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SERIAL KILLLER

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SERIAL KILLER E O DIREITO BRASILEIRO: A IMPUTABILIDADE PENAL
Alyssia Régia de Lima Tavares[footnoteRef:1] [1: Graduando em Direito pela UniFacid. E-mail: alytavares@hotmail.com] 
Marcelo Castelo Branco Ismael[footnoteRef:2] [2: Doutorando em Ciências Criminais na PUCRS. Mestre em Direito Público na Unisinos-RS. Especialização em pós-graduação em Direito Fiscal e Tributário na UFPI. Graduação em Bacharelado em Direito na UNICAP. e o e-mail institucional. marcelo.ismael@professores.facid.edu.br] 
RESUMO
O presente artigo tem como principal motivação elucidar a melhor forma jurídica que o Serial Killer deve receber de acordo com suas peculiaridades. Apesar de não ser um tema aprofundado nos meios de comunicação, há dezenas de casos que ocorreram no Brasil, tornando-se um tema de repercussão atual. Abordou-se a Legislação Penal vigente conjuntamente com conceitos doutrinários da Criminologia acerca do Crime, da Vítima e da Finalidade da Pena ou da Medida de Segurança. Ademais, uma parte é destinada especificadamente à Imputabilidade Penal do Serial Killer, analisando se eles têm capacidade de compreender a gravidade das suas ações e de como deverão ser punidos. A influência mútua entre a existência de um Serial Killer e a sociedade aprofunda a compreensão da maneira como as diversas instituições sociais devem analisar a realidade desde a infância desse indivíduo, como seu comportamento no processo de investigação e a punição adequada a ele. Aprofundou-se o estudo da Criminologia no tema, usando casos nacionais e analisando como a justiça brasileira os tratou. O artigo promove o desenvolvimento do pensamento crítico em relação ao Serial Killer e o Direito Penal Brasileiro. Conduzindo assim, portanto, as pessoas a entenderem quem são, como surgem (em regra) e sua capacidade de mudar com a pena ou medida de segurança imposta pelo Estado após seus crimes. 
Palavras-chave: Serial Killer. Criminologia. Imputabilidade Penal Brasileira.
ABSTRACT
The present article has as main motivation to elucidate the best legal form that the Serial Killer should receive according to his peculiarities. Despite not being an in-depth topic in the media, there are dozens of cases that occurred in Brazil, making it a topic of current repercussion. The current Criminal Law was approached along with doctrinal concepts of Criminology about Crime, Victim and Purpose of Penalty or Security Measure. In addition, a part is specifically aimed at the Brazilian Criminal Imputability of the Serial Killer, analyzing whether they are able to understand the severity of their actions and how they should be punished. The mutual influence between the existence of a Serial Killer and society deepens the comprehension of the way that different social institutions must analyze the reality since childhood of this individual, such as their behavior in the investigation process and the punishment appropriate to it. The study of Criminology on the subject was deepened, using national cases and analyzing how the Brazilian justice dealt with them. The article promotes the development of critical thinking in relation to Serial Killer and Brazilian Criminal Law. Therefore, leading people to understand who they are, how they arise (as a rule) and their ability to change with the penalty or security measure imposed by the State after their crimes.
Keywords: Serial Killer. Criminology. Brazilian Criminal Imputability.
INTRODUÇÃO
Diversas obras literárias e cinematográficas abordam Serial Killers (Assassinos em Série) como ficção, instigando o expectador a entender o animus daqueles que cometem assassinatos em série de maneira tão cruel e/ou bizarra, como demonstra-se na série brasileira “Bom dia, Verônica!”. No entanto, Serial Killers são uma realidade no mundo, despertando medo e curiosidade como nos casos de Ted Bundy e Albert Fish nos Estados Unidos e de mulheres como a inglesa Mary Ann Cotton. Ademais, no Brasil apesar desse tema não ser um assunto tão recorrente na mídia principalmente em tempos de “calmaria”, ele é um dos países com vários casos cruéis, pois a mente humana não obedece a nenhuma fronteira geográfica.
No plano real, já ocorreram dezenas de casos de Serial Killers no Brasil, sendo considerado como o primeiro em 1920 com José – “Preto do Amaral” (1871-1927). Esse indivíduo praticou diversos homicídios em série de crianças carentes. Depois disso, fenômenos desse gênero se repetiram, como exemplos: Frebônio – “O filho da Luz”, José – “Monstro do Morumbi”, Marcelo- “O vampiro de Niterói”, entre outros. 
Ao ver da Criminologia, o Serial Killer não é necessariamente um produto do meio, como antigamente se pensava, essa ciência tenta entender o que leva o cometimento desse tipo de crime e, a partir de suas teorias, tenta combatê-los ou capturá-los analisando perfis psicológicos, vitimologia e o meio social dos criminosos. Por razão dessa ressalva, há uma discussão sobre a maneira que o Direito Penal brasileiro deve ser aplicado a esse típico específico de criminoso, pois não há uma uniformidade de pensamentos sobre a culpabilidade deles.
Portanto, o presente artigo busca analisar o enquadramento do Serial Killer nos critérios definidos como Crime (fato típico, ilícito e culpável) e da finalidade da pena ou medida de segurança aplicável. Por fim, faz-se uma análise do tratamento jurídico destes indivíduos, bem como dos critérios para a determinação de sua imputabilidade, semi-imputabilidade ou inimputabilidade. Espera-se desenvolver a temática de forma a obter a clareza necessária para a demonstração da necessidade do enquadramento correto desse criminoso dentro da legislação brasileira.
CAPÍTULO 01
1.1. Criminologia
A priori o tema deve ser mitigado segundo a visão da Criminologia, uma ciência que de acordo com os autores Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes na obra “Criminologia” cabe a definem como:
“A criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplando este como problema individual e como problema social – assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito.” (GARCÍA-PABLOS DE MOLINA E GOMES, 2002, p. 39) 
Do ponto de vista de Newton e Valter Fernandes na obra “Criminologia Integrada” essa ciência é:
“Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as determinantes endógenas e exógenas, que isolada ou cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do delinquente, e os meios labor- terapêuticos ou pedagógicos de reintegrá-lo ao grupamento social.” (FERNANDES, 2002, p.27) 
Por fim, temos a visão de Roberto Lyra, que foca em sua obra “Criminologia” um conceito mais direto:
“A Criminologia deve atentar para a orientação tanto da Política Criminal – prevenindo diretamente os delitos mais relevantes para a sociedade – como da Política Social – prevenindo genérica e indiretamente os delitos, ou mesmo ações e omissões atípicas, e intervindo quando de suas manifestações e efeitos na sociedade.” (LYRA, 1995, p. 21)
Em suma, a Criminologia é a conexão interdisciplinar de conhecimento, além de ser uma junção do estudo científico do problema criminal, juntamente com a análise da pessoa do infrator, da vítima, da sociedade, da conduta utilizada, e das sanções cabíveis ao caso concreto. Também é uma ferramenta para evitar a reintegração do delito. Ademais, o perfil psicopatológico de um Serial Killer é estudado pela Criminologia. 
1.2. Conceito de Serial Killer
A terminologia Serial Killer tem uso recente, a primeira vez citada foi pelo agente aposentado do Federal Bureau of Investigation (FBI) Robert Ressler na década de 70. O enquadramento do criminoso no termo é complexo, pois as suas definições nãosão claras, nem diretas. Segundo o National Institutes of Justice trata a ação desse indivíduo como:
 “Uma série de dois ou mais assassinatos cometidos como eventos separados, geralmente, mas nem sempre, por um criminoso atuando sozinho. Os crimes podem ocorrer durante um período que varia de horas a anos. Muitas vezes o motivo é psicológico e o comportamento do criminoso e as provas materiais observadas nas cenas dos crimes refletem nuança sádica e sexuais”.
Para Ilana Casoy, os Serial Killers são indivíduos que cometem uma série de homicídios durante um longo período de tempo, com pelo menos algum tipo de intervalo entre os homicídios; esse intervalo entre um crime e outro os diferencia dos assassinos em massa, que se trata de indivíduos que em um só momento matam várias pessoas. Ademais, a autora acredita que eles não possuem motivação para realizar seus assassinatos, pois a maioria dos casos o assassino e a vítima não possuem relação, ou seja, as vítimas aparentemente são escolhidas por acaso e mortas sem nenhuma razão aparente, já que em poucos casos o agente conhece sua vítima. 
Observa-se a concretização de um perfil psicopatológico, pois à maneira que esses indivíduos cometem seus crimes, a rotina de assassinatos, às vezes com um modus operandi simultâneo a abusos sexuais, torturas, humilhação e dominação, fazendo sua assinatura na própria vítima ou no local do crime. Robert Muller afirma que quando seus desejos distorcidos se tornam incontroláveis a busca pela vítima, a submissão de gerar dor a outro ser humano, faz com que a “sua excitação atinja o clímax com o sofrimento da vítima”. O escritor também faz uma relação entre o perfil de suas vítimas, percebendo que elas têm o mesmo perfil, a mesma faixa etária, são escolhidas ao acaso e mortas sem razão aparente. 
Ambos os autores buscam entender o que leva alguém a cometer uma série de homicídios, se é uma questão genérica, psíquica ou psicológica. A Psicologia e a Criminologia tentam explicar o que leva uma pessoa a praticar os assassinatos. Desse modo, a Teoria Freudiana afirma que a agressão nasce dos conflitos internos do indivíduo, entretanto, a Escola Clássica tem a ideia de que as pessoas cometem esses atos utilizando seu livre-arbítrio, tomando decisões conscientes com base na análise de custo versus benefício. Já a Escola Positiva diz que as pessoas não têm controle sobre seus atos, elas são determinadas por fatores genéticos, classe social, meio ambiente e influência de semelhantes, entre outros. Porém, a visão social é bem específica em rotular esses criminosos, como monstros, aberrações, demônios, entre outros, sem observar a vida que esse indivíduo teve, principalmente na infância que pode ter sido violenta e abusiva, para assim fazer uma ponte entre os seus atos criminosos com o seu passado.
"Deve-se sentir pena daquele que tem gostos estranhos, mas nunca insultá-lo. Sua falha é a sua Natureza também. Ele não é mais responsável por ter vindo ao mundo com tendências contrárias do que nós somos por termos nascido de pernas bem arqueadas ou proporcionais". Marquês de Sade (1740-1814), "Diálogo da Quinta" (de 1795).
No Brasil, os estudos aprofundados sobre o tema são poucos, gerando uma sociedade desinformada, concomitante com a falta de preparo das autoridades que não se aperfeiçoam nas estatísticas que tratam do assunto, a fim de evitar casos no Estado, como no caso Lázaro Barbosa, que foi titulado como Serial Killer precocemente, como uma forma midiática de dar mídia e causar histeria.
Por exemplo, o conhecido “Monstro do Morumbi” – José Paz Bezerra- agia de forma padronizada, típica de um Serial Killer, e deixava sua assinatura em suas vítimas. Ele matou cerca de sete mulheres em São Paulo. Seu retrato à época estava em todos os jornais, a polícia não tinha nenhuma pista dele havia um ano, só descobriram a real identidade quando sua esposa o entregou em uma investigação relacionada a um furto. João cumpriu a pena máxima de 30 anos permitida pela legislação, pelos 21 homicídios praticados na área do Morumbi, em São Paulo. Declarou em um programa de televisão que todas suas vítimas eram prostitutas e parecidas com sua mãe, além de ter relatado o quanto sofrera na infância de fome, abandono e abuso físico, concluindo que desde pequeno o mal estava “cristalizado” nele. Na época dos crimes – meados dos anos 70- ele era casado e permaneceu assim até seu cumprimento de pena. Uma de suas declarações mais bizarras foi dada em depoimento: “Quando a mulher fica com a carne dura, ela fica mais gostosa e só fica com a carne dura depois de morta”. Seu diagnóstico foi de Personalidade Psicopática do tipo Sexual (Necrófilo, Sado-Masoquista-Fetichista). Em alguns dos julgamentos por homicídio ele foi absolvido (caso de Cenira de Castro Camorim) e outros foi considerado culpado, mas foi libertado em 24 de novembro de 2001 depois de cumprir a pena máxima de prisão no Brasil.
1.3. Tríade Terrível – Onde Nasce a Violência?
O psiquiatra Macdonald em seu artigo ‘The Threat to Kill’ (1963), concluí um padrão de comportamentos na infância daqueles que tem tendências homicidas, conhecido como “tríade homicida” ou “tríade de Macdonald”. Esse padrão relaciona comportamentos na infância recorrentes de um futuro adulto “predatório”, o autor descreve-a como um conjunto de três fatores:
· Crueldade contra animais: é uma forma de sadismo com extrema violência contra formas de vida inferiores à do torturador;
· Obsessão com fogo: o indivíduo através do ato de incendiar libera tensões por se sentir inferior, frustrado, com raiva e precisa desvencilhá-los de alguma forma;
· Enurese noturna: o ato de urinar na cama, é considerado normal até o período de 5 anos de idade. Quando a enurese persiste até a puberdade, é vista como um problema, um provável desequilíbrio emocional.
Os agentes do FBI, Douglas, Ressler e Burgess compartilharam esse conceito, associando os padrões apontados na infância com o comportamento adulto. No entanto, essa teoria não é majoritária ou vista como regra, há outras pesquisas não validaram essa linha de pensamento, pois já existiram serial killers que não têm histórico de ter sofrido qualquer tipo de abuso ou negligência na infância, como o canibal Jeffrey Dahmer e Ted Bundy.
1.4. Padrão do Serial Killer
De acordo com o livro “Serial Killer – Louco ou Cruel?”, da escritora Ilana Casoy, é apresentado dados estatísticos sobre os assassinos em série:
84% dos serial killer’s são caucasianos;
93% são homens;
90% têm idade entre 18 e 39 anos;
89% das vítimas são caucasianas e 65% são mulheres;
Um terço dos molestadores são viciados em alguma substância;
A cada 9 molestadores, 8 são homens;
Criminosos que abusam de meninos mostram maior risco de reincidir do que aqueles que abusam de meninas;
36% dos Serial Killer’s foram cruéis com animais na infância;
A minoria dos Serial Killer’s são negros – em lares onde sofreram com pais abusivos, eles costumam ser adotados por uma figura feminina amável, como as avós. É um comportamento natural na cultura negra;
Apenas 5% dos assassinos em série estavam mentalmente doentes no momento de seus crimes;
Indivíduos antissociais, impulsivos, sem remorso e que cometem crimes violentos têm, em média, 11% menos matéria cinzenta no lobo pré-frontal.
Outrossim, no livro a autora expõe comportamentos desses indivíduos, cuja:
“O assassino tipo organizado é aquele que possui um ótimo relacionamento com a sociedade, conseguem se adequar a ela, e com isso apresentam uma vantagem, conseguindo assim, seduzir a sua vítima com confiança e segurança. Exibe um grande grau de inteligência e planejam os seus crimes com muito cuidado, se atentando aos detalhes, mantendo, com isso, um controle sobre o cenário criminoso. Esse indivíduo ainda possui um conhecimento na área da ciência forense e por isso consegue não deixar rastros na cena do ato delituoso, dificultando a investigação do crime. Muitas vezes ele se orgulha do ato que praticou, como se não passasse de um projeto feito por ele. Por fim, esse assassino acompanhaos delitos que cometeu pela mídia, de uma maneira cuidadosa. O assassino enquadrado no tipo desorganizado possui as seguintes características: são impulsivos, reclusos, introvertidos, se reprimem de qualquer tentativa de contato com as outras pessoas, costumam ter poucos amigos, são de pouca inteligência e movidos pela emoção e pela ansiedade. Podem apresentar um histórico de problemas mentais e com hábitos e personalidade assustadores e excêntricos. Ele não planeja seu crime e nem se preocupa em encobrir os rastros dele, muitas vezes até costuma deixar a arma do crime e a vítima no local do delito. Adota ritos para a configuração de seus atos, como a necrofilia, que é o contato sexual com cadáveres, canibalismo, abuso sexual e mutilações. Procura sua vítima quando surge uma oportunidade, escolhendo-a aleatoriamente, não seguindo um padrão para selecioná-la. O assassino tem pouca consciência do crime que cometeu, pode até chegar a bloquear da memória os assassinatos.” (CASOY, 2002, p. 39 a 41)
Por fim, Casoy cita a pesquise do Doutor Joel Norris, Phd em Psicologia e escritor, que distinguiu as ações do Serial Killer em seis fases, que são:
“1- Fase Áurea, que é aquela onde começa, para o assassino, a perda da realidade em que vive; 2- Fase da Pesca, que é quando o assassino vai à busca da vítima, fazendo uma seleção, para assim elegê-la; 3- Fase Galanteadora, que é aquela onde o assassino induz a vítima, seduzindo-a e enganando-a; 4- Fase da captura, é aquela quando a vítima é capturada, cai na armação feita para sua captura; 5- Fase do assassinato ou totem, é o momento auge para o assassino, é o clímax de suas emoções; 6- Fase da depressão, que ocorre depois que a vítima é morta” (NORRIS apud CASOY, 2002, p. 29)
CAPÍTULO 02
2.1 Teoria do Delito
Os conceitos estabelecidos na teoria do delito elucidam quais são as características que o crime tem. Esta teoria depreende três elementos para que uma ação se torne um delito:
• Tipicidade/Fato Típico – condiz em uma conduta tipificada no Código Penal como um delito;
• Antijuridicidade/ Ilicitude – trata-se de uma conduta humana que é contrária ao que é imposto pelo Estado;
• Culpabilidade – é a vontade culposa. Divide-se em dolo (vontade plena da ação e do resultado) e culpa (vontade viciada da ação e do resultado).
Portanto, para a configuração do crime/delito é necessário ser fato típico, antijurídico e culpável. A ausência de uma destas característica não permite que ocorra a punibilidade do ato.
De acordo com Rogério Greco a culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente. Ela tem como elementos integrantes a Imputabilidade; a potencial consciência sobre a ilicitude do fato; e a exigibilidade de conduta diversa. 
A Imputabilidade significa que a pessoa possui inteira capacidade de entender o caráter ilícito do fato. São considerados inimputáveis as pessoas que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, com fulcro no Artigo 26 do Código Penal Brasileiro.
2.2. Culpabilidade e Punibilidade
Como já foi exposto observa-se que conceito de crime é o início da compreensão dos principais institutos do Direito Penal. Embora aparentemente simples, a sua definição completa apresenta questões complexas que acarretam consequências diversas. 
Quanto ao critério material crime é toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. Esse critério leva em consideração a relevância do mal produzido. Assim, somente se legitima o crime quando a conduta proibida apresentar relevância jurídico-penal, mediante a provocação de dano ou ameaça de dano.
Quanto ao critério legal, o conceito de crime é fornecido pelo legislador. Contudo, o Código Penal não conceitua crime, mas a Lei de Introdução ao Código Penal o faz:
"Considera-se crime a infração penal a que a Lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou de ambas, alternativa ou cumulativamente."
2.3 O Crime e o Serial Killer
Apesar de todo o estudo e desenvolvimento das ciências criminais e sociais, não se tem respostas para todos os acontecimentos da vida em sociedade, como no caso dos Assassinos em Série. Capez entende que a culpabilidade é a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de uma infração penal e a imputabilidade é a capacidade ou aptidão do indivíduo de ser culpável. 
Rogério Grecco (2009), aduz que a culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Uma das causas que excluem a imputabilidade é quando o agente estava acometido de uma doença mental ao tempo do crime. Para o reconhecimento da existência da inimputabilidade, que é a incapacidade de culpabilidade, Bitencourt dispõe que é suficiente que o agente não tenha uma capacidade de entendimento ou de autodeterminação.
São critérios que levam a concluir pela inimputabilidade do agente a existência de uma doença mental que gere a compreensão incompleta ou retardada, a absoluta incapacidade, ao tempo da ação ou da omissão, impedindo o entendimento do caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Para a caracterização da inimputabilidade se faz necessária a ausência, no indivíduo, da sanidade mental e da maturidade. Assim sendo, será inimputável o agente que não apresentar a capacidade de entender a ilicitude do fato e de não agir de acordo com esse entendimento.
A prova da inimputabilidade do acusado é fornecida pelo exame pericial, quando houver dúvida sobre a integralidade mental do réu, o juiz determinará, de ofício, ou a requerimento, que seja aquele submetido a exame médico.
Os Serial Killers são impulsionados a matar, mas não há razões concretas e uniformes que expliquem o instinto criminoso de matar. A maioria desses criminosos são classificados como psicopatas. Contudo deve-se observar o caso concreto, elaborando-se uma análise retrospectiva e real do perfil criminoso, podendo assim definir-se a sanção penal a ser aplicada.
Geralmente os psicopatas são considerados semi-imputáveis, por não serem inteiramente capazes de compreender a ilicitude dos fatos ou de se determinarem segundo esse entendimento. Mas nada impede que eles sejam considerados imputáveis e até mesmo inimputáveis, devendo ser analisado o caso concreto. Alguns Serial Killers possuem elevado nível de inteligência, além de possuir absoluta consciência de suas condutas e plena capacidade de autodeterminação, todavia sofrem de transtorno de personalidade, sendo um fator determinante para afetar sua capacidade de controle.
Ocorre que quando são capturados, alguns passam a se comportar como “loucos”, e este fato é constantemente alegando nos tribunais, ou seja, a falta de sanidade do acusado. Nesse momento é crucial que o tribunal tenha atenção a todos os fatores que constituem o caso, pois não se pode olvidar que o criminoso em questão quando dotado de inteligência acima da média, pode conseguir manipular a realidade, e as pessoas como lhe convém. Sobre isto, Casoy afirma que “quando são capturados, rapidamente assumem uma máscara de insanidade, alegando múltiplas personalidades, esquizofrenia, black-outs constantes ou qualquer coisa que o exima de responsabilidades.
2.4 Sanção Penal 
Depois de todo o processo penal e comprovado a autoria do crime e do criminoso, deve ser aplicada uma sanção penal. A sanção penal pode ser a pena ou a medida de segurança. A pena tem como finalidade aplicar a retribuição punitiva ao criminoso, mas também tem o fim de promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida à coletividade. Já a medida de segurança tem como finalidade exclusivamente preventiva, evitando que o autor que tenha demonstrado periculosidade voltea delinquir, esta medida é aplicada aos considerados inimputáveis. 
O inimputável, mesmo sendo o agente que praticou a conduta típica e ilícita, não deve ser aplicado a ele uma pena, aplicando-lhe, contudo, uma medida de segurança, ou seja, mesmo ele sendo "absolvido" pela sentença, ela deixa a sequelas, pois ele será sancionado a uma medida de segurança, chamada de sentença absolutória.
Quando se trata de um indivíduo com doença mental, ele é considerado vítima da sua própria falta de discernimento. Assim, de acordo com o Código Penal Brasileiro se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação, todavia, se o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. Portanto, analisando o critério psicológico do artigo 26 do Código Penal resta a aferição da capacidade mental de uma pessoa e eximi-la de pena quando por doença mental ou desenvolvimento metal incompleto ou da mesma forma retardado, se encontrava ao tempo da ação ou omissão inquestionavelmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou mesmo de posicionar-se mediante a impossibilidade do entendimento.
É pacífico entre os estudiosos do tema que o assassino em série é capaz de entender que sua ação é um fato típico e ilícito, contudo sua culpabilidade deve ser analisada de acordo com cada caso. Um dos argumentos comumente levantada pela defesa nos tribunais, não só no Brasil, mas em qualquer outro lugar é a insanidade do criminoso, no entanto, dificilmente é acatada.
 “A imputabilidade é a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar se de acordo com esse entendimento. O agente deve ter condições físicas, psicológicas, morais e mentais de saber que está realizando um ilícito penal” (“Capez, 2018, p. 326”).
Aprofundando o tema na ciência da Criminologia, a Teoria defendida por Cesare Lombroso, aduz que o criminoso nato teria um crânio quase sempre assimétrico, preponderante na parte posterior e pequeno em relação ao desenvolvimento da face. Essa teoria não se fundamenta, pois nem todos os Assassinos em Série se enquadram por esse estereótipo e nem é usada como componente de valoração de culpabilidade. 
Para entender se o indivíduo pode ser punido, é essencial, analisar a imputabilidade dele, averiguando se é possível atribuir um fato considerado ilícito e antijurídico a ele. Na maioria dos casos concretos temos a imputabilidade e excepcionalmente a inimputabilidade comprovada por perícia. 
No Brasil adota-se como entendimento doutrinário majoritário no caso em que o agente tem como fator determinante a responsabilização penal pela capacidade intelectual de entender o caráter ilícito do fato dois critérios para concretizar a inimputabilidade do agente:
I - Ser reconhecida definitivamente a doença mental ou o desenvolvimento mental incompleto ou retardado; e
II Ao tempo do crime, da ação ou omissão, o indivíduo era absolutamente incapaz de entender a ilicitude do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Como já citado, alguns desses indivíduos não são considerados totalmente inimputáveis, pois eles tinham consciência de seus atos, porém por conta de fatores alheios a sua vontade não conseguiam parar de cometê-los. 
As expressões comumente usadas pela doutrina nesse caso são: “imputabilidade diminuída” ou “semi-imputabilidade”. O agente nessa circunstância tem diminuída sua capacidade de censura, de valoração. Logo, nas hipóteses de culpabilidade diminuída o Código Penal, permite a redução de pena se o agente não possui capacidade plena de entender a ilicitude do fato ou de determina-se de acordo com esse entendimento.
Nos casos de imputabilidade diminuída o agente tem afetada a sua capacidade de autodeterminação e seu entendimento, mas somente reduzida não anuladas. Nesse caso, permanece a culpabilidade do fato que permita com que o Assassino em Série seja condenado, mas ele é considerado semi-imputável tem direito a uma atenuação da pena de 1/3 a 2/3, ou se o juiz entender necessário a pena poderá ser substituída por uma medida de segurança.
Ademais, analisando as aplicações penais mencionadas faz-se necessário mencionar a respeito da reinserção social ou ressocialização do Serial Killer, pois se trata de uma das finalidades da pena. Contudo, a forma brutal e violenta do comportamento desses indivíduos é marcante para sociedade, dificultando qualquer tentativa de ressocialização do indivíduo, pois esse comportamento e suas consequências não são aceitos na sociedade. 
O requinte de crueldade e a premeditação dos crimes em todas as etapas desde a fase da cogitação, onde se inicia a ideia de praticar o crime; a fase da preparação, onde sai da esfera da cogitação e começa a preparar o crime; a fase da Execução, onde começa a colocar em prática sua ideia criminosa, nesse momento o agente já pode ser punido por seus atos praticados; a fase da consumação, quando se reúne todas as figuras típicas, e o crime é consumado e a fase do exaurimento, onde o agente tira proveito do crime, atitudes que já excederam as esfera da intenção inicial, Uma parcela desse trabalho tem objetivo de despertar a compaixão, o interesse e a necessidade nos governantes e nas instituições da sociedade civil organizada em investir, mais e mais, em pesquisas científicas voltadas para a área de atenção básica à saúde mental, além de compreender os atos dos assassinos em série na esfera Jurídica.
Além disso, entender como se enquadra a culpabilidade à luz do direito penal brasileiro e quais suas consequências, sendo necessário entender a capacidade do indivíduo a época do crime. Esses indivíduos têm capacidade de se "camuflar" na sociedade, pois a maioria demonstram ser pessoas "normais" e raramente levantam suspeitas, ademais, conseguem atrair suas vítimas com extrema facilidade. Por isso, o caso concreto deve ser analisado minuciosamente, para que se possa definir um perfil do criminoso e determinar como será sua responsabilidade jurídica. 
Em se tratando da ressocialização o entendimento entre os doutrinadores é controverso. Porém, para a maioria dos psiquiatras afirmam que esses indivíduos são irrecuperáveis. Dessa forma, entendemos que o Serial Killer é de fato um indivíduo socialmente e moralmente perturbado, imprevisível e incontrolável. No entanto, o Estado não deixa de puni-lo, mas se atentando as peculiaridades do caso e agindo de forma a prevenir mais crimes e que se for o caso acompanhá-lo de forma permanente.
CAPÍTULO 03
3.1 Casos Brasileiros
3.1.1 José Augusto do Amaral – O “Preto Amaral”
José Augusto, foi um criminoso da década de 20, seu primeiro crime aconteceu em 13 de fevereiro de 1926, ele estrangulou um menino de nove anos procurando satisfazer seus desejos sexuais em seu cadáver. Porém, quando se espantará ao ver um carro próximo ao local, fugiu da cena, mas no dia seguinte retornou ao local para dar vazão aos seus desejos sexuais, mas não havia ninguém ali, o menino sobreviveu e fugiu.
Depois desse episódio Preto Amaral realizou o mesmo procedimento com três novas vítimas, de 27, 12 e 15 anos, todas do sexo masculino, matando-as de maneiras semelhantes por estrangulamento e depois violentando seus cadáveres. Até um dos corpos serem encontrados e através de testemunhas encontrarem e o Serial Killer. Nesse período, cerca de cinco crianças entre 14 e 17 anos desapareceram naquela época, mas a polícia não conseguiu ligar José ao desaparecimento delas.
Segundo relatos da polícia e dos jornais da época em seu depoimento ele não demonstrou emoção, afirmava que os fantasmas de suas vítimas o perturbavam, e a confissão traria sua paz. 
Teve diagnóstico médico-psiquiátrico realizado por Antonio Carlos Pacheco e Silva, catedrático de psiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo, como:
“Trata-se, ao nosso ver, de um criminoso sádico e necrófilo, cuja perversão se complica de pederose, em que a criança é o objeto especial e exclusivo da disposição patológica. Teria habilidade de praticar seus crimes sem ser descoberto. Amaral enquadrou-se no grupo dos pervertidossexuais caracterizados por aqueles que se encontram em permanente estado de hiperestesia sexual, que, sob a influência dessa excitação, que é contínua e mortificadora, são levados ao ato, mais ou menos automaticamente, sem terem a capacidade de refletir e julgar o ato impulsivo. Os crimes dos sádicos-necrófilos são executados com relativa calma, com prudência, de emboscada, e o criminoso age como se estivesse praticando um ato normal.”
Amaral faleceu em 2 de julho de 1927, aos 55 anos, de tuberculose pulmonar, ainda em prisão preventiva, nunca chegou a ser julgado.
3.1.2. Francisco Costa Rocha – Chico Picadinho
Na infância Francisco Costa Rocha fora abandonado pelo pai, separado da mãe por alguns anos, teve problemas com disciplina, matava gatos –crueldade contra animais – afogando-os ou enforcando-os e observando os resultados, fazia rituais para invocar o diabo, ateava fogo -piromaníaco- em variadas coisas, pesquisava sobre vampiros, mergulhava em sua imaginação. Sofria de enurese noturna até os 5 ou 6 anos, seu nariz sangrava constantemente, além de sofrer de asma e pavor noturno. 
Na juventude, não conseguia emprego por falta de disciplina e persistência, além de não ter boa orientação. Seus relacionamentos afetivos eram líquidos, ele não gostava e não queria firmar compromissos. Sempre preferiu companhias de “mulheres da noite”. Logo, a bebida virou um vício e em seguidas as drogas, depois participara de orgias noturnas com mulheres diversas. A agressividade sexual começou a fazer parte do seu cardápio habitual.
Em 02 de Agosto de 1966, Francisco conheceu Margareth Suida, sua primeira vítima. Ela era uma bailarina de 38 anos de idade, após se conhecerem em um bar e conversarem bastante foram até o apartamento de Francisco e de seu amigo Caio. No apartamento, de acordo com o laudo nº 14.985/66 realizado pelo perito criminal Adolpho Viesti houve, a priori, desejo em nível comum por ambos, eles tiveram relações sexuais consentidas, fumaram juntos, porém, durante certo momento durante o ato sexual, o lado sádico de Francisco saiu do controle e ele estrangulou com um cinto Margareth. Este impulso se desdobrou ao sentimento de terminar de matá-la e de se livrar do corpo, arrastando-o até o banheiro, a fim de mutilando-o. Então, ele o colocou na banheira e, com uma gilete e uma faca de cozinha, retirou seus mamilos e começou a retalhá-lo. Tirou os seios, músculos, pelve, a metade direita das costas e um pedaço das nádegas e por fim decidiu jogá-los em um balde de plástico. O processo que ele submeteu o corpo da mulher estava mais próximo de uma dissecação do que com um esquartejamento, suas partes moles, como seios e músculos também foram retiradas, em suma, suas partes femininas foram retiradas, isso é chamado de “desfeminização”. Repentinamente, Francisco voltou a si e começou entender o que havia feito. Na perícia do local do crime constou-se que no corpo houve mutilações generalizadas, evisceração parcial e ferimentos incisos e perfuro incisos, atingido as regiões da dorsal direita, a glútea direita, a perianal, a parte anterior do pescoço, a torácica, a abdominal, a pubiana, a coxa esquerda, o braço e o antebraço esquerdo. Ele não soube explicar como chegou aquele ponto, o que se ilustra em posterior entrevista concedida à autora Ilana Casoy, da obra “Serial Killers: Made in Brazil”:
“É como se aquilo fosse algo inevitável, sei lá. Algo assim... É, não dá pra entender. Nesse ponto aí eu não... Não entendo. Não sei se tem relação com alguma coisa anterior que aí... Me é obscuro isso aí. Eu tenho como justificar aquilo, o fato de ela ter... É... É, é um negócio... Eu busco entender por quê! Veja bem, se eu quisesse vitimar mulheres no sentido, assim... Maníaco do Parque e outros casos que têm aí, eu teria condições. Eu não iria usar meu próprio apartamento! Usaria da minha inteligência e se fosse para matar mulher, iria matar no apartamento da vítima.” 
Ao limpar-se com álcool e vestir-se, se dirigiu ao térreo do prédio para esperar seu amigo médico Caio. No Jantar com o médico confessa que havia uma pessoa morta no apartamento. Francisco foi preso em 05 de agosto de 1966, logo foi conduzido para a 3ª Delegacia de São Paulo. Consta no interrogatório, que a vítima lembrava a mãe do criminoso, que, abandonada pelo marido vivia em companhia de homens estranhos, além disso, ele disse que tinha uma sensação de que “sua potência e virilidade diminuíam, aparecendo em seu lugar um sentimento mórbido pela violência, que se expressava em apertar-lhe o pescoço e morder-lhe” e teria perdido o controle ao ser rejeitado e ridicularizado por ela. 
Francisco foi condenado a 18 anos de reclusão por homicídio qualificado, mais dois anos e seis meses de prisão por destruição de cadáver. Contudo, teve sua pena comutada para 14 anos, quatro meses e 24 dias. Até que em junho de 1974, depois de fazer supletivo 1º e 2º graus, ser um leitor assíduo, um preso de confiança e trabalhar diretamente com a diretoria, oito anos depois teve sua liberdade provisória decretada. Foi libertado por comportamento exemplar e excluído o diagnóstico de personalidade psicopática e estabelecido que Francisco tinha “personalidade com distúrbio de nível profundamente neurótico”, ele obteve Progressão penal e só tinha somente obrigação nonagesimal de comparecer em juízo para anotação na carteira de preso condicional.
Aparentemente a ressocialização de Francisco estava se cumprindo, ainda na prisão casou-se, quando saiu conseguiu um emprego na Editora Abril como vendedor, conseguia um bom dinheiro, tinha um bom desempenho, mas com o dinheiro voltou a boemia, voltou a beber, quando sua esposa engravidou o casal teve ainda mais atritos que os levou ao divórcio de fato em 74. Francisco voltou a usar drogas, morar em pensões, hotéis, morava de favor em lugares arranjados por amigos, mudava de empregos, arranjava bicos, nesse período saia com mulheres e tinha comportamento violentos como hipoxifilia e mordidas, sendo, inclusive, dia 15 de setembro 1976 instaurado um processo contra ele de lesão corporal dolosa.
No dia 15 de outubro de 1976, Francisco Costa passa a ser conhecido como o “Chico Picadinho”, após ser condenado a 22 anos e seis meses de prisão, num veredicto não unânime de quatro jurados contra três pelo brutal Homicídio da prostituta Ângela de Souza da Silva. Com a segunda vítima do Serial, ele repetiu o mesmo modo operandi do primeiro crime, ou seja, com o mesmo sadismo e crueldade, atraiu a vítima para o apartamento de seu amigo Joaquim, ela foi estrangulada até a morte durante a relação sexual, porém com uma sutil diferença, logo que, desta vez, ele estava munido não só com a faca de cozinha, mas também com um serrote e um canivete, sendo possível assim “picar” a vítima em pequenos pedaços, na forma de esquartejamento, com o fim de esconder o crime, arrastando o corpo para o banheiro, algumas partes de Ângela foram jogadas no vaso sanitário até o encanamento entupir, o restante ele dividiu em uma mala, uma sacola e sacos plásticos que pretendia atear no rio Tietê, mas seu amigo Joaquim retornou ao apartamento e se deparou com os pedaços do cadáver, logo a polícia foi acionada. 
Em seu julgamento a defesa alegou insanidade mental e que se tratava de homicídio simples por não configurar dolo do réu, pois a ocultação do corpo se tratava de transe causado pela perturbação mental momentânea - A acusação discordou completamente – no decorrer do processo foi apresentado um laudo de sanidade mental realizado pelos renomados psiquiatras doutro Wagner Farid Gattaz e doutor Antonio José Eça declarando Francisco como semi-imputável, definindo-o como “portador de personalidade psicopática de tipo complexo, que, em função direta dela, delinquiu”, além de apresentar “prognóstico bastante desfavorável, congênita que é a personalidade psicopática. Esta manifesta-se cedo na vida, e não é suscetível a nenhuma espécie de influência pela terapêutica, conferindo, no presente caso, alto índice de periculosidade latente”. Mesmo ultrapassando o tempomáximo de pena a Justiça Cível, e não a Criminal, não permite a libertação de Chico Picadinho, aplicando a ele um sistema denominado duplo binário.
3.1.3 Vampiro de Niterói – Marcelo Costa de Andrade
Em relatos de Marcelo em entrevista aos psiquiatras que fizeram sua avaliação ele narrou uma infância conturbada, um pai que bebia e muito nervoso, seus pais se separaram quando tinha cinco anos e foi levado para morar com os avós, mesmo sem ter convivido com eles. Nessa época ele apresentava problemas físicos e alguns eram gerados por surras com cabo de vassoura ou correia, além de quedas e outros acidentes. Não era um bom aluno e não conseguia acompanhar as aulas e com cinco anos matou cerca de sete filhotes de gatos, jogando-os para o alto até a morte.
Aos dez anos sua mãe foi buscá-lo na casa dos avós, seu convívio com ele e o padrasto não deu certo, eles brigavam muito e acabou indo morar com seu pai, a madrasta e os filhos do casal, que também não deu certo. Foi mandado para um internado em Engenho Novo e fugiu, acabou morando nas ruas e sendo abusado sexualmente por adultos aprendendo a ganhar um dinheiro se prostituindo e começou a viajar.
Em 1991 Marcelo começou a matar, apesar de se declarar religioso, ele escolhia crianças entre 5 e 13 anos como vítimas de suas cruéis sessões de tortura e sodomia por serem inocentes e acreditava que após a morte eles iriam direto para o céu. Ele dizia não ser um vampiro, apenas bebia o sangue das suas vítimas para ficar “bonito e puro” como elas, preferindo meninos por serem mais bonitos enquanto tinham a pele “lisinha”.
Nos vários Laudos psiquiátricos durante sua internação, os médicos acreditam que ele não era inteiramente capaz de entender o mal que fazia. Sendo diagnosticado como psicopata com doença mental grave, esquizofrenia, além de distúrbios de comportamentais - perversão de conduta- gerados por seus transtornos mentais (oligofrenia e psicopatia). Foi instaurado o incidente de insanidade mental que ligou diretamente seu quadro mental aos seus crimes, tornando-o inimputável na forma da lei, por conseguinte foi isento de pena e fora aplicada uma medida de segurança, seu fim está condicionado a cessação de sua periculosidade. Desde 2003, ele está internado Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Heitor Carrilho, no Rio de Janeiro, ele anualmente é avaliado com exames para identificar a cessação de sua periculosidade, mas em todos eles os peritos determinam que Marcelo não tem condições de ser desinternado, portanto sua internação continua por tempo indeterminado.
3.1.4 Febrônio Índio do Brasil – “Filho da Luz”
Um indivíduo com a infância conturbada, em meio de brigas entre seus pais, até uma tentativa de feminicídio de seu pai contra sua mãe, teve treze irmãos e veio de uma família simples. Fugiu de casa aos 12 anos e andou pelas cidades de São Miguel e Jequitinhonha até chegar em Diamantina, aos 14 anos chegou ao Rio de Janeiro e começou sua vida de crimes. Quando avaliado pelo Dr. Juliano Moreira foi diagnosticado como mitômano (indivíduo que mente com frequência), se encontrava em um estado atípico de degeneração, tinha perversões sexuais, constituição perversa, mas ausência de alucinações.
Ele fez uma tatuagem em seu abdômen “Eu sou o filho da luz” e acima do umbigo as letras D C V X V I, que significavam Deus, Caridade, Virtude, Santidade. Ele afirmava que estava vivo para cumprir uma “missão”.
Febrônio mudava de identidade e até se passou por um dentista formado e atendeu pacientes, portando um diploma falso. Ele sentia prazer na dor de seus pacientes, demonstrando seu sadismo, em depoimento uma mulher foi depor no Rio de Janeiro que ele arrancara quatro dentes dela, mesmo sem necessidade e a fez bochechar álcool puro na frente dele. Já se passou de médico no Espírito Santo e Minas Gerais, também falsificando documentos e realizando partos e cirurgias.
Ele foi preso em fevereiro de 1927 nas matas do Corcovado quando estava pintado de amarelo e completamente nu dançando na frente um uma criança amarrada em uma árvore. Além disso, A dona de uma das casas que Febrônio morava de aluguel afirmou em depoimento que o viu cozinhando uma cabeça humana em uma lata de querosene no quintal. Sobre esse último relato ele se justificou afirmando que havia retirado a cabeça de um cemitério perto dali e estava fervendo o crânio para retirar pedaços do couro cabeludo e seu mau cheiro, para depois utilizá-lo em estudos medicinais.
Seus registros criminais incluíam 37 prisões, oito entradas na Casa de Detenção e três condenações, por crimes diversos como vadiagem, furto, roubo, chantagem, fraude e homicídio. Entretanto, alguns casos não chegaram a ser julgados por falta de provas ou conexão dele com as vítimas.
Sobre seus assassinatos, Febrônio abusava sexualmente, torturava e/ou tatuava suas vítimas antes de matá-las com extrema crueldade. A missão supracitada era de tatuar meninos, pois assim ele estaria lutando contra o demônio.
O primeiro homicídio ocorreu em 13 de agosto de 1927, ele foi até a casa de um rapaz de 19 anos fingindo estar à procura de um empregado para uma empresa de aviação na qual ele trabalhava. Nessa ocasião ele vestia um uniforme típico da função de motorista e assim conseguiu atrair o jovem para um matagal previamente selecionado e com um cipó asfixiou ele. Mesmo com testemunhas, ainda no mesmo ano, ele fez sete novas vítimas, todas do sexo masculino e jovens, atraindo-os com promessas de emprego, sempre usando o mesmo procedimento.
Em seu interrogatório um dos delegados o questionou sobre a religião que ele seguia, e respondeu:
“Ela é fruto de repetidas leituras e estudos que tenho feito sobre as religiões professadas pelo povo. E tudo que faço é em benefício da geração. Em tempos idos, reis e príncipes sacrificaram seus filhos em holocausto aos seus deuses. Eu sacrifiquei a primeira vítima em benefício da humanidade, que está corrompida.”
“Em um lugar ermo vi aparecer uma moça branca de cabelos loiros e longos que me disse que Deus não morrera e que eu teria a missão de declarar isso a todo mundo. Deveria, nesse propósito, escrever um livro e tatuar meninos com o símbolo D C V X V I, que significa Deus vivo, ainda que com o emprego da força.”
O psiquiatra forense Dr. Heitor Carrilho concluiu pela inimputabilidade do réu, recomendando a internação dele até o fim de sua vida. Sendo enviado ao manicômio judiciário do Rio de Janeiro, em 6 de junho de 1929 foi transferido para a Casa de Detenção, onde permaneceu até sua morte, em 27 de Agosto de 1984, por enfisema pulmonar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer do tempo, observa-se que há um crescimento no número de casos brasileiros de Serial Killers. Sendo crucial observar como o Direito Penal deve ser aplicado de acordo com a lei, princípios e teorias da Criminologia acerca da Imputabilidade desses indivíduos. 
Entender o conceito de Serial Killer, analisando as possíveis causas debatidas na literatura sobre a motivação do assassino em série e estudar a Culpabilidade e Punibilidade que deverá ser utilizada no caso concreto. 
É evidente que o estudo dos Serial Killers depende de uma análise do conceito de delito, das espécies de sanções e de sua finalidade, além da imputabilidade, pois um dos principais objetivos do presente trabalho é o questionamento em relação da reinserção desses indivíduos na sociedade após a pena de prisão ou tratamento por meio das medidas de segurança. 
A análise da culpabilidade penal é crucial para identificar se esse indivíduo tem o discernimento necessário para compreender seus crimes, observando como ele controla seu comportamento perante a sociedade e quando comete seus crimes, seus devaneios, além da premeditação ou não deles. Ao passar pelas fases do inter criminis: cogitação, a primeira onde se dá início a ideia, onde ele se prepara, e parte para o preparo do crime com a segunda a fase, a Execução, pondo em prática sua cogitação criminosa, já sendo possível de punição penal na modalidade tentada, quando, em seguida, há a fase da consumação, quandose reúne todas as figuras típicas, e o delito é consumado, na maioria das vezes de forma brutal, por fim há a fase do exaurimento, onde o assassino tira proveito de seu crime, como alguns citados tinha o hábito de praticar necrofilia com os corpos ou outras atitudes desnecessárias. 
Na margem da imputabilidade, a capacidade do Serial Killer deve ser justificada pelo levantamento de seu valor teórico, social e jurídico, na seara do Direito. A relevância social repousa no fato de que o estudo dos crimes e dos criminosos precisam ser esclarecidos para a sociedade, para que esta possuindo conhecimento necessário, possa se proteger, e entender o destino daqueles após a prática do crime, evitando o julgamento moral/social de ódio. Por fim, no viés jurídico traz-se à indagação se o tratamento jurídico atual está compatível para a aplicação da sanção e esta atinja toda sua finalidade.
REFERÊNCIAS
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GHERSEL, Giovanna P. L.. TEORIA DO DELITO: APRENDA A DIFERENCIAR TIPICIDADE, ILICITUDE E CULPABILIDADE. Artigos e Mídia. 2019. Disponível em: HTTP://LIMANUNESVOLPATTI.ADV.BR/TEORIA-DO-DELITO-APRENDA-A-DIFERENCIAR-TIPICIDADE-ILICITUDE-E-CULPABILIDADE/. Acesso em: 2 jun.2021.
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MACDONALD, J. M. “The threat to kill“. American Journal Psychiatry. 1963

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