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Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 1 SITUAÇÃO PROBLEMA 03 – MUNDO ESTRANHO 1. Entender os principais transtornos de psicóticos. DELÍRIOS: (alterações do pensamento) são crenças fixas e falsas que se mantem apesar das evidencias contrarias. Seu conteúdo pode ser persecutório (acredita que está sendo perseguido, assediado), de referência (acredita que comentários, gestos e estímulos são direcionados a própria pessoa), de grandeza (acredita ser muito famoso, muito rico), erotomaníacos (acredita que alguém está apaixonada por ele), niilistas (acredita que acontecerá uma tragédia) e somáticos (acredita que os órgãos internos podem ser fragmentados ou que não possui cérebro). ALUCINAÇÕES: (alterações dos sentindos) são alterações na sensopercepção. O indivíduo tem experiências semelhantes à percepção que ocorrem sem um estímulo externo. São vívidas, claras e involuntárias. Logo, por exemplo, o indivíduo com alucinação visual vê coisas que não estão lá; aqueles com alucinações auditivas ouvem vozes e estímulos sonoros que não existem fisicamente. 1. TRANSTORNO DELIRANTE PERSISTENTE O transtorno delirante persistente é essencialmente caracterizado pela presença de uma ideia delirante fixa e inabalável. Os delírios podem ser persecutórios, grandiosos, de ciúmes, erotomaniacos entre outros. E os sintomas diferem do delírio esquizofrênico devido a natureza não bizarra de seus delírios e a ausência de alucinações proeminentes e embotamento afetivo. A resposta emocional do paciente ao sistema delirante é congruente e adequada ao conteúdo dos delírios. A personalidade permanece intacta ou sofre um comprometimento mínimo. Os pacientes são frequentemente desconfiados e hipervigilantes, o que pode levar ao isolamento social, apesar da capacidade de funcionamento social. A idade de início varia entre 20 e 90 anos, com idade média em torno dos 40 anos e sua etiologia é desconhecida. O diagnóstico diferencial deve ser feito com transtorno psicótico devido a uma condição médica geral ou induzido por substâncias. O transtorno tende a ser crônico e sem remissões. O tratamento inclui uso de antipsicóticos em baixas doses, particularmente pimozida, e psicoterapia 2. TRANSTORNO ESQUIZOFRENIFORME Caracteriza-se por um quadro idêntico em todos os aspectos ao da esquizofrenia, exceto pela duração de seus sintomas de no mínimo um mês, porém menor que seis meses com retorno Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 2 ao funcionamento normal. Quando os sintomas persistem, o diagnóstico deve ser substituído pelo de esquizofrenia. É mais frequente em adolescentes e adultos jovens e o diagnóstico diferencial é igual ao da esquizofrenia. Os aspectos de bom prognóstico incluem ausência de afeto embotado, bom funcionamento pré-mórbido, menor duração e início agudo. Os antipsicóticos devem ser utilizados para o tratamento dos sintomas psicóticos, porém cessados estes, após 3-6 meses, costuma haver resposta rápida à medicação. 3. TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO É definido por um transtorno no qual tanto os sintomas afetivos quanto os esquizofrênicos são igualmente proeminentes, de tal modo que não pode ser diagnosticado como esquizofrenia nem transtorno de humor. O paciente, portanto, reúne critérios para um episódio depressivo maior ou episódio maníaco juntamente com critérios para a fase ativa da esquizofrenia. É necessário a presença de delírios ou alucinações, por pelo menos duas semanas na ausência de sintomas afetivos. Além disso, os sintomas afetivos devem estar presentes por uma parcela substancial dos períodos psicóticos ativo e residual. O curso clinico pode variar de exacerbações e remissões a um curso deteriorante em longo prazo. O uso de antidepressivos e estabilizadores de humor devem ser empregados, e os antipsicoticos são utilizados somente para controle em curto período. 4. TRANSTORNO PSICÓTICO BREVE O transtorno também conhecido como transtorno psicótico agudo polimorfo é caracterizado por sintomas que duram menos de um mês e ocorrem após um estresse evidente na vida do paciente. Os sintomas são semelhantes aos de outros transtornos psicóticos, porem com mais instabilidade, volatilidade e desorientação. A duração deve ser maior que um dia e menor que um mês. Alguns indicadores de bom prognostico incluem história familiar negativa para esquizofrenia e curta duração dos sintomas. O tratamento deve ser feito com benzodiazepínicos e o uso de antipsicóticos pode ser desnecessário. 5. TRANSTORNO ESQUIZOTÍPICO É caracterizado por um comportamento excêntrico e por alterações do pensamento e do afeto que se assemelham aquelas da esquizofrenia, sem que haja, sinais de esquizofrenia. A sintomatologia pode apresentar inapropriação de afeto, com tendência ao retraimento social, comportamento excêntrico e ideias bizarras que não se caracterizam francamente delirantes.O início é insidioso e sua evolução corresponde em geral a de um transtorno de personalidade. Tanto que o SSM V inclui esse transtorno como de personalidade. No entanto, o CID-10 classifica-o entre os transtornos psicóticos. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 3 2. Compreender a epidemiologia, os tipos, fatores de risco, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico da esquizofrenia. A esquizofrenia é uma entidade psiquiátrica que engloba um grupo de transtornos com etiologias heterogêneas e inclui síndromes psiquiátricas variáveis. Os sinais e sintomas podem variar e incluem alterações na percepção, emoção, cognição, pensamento e comportamento. O curso da esquizofrenia é normalmente longo, geralmente, começa antes dos 25 anos de idade e perpetuam por toda a vida. Como falaremos a diante o desenvolvimento lento e gradual da esquizofrenia pode ser marcado por uma fase prodrômica ou pré-mórbita que a família encontra dificuldades para interpreta-la. Um início precoce da esquizofrenia está presente no sexo masculino, sendo marcado por um início por volta dos 20 anos de idade. Normalmente, esta forma precoce apresenta menos ajustamento pré-mórbido e mais evidência de anormalidades estruturais do cérebro, maior prejuízo cognitivo e pior prognóstico. Por outro lado, o início mais tardio pode ser evidenciado nas mulheres as quais possuem menos evidências de anormalidades estruturais do cérebro ou prejuízo cognitivo, sendo um marcador de melhor prognóstico. Aqui iremos abordar hipóteses que tentam explicar o desenvolvimento dos sinais e sintomas e a desregulação evidenciada em alguns pacientes com esse tipo de afecção. Vale destacar que a natureza essencial da esquizofrenia ainda não foi esclarecida. O DSM- 5 traz como efeito de diagnóstico alguns transtornos que podem estar inclusos no espectro da esquizofrenia. Ainda, como todo transtorno psiquiátrico, não dispomos de um exame laboratorial para sua confirmação. A esquizofrenia é marcada por um transtorno com presença de psicose. A definição de psicose seria a presença de delírios ou alucinações proeminentes sem crítica por parte do paciente. Ainda podemos associar o discurso desorganizados, comportamento desorganizado ou catatônico. Desse modo, o termo psicótico refere-se a um amplo comprometimento da compreensão da realidade. EPIDEMIOLOGIA A esquizofrenia apresenta uma prevalência de 1% na população mundial, surgindo, geralmente, antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sociocultural. Ela é igualmente prevalente em homens e mulheres, a diferença dos gêneros se refere ao início e ao curso da doença, sendo mais precoce nos homens. Alguns estudos apontam que os homens apresentam maior probabilidade de sofrer de sintomas negativos quando comparados com as mulheres. A partir do uso de psicofármacos, associado a políticas de portasabertas dos hospitais e a desinstitucionalização dos hospitais públicos os pacientes esquizofrênicos puderam se casar e ter filhos. Com efeito, pode-se observar que os parentes biológicos de primeiro grau apresentam um risco de 10 vezes maior de desenvolver a doença, quando comparados com a população geral. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 4 Como os pacientes psiquiátricos também são seres humanos, nem só de condições psiquiátricas eles vivem. Podemos notar um aumento da mortalidade desses indivíduos. Tal fato pode ser justificado da dificuldade de realizar um diagnóstico para essas demais condições. Podemos falar aqui do preconceito que esses indivíduos sofrem acerca dos sintomas somáticos apresentados nas consultas médicas. Os pacientes esquizofrênicos apresentam uma prevalência 50% maior de abuso de substâncias que não tabaco. Alguns estudos apontaram a relação entre o uso de Cannabis e esquizofrenia, devido essa droga aumentar os sintomas psicóticos. A prevalência da esquizofrenia pode ser constatada em populações onde a densidade populacional ultrapassam a casa de 1 milhão de habitantes. Justificativas para esse fato sugerem que os estressores sociais do contexto urbano afetam o desenvolvimento da doença e aumento risco. Como qualquer outra doença de curso lento e gradual, a esquizofrenia acarreta para o país uma demanda alta de recursos não só humanos, quanto financeiros, impactando diretamente a economia. Isso porque, a doença requer tratamento hospitalar, clínico, reabilitação e sistemas de apoios contínuos. ETIOLOGIA Os fatores genéticos envolvido na doença apresentam uma relação de aumento da frequência do seu surgimento em parentes biológicos com o diagnóstico de esquizofrenia. O papel dos fatores genéticos, pode ser visto de forma diferente em parentes de segundo ou terceiro grau. Alguns dados ainda apontam que a idade do pai pode interferir no surgimento da doença. Desse modo, foi verificado que indivíduos esquizofrênicos nascidos com pai mais de 60 anos eram mais vulneráveis a desenvolver tal transtorno. • Fatores bioquímicos: A hipótese da dopamina resulta do aumento excessivo da atividade dopaminérgica em pacientes esquizofrênicos. Tal hipótese tem como base a eficácia dos antipsicóticos e antagonistas dos receptores de dopamina e a ação dos agentes dopaminérgicos no desenvolvimento dos sinais e sintomas da doença. Quando falamos da dopamina, devemos sempre lembrar das vias as quais englobam a mesocortical e a mesolímbica. A mesocortical apresentam uma distribuição de receptores D1 (D1 e D5), enquanto a mesolímbica apresentam uma distribuição dos receptores D2 (D2, D3, D4). O receptor de D1 está relacionado com os sintomas negativos da esquizofrenia, sendo que podemos evidenciar uma redução de sua atividade durante o curso da doença. Por outro lado, os receptores D2 apresentam uma atividade aumentada na doença. Tais receptores concentrados na amígdala e no hipocampo apresentam a capacidade de reduzir a produção do GABA. Uma vez que temos redução do GABA, temos a redução da inibição realizada pelo mesmo, logo produção da ativação. Sendo assim, o aumento da atividade do D2 inibe a inibição do GABA. Desse modo, o hipotálamo centro de aferências sensoriais e o tálamo é facilmente Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 5 excitável e promovendo o surgimento dos sintomas positivos da doença (delírios e alucinações). Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 6 A hipótese da serotonina decorre dos sintomas positivos e negativos frente a atividade excessiva da serotonina. Desse modo, o uso de antipsicóticos antagonistas da serotonina evidenciou uma diminuição dos sintomas positivos em pacientes crônicos. Podemos abordar ainda os efeitos psicóticos do LSD que estimula a via serotoninérgica e produz tais sintomas. O receptor envolvido nesse processo é o 5-HT2A (mecanismo de ação direta dos antipsicóticos atípicos). A hipótese glutamatérgica relaciona a redução do glutamato e surgimento da psicose da esquizofrenia. Estudos pós mortem evidenciaram uma redução dos níveis de glutamato no córtex frontal e hipocampo. • Neuropatologia Ao final do século XX pesquisadores deram passos significativos para a associação de alterações neuroanatômicas com o processo da esquizofrenia. Os estudos concentraram no papel do sistema límbico, gânglios da base, córtex cerebral, tálamo e tronco cerebral. Há uma intensa perda de volume cerebral que pode resultar de uma densidade reduzida de axônios, dendritos e sinapses que medeiam as funções associativas do cérebro. Estudos de imagem com TC mostrou um alargamento dos ventrículos laterais e do terceiro ventrículos, associado a essa redução do volume cortical. Há também a evidência que aponta para uma redução da simetria dos lobos temporal, frontal e occipital. • Psiconeuroimunologia Anormalidades imunológicas foram associadas em indivíduos com esquizofrenia. Tais alterações são: redução da produção de IL-2 pelas células T, redução do número e responsividade dos linfócitos periféricos e reatividade celular e humoral anormal. Ainda há a presença de anticorpos direcionados ao cérebro. Tais alterações se assemelham a um efeito de um vírus neurotóxico e a um transtorno autoimune. QUADRO CLÍNICO Quando falamos de esquizofrenia devemos ter em mente três questões fundamentais. (1) nenhum sinal ou sintoma clínico é patognomônico para esquizofrenia, pois muitos podem estar presentes em outros transtornos psiquiátricos ou neurológicos; (2) os sintomas do paciente mudam ao longo do tempo; (3) devemos sempre levar em conta o nível de escolaridade do paciente, sua capacidade intelectual e sua identidade cultural. Quando falamos de esquizofrenia vem a pergunta: existe algum sinal ou sintoma que podemos prever o surgimento da doença? Na esquizofrenia temos o que chamaos de história pré-mórbida típica a qual pode ser caracterizada como uma fase prodrômica até a fase típica da doença. Normalmente, os pacientes são caracterizados como quietos, passivos e introvertidos; na infância apresentam poucos amigos; adolescentes não tem amigos nem interesses românticos e evitam a prática de esportes preferindo filmes, televisão, música ou games do que participar de atividades sociais. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 7 • Exame do estado mental O aspecto geral do indivíduo com esquizofrenia geralmente está associado a uma aparência desleixada, ausência de cuidados próprios. O comportamento pode se apresentar de forma agitada ou violente, até mesmo, apresentando quadros de catatonia com posturas bizarras, negativismo e obediência automática. Quanto a afetividade do paciente normalmente podemos encontrar o embotamento e a inapropriação do afeto. Indiferença afetiva – falta de expressão facial – serve de diferenciação com outros transtornos. Quanto a sensopercepção as experiências alucinatórias ganham grande relevância. Geralmente, as alucinações são mais comuns as auditivas com vozes ameaçadoras. Pode- se evidenciar alucinações cenestésicas com percepções alteradas dos órgãos e do esquema corporal, por exemplo, sentir que o cérebro está encolhendo ou que o fígado está despedaçando. Alucinações visuais, táteis, olfativas e orgânicas também podem estar presentes, geralmente indicam uma síndrome psicorgânica ou psicose desencadeada por drogas. O pensamento do paciente pode evidenciar o delírio como sua principal alteração. Geralmente, os conteúdos persecutórios, autorreferentes (grandeza), religiosos ou grandiosos estão presentes. Os pacientes apresentam a sensação de que tem seus pensamentos e comportamentos controlados por alguma entidade externa. Quanto a linguagema presença de neologismos e ecolalia (capacidade de fazer rimas) estão presentes. • Sintomas negativos da esquizofrenia Os sintomas negativos estão relacionados com a perda das funções psíquicas e por um empobrecimento global da vida psíquica e social do indivíduo. Eles são: (1) embotamento afetivo – perda da capacidade de sintonizar afetivamente com as pessoas; (2) retração social; (3) empobrecimento da linguagem e do pensamento; (4) diminuição da fluência verbal; (5) diminuição da vontade; (6) autonegligência – falta de higiene e cuidado consigo mesmo; (7) lentificação psicomotora. Os sintomas positivos são definidos como manifestações produtivas do processo esquizofrênico. Eles são: (1) alucinações auditivas; (2) ideias delirantes paranoides; (3) comportamento bizarro; (4) agitação psicomotora; (5) ideias bizarras; (6) produções linguísticas. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é fenomenológico, seguindo a partir da observação e descrição do paciente. Desse modo, baseia-se no reconhecimento do conjunto de sinais e sintomas associados ao prejuízo social ou ocupacional. Atualmente, não existe nenhum exame complementar para confirmação diagnóstica. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 8 3. Abordar o mecanismo de ação, indicação e contraindicação e efeitos adversos dos antipsicóticos. O tratamento da esquizofrenia e seus tipos se baseia no uso de antipsicóticos, também chamados de neurolépticos. Devemos ter em mente seguindo a evolução mercadológica desses fármacos que eles podem ser subdivididos em primeira geração (típicos) e segunda geração (atípicos). Ambas as classes quando colocadas em doses equivalentes apresentam a mesma eficácia. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 9 Os efeitos antipsicóticos derivam da sua capacidade de bloquear o receptor D2 e os receptores alfa-adrenérgicos, muscarínicos, histamínicos e serotoninérgicos. Quanto ao sistema dopaminérgico seu bloqueio permite uma redução da atividade dos sistemas mesolímbico, mesocortical, nigroestriatal e túbero-infundibular. Por atuar de maneira eficaz nesse tipo de receptor o tratamento atenua os sintomas positivos da esquizofrenia (aumento da atividade psicótica, por exemplo, as alucinações). Em contrapartida, aqui temos em grande evidência os fármacos da primeira geração os quais possuem efeitos colaterais que induz um parkinsonismo e aumento da prolactina. Ainda nesse grupo encontramos drogas de alta e baixa potência. Geralmente, as drogas de baixa potência costuma ser escolhidas como primeira opção em pacientes que apresentam agitação e insônia. Quanto aos atípicos eles atuam em outros sítios de receptores sem ser os de dopamina. Estes medicamentos apresentam maior afinidade ao receptor de serotonina em relação ao receptor D2. Geralmente, eles são mais bem tolerados e mais eficazes no tratamento dos sintomas negativos. O principal ponto negativo desse grupo é seu alto custo. • Escolha do fármaco A escolha do fármaco baseia-se nas diferenças dos efeitos colaterais e na sua eficácia. Não podemos esquecer ainda do custo e disponibilidade desses medicamentos. Como estamos falando de SUS devemos lembrar que a clorpromazina e o haloperidol costumam ser os mais utilizados. Como foi dito acima, os antipsicóticos típicos e atípicos apresentam igual eficácia quanto aos sintomas positivos, porém quando falamos dos sintomas negativos ganha destaque os atípicos. Um adendo ainda sobre esse grupo é que ele apresenta um risco reduzido para complicações ao longo tempo como discinesia tardia e não aumentam os níveis de prolactina (falar adiante). Além disso, a clozapina é o único fármaco antipsicótico indicado para redução do risco de suicídio, bem como serve como a última tentativa de fármaco em pacientes refratários. • Formas de administração e uso Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 10 Os fármacos antipsicóticos costumam ser administrados em doses diárias fracionadas até atingir a dose efetiva. Devemos sempre tentar a princípio o limite inferior da faixa posológica a fim de evitar efeitos adversos. Raramente os pacientes que tiveram um episódio agudo não necessitam posteriormente de tratamento prolongado. Na maioria das vezes, o tratamento é a longo prazo. Como o tratamento é contínuo podemos lançar mão de associações como antidepressivo tricíclicos, com inibidores seletivos de serotonina. O uso da eltroconvulsoterapia pode ser indicado até para aumentar os efeitos da clozapina em pacientes que já apresentam refratariedade do tratamento. O uso de lítcio ou ácido valproico, bem como benzodiazepínicos podem também ser administrados de acordo com a necessidade do paciente. • Efeitos adversos O uso de antipsicóticos causa efeitos desagradáveis ao comportamento do indivíduo, sobretudo ao uso dos da primeira geração. Geralmente o principal sintoma é uma pseudodepressão. Quanto aos efeitos neurológicos podemos ratificar as reações extrapiramidais (bloqueio da liberação de acetilcolina mediada pela dopamina nigroestriatal) como síndrome de Parkinson, acatisia (inquietação incontrolável) e reações distônicas agudas (retrocolo e torcicolo). Normalmente, o tratamento desses efeitos colaterais pode ser feito com uso de fármacos antiparkinsonismo convencionais como amantadina, nunca devemos administrar levodopa. A discinesia tardia, movimentos coreatetoides anormais, pode ser visto com o uso desses fármacos, devido uma eficiência colinérgica secundária a supersensibilidade de dopamina no caudado-putame. Os fármacos atípicos apresentam menor probabilidade de causar discinesia tardia. Por fim, podemos ter convulsões as quais são tratadas com anticonvulsivantes. Os efeitos no sistema nervoso autônomo deriva da atividade antimuscarínica. Podemos observar retenção urinária, hipotensão ortostática e comprometimento da ejaculação. Quanto aos efeitos metabólicos e endócrinos temos o ganho de peso, desenvolvimento de hiperglicemia e hiperlipidemia. A monitorização do peso e dos níveis de glicose e lipídeos a cada consulta é fundamental para evitar as complicações. Desse modo, devemos fazer uma rotina de monitorização em intervalos de 3 a 6 seis meses. O aumento dos níveis de prolactina observados ao uso dos antipsicóticos típicos causa síndrome Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Problemas Mentais e de Comportamento) 11 amenorreia-galactorreia, infertilidade, perda de libido e impotência. A troca por fármacos atípicos pode resolver o problema. A reação tóxica observada ao uso dos antipsicóticos são agranulocitose, icterícia colestática, erupções cutâneas e arritmias (mesoridazina e tioridazina). Desse modo, o risco de superdosagem aqui é baixo. 4. Discutir a importância do apoio familiar dos transtornos psicóticos. Com a evolução dos tratamentos psiquiátricos, os indivíduos portadores de transtornos mentais vêm sendo mantidos na comunidade e acompanhados ambulatorialmente pelos serviços de saúde mental. Desse modo, a responsabilidade pelos cuidados ao doente mental passa a ser menos das instituições e mais das famílias. As famílias proporcionam ao paciente o suprimento de suas necessidades físicas, suporte financeiro, os mantém a salvo do ambiente, ensinam novas habilidades, organizam atividades sociais e recreacionais, monitoram a medicação e consultas médicas e socorrem as pacientes repetidas vezes nas situações de crise. Frequentemente, porém, não é fornecido aos familiares ou a comunidade em geral informações básicas ou um treinamento formal adequado para o manejo diário destes indivíduos, muitas vezes tornando-os uma sobrecarga para a família e com isso podendo causar prejuízos para o doente mental e para a sociedade.
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