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3-Geografia Rural

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Prévia do material em texto

Indaial – 2019
GeoGrafia rural
Prof. Anselmo das Neves Bueno
Prof. Carlos Odilon da Costa
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Anselmo das Neves Bueno
Prof. Carlos Odilon da Costa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
B928g
 Bueno, Anselmo das Neves
 Geografia rural. / Anselmo das Neves Bueno; Carlos Odilon da 
Costa. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 229 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0399-7
1. Geografia rural. - Brasil. I. Costa, Carlos Odilon da. II. Centro 
Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 910.091734
III
apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Geografia Rural. 
A partir do estudo deste livro, você conhecerá os conceitos fundamentais 
da Geografia Rural e entenderá as relações desta disciplina com os espaços 
agrários em nosso país e no mundo, bem como entenderá como os princípios 
humanos podem ser aplicados no gerenciamento de recursos naturais. 
Você perceberá que o desenvolvimento da sociedade implica a extração de 
produtos da natureza e, consequentemente, na sua transformação.
Desta forma, ficará mais claro por que a degradação do meio ambiente, 
em prol do desenvolvimento, tem sido alvo de análise e importantes debates. 
Você entenderá que as consequências da degradação ambiental apresentam 
efeitos negativos também para o desenvolvimento humano, suas atividades 
econômicas e para a própria sociedade, decorrentes, entre outros fatores, da 
expansão urbana, avanço da agropecuária sobre os biomas, assim como da 
geração de energia e seus efeitos.
Compreenderá que as atividades econômicas realizadas nos espaços 
agrícolas vão muito além apenas da produção de alimentos e sua distribuição, 
pois são questões históricas de formas de ocupação e modelos de exploração 
que podem desenvolver um território ou explorá-lo de maneira negativa, 
aumentando a desigualdade social, a miséria e intensificando os problemas 
ambientais como um todo, ocasionando um prejuízo generalizado para todos 
que habitam este planeta.
No que se refere à dinâmica demográfica e à relação sociedade/ 
natureza, você verá que existe uma versão mais moderna que reconhece 
a existência de outros fatores na equação população/meio-ambiente/
desenvolvimento/atividades econômicas. A pressão demográfica, neste 
caso, não entraria como determinante dos problemas ambientais, como um 
agravante. 
Através dos gêneros de vida e do complexo geográfico, a Geografia 
Rural desenvolveu várias preocupações e linhas de análises e investigações, 
principalmente a dos tipos de agricultura. Dessa forma, o campo de estudo 
da Geografia Rural ou agrária é o estudo da atividade espacial agrícola e 
pecuária, que são alguns entre os diversos sistemas socioeconômicos na 
atualidade.
 O ponto de vista do geógrafo agrário é o espacial e é dirigido 
particularmente para o arranjo e distribuição dos padrões de atividade 
agropecuária, bem como para seus processos geradores, cuja dinâmica 
procura analisar e compreender a dimensão espaço-tempo. 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
Finalmente, podemos dizer que a Geografia Rural procura 
principalmente contribuir para o planejamento e desenvolvimento da 
agricultura ou das atividades agrárias, mas em termos de bem-estar social 
e econômico das comunidades rurais e de todos os atores envolvidos nessa 
atividade socioeconômica.
Boa leitura e bons estudos!
Prof. Anselmo das Neves Bueno
NOTA
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.
Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – GEOGRAFIA RURAL ....................................................................................................1
TÓPICO 1 – ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL ..........................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL ..............................................5
2.1 O ESPAÇO RURAL: ASPECTOS CONCEITUAIS E TEÓRICOS ...............................................7
2.2 DIFERENTES FORMAS DE CLASSIFICAR O ESPAÇO RURAL ..............................................8
2.3 O ESPAÇO RURAL E A QUESTÃO DO USO DA ÁGUA ........................................................13
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................19
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................20
TÓPICO 2 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO ..........................23
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................23
2 ESPAÇO RURAL NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO ................................................................24
2.1 A FÁBULA DOS CICLOS ECONÔMICOS ..................................................................................26
2.1.1 Espaço rural no Brasil República e início do século XX ....................................................27
2.2 ESPAÇO RURAL BRASILEIRO NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO ..................................30
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................41
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................42
TÓPICO 3 – A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS 
CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL ..............................................................45
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................45
2 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMONO MUNDO ......................................................46
2.1 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMO NO BRASIL ......................................................52
2.2 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL – SÉCULO XXI ...............................................................55
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................62
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................63
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................64
UNIDADE 2 – ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE .....................................................................67
TÓPICO 1 – NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE .....................................69
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................69
2 PRINCIPAIS CONCEITOS E TEMAS DA NOVA RURALIDADE ............................................69
2.1 RURALIDADE CAMPO E CIDADE .............................................................................................76
2.2 DESAFIOS E POSSIBILIDADES FRENTE A NOVA RURALIDADE ......................................78
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................82
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................84
TÓPICO 2 – OS PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E 
FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL ...............87
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................87
sumário
VIII
2 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO 
COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO MUNDO .....................................................................87
2.1 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL .......................93
2.2 FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL ....................................99
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................105
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................107
TÓPICO 3 – OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A 
 SUSTENTABILIDADE ............................................................................................................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (GLOBAL) ..................................................109
2.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (AMÉRICA LATINA) ..............................114
2.2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS MECANIZADOS (BRASIL)....................117
2.2.1 Sistema Agrícola de Base Familiar .....................................................................................118
2.2.2 Sistema Plantio Direto (SPD) ...............................................................................................119
2.2.3 Agroecologia ..........................................................................................................................121
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................125
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................127
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129
UNIDADE 3 – ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO .................................................131
TÓPICO 1 – INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO 
RURAL ..............................................................................................................................133
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133
2 POLÍTICAS PÚBLICAS, INSTITUIÇÕES E DESENVOLVIMENTO RURAL ......................134
2.1 O ESPAÇO RURAL E A PRODUÇÃO ALIMENTAR ..............................................................138
2.2 AGRO TURISMO E O TURISMO RURAL .................................................................................141
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................147
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................148
TÓPICO 2 – MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL ...................................................149
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149
2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL MUNDIAL ..................................................152
2.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL LATINO AMERICANO ...........................154
2.2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO .............................................157
2.2.1 Movimento dos Sem Terra ..................................................................................................161
2.2.2 Marcha das Margaridas .......................................................................................................163
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................167
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................169
TÓPICO 3 – ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA .........................171
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171
2 ENSINO DE GEOGRAFIA E ESPAÇO RURAL ...........................................................................176
2.1 BNCC GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NO ESPAÇO RURAL ...........................180
2.2 ENSINO GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO FUNDAMENTAL .........................................184
3 ENSINO DE GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO MÉDIO .......................................................189
3.1 EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DO ENSINO MÉDIO ...............................................................191
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................194
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................201
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................202
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................205
1
UNIDADE 1
GEOGRAFIA RURAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer os conceitos pertinentes ao tema: questão agrária, questão agrí-
cola, uso e a exploração da terra no Brasil e no mundo;
• compreender as abordagens teóricas e históricas referentes à reprodução 
do camponês e do latifundiário e suas relações com o capitalismo;
• saber as bases teóricas que consolidaram o capitalismo, como sistema he-
gemônico, no tocante à agricultura;
• entender o funcionamento do capitalismoe sua relação com a produção 
do capital;
• compreender como se deu o desenvolvimento do Espaço Rural durante a 
evolução do Sistema Capitalista Financeiro e Informacional;
• entender as diferenças na relação capitalista entre os países periféricos e 
os países centrais no que se refere à agricultura;
• conhecer as origens da concentração fundiária brasileira, suas causas e 
consequências; 
• compreender que a estrutura agrária de um território (país, estado, municí-
pio) está diretamente relacionada à estrutura social, política e econômica.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você 
encontrará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados.
TÓPICO 1 – ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO 
RURAL
TÓPICO 2 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO 
TÓPICO 3 – A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO 
CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O 
ESPAÇO RURAL
Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em 
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO 
RURAL
1 INTRODUÇÃO
A formação histórica do meio rural brasileiro apresenta diferenças 
marcantes em relação à formação do meio rural europeu e norte-americano, ao 
mesmo tempo em que é muito parecido com o de outros países não desenvolvidos, 
principalmente com os da América Latina. Basta lembrar as funções específicas 
assumidas historicamente pelas cidades, a vinculação da grande agricultura de 
origem colonial do mercado externo e a possibilidade de deserção da população 
por um vasto território, para entender a particularidade brasileira no que se 
refere à constituição e composição das sociedades locais, à relação campo/cidade 
e às relações entre o que é “agricultura” e o que é “rural” (WANDERLEY, 1999).
FIGURA 1 – RURAL X URBANO
FONTE: <https://www.smartkids.com.br/content/articles/images/232/thumb/zona-urbana-zona-
rural.png>. Acesso em: 13 fev. 2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
4
No Brasil, o meio rural foi historicamente percebido como constituindo 
um “espaço diferenciado”, que corresponde a formas sociais distintas: as grandes 
propriedades rurais (fazendas e engenhos), os pequenos aglomerados (povoados) 
e padrões culturais específicos. Esses espaços, juntamente com as pequenas 
cidades do interior, tiveram um importante papel na história do povoamento 
brasileiro, como “pontos de apoio da civilização” (WANDERLEY, 1999, p. 18).
Contemporaneamente, as transformações introduzidas no meio rural 
brasileiro pelo processo de “modernização conservadora” da sociedade e da 
agricultura, iniciado depois da Segunda Guerra Mundial, levaram alguns autores 
a caracterizar esse período pela ocorrência de um “processo de urbanização do 
campo” (SILVA, 1997; CARNEIRO, 1998).
Como unidade político-administrativa, os municípios brasileiros têm 
origem no modelo da República Romana que os impôs às regiões conquistadas, 
como a Península Ibérica, de onde, naturalmente, chegou ao Brasil-Colônia 
(IBAM, 2001; CIGOLINI, 2000). 
De acordo com Guimarães (2006, p. 119), a evolução do espaço rural 
brasileiro: 
As condições naturais do território brasileiro favorecem o 
desenvolvimento de uma atividade agropecuária em larga escala. Com 
um relevo predominantemente plano, uma significativa diferenciação 
climática e sendo detentor das maiores reservas de água doce 
conhecidas, o Brasil se consolidou no mercado internacional como 
um dos grandes produtores de grãos, carnes e bioenergia do mundo 
contemporâneo. Essa trajetória da agropecuária nacional, embora 
tenha seu desenvolvimento ligado a condições naturais favoráveis, 
é, igualmente, indissociável dos condicionantes históricos, políticos, 
sociais e geográficos que traçaram o processo de construção do espaço 
rural brasileiro.
FIGURA 2 – ESPAÇO RURAL BRASILEIRO MODERNO
FONTE: <https://cursoenemgratuito.com.br/wp-content/uploads/2017/09/2.jpg>. Acesso em: 
17 fev.2019.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
5
Foi somente com a Constituição de 1824 que iniciou a verdadeira história 
dos municípios brasileiros, pois “até então o que havia entre nós era o município 
português, transportado para cá” (CIGOLINI, 2000, p. 34). Mas, no que se refere à 
regulamentação das funções municipais, verifica-se que ela ocorreu somente em 
1828, através de lei complementar que retirou a autonomia dos municípios. Com 
isso, os municípios brasileiros tiveram limitadas suas liberdades, atribuições 
e competências. Por outro lado, foi-lhes dada “margem para que se abrisse 
discussão em torno das suas disposições, originando o fantasma da autonomia que 
assombrou o período republicano” (CIGOLINI, 2000; BERNARDES; SANTOS; 
WALCACER, 1983).
Também surgiam vilas e cidades sem a prévia existência de freguesias. 
Tanto cidades quanto vilas podiam ser sedes de municípios. 
Tradicionalmente, no Brasil, a decisão sobre a criação de uma vila ou 
cidade ou sobre a elevação de um aglomerado pré-existente a esta ou 
àquela condição sempre emanou de uma disposição governamental, 
que não se prendia a qualquer requisito formal. A sede de uma 
freguesia, a primitiva unidade territorial brasileira, podia ser 
elevada arbitrariamente à vila ou diretamente à condição de cidade, 
na Colônia como no Império. Também ocorreram fundações, numa 
ou noutra categoria, não precedidas de freguesias, a instalação de 
ambas sendo simultânea. Salvador, Rio de Janeiro e Filipéia foram 
erigidas diretamente em cidades ainda no século XVI e, nos séculos 
subsequentes, outras assim seriam implantadas, como Belém e São 
Luiz, no norte, e Cabo Frio, no Rio de Janeiro, também fundadas 
no início do século XVII, e Petrópolis, já em meados do século XIX” 
(BERNARDES; SANTOS; WALCACER, 1993, p. 25). 
 
Importante lembrar que na Colônia a Coroa se reservava o direito de 
elevar as vilas à categoria de cidade. Mas também podiam criar vilas os donatários 
ou seus representantes, desde que as terras estivessem sob sua jurisdição, sendo 
os limites geográficos demarcados pelos limites das freguesias, sempre que se 
tratasse de espaço com ocupação consolidada. Até existiam regras para que 
cidades e vilas pudessem exercer suas diferentes funções, mas a decisão de criar 
ou elevar uma localidade à categoria de vila, ou cidade, não obedecia à norma 
alguma. Com a República, alguns governos estaduais tomaram iniciativas de 
uniformizar seus respectivos quadros territoriais, mas foi só com o Estado Novo 
que surgiram as diretrizes básicas nacionais de divisão territorial que continuam 
até hoje.
2 ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO 
RURAL
As relações entre campo/cidade e rural/urbano influenciam a agricultura, 
fundamentando o entendimento sobre a organização e configuração dos 
municípios do Brasil. Entretanto, essa realidade cogita a necessidade científica 
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
6
de uma análise teórica categórica direcionada por uma perspectiva crítica, 
considerando a complexidade e dinamicidade das informações, sugerindo novos 
caminhos, de modo radical, tal como considera Domingues (2011).
Dentro das escolas geográficas clássicas podemos citar a visão do 
determinismo geográfico de Friedrich Ratzel (séc. XIX) e o ambientalismo 
francês de Paul Vidal de La Blache (entre os séc. XIX e séc. XX), o que levou 
muitos estudiosos a desenvolverem dentro do campo da geografia humana e 
econômica a importância das atividades agrárias nos espaços rurais, assim como 
a importância da produção industrial crescente dentro desses períodos após a 
primeira e segunda revolução industrial. A demanda e a necessidade de matéria-
prima, oriunda do campo e a transformação das indústrias nas cidades, assim 
como a crescente circulação de capital das atividades terciárias do comércio e 
das prestações de serviços, criou uma verdadeira simbiose sistêmica das relações 
econômicas, interligando cada vez mais as atividades econômicas entrecampo e 
cidade. 
O geógrafo deve estudar o espaço geográfico considerando as relações 
entre as causas e consequências no tempo e espaço. Para tanto, é preciso analisar 
diferentes abordagens sobre a temática e suas diferentes definições da Geografia 
Rural, como este livro demonstra. Precisamos analisar estes espaços de uma 
forma crítica, porém, nunca de maneira isolada. A Ciência Geográfica não trata 
ou aborda os estudos de seus espaços de maneira isolada, mas sempre interliga os 
espaços físicos e naturais com os aspectos humanos, pois a Ciência Geográfica é a 
amplitude da discussão das transformações e caracterizações dos espaços.
FIGURA 3 – UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO RURAL
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/66077/>. Acesso em: 29 jan. 2019.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
7
2.1 O ESPAÇO RURAL: ASPECTOS CONCEITUAIS E 
TEÓRICOS
Em específico, destacamos a contribuição da análise para o planejamento 
e o ensino de geografia rural. Logo, a pesquisa se constitui numa reflexão 
conceitual que se estruturou por meio de distintos referenciais teóricos acerca 
do rural brasileiro e a sua relação com o urbano, bem como discute e apresenta 
formas diferenciadas de ensino da disciplina no que tange à relação rural/
urbano e campo/cidade. Para entendermos o espaço rural, precisamos entender 
principalmente as relações financeiras que envolvem as atividades econômicas, 
as atividades produtivas, desde a produção de matéria prima – oriunda do campo 
e dos espaços agrários – até as atividades de transformação das indústrias e da 
prestação de serviços e comércio como um todo, fazendo com que essa relação 
sistêmica seja uma ideia de compreensão entre todos os atores envolvidos na 
construção destes espaços geográficos e dos territórios neles envolvidos. 
A partir da discussão, fica evidente a justificativa que indica a relevância 
do desenvolvimento do conhecimento científico, particularmente para o da 
fragmentação geográfica sobre o espaço agrário. Baseado nesse princípio de 
fragmentação do espaço geográfico entre rural e urbano, por exemplo, podemos 
levantar o seguinte questionamento sobre a análise da fragmentação desses 
espaços. Veja a figura a seguir para observar a fragmentação e a caracterização 
destas áreas:
FIGURA 4 – AS DIFERENÇAS ENTRE O URBANO E O RURAL.
FONTE: <http://webquestfacil.com.br/pastas/12774/campo-cidade.jpg>. Acesso em: 29 jan. 
2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
8
Para Abramovay (2000), o meio rural caracteriza-se por sua imensa 
diversidade. Estabelecer tipologias capazes de captar uma grande diversidade 
é uma das missões mais importantes das pesquisas contemporâneas voltadas 
para a dimensão espacial do desenvolvimento. As diferentes paisagens, dos 
meios rurais e urbanos, cada vez mais desenvolvem a hinterlândia de suas 
atividades realizadas, não apenas a agricultura e a indústria, mas todo o processo 
produtivo entre as suas relações nos territórios envolvidos busca a prática do 
desenvolvimento regional entre esses espaços.
Abramovay (2000) aborda que o peso da agricultura entre nós é e será, por 
um bom tempo, mais importante do que nos países desenvolvidos. Mas é óbvio 
também que o desenvolvimento rural não pode ser confundido com o crescimento 
da agricultura. O desafio (científico e político) está em descobrir as fontes e as 
oportunidades de diversificação do tecido social, econômico e cultural das 
regiões rurais e não em apostar todas as fichas num setor só, por mais promissor 
que seja. A diversificação do mundo rural traz consigo, inevitavelmente, aquilo 
que o sociólogo alemão Max Weber chamou de desencantamento do mundo, 
num processo acelerado de racionalização das relações humanas. 
O rural não é definido pelo setor agrícola, mas isso não o torna uma 
espécie de mundo mágico existente à margem do conjunto da sociedade 
e da racionalidade econômica. Seu processo de racionalização coloca-o 
diante de oportunidades inéditas de afirmação social, cultural e 
política. Que o livro de Favareto ajuda a descobrir (ABROMAVAY, 
2007). 
2.2 DIFERENTES FORMAS DE CLASSIFICAR O ESPAÇO 
RURAL
O que define o espaço rural hoje? Antes de começar a responder a esta 
pergunta, é necessário deixar claro que diferentemente do que ocorre nos espaços 
urbanos em todo o planeta, onde há muitas similaridades nas formas e fenômenos 
que esses espaços abrigam, existem realidades rurais das mais distintas no mundo. 
Contudo, nos limitaremos a abordar algumas particularidades entre o rural 
europeu e o de países subdesenvolvidos. Respeitar a premissa das desigualdades 
entre os espaços rurais de países ricos e pobres é condição necessária para 
compreender melhor o tema, para não cair na tentação das generalizações que na 
maioria das vezes compromete a análise dos problemas. 
O conceito de territórios assimétricos ajuda na tarefa de investigação 
proposta para entendermos os conceitos destes espaços. Para González e Dasí 
(2007), ao se estudar os territórios rurais, o pesquisador se depara com uma 
dificuldade de análise, que consiste nas distintas formas de processos que ocorrem 
no espaço rural de países ricos e de países pobres, tendo em vista que a função do 
espaço rural nos primeiros, vai para além da produção de alimentos, enquanto 
nos países pobres a função do rural é, essencialmente, a produção alimentar.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
9
FIGURA 5 – ESPAÇOS AGRÍCOLAS NOS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS
FONTE: <https://journals.openedition.org/confins/docannexe/file/8639/1460_pobreza_rural_
accroche_pi_acaua_maison_paysanne-small480.jpg>. Acesso em: 25 jan. 2019.
Portanto, o rural e o agrário teriam deixado de ser sinônimos há muito 
tempo nos países desenvolvidos, por outro lado, nos subdesenvolvidos, os termos 
rural e agrário continuam sendo considerados sinônimos. 
FONTE: <http://clebinho.pro.br/wp/wp-content/uploads/2015/09/paulo-soja-100.jpg>. Acesso 
em: 25 jan. 2019.
FIGURA 6 – ESPAÇOS AGRÍCOLAS PAÍSES DESENVOLVIDOS
Nos países ricos da Europa observa-se uma inflexão/inversão de fluxo 
populacional – exceto da população jovem –, ou seja, um êxodo urbano rumo aos 
espaços rurais. Esse processo se deve à emergência de um renascimento rural ou 
uma nova ruralidade. A causa para essa inflexão seria uma percepção positiva 
do rural, em meio ao despertar ecológico no presente século, motivada pelas más 
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
10
condições de vida enfrentadas nas cidades grandes. Uma representação espacial 
que obtém mais sucesso a cada dia, pois sugere uma alternativa de vida saudável, 
próspera, tranquila e que tem trazido mudanças significativas no imaginário do 
rural dos países ricos. O movimento migratório gera mudanças nesse “novo 
rural” – europeu –, como a criação de atividades não agrícolas no espaço rural. 
Tais demandas são possibilitadas pelas tecnologias de comunicação e por uma 
boa infraestrutura (estradas, ferrovias, telefonia etc.). 
Na Europa, este “novo rural” passa a ser o território das classes médias, 
como afirmam os autores. Essas classes médias não priorizam a produção de 
alimentos, mas procuram lugares amenos e belos, em que possam manter contato 
com a natureza e a qualidade dos alimentos. Somado a isso, há um reforço do 
sentimento de pertencimento (identificação) ao lugar. Realidade bem diferente é 
encontrada no rural dos países pobres, em que a pobreza continua concentrada 
nesse espaço. Resultado de um processo histórico de colonização e exploração – 
saque – dos recursos desses países (GONZÁLEZ; DASÍ, 2007).
FIGURA 7 – POLÍTICA AGRÁRIA EUROPEIA, O NOVO RURAL
FONTE: <http://ec.europa.eu/agriculture/cap-for-our-roots/index_pt.htm>. Acesso em: 25 jan. 2019.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
11
Há, portanto, uma continuidade destas desigualdades entre ricos e pobres, 
possibilitada por um desenvolvimento desigual e combinado que promove 
a transferência das riquezas naturais dos últimos aos primeiros e num mundo 
em globalização,essa transferência se dá, sobretudo, através da negociação de 
commodities nas principais bolsas de valores do planeta. 
Cabe aqui abrir um parêntesis para citar o paradoxo enfrentado pelos 
países pobres e exportadores de alimentos, este que consiste na dificuldade 
de acesso aos mesmos alimentos que produzem, pois, significativa parte da 
população desses países não possui dinheiro suficiente para adquiri-los. Em 
resumo, a insegurança alimentar é a marca desses países. 
E cada vez mais estas práticas de produção de alimentos e o medo da 
escassez de recursos naturais traz um alerta para todos os territórios do planeta 
sobre como as futuras gerações sobreviverão e se sustentarão com a disputa por 
alimentos/nutrição de qualidade. Essa discussão abre o debate de como a produção 
de alimentos é diferente da distribuição e que resulta em fome, desnutrição e 
desigualdade entre todos os habitantes do planeta, em uma necessidade tão 
simples e cada vez mais difícil de combater que é o simples ato de alimentar-se 
dignamente.
A acumulação de capital promove a coerência imposta a processos, lógicas 
e dinâmicas muito diversas e variadas entre os espaços territoriais envolvidos. 
O processo de articulação, abertura e integração dos mercados recondiciona 
as economias aderentes, forçando-as à convergência e à reacomodação de suas 
estruturas. Quando se acelera o processo interativo, acirra-se a concorrência inter 
e intraterritorial, por exemplo, como os espaços rurais e urbanos.
 Os mercados localizados passam a ser expostos à pluralidade das formas 
superiores de capitais estrangeiros. Na esteira da incorporação, multiplicam-
se as interdependências e as complementaridades regionais, que podem 
acarretar o aumento tanto das potencialidades quanto de suas vulnerabilidades. 
Metamorfoseia-se a densidade econômica de pontos seletivos no espaço: sua 
capacidade diferencial de multiplicação, de reprodução e de geração de valor 
e riqueza; sua capacidade de articulação inter-regional; o grau e a natureza das 
vinculações e a densidade dos circuitos “produtivos”. 
Mudam e diversificam-se os fluxos, o movimento de seus eixos de 
circulação e seu potencial produtivo, a estrutura sócio-ocupacional de seus 
habitantes e etc. As conexões e desconexões são muitas vezes rápidas e facilitadas 
por diversos mecanismos. Diferenciam-se, ainda mais, as manifestações 
territoriais dos processos de produção, de consumo, de distribuição, de troca 
(circulação), que são, por natureza, marcadamente diversificadas espacialmente. 
As temporalidades dos diversos espaços, crescentemente integrados, abreviam o 
curso de vários processos históricos. Os espaços, tornados conexos, amplificam e 
adensam seus fluxos.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
12
Considerando David Harvey como o maior expoente desta vertente 
investigatória que procura pesquisar o desenvolvimento geográfico desigual dos 
espaços geográficos aqui estudados, “[...] o campo e o meio urbano ocultam um 
verdadeiro fermento de oposição, porém, se interligam dentro de suas atividades 
humanas neles envolvidos” (HARVEY, 2000, p. 102). A citação a seguir resume 
grande parte desta agenda: o estudo das contraposições, paradoxos e contradições 
entre, de um lado, a capacidade crescente que o capital tem para se apropriar e 
extrair excedentes (rendas diferenciais monopolistas) das diferenças locais, das 
variações culturais locais etc. (Harvey, 2000), de outro, das amplas possibilidades 
de construção dos “espaços da esperança”. Para esse autor, 
A busca por essa renda leva o capital global a avaliar iniciativas 
locais distintivas. Também leva à avaliação da singularidade, da 
autenticidade, da particularidade, da originalidade, e de todos os 
outros tipos de outras dimensões da vida social incompatíveis com 
a homogeneidade pressuposta pela produção de mercadorias. Para o 
capital não destruir totalmente a singularidade, base da apropriação 
das rendas monopolistas, deverá apoiar formas de diferenciação, 
assim como deverá permitir o desenvolvimento cultural local 
divergente e, em algum grau, incontrolável, que possa ser antagônico 
ao seu próprio e suave funcionamento. É em tais espaços que todos 
os tipos de movimentos oposicionistas devem se organizar [...]. O 
problema para o capital é achar os meios de cooptar, subordinar, 
mercadorizar e monetizar tais diferenças apenas o suficiente para ser 
capaz de se apropriar das rendas monopolistas disto. O problema 
dos movimentos oposicionistas é usar a validação da particularidade, 
singularidade, autenticidade e significados culturais e estéticos de 
maneira a abrir novas possibilidades e alternativas [...] construindo, 
de modo ativo, novas formas culturais e novas definições de 
autenticidade, originalidade e tradição [...]. Ao procurarem explorar 
valores de autenticidade, localidade, história, cultura, memórias 
coletivas e tradição, abrem espaço para a reflexão e a ação política, 
nas quais alternativas podem ser tanto planejadas como perseguidas 
(HARVEY, 2005, p. 238).
Muitas formulações analíticas atuais sobre território estão exaltando em 
demasia (muitas vezes banalizando) as potencialidades e a capacidade endógena 
de uma única escala espacial (geralmente a menor) como inerentemente a melhor 
para a promoção do desenvolvimento. 
É certo que no âmbito local muitas ações importantes podem ser 
articuladas, por exemplo, as escalas dos espaços rurais na nova economia global 
e na sua maneira de produção, que pode ser empregada em pequenas áreas do 
espaço, com muita tecnologia e recursos financeiros, como ocorre nos países 
desenvolvidos. Desse modo, transforma os territórios devolutos em espaços 
transformadores e produtivos, assim como nos países subdesenvolvidos em 
que esses mesmos espaços, até mesmo com capacidade de maior produção 
agrícola e pecuária com menor produção. Esses mesmos espaços e territórios 
envolvidos acabam sendo mal aproveitados e ociosos, por não terem um olhar de 
desenvolvimento regional, focados no crescimento de seus territórios junto com 
seus atores envolvidos (BRANDÃO, 2004). 
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
13
FIGURA 8 – ESPAÇOS RURAIS EM PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS
FONTE: <http://jodama201.pbworks.com/f/1302001532/agricultura-familiar-1.jpg>. Acesso em: 
29 jan. 2019.
2.3 O ESPAÇO RURAL E A QUESTÃO DO USO DA ÁGUA
 Cada vez mais o espaço rural requer políticas produtivas com as práticas 
ambientais de sustentabilidade para o desenvolvimento, uma prática não pode 
mais ser separada da outra, não há como fi rmar o desenvolvimento extrativista, 
agrícola e da pecuária sem buscar nas ciências ambientais a teoria e prática 
para o crescimento econômico. O espaço rural não sobreviverá muito tempo se 
continuarmos a adotar políticas predatórias, de interesses mínimos das parcelas 
das populações, sem evitar um colapso econômico. É preciso intensifi car as 
relações sistêmicas de todos os espaços envolvidos e espécies de seres vivos, não 
apenas o ser humano, mas toda a cadeia da vida planetária, para que possamos 
garantir para as futuras gerações a possibilidade de existir em nosso meio 
ambiente e continuar a produzir alimentos sem que a desigualdade, nas formas 
de distribuição, agrave a sobrevivência de todas as espécies na Terra. 
FIGURA 9 – USO DA ÁGUA NAS ATIVIDADES ECONÔMICAS MUNDIAIS
FONTE: Adaptado de Water for People, Water for Life, UNESCO, 2003
Considerado o grande mentor da ciência econômica moderna, Adam 
Smith, escreveu em 1776, uma obra que explica como as nações fi cam ricas e 
que “O marco mais decisivo da prosperidade de qualquer país é o aumento no 
número de seus habitantes” (SMITH, 1983, p. 56). 
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
14
Alves (2014, p. 220) aponta que: “Esta visão positiva do crescimento 
populacional fez parte do pensamento político à luz do iluminismo e da 
economia clássica. Pensadores como o marquês de Condorcet e William Godwin 
– precursores do pensamento demográfico – tinham uma visão favorável do 
crescimentoeconômico e populacional”. 
FIGURA 10 – MAU USO DA TERRA NAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS
FONTE: <https://farm1.staticflickr.com/529/32780880885_562c1beb4b_z.jpg>. Acesso em: 28 
jan. 2019.
Neste sentido, Alves (2014, p. 224) constata que:
O século XX apresentou o maior crescimento demográfico de toda 
a história da humanidade, com a população mundial aumentando 
quase quatro vezes (de cerca de 1,6 bilhão de habitantes em 1900 para 
6 bilhões em 2000). Mas a taxa de fecundidade total (TFT), que estava 
em torno de 5 filhos por mulher em meados do século, começou a 
cair a partir de 1965 e chegou a 2,53 filhos na virada do milênio. Desta 
forma, o ritmo de crescimento demográfico vai diminuir no século 
XXI, embora deva continuar positivo, pois existe uma certa estagnação 
da transição da fecundidade. A queda da fecundidade mundial foi 
de 31,5% nos 20 anos anteriores à CIPD de 1994 e de 18% nos 20 
anos posteriores. A Divisão de População da ONU, na revisão 2012, 
estima uma TFT global de 2,24 filhos por mulher, no quinquênio 2045-
50, e de 2,0 filhos por mulher, no quinquênio 2095-2100. Portanto, a 
estabilização da população mundial só seria alcançada, caso seja, no 
início do século XXII.
 Desta forma, parece intempestiva a afirmação de Camarano (2013, p. 606) 
ao assinalar a ideia de que “mesmo que a fecundidade aumente em um futuro 
próximo, é improvável que o declínio populacional seja abortado”.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
15
Ao contrário, a projeção média da ONU estima uma população mundial de 
10,9 bilhões de habitantes em 2100, um acréscimo de 4,8 bilhões de habitantes no 
século XXI, quantidade superior, em termos absolutos, aos 4,5 bilhões do século 
XX. Boa parte do atual crescimento populacional é inercial e seria equivocado 
reforçar os argumentos dos alarmistas da superpopulação. 
Contudo, colocar em pauta a iminência do declínio da população mundial 
como se fosse uma ameaça de colapso da espécie humana, ignora o verdadeiro 
perigo que é o círculo infernal que se abate sobre milhares de outras espécies 
que estão sendo extintas e os ecossistemas que estão sendo desconfigurados. 
Dizer que a redução da população prejudicará o crescimento econômico é 
desconsiderar que, do ponto de vista mais amplo da sobrevivência da vida no 
Planeta, o desenvolvimento tem se tornado o problema central.
O Living Planet Report (WWF, 2012) mostra que a pegada ecológica da 
população mundial já superava em 50% a biocapacidade do Planeta, em 2008. 
Ou dito de outra forma, a humanidade estava gastando em um ano o que a 
capacidade regenerativa da natureza consegue repor em um ano e meio. 
Outra metodologia que indica que as atividades antrópicas estão 
ultrapassando os limites da Terra é conhecida como Fronteiras Planetárias. Johan 
Rockström, da Universidade de Estocolmo e colegas (ROCKSTRÖM et al., 2009) 
identificaram nove dimensões centrais para a manutenção de condições de vida 
decentes para as sociedades humanas e o meio ambiente: mudanças climáticas; 
perda de biodiversidade; uso global de água doce; acidificação dos oceanos; 
mudança no uso da terra; depleção da camada de ozônio estratosférico; ciclo do 
nitrogênio e fósforo; concentração de aerossóis atmosféricos; e poluição química. 
FIGURA 11 – PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO E ARENIZAÇÃO
FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_legenda/
cb831aa5211af0d95855675c6192936d.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
16
Por exemplo, em 2013, a concentração de CO2 na atmosfera ultrapassou 
400 partes por milhão (ppm), bem acima das 280 ppm da era pré-industrial. O 
limiar de segurança é de 350 ppm. Está em xeque o modelo que traz muitos 
benefícios para poucos, poucos benefícios para muitos e nenhum benefício para 
a natureza e a biodiversidade. Porém, o crescimento econômico tem sido uma 
aspiração não só das forças capitalistas, mas também dos trabalhadores e dos 
governos. 
Para o mundo corporativo, isto certamente representa bilhões de novos 
consumidores ávidos por casas, carros e aparelhos de TV (CEBDS, 2009). Neste 
sentido, não há como discordar quando Ana Amélia diz: “Acredita-se que nenhum 
país deseje o declínio populacional, pois isto tem implicações de várias ordens. 
A primeira é a perda de poder econômico e geopolítico em relação a países onde 
a população ainda cresce” (CAMARANO, 2013, p. 606). Mas a autora parece cair 
em contradição ao considerar que a população não é um problema quando há 
crescimento, mas se torna um problema quando há decrescimento. Realmente, o 
declínio da população e da economia é um anátema do capitalismo. O desejo de 
acumulação de riqueza pessoal e nacional, os interesses geoestratégicos do poder 
político e as diversas forças pró-natalistas do mundo somam-se para manter por 
mais tempo possível o processo de ampliação do desenvolvimento econômico.
A Escola da Economia Ecológica há muito tempo argumenta que “A 
economia é um subsistema do ecossistema e o ecossistema é finito, não cresce e é 
materialmente fechado”, como afirmou Herman Daly, que também considera que 
o desenvolvimento atual tem gerado um “crescimento deseconômico”, com os 
custos sendo maiores do que os benefícios. Ele completa: “Precisamos decrescer 
até chegar a uma escala sustentável que, então, procuramos manter num estado 
estacionário. O decrescimento, assim como o crescimento, não pode ser um 
processo permanente” (IHU, 2011). Sem dúvida, tem aumentado o número de 
pessoas que consideram o desenvolvimento o principal vetor de destruição das 
fontes naturais da vida e da biodiversidade (ALVES, 2014, p. 219).
O capitalismo não consegue ser ao mesmo tempo socialmente inclusivo, 
justo e ambientalmente sustentável. Por conta disso, alguns autores falam em 
desenvolvimento sem crescimento, enquanto outros defendem a ideia do 
decrescimento (LATOUCHE, 2009; DEMARIA et al., 2013; MEDIAVILLA, 2013; 
ALVES, 2014b). Pouco antes da Rio+20, em 2012, a revista Estudos Avançados 
da USP publicou um número com diversos artigos tratando dos limites do 
crescimento econômico e a possibilidade do crescimento sustentável.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
17
FIGURA 12 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS
FONTE: <https://abrilexame.files.wordpress.com/2016/09/size_960_16_9_mudancas-
climaticas3.jpg?quality=70&strip=info&w=920>. Acesso em: 28 jan. 2019.
O mau uso da água para a agropecuária por exemplo, pode ser uma 
amostra de como lidamos com o uso dos recursos naturais de uma forma, que 
sejam em nossa concepção, infinita, porém, não nos damos conta de que esses 
recursos são finitos e que seu mau uso pode desencadear o aumento da fome, das 
desigualdades sociais e mudanças climáticas cada vez mais catastróficas, em todo 
o planeta. A agricultura e a pecuária são as atividades humanas que mais usam 
por exemplo, o recurso hídrico desde o plantio e em toda a cadeia de produção. 
Até chegar à mesa de toda a população, milhões e milhões de metros cúbicos de 
água são necessários para produzir uma parcela mínima de alimentos. Se não 
usarmos esse recurso de maneira mais sustentável e com a consciência de que irá 
terminar, adiantaremos cada vez mais o colapso socioeconômico do planeta.
FIGURA 13 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS
FONTE: <http://twixar.me/J01T> Acesso em: 27 jan. 2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
18
A poluição dos rios, que espalha as toxinas de cianobactérias, diminui 
a disponibilidade de água doce e provoca a mortandade de peixes e da vida 
aquática. Lagos, como o mar de Aral, estão diminuindo ou secando para atender 
aos interesses da irrigação a fim de alimentar uma população crescente. Aumenta 
a taxa de extinção de espécies e a degradação dos ecossistemas, com redução da 
vida selvagem. As áreas produtivas diminuem, enquanto crescem os aterros de 
descarte antrópico. 
FIGURA 14 – REDUÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
FONTE: <https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2016/03/cantareira-e1458674694213.jpg>. Acesso em: 27 jan. 2019.
Três em cada quatro empregos do mundo são fortes ou moderadamente 
dependentes de água, segundo a estimativa do Relatório das Nações Unidas 
(UNESCO WWAP). Consequentemente, a escassez e os problemas de acesso à 
água e ao saneamento podem limitar o crescimento econômico e a criação de 
empregos no mundo nas próximas décadas, de acordo com o documento, que 
cita também a falta de investimentos em infraestrutura e os altos índices de 
vazamentos nos sistemas hídricos das cidades e dos espaços rurais globais, 
inclusive de países desenvolvidos.
Diante da possibilidade de um colapso ambiental, as atividades humanas 
deveriam ser direcionadas para a recuperação ecológica e não para a acumulação 
da riqueza ostentatória em benefício de uma minoritária elite populacional.
Precisamos compreender que a produção do espaço rural e o cuidado 
com o meio ambiente devem andar de mãos dadas. O rural não é definido pelo 
setor agrícola e não o torna uma espécie de mundo mágico existente à margem 
do conjunto da sociedade e da racionalidade econômica. Seu processo de 
racionalização coloca-o diante de oportunidades inéditas de afirmação social, 
cultural e política.
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/water_drives_job_creation_and_economic_growth_says_new_un_report-1/#.VvF-peIrJph
19
Neste tópico, você aprendeu que:
• A formação e caracterização do Espaço Rural Brasileiro e mundial e o processo 
histórico de formação destes territórios apresenta transformação contínua com 
o uso das novas tecnologias adotadas no sistema de produção agrícola.
• Há diferentes formas de classificar o espaço rural brasileiro, partindo pelas 
diferentes áreas e regiões do Brasil, assim como suas vocações e aptidões para 
o agronegócio.
• Precisamos ter um olhar para o desenvolvimento regional, porém com respeito 
ao meio ambiente e foco em políticas agrárias que tragam o crescimento 
econômico, mas com a consciência sustentável ambiental.
RESUMO DO TÓPICO 1
20
1 As condições naturais do território brasileiro favorecem o desenvolvimento 
de uma atividade agropecuária em larga escala. Com um relevo 
predominantemente plano, uma significativa diferenciação climática e 
sendo detentor das maiores reservas de água doce conhecidas, o Brasil se 
consolidou no mercado internacional como um dos grandes produtores de 
grãos, carnes e bioenergia do mundo contemporâneo. Como a extensão do 
território brasileiro contribuiu e ainda contribui para que as atividades rurais 
econômicas continuem a se expandir e cada vez mais tornam-se importantes 
na economia de nosso país?
2 As relações entre campo/cidade e rural/urbano influenciam a agricultura, 
fundamentando o entendimento sobre a organização e configuração 
dos municípios do Brasil. Entretanto, essa realidade cogita a necessidade 
científica de uma análise teórica categórica direcionada por uma perspectiva 
crítica, considerando a complexidade e dinamicidade das informações. 
De que maneira podemos observar o aumento das relações das atividades 
econômicas no campo, com a migração dos trabalhadores para os centros 
urbanos, chamado no século XX de êxodo rural?
3 É preciso intensificar as relações sistêmicas de todos os espaços envolvidos e 
espécies de seres vivos, não apenas o ser humano, mas toda a cadeia da vida 
planetária, para que possamos garantir para futuras gerações a possibilidade 
de existir em nosso meio ambiente, e continuar a produzir alimentos sem 
que a desigualdade, nas formas de distribuição, agrave a sobrevivência de 
todas as espécies na Terra. 
Uma das preocupações que envolvem o meio ambiente e a produção agrícola é 
o uso da água de maneira predatória e inconsciente pelas populações mundiais 
e pelos governos. 
De acordo com o exposto, podemos afirmar que:
I- Cada vez mais o espaço rural requer a necessidade das políticas produtivas 
com as práticas ambientais de sustentabilidade para o desenvolvimento, 
uma prática não pode mais ser separada da outra.
II- O espaço rural não sobreviverá muito tempo se continuarmos a adotar 
políticas predatórias, de interesses mínimos das parcelas das populações, 
sem evitar um colapso econômico e cada vez mais crises humanitárias 
causadas pela falta de alimentos e fome.
III- Precisamos voltar ao debate sobre população e desenvolvimento dentro 
dos diferentes espaços, bem como o uso da terra e dos recursos naturais, 
para criarmos boas perspectivas de futuro para o nosso Planeta.
AUTOATIVIDADE
21
Assinale a resposta CORRETA:
a) ( ) As alternativas I e II estão corretas.
b) ( ) As alternativas II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a alternativa I está correta.
d) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
22
23
TÓPICO 2
FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL 
BRASILEIRO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A formação do espaço brasileiro aconteceu muito antes da conquista de 
nosso país no ano de 1500, século XV, pelos europeus. Essa ocupação ocorreu 
desde a expansão dos povos indígenas pré-históricos, acerca de 12 mil anos, como 
relatam alguns estudos arqueológicos, expressa em pinturas rupestres e fósseis 
encontrados em todas as regiões do Brasil. 
FIGURA 15 – PRIMEIROS CICLOS ECONÔMICOS DO BRASIL
FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-F1Gcrhd0m2c/UT4WB3BF-YI/AAAAAAAAEp0/W2 
Ov00gh1bI/s1600/ Economia+no+século+XVI.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
24
2 ESPAÇO RURAL NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO
A primeira forma de ocupação do território brasileiro foi por meio das 
capitanias hereditárias, sistema instituído no Brasil em 1536, pelo rei de Portugal 
Dom João III. Foram criadas 14 capitanias, divididas em 15 lotes e distribuídas 
para 12 donatários, que eram os representantes da nobreza portuguesa. Em troca, 
esses donatários eram obrigados a pagar tributos à Coroa. Portanto, desde o início 
da ocupação do Brasil por Portugal, o território brasileiro foi propriedade do 
Estado. Nesse sentido, Faoro (2000, p. 6) argumenta que “[...] a coroa conseguiu 
formar, desde os primeiros golpes da conquista, imenso patrimônio rural”.
FIGURA 16 – CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
FONTE: <http://professorasueli-historia.blogspot.com/2009/05/mapa-das-capitanias-
hereditarias.html>. Acesso em: 13 fev. 2019.
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
25
Pode-se dizer que a divisão de terras por conta das capitanias hereditárias, 
a primeira subdivisão do território brasileiro no espaço rural, formaram os 
primeiros grandes latifúndios, grandes áreas rurais com o objetivo monocultor e 
exportador. Foi o início de um problema fundiário, que persiste até hoje em nosso 
país, que é a concentração de terras nas mãos de grandes latifundiários enquanto 
a maioria da população não tem acesso à produção agropecuária por conta do 
monopólio ou dominação total desses espaços rurais.
O que eram as Capitanias Hereditárias?
“Era o sistema que Portugal implantou no Brasil, que realizava a divisão das terras brasileiras 
em longas faixas que partiam do litoral até os limites do Tratado de Tordesilhas. Cada faixa 
de terra era considerado uma capitania e cada capitania tinha um responsável por ela, esses 
responsáveis eram escolhidos pelo rei de Portugal, e ganhava o título de donatário”.
FONTE: https://www.estudokids.com.br/capitanias-hereditarias/. Acesso em: 13 fev. 2019.
IMPORTANT
E
Desde os primeiros anos do século XVI, as terras exploradas na América 
portuguesa se resumiam ao litoral brasileiro, sendo que o pau-brasil era o 
produto que mais interessava aos colonizadores. No entanto, a partir do fim da 
primeira metade do século XVI em diante, ocorreu uma significativa mudança 
na configuração do território, já que houve um aumento da interiorização da 
ocupação, tendo em vista a conquista dos chamados sertões, regiões distantes 
do litoral. Nosso país se resumia, nas primeiras décadas, das ocupações para a 
exploração dos benefícios do pau-brasil, bem como para os tingimentos de roupas 
e móveis com a resina extraída daplanta. 
Já a partir da segunda metade do século XVI, a cana-de-açúcar começa a 
ser a primeira monocultura agrícola de grande expressão na nova economia da 
colônia portuguesa e começa então o chamado primeiro grande ciclo econômico 
da economia brasileira, com o principal objetivo de abastecer o mercado europeu. 
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
26
FIGURA 17 – FASES OU CICLOS DA ECONOMIA BRASILEIRA
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-uP9J-F6JK_0/VlS1EZlzFgI/AAAAAAAAEgA/zqfv 
EM2WgU /s1600/Periodos%2Bda%2BHist%25C3%25B3ra%2Bdo%2BBrasil.jpg>. Acesso 
em: 29 jan. 2019.
“Dessa forma, notamos que a fazenda açucareira representava bem mais que 
um mero sistema de exploração das terras coloniais. Nesse mesmo espaço rural percebemos 
a instituição de toda uma sociedade formada por hábitos e costumes próprios. O engenho 
propiciou um sistema de relações sociais específico, conforme podemos atestar na obra 
clássica “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre. Na qualidade de um espaço dotado 
de relações específicas, o engenho e o açúcar trouxeram muitos aspectos culturais da 
sociedade brasileira”. 
FONTE: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/ocupacao-do-territorio-
brasileiro. Acesso em: 29 jan. 2019.
IMPORTANT
E
2.1 A FÁBULA DOS CICLOS ECONÔMICOS
A ideia dos ciclos econômicos, baseada na análise histórica de que o período 
colonial teria sido economicamente conduzido por eles, ou seja, sustentado 
sucessivamente pela exportação de produtos específicos em determinados 
períodos da história brasileira, primeiramente o pau-brasil, depois o açúcar, o ouro 
e o café, não se sustenta mais como definição principal do subdesenvolvimento 
do nosso país e do crescimento dos espaços rurais. Ao longo da colonização, 
observamos que a incursão pelo interior do nosso território abriu caminho para o 
conhecimento de novos espaços, plantas, frutas e raízes que compunham a nossa 
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
27
vegetação. Nesse processo, o contato com as populações indígenas também foi 
de suma importância para que os colonizadores conhecessem as potencialidades 
curativas e culinárias das chamadas drogas do sertão.
2.1.1 Espaço rural no Brasil República e início do século XX
Os primeiros traços da agropecuária brasileira agroexportadora surgiram 
no final do período imperial e início da velha República em meados de 1870 a 
1890. Com isso, a caracterização do espaço rural brasileiro começou a se distinguir 
pelos latifúndios monocultores, além disso, houve também a introdução da mão 
de obra livre, com o objetivo de substituir a mão de obra servil e escravocrata 
que perdurava desde o início da ocupação do território brasileiro. Nesse período, 
ficava cada vez mais vigente a pressão dos segmentos urbanos, representado pela 
burguesia civil e as forças militares, a favor da proclamação da República. 
FIGURA 18 – ILUSTRAÇÃO REFERENTE À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA EM 1889
FONTE: <https://www.cafeculturabrasil.com/wpcontent/uploads/2016/11/
proclamacao_da_republica_ by_ benedito_calixto_1893-1024x631.jpg>. Acesso em: 7 
fev. 2019.
Com a Proclamação da República, em 1889, nosso país começou a passar 
por uma desconstrução do espaço que até então era colônia de Portugal, durante 
os períodos colonial e imperial, e passa a deliberar sobre representatividade 
partidária com a nova política instalada no território. Cresceu a influência dos 
partidários ao desenvolvimento, sendo tomadas algumas medidas favoráveis 
à produção local, como por exemplo a lei do similar nacional, que proibia 
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a importação de produtos já fabricados no país (a abrangência dessa lei foi 
severamente reduzida cerca de um século depois, nos governos neoliberais de 
Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso).
Foi preciso esperar até a Revolução de 1930 para que um modelo de 
desenvolvimento autônomo pudesse firmar-se. Aquele movimento colocou 
um ponto final na República Velha e em sua política econômica liberal e pode 
ser considerado o marco inicial daquilo que mais tarde ficou conhecido como 
desenvolvimentismo nacional.
“Desde meados dos anos 1940, a agricultura brasileira vem passando, de forma 
ininterrupta, por um profundo reajustamento produtivo, visando a sua modernização. 
Esse processo, caracterizado por diferentes etapas, ocorre por meio de uma contínua 
melhoria e ampliação do sistema logístico de infraestrutura de transporte e armazenagem, 
e, institucionalmente, por meio de políticas visando ao aumento e à diversificação das 
exportações e, principalmente, pela transformação da base técnica de produção do 
setor agropecuário. Com isso, em seu decorrer, o processo de modernização vai sendo 
permeado por um crescente aumento das trocas intersetoriais, o que implica a ampliação 
e a intensificação das condições de produção agrícola e, no limite, na transformação deste 
setor em um complexo agroindustrial mais completo, agora envolvendo um articulado 
sistema de interesses e de ações intersetoriais. 
Todas essas transformações decorrem de um rearranjo técnico-econômico e territorial 
em que, necessariamente, não só há uma concentração da produção em determinados 
produtos, como, simultaneamente, ocorre uma especialização dinâmica dos lugares em 
que se realiza no espaço e no tempo. A sua forma de concretização no território varia em 
função da época em que ocorre, do padrão técnico-científico disponível, bem como do 
modo de como se dá a inserção dos diferentes países na economia-mundo e, sobretudo, 
das políticas públicas adotadas na consecução dos objetivos almejados. 
Entre 1940 e 1950, era inquestionável a primazia das atividades agropecuárias sobre o 
conjunto da economia brasileira, aí compreendida não só o domínio econômico, como 
social, político e cultural. Nesse período, e sem se considerar os produtos pecuários, o valor 
da produção dos 20 principais produtos agrícolas, segundo Bernardes (1961), equivalia a 
54% do valor de toda a produção industrial do País”.
FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 
fev. 2019.
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A abertura de novas áreas de pastagens foi uma das principais causas 
do aumento da área dos estabelecimentos verificados no período. Em “zonas 
de ocupação mais antiga” como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio 
Grande do Sul, esse processo se deu por “um recuo da área já cultivada” com 
lavouras. A grande expansão da atividade pecuária, no entanto, se deu em áreas 
de fronteira agrícola, sobretudo, pela “incorporação aos estabelecimentos rurais 
de grandes trechos de campos de cerrado na Região Centro-Oeste [...], onde se 
verificou o maior acréscimo relativo de área total” (BERNARDES, 1961, p. 103). 
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
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De acordo com o texto Evolução do espaço rural brasileiro de Luiz Sérgio Pires 
Guimarães (IBGE, 2016, p. 124):
“Apesar de a expansão da pecuária predominar, havia também uma preocupação, por 
parte do governo brasileiro, de ocupar essas áreas da Região Centro-Oeste com colônias 
agrícolas para a produção de alimentos e matérias-primas a baixo custo. Com isso, criava- 
-se, nos “sertões brasileiros”, um mercado para produtos industrializados, direcionando-se 
um expressivo contingente populacional, sobretudo da Região Nordeste, para o interior 
do País e, ao mesmo tempo, ocupando espaços até então vazios. Visando à implantação 
desse projeto, foram criadas, em 1943, por iniciativa estatal, as Colônias Agrícolas Nacionais 
de Goiás e de Mato Grosso, que, embora não atingissem seu objetivo de criar núcleos 
de pequenos produtores, deram origem, respectivamente, aos municípios de Ceres e 
Dourados. 
Outra região de fronteira agrícola, cuja ocupação se baseou na criação de colônias, foi a do 
Paraná. Diferentemente da Região Centro-Oeste, o projeto de colonização nesse estado, 
que tinha um caráter empresarial, foi, em princípio, bem-sucedido. A sua ocupação se deu 
com base no estabelecimentode descendentes de italianos e alemães procedentes do 
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que ocuparam pequenos lotes de terra no sudoeste e 
oeste do Paraná. Cabe ressaltar que, além de uma pequena policultura de alimentos, eles 
cultivavam a hortelã, destinada a empresas compradoras, a menta e a soja, esta última 
utilizada apenas como forragem verde para alimentação de animais.
 Outra área de fronteira agrícola existente, na década de 1940, localizava-se no Maranhão. 
Diferentemente do Paraná e da Região Centro-Oeste, contudo, a frente de ocupação 
naquele estado apresentou um caráter “espontâneo”, absorvendo um excedente 
populacional proveniente do semiárido nordestino. Nessas áreas, estabeleceu-se um 
sistema de produção agroextrativista em que se alia a agricultura de queima e o pousio 
com o extrativismo das amêndoas de babaçu, principal base econômica do estado. Nesse 
período, começa também a se intensificar a produção de arroz, cujo cultivo precedia, em 
parte, a formação dos pastos para a pecuária em estabelecimentos maiores. 
Assim, seja em áreas consolidadas ou de expansão, a produção agropecuária dos anos 
1940-1950 estava estruturada sobre uma malha fundiária extremamente desigual, na 
qual, ao lado de grandes estabelecimentos dedicados à pecuária e a lavouras de alto 
valor comercial, coexistiam pequenos estabelecimentos que praticavam uma agricultura 
destinada à subsistência e ao abastecimento do mercado interno. A maior parte dessa 
produção era obtida por meio das diferentes formas do sistema de “meação”, relação de 
trabalho então predominante na agricultura. O trabalho assalariado, quando empregado, 
restringia-se a algumas grandes lavouras, sendo mais comumente utilizado nos períodos 
em que a safra demandava um contingente mais elevado de mão de obra”.
FONTE: IBGE. Coordenação de Geografia. Brasil: uma visão geográfica e ambiental no 
início do século XXI. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.
br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 fev. 2019.
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2.2 ESPAÇO RURAL BRASILEIRO NO PERÍODO 
CONTEMPORÂNEO 
Atualmente o modelo do espaço rural brasileiro está centrado nos 
resquícios da formação territorial passada, caracterizado pela grande concentração 
de terras para a minoria da população com verdadeira vocação agropecuária. 
Esta tornou-se uma das atividades econômicas mais importantes do nosso país 
e uma das mais solidificadas para cruzar grandes crises econômicas no Brasil 
e o no mundo, principalmente desde o início da globalização. Grande parte da 
atividade agropastoril de nosso país é exportador e definido como agropecuária 
moderna regional, pois há grandes diferenças entre as microrregiões do IBGE. 
As regiões se diferem por causa de suas particularidades, desprezando sua 
grandeza ou localização geográfica. São distintas por suas atuações com a 
produção agropecuária (região da soja, milho, leite, tomate entre outras). Ainda 
podemos destacar a subdivisão regional em 1967, em que o geógrafo brasileiro 
Pedro Pinchas Geiger propôs uma outra divisão regional do país, em três regiões 
geoeconômicas ou complexos regionais.
Uma outra força do capitalismo informacional globalizado em nosso 
país está baseada nas exportações de commodities, que exporta matéria-prima de 
maneira in natura, sem que seja necessário grande ou nenhum processamento. 
Assim, em meados da década de 1960 e 1970 a adoção de uma série de políticas 
públicas específicas para a chamada “modernização conservadora” da agricultura 
provocou importantes transformações no setor, consolidando a grande agricultura 
comercial, por meio da tecnização de seus processos produtivos e de uma maior 
abertura ao mercado internacional. A modernização deste processo de novas 
técnicas agrícolas e a ampliação das máquinas, como forma de produção no 
campo brasileiro a partir desta década, também marca o grande início da indústria 
automobilística e metalmecânica em nosso país. Nesse contexto, a produção 
agropecuária apresentou um desempenho muito superior em comparação com 
as décadas anteriores, devido tanto ao aumento da sua produtividade como da 
diversificação das exportações agrícolas e da ampliação da produção. Ao final 
desse período, a situação do mercado continuava favorável, com abundância de 
créditos baratos, preços de insumos e bens de capital em declínio e os commodities 
em alta, além do aumento do mercado consumidor, fazendo com que nosso país 
começasse a entrar em uma nova era de produção e tecnização no espaço rural 
nacional.
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
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De acordo com Guimarães (2006):
 “Esse quadro em que o setor agropecuário se estrutura, com base na expansão 
e na modernização tecnológica da produção de commodities de alto valor comercial, foi 
consolidado ao longo da década de 1970. Nesse período, foram ampliados os investimentos 
públicos na infraestrutura, no armazenamento e na modernização da produção agropecuária 
em larga escala. Chama a atenção o aumento da mecanização do setor agropecuário entre 
os anos 1970 e 1980, quando a maioria dos estados mais que dobrou o número de tratores 
utilizados. Estados com grande produção de grãos, como, Paraná, Goiás e Mato Grosso que 
quintuplicaram as suas frotas nessa década. Só Mato Grosso (incluída a área do atual Mato 
Grosso do Sul, para efeitos de comparação) passa de um total de 4 386 tratores, em 1970, 
para 44 320 unidades, em 1980.
 Como os preços das commodities internacionais eram ainda mais favoráveis que 
na década anterior, ampliou-se a participação do Brasil, no mercado internacional, com o 
aumento das exportações de vários produtos agrícolas, entre os quais se destacam a soja, 
o café, o milho, a laranja (em suco), o açúcar e as carnes. Essas atividades modernizadas 
aumentaram, inicialmente, suas áreas na Região Sul, nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, 
para, posteriormente, em meados da década, se expandirem sistematicamente por toda a 
Região Centro-Oeste, e, por fim, atingindo o Estado do Pará, ampliando a fronteira agrícola 
para áreas até então só parcialmente integradas à dinâmica de produção capitalista. Todo 
esse dinamismo, baseado na grande oferta de capitais existentes no mercado internacional 
e em uma política de crédito altamente subsidiada, deteriora-se a partir da crise do petróleo 
de 1979, quando ocorre uma forte retração da economia internacional. 
 Dos anos 1980 até meados da década seguinte o crescimento da dívida externa 
do Brasil e das taxas de juros internacionais provocou uma significativa redução dos 
recursos para o financiamento rural e refletiu de imediato na redução das áreas de lavouras, 
pastagens e pessoal ocupado na agricultura conforme verificado no período. A política de 
crédito foi gradativamente substituída pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) 
como principal instrumento de incentivo para a expansão e desenvolvimento do setor 
agropecuário. Apesar disso, o quadro de hiperinflação obrigou o governo a elaborar um 
conjunto de políticas de ajustamento macroeconômico que materializadas em uma série 
de planos econômicos restringiram a plena expansão do setor agropecuário. 
 Com a manutenção de um cenário macroeconômico desfavorável no Brasil, 
delineou-se na década de 1990 sobretudo a partir do segundo quinquênio, a necessidade 
de se construir um novo quadro institucional que permanece até o período atual e que 
redefiniu o espaço entre o público e o privado nos mercados agroalimentares, alinhando 
as novas diretrizes às exigências da Organização Mundial do Comércio (OMC). O Estado 
deixa, em grande medida, de ser o gestor das políticas públicas para o setor, passando 
a exercer o papel de principal coordenador e fiscal destas. Isso implicou a “retirada do 
governo de controles diretos na forma de preços ou compras e, em muitos casos, implicou 
no desmantelamento de serviços de extensão e, também, na eliminação de políticas 
setoriais maisativas” (WILKINSON, 2003, p. 12). “Tais medidas vieram acompanhadas de 
uma menor proteção tarifária e de uma maior abertura ao comércio internacional, levando 
em vários casos a um aumento no ritmo de importação de alimentos”. Visando aumentar o 
volume de investimentos diretos vindos do exterior, procedeu-se, conforme complementa 
este autor, a uma “modificação da legislação sobre os níveis de participação de capitais 
estrangeiros em empresas nacionais e a uma maior tolerância à remessa de lucros” 
(WILKINSON, 2003, p. 27). Com isso, torna possível intensificar ainda mais a modernização 
da agricultura, o que provocou um aumento da competitividade da produção brasileira 
no comércio internacional, alavancando as exportações. As consequências desse novo 
quadro foi a exacerbação das características do processo de modernização”.
FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 
fev. 2019.
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Com a intensificação do processo de globalização o conceito de região 
passou a ser questionado, sobretudo porque alguns autores entendiam que a 
globalização seria responsável por uma homogeneização espacial. A discussão 
sobre globalização e região merecem destaque por causa da ideia do seu 
potencial homogeneizador, já que no mundo globalizado não haveria espaço 
para a diferenciação, bem como a região que guarda em sua essência a noção de 
singularidade. 
FIGURA 19 – TIPOS DE COMMODITIES
FONTE: <https://academy.alvexo.com/academy-basics/basic-articles/learn-to-trade-
commodities>. Acesso em: 17 fev. 2019.
Os territórios e os espações geográficos na atualidade estão fragmentados 
pela ação e pela produção do capital globalizado, ideia centrada no discurso que 
prega o fim do “Estado-Nação”, pois há de um lado a emergência de uma cultura 
global e de outro uma economia também global (ARRAIS, 2007). Concorda-se 
com Pontes (2007, p. 490) que defende que “a globalização pode não significar 
homogeneização total, mas sim diferenciação de partes, isso ocorre devido as 
diferentes potencialidades regionais e dos vários agentes” que atuam com forças 
desiguais no território. Segundo Haesbaert e Limonad (2007, p. 40):
Se muitos autores afirmam que o mundo contemporâneo vive uma 
era de globalização, outros, por sua vez, enfatizam como característica 
principal do nosso tempo a fragmentação. Globalização e fragmentação 
constituem de fato os dois polos de uma mesma questão que vem 
sendo aprofundada, seja através de uma linha de argumentação que 
tende a privilegiar os aspectos econômicos - e que enfatiza os processos 
de globalização inerentes ao capitalismo -, seja através do realce de 
processos fragmentadores de ordem cultural.
Para Elias e Pequeno (2007) a reestruturação do agronegócio e da 
agropecuária não homogeneizou a produção ou os espaços agrícolas nem os 
espaços urbanos. O que de fato acontece é um intenso processo de fragmentação 
da produção e do espaço agrícola, em contraposição ao processo de globalização 
da produção e do consumo agropecuário. Assim, entendendo a paisagem e a 
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
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região como categorias fundamentais para a leitura e a compreensão dos processos 
ocorridos ao longo do tempo e da realidade atual da microrregião Ceres, propõe-
se pensar na noção de paisagem regional que não seria somente a junção das 
duas importantes categorias, mas uma forma mais ampla e complexa de verificar 
ao mesmo tempo as problemáticas postas pela dinâmica sucroenergética, as 
diferenciações que o processo acarreta na região e que se apresenta por meio da 
paisagem. 
FIGURA 20 – AGRICULTURA E AS TENDÊNCIAS GLOBAIS
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/1354290/>. Acesso em: 17 fev. 2019.
O processo histórico da formação do território brasileiro levou em 
consideração os efeitos da industrialização e a configuração dos modelos de 
ocupação das primeiras atividades econômicas do país, como os grandes ciclos 
agrícolas da cana de açúcar no período colonial, do café entre a Colônia e o 
Império e também o declínio da indústria cafeeira no início da Velha República e 
o início da industrialização a partir da segunda metade do Século XX. 
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FIGURA 21 – DIVISÃO REGIONAL GEOECONÔMICA BRASILEIRA
FONTE: <https://estudegeografia.webnode.com.br/_files/200000164-8e2898f227/regioes%20
geoeconomicas.jpg>. Acesso em: 13 fev. 2019.
Legenda: 
1) Amazônia
2) Centro-Sul
 
3) Nordeste
Com base na divisão, diferente do que se perpetua nas bases do IBGE, 
os limites das regiões não são coincidentes com os estados. Tal fato representa 
a noção de que um estado em face de suas características pode ter parte do seu 
território em mais de uma região, como é o caso do Maranhão e de Minas Gerais.
O espaço rural brasileiro atualmente concentra a maior desigualdade 
social e trabalhista de todas as atividades econômicas de nosso país, pois faltam 
legislações que garantam ao produtor rural acesso básico ao desenvolvimento 
humano e distribuição de renda. A produção principalmente dos pequenos 
produtores é pouco valorizada no mercado interno e externo, pois há pouco 
retorno. Hoje ainda há uma competição desleal entre o minifundiário policultor 
e o grande agroexportador que concentra a maior parte das terras agricultáveis e 
cultiváveis tanto para produção de grãos como para a produção pecuária e seus 
derivados. A grande agroindústria está atenta principalmente para os grandes 
produtores que possuem capacidade de competição e grande produção de 
qualidade em sua matéria-prima. 
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
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FIGURA 22 – PRINCIPAIS PRODUTOS BRASILEIROS AGROPECUÁRIOS DE EXPORTAÇÃO
FONTE: <https://www.infoenem.com.br/wp-content/uploads/2017/07/dados_agropec.jpg>. 
Acesso em: 13 fev. 2019.
A agropecuária e o extrativismo não são tratados com tanta relevância, um 
equívoco que deve ser reparado, já que este setor apresenta grande representatividade no 
volume de exportações brasileiras e corresponde em torno de 8% do PIB (Produto Interno 
Bruto). A produção agrícola no Brasil teve início com a cultura da cana-de-açúcar pelos 
portugueses durante o período colonial, que foi seguida pelo cultivo do café, principalmente 
nos séculos XIX e XX e posteriormente pela pecuária bovina.
 Atualmente, a cultura mais representativa do país é a da soja, principalmente na 
região Centro-Oeste. Destinada à exportação, ela representa 9% da balança comercial. A 
cana-de-açúcar, o café e a pecuária bovina ainda possuem importância na agropecuária 
nacional e, além destes, também podemos encontrar produções de milho, laranja, trigo, 
fumo, arroz, feijão, cacau e algodão. 
FONTE: https://www.infoenem.com.br/geografia-no-enem-um-panorama-da-
agropecuaria-brasileira/. Acesso em: 13 fev. 2019.
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FIGURA 23 – COLHEITA DE CANA-DE-AÇÚCAR MECANIZADA
FONTE: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/
Colheita+mecanizada+sem+despontador_000fk6rupcd02wyiv80sq98yqsxy7xf9.JPG>. Acesso 
em: 13 fev. 2019.
Os estados que mais se destacam na agropecuária no Brasil desde as 
primeiras décadas da segunda metade do século XX são os estados de São Paulo, 
Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro, Paraná, 
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, porém, existe um crescimento na produção 
rumo ao norte do país. O setor também está se tornando cada vez mais dependente 
da tecnologia a qual gera melhorias nas máquinas, nos defensivos, nas sementes e 
nos fertilizantes, de modo a ampliar a produção e aperfeiçoar os produtos.
“Assim, apesar de variações locais pouco significativas, o nível de concentração 
da estrutura fundiária manteve-se elevado em todo o espaço agropecuário. Mesmo tendo 
sido reduzida a área total dos estabelecimentos, estes intensificaram suas produções. 
Apesar de a intensificação produtiva ter caracterizado o período,

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