proporcionariam um limite ao exercício de poder estatal (HERZ; HOFFMANN, 2004). O realismo considera que o Estado busca maximizar seu poder em um Sistema Internacional marcado pela anarquia, em que prevalece a falta de confiança. Não se vislumbra possibilidade de acentuada transformação desse quadro, o qual dificulta a cooperação. Assim, o realismo critica a perspectiva de que OIs possam mudar aspectos relevantes do Sistema Internacional. Autores realistas enfatizam que as OIs não dispõem de poder ou autoridade para fazer cumprir suas decisões e que os Estados obedecem normas de acordo com seus interesses nacionais (HERZ; HOFFMANN, 2004). Desse modo, tais organizações refletem a distribuição de poder no Sistema Internacional e são instrumentos dos Estados poderosos, os quais as utilizam para atingir seus objetivos, como sintetizam Herz e Hoffmann (2004). 80 Unidade II Saiba mais Sugestão de leitura sobre Organizações Internacionais: SEITENFUS, R. Manual das Organizações Internacionais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. 6.1 Liga das Nações A Liga das Nações – também conhecida como Sociedade das Nações – foi a primeira Organização Internacional de escopo global composta por Estados soberanos. Com sede na Suíça, a Liga das Nações foi criada após o final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, e tinha como objetivo principal instituir um sistema de segurança coletiva para promover a cooperação e garantir a paz internacional. Em outras palavras, a Liga das Nações tinha como base a noção de que os Estados se uniriam para evitar um conflito de proporções tão grandes como havia sido a Primeira Guerra Mundial. A estrutura da Liga das Nações era composta pelos seguintes órgãos: • Assembleia: espaço de debate aberto a todos os Estados‑membros que avaliava questões que afetassem a paz internacional. • Secretariado: responsável pelas funções administrativas e burocráticas. • Sistema de Mandatos de Territórios não autônomos: que abordava as questões relacionadas às colônias ou demais territórios sob tutela de outros Estados. • Corte Permanente de Justiça Internacional: buscava solucionar controvérsias entre Estados‑membros por meios pacíficos. • Conselho Executivo: buscava gerir as discussões no âmbito da Liga com o intuito de adotar decisões de forma rápida. Vale destacar que, motivada pelo contexto de euforia, a estrutura do Conselho Executivo da Liga das Nações refletia a conjuntura específica daquele período, tendo em vista que os países aliados vencedores da guerra é que garantiam assento permanente. De acordo com Scelles (1927 apud COELHO, 2014, p. 7), o Conselho repousava na força e na coesão das grandes potências, com o intuito de garantir a cooperação e a paz internacional por meio do sistema de segurança coletiva. De início, os países com assento permanente seriam Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália e Japão. No entanto, os Estados Unidos nunca ratificaram sua adesão à Liga e, portanto, nunca fizeram parte da organização. Inicialmente, o Conselho era composto também por quatro membros não permanentes – sendo que os primeiros a ocupar tais assentos foram Bélgica, Brasil, Espanha e Grécia –, mas esse número foi alterado ao longo do tempo e chegou a 11 membros não permanentes. 81 RELAÇÕES INTERNACIONAIS Apesar de alguns casos de sucesso terem aumentado a expectativa acerca do papel da Liga das Nações na prevenção de novos conflitos e na cooperação internacional – como a defesa da soberania da Albânia em 1921 e o ingresso da Alemanha em 1926 –, alguns eventos fizeram com que a credibilidade da organização fosse cada vez mais questionada. O primeiro foi justamente a não ratificação dos Estados Unidos, tendo em vista que o ex‑presidente Woodrow Wilson havia sido um dos grandes idealizadores da Liga. Outro golpe que feriu a credibilidade da organização foi a saída de diversos membros entre o final dos anos 1920 e 1930. O primeiro país a se desligar da Liga das Nações foi a Costa Rica, apontando dificuldades orçamentárias em 1925, acompanhada pelo Brasil, que no ano seguinte também se retirou da organização, principalmente por sua demanda por um assento permanente no Conselho Executivo não ter sido atendida. Só na década de 1930, outros oito países latino‑americanos se retiraram da Liga das Nações, frequentemente argumentando que a organização se preocupava pouco com as tensões na região da América Latina (CPDOC, 2019). Ademais, a pouca efetividade da Liga em lidar com sucessivas agressões por parte dos regimes nazifascistas – como a invasão japonesa ao território chinês da Manchúria em 1931 e a escalada de violência durante a guerra civil espanhola (1936‑1939) – também colocaram em xeque a eficácia da Organização Internacional (CPDOC, 2019). Dando sequência ao esvaziamento da Liga das Nações, Alemanha e Japão se retiraram em 1933, enquanto a Itália saiu em 1937, o que culminou em um Conselho Executivo reduzido apenas à França e ao Reino Unido. Por fim, o início da Segunda Guerra Mundial foi o golpe final à já fragilizada credibilidade da Liga das Nações, pois deixava claro seu fracasso em garantir a paz internacional. Em 1946, ela foi oficialmente desativada e seus arquivos e instalações foram transferidos para a instituição que a sucedeu, a ONU. 6.2 ONU (Organização das Nações Unidas) Idealizada ainda durante a Segunda Guerra Mundial, a ONU foi oficialmente fundada em 24 de outubro de 1945, quando a maioria dos seus signatários ratificou a Carta de São Francisco, estabelecendo como propósitos manter a paz e a segurança internacionais; desenvolver relações amistosas entre as nações; realizar a cooperação internacional para resolver os problemas mundiais de caráter econômico, social, cultural e humanitário; e ser um centro destinado a harmonizar a ação dos povos para a consecução desses objetivos comuns (ONU BRASIL, 2019c). Esses propósitos podem ser observados já no prefácio da Carta, reproduzido a seguir: Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que, por duas vezes no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes de direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma 82 Unidade II liberdade mais ampla. E para tais fins praticar a tolerância e viver em paz uns com os outros, como bons vizinhos, unir nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, garantir,pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, e empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos (ONU BRASIL, 2019c). No que se refere à estrutura, é possível observar muitas semelhanças com os órgãos da Liga das Nações. A ONU é composta por: • Assembleia Geral: principal órgão deliberativo composto por todos os Estados‑membros. • Secretariado: presta serviços aos demais órgãos e administra os programas e políticas por eles elaborados. • Conselho de Tutela: responsável por supervisionar a administração dos territórios sob regime de tutela internacional. • Corte Internacional de Justiça: principal órgão judiciário composto por quinze juízes. • Conselho Econômico e Social: formula recomendações e coordena atividades relacionadas a questões econômicas e sociais. • Conselho de Segurança: tem poder decisório sobre questões relacionadas à segurança e paz internacional. Figura 14 – Logo da ONU Observação O Conselho de Tutela das Nações Unidas suspendeu suas atividades após o encerramento do acordo sobre Palau em 1994, último território a tornar‑se soberano. 83 RELAÇÕES INTERNACIONAIS No que se refere ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), nota‑se que a principal diferença em relação ao Conselho Executivo da Liga das Nações é o poder de veto que os membros permanentes possuem – China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. Além disso, compõem o CSNU mais dez membros não permanentes, que são escolhidos por meio de votação para mandatos de dois anos. Vale destacar que essa escolha dos membros não permanentes segue divisões regionais: cinco membros de Estados da África e Ásia; um membro do Leste Europeu; dois membros da América Latina e Caribe; e dois membros da Europa Ocidental e demais Estados. A ONU possui atuação global e, para isso, estabeleceu alguns pontos focais em cinco regiões: Américas; Europa e Ásia Central; África; Ásia e Pacífico; e Oriente Médio. Nas Américas, destaca‑se a Sede das Nações Unidas em Nova York, nos Estados Unidos – onde está localizada a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Secretariado, entre outros. Além disso, a capital do Chile, Santiago, abriga o centro das atividades da ONU na América do Sul, especialmente a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). Na região da Europa e Ásia Central, destaca‑se o Escritório das Nações Unidas em Genebra, na Suíça; o Escritório das Nações Unidas em Viena, na Áustria; e a Corte Internacional de Justiça em Haia, na Holanda. Já na África, os principais centros de atividades das Nações Unidas estão localizados em Nairóbi, no Quênia, e em Adis Abeba, na Etiópia. Na região da Ásia e Pacífico, destaca‑se a Comissão Econômica e Social para a Ásia e Pacífico em Bangkok, na Tailândia. Por fim, no Oriente Médio, o principal centro de atividade da ONU está localizado em Beirute, no Líbano. É importante destacar que essa divisão não significa que não existam outros escritórios de programas e fundos das Nações Unidas em outros lugares. Esses pontos focais apenas facilitam o diálogo entre a sede da organização e as diversas regiões do mundo. Por exemplo, no caso das Américas, o Brasil não é o ponto focal, mas possui representação permanente desde 1947 e abriga diversos escritórios, fundos e agências, tanto em Brasília quanto no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Salvador. Saiba mais Para conhecer os principais órgãos da ONU, bem como as comissões técnicas, regionais e os departamentos e escritórios que a compõem, acesse o organograma da Organização: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU BRASIL). O Sistema das Nações Unidas. 2019d. Disponível em: https://nacoesunidas.org/organismos/ organograma/. Acesso em: 26 set. 2019. 84 Unidade II Como podemos observar na figura anterior, a ONU possui agências e programas sobre áreas muito diversas, atuando em uma gama de temas que vai desde o desenvolvimento sustentável, passando por educação e ciência, até saúde e trabalho. Durante quase 50 anos, a dinâmica da ONU foi afetada pela lógica bipolar da Guerra Fria, uma vez que tanto Estados Unidos quanto a antiga União Soviética eram membros permanentes com poder de veto no CSNU. Sob essa dinâmica, muitas das resoluções que envolviam atuação em focos de tensão internacional acabavam afetadas pela lógica de zonas de influência e constante competição entre ambas as potências. Com o fim da Guerra Fria, a ONU passou a ter maior liberdade de atuação, mas as mudanças no cenário internacional deixaram à vista a necessidade de algumas reformas internas, especialmente em relação à falta de representatividade na estrutura do CSNU – que possui uma hiper‑representação de países europeus e da América do Norte, ao passo que não possui nenhum membro da África ou da América Latina, por exemplo. Saiba mais Para mais informações sobre a história da ONU, acesse: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU BRASIL). Princípios. propósitos e princípios da ONU. Brasília, 2019c. Disponível em: https:// nacoesunidas.org/conheca/principios/. Acesso em: 23 abr. 2019. Para mais informações sobre a atuação da ONU no Brasil, acesse: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU BRASIL). UNV/PNUD. [s.l.], 2019a. Disponível em: https://nacoesunidas.org/onu‑no‑brasil/unvpnud/. Acesso em: 12 jun. 2019. Para analisar os documentos da ONU, acesse: UNITED NATIONS. Documents. Genebra, [s.d.]. Disponível em: https://www. un.org/en/sections/general/documents/index.html. Acesso em: 3 jul. 2019. 6.3 FMI (Fundo Monetário Internacional) Antes de abordarmos o FMI (Fundo Monetário Internacional), é importante reportar‑nos ao contexto que levou à sua criação, ou seja, ao período de grande recessão global que teve espaço entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, também conhecido como “período entreguerras”. 85 RELAÇÕES INTERNACIONAIS Esse intervalo se estendeu de 1919 a 1939. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, um grupo de Estados se reuniu na cidade estadunidense de Bretton Woods em 1944, com o objetivo de definir os rumos da economia internacional. O resultado dessas reuniões ficou conhecido como Sistema Bretton Woods, o qual estabeleceu as regras, instituições e procedimentos a serem adotados para regular as relações comerciais e financeiras entre os países. Entre as instituições estabelecidas, destaca‑se o FMI, que buscava garantir a estabilidade do sistema monetário internacional. Para isso, o Fundo atua em três grandes áreas: acompanhando a economia global e as economias dos Estados‑membros; oferecendo empréstimos a Estados com dificuldades na balança de pagamentos; e oferecendo ajuda técnica aos membros (IMF, 2019). Com sede em Washington, nos Estados Unidos, o FMI foi criado em 1945 e, atualmente, possui 189 Estados‑membros. Figura 15 – Símbolo do FMI Com relação à estrutura, o FMI possui uma Assembleia de Governadores, formada por representantes de todos os Estados‑membros, e também um Conselho composto por 24 diretores. Desses assentos no Conselho Diretor, oito são permanentes – ocupados por Alemanha, Arábia Saudita, China, Estados Unidos, França, Japão, Reino Unido e Rússia. Os outros 16 assentos são rotativos, com mandatos de dois anos. Cada membro possui uma cota determinada com base nos indicadores econômicos nacionais, como o Produto Interno Bruto (PIB) de cada Estado. Diferentemente da maioria das Organizações Internacionais, em que cada país tem direito a um voto, quanto maior o valor dessa contribuição, maior será o peso do voto desse Estado‑membro em alguma decisão do Fundo. Por exemplo, apesar de ser um único país, o voto dos Estados Unidos equivale a quase 17,5% dos votos totais do FMI (GUIMARÃES, 2012). Embora sejam realizadas revisões sobre essas cotas a cada cinco anos, qualquer alteração demanda 85% de aprovação do total de votos, o que faz com que os Estados Unidos sejam os únicos a possuírem poder de veto no Fundo, pois semo seu voto favorável não é possível alcançar essa porcentagem. Além disso, vale destacar que cada Estado pode retirar o equivalente a 25% de sua cota de contribuição. Caso o Estado demande um valor acima desse percentual, é preciso assinar uma carta de intenções, atrelada geralmente a um memorando técnico de entendimento, na qual se compromete a reduzir o déficit fiscal e promover estabilização monetária. Uma das principais críticas que o FMI sofre está relacionada justamente a essa cartilha que os Estados são obrigados a seguir após solicitarem empréstimos, que incluem, por exemplo, a desvalorização da 86 Unidade II moeda nacional para incentivar a exportação. Alguns autores apontam que essas medidas e os juros embutidos nesses empréstimos acabam dificultando uma recuperação de longo prazo e culminam em um aprofundamento da dependência desses países (PORTELLA FILHO, 1994). Segundo Stiglitz (2002), o FMI poderia ter mais êxito se os interesses das principais economias mundiais – formadas por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido – usualmente intituladas de Grupo dos 7 ou G7, não influenciassem tanto as decisões da organização. Além disso, o autor também destaca que é necessária uma base interna consolidada antes de promover a abertura de mercado em países em desenvolvimento; do contrário, o processo pode ser prejudicial a essas economias. Em suma, alguns criticam que o FMI estaria mais preocupado com a estabilidade econômica global do que com o desenvolvimento dos seus Estados‑membros. Saiba mais A seguir, um livro como sugestão de leitura sobre o período entreguerras: CARR, E. H. Vinte anos de crise: (1919‑1939). Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. Filmes e documentários sobre os impactos do FMI: LIFE and debt. Dir. Stephanie Black. EUA: New Yorker, 2001. 80 minutos. MEMORIA del saqueo. Dir. Fernando Solanas. Argentina: Cinesur, 2004. 120 minutos. Para mais informações sobre o FMI, acesse: https://www.imf.org/ 6.4 OMC (Organização Mundial do Comércio) O Sistema Bretton Woods também idealizou uma instituição que ajudasse a reduzir as tarifas adotadas no comércio internacional. No entanto, a ideia de criar uma OIC (Organização Internacional do Comércio) não avançou. Foi possível criar apenas um conjunto de normas que buscavam regular as relações econômicas internacionais e combater práticas protecionistas. Intitulado de GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), esse conjunto de normas foi criado em 1947, a partir da assinatura de 23 Estados: África do Sul, Austrália, Bélgica, Brasil, Birmânia, Canadá, Chile, China, Cuba, Estados Unidos, França, Índia, Líbano, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Paquistão, Rodésia do Sul, Reino Unido, Síria, Sri Lanka e Tchecoslováquia (WTO, 2019). No entanto, o GATT não era uma Organização Internacional como as demais que analisamos até agora. Embora o número de Estados que aderiram ao Acordo tenha crescido bastante entre 1948 e 87 RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1993, o GATT era apenas um documento ao redor do qual se criou um foro de diálogo. Nesse sentido, os desafios observados ao longo da década de 1970 – especialmente com as crises do petróleo e com o fim do padrão dólar‑ouro –, além da crescente onda de liberalização econômica durante os mandatos de Ronald Reagan nos Estados Unidos (1981‑1989) e Margaret Thatcher no Reino Unido (1979‑1990), fizeram com que a estrutura do acordo inicial passasse a ser questionada. Esse cenário de novos meios de protecionismo e novos temas envolvendo o comércio internacional deixou à mostra a necessidade de um mecanismo mais eficaz para enfrentar esses desafios. Em outras palavras, é nesse contexto que é idealizada a OMC, a partir da necessidade de uma estrutura institucional formal para lidar com as práticas comerciais da época. No entanto, é importante destacar que a OMC não apresenta uma ruptura em relação ao GATT, uma vez que as negociações realizadas até então foram incorporadas pela nova Organização Internacional. Criada oficialmente em 1995, a OMC atua principalmente nas negociações comerciais, na implementação e no monitoramento de acordos, na resolução de disputas e na construção de capacidades comerciais. Em suma, a OMC está “programaticamente voltada para a produção de normas destinadas a limitar a capacidade dos Estados de regular a atividade econômica e implementar políticas de desenvolvimento de acordo com os seus próprios critérios” (CRUZ, 2005, p. 103). Além das conferências ministeriais que ocorrem usualmente a cada dois anos, a estrutura da OMC é composta por: • Órgão de Exame de Política Comercial. • Conselho Geral. • Conselho de Solução de Controvérsias. • Conselho de Comércio de Mercadorias. • Conselho de Comércio de Serviços. • Conselho sobre aspectos de direito de propriedade intelectual. • Comitês específicos. Figura 16 – Símbolo da OMC 88 Unidade II As principais diferenças da OMC em relação ao GATT são: o fato de possuir personalidade jurídica enquanto Organização Internacional de fato; a inclusão de assuntos como os instrumentos de defesa comercial, redução de barreiras não tarifárias, direitos de propriedade intelectual, entre outros; além da remodelação do Sistema de Resolução de Controvérsias. Se antes o sistema para resolver tensões entre Estados era vagaroso e falho, o novo modelo de Sistema de Resolução de Controvérsias estabeleceu um trâmite mais formal e eficaz para as demandas. A figura a seguir demonstra as etapas desse processo. O sistema de solução de controvérsias é acionado quando uma parte acusa outra e notifica o Conselho Geral. Caso essas duas partes não consigam se resolver por meio do diálogo em um prazo de 60 dias, o processo passa à fase de análise dos peritos, ou seja, é aberto um “painel”. Cada painel é composto por três peritos, que devem elaborar e apresentar um relatório acerca do contencioso para o Conselho Geral em seis meses. O Conselho Geral tem 20 dias para examiná‑lo e adotá‑lo. Caso uma das partes discorde do veredito, é acionado o Órgão de Apelação – composto por sete juízes, que aponta três juízes para atuar em cada caso. Eles possuem 60 dias para apresentar seu parecer para o Conselho Geral, que só pode recusá‑lo mediante consenso dos membros. Consulta (60 dias) Órgão de apelação Sete juízes (três por caso) Conselho geral Painel Três peritos 6 meses 60 dias Figura 17 – Procedimentos do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC Usualmente, os debates na OMC são realizados a partir de rodadas que possuem uma agenda de discussão mais específica, debatidas nas Conferências Ministeriais. Até hoje, foram realizadas 11 reuniões: • Conferência de Cingapura (1996). • Conferência de Genebra (1998). • Conferência de Seattle (1999). • Conferência de Doha (2001). • Conferência de Cancún (2003). • Conferência de Hong Kong (2005). • Conferência de Genebra II (2009). • Conferência de Genebra III (2011). 89 RELAÇÕES INTERNACIONAIS • Conferência de Bali (2013). • Conferência de Nairóbi (2015). • Conferência de Buenos Aires (2017). Entre as reuniões, cabe destacar a Conferência de Seattle, que ocorreu entre os dias 30 de novembro e 3 de dezembro de 1999. Foi durante essa reunião que ocorreu a Batalha de Seattle, nome pelo qual ficaram conhecidas as manifestações contra as pautas que seriam debatidas no encontro da OMC. Algumas Organizações Não Governamentais protestavam contra o avanço de políticas neoliberais, por considerarem que estas ameaçavam os direitos humanos e afetavam em excesso os países mais pobres; ambientalistas protestavam contra o avanço da degradação ambiental que resultava de algumas políticas desenvolvimentistas; e sindicalistas protestavam contra a redução dos direitos trabalhistas. Ou seja, os diversos impasses na Conferência de Seattle dificultaram o andamento dos trabalhos. Saiba mais Para mais informações sobre a OMC, acesse: https://www.wto.org/ Sobre a Batalha de Seattle, sugere‑seo filme: BATALHA em Seattle. Dir. Stuart Townsend. EUA: Redwood Palms Pictures, 2007. 100 minutos. Além disso, a Conferência seguinte – que ocorreu na cidade de Doha, no Qatar, entre os dias 9 e 14 de novembro de 2001 – sofreu com esses impasses. Além de ter ocorrido muito próximo dos atentados às torres gêmeas do World Trade Center nos Estados Unidos, as pautas da “Rodada de Doha para o Desenvolvimento” incluíam pontos bastante sensíveis e seguem avançando pouco, desde então. 6.5 Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) pode ser considerada um dos marcos iniciais da Guerra Fria. Trata‑se de uma organização político‑militar firmada em 1949 entre os Estados Unidos e alguns países europeus ocidentais, baseada em um arranjo de segurança coletiva e de defesa comum. Foi fundada a partir do Tratado de Washington, assinado por 12 países: Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal e Reino Unido. Mais tarde, também aderiram à Otan: Grécia (1952); Turquia (1952); Alemanha Ocidental (1954); Espanha (1982); República Tcheca, Hungria e Polônia (1999); Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia (2004); Albânia e Croácia (2009); e Montenegro (2017) (AQUINO; EVEDOVE, 2018). 90 Unidade II Figura 18 – Logo da Otan Com sede em Bruxelas, na Bélgica, o objetivo inicial da Otan era garantir a segurança da região do Atlântico Norte, especialmente para evitar a expansão soviética sobre o continente europeu, que se encontrava fragilizado após a Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, caso algum Estado‑membro sofresse algum ataque, os demais se uniriam para garantir sua defesa. Isso era vantajoso tanto para os países europeus, que se sentiam ameaçados com o avanço soviético, quanto para os Estados Unidos, que mantinham influência sobre uma área tão estratégica. No entanto, com o desmantelamento da antiga União Soviética, a Otan perde o que antes era sua principal razão de existência. Com isso, em 1990, os Estados‑membros da Otan se reúnem para discutir quais seriam os objetivos da organização a partir daquele momento. Apesar de não descartarem uma eventual ameaça militar russa, seu campo de atuação passa a abarcar o compromisso de garantir a estabilidade em todo o continente europeu, especialmente em relação ao Leste Europeu, que havia sido muito influenciado pela União Soviética. Em outras palavras, [...] a questão central da nova estratégia é que a segurança dos aliados europeus foi intimamente ligada à estabilidade e ao afastamento de crises econômicas, políticas e sociais na Europa como um todo e, neste contexto, o Leste europeu, que tinha acabado de se desvincular da União Soviética, apresentava grandes capacidades para apresentarem problemas e, frente a isso, a Otan estava disposta a usar de meios militares para cuidar dessas questões, sempre em busca da estabilidade e ordem (AQUINO; EVEDOVE, 2018). Além disso, a partir das intervenções realizadas pela Otan na Bósnia, em 1992, assim como no Kosovo em 1999, esse novo conceito estratégico da organização foi mais uma vez atualizado. De acordo com Barroso (2006), se antes a Otan adotava uma postura mais preventiva em relação às instabilidades que envolviam o processo de transformação dos países do Leste Europeu e também da Europa Central, as novas diretrizes adotadas ao final da década de 1990 trouxeram não apenas uma visão de cooperação mais abrangente, mas também um caráter mais intervencionista às ações da organização, inclusive intervenções militares para a imposição da paz. 91 RELAÇÕES INTERNACIONAIS Como é possível observar na imagem a seguir, a estrutura da Otan é composta por: • Conselho do Atlântico Norte (NAC), que define as diretrizes de atuação da organização; • Grupo de Planos Nucleares (NPG), que aborda questões políticas envolvendo a temática nuclear, como controle e não proliferação de armas nucleares; • Secretariado Geral, responsável por questões administrativas; • Diversos Comitês Subordinados, que abordam temáticas mais técnicas. Entre esses comitês, destaca‑se o Comitê Militar (MC), responsável por oferecer assessoria política e estratégica nas decisões que possuem implicações militares. O MC ainda é subdividido em dois órgãos: o Comando Aliado de Operações (ACO), responsável pelo treinamento das forças armadas que compõem a organização, além de criar novos conceitos e técnicas militares; e o Comando Aliado de Transformação (ACT), responsável pelo planejamento e execução das ações militares definidas pelos órgãos superiores (NATO, 2019). Figura 19 – Organograma da Otan 92 Unidade II Exemplo de aplicação Assista ao documentário O peso das correntes (2010) e discorra sobre a mudança nos objetivos da Otan após o fim da Guerra Fria. 6.6 UE (União Europeia) Apesar de a UE (União Europeia) ter sido estabelecida oficialmente a partir do Tratado de Maastricht (ou Tratado da União Europeia) em 1993, sua origem remonta à Ceca (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), criada ainda em 1952. Em um contexto de pós‑Segunda Guerra Mundial, marcado pelo colapso econômico no continente europeu, seis países – Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos – uniram‑se para garantir a livre‑circulação de carvão, ferro e aço entre seus territórios, a fim de promover o desenvolvimento industrial. Cinco anos depois, foi criada a CEE (Comunidade Econômica Europeia), a partir do Tratado de Roma, em 1957, com o objetivo de consolidar um mercado comum no continente europeu. As décadas seguintes apresentaram períodos de crescimento econômico, como na década de 1960, mas também de instabilidade política e crises energéticas, especialmente na década de 1970. Entretanto, com a queda do muro de Berlim ao final dos anos 1980, é possível observar um maior acercamento entre os países europeus e, em 1993, tem início o Mercado Único Europeu, que garante as “quatro liberdades”, ou seja, garante a livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais (UNIÃO EUROPEIA, 2019). Vale destacar também que, em 2002, o Euro foi estabelecido como moeda oficial, mas apenas 19 dos 28 países‑membros da União Europeia o adotam como moeda oficial nacional. A estrutura da União Europeia é composta por (UNIÃO EUROPEIA, 2019): • Conselho Europeu: constituído pelos chefes de Estado e de governo dos Estados‑membros, sendo responsável por definir as orientações políticas gerais da União Europeia. • Conselho da União Europeia: constituído pelos ministros dos governos de cada Estado, sendo responsável por aprovar a legislação e coordenar as políticas adotadas. • Comissão Europeia: é o órgão executivo da União Europeia e constituída por um representante de cada Estado, sendo responsável pela execução das propostas legislativas, políticas e orçamentárias. • Parlamento Europeu: é o órgão legislativo da União Europeia, sendo composto por 751 deputados diretamente eleitos pelos cidadãos europeus. • Tribunal de Justiça da União Europeia: composto por um juiz de cada Estado‑membro e mais 11 advogados‑gerais, sendo responsável por assegurar o cumprimento da legislação europeia. 93 RELAÇÕES INTERNACIONAIS • Tribunal de Contas Europeu: composto por um membro de cada país, sendo responsável por fiscalizar o financiamento das atividades da União Europeia. • Banco Central Europeu: composto pelos governadores dos bancos centrais de todos os Estados‑membros, sendo responsável por gerir o Euro, manter a estabilidade dos preços e conduzir a política econômica e monetária da UE. • Banco Europeu de Investimento: composto por um membro de cada país e um membro da Comissão Europeia, sendo responsável pelo financiamento dos projetos. • Serviço Europeu para a Ação Externa: responsável por dirigir a política externa e de segurança comum, com o objetivo de garantir a coerência e coordenação da ação externa da União Europeia. • Comitê Econômico
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