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VALDIR BARBOSA JUNIOR SERIAL KILLER E O DIREITO PENAL Centro Universitário Toledo Araçatuba 2019 VALDIR BARBOSA JUNIOR SERIAL KILLER E O DIREITO PENAL Monografia apresentada ao curso de Direito do Centro Universitário Toledo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob a orientação do Prof. Me Carlos Paschoalik Antunes. Centro Universitário Toledo Araçatuba 2019 Valdir Barbosa Junior SERIAL KILLER E O DIREITO PENAL Monografia apresentada ao curso de Direito do Centro Universitário Toledo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob a orientação do Prof. Me Carlos Paschoalik Antunes. Aprovado em ____de ______________de ______ BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Centro Universitário Toledo AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer a todos os Professores Mestres do curso de Direito do Centro Universitário Toledo, por toda sua dedicação e empenho, para nos transmitir conhecimento teórico e prático de todos os ramos compreendidos nesta graduação, contribuindo para nossa formação acadêmica. Agradeço também a minha família, pelo apoio proporcionado a mim em mais esta empreitada a que me projetei, para absorção de conhecimento, na qual me enveredei durante cinco longos anos, em especial a minha esposa por toda tolerância e solidariedade nesse período de nova formação. E por fim a todos os novos amigos que angariei durante o período de curso, por todo o tempo de convivência. RESUMO Um cidadão considerado por todos a sua volta como uma pessoa do bem, quieta, quase sempre imperceptível dentro de uma sociedade, comete da noite para o dia um crime considerado como bárbaro com requintes de crueldade. Inúmeras perguntas surgem tanto para os leigos quanto para os maiores doutrinadores e psiquiatras. O que se passa em sua cabeça? O que leva uma pessoa a cometer tamanha atrocidade? Como podemos identificá-las? Seriam problemas psicológicos ou apenas o frio desejo de cometer assassinatos desmotivados? Quais medidas legais poderiam ser aplicadas ao assassino? Seriam elas suficientes? O presente trabalho terá como objetivo apresentar estes indivíduos e buscar respostas para as dúvidas que sempre recaem quanto ao tema em tela. Palavras – chave: Serial Killer; Psicopata; Direito Penal; ABSTRACT A citizen considered by all around him as a person of good, quiet, almost always imperceptible within a society, commits overnight a crime considered as barbarous with refinements of cruelty. Countless questions arise for both the laity and the greatest teachers and psychiatrists. What goes on in your head? What causes a person to commit such an atrocity? How can we identify them? Are they psychological problems or just the cold desire to commit demotivated murders? What legal measures could be taken against the murderer? Would they be enough? The present work will aim to present these individuals and seek answers to the doubts that always fall on the subject on screen. Key-words: Serial Killer; Psycho; Criminal Law; SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09 I O DIREITO PENAL BRASILEIRO ..................................................................... 11 1.1 Evolução do direito penal .................................................................................... 11 1.2 Crime .................................................................................................................... 13 1.2.1 Diferença entre crime e contravenção penal ....................................................... 14 1.3 Sujeitos e objetos do crime .................................................................................. 14 1.4 Classificação doutrinária dos crimes ................................................................. 16 1.5 Culpabilidade ....................................................................................................... 18 1.5.1 Imputabilidade e inimputabilidade ..................................................................... 19 1.6 Pena ....................................................................................................................... 21 1.6.1 Princípios da pena ............................................................................................... 22 1.6.2 Tipos de pena ...................................................................................................... 24 1.7 Medida de segurança ........................................................................................... 26 1.7.1 Espécies de medidas de segurança .................................................................... 27 1.7.2 Pressupostos da medida de segurança ............................................................... 27 1.7.3 Duração da medida de segurança ....................................................................... 28 1.7.4 Fim da medida ou liberação condicional ........................................................... 28 1.7.5 Conversão da pena em medida de segurança .................................................... 29 II SERIAL KILLERS ............................................................................................... 30 2.1 Origens e definições ............................................................................................ 30 2.2 Tipos de assassinos .............................................................................................. 33 2.2.1 Psicopata x psicótico .......................................................................................... 35 2.3 Características de um serial killer ..................................................................... 36 2.4 Classificação ........................................................................................................ 41 2.5 Modus operandi do assassino ............................................................................ 42 2.6 Modus operandi dos investigadores .................................................................. 44 2.7 Outras informações ............................................................................................ 46 III CASOS REAIS .................................................................................................... 47 3.1 Theodore Robert Cowel (1946 - 1989) .............................................................. 47 3.2 Jeffrey Lionel Dahmer (1960 - 1994) ................................................................ 50 3.3 Edmund Emil Kemper III (1948-) ..................................................................... 53 3.4 Serial killers brasileiros ...................................................................................... 55 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 58 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 64 9 INTRODUÇÃO Para que se entenda qual é o objetivo deste trabalho, imagine a seguinte situação: Mais um dia se inicia em uma pacata rua de uma pequena cidade, aparentemente um dia normal onde às pessoas acordam, tomam café da manhã e saem para levar seus filhos para a escola e posteriormente trabalhar. Um dos moradores desta rua segue o mesmo “roteiro”. Acorda, toma banho, faz a barba, veste-se com sua melhor roupa e senta para tomar o café da manhã tranquilamente enquanto lê as notícias no jornal. Contudo, após sua rotina matutina, vai atéo porão de sua casa e pega uma espingarda. Ao sair de sua casa, caminha lentamente pela rua (até então pacata), disparando contra todos aqueles que estivessem em sua frente. Seja homem ou mulher, idoso ou criança. Entra em uma barbearia e atira a sangue frio contra o trabalhador e seu cliente, uma pequena criança. Após alguns minutos, o “calmo” morador já havia deixado um rastro de 13 mortes. Não havendo mais munição em sua arma, retorna a sua casa e deita-se em sua cama, todo ensangüentado, como se nada tivesse acontecido. Minutos depois, após grande conflito com a polícia que cercara sua casa pouco antes, o “morador” é levado preso. Os motivos para tudo isso? O mesmo acreditava que os vizinhos andavam falando mal de sua pessoa. A cena descrita acima é trágica, não é mesmo? Parece sair direto de um filme. Não é possível que tamanha crueldade possa realmente existir. Pois bem, e se lhe disser que o caso acima é real, sendo este “calmo” morador Howar Unruh que em 6 de Setembro de 1949 cometeu tamanha barbárie em sua rua, pelo simples motivo de achar que seus vizinhos conspiravam contra sua pessoa. É neste momento que tenho sua atenção e também que você pensa “Como isso é possível?”, “o que se passa na cabeça de uma pessoa que comete tamanha atrocidade?”, “ele é louco?”, “qual fim ele levou?”. Perguntas como essas são as mais feitas quando o assunto se trata de um Serial Killer. E não é somente apenas por pessoas leigas, mas também por doutrinadores jurídicos, médicos psiquiátricos e investigadores criminais. 10 Procurarei responder a essas e outras perguntas no decorrer deste trabalho. Em um primeiro momento, iremos nos debruçar sobre o direito penal para termos respostas sobre o que é um crime, quais são os tipos de crime, quais são as medidas punitivas adotadas em nosso país e pelo resto do mundo. Basicamente, uma pequena e sintetizada aula da parte geral do direito penal. Em seguida, o foco será sobre o “Serial Killer”, vamos falar detalhadamente sobre os tipos de assassinos, sobre suas características perturbadoras (físicas e mentais), sobre a diferença entre os serial killers e os portadores de doenças mentais (psicóticos), a classificação de um Serial Killer, o seu modo operandi, assim como o modus operandi dos investigadores que desde o início procuram caçar estes seres frios e inescrupulosos. Caminhando-se para o final, e não nos atendo apenas a “teoria”, apresentaremos alguns casos reais e chocantes, os mais famosos e repugnantes assassinos em sério, tais como Theodore Bundy , o qual matava a sangue frio estudantes universitárias, Edmundo Kemper, que levado por um sentimento de raiva por sua mãe, assassinava mulheres apenas por prazer, e alguns outros, inclusive brasileiros. Aqui, com toda a certeza o leitor terá a noção do que este tipo de ser humano é capaz. Por fim, após responder inúmeras questões no decorrer do trabalho, iremos chegar a conclusão, onde buscaremos responder aquela que talvez seja a mais importante deste trabalho. As medidas punitivas brasileiras são suficientes frente a um Serial killer? Qual a medida punitiva é a mais aconselhável para estes assassinos? 11 I O DIREITO PENAL BRASILEIRO 1.1 Evolução do direito penal Antes de aprofundarmos no tema que aqui será estudado, faz-se necessário breve análise ao ramo do direito que está intimamente ligado aos crimes e seus autores: o Direito Penal. Também chamado de Direito Criminal está área jurídica pode ser conceituada através de dois aspectos: o aspecto material, o qual se refere a comportamentos socialmente inaceitáveis e que trazem danos aos bens públicos ou particulares; e, aspecto formal o qual trata-se de área destinada a aplicar às normas criadas pelo poder legislativo para prevenir e punir os considerados crimes, imputando-lhes penas com o escopo de proteger a sociedade e por conseguinte proporcionar de forma indireta o seu desenvolvimento e crescimento em harmonia. Mas para chegar ao que conhecemos hoje (direito penal moderno), o direito penal passou por grandes mudanças, influências e evoluções. Durante o decorrer das décadas, o direito criminal sofreu influência de importantes doutrinas, tais como a romana, grega e até mesmo a canônica (a igreja buscava sempre a paz dentro da sociedade, mesmo que às vezes em deleite próprio), além também das “escolas” (conjunto de escritores, pensadores, filósofos e doutrinadores) como a clássica (a qual utilizava teses do iluminismo) e a positiva. Toda essa influência doutrinária no decorrer dos tempos acabou tornando o direito penal como é hoje conhecido, inclusive servindo como base para a criação dos princípios penais (os quais não irão ser abordados tendo em vista o seu grande número). E qual seria a função do direito penal? É comum o entendimento de que este ramo do direito visa resguardar os bens jurídicos fundamentais (ex.: patrimônio e vida). Assim, além de proteger estes bens vitais, há também o entendimento de que através dele são garantidos os direitos da pessoa humana frente às punições impostas pelo Estado. Ou seja, o mesmo ramo que pune, também protege o cidadão. E tal proteção, é uma exigência ético-social da plena garantia do respeito ao tão controvertido direitos humanos do indivíduo. Controvertido pois, muitos acreditam ser este “direito” mera proteção a aqueles que cometem crimes e não são punidos na mesma intensidade pelo crime cometido. 12 Portanto, ao se utilizar o direito penal (o qual deve ser utilizado sempre em último caso tendo em vista ser o controle social mais gravoso), é necessário que haja o respeito a dignidade da pessoa humana, ao caráter estritamente pessoal da pena (esta não pode passar para outro ou ser cumprido por outro, senão apenas por aquele que cometeu o delito), a proporcionalidade e por fim ao contraditório e ampla defesa. Assim, tem-se que este direito não deve ser utilizado a todo momento, como por exemplo, em casos pequenos, que sejam insignificantes perante a sociedade (ex.: caso em que uma pessoa furta para saciar sua fome) e muito menos utilizado para ser um instrumento de repressão utilizado por figuras governamentais. Caminhando-se para o final, devemos dizer que atualmente o direito penal tem como base, de forma hierárquica as seguintes fontes: Constituição Federal de 1988, o código Penal e de Processo Penal, os costumes, a analogia, a equidade, os princípios gerais do direito e por fim os tratados e convenções internacionais. No Brasil, diante do surgimento de inúmeras leis que se relacionavam ao direito penal, fora necessário compilar todas essas normas regulamentadoras em um só lugar, surgindo-se assim em 1932 a Consolidação das Leis Penais. Posteriormente, em 1942 entrou em vigor o Código Penal que até hoje permanece como o sistema básico de regras penais e que passou por reformulação em sua parte geral em 1984. Diante de tudo que foi falado acima, chegamos a uma breve conclusão que o direito penal trata-se de uma área jurídica muito controversa por seus princípios e disposições, o que causa inúmeras discussões de pessoas leigas até juristas renomados. Quem nunca opinou quanto à aplicação de penas sem se quer saber a diferença de furto e roubo? Há aqueles que são a favor do direito penal máximo, opostamente há aqueles que são a favor dos direitos humanos e que rogam por menos violência na aplicação das penas, discussões essas infindáveis. Mas fato é que, o principal objetivo do direito penal é de proteger o cidadão de bem que cumpre com todas as regras e punir aqueles que desviam-se dos preceitos legais. Cientes dos objetivos desta área jurídica, a partir de agora passaremos a analisar a figura do crime, ou seja, o ato o qual gera uma atividade jurisdicional por parte do Estado a fim de punir o autor da infração. 13 1.2 Crime Definir um conceito para“Crime” é complexo, tendo em vista que não há qualquer definição exata para tanto, contudo, a definição mais simples encontrada no dia a dia é que o crime é uma criação da lei penal, ou seja, algo é considerado como crime quando há lei penal que o declare assim. Contudo, em uma definição mais popular, tem-se que o crime é um ato nocivo praticado por um ou mais indivíduo contra a pessoa (Ex.: homicídio), contra a honra (Ex.: injúria), contra o patrimônio (Ex.: furto e roubou), contra a administração pública (Ex.: Peculato), contra a dignidade sexual (Ex.: estupro), contra a incolumidade pública (Ex.: Incêndio) e até mesmo crimes econômicos (Ex.: estelionato). Outro ponto de destaque é que o crime é definido também por leis de jurisdições particulares, e, por conta disso, há muitos casos em que em um país a conduta é considerada como legal e em outros é considerada como crime. Além do mais, com o passar dos anos e a evolução da vida em sociedade, atos que antes eram considerados como crime, hoje não são mais, e de forma oposta, atos que antes não eram considerados como crime, hoje são. No ordenamento pátrio, a definição de crime está contida no artigo 1º da lei de introdução do Código Penal (decreto-lei n. 3.914 de 9 de Dezembro de 1941), a qual assim o define: Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. Mas o que seria “infração penal”? A infração penal é um comportamento humano causador de relevante lesão ou perigo ao bem jurídico tutelado pelo Estado, e também repudiado pela legislação penal, sendo, portanto, passível de uma sanção. Em nosso país, “infração penal” é gênero, sendo dividida em crime (ou como também é chamado: delito) e contravenção penal (considerados crimes menores, sem grande relevância). E, como observado no dispositivo acima, entre eles, o crime é considerado como mais grave, tendo em vista o tipo de sanção que lhe é cabida. Entretanto, não é apenas essa a diferença entre eles, havendo muitas outras que veremos a seguir. 14 1.2.1 Diferenças entre crime e contravenção penal De forma breve, temos que a diferença entre o crime e a contravenção penal é determinada conforme o comportamento humano e o valor que lhe é conferido (ao comportamento) pelo legislador. Ou seja, condutas mais graves, são consideradas como crime, enquanto as menos lesivas são consideradas apenas como contravenção. Mas existem outras diferenças trazidas pela própria lei, como por exemplo: Quanto a pena privativa de liberdade (como visto a cima, os crimes possuem sanções penais mais severas); Quanto à espécie de ação penal (as contravenções serão somente por ação penal pública incondicionada, enquanto o crime pode ser por ação com iniciativa privada ou pública condicionada, a depender da lei); Quanto à admissibilidade da tentativa (a tentativa de crime é punida, enquanto da contravenção não); Quanto a extraterritorialidade da lei penal brasileira (a lei brasileira se aplica apenas aos crimes praticados em outros países e não as contravenções); Tem-se diferenças também: Quanto à competência para processar e julgar; Quanto aos limites da pena (a prisão do crime pode ser de até 30 anos, enquanto da contravenção no máximo 5 anos); Quanto ao período de prova do sursis (2 a 4 anos para crimes e 1 a 3 anos para contravenções); Quanto ao cabimento de prisão preventiva e temporária (ambos tipos de prisão não podem ser aplicadas a contravenção penal); Quanto a possibilidade de confisco (somente é possível o confisco de bens que configurem produto do crime); e, por fim, quanto à ignorância à compreensão da lei (a lei pode deixar de ser aplicada quando há excusa, em contravenções penais, de que não sabia sobre a proibição de tal ato). 1.3 Sujeitos e objetos do crime Todo crime praticado, consequentemente tem que ter um autor e uma vítima, e, no direito penal, chamam-se essas partes de sujeito ativo (autor) e sujeito passivo (vítima). O sujeito ativo de um crime é a pessoa que pratica a infração penal, o autor, que pode ser qualquer pessoa física, capaz e com pelo menos 18 anos completos na data do crime. Já o sujeito passivo, é a pessoa ou ente que sofre com as consequências da infração cometida. Pode ser qualquer pessoa física ou mesmo jurídica, até mesmo, ente indeterminado, 15 destituído de personalidade jurídica (ex. uma família), caso este que é doutrinariamente chamado de “vago”. Outro ponto, é que o sujeito passivo pode ser classificado em: a) Sujeito passivo constante: Aqui se tem sempre a figura do Estado, mesmo que o crime seja praticado contra uma pessoa física aleatória, tendo em vista que o Estado é interessado na manutenção da paz pública e da ordem social. b) Sujeito passivo eventual: é a figura do titular do interesse penalmente protegido, ou seja, é a considerada vítima. Em relação ao sujeito passivo eventual, este ainda pode ser dividido em outras duas categorias: comum ou próprio, a depender se o tipo exige ou não qualidade ou condição especial da vítima. Por exemplo, no crime de homicídio, a vítima pode ser qualquer pessoa (sujeito passivo comum), enquanto que, no crime de infanticídio, é necessário que a vítima seja uma criança (sujeito passivo próprio) Ademais, é necessário que se faça breve análise quanto ao bem, objeto da infração penal, que pode ser tanto material, quanto jurídico. O objeto material é a pessoa ou coisa (carro, casa, dinheiro) sobre a qual recai a conduta criminosa. Importante enaltecer que em regra, o objeto material e o sujeito passivo não se confundem isso porque, por exemplo, no crime de furto, o objeto material é a coisa subtraída, enquanto que o sujeito passivo é o proprietário da coisa furtada. Já no crime de homicídio, por exemplo, o objeto material e o sujeito passivo se confundem, tendo em vista que são idênticos, isso porque a vítima também é a pessoa sobre o qual recai a ação do agente. Já no que concerne ao objeto jurídico do delito, temos que este revela o interesse tutelado pela norma, o bem jurídico protegido. Aduz Fernando de Almeida Pedroso (2008. Pag. 81): Bem representa tudo quanto satisfaça uma necessidade humana ou do agrupamento, despertando um interesse individual ou coletivo a ele endereçado. Quando esse bem interessa igualmente ao mundo do Direito, que o regulamenta e disciplina por meio de suas prescrições legais, recebe a denominação bem jurídico. Se esta disciplina legal é porém feita a título de proteção, preservação e garantia do bem e é procedida dentro do ordenamento jurídico pelo Direito Penal, surge a figura do bem jurídico penalmente tutelado. Então, por exemplo, temos que em um crime de homicídio, o objeto jurídico é a vida, e, em um furto, é o patrimônio. 16 1.4 Classificações doutrinárias dos crimes A classificação de um crime pode ser considerada legal ou doutrinária. A classificação legal é quanto à denominação conferida pela própria lei aquele ato considerado como ilegal. Já a classificação doutrinária é aquela atribuída pelos doutrinadores levando em consideração as características previstas na infração. A seguir, iremos apresentar as classificações doutrinárias de maior relevância no estudo dos crimes. A) Crime material, formal e de mera conduta: Crime material é aquele que descreve o resultado e exige sua ocorrência para a consumação, estes que são cronologicamente separados. O crime formal é aquele em que o resultado é previsto, mas é dispensável, ou seja, sua consumação (a infração) ocorre apenas com a conduta. Por fim, o crime de mera conduta é aquele que apenas descreve a conduta, semmencionar qualquer resultado, ou seja, pune o agente pela simples prática. Um exemplo clássico é o cidadão que porta arma de forma ilegal. B) Crime comum, próprio e de mão própria: Crime comum é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa. No crime próprio, é necessário que o autor possua certas características, como por exemplo, o caso de crimes funcionais, tais como o peculato, em que é necessário que o autor seja um servidor público. Por fim, o crime de mão própria é aquele que somente pode ser praticado por determinado agente previsto no dispositivo legal, por exemplo, o crime de falso testemunho só pode ser cometido por aquele que presta algum testemunho. C) Crime doloso, culposo e preterdoloso: Crime doloso é aquele onde o autor visa o resultado, ou ao menos assume o riso de produzi-lo. O crime culposo é aquele em que o autor não visa o resultado, mas que acaba ocorrendo por imprudência, negligência ou imperícia. Por fim, o crime preterdoloso é aquele em que o autor pratica um ato (visado), contudo, o resultado é diverso do esperado. Por exemplo, em casos de lesão corporal seguida de morte, onde a intenção é apenas ferir a vítima, contudo esta venha a falecer (mesmo que contra a vontade do autor). 17 D) Crime instantâneo, permanente e instantâneo de efeitos permanentes: Crime instantâneo é aquele que se consuma em momento determinado, sem qualquer prolongação. O crime permanente é aquele em que a execução se protrai no tempo por determinação do autor (ex.: extorsão mediante sequestro). Por fim, nos crimes instantâneos de efeitos permanentes, a consumação ocorre em momento determinado, mas os efeitos são irreparáveis, como por exemplo, o homicídio consumado. E) Crime consumado e tentado: Considera-se que um crime foi consumado quando se reúnem na infração todos os requisitos de ordem legal, conforme previsto no Art. 14, I do Código Penal. E há também o crime tentado, onde, por situações alheias a vontade do autor, o crime acaba não ocorrendo. F) Crime de dano e de perigo: O crime de dano ocorre quando há a efetiva lesão ao bem, ou seja, quando o autor conseguiu cumprir com o planejado (por exemplo, a morte no crime de homicídio). Já o crime de perigo não é necessário que haja a lesão, bastando apenas que haja a exposição do bem ao perigo. G) Crime simples, complexo, qualificado e privilegiado: O crime simples é aquele que é formado por apenas um tipo penal, sem nenhuma circunstância que aumente ou diminua sua gravidade. O crime complexo é formado pela reunião de dois ou mais tipos penais, como por exemplo, o roubo, onde é necessário que haja o furto de um objetivo e o constrangimento ilegal da vítima. O crime qualificado é aquele que deriva tanto do simples quanto do complexo, cuja sanção sofre um agravamento, em virtude da gravidade da situação. Já o crime privilegiado é aquele em que a lei considerada determinadas circunstancias que diminuem a gravidade da ação e, consequentemente, sua sanção. H) Crime plurissubjetivo e unissubjetivo: Ocorrerá o crime plurissubjetivo quando o concurso de agentes seja imprescindível para sua configuração, ou seja, é necessário o concurso de pessoas. Já o crime unissubjetivo é aquele que pode ser praticado por apenas uma pessoa. 18 I) Crime comissivo e omissivo: O crime comissivo é aquele que ocorre em virtude da ação de uma pessoa, ação está considerada como crime (Ex.: Matar alguém). Já o crime omissivo é a não realização de determinada conduta necessária, principalmente quando o sujeito ativo esta obrigado a fazê- la. Por exemplo, o caso de um salva vidas que não socorre um banhista afogando-se. J) Crime unissubsistente e plurissubsistente: O primeiro é aquele em que não se admite o fracionamento da conduta, isto é, a infração é realizada em apenas um ato. Já no segundo, a conduta infratora é fracionada em diversos atos que, somados, provocam a consumação. K) Crime habitual: É aquele onde há a reiteração de atos. Somente irá ocorrer se houver repetição da conduta que revele ser aquela atividade algo costumeiro por parte do agente. Por exemplo, o dono de um bordel onde há exploração sexual. Para cometer o crime, é necessário que o agente mantenha o estabelecimento. O crime não poderá se configurar com apenas um ato, já que é necessária certa regularidade. 1.5 Culpabilidade Primeiramente, tem-se que a culpabilidade é o juízo de reprovação que recai sobre determinada conduta, típica e ilícita (crime). Ou seja, é um juízo relacionado à necessidade de aplicação de sanção penal. Para Brandão (2003, p. 131-2) “a culpabilidade é um juízo de reprovação pessoal, feito ao autor de um fato típico e antijurídico, porque, podendo se comportar conforme o direito, o autor do referido fato optou livremente por se comportar contrário ao direito”. Quando falamos em culpabilidade nos remetemos a duas teorias “opostas”, as quais tentam justificar os atos praticados pela pessoa, são elas: a teoria do livre-arbítrio e o determinismo. No primeiro caso, temos que uma pessoa comum, ou seja, o considerado “homem médio”, possui capacidade cognitiva e moral para tomar suas próprias decisões desvinculadas 19 de qualquer coerção, assim, a pessoa deve ser responsabilizada por todos os atos por ela praticados (sejam lá quais forem). Em contrapartida, a teoria do determinismo alega que o homem não consegue ter pleno controle sobre todos os seus atos e escolhas, isso, pois há inúmeros fatores internos e externos que podem o levar a tomar certas decisões e praticar certos atos ilícitos. As mencionadas teorias criam muitas discussões sobre qual seria a correta. Trata-se de uma situação onde não há o certo ou errado, mas sim o ponto de vista. Veremos mais a frente que, muita das vezes um assassino em série comete seus crimes tendo em vista ser uma condição psicológica sua enraizada, criada desde o início de sua vida, devido a inúmeros fatores, que hoje os faz cometer os crimes e acreditar estar correto. Ora, eles encaixar-se-iam na teoria do livre-arbítrio ou do determinismo? A meu ver, o assassino em série encontra-se na teoria do determinismo, isso, pois, suas decisões são tomadas por contas de fatores internos (pensamentos insanos), ainda mais porque estes não podem ser considerados como “homens médios”, portanto, não se pode dizer que possuem capacidade moral para fazerem escolhas e tomarem decisões lúdicas. Ademais, vale dizer que a culpabilidade possui três elementos: Imputabilidade, Potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. Assim, haverá a incidência da culpabilidade quando o autor for imputável (possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração penal), tiver consciência da ilicitude do ato que está praticando, ou seja, o agente imputável consegue compreender a reprovabilidade de sua conduta (a pessoa sabe que aquilo que ela está fazendo é crime) e que, obviamente, venha a praticar a conduta diversa, cometer o fato ilícito de acordo com o ordenamento jurídico. Mas, e se autor for inimputável? E quando se dá a chamada inimputabilidade? 1.5.1 Imputabilidade e a inimputabilidade Como visto anteriormente, a imputabilidade é a capacidade de imputação, ou seja, possibilidade de atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de um ato ilícito. O código penal pátrio enumera algumas hipóteses de inimputabilidade (distúrbios mentais, menoridade, embriaguez), os quais podem definir através dos seguintes critérios: 20 a) Critério biológico Aqui se leva em conta apenas o desenvolvimento do agente. Detalhe importante que neste caso muitas pessoas pensam se tratar apenas de doença mental, mas a idade também é um critério biológico. Sendo assim, basta ser portador de distúrbio mental, ou menor de idade (18 anos) quese considera inimputável. b) Critério psicológico Aqui se considera apenas se o autor da conduta possuía, ao tempo da conduta, capacidade de entendimento do que estava fazendo, independentemente de sua condição mental ou idade. c) Critério biopsicológico Por fim, nesta situação, considera-se inimputável aquele que, em razão de sua condição mental, é inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, conforme verifica-se no Art. 26 do código penal brasileiro: Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Diante do que vimos, em quais desses critérios poderia um serial killer se encaixar? Veremos mais a frente se um assassino em série possui algum problema psicológico ou se toda sua conduta criminosa é advinda de imensa frieza. Mas, adianta-se que, a defesa destes criminosos procura sempre enquadrá-los como doentes mentais, ou seja, inimputáveis, para que assim consigam diminuir sua pena ou até mesmo conseguir medida de segurança e não pena privativa de liberdade. Afinal de contas, os assassinos em série seriam loucos (doentes mentais) ou apenas cruéis? Essa questão será respondida ao final deste trabalho, após análise minuciosa sobre a mente destes criminosos. 21 1.6 Pena A pena é uma sanção penal, ou seja, uma resposta do Estado aqueles que praticarem alguma infração (crime ou contravenção), a qual consiste em uma privação ou restrição de determinados bens jurídicos do autor (por exemplo, a liberdade). Para que seja aplicada a pena, faz-se necessário um devido processo legal, através do qual constatada a autoria e a prática da infração assim como a imputabilidade do suspeito. Portanto, para que a pessoa que cometeu uma infração seja penalizada, é necessário que ela passe por um processo legal, onde terá direito a defesa, e só assim, depois de finalizado e constada a prática criminosa e sua autoria é que o infrator poderá sofrer uma sanção. Luiz Flávio Gomesvai além e apresenta fundamentos e justificativas quanto à sanção penal (2007, p. 459): Do ponto de vista político-estatal a pena se justifica porque sem ela o ordenamento jurídico deixaria de ser um ordenamento coativo capaz de reagir com eficácia diante das infrações. Desde a perspectiva psicossocial a pena é indispensável porque satisfaz o anseio de justiça da comunidade. Se o Estado renunciasse à pena, obrigando o prejudicado e a comunidade a aceitar as condutas criminosas passivamente, dar-se-ia inevitavelmente um retorno à pena privada e a autodefesa (vingança privada), próprias de etapas históricas já superada;. No que se relaciona com o aspecto ético-individual, a pena se justifica porque permite ao próprio delinqüente, como um ser 'moral', liberar-se (eventualmente) de algum sentimento de culpa. No que condiz a finalidade da pena, há entendimentos diversos. Para a escola Clássica, pena é uma forma de prevenção de novos crimes, trata-se de uma defesa da sociedade para evitar a violência e manter a paz social. Já a escola positiva, defende que a pena funda-se na defesa social, objetivando a prevenção de crimes, devendo ser indeterminada, adequando-se ao criminoso para corrigi-lo. Portanto, através do entendimento de ambas as escolas, temos que a pena é uma forma de proteção encontrada pela sociedade, punindo o criminoso e objetivando que tal sanção sirva como exemplo para que não haja novos crimes. No Brasil, a pena tem “tríplice finalidade”. Quando o legislador cria uma norma incriminadora e lhe concede uma sanção penal, tem-se um caráter preventivo geral. Ao estabelecer condições (parâmetros) mínimo e máximo 22 de pena, afirma-se a validade da norma desafiada pela prática da infração (como se fosse uma prevenção geral positiva), objetivando que demais pessoas de uma sociedade venham a cometer crimes (prevenção geral negativa) No atual cenário de nosso país, verifica-se que, através deste ponto de vista (punição servir como exemplo) a criminalidade está fora de controle, isso, pois, o criminoso não deixa de praticar o ato apenas porque sofrerá uma sanção. Quanto mais um serial killer, que pouco se importa com as consequências futuras de seus atos. 1.6.1 Princípios da pena De forma breve, falaremos sobre alguns dos mais importantes princípios referentes à sanção penal e sua aplicação. a) Princípio da personalidade Previsto no Art. 5º, inciso XLV da Constituição Federal de 1988 temos que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens serem, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”. Trata-se, portanto, da impossibilidade de se transferir a pena para qualquer pessoal, seja sucessor, descendente ou ascendente. Só poderá responder penalmente aquele que praticou a infração. b) Princípio da individualização da pena Dispõe o art. 5º, XLVI da CF/88 “A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes; a) privação OU restrição da liberdade; b) perda de bens; C) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos”. A individualização da pena deve ser observada em três momentos: a) na definição, pelo legislador, do crime e sua pena; b) na imposição da pena pelo juiz; c) e na fase da execução da pena, momento o qual os condenados serão classificados, através de seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal. 23 c) Princípio da proporcionalidade Trata-se de um princípio pelo qual para que a sanção penal cumpra a sua função, deve- se ajustar à relevância do bem jurídico tutelado, sem desconsiderar as condições pessoais do agente. Basicamente, a pena deve ser proporcional ao ato ilícito praticado. Por exemplo, uma pessoa que furtou determinado bem, não poderá sofrer a mesma pena que uma pessoa que cometeu um assassinato. Assim, cada infração deve ter sua própria sanção, e sempre proporcional ao crime cometido. Este princípio abre uma breve discussão. Seria proporcional aplicar a pena de homicídio aquele que matou diversas pessoas de forma brutal e desumana? Um serial killer deve ser tratado da mesma forma que um criminoso “comum”, no que concerne à sua pena? d) Princípio dignidade da pessoa humana Segundo este princípio a ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade da pessoa humana, ou seja, penas indignas, cruéis, desumanas ou degradantes (por exemplo, tortura, que veremos mais a frente). O Art. 5º, §1º e 2º da Convenção Americana de Direitos Humanos assim estipula: “Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral” (§1º). “Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o devido respeito à dignidade inerente a ao ser humano” (§2º). Inclusive a proibição de tais penas é prevista na CF/88, a qual dispõe proibições de penas de: a) morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do Art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis. Este princípio encontra-se ligado diretamente com o princípio da proporcionalidade, pois proibi penas cruéis e de certa forma, considera que todas penas devem ser proporcionais a seus crimes. Para grande parte da população, aliada ao direito penal máximo, é difícil de aceitar que um criminoso, após crime cruel, não pode sofrer punição maior do que a permitida. A vítima teve todos seus direitos violados, inclusive a dignidade da pessoa humana, porém o criminosotem que ter preservado seus direitos. 24 1.6.2 Tipos de penas Feita análise sobre o que é a pena e quais são seus princípios e objetivos, agora iremos nos debruçar nos tipos de penas existentes e quais são permitidas em nosso país, assim como quais são proibidas. Hoje em nosso país são permitidas as seguintes penas: Privativa de liberdade; Restritivas de direito e Multa. A) Pena privativa de liberdade Trata-se da pena mais severa. As penas privativas de liberdade podem ser de reclusão (para crimes mais graves), detenção (para crimes menos graves) ou prisão simples (para casos de simples contravenções penais). Basicamente, o delinquente é encaminhado para uma prisão e por ali fica até cumprir com a pena que lhe foi imposta. Vale dizer que não necessariamente o criminoso passa o tempo todo encarcerado, podendo haver regimes onde o mesmo após algum tempo, tem direito a cumprir pena fora da prisão sob certas condições. De qualquer forma, através dessa punição, busca-se fazer com que o criminoso arrependa-se de seus atos, e saia dali pronto para um novo convício social. Porém, mais uma vez, o que é visto em nossa sociedade são pessoas que saem do sistema carcerário pior do que quando entraram. Pessoas que se revoltam com o tratamento dentro da prisão, o qual acaba aumentando seu desejo de praticar infrações. B) Penas restritivas de direito Tais penas são previstas nos Artigos 43 a 48 do código penal, e podem ser: prestação de serviços a comunidade, limitação de fins de semana, interdição temporária de direitos, prestação pecuniária, perda de bens ou valores. Como são previstas pra crimes menos graves, não são tão severas quanto a pena de reclusão. C) Multa 25 Prevista no Art. 32 do código penal, possui seu regramento previsto no Art. 49 e seguintes do código penal, a qual consiste no pagamento de determinado valor tendo em vista o ato ilícito praticado. Geralmente atos esses de baixa periculosidade social. Em contrapartida, como já vimos anteriormente, existem penas que são proibidas em nosso país (mesmo sendo lícitas em outros países do mundo). São elas: Pena de Morte, Penas de caráter perpétuo, pena de trabalhos forçados, pena de banimento, pena de natureza cruel. a) Pena de morte Como visto, a pena de morte é proibida em nosso país, tanto pela CF/88 quanto pela Corte Americana de Direitos Humanos, contudo, é permitida em casos de guerra declarada. Essa sanção causa grande discussão popular. Muitos são a favor da aplicação dela em casos extremos. Já, defensores de direitos humanos, não concordam, alegando que todos possuem direito a vida. Em vários países a pena de morte é legalizada, sendo realizada por cadeira elétrica, injeção letal e até mesmo por fuzilamento. E não estamos falando de países pequenos, têm-se como exemplo os Estados Unidos da América (apenas alguns Estados) e Japão, países extremamente desenvolvidos e que adotam tal penalização. b) Penas de caráter perpétuo São proibidas penas “infindáveis”, ou seja, penas que perdurem por toda a eternidade (ou pelo menos enquanto durar a vida do condenado). O Art. 75 do código penal assim define “O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos”. Adiante, iremos nos deparar com outro tema polêmico, neste caso, quanto ao fato de que as medidas de segurança (pena aplicada aos inimputáveis) possui tempo mínimo para sua duração, porém não possuir tempo máximo de duração, o que pode gerar uma interpretação de pena perpétua. c) Pena de trabalhos forçados Em nosso país, ninguém pode ser obrigado a cumprir pena mediante trabalhos forçados. Contudo, não se pode confundir essa pena, com o trabalho realizado pelos presos durante seu cárcere. Este trabalho previsto na LEP (Lei da Execução Penal) busca tornar útil o preso enquanto encarcerado e inclusive ajudá-lo diminuindo sua pena a cada dia de trabalho realizado. 26 d) Pena de banimento Basicamente é a proibição de penas que expulsem cidadão brasileiro, nato ou naturalizado, de nosso país. e) Pena de natureza cruel Qualquer pena que possa vir a ferir a dignidade da pessoa humana, ou seja, penas indignas, cruéis, desumanas ou degradantes, como por exemplo, a pena de restrição de liberdade cumprida em uma cela escura e insalubre, ou até mesmo em presídios com superlotação. 1.7 Medidas de segurança Após falarmos sobre as penas previstas em nosso país, resta ainda falar sobre outra modalidade de pena, esta aplicada aqueles autores de ilícitos considerados como inimputáveis. Assim, tem-se que a medida de segurança é outro instrumento utilizado pelo Estado como resposta para os considerados atos ilícitos que geram violação a norma penal e que são destinadas para os considerados inimputáveis (já apresentados anteriormente). Conceitua Fernando de Almeida Pedroso em sua obra (ano 2008, p. 758): Constitui a medida de segurança, destarte, resposta penal dada aos autores de fatos típicos ilícitos que apresentam distúrbio mental que afeta suas faculdades intelectivas ou volitivas, insurgindo como sanção penal de conotação social protetora eminentemente preventiva, pois visa, sobretudo, afastar o agente do ilícito típico do convívio social e obstar que ele, por insanidade mental, sem o domínio psicológico de seus atos e, portanto, sem peias ou freios inibitórios que o impeçam de delinqüir, venha a reiterar e reproduzir condutas previstas como criminosas. Dessa forma conclui-se que a medida de segurança possui caráter preventivo, ou seja, busca impedir que determinado agente (considerado como perigoso) volte a praticar crimes, assim como busca manter a paz social e até mesmo conseguir a “cura” do agente infrator, ou ao menos um tratamento que minimize os efeitos da doença mental. 27 1.7.1 Espécies de medidas de segurança A medida pode se dar de duas formas: Detentiva ou restritiva. No primeiro caso, previsto no Art. 96, I do CP, o agente é internado em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. Esta medida é aplicada aos crimes com pena de reclusão. A definição do tipo de medida neste caso se dá pela gravidade da infração e não pela periculosidade do agente. Já na medida restritiva, prevista no Art. 96, II do CP, o agente passa por tratamento ambulatorial. É cabível em casos de crime punido com detenção, salvo se o grau de periculosidade do infrator indicar necessidade da internação. 1.7.2 Pressupostos da medida de egurança O primeiro pressuposto e mais importante é a prática de fato previsto como crime. O segundo é a periculosidade do agente, indicando sua maior ou menor inclinação para o crime. Confirmada a periculosidade, duas situações são possíveis: a) Concluindo a perícia que o réu além de doente mental ou com desenvolvimento mental incompleto, era, no tempo do crime, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do que estava fazendo, será considerado como inimputável conforme artigo 26, caput do CP. Após o devido processo legal, o inimputável será absolvido com a aplicação da medida de segurança. b) Agora, caso a perícia apontasse que o agente, portador de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto, não era, na época do crime, inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato, será considerado como semi-imputável conforme artigo 26, parágrafo único do CP. Após o processo legal, deverá ser condenado, decidindo o juiz se impõe pena diminuída de 1/3 a 2/3 ou, se impõe medida de segurança. 28 1.7.3 Duração da medida de segurança A internação ou o tratamento será por termo indeterminado, durando o quanto for necessário e enquanto não for atestada a “cura” mediante perícia médica. A perícia médica será realizada ao fim do prazo mínimo estipulado pelo juiz. No mêsanterior a expiração do prazo mínimo, deverá a autoridade administrativa remeter ao juiz a perícia realizada para que este decida pela revogação ou manutenção da medida. A partir de então, a perícia deverá ser realizada de ano em ano, podendo ser realizada a qualquer momento a pedido do juiz. Entretanto, há um prazo mínimo (para internação), o qual deverá ser de um à três anos, proporcionalmente estipulados de acordo com o crime praticado. Tal entendimento (não haver prazo máximo, mas haver prazo mínimo) traz grande debate no mundo jurídico, isso porque, por não houver um tempo máximo de duração, supõe- se que a aplicação desta medida pode ter caráter perpétuo, o que é proibido pela carta magna conforme vimos acima. Diante desta controvérsia surgiram duas correntes de pensamento: A primeira sugere que o tempo de duração da medida não ultrapasse 30 anos (mesmo tempo previsto para penas restritivas de liberdade), fundamentando-se no fato de que ninguém pode ter sua liberdade restrita “perpetuamente”. Já um segundo entendimento diz que, a medida de segurança não deve suplantar o limite máximo da pena cominada ao fato previsto como crime praticado pelo inimputável. É inegável que pelo fato de não haver tempo máximo de internação, a medida acaba tornando-se como “perpétua”. Contudo, tal medida divide opiniões. Do lado social, o fato de um criminoso ficar até o fim de sua vida internado, traz grande alívio como sensação de justiça. Contudo, do outro lado, pela óptica do criminoso e seus defensores, tal medida é descabida e desumana. 1.7.4 Fim da medida de segurança ou liberação condicional 29 Caso, mediante a perícia médica, tenha-se comprovado a cessação da periculosidade do agente, haverá a “desinternação”, em casos de medida detentiva, ou a liberação, em caso de tratamento ambulatorial, ao qual será concedida pelo juiz, por um período de um ano. Durante este prazo, a “desinternação” /liberação poderá ser revogada a qualquer momento, caso pratique o criminoso novo crime que indique ainda a existência de sua periculosidade. Pode acontecer também o caso da “reinternação” do agente, ou seja, durante o tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a internação do agente, se esta for necessária para alcançar-se a “cura”. Segundo Rogério Greco (ano, p. 678): Pode acontecer que o agente, após a sua desinternação – tendo iniciado o tratamento ambulatorial, ou mesmo na hipótese de ter sido esse tratamento o escolhido para o início do cumprimento da medida de segurança -, demonstre que a medida não está sendo .suficientemente eficaz para a sua cura, razão pela qual poderá o juiz da execução determinar, fundamentadamente, a internação do agente em Hospital de custódia e Tratamento Psiquiátrico ou outro local com dependências médicas adequadas 1.7.5 Conversão de pena em medida de segurança Como vimos o criminoso imputável cumpri pena, o inimputável, medida de segurança, e o semi-imputável deverá cumprir pena reduzida ou medida de segurança, dependendo do caso concreto e sua gravidade. Analisado o caso concreto, o juiz da execução poderá optar entre uma simples internação para tratamento e cura da doença, hipótese em que o tempo de tratamento será considerado como pena cumprida, ou a substituição da pena privativa de liberdade em medida de segurança em se tratando de doença não passageira, seguindo as regras previstas nos artigos 96 e seguintes do CP as quais falamos neste tópico. 30 II SERIAL KILLERS Quando um texto, ou uma manchete vem acompanhado do termo “Serial Killer”, pode-se ter certeza que o conteúdo ali exposto será de situações animalescas e sobre pessoas sem qualquer tipo de pudor ou consciência. O tema aqui abordado não é novo, pelo contrário, já é um tema um tanto quanto “batido”, contudo, sempre atrai a atenção, seja dos mais famosos doutrinadores penais, quanto do cidadão mais leigo. Ora, como é possível que um tema tão perturbador possua tanto apelo popular? Porque tanta gente possui interesse em histórias, fotos e fatos sobre este assunto? Há quem diga que tamanha curiosidade ao tema se dá pelo fato de que todos nós possuímos um lado sombrio que se deleita com fantasias anárquicas, mas isso não significa que somos todos assassinos, isso porque, existe uma grande diferença entre o pensar e o fazer. Um “homem médio” (termo utilizado no direito penal para se referir aquelas pessoas medianas, ou seja, trata-se de um de equilíbrio do direito com objetivo de conduta e de saber) pode até ter pensamentos obscuros e vontade, contudo, por inúmeros motivos não os coloca em prática. Porém, um assassino em série não possui nenhum inibidor em suas vontades. Aquilo que vem em sua cabeça, ele traz ao mundo real, independente de qual seja a conduta imaginada. Ele não possui medo das consequências, desejando apenas praticar suas mais obscuras ideias. São essas “pessoas” (se assim devem ser chamadas) que iremos analisar de forma aprofundada neste capítulo, desde a terminologia “Serial Killer” até suas características e modos operandi, buscando tentar compreender um pouco mais sobre esses assassinos cruéis. 2.1 Origens e definições Diferente do que se possa imaginar, o termo “serial killer” é “novo”, sendo utilizado pela primeira vez apenas na década 70 pelo aposentado agente do FBI (Federal BureuofInvestigation) Robert Ressler o qual era grande entusiasta / estudioso do assunto. 31 Robert pertencia a uma unidade do FBI chamada de “BeharvioralSciecnes Unit” (BSU) (Unidade de Ciência Comportamental). Esta unidade buscou dar continuidade ao trabalho do renomado psiquiatra James Brussel, o qual estudava a mente dos criminosos. O BSU em primeiro momento montou uma biblioteca de entrevistas gravadas com os psicopatas encarcerados por todo o território americano. Os investigadores iam até as penitenciárias americanas e entrevistavam os mais famosos psicopatas daquela época, tais como Emil Kemper, Charles Manson, David Berkowitz. A intenção dos investigadores era de tentar ao máximo entrar na mente dos criminosos e compreender sua forma de pensar e motivações. Histórias, fatos e notícias quanto a todos os crimes que ocorriam em território americano eram encaminhados a esta unidade, para que os “caçadores de mentes” (tradução literal para “Mindhunter” como eram chamados) procurassem por “pistas psicológicas”. Através de inúmeros casos, os investigadores desenvolveram a habilidade de descrever suspeitos e suas características apenas observando a cena do crime. Tudo que foi dito acima pode ser encontrado no livro “Mindhunter – o primeiro caçador de Serial Killers Americano”, o qual foi escrito por John Douglas e Mark Olshaker, ambos investigadores do BSU. Inclusive, no ano de 2017 fora lançado um seriado norte- americano com o mesmo título o qual retratou de forma fiel toda a origem da BSU e de seus dois investigadores acima mencionados. Nos dias atuais, existe o VICAP (Violent Criminal ApprehensionProgram), criado pelo FBI, o qual consiste em um programa informático criado para avaliar e relacionar crimes brutais. Criou-se também um novo departamento, o NCAVC (National Center for theanalysisofviolent crime), onde se estuda o comportamento de psicopatas, realizando investigações e auxiliando o policiamento nos Estados Unidos e no mundo. Cientes de como surgiu a terminologia aqui usada, resta definir o que serial um “Serial Killer”. Pois bem, tal definição vai além do popular “assassino cruel”. Associa-se sempre o assassino em série àquele que busca o prazer sexual e pessoal na prática de seus crimes. Assim como, aqueles que cometem inúmeros assassinatos, ou mesmo assassinatos isolados de forma desumana. 32 Contudo, os Serial Killers não se adéquam a nenhuma linha de pensamento pré- determinada. Para Ilana (2004, p.16), temos que:O primeiro obstáculo na definição de um serial killer é que algumas pessoas precisam ser mortas para que ele possa ser definido assim. Alguns estudiosos acreditam que cometer dois assassinatos já faz daquele assassino, um serial killer. Outros afirmam que o criminoso deve ter assassinado pelo menos quatro pessoas. A definição “estatística”, que é aquele que defende ser necessária três ou mais mortes para a configuração de um assassino em sério, é criticada por muitos doutrinadores, isso porque não levariam em conta aqueles que fracassam nas suas tentativas de assassinato, ou até mesmo aqueles que nunca praticaram um assassinato! Como é o caso do famoso Charles Mason que jamais cometeu tal crime, sempre incentivando seus seguidores para tanto. Uma das definições mais aceitas e atuais é do professor Egger que leciona Justiça Criminal na universidade de Illinois nos Estados Unidos, o qual rebaixou o número de três homicídios para dois. Em sua concepção, um serial killer ocorre quando um indivíduo comete um segundo assassinato, não devendo haver, necessariamente, uma relação anterior entre a vítima e o autor. Os crimes posteriores ocorreriam em diferentes momentos e localidades. Sendo como principal motivo, o desejo do autor em exercer seu controle ou dominação sobre suas vítimas. Este é um ponto muito importante para a retratação de um psicopata. Eles nunca têm por intenção cometer tal crime objetivando fins financeiros. Eles não buscam furtar nada de suas vítimas. O foco é como dito acima, exercer seu controle ou dominação sobre a vítima, por vários motivos que iremos dizer mais a frente. As suas vítimas geralmente podem ter um valor simbólico para o assassino, e na maioria dos casos não podem defender-se dos ataques por questões de localidade, força física e até mesmo posição social. O que teria haver a posição social? Muitas das vezes as vítimas são homossexuais, prostitutas, sem tetos. Uma minoria que a sociedade “pouco se importa”, tornando-se alvo fácil para os assassinos. Por fim, entende Illana Casoy (2004), que para ser considerado serial killer é necessário concorrerem sete critérios cumulativos: 1. Um homicídio narcísico-sexual. 2. A falta de um motivo aparente. 33 3. Uma vítima “reificada” ou “coisificada”. 4. O caráter anunciador da série criminosa, ou seja, teoricamente três homicídios narcísico-sexual devem ser cometidos para que se possa falar em serial killer. 5. Em caso de pluralidade de homicídios, um “período de calmaria”. 6. Em caso de pluralidade de homicídios narcísico-sexuais, a fidelidade relativa a um tipo de cenário, ou seja, o cenário é relativamente análogo. 7. Em caso de pluralidade de homicídios, semelhança de “espaço – tempo”. Estando presentes estes 7 critérios, um assassino poderá ser considerado como “Serial Killer”. 2.2 Tipos de assassino Agora que sabemos o que é um “Serial Killer” é importante apresentarmos as diferenças entre ele e outros tipos de assassinos muito parecidos. Criminosos que cometem crimes bárbaros e em massa, e os quais acabam sendo considerados como serial killer de forma indevida. a) Assassino em série Trata-se de um homicídio com natureza sexual. O padrão de um assassinato em série é uma caricatura grotesca do fundamento sexual normal. Em uma analogia simples temos que uma pessoa normal quando não faz sexo por algum tempo, passa a ter certa “ansiedade”, fantasiando sobre sexo constantemente até o momento que consegui suprir sua necessidade carnal com uma parceira, quando sua necessidade cessa por um tempo. Já o Serial Killer passa seu tempo fantasiando sobre dominação, tortura e assassinato. Quando seus desejos ficam incontroláveis, busca por vítimas. Sua excitação atinge o clímax com o sofrimento ou a morte de sua vítima. Após, a um tempo de calmaria, o qual, na maioria dos casos, o criminoso faz uso de seus “troféus”, objetos ou qualquer coisa que ele possa extrair da cena do crime (inclusive pedaços de corpo!), para que assim possa ficar revivendo o momento. 34 Em resumo, os atos praticados pelo assassino em sério são sua fonte maior de prazer, que o faz alcançar o grau máximo de excitação. Como isso o faz sentir muito bem, eles buscam sempre não serem capturados para que possam continuar a aproveitar de seus prazeres. b) Assassino em massa Com a semelhança de que ambos (assassino em série e assassino em massa) envolvem homicídios múltiplos, de resto, nada há igual. O assassino em massa é definido como uma “bomba-relógio”. Geralmente é alguém cuja vida saiu dos trilhos (fora demitido, traído pela companheira ou mesmo que tenha sofrido bullying). Tomado pelo sentimento de raiva e humilhação, explode em um surto de violência devastadora que atinge quem estiver por perto. Trata-se de quase sempre um ato suicida. O objetivo é causar a morte de inúmeras pessoas, e, logo ao fim de seu surto, põe fim a própria vida, ou entra em confronto fatal com a polícia. Para conseguir eliminar o maior número de pessoas, é necessária que seja utilizado, ao menos, uma arma (bombas e carros também são utilizados), o que difere de um serial killer, que raramente utiliza uma arma de fogo, tendo em vista que ver a pessoa morrer aos poucos lhe causa prazer. Esse é o típico exemplo do que muito ocorre nos Estados Unidos, onde constantemente vemos pessoas até então consideradas como “pacíficas” adentrar em algum lugar e causar uma carnificina, com centenas de mortes, e, ao final, tirar a própria vida. Quem não se lembra do famoso massacre de Columbine, onde um aluno, tomado por um sentimento de humilhação por conta do constante bullying sofrido e portando armas de fogo, adentrou em sua escola e fuzilou centenas de outros estudantes em 1999. Portanto, pela forma utilizada para cometer os crimes, assim como suas motivações, o assassino em massa não pode ser considerado como um serial killer. c) Assassino relâmpago O assassino relâmpago muito se assemelha ao assassino em massa. Ambos possuem forte sentimento de revolva ocasionado pelos motivos expostos acima. Ambos querem 35 vingança contra aqueles que “estragaram” sua vida. Querem mostrar ao mundo que são pessoas que merecem consideração, que são “especiais”, principalmente no aspecto de poder de “devastação”. Contudo, há uma grande diferença entre eles. O assassino em massa mata em apenas um lugar, o assassino relâmpago se desloca de um lugar a outro matando em seu percurso, podendo inclusive ser chamado de “assassino em massa itinerante”. Um exemplo deste tipo de criminoso é o ex-soldado americano Howard Unruh, que em 1949 percorreu sua vizinhança atirando em todos que via pelo caminho. 2.2.1 Psicopata x psicótico Para uma pessoa leiga não existem diferenças entre esses dois tipos de indivíduo, podendo até dizer que esses dois tipos se referem a uma única condição mental. Mas a realidade é que há grandes diferenças entre um indivíduo psicopata e um psicótico. Os psicopatas não são legalmente insanos. Eles sabem as diferenças entre o certo e o errado. São pessoas “comuns”, na maioria dos casos muito inteligente e charmosas. O que realmente assusta é que por serem pessoas “normais” podem estar no meio de nós sem nem percebermos. Sua personalidade agradável, no entanto, é apenas uma encenação. A característica mais marte da personalidade psicopática e a sua total falta de empatia. O indivíduo psicopata é incapaz de amar, de se importar com alguém, de sentir pena. As pessoas para ele são simples objetos a serem usados e manipulados. Como não sentem culpa ou remorso, são capazes de manter uma frieza assombrosa em situações extremamente perturbadoras para uma pessoa comum. Para se ter uma idéia de como conseguem ser frios e manipuladores, certa vez, uma das vítimas de Jeffrey Dahmer (que iremos falar sobre no próximo capítulo),conseguiu fugir do seu cativeiro, indo até a polícia. Calmamente o assassino foi até a polícia e os convenceu de que aquele jovem era seu parente, e que deveria voltar para sua casa. Em seguida, levou de volta para seu cativeiro e o matou. Já os psicóticos são pessoas com psicose, um transtorno mental grave, caracterizado por certo grau de deterioração da personalidade. Pessoas com esse transtorno vivem em um 36 mundo criado por eles mesmo. Sofrem de alucinações e delírios, ouvem vozes e tem visões. Ao contrário dos psicopatas, os psicóticos correspondem à concepção geral de loucura. Portanto, com tudo o que foi visto até o momento, fica claro que um serial killer não é um psicótico, e sim um psicopata. Mas, obviamente, existem exceções à regra. 2.3 Características de um serial killer Se perguntarmos para um indivíduo qualquer, como ele imaginaria um serial killer, provavelmente teríamos a seguinte resposta: Homem, branco, “jovem”, entre seus vinte a quarenta anos, solitário e anti-social ao extremo, basicamente uma pessoa desajustada socialmente, com poucos relacionamentos (família, amigos, companheiras) e provavelmente com algum problema psicológico. A descrição acima não estaria errada, porém não seria exata. Podemos dizer que, além das características óbvias, tais como suas mentes doentias e a compulsão desenfreada de matar, é difícil fazer conclusões gerais sobre esses indivíduos. Por exemplo, através de estatísticas, é possível perceber que a maior parte dos assassinos são brancos, contudo, essa é uma verdade restrita apenas aos Estados Unidos, tendo em vista que a maior parte de sua população é branca, o que difere das estatísticas Africanas, que aponta, que quase todos os serial killers são negros. Há também o fato popular de que quando se fala em assassino em série, vem à figura masculina, contudo, existem também assassinas, mulheres que cometem os mesmos crimes cruéis. Contudo, através de análises em 36 criminosos encarcerados, foi possível criar uma lista de características encontradas nestes indivíduos, tais como: 1. A maioria é composta de homens brancos solteiros. 2. Tendem a ser inteligentes, com QI médio de “superdotados”. 3. Apesar da inteligência, possuem fraco desempenho escolar, histórico de empregos irregulares e acabam se tornando trabalhadores não qualificados. 4. Vem de um ambiente familiar conturbado ao extremo. Normalmente foram abandonados quando pequenos por seus pais e cresceram em lares desfeitos e disfuncionais dominados por suas mães. 37 5. Há um longo histórico de problemas psiquiátricos, comportamento criminoso e alcoolismo em suas famílias. 6. Enquanto crianças sofrem consideráveis abusos (as vezes psicológicos, ás vezes físicos, muitas vezes sexuais). Os brutais maus tratos incutem profundos sentimentos de humilhação e impotência neles. 7. Devido ao ressentimento em relação a pais distantes, ausentes ou abusivos, possuem dificuldade em lidar com figuras de autoridade masculinas. Dominados por suas mães, nutrem por elas uma forte hostilidade. 8. Manifestam problemas mentais em uma idade precoce e muitas vezes são internados em instituições psiquiátricas quando crianças. 9. Extremo isolamento social e ódio generalizado pelo mundo e por todos (incluindo eles mesmos), costumam ter tendência suicida na juventude. 10. Demonstram interesse precoce e duradouro pela sexualidade degenerada e são obcecados por fetichismo, voyeurismo (ato de ver pessoas se despindo ou praticando relação sexual sem que a pessoa saiba) e pornografia violenta. É importante destacar bem que, tais características foram encontradas similarmente em assassinos entrevistados, contudo, pode haver outras características ali não elencadas. Contudo, é possível notar que a maioria dos casos tem grande influência na vida no começo da vida, ou seja, na infância do indivíduo. Existe uma “tríade” presente na infância da maioria dos assassinos, ou seja, três “sinais de perigos” presentes no indivíduo: a) Enurese (urinar na cama) Não há nada incomum quando se é uma criança pequena, porém, se o problema persiste na adolescência, pode ser sinal de um distúrbio emocional significativo. b) Atos incendiários (piromania) Não há surpresa quanto a este tipo de ato destrutivo levando-se em conta a mente doentia do assassino. Muitos deles adoram provocar incêndios ainda quando criança. Temos o exemplo de OttisToole que começou a incendiar casas abandonadas com apenas 6 anos. 38 c) Tortura de animais e outras crianças O sadismo infantil dirigido as formas de vida inferior não é nenhuma novidade, sempre existem crianças e adolescentes que gostam de ferir criaturas indefesas. Contudo, quando se trata de uma criança com sinais de psicopatismo, os casos de tortura são muito piores. Quando adolescente, Peter Kurten tinha prazer em manter relações sexuais com vários animais enquanto os esfaqueava ou cortava-lhes a garganta. Edmund Kemper (o qual falaremos no próximo capítulo) aos dez anos enterrou vivo o gato de sua família. Depois, desenterrou a carcaça, levou para seu quarto, cortou fora a cabeça do animal e a prendeu em um carretel. Posteriormente sua mãe trouxe um novo gato para casa. Ed cortou com um facão a parte de cima do crânio do animal e depois segurou a perna dianteira do bicho enquanto agonizava. Jeffrey Dahmer, um dos mais famosos assassinos, assim disse a respeito da tortura de animais: “Encontrei m cachorro e resolvi abri-lo com uma faca só para ver como era por dentro e por algum motivo achei que seria uma brincadeira divertida enfiar a cabeça dele em uma estaca e deixar à mostra na floresta”. Existem outras pequenas características na infância tais como: Devaneios diurnos, masturbação compulsiva, isolamento social, mentiras crônicas, rebeldia, roubos, dores de cabeça constantes, problemas alimentares e automutilações. O isolamento social ou familiar é de grande perigo, pois, quando uma criança passa por isso por longos períodos de tempo e com certa freqüência, a fantasia e os devaneios passam a ocupar o vazio da solidão. A masturbação acaba sendo uma conseqüência também. Assim diz Ilana Casoy (2003, p. 19): As pessoas normais usam de suas fantasias temporárias para entretenimento próprio, sendo completamente compreensível pôr parte do indivíduo a irrealidade da mesma. No entanto, para serial killers, tais fantasias são assustadoramente mais complexas, integrando o comportamento dos assassinos em série, em vez de ser uma distração mental. O crime é a própria fantasia do criminoso, planejada e executada pôr ele na vida real, sendo a vítima o alimento maior que reforça a fantasia. Assim, o comportamento dos assassinos serve a muitos objetivos, por exemplo, aplaca sua necessidade de controle, dissocia a vítima tornando os acontecimentos mais reais, dá suporte à sua loucura e serve como combustível para futuras fantasias. 39 Degradar e desvalorizar a vítima são um dos meios do assassino estabelecer o controle. Este objetivo quase sempre é alcançado fazendo a vítima seguir um roteiro verbal, através de sexo doloroso combinado com tortura. Alguns se sentem no controle da situação apenas quando a vítima já está morta. Após, o indivíduo mutila a vítima, realizando a chamada “desfeminização” (retirando dos corpos identificadores femininos tais como órgãos e seios) e, por fim, deixam o corpo em posição humilhante. Tudo para demonstrar que estão sob o controle da situação. Os Seriais Killers sempre desenvolvem uma personalidade para contato, objetivando parecer uma pessoa normal, ou seja, por dentro existem pensamentos perturbadores, mas, por fora, reflete uma pessoa comum, que pode estar ao nosso lado no dia a dia. É interessante pensar que o fato de esconder seu comportamento psicopata, demonstra que o indivíduo sabe que seu comportamentonão é bem visto pela sociedade e pelas leis. Por este ponto podemos dizer que o serial killer é uma pessoa lúcida e capaz de discernir entre o certo e o errado. Aliás, eles se consideram muito inteligentes, basicamente “gênios do crime”, e muita das vezes realmente são. Com QI’s surpreendentes conseguem esconder-se da polícia por muitos anos. Em alguns casos, apenas são presos por que acabam se entregando e assumindo a autoria de todos os crimes. Portanto, finalizando este ponto quanto às características, podemos dizer que os serials podem ser: a) Homens e Mulheres: Desfazendo o conceito de que apenas homens que podem cometer tal barbárie. No que tange aos crimes sexuais, realmente apenas figuras masculinas os cometem, mas quanto ao restante, pode haver mulheres também. Ponto interessante é a maioria das mulheres assassinas utilizam de venenos para matar suas vítimas. Um exemplo é Anna Marie Hahn (1906-1938), enfermeira que tinha interesse em velhos solitários com grandes contas bancárias. Os matava sempre adicionando arsênio em suas bebidas. Estima-se que durante sua vida, ceifou a vida de mais de 17 idosos. Foi a primeira mulher a morrer em uma cadeira elétrica. b) Branco e Negro: como dito no início, não existe uma etnia exata. Tudo depende do país onde o assassino comete seus crimes. Obviamente que os mais famosos já registrados são brancos, isso porque, são dos Estados Unidos, onde a maioria dos cidadãos são brancos. 40 Ponto interessante é que as vítimas quase sempre são da mesma etnia que o assassino, ou seja, um serial branco procura sempre matar pessoas brancas. Outro fato é que, mesmo ainda neste século, há grande preconceito pelo mundo. Um caso de pessoa branca assassinada chamará mais atenção que o caso de uma pessoa negra. Assim, sempre ficaremos sabendo de casos envolvendo assassinos ou vítimas brancas. A minoria (negros), sempre ficará “ocultada” das notícias. Como exemplo de um serial killer negro podemos mencionar JarvisCatoe (1905- 1943) que foi um dos mais notórios serial killers afro-americanos, e que, só foi capturado pela polícia após fazer sua primeira vítima branca (anteriormente eram apenas vítimas negras). c) Jovens e Velhos: Idade é mais uma característica que não é exata em um serial killer. Existem de todas as idades possíveis. Para se ter uma idéia, no início da década de 90, surgiram inúmeros crianças assassinas nos Estados Unidos. Um dos mais famosos casos é da pequena Mary Bell, britânica, cometeu dois assassinatos brutais de duas crianças em idade pré-escolar, e tudo isso com apenas 11 anos de idade. Vídeos e notícias quanto ao seu caso são facilmente encontrados na internet. Da mesma forma, assassinos velhos também existem, como é o caso de Alberto Fisher de 65 anos, que em 1928 atraiu uma garotinha de 12 anos para uma casa abandonada nos Estados Unidos, estrangulou, partiu em pedaços e levou consigo para posteriormente fazer assado e comer, atingindo uma excitação sexual. d) Héteros e Homossexuais: Característica interessante e surpreendente. Quem pensa que os assassinos são sempre heterossexuais está enganado. São muitos os casos em que os criminosos são homossexuais, mais ainda as vítimas. Como dito acima, os assassinos quase sempre são inteligentes e atraentes. Utilizando destes “dotes” o indivíduo atrai a vítima e comete o crime. Embora sejam uma minoria, eles são mais propensos a “excessos”, cometendo diversas atrocidades com tortura e mutilação, sem motivo específico para tanto. Um exemplo de serial killer homossexual é Jeffrey Dahmer. e) Solitário e acompanhado: Na imaginação, um serial killer sempre está solitário, alias, foi a solidão que na maioria das vezes o transformou nesta figura diabólica. Contudo, nem sempre é assim. Existem casos em que estes indivíduos gostam de caçar em pares. Há casos em que são inclusive casados. 41 Para exemplar, temos o casal Bernardo e Homolka, os quais praticavam seus crimes em cumplicidade. Bernardo estuprava suas vítimas enquanto sua esposa filmava tudo com sua câmera. Claramente não era a atitude mais inteligente a ser fazer (filmes do próprio crime). Contudo, tratava-se de um fetiche. Podemos citar até mesmo famílias de assassinos. Alguns assassinos em grupo estão ligados não apenas por um vínculo psicológico, mas por laços de sangue também. Os Estranguladores da Colina, por exemplo, eram primos. Assim como também eram uma dupla de psicopatas que aterrorizou a fronteira norte americana. 2.4 Classificação Não existe doutrinariamente uma classificação quanto aos assassinos em série, no entanto, Ilana em sua obra “Seria Killer – Louco ou Cruel” dividiu esses assassinos em 4 tipos: a) Visionário: Um indivíduo completamente insano. Ouve vozes em sua cabeça e as obedece, sofrendo também com alucinações ou visões. Um típico caso de psicose e não psicopatia, como já diferenciado. b) Missionário: No dia a dia não demonstra ser um psicótico, mas internamente, tem ideais, ideologias, um totalitarismo, que lhe causa uma necessidade de livrar o mundo daquilo que julga imoral ou indigno. Esse tipo escolhe um grupo para matar, como por exemplo, prostitutas e homossexuais. c) Emotivos: Matam por diversão e prazer. De todas as classificações elencadas, os indivíduos que se encaixam nesta, são aqueles que realmente tem prazer em matar e utilizar de atos sádicos e cruéis. d) Libertinos: São aqueles que cometem assassinatos sexuais. Em outras palavras, matam para suprir sua necessidade sexual. Seu prazer será proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura. Encaixam-se aqui os Canibais (aqueles que comem carne humana) e os Necrófilos (aqueles que se excitam com coisas mortas). 42 Por fim, eles ainda podem ser divididos em “organizados” e “desorganizados”, geograficamente estáveis ou não. As classificações são claras. Os organizados são aqueles que não deixam qualquer vestígio de seu crime, cometem crimes e limpam toda cena do crime. Já o desorganizado é aquele que não se preocupa com o que está deixando para trás. Por fim, os geograficamente estáveis são aqueles que cometem os crimes em um mesmo território, o que pode ser perigoso, pois facilita a sua captura. Já o contrário, o assassino procura cometer seus crimes em diversos lugares diferentes, para não ser capturado. Geralmente são inteligentes e organizados. 2.5 Modus operandi do assassino De que forma age um assassino em série? Ele escolhe sua vítima e local? O que faz para não ser pego pela polícia? O que leva ele a cometer esta loucura? Resumidamente, ainda em sua obra, Ilana cita que existe um “ciclo” do serial killer e este é composto por 6 fases: 1. Fase Áurea: O assassino começa perder sua compreensão da realidade. 2. Fase da Pesca: O assassino busca pela próxima vítima ideal. 3. Fase Galanteadora: Utiliza-se de toda sua inteligência, manipulação e beleza para seduzir ou enganar sua vítima. 4. Fase da Captura: Momento em que a vítima é seduzida e deixa levar-se pelo criminoso. 5. Fase de Assassino: Momento auge do plano do criminoso, momento que põe em prática todas suas ideias. 6. Fase da Depressão: É o momento posterior ao crime cometido. O indivíduo reflete sobre os atos que cometeu muita das vezes procura “verdades” em suas ideias. É nesta fase que o assassino inicia novamente ao ciclo. A motivação para cometer o crime pode surgir a qualquer momento. De uma vontade incontrolável em buscar pelo prazer da carnificina, ou mesmo por meio de fatores desencadeantes. 43 O fato desencadeante é geralmente um tipo específico de vítima, que tem as qualidades que excitam o assassino. É útil para as autoridades saberem exatamente quais são esses fatores para que assim possam capturar o criminoso. Possuído pelo desejo de matar, o criminoso busca por “áreas de caças”, como dito anteriormente,
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