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Resumo: Reflexos da formação da sociedade rural e os seus reflexos O desenvolvimento econômico brasileiro esteve fortemente ligado, até a primeira metade do século XX, à estrutura econômica, cultural e política da Sociedade Rural que aqui se instalou desde a época colonial. Nesse sentido, essa sociedade originou-se da atividade açucareira que tinha como pilares o engenho, a casa-grande e a senzala. Assim, a grande propriedade açucareira transformou-se num verdadeiro mundo em miniatura em que se concentrava e resumia a vida toda de uma população. Com sua força econômica, social e política foi capaz de moldar a sociedade que aqui se formava, estruturada na escravidão, no atraso à industrialização e na resistência à modernização da agricultura (BARBOSA, 2011). Barbosa (2011) ainda salienta que o complexo açucareiro se estruturava na grande plantação de cana-de-açúcar e no engenho. No entanto, o engenho era o carro chefe que articulava a atividade econômica a começar pelo contexto fundiário, de modo a cumprir função econômica e política. Logo, o contexto socioeconômico em que se desenvolveu a plantation açucareira, no sistema colonial, anulava progressivamente o ímpeto/impulso capitalista do senhor-de-engenho instigado pela situação de conquista e animado durante a fase pioneira da colonização, o que ocorria com outros segmentos da sociedade colonial em formação. Em termos de sociedade, esse sistema, inicialmente patriarcal vai mudando paulatinamente para patrimonial, na medida em que a dinâmica da vida colonial se acelerava, e a metrópole lusitana seguia caminho inverso. Foi a partir daí que ocorreu a primeira estratificação social no Brasil e, consequentemente, observou-se uma heterogeneidade no âmbitos social marcado por uma hierarquização, já que a renda gerada era concentrada mãos dos senhores de engenho.. Com a decadência desse período, houve um aumento da pecuária, posteriormente a mineração, entre os séculos XVII e XVIII, deslocando o eixo econômico dos grandes centros açucareiros para a região Sudeste, onde São Paulo vai se tornar o grande centro econômico brasileiro. No aspecto político e econômico, a produção rural brasileira era considerada moderna, pois se inseria nos quadros do absolutismo e do capitalismo comercial. Porém, no aspecto social e das mentalidades era arcaizante, pois se baseava em estruturas ibéricas medievais, tendo em vista que o trabalho escravo impossibilitava o crescimento econômico (BARBOSA, 2011). Visto que, em 1929, acontece no cenário Mundial uma crise de superprodução que irá afetar a dinâmica de produção e desenvolvimento de vários países do mundo, inclusive o Brasil. Com a crise, o cenário internacional desaqueceu, então os principais destinos dos produtos brasileiros se fecharam as importações. E como o Brasil possuía uma base exportadora extremamente agrícola, teve dificuldades de exportar e, consequentemente, corroborando para o escoamento, e com isso, o Brasil entrou em crise. Como naquela época, o café era o principal produto produzido, foi o mais prejudicado (o preço cai, as sacas tiveram que ser queimadas e jogadas no mar). Essa crise mostrou como o Brasil era e ainda é dependente do comércio externo, ademais, tendo a prevalência de um único produto,o que tornava a economia debilitada em momentos de crise (BARBOSA, 2011). Concomitantemente a isso, fica evidente que era preciso diversificar a economia brasileira, de modo a diminuir a dependência com o comércio exterior. O ciclo do café deixou como herança uma infraestrutura básica para a implantação da atividade industrial. Portanto, os barões de café, detentores de uma enorme quantia de capital aplicado no Sul financeiro, de certo modo, sendo responsáveis por isso. Foi nesse período que ocorreu o início efetivo do processo da industrialização brasileira - ocorrendo mudanças na estrutura produtiva, abandonando-se a monocultura, ampliando-se a modernização do campo com a policultura, onde estabelece uma indústria (que crescia a passos largos através da política engendrada de substituição de importação). Os primeiros sinais de industrialização começaram a surgir, principalmente em São Paulo, depois nos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Não se tem dúvida que foi a classe dos senhores-de-engenho e senhores-do-café que pelas condições econômicas e políticas delineou as condições socioeconômicas do desenvolvimento brasileiro na Colônia, Império e República Velha. Isto porque a economia canavieira e cafeeira, baseada no escravismo e no latifúndio, direcionada pelo Estado para atender às determinações do capital mercantil, criou restrições ao pequeno produtor e também ao pequeno engenho, não permitindo o estabelecimento de uma classe média de produtores. Formou-se uma sociedade com hierarquia social rígida, deixando as outras classes com poucas possibilidades de promoção social (BARBOSA, 2011). Muito contribuíram o engenho e a fazenda – de café e de gado – lugar preferencial da sociedade brasileira, funcionando como núcleo que além de concentrar a produção, tornava possível executar funções que demandavam outras atividades que configuravam a sociedade rural, visto que através deles realizava-se, ao mesmo tempo a inclusão e a exclusão dos indivíduos. Também contribuiu a proibição de criar indústria na colônia que restringia tanto a capacidade empreendedora como a organização de quadros sociais diferenciados do mundo rural. Mesmo depois de revogada essa situação, a indústria não pode se expandir, tolhida pela falta de mercado e pelo transporte caro. A produção manufatureira em pequena escala sofria com a concorrência inglesa, com seus produtos cada vez mais baratos. Diante do auge da industrialização nas décadas de 60 e 70, ocorre os primeiros sinais do processo de modernização agrícola. Esse projeto tinha intenção de modernizar a agricultura, aumentando e diversificando a sua produção, pela introdução e disseminação de tecnologia de “ponta”. Além disso, o seu objetivo era expandir e ocupar os espaços ainda não integrados ao mercado internacional, por meio da criação de incentivos fiscais, em favor do grande empreendimento agropecuário capitalista (mostrando mais uma vez que a intenção das matérias primas produzidas no Brasil era voltado para exportação); e ampliar a concessão de créditos subsidiados, direcionados para a grande monocultura de alto valor comercial destinada à exportação (logo, acabando nas mãos dos grandes produtores, que destinara esses recursos para a compra de máquinas e insumos agrícolas) (BARBOSA, 2011). Nesse sentido, juntamente com Revolução Verde, ocorrem as transformações na estrutura e organização dos mercados agrícolas. Nesse período era inquestionável a primazia das atividades agropecuárias sobre o conjunto da economia brasileira, que por sua vez, era compreendido não só o domínio econômico, como social, político e cultural. A Modernização Agrícola manteve a tradicional concentração fundiária, preservando a hegemonia do poder dominador e explorador das oligarquias rurais. Ademais, nesse período permeavam tanto consequências ambientais quanto na saúde dos trabalhadores rurais e os consumidores, pelo uso massivo de agroquímicos. Ainda nesse viés, hoje, os trabalhadores rurais que tiveram grande influência desses contextos socioculturais, vivem à margem da sociedade, são tidos como provedores da necessidade urbana, e mesmo assim, ainda são precárias as políticas públicas que abarcam a inserção social (BARBOSA, 2011). Em 1964, em decorrências dos acontecimento supracitados, houve um movimento para promover uma Reforma Agrária, que tinha como princípio distribuir terras à população de baixa renda, já que quem detinha dessas terras eram os senhores. A consequência disso, é o êxodo rural em direção às grandes cidades, assim, deteriorando a qualidade de vida de imensas parcelas da população,tanto rural quanto urbana, devido ao inchaço populacional (BARBOSA, 2011). E é por conta disso, que o Nordeste brasileiro é tido como atrasado, não- desenvolvido, quando comparado ao Sudeste, principalmente o Estado de São Paulo, já que as estratégias de desenvolvimento foram voltadas para essas regiões, onde detém a maior parte das indústrias, assim, tendo uma economia que circula. É por isso, que a maioria das pessoas saem das suas respectivas origens para morar em São Paulo, em busca de uma melhora de vida. E esses estereótipos são enraizados até hoje, e a todo tempo é reforçado pelo governo, explicando os paradigmas e as dicotomias rural-urbano (FERRAZ; OLIVEIRA; PINHEIRO; 2015), mostrando as condições precárias que vão desde as condições básicas, como saneamento básico, água, luz, educação até a falta de investimentos e incentivos para agricultura familiar. Por fim, é necessário desconstruir esses pensamentos, a começar pela legislação, que devem elaborar políticas que visam a equidade entre campo e cidade. QUESTÃO 2. O Desenvolvimento rural e seus limites no Brasil, tornam de fato muito mais complexos, atrelado a sua implementação, já que estão ligados não apenas à sua racionalidade intrínseca, mas também do ponto de vista operacional. Além disso, não são cada vez mais determinantes os limites operados por uma nova ordem internacional que vêm sendo materializada nos anos recentes (NAVARRO, 2001). O primeiro desses limites reside exatamente na extrema heterogeneidade das atividades agrícolas e rurais no Brasil. Existem, entretanto, diversas “questões regionais” que, enfocadas corretamente a partir de suas especificidades, poderiam gerar um padrão interdependente, cumulativo e virtuoso animando o desenvolvimento rural no país (NAVARRO, 2001). As mudanças possíveis, seriam as possibilidades de enraizar um regime político radicalmente democrático, e de reduzir ou socialmente controlar a lógica excludente do sistema econômico, tornada ainda mais aguda pelas características do desenvolvimento recente, inclusive as monumentais restrições de tantas ordens. Esta “aliança pelo desenvolvimento rural”, se o objetivo for de fato garantir um processo de mudanças que seja nacional, efetivamente democratizante, e reduza gradativamente as desigualdades sociais e econômicas – respeitada a heterogeneidade já citada e, por tanto, os ritmos e a natureza diferenciada do processo nas regiões –, não pode ser restritiva do ponto de vista de seus participantes (NAVARRO, 2001). Rejuvenescer, por tanto, a capacidade produtiva dos solos brasileiros sob nova orientação ambiental requer uma diretriz que seja primeiramente fundada em aprimorados sistemas de manejos de recursos naturais. Outro foco igualmente primordial com relação às perspectivas do passado refere-se aos fenômenos de democratização dos municípios (NAVARRO, 2011). Ainda dentro de um quadro mais geral de vetores fundantes na elaboração de uma estratégia de desenvolvimento rural no Brasil, Navarro 2011, salienta-se que nenhum dos diagnósticos e conjuntos de propostas e estudos já submetidos a análise ao público parece ser suficiente para oferecer instrumentos analíticos adequados à reconstrução do mundo rural e suas potencialidades sociais e produtivas, considerados os desafios e impasses existentes. A importância do desenvolvimento rural, associado ao conjunto de ações do Estado e dos organismos internacionais destinadas à intervenções nas regiões rurais pobres que não conseguiam se integrar ao processo de modernização agrícola via substituição de fatores de produção considerados atrasados (NAVARRO, 2001). Iniciado nos anos 50, esses estudos (entre outros, insista-se) têm em comum o fato de buscar na evolução dos determinantes macroestruturais, especialmente na dinâmica do capitalismo agrário do passado, a interpretação do presente e, também, uma indicação das possibilidades do futuro, sob um enfoque histórico, englobando os determinantes sociais, políticos e econômico-estruturais de um determinado período (NAVARRO, 2001). O conceito de desenvolvimento rural, fundamenta-se em quatro elementos principais: sendo o primeiro elemento, ter a noção a de crescimento econômico -que tenta romper com o "atraso" da agricultura tradicional, introduzindo os valores econômicos modernos; o segundo, é ter a noção de abertura técnica, econômica e cultural, com a prevalência da heteronomia sobre a autonomia dos agricultores em relação aos agentes econômicos com os quais passam a se relacionar; o terceiro, é ter a noção de especialização da produção agrícola, simplificando os sistemas de produção e ao mesmo tempo adequando- os às modernas técnicas de produção; e o último, é a valorização de um novo tipo de agricultor, "moderno", empresarial, individualista e voltado à competição por mercados consumidores (FERRAZ, OLIVEIRA e PINHEIRO, 2015) Navarro (2001) afirma que a transformação social e econômica – e a melhoria do bem-estar das populações rurais mais pobres – foi entendida como o resultado “natural” do processo de mudança produtiva na agricultura. Vale ressaltar que, na órbita socialista, as propostas não eram em sua essência diferentes no tocante aos formatos tecnológicos. Assim, este primeiro período, por tanto, esgotou-se no final dos anos 70, em decorrência dos insatisfatórios resultados das propostas de desenvolvimento rural implementadas em diferentes países, particularmente com relação à redução da pobreza rural, que pouco se modificou. Paralelo a isso, Navarro (2011), afirma que foram abordadas diferentes definições do que se pensa quando se refere a palavra “rural”. Dessa forma, do ponto de vista sociológico, de Wanderley (2000) existem dois lados, ou seja, por um lado, quando se fala em “rural”, aponta-se para uma relação específica dos habitantes do campo para com a natureza; já por outro, para as relações sociais existentes nesse espaço. Já para (TERLUIN, 2000 apud NAVARRO, 2001), a definição de rural é como uma unidade territorial com uma ou mais pequenas ou médias cidades circundadas por grandes áreas de espaço aberto, com uma economia regional compreendendo atividades agrícolas. Perpassando por Abramovay, onde defende que ruralidade é um conceito de natureza territorial e não-setorial sendo caracterizado na literatura internacional através de três aspectos básicos: relação com a natureza, a importância das áreas não densamente povoadas e a dependência do sistema urbano (KAGEYAMA, 2004; MARQUES, 2002 apud NAVARRO, 2001). E, chegando ao conceito de rural por (Veiga, 2001 apud NAVARRO, 2001), afirma e crítica, que o mesmo não pode ser identificado exclusivamente com aquela área que está fora do perímetro urbano dos municípios brasileiros, muito menos com as atividades exclusivamente agropecuárias ou até mesmo como um setor (que os programas governamentais insistem em propor e executar). Entrando sob a perspectiva da agricultura familiar, fez emergir o surgimento e organização de movimentos sociais de segmentos excluídos ou marginalizados que têm buscado reivindicar e demonstrar a importância do seu papel tanto na formação da sociedade como na geração de riquezas. Esses movimentos se voltaram para a valorização de camadas da população rural e de regiões menos favorecidas que não foram tocadas pela ação homogênea da Revolução Verde, nem pelas forças da globalização (MALYSZ; CHIES, 2012 apud FERRAZ, OLIVEIRA, e PINHEIRO, 2015). Os autores Carneiro e Maluf (2003), destacam na delimitação conceitual do que é agricultura familiar: a primeira, considera a agricultura familiar como um setor econômico ou uma forma de produção que se insere nas regras gerais de funcionamento do mercado, tal qual se apresentam nas sociedades modernas capitalistas. Já a segunda, considera a agricultura familiar brasileira como um conceito em evolução, com significativas raízeshistóricas, originada no conceito de campesinato, onde as transformações vivenciadas pelo agricultor familiar atual não representam ruptura com as formas anteriores, mas uma adaptação às novas exigências da sociedade (ALTAFIN, 2009 apud FERRAZ, OLIVEIRA, e PINHEIRO, 2015). Portanto, FERRAZ, OLIVEIRA, e PINHEIRO (2015), afirma que o ponto chave dessa questão é com a visão de Carneiro e Maluf (2003), onde atentam ao fato de que a família é o centro do universo pesquisado, uma vez que ao mesmo tempo em que é a proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento. Contudo, a agricultura familiar também tem sido compreendida como uma realidade complexa e multifacetada, o que reforça e legitima a agricultura familiar enquanto instrumento de desenvolvimento. Por fim, é necessário entender as diferentes visões acerca do mesmo tema, relatando as dicotomias existente entre o rural-urbano. Para com isso, além de ressignificar, permitir ter a noção da multifuncionalidade da agricultura familiar, analisando a interação entre famílias rurais e territórios na dinâmica de reprodução social, considerando os modos de vida das famílias na sua integridade e não apenas seus componentes econômicos. Além disso, somente assim, revalorizando o mundo rural como uma das opções da sociedade, que o desenvolvimento rural irá se concretizar de forma efetiva, é que não veja o produtor rural apenas como um produto econômico. (Ferraz, Oliveira e Pinheiro, 2015). REFERÊNCIAS DAS QUESTÕES: BARBOSA, Francisco. FORMAÇÃO DA SOCIEDADE RURAL E SEUS REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO DO BRASIL. Instituto de Pesquisa Aplicada em Desenvolvimento Econômico Sustentável, Ipades., p.1-18, 2011. NAVARRO, Zander. Desenvolvimento Rural no Brasil: os limites do passado e os caminhos do futuro. Estudos Avançados, Rio Grande do Sul, v. 43, p.83-100, 2001. OLIVEIRA, Kaiza; PINHEIRO, Lessi; FERRAZ, Marcelo. O DESENVOLVIMENTO RURAL E A AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL. Contribuciones A Las Ciencias Sociales: eumed.net, Salvador, p.1-23, mar. 2015.
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