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Opioides: alcaloides (drogas naturais, sintéticas e semissintéticas) derivados do ópio que é um extrato da papoula Papaver somniferum que contém morfina. Qualquer substância, endógena ou sintética, que produza efeitos semelhantes aos da morfina e que sejam bloqueados por antagonistas como a naloxona. Papaver somniferum Os opioides são uma classe de narcóticos que fazem adormecer e reduzem ou eliminam a sensibilidade. Antitussígenos (combatentes da tosse); Potentes analgésicos; Antiperistálticos (antidiarréicos constipação); Produzem euforia; Causam dependência. Opioides endógenos (peptídeos;produzidos pelo prórpio organismo): encefalinas, endorfinas e dinorfinas. Receptores opioides São três principais pertencentes à família rodopsina dos GPCRs: δ – dentro das células associadas a vesículas. κ – distribuídos ao longo das membranas plasmáticas. μ - distribuídos ao longo das membranas plasmáticas. Esses receptores são acoplados por por proteínas Gi/Go. MEDICINA NOVE DE JULHO Morfina grupos hidroxilas livres no anel benzênico que está ligado ao átomo de nitrogênio por intermédio de dois átomos de carbono. Mecanismo de ação Em geral, deve-se entender que os opióides: diminuem a transmissão do sinal da periferia para SNC; modulam a percepção central da dor; ativam neurônios da via inibitória descendente. Quando o receptor opioide é ativado, ocorre: 1. inibem a abertura (fecham) dos canais de cálcio controlados por voltagem, o que diminui a liberação de neurotransmissores excitatórios pelas terminações pré-sinápticas. 2. Com isso, reduzem também a entrada de sódio e cálcio no neurônio pós-sináptico, impedindo que esse despolarize. 3. Assim, no pós-sináptico, em consequência das ações no pré-sináptico somado à redução da entrada de sódio e cálcio e da interação com os opioides, os opioides causam a abertura dos canais de potássio, permitindo o efluxo desses íons a partir da membrana pós-sináptica. Isso causa a hiperpolarização da membrana neural pós sináptica, sendo menos provável o disparo do potencial de ação (reduz a excitabilidade). Portanto, ocorre redução de impulsos nociceptivos. 4. Também inibem a atividade da adenilato- ciclase e ativação da PKC e da PLCβ. Vias inibitórias descendentes As vias descendentes controlam a transmissão de impulsos do corno posterior. Os principais neurotransmissores inibitórios liberados por neurônios inibitórios descendentes e/ou de circuito local, causando inibição da transmissão para corno dorsal da medula nessa via descendente são: Peptídeos opioides (endógenos); GABA; Glicina; Norepinefrina; Serotonina (5-HT) Os peptídios opioides são liberados em vários locais do SNC em resposta a estímulos nocivos, ou seja, atuam em todos os circuitos nociceptivos, por isso são tão eficientes. Assim, os opioides produzem analgesia em decorrência de sua ação no cérebro, tronco encefálico, medula espinal e terminações periféricas dos neurônios aferentes primários. Vale lembrar que os receptores da norepinefrina e do GABA (receptor GABAa) também são acoplados à proteína G e, à semelhança da ativação dos receptores opioides, causam a inibição dos canais de cálcio dependentes de voltagem no pré-sináptico, inibe a adenilato ciclase e abrem os canais de potássio pós- sinápticos. MOR: receptores de opioides μ Atuam tanto em nível pré-sináptico quanto pós- sináptico, inibindo a neurotransmissão. A norepinefrina e serotonina são liberadas por projeções que descem do tronco encefálico a medula espinal. Há uma via noradrenérgica a partir do locus coeruleus. O GABA é liberado por interneurônios no corno dorsal que inibe a transmissão pelos terminais axonais primários aferentes. Agonistas e antagonistas opiáceos Agonistas Agonista parcial/misto Antagonista Opioides fortes: Morfina, Metadona (fenileptilamina) e fentanil entram na lista de substâncias entorpecentes (controlados pela ANVISA). Opioides fracos: codeína e tramadol. Morfina opioide exógeno; é muito eficiente porque mimetiza os efeitos dos opioides endógenos. Efeitos celulares dos opioides (resumo): Nível pré-sináptico: diminui exocitose neurotransmissores excitatórios; Nível pós-sináptico: reduz excitabilidade neuronal. Efeitos farmacológicos dos opioides Efeitos no SNC Analgesia (μ) Local: medula espinal, tronco encefálico, cérebro (principalmente) e terminações nervosas aferentes primárias; Menos eficazes em dores neuropáticas e crônicas; Efetivos na dor tipo aguda (presente em pacientes com câncer terminal); Doses baixas de morfina: reduz componente afetivo da dor (atuação no sistema límbico); Pode ocorrer sonolência em doses terapêuticas de morfina. Euforia (μ) (contentamento; bem-estar) Não ocorre com a codeína; Morfina e heroína administração IV: “ímpeto súbito” (onda). Sensação pronunciada em pacientes angustiados. Morfina: intensa sensação de contentamento e bem-estar. Depressão respiratória (μ) Ocorre com uma dose normal/convencional/ terapêutica de morfina ou compostos relacionados (embora raro) principal causa de morbidade secundária ao tratamento com opiáceos; Ocorre porque há diminuição da sensibilidade do centro respiratório bulbar à pCO2 arterial e inibição da geração do ritmo respiratório (FR). alta [CO2] Não é acompanhada por depressão cardiovascular no bulbo. Depressão do reflexo da tosse Não se relaciona com ações analgésicas; Codeína e folcodina antitussígenos em doses subanalgésicas; porém, tem como efeito adverso constipação intestinal. Náuseas e vômitos Local em que desencadeia tais efeitos: região do bulbo área postrema; Ocorre em até 40% dos pacientes que usam morfina transitório e desaparecem com repetição da administração. Miose Receptores μ e κ ativação do núcleo do NC III (nervo oculomotor); Pupilas puntiformes: diagnóstico por intoxicação por opioides; Efeitos no TGI (μ, κ e δ) Constipação intestinal: devido ao aumento do tônus (aumenta os espasmos no ID); e reduz motilidade (baixo peristaltismo no IG). Reduz o esvaziamento gástrico: retarda a absorção de outros fármacos; Contração da bexiga e constrição do esfíncter biliar: aumento da pressão no trato biliar evitar opioides em pacientes com cálculos biliares, visto que as cólicas biliares aumentam. Pode causar retenção urinária também. Outras ações dos opioides Morfina libera histamina dos mastócitos através de ação não relacionada a receptores: urticária, prurido no local de injeção, hipotensão e broncoespasmos (broncoconstrição); Doses elevadas de opioides: hipotensão e bradicardia; Uso abusivo: efeitos imunossupressores complexos Farmacocinética Morfina - via oral: tratar dor crônica; Tem preparações de liberação prolongada para aumentar sua duração de ação. - via IV: dor aguda intensa. Absorção TGI é variável (opioides, inclusive morfina) metabolismo de primeira passagem; tempo de ½ vida: 3-6 horas. Fármaco Uso Farmacocinética Efeitos adversos Morfina Dores aguda e crônica intensas analgesia (receptor μ) Receituário de controle A1 (receita amarela) Metabolismo de primeira passagem: glicuronidação morfina-3-glicuronídeo (M3G) ou morfina-6-glicuronídeo (M6G) M3G: inativa; M6G: atividade analgésica (metabólito ativo), excretada pelo rim (pacientes com doença renal crônica: toxicidade por opioide), recirculação enterro-hepática. Tempo de ½ vida: 3-4horas. Vias: oral (comprimido, cápsulas deliberação prolongada), intratecal, IV, IM e peridural. - Miose; - Coma; - Depressão respiratória; - Constipação intestinal; - Náuseas e Vômitos; - Sedação; - Euforia; - Tolerância; - Dependência; - Prurido - liberação de histamina: vasodilatação. Metadona Tratamento de dependência química/ adição de opioides, evitar Síndrome da abstinência e bloquear os efeitos de euforia do consumo de opioides; Controle de dor aguda e crônica (em pacientes com câncer terminal); Utilizado em esquema de desmame. Longa duração de ação: tempo de ½ vida > 24 horas; Início de ação lento; Bloqueio dos canais de potássio, receptores NMDA e 5-HT; Vias: oral (não tem pico) e injetável. - Prolongamento do intervalo QT arritmia ventricular; - semelhantes à morfina, porém com menos euforia; - pode ocorrer acúmulo potencial de dependência. Fentanil/ Fentanila Anestesia (IV); Dor aguda; Dor crônica (adesivo – alta lipossolubilidade e potência); - pós-operatório imediato (espinhal). Ação curta: 1-2 horas; Alta lipossolubilidade; Vias: adesivo transdérmico (liberação prolongada – 72 horas), sublingual e IV. Alta potência. - Semelhante à morfina; Remifentanil/ Remifentanila Indução ou manutenção da Anestesia (infusão IV) inclusive intraoperatória durante processo de desbridamento. Via: infusão intravenosa; Tempo de ½ vida: 5 minutos Início e recuperação rápidos. - depressão respiratória; Fármaco Uso Farmacocinética Efeitos adversos Heroína (diamorfina) Dor aguda e crônica Via: oral e injetável; Atua mais rápido que a morfina, em virtude de rápida penetração cerebral; Atua como pró-fármaco - desmetilação hepática em morfina (efeito analgésico) pela enzima CYP2D6. - Semelhante à morfina; Codeína Receituário C1 Tosse (antitussígeno) e diarreia (antidiarreico); Dor moderada/ leve analgesia Administrada por via oral: bem absorvida; Atua como pró-fármaco - desmetilação hepática em morfina (efeito analgésico) pela enzima CYP2D6. - constipação intestinal; Tramadol Receituário C1 Não causa depressão respiratória; Dor aguda (principalmente pós- operatória) e crônica moderada Vias: oral (bem absorvido) e IV; Tempo de ½ vida: 4-6 horas; - convulsões; - tontura; - prolongamento QT; - confusão mental; - inibe recaptação de monoaminas, receptação NOR e aumenta liberação de 5-HT. Buprenorfina Tratamento de manutenção com baixo risco de sobredose e abuso; Forte analgesia. Agonista parcial μ e antagonista κ; Ação longa duração (dissocia lentamente dos receptores). Normalmente associado a naltrexona (antagonista); Preparado sublingual. Sintomas de euforia mais discretos; Menos sinais e sintomas de abstinência em relação a outros opioides (também precipita sinais de abstinência). Nalbufina Analgésico efetivo Agonista parcial κ e antagonista μ Disforia psicológica indesejável. Naloxona Essencial para reverter quadros de parada/depressão respiratória e efeitos potencialmente fatais dos opioides, como reverter os efeitos analgésicos opioides durante o trabalho de parto sobre o recém- nascido (RN). Antagonista opioide; Via parenteral (IV, IM e nasal); Bloqueia as ações dos peptídios opioides endógenos, bem como as dos fármacos semelhantes à morfina; Tempo de ½ vida curta (2-4 horas); rápido metabolismo no fígado; rápido início de ação. Precipita os sinais de abstinência em pacientes ou animais dependentes de morfina; Causa Hiperalgesia em condições de estresse e inflamação. Naltrexona Desintoxicação/ tratamento de dependentes de opioides; condições ambulatoriais. Antagonista opioide Vias: oral e implante subcutâneo de liberação lenta; + potente do que Naloxona; Tempo de ½ vida mais longa (cerca de 10 horas); início de ação demorado. Superdosagem Tríade de sinais por intoxicação de opioides: Letargia; Pupilas puntiformes e; Depressão respiratória. Sintomas clínicos secundários: hipotensão, convulsões (sobretudo crianças), hipotermia (pele úmida ou fria) e edema pulmonar. Tolerância Resistência aos efeitos farmacológicos dos opioides resultado da dessensibilização dos receptores; Estende-se à maioria dos efeitos farmacológicos. Porém, quase não afeta efeitos de constipação intestinal e miose; Necessário aumento de dose para promover analgesia. Dependência Caracteriza-se por Síndrome de abstinência nítida; Desenvolve por habituação cerebral e comportamental; A síndrome se desenvolve após a retirada dos opioides após serem usados para alívio de dor durante dias ou semanas, com sintomas: om sintomas de agitação, coriza, diarreia, tremores e piloereção. A retirada do opioide não pode ser abrupta, pois ocorre: aumento da irritabilidade, perda de peso, diarreia e vários padrões anômalos de comportamento, como estremecimentos do corpo (fibrilações musculares), contorções, saltos e sinais de agressividade; Sinais menos intensos com retirada gradual de opioides; Alterações fisiológicas: hiperexcitabilidade reflexa espinal (por via intratecal, por exemplo); ativação de via dopaminérgica mesolímbico; Grupos de risco: usuários de heroína, profissionais de saúde e pacientes com dor crônica. Adição/ vício É a busca patológica por recompensa e alívio; Dependência física acompanhada de uso abusivo; Características: o Desejo intenso (fissura); o Comprometimento do controle comportamental; o Incapacidade de abstinência consistente; Tratamento Tratar superdosagem das outras drogas, caso se tenha usado mais de uma; Assistência respiratória e às outras funções vitais; Administração de Naloxona IV em casos de depressão respiratória por altas dosagens de opioides efeito adverso: precipitação da síndrome de abstinência. Em razão da baixa capacidade de conjugação dos recém-nascidos, fármacos semelhantes à morfina têm duração de ação muito mais longa; como até mesmo pequeno grau de depressão respiratória pode ser arriscado, os congêneres da morfina não devem ser usados no período neonatal nem usados como analgésicos durante o parto. Vício: dependência física mais pronunciada e a dependência psicológica (“desejo compulsivo”) é a força principal Desmame: processo de transição da ventilação artificial para a espontânea nos pacientes que permanecem em ventilação mecânica invasiva por tempo superior a 24 horas.
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