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Indaial – 2019
GeoGrafia rural
Prof. Anselmo das Neves Bueno
Prof. Carlos Odilon da Costa
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Anselmo das Neves Bueno
Prof. Carlos Odilon da Costa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
B928g
 Bueno, Anselmo das Neves
 Geografia rural. / Anselmo das Neves Bueno; Carlos Odilon da 
Costa. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 229 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0399-7
1. Geografia rural. - Brasil. I. Costa, Carlos Odilon da. II. Centro 
Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 910.091734
III
apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Geografia Rural. 
A partir do estudo deste livro, você conhecerá os conceitos fundamentais 
da Geografia Rural e entenderá as relações desta disciplina com os espaços 
agrários em nosso país e no mundo, bem como entenderá como os princípios 
humanos podem ser aplicados no gerenciamento de recursos naturais. 
Você perceberá que o desenvolvimento da sociedade implica a extração de 
produtos da natureza e, consequentemente, na sua transformação.
Desta forma, ficará mais claro por que a degradação do meio ambiente, 
em prol do desenvolvimento, tem sido alvo de análise e importantes debates. 
Você entenderá que as consequências da degradação ambiental apresentam 
efeitos negativos também para o desenvolvimento humano, suas atividades 
econômicas e para a própria sociedade, decorrentes, entre outros fatores, da 
expansão urbana, avanço da agropecuária sobre os biomas, assim como da 
geração de energia e seus efeitos.
Compreenderá que as atividades econômicas realizadas nos espaços 
agrícolas vão muito além apenas da produção de alimentos e sua distribuição, 
pois são questões históricas de formas de ocupação e modelos de exploração 
que podem desenvolver um território ou explorá-lo de maneira negativa, 
aumentando a desigualdade social, a miséria e intensificando os problemas 
ambientais como um todo, ocasionando um prejuízo generalizado para todos 
que habitam este planeta.
No que se refere à dinâmica demográfica e à relação sociedade/ 
natureza, você verá que existe uma versão mais moderna que reconhece 
a existência de outros fatores na equação população/meio-ambiente/
desenvolvimento/atividades econômicas. A pressão demográfica, neste 
caso, não entraria como determinante dos problemas ambientais, como um 
agravante. 
Através dos gêneros de vida e do complexo geográfico, a Geografia 
Rural desenvolveu várias preocupações e linhas de análises e investigações, 
principalmente a dos tipos de agricultura. Dessa forma, o campo de estudo 
da Geografia Rural ou agrária é o estudo da atividade espacial agrícola e 
pecuária, que são alguns entre os diversos sistemas socioeconômicos na 
atualidade.
 O ponto de vista do geógrafo agrário é o espacial e é dirigido 
particularmente para o arranjo e distribuição dos padrões de atividade 
agropecuária, bem como para seus processos geradores, cuja dinâmica 
procura analisar e compreender a dimensão espaço-tempo. 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
Finalmente, podemos dizer que a Geografia Rural procura 
principalmente contribuir para o planejamento e desenvolvimento da 
agricultura ou das atividades agrárias, mas em termos de bem-estar social 
e econômico das comunidades rurais e de todos os atores envolvidos nessa 
atividade socioeconômica.
Boa leitura e bons estudos!
Prof. Anselmo das Neves Bueno
NOTA
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.
Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – GEOGRAFIA RURAL ....................................................................................................1
TÓPICO 1 – ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL ..........................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL ..............................................5
2.1 O ESPAÇO RURAL: ASPECTOS CONCEITUAIS E TEÓRICOS ...............................................7
2.2 DIFERENTES FORMAS DE CLASSIFICAR O ESPAÇO RURAL ..............................................8
2.3 O ESPAÇO RURAL E A QUESTÃO DO USO DA ÁGUA ........................................................13
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................19
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................20
TÓPICO 2 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO ..........................23
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................23
2 ESPAÇO RURAL NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO ................................................................24
2.1 A FÁBULA DOS CICLOS ECONÔMICOS ..................................................................................26
2.1.1 Espaço rural no Brasil República e início do século XX ....................................................27
2.2 ESPAÇO RURAL BRASILEIRO NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO ..................................30
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................41
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................42
TÓPICO 3 – A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS 
CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL ..............................................................45
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................45
2 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMONO MUNDO ......................................................46
2.1 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMO NO BRASIL ......................................................52
2.2 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL – SÉCULO XXI ...............................................................55
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................62
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................63
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................64
UNIDADE 2 – ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE .....................................................................67
TÓPICO 1 – NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE .....................................69
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................69
2 PRINCIPAIS CONCEITOS E TEMAS DA NOVA RURALIDADE ............................................69
2.1 RURALIDADE CAMPO E CIDADE .............................................................................................76
2.2 DESAFIOS E POSSIBILIDADES FRENTE A NOVA RURALIDADE ......................................78
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................82
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................84
TÓPICO 2 – OS PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E 
FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL ...............87
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................87
sumário
VIII
2 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO 
COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO MUNDO .....................................................................87
2.1 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL .......................93
2.2 FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL ....................................99
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................105
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................107
TÓPICO 3 – OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A 
 SUSTENTABILIDADE ............................................................................................................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (GLOBAL) ..................................................109
2.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (AMÉRICA LATINA) ..............................114
2.2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS MECANIZADOS (BRASIL)....................117
2.2.1 Sistema Agrícola de Base Familiar .....................................................................................118
2.2.2 Sistema Plantio Direto (SPD) ...............................................................................................119
2.2.3 Agroecologia ..........................................................................................................................121
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................125
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................127
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129
UNIDADE 3 – ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO .................................................131
TÓPICO 1 – INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO 
RURAL ..............................................................................................................................133
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133
2 POLÍTICAS PÚBLICAS, INSTITUIÇÕES E DESENVOLVIMENTO RURAL ......................134
2.1 O ESPAÇO RURAL E A PRODUÇÃO ALIMENTAR ..............................................................138
2.2 AGRO TURISMO E O TURISMO RURAL .................................................................................141
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................147
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................148
TÓPICO 2 – MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL ...................................................149
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149
2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL MUNDIAL ..................................................152
2.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL LATINO AMERICANO ...........................154
2.2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO .............................................157
2.2.1 Movimento dos Sem Terra ..................................................................................................161
2.2.2 Marcha das Margaridas .......................................................................................................163
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................167
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................169
TÓPICO 3 – ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA .........................171
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171
2 ENSINO DE GEOGRAFIA E ESPAÇO RURAL ...........................................................................176
2.1 BNCC GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NO ESPAÇO RURAL ...........................180
2.2 ENSINO GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO FUNDAMENTAL .........................................184
3 ENSINO DE GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO MÉDIO .......................................................189
3.1 EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DO ENSINO MÉDIO ...............................................................191
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................194
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................201
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................202
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................205
1
UNIDADE 1
GEOGRAFIA RURAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer os conceitos pertinentes ao tema: questão agrária, questão agrí-
cola, uso e a exploração da terra no Brasil e no mundo;
• compreender as abordagens teóricas e históricas referentes à reprodução 
do camponês e do latifundiário e suas relações com o capitalismo;
• saber as bases teóricas que consolidaram o capitalismo, como sistema he-
gemônico, no tocante à agricultura;
• entender o funcionamento do capitalismoe sua relação com a produção 
do capital;
• compreender como se deu o desenvolvimento do Espaço Rural durante a 
evolução do Sistema Capitalista Financeiro e Informacional;
• entender as diferenças na relação capitalista entre os países periféricos e 
os países centrais no que se refere à agricultura;
• conhecer as origens da concentração fundiária brasileira, suas causas e 
consequências; 
• compreender que a estrutura agrária de um território (país, estado, municí-
pio) está diretamente relacionada à estrutura social, política e econômica.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você 
encontrará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados.
TÓPICO 1 – ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO 
RURAL
TÓPICO 2 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO 
TÓPICO 3 – A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO 
CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O 
ESPAÇO RURAL
Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em 
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO 
RURAL
1 INTRODUÇÃO
A formação histórica do meio rural brasileiro apresenta diferenças 
marcantes em relação à formação do meio rural europeu e norte-americano, ao 
mesmo tempo em que é muito parecido com o de outros países não desenvolvidos, 
principalmente com os da América Latina. Basta lembrar as funções específicas 
assumidas historicamente pelas cidades, a vinculação da grande agricultura de 
origem colonial do mercado externo e a possibilidade de deserção da população 
por um vasto território, para entender a particularidade brasileira no que se 
refere à constituição e composição das sociedades locais, à relação campo/cidade 
e às relações entre o que é “agricultura” e o que é “rural” (WANDERLEY, 1999).
FIGURA 1 – RURAL X URBANO
FONTE: <https://www.smartkids.com.br/content/articles/images/232/thumb/zona-urbana-zona-
rural.png>. Acesso em: 13 fev. 2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
4
No Brasil, o meio rural foi historicamente percebido como constituindo 
um “espaço diferenciado”, que corresponde a formas sociais distintas: as grandes 
propriedades rurais (fazendas e engenhos), os pequenos aglomerados (povoados) 
e padrões culturais específicos. Esses espaços, juntamente com as pequenas 
cidades do interior, tiveram um importante papel na história do povoamento 
brasileiro, como “pontos de apoio da civilização” (WANDERLEY, 1999, p. 18).
Contemporaneamente, as transformações introduzidas no meio rural 
brasileiro pelo processo de “modernização conservadora” da sociedade e da 
agricultura, iniciado depois da Segunda Guerra Mundial, levaram alguns autores 
a caracterizar esse período pela ocorrência de um “processo de urbanização do 
campo” (SILVA, 1997; CARNEIRO, 1998).
Como unidade político-administrativa, os municípios brasileiros têm 
origem no modelo da República Romana que os impôs às regiões conquistadas, 
como a Península Ibérica, de onde, naturalmente, chegou ao Brasil-Colônia 
(IBAM, 2001; CIGOLINI, 2000). 
De acordo com Guimarães (2006, p. 119), a evolução do espaço rural 
brasileiro: 
As condições naturais do território brasileiro favorecem o 
desenvolvimento de uma atividade agropecuária em larga escala. Com 
um relevo predominantemente plano, uma significativa diferenciação 
climática e sendo detentor das maiores reservas de água doce 
conhecidas, o Brasil se consolidou no mercado internacional como 
um dos grandes produtores de grãos, carnes e bioenergia do mundo 
contemporâneo. Essa trajetória da agropecuária nacional, embora 
tenha seu desenvolvimento ligado a condições naturais favoráveis, 
é, igualmente, indissociável dos condicionantes históricos, políticos, 
sociais e geográficos que traçaram o processo de construção do espaço 
rural brasileiro.
FIGURA 2 – ESPAÇO RURAL BRASILEIRO MODERNO
FONTE: <https://cursoenemgratuito.com.br/wp-content/uploads/2017/09/2.jpg>. Acesso em: 
17 fev.2019.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
5
Foi somente com a Constituição de 1824 que iniciou a verdadeira história 
dos municípios brasileiros, pois “até então o que havia entre nós era o município 
português, transportado para cá” (CIGOLINI, 2000, p. 34). Mas, no que se refere à 
regulamentação das funções municipais, verifica-se que ela ocorreu somente em 
1828, através de lei complementar que retirou a autonomia dos municípios. Com 
isso, os municípios brasileiros tiveram limitadas suas liberdades, atribuições 
e competências. Por outro lado, foi-lhes dada “margem para que se abrisse 
discussão em torno das suas disposições, originando o fantasma da autonomia que 
assombrou o período republicano” (CIGOLINI, 2000; BERNARDES; SANTOS; 
WALCACER, 1983).
Também surgiam vilas e cidades sem a prévia existência de freguesias. 
Tanto cidades quanto vilas podiam ser sedes de municípios. 
Tradicionalmente, no Brasil, a decisão sobre a criação de uma vila ou 
cidade ou sobre a elevação de um aglomerado pré-existente a esta ou 
àquela condição sempre emanou de uma disposição governamental, 
que não se prendia a qualquer requisito formal. A sede de uma 
freguesia, a primitiva unidade territorial brasileira, podia ser 
elevada arbitrariamente à vila ou diretamente à condição de cidade, 
na Colônia como no Império. Também ocorreram fundações, numa 
ou noutra categoria, não precedidas de freguesias, a instalação de 
ambas sendo simultânea. Salvador, Rio de Janeiro e Filipéia foram 
erigidas diretamente em cidades ainda no século XVI e, nos séculos 
subsequentes, outras assim seriam implantadas, como Belém e São 
Luiz, no norte, e Cabo Frio, no Rio de Janeiro, também fundadas 
no início do século XVII, e Petrópolis, já em meados do século XIX” 
(BERNARDES; SANTOS; WALCACER, 1993, p. 25). 
 
Importante lembrar que na Colônia a Coroa se reservava o direito de 
elevar as vilas à categoria de cidade. Mas também podiam criar vilas os donatários 
ou seus representantes, desde que as terras estivessem sob sua jurisdição, sendo 
os limites geográficos demarcados pelos limites das freguesias, sempre que se 
tratasse de espaço com ocupação consolidada. Até existiam regras para que 
cidades e vilas pudessem exercer suas diferentes funções, mas a decisão de criar 
ou elevar uma localidade à categoria de vila, ou cidade, não obedecia à norma 
alguma. Com a República, alguns governos estaduais tomaram iniciativas de 
uniformizar seus respectivos quadros territoriais, mas foi só com o Estado Novo 
que surgiram as diretrizes básicas nacionais de divisão territorial que continuam 
até hoje.
2 ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO 
RURAL
As relações entre campo/cidade e rural/urbano influenciam a agricultura, 
fundamentando o entendimento sobre a organização e configuração dos 
municípios do Brasil. Entretanto, essa realidade cogita a necessidade científica 
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
6
de uma análise teórica categórica direcionada por uma perspectiva crítica, 
considerando a complexidade e dinamicidade das informações, sugerindo novos 
caminhos, de modo radical, tal como considera Domingues (2011).
Dentro das escolas geográficas clássicas podemos citar a visão do 
determinismo geográfico de Friedrich Ratzel (séc. XIX) e o ambientalismo 
francês de Paul Vidal de La Blache (entre os séc. XIX e séc. XX), o que levou 
muitos estudiosos a desenvolverem dentro do campo da geografia humana e 
econômica a importância das atividades agrárias nos espaços rurais, assim como 
a importância da produção industrial crescente dentro desses períodos após a 
primeira e segunda revolução industrial. A demanda e a necessidade de matéria-
prima, oriunda do campo e a transformação das indústrias nas cidades, assim 
como a crescente circulação de capital das atividades terciárias do comércio e 
das prestações de serviços, criou uma verdadeira simbiose sistêmica das relações 
econômicas, interligando cada vez mais as atividades econômicas entrecampo e 
cidade. 
O geógrafo deve estudar o espaço geográfico considerando as relações 
entre as causas e consequências no tempo e espaço. Para tanto, é preciso analisar 
diferentes abordagens sobre a temática e suas diferentes definições da Geografia 
Rural, como este livro demonstra. Precisamos analisar estes espaços de uma 
forma crítica, porém, nunca de maneira isolada. A Ciência Geográfica não trata 
ou aborda os estudos de seus espaços de maneira isolada, mas sempre interliga os 
espaços físicos e naturais com os aspectos humanos, pois a Ciência Geográfica é a 
amplitude da discussão das transformações e caracterizações dos espaços.
FIGURA 3 – UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO RURAL
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/66077/>. Acesso em: 29 jan. 2019.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
7
2.1 O ESPAÇO RURAL: ASPECTOS CONCEITUAIS E 
TEÓRICOS
Em específico, destacamos a contribuição da análise para o planejamento 
e o ensino de geografia rural. Logo, a pesquisa se constitui numa reflexão 
conceitual que se estruturou por meio de distintos referenciais teóricos acerca 
do rural brasileiro e a sua relação com o urbano, bem como discute e apresenta 
formas diferenciadas de ensino da disciplina no que tange à relação rural/
urbano e campo/cidade. Para entendermos o espaço rural, precisamos entender 
principalmente as relações financeiras que envolvem as atividades econômicas, 
as atividades produtivas, desde a produção de matéria prima – oriunda do campo 
e dos espaços agrários – até as atividades de transformação das indústrias e da 
prestação de serviços e comércio como um todo, fazendo com que essa relação 
sistêmica seja uma ideia de compreensão entre todos os atores envolvidos na 
construção destes espaços geográficos e dos territórios neles envolvidos. 
A partir da discussão, fica evidente a justificativa que indica a relevância 
do desenvolvimento do conhecimento científico, particularmente para o da 
fragmentação geográfica sobre o espaço agrário. Baseado nesse princípio de 
fragmentação do espaço geográfico entre rural e urbano, por exemplo, podemos 
levantar o seguinte questionamento sobre a análise da fragmentação desses 
espaços. Veja a figura a seguir para observar a fragmentação e a caracterização 
destas áreas:
FIGURA 4 – AS DIFERENÇAS ENTRE O URBANO E O RURAL.
FONTE: <http://webquestfacil.com.br/pastas/12774/campo-cidade.jpg>. Acesso em: 29 jan. 
2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
8
Para Abramovay (2000), o meio rural caracteriza-se por sua imensa 
diversidade. Estabelecer tipologias capazes de captar uma grande diversidade 
é uma das missões mais importantes das pesquisas contemporâneas voltadas 
para a dimensão espacial do desenvolvimento. As diferentes paisagens, dos 
meios rurais e urbanos, cada vez mais desenvolvem a hinterlândia de suas 
atividades realizadas, não apenas a agricultura e a indústria, mas todo o processo 
produtivo entre as suas relações nos territórios envolvidos busca a prática do 
desenvolvimento regional entre esses espaços.
Abramovay (2000) aborda que o peso da agricultura entre nós é e será, por 
um bom tempo, mais importante do que nos países desenvolvidos. Mas é óbvio 
também que o desenvolvimento rural não pode ser confundido com o crescimento 
da agricultura. O desafio (científico e político) está em descobrir as fontes e as 
oportunidades de diversificação do tecido social, econômico e cultural das 
regiões rurais e não em apostar todas as fichas num setor só, por mais promissor 
que seja. A diversificação do mundo rural traz consigo, inevitavelmente, aquilo 
que o sociólogo alemão Max Weber chamou de desencantamento do mundo, 
num processo acelerado de racionalização das relações humanas. 
O rural não é definido pelo setor agrícola, mas isso não o torna uma 
espécie de mundo mágico existente à margem do conjunto da sociedade 
e da racionalidade econômica. Seu processo de racionalização coloca-o 
diante de oportunidades inéditas de afirmação social, cultural e 
política. Que o livro de Favareto ajuda a descobrir (ABROMAVAY, 
2007). 
2.2 DIFERENTES FORMAS DE CLASSIFICAR O ESPAÇO 
RURAL
O que define o espaço rural hoje? Antes de começar a responder a esta 
pergunta, é necessário deixar claro que diferentemente do que ocorre nos espaços 
urbanos em todo o planeta, onde há muitas similaridades nas formas e fenômenos 
que esses espaços abrigam, existem realidades rurais das mais distintas no mundo. 
Contudo, nos limitaremos a abordar algumas particularidades entre o rural 
europeu e o de países subdesenvolvidos. Respeitar a premissa das desigualdades 
entre os espaços rurais de países ricos e pobres é condição necessária para 
compreender melhor o tema, para não cair na tentação das generalizações que na 
maioria das vezes compromete a análise dos problemas. 
O conceito de territórios assimétricos ajuda na tarefa de investigação 
proposta para entendermos os conceitos destes espaços. Para González e Dasí 
(2007), ao se estudar os territórios rurais, o pesquisador se depara com uma 
dificuldade de análise, que consiste nas distintas formas de processos que ocorrem 
no espaço rural de países ricos e de países pobres, tendo em vista que a função do 
espaço rural nos primeiros, vai para além da produção de alimentos, enquanto 
nos países pobres a função do rural é, essencialmente, a produção alimentar.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
9
FIGURA 5 – ESPAÇOS AGRÍCOLAS NOS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS
FONTE: <https://journals.openedition.org/confins/docannexe/file/8639/1460_pobreza_rural_
accroche_pi_acaua_maison_paysanne-small480.jpg>. Acesso em: 25 jan. 2019.
Portanto, o rural e o agrário teriam deixado de ser sinônimos há muito 
tempo nos países desenvolvidos, por outro lado, nos subdesenvolvidos, os termos 
rural e agrário continuam sendo considerados sinônimos. 
FONTE: <http://clebinho.pro.br/wp/wp-content/uploads/2015/09/paulo-soja-100.jpg>. Acesso 
em: 25 jan. 2019.
FIGURA 6 – ESPAÇOS AGRÍCOLAS PAÍSES DESENVOLVIDOS
Nos países ricos da Europa observa-se uma inflexão/inversão de fluxo 
populacional – exceto da população jovem –, ou seja, um êxodo urbano rumo aos 
espaços rurais. Esse processo se deve à emergência de um renascimento rural ou 
uma nova ruralidade. A causa para essa inflexão seria uma percepção positiva 
do rural, em meio ao despertar ecológico no presente século, motivada pelas más 
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
10
condições de vida enfrentadas nas cidades grandes. Uma representação espacial 
que obtém mais sucesso a cada dia, pois sugere uma alternativa de vida saudável, 
próspera, tranquila e que tem trazido mudanças significativas no imaginário do 
rural dos países ricos. O movimento migratório gera mudanças nesse “novo 
rural” – europeu –, como a criação de atividades não agrícolas no espaço rural. 
Tais demandas são possibilitadas pelas tecnologias de comunicação e por uma 
boa infraestrutura (estradas, ferrovias, telefonia etc.). 
Na Europa, este “novo rural” passa a ser o território das classes médias, 
como afirmam os autores. Essas classes médias não priorizam a produção de 
alimentos, mas procuram lugares amenos e belos, em que possam manter contato 
com a natureza e a qualidade dos alimentos. Somado a isso, há um reforço do 
sentimento de pertencimento (identificação) ao lugar. Realidade bem diferente é 
encontrada no rural dos países pobres, em que a pobreza continua concentrada 
nesse espaço. Resultado de um processo histórico de colonização e exploração – 
saque – dos recursos desses países (GONZÁLEZ; DASÍ, 2007).
FIGURA 7 – POLÍTICA AGRÁRIA EUROPEIA, O NOVO RURAL
FONTE: <http://ec.europa.eu/agriculture/cap-for-our-roots/index_pt.htm>. Acesso em: 25 jan. 2019.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
11
Há, portanto, uma continuidade destas desigualdades entre ricos e pobres, 
possibilitada por um desenvolvimento desigual e combinado que promove 
a transferência das riquezas naturais dos últimos aos primeiros e num mundo 
em globalização,essa transferência se dá, sobretudo, através da negociação de 
commodities nas principais bolsas de valores do planeta. 
Cabe aqui abrir um parêntesis para citar o paradoxo enfrentado pelos 
países pobres e exportadores de alimentos, este que consiste na dificuldade 
de acesso aos mesmos alimentos que produzem, pois, significativa parte da 
população desses países não possui dinheiro suficiente para adquiri-los. Em 
resumo, a insegurança alimentar é a marca desses países. 
E cada vez mais estas práticas de produção de alimentos e o medo da 
escassez de recursos naturais traz um alerta para todos os territórios do planeta 
sobre como as futuras gerações sobreviverão e se sustentarão com a disputa por 
alimentos/nutrição de qualidade. Essa discussão abre o debate de como a produção 
de alimentos é diferente da distribuição e que resulta em fome, desnutrição e 
desigualdade entre todos os habitantes do planeta, em uma necessidade tão 
simples e cada vez mais difícil de combater que é o simples ato de alimentar-se 
dignamente.
A acumulação de capital promove a coerência imposta a processos, lógicas 
e dinâmicas muito diversas e variadas entre os espaços territoriais envolvidos. 
O processo de articulação, abertura e integração dos mercados recondiciona 
as economias aderentes, forçando-as à convergência e à reacomodação de suas 
estruturas. Quando se acelera o processo interativo, acirra-se a concorrência inter 
e intraterritorial, por exemplo, como os espaços rurais e urbanos.
 Os mercados localizados passam a ser expostos à pluralidade das formas 
superiores de capitais estrangeiros. Na esteira da incorporação, multiplicam-
se as interdependências e as complementaridades regionais, que podem 
acarretar o aumento tanto das potencialidades quanto de suas vulnerabilidades. 
Metamorfoseia-se a densidade econômica de pontos seletivos no espaço: sua 
capacidade diferencial de multiplicação, de reprodução e de geração de valor 
e riqueza; sua capacidade de articulação inter-regional; o grau e a natureza das 
vinculações e a densidade dos circuitos “produtivos”. 
Mudam e diversificam-se os fluxos, o movimento de seus eixos de 
circulação e seu potencial produtivo, a estrutura sócio-ocupacional de seus 
habitantes e etc. As conexões e desconexões são muitas vezes rápidas e facilitadas 
por diversos mecanismos. Diferenciam-se, ainda mais, as manifestações 
territoriais dos processos de produção, de consumo, de distribuição, de troca 
(circulação), que são, por natureza, marcadamente diversificadas espacialmente. 
As temporalidades dos diversos espaços, crescentemente integrados, abreviam o 
curso de vários processos históricos. Os espaços, tornados conexos, amplificam e 
adensam seus fluxos.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
12
Considerando David Harvey como o maior expoente desta vertente 
investigatória que procura pesquisar o desenvolvimento geográfico desigual dos 
espaços geográficos aqui estudados, “[...] o campo e o meio urbano ocultam um 
verdadeiro fermento de oposição, porém, se interligam dentro de suas atividades 
humanas neles envolvidos” (HARVEY, 2000, p. 102). A citação a seguir resume 
grande parte desta agenda: o estudo das contraposições, paradoxos e contradições 
entre, de um lado, a capacidade crescente que o capital tem para se apropriar e 
extrair excedentes (rendas diferenciais monopolistas) das diferenças locais, das 
variações culturais locais etc. (Harvey, 2000), de outro, das amplas possibilidades 
de construção dos “espaços da esperança”. Para esse autor, 
A busca por essa renda leva o capital global a avaliar iniciativas 
locais distintivas. Também leva à avaliação da singularidade, da 
autenticidade, da particularidade, da originalidade, e de todos os 
outros tipos de outras dimensões da vida social incompatíveis com 
a homogeneidade pressuposta pela produção de mercadorias. Para o 
capital não destruir totalmente a singularidade, base da apropriação 
das rendas monopolistas, deverá apoiar formas de diferenciação, 
assim como deverá permitir o desenvolvimento cultural local 
divergente e, em algum grau, incontrolável, que possa ser antagônico 
ao seu próprio e suave funcionamento. É em tais espaços que todos 
os tipos de movimentos oposicionistas devem se organizar [...]. O 
problema para o capital é achar os meios de cooptar, subordinar, 
mercadorizar e monetizar tais diferenças apenas o suficiente para ser 
capaz de se apropriar das rendas monopolistas disto. O problema 
dos movimentos oposicionistas é usar a validação da particularidade, 
singularidade, autenticidade e significados culturais e estéticos de 
maneira a abrir novas possibilidades e alternativas [...] construindo, 
de modo ativo, novas formas culturais e novas definições de 
autenticidade, originalidade e tradição [...]. Ao procurarem explorar 
valores de autenticidade, localidade, história, cultura, memórias 
coletivas e tradição, abrem espaço para a reflexão e a ação política, 
nas quais alternativas podem ser tanto planejadas como perseguidas 
(HARVEY, 2005, p. 238).
Muitas formulações analíticas atuais sobre território estão exaltando em 
demasia (muitas vezes banalizando) as potencialidades e a capacidade endógena 
de uma única escala espacial (geralmente a menor) como inerentemente a melhor 
para a promoção do desenvolvimento. 
É certo que no âmbito local muitas ações importantes podem ser 
articuladas, por exemplo, as escalas dos espaços rurais na nova economia global 
e na sua maneira de produção, que pode ser empregada em pequenas áreas do 
espaço, com muita tecnologia e recursos financeiros, como ocorre nos países 
desenvolvidos. Desse modo, transforma os territórios devolutos em espaços 
transformadores e produtivos, assim como nos países subdesenvolvidos em 
que esses mesmos espaços, até mesmo com capacidade de maior produção 
agrícola e pecuária com menor produção. Esses mesmos espaços e territórios 
envolvidos acabam sendo mal aproveitados e ociosos, por não terem um olhar de 
desenvolvimento regional, focados no crescimento de seus territórios junto com 
seus atores envolvidos (BRANDÃO, 2004). 
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
13
FIGURA 8 – ESPAÇOS RURAIS EM PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS
FONTE: <http://jodama201.pbworks.com/f/1302001532/agricultura-familiar-1.jpg>. Acesso em: 
29 jan. 2019.
2.3 O ESPAÇO RURAL E A QUESTÃO DO USO DA ÁGUA
 Cada vez mais o espaço rural requer políticas produtivas com as práticas 
ambientais de sustentabilidade para o desenvolvimento, uma prática não pode 
mais ser separada da outra, não há como fi rmar o desenvolvimento extrativista, 
agrícola e da pecuária sem buscar nas ciências ambientais a teoria e prática 
para o crescimento econômico. O espaço rural não sobreviverá muito tempo se 
continuarmos a adotar políticas predatórias, de interesses mínimos das parcelas 
das populações, sem evitar um colapso econômico. É preciso intensifi car as 
relações sistêmicas de todos os espaços envolvidos e espécies de seres vivos, não 
apenas o ser humano, mas toda a cadeia da vida planetária, para que possamos 
garantir para as futuras gerações a possibilidade de existir em nosso meio 
ambiente e continuar a produzir alimentos sem que a desigualdade, nas formas 
de distribuição, agrave a sobrevivência de todas as espécies na Terra. 
FIGURA 9 – USO DA ÁGUA NAS ATIVIDADES ECONÔMICAS MUNDIAIS
FONTE: Adaptado de Water for People, Water for Life, UNESCO, 2003
Considerado o grande mentor da ciência econômica moderna, Adam 
Smith, escreveu em 1776, uma obra que explica como as nações fi cam ricas e 
que “O marco mais decisivo da prosperidade de qualquer país é o aumento no 
número de seus habitantes” (SMITH, 1983, p. 56). 
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
14
Alves (2014, p. 220) aponta que: “Esta visão positiva do crescimento 
populacional fez parte do pensamento político à luz do iluminismo e da 
economia clássica. Pensadores como o marquês de Condorcet e William Godwin 
– precursores do pensamento demográfico – tinham uma visão favorável do 
crescimentoeconômico e populacional”. 
FIGURA 10 – MAU USO DA TERRA NAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS
FONTE: <https://farm1.staticflickr.com/529/32780880885_562c1beb4b_z.jpg>. Acesso em: 28 
jan. 2019.
Neste sentido, Alves (2014, p. 224) constata que:
O século XX apresentou o maior crescimento demográfico de toda 
a história da humanidade, com a população mundial aumentando 
quase quatro vezes (de cerca de 1,6 bilhão de habitantes em 1900 para 
6 bilhões em 2000). Mas a taxa de fecundidade total (TFT), que estava 
em torno de 5 filhos por mulher em meados do século, começou a 
cair a partir de 1965 e chegou a 2,53 filhos na virada do milênio. Desta 
forma, o ritmo de crescimento demográfico vai diminuir no século 
XXI, embora deva continuar positivo, pois existe uma certa estagnação 
da transição da fecundidade. A queda da fecundidade mundial foi 
de 31,5% nos 20 anos anteriores à CIPD de 1994 e de 18% nos 20 
anos posteriores. A Divisão de População da ONU, na revisão 2012, 
estima uma TFT global de 2,24 filhos por mulher, no quinquênio 2045-
50, e de 2,0 filhos por mulher, no quinquênio 2095-2100. Portanto, a 
estabilização da população mundial só seria alcançada, caso seja, no 
início do século XXII.
 Desta forma, parece intempestiva a afirmação de Camarano (2013, p. 606) 
ao assinalar a ideia de que “mesmo que a fecundidade aumente em um futuro 
próximo, é improvável que o declínio populacional seja abortado”.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
15
Ao contrário, a projeção média da ONU estima uma população mundial de 
10,9 bilhões de habitantes em 2100, um acréscimo de 4,8 bilhões de habitantes no 
século XXI, quantidade superior, em termos absolutos, aos 4,5 bilhões do século 
XX. Boa parte do atual crescimento populacional é inercial e seria equivocado 
reforçar os argumentos dos alarmistas da superpopulação. 
Contudo, colocar em pauta a iminência do declínio da população mundial 
como se fosse uma ameaça de colapso da espécie humana, ignora o verdadeiro 
perigo que é o círculo infernal que se abate sobre milhares de outras espécies 
que estão sendo extintas e os ecossistemas que estão sendo desconfigurados. 
Dizer que a redução da população prejudicará o crescimento econômico é 
desconsiderar que, do ponto de vista mais amplo da sobrevivência da vida no 
Planeta, o desenvolvimento tem se tornado o problema central.
O Living Planet Report (WWF, 2012) mostra que a pegada ecológica da 
população mundial já superava em 50% a biocapacidade do Planeta, em 2008. 
Ou dito de outra forma, a humanidade estava gastando em um ano o que a 
capacidade regenerativa da natureza consegue repor em um ano e meio. 
Outra metodologia que indica que as atividades antrópicas estão 
ultrapassando os limites da Terra é conhecida como Fronteiras Planetárias. Johan 
Rockström, da Universidade de Estocolmo e colegas (ROCKSTRÖM et al., 2009) 
identificaram nove dimensões centrais para a manutenção de condições de vida 
decentes para as sociedades humanas e o meio ambiente: mudanças climáticas; 
perda de biodiversidade; uso global de água doce; acidificação dos oceanos; 
mudança no uso da terra; depleção da camada de ozônio estratosférico; ciclo do 
nitrogênio e fósforo; concentração de aerossóis atmosféricos; e poluição química. 
FIGURA 11 – PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO E ARENIZAÇÃO
FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_legenda/
cb831aa5211af0d95855675c6192936d.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
16
Por exemplo, em 2013, a concentração de CO2 na atmosfera ultrapassou 
400 partes por milhão (ppm), bem acima das 280 ppm da era pré-industrial. O 
limiar de segurança é de 350 ppm. Está em xeque o modelo que traz muitos 
benefícios para poucos, poucos benefícios para muitos e nenhum benefício para 
a natureza e a biodiversidade. Porém, o crescimento econômico tem sido uma 
aspiração não só das forças capitalistas, mas também dos trabalhadores e dos 
governos. 
Para o mundo corporativo, isto certamente representa bilhões de novos 
consumidores ávidos por casas, carros e aparelhos de TV (CEBDS, 2009). Neste 
sentido, não há como discordar quando Ana Amélia diz: “Acredita-se que nenhum 
país deseje o declínio populacional, pois isto tem implicações de várias ordens. 
A primeira é a perda de poder econômico e geopolítico em relação a países onde 
a população ainda cresce” (CAMARANO, 2013, p. 606). Mas a autora parece cair 
em contradição ao considerar que a população não é um problema quando há 
crescimento, mas se torna um problema quando há decrescimento. Realmente, o 
declínio da população e da economia é um anátema do capitalismo. O desejo de 
acumulação de riqueza pessoal e nacional, os interesses geoestratégicos do poder 
político e as diversas forças pró-natalistas do mundo somam-se para manter por 
mais tempo possível o processo de ampliação do desenvolvimento econômico.
A Escola da Economia Ecológica há muito tempo argumenta que “A 
economia é um subsistema do ecossistema e o ecossistema é finito, não cresce e é 
materialmente fechado”, como afirmou Herman Daly, que também considera que 
o desenvolvimento atual tem gerado um “crescimento deseconômico”, com os 
custos sendo maiores do que os benefícios. Ele completa: “Precisamos decrescer 
até chegar a uma escala sustentável que, então, procuramos manter num estado 
estacionário. O decrescimento, assim como o crescimento, não pode ser um 
processo permanente” (IHU, 2011). Sem dúvida, tem aumentado o número de 
pessoas que consideram o desenvolvimento o principal vetor de destruição das 
fontes naturais da vida e da biodiversidade (ALVES, 2014, p. 219).
O capitalismo não consegue ser ao mesmo tempo socialmente inclusivo, 
justo e ambientalmente sustentável. Por conta disso, alguns autores falam em 
desenvolvimento sem crescimento, enquanto outros defendem a ideia do 
decrescimento (LATOUCHE, 2009; DEMARIA et al., 2013; MEDIAVILLA, 2013; 
ALVES, 2014b). Pouco antes da Rio+20, em 2012, a revista Estudos Avançados 
da USP publicou um número com diversos artigos tratando dos limites do 
crescimento econômico e a possibilidade do crescimento sustentável.
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL
17
FIGURA 12 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS
FONTE: <https://abrilexame.files.wordpress.com/2016/09/size_960_16_9_mudancas-
climaticas3.jpg?quality=70&strip=info&w=920>. Acesso em: 28 jan. 2019.
O mau uso da água para a agropecuária por exemplo, pode ser uma 
amostra de como lidamos com o uso dos recursos naturais de uma forma, que 
sejam em nossa concepção, infinita, porém, não nos damos conta de que esses 
recursos são finitos e que seu mau uso pode desencadear o aumento da fome, das 
desigualdades sociais e mudanças climáticas cada vez mais catastróficas, em todo 
o planeta. A agricultura e a pecuária são as atividades humanas que mais usam 
por exemplo, o recurso hídrico desde o plantio e em toda a cadeia de produção. 
Até chegar à mesa de toda a população, milhões e milhões de metros cúbicos de 
água são necessários para produzir uma parcela mínima de alimentos. Se não 
usarmos esse recurso de maneira mais sustentável e com a consciência de que irá 
terminar, adiantaremos cada vez mais o colapso socioeconômico do planeta.
FIGURA 13 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS
FONTE: <http://twixar.me/J01T> Acesso em: 27 jan. 2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
18
A poluição dos rios, que espalha as toxinas de cianobactérias, diminui 
a disponibilidade de água doce e provoca a mortandade de peixes e da vida 
aquática. Lagos, como o mar de Aral, estão diminuindo ou secando para atender 
aos interesses da irrigação a fim de alimentar uma população crescente. Aumenta 
a taxa de extinção de espécies e a degradação dos ecossistemas, com redução da 
vida selvagem. As áreas produtivas diminuem, enquanto crescem os aterros de 
descarte antrópico. 
FIGURA 14 – REDUÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
FONTE: <https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2016/03/cantareira-e1458674694213.jpg>. Acesso em: 27 jan. 2019.
Três em cada quatro empregos do mundo são fortes ou moderadamente 
dependentes de água, segundo a estimativa do Relatório das Nações Unidas 
(UNESCO WWAP). Consequentemente, a escassez e os problemas de acesso à 
água e ao saneamento podem limitar o crescimento econômico e a criação de 
empregos no mundo nas próximas décadas, de acordo com o documento, que 
cita também a falta de investimentos em infraestrutura e os altos índices de 
vazamentos nos sistemas hídricos das cidades e dos espaços rurais globais, 
inclusive de países desenvolvidos.
Diante da possibilidade de um colapso ambiental, as atividades humanas 
deveriam ser direcionadas para a recuperação ecológica e não para a acumulação 
da riqueza ostentatória em benefício de uma minoritária elite populacional.
Precisamos compreender que a produção do espaço rural e o cuidado 
com o meio ambiente devem andar de mãos dadas. O rural não é definido pelo 
setor agrícola e não o torna uma espécie de mundo mágico existente à margem 
do conjunto da sociedade e da racionalidade econômica. Seu processo de 
racionalização coloca-o diante de oportunidades inéditas de afirmação social, 
cultural e política.
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/water_drives_job_creation_and_economic_growth_says_new_un_report-1/#.VvF-peIrJph
19
Neste tópico, você aprendeu que:
• A formação e caracterização do Espaço Rural Brasileiro e mundial e o processo 
histórico de formação destes territórios apresenta transformação contínua com 
o uso das novas tecnologias adotadas no sistema de produção agrícola.
• Há diferentes formas de classificar o espaço rural brasileiro, partindo pelas 
diferentes áreas e regiões do Brasil, assim como suas vocações e aptidões para 
o agronegócio.
• Precisamos ter um olhar para o desenvolvimento regional, porém com respeito 
ao meio ambiente e foco em políticas agrárias que tragam o crescimento 
econômico, mas com a consciência sustentável ambiental.
RESUMO DO TÓPICO 1
20
1 As condições naturais do território brasileiro favorecem o desenvolvimento 
de uma atividade agropecuária em larga escala. Com um relevo 
predominantemente plano, uma significativa diferenciação climática e 
sendo detentor das maiores reservas de água doce conhecidas, o Brasil se 
consolidou no mercado internacional como um dos grandes produtores de 
grãos, carnes e bioenergia do mundo contemporâneo. Como a extensão do 
território brasileiro contribuiu e ainda contribui para que as atividades rurais 
econômicas continuem a se expandir e cada vez mais tornam-se importantes 
na economia de nosso país?
2 As relações entre campo/cidade e rural/urbano influenciam a agricultura, 
fundamentando o entendimento sobre a organização e configuração 
dos municípios do Brasil. Entretanto, essa realidade cogita a necessidade 
científica de uma análise teórica categórica direcionada por uma perspectiva 
crítica, considerando a complexidade e dinamicidade das informações. 
De que maneira podemos observar o aumento das relações das atividades 
econômicas no campo, com a migração dos trabalhadores para os centros 
urbanos, chamado no século XX de êxodo rural?
3 É preciso intensificar as relações sistêmicas de todos os espaços envolvidos e 
espécies de seres vivos, não apenas o ser humano, mas toda a cadeia da vida 
planetária, para que possamos garantir para futuras gerações a possibilidade 
de existir em nosso meio ambiente, e continuar a produzir alimentos sem 
que a desigualdade, nas formas de distribuição, agrave a sobrevivência de 
todas as espécies na Terra. 
Uma das preocupações que envolvem o meio ambiente e a produção agrícola é 
o uso da água de maneira predatória e inconsciente pelas populações mundiais 
e pelos governos. 
De acordo com o exposto, podemos afirmar que:
I- Cada vez mais o espaço rural requer a necessidade das políticas produtivas 
com as práticas ambientais de sustentabilidade para o desenvolvimento, 
uma prática não pode mais ser separada da outra.
II- O espaço rural não sobreviverá muito tempo se continuarmos a adotar 
políticas predatórias, de interesses mínimos das parcelas das populações, 
sem evitar um colapso econômico e cada vez mais crises humanitárias 
causadas pela falta de alimentos e fome.
III- Precisamos voltar ao debate sobre população e desenvolvimento dentro 
dos diferentes espaços, bem como o uso da terra e dos recursos naturais, 
para criarmos boas perspectivas de futuro para o nosso Planeta.
AUTOATIVIDADE
21
Assinale a resposta CORRETA:
a) ( ) As alternativas I e II estão corretas.
b) ( ) As alternativas II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a alternativa I está correta.
d) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
22
23
TÓPICO 2
FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL 
BRASILEIRO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A formação do espaço brasileiro aconteceu muito antes da conquista de 
nosso país no ano de 1500, século XV, pelos europeus. Essa ocupação ocorreu 
desde a expansão dos povos indígenas pré-históricos, acerca de 12 mil anos, como 
relatam alguns estudos arqueológicos, expressa em pinturas rupestres e fósseis 
encontrados em todas as regiões do Brasil. 
FIGURA 15 – PRIMEIROS CICLOS ECONÔMICOS DO BRASIL
FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-F1Gcrhd0m2c/UT4WB3BF-YI/AAAAAAAAEp0/W2 
Ov00gh1bI/s1600/ Economia+no+século+XVI.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2019.
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
24
2 ESPAÇO RURAL NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO
A primeira forma de ocupação do território brasileiro foi por meio das 
capitanias hereditárias, sistema instituído no Brasil em 1536, pelo rei de Portugal 
Dom João III. Foram criadas 14 capitanias, divididas em 15 lotes e distribuídas 
para 12 donatários, que eram os representantes da nobreza portuguesa. Em troca, 
esses donatários eram obrigados a pagar tributos à Coroa. Portanto, desde o início 
da ocupação do Brasil por Portugal, o território brasileiro foi propriedade do 
Estado. Nesse sentido, Faoro (2000, p. 6) argumenta que “[...] a coroa conseguiu 
formar, desde os primeiros golpes da conquista, imenso patrimônio rural”.
FIGURA 16 – CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
FONTE: <http://professorasueli-historia.blogspot.com/2009/05/mapa-das-capitanias-
hereditarias.html>. Acesso em: 13 fev. 2019.
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
25
Pode-se dizer que a divisão de terras por conta das capitanias hereditárias, 
a primeira subdivisão do território brasileiro no espaço rural, formaram os 
primeiros grandes latifúndios, grandes áreas rurais com o objetivo monocultor e 
exportador. Foi o início de um problema fundiário, que persiste até hoje em nosso 
país, que é a concentração de terras nas mãos de grandes latifundiários enquanto 
a maioria da população não tem acesso à produção agropecuária por conta do 
monopólio ou dominação total desses espaços rurais.
O que eram as Capitanias Hereditárias?
“Era o sistema que Portugal implantou no Brasil, que realizava a divisão das terras brasileiras 
em longas faixas que partiam do litoral até os limites do Tratado de Tordesilhas. Cada faixa 
de terra era considerado uma capitania e cada capitania tinha um responsável por ela, esses 
responsáveis eram escolhidos pelo rei de Portugal, e ganhava o título de donatário”.
FONTE: https://www.estudokids.com.br/capitanias-hereditarias/. Acesso em: 13 fev. 2019.
IMPORTANT
E
Desde os primeiros anos do século XVI, as terras exploradas na América 
portuguesa se resumiam ao litoral brasileiro, sendo que o pau-brasil era o 
produto que mais interessava aos colonizadores. No entanto, a partir do fim da 
primeira metade do século XVI em diante, ocorreu uma significativa mudança 
na configuração do território, já que houve um aumento da interiorização da 
ocupação, tendo em vista a conquista dos chamados sertões, regiões distantes 
do litoral. Nosso país se resumia, nas primeiras décadas, das ocupações para a 
exploração dos benefícios do pau-brasil, bem como para os tingimentos de roupas 
e móveis com a resina extraída daplanta. 
Já a partir da segunda metade do século XVI, a cana-de-açúcar começa a 
ser a primeira monocultura agrícola de grande expressão na nova economia da 
colônia portuguesa e começa então o chamado primeiro grande ciclo econômico 
da economia brasileira, com o principal objetivo de abastecer o mercado europeu. 
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
26
FIGURA 17 – FASES OU CICLOS DA ECONOMIA BRASILEIRA
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-uP9J-F6JK_0/VlS1EZlzFgI/AAAAAAAAEgA/zqfv 
EM2WgU /s1600/Periodos%2Bda%2BHist%25C3%25B3ra%2Bdo%2BBrasil.jpg>. Acesso 
em: 29 jan. 2019.
“Dessa forma, notamos que a fazenda açucareira representava bem mais que 
um mero sistema de exploração das terras coloniais. Nesse mesmo espaço rural percebemos 
a instituição de toda uma sociedade formada por hábitos e costumes próprios. O engenho 
propiciou um sistema de relações sociais específico, conforme podemos atestar na obra 
clássica “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre. Na qualidade de um espaço dotado 
de relações específicas, o engenho e o açúcar trouxeram muitos aspectos culturais da 
sociedade brasileira”. 
FONTE: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/ocupacao-do-territorio-
brasileiro. Acesso em: 29 jan. 2019.
IMPORTANT
E
2.1 A FÁBULA DOS CICLOS ECONÔMICOS
A ideia dos ciclos econômicos, baseada na análise histórica de que o período 
colonial teria sido economicamente conduzido por eles, ou seja, sustentado 
sucessivamente pela exportação de produtos específicos em determinados 
períodos da história brasileira, primeiramente o pau-brasil, depois o açúcar, o ouro 
e o café, não se sustenta mais como definição principal do subdesenvolvimento 
do nosso país e do crescimento dos espaços rurais. Ao longo da colonização, 
observamos que a incursão pelo interior do nosso território abriu caminho para o 
conhecimento de novos espaços, plantas, frutas e raízes que compunham a nossa 
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
27
vegetação. Nesse processo, o contato com as populações indígenas também foi 
de suma importância para que os colonizadores conhecessem as potencialidades 
curativas e culinárias das chamadas drogas do sertão.
2.1.1 Espaço rural no Brasil República e início do século XX
Os primeiros traços da agropecuária brasileira agroexportadora surgiram 
no final do período imperial e início da velha República em meados de 1870 a 
1890. Com isso, a caracterização do espaço rural brasileiro começou a se distinguir 
pelos latifúndios monocultores, além disso, houve também a introdução da mão 
de obra livre, com o objetivo de substituir a mão de obra servil e escravocrata 
que perdurava desde o início da ocupação do território brasileiro. Nesse período, 
ficava cada vez mais vigente a pressão dos segmentos urbanos, representado pela 
burguesia civil e as forças militares, a favor da proclamação da República. 
FIGURA 18 – ILUSTRAÇÃO REFERENTE À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA EM 1889
FONTE: <https://www.cafeculturabrasil.com/wpcontent/uploads/2016/11/
proclamacao_da_republica_ by_ benedito_calixto_1893-1024x631.jpg>. Acesso em: 7 
fev. 2019.
Com a Proclamação da República, em 1889, nosso país começou a passar 
por uma desconstrução do espaço que até então era colônia de Portugal, durante 
os períodos colonial e imperial, e passa a deliberar sobre representatividade 
partidária com a nova política instalada no território. Cresceu a influência dos 
partidários ao desenvolvimento, sendo tomadas algumas medidas favoráveis 
à produção local, como por exemplo a lei do similar nacional, que proibia 
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a importação de produtos já fabricados no país (a abrangência dessa lei foi 
severamente reduzida cerca de um século depois, nos governos neoliberais de 
Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso).
Foi preciso esperar até a Revolução de 1930 para que um modelo de 
desenvolvimento autônomo pudesse firmar-se. Aquele movimento colocou 
um ponto final na República Velha e em sua política econômica liberal e pode 
ser considerado o marco inicial daquilo que mais tarde ficou conhecido como 
desenvolvimentismo nacional.
“Desde meados dos anos 1940, a agricultura brasileira vem passando, de forma 
ininterrupta, por um profundo reajustamento produtivo, visando a sua modernização. 
Esse processo, caracterizado por diferentes etapas, ocorre por meio de uma contínua 
melhoria e ampliação do sistema logístico de infraestrutura de transporte e armazenagem, 
e, institucionalmente, por meio de políticas visando ao aumento e à diversificação das 
exportações e, principalmente, pela transformação da base técnica de produção do 
setor agropecuário. Com isso, em seu decorrer, o processo de modernização vai sendo 
permeado por um crescente aumento das trocas intersetoriais, o que implica a ampliação 
e a intensificação das condições de produção agrícola e, no limite, na transformação deste 
setor em um complexo agroindustrial mais completo, agora envolvendo um articulado 
sistema de interesses e de ações intersetoriais. 
Todas essas transformações decorrem de um rearranjo técnico-econômico e territorial 
em que, necessariamente, não só há uma concentração da produção em determinados 
produtos, como, simultaneamente, ocorre uma especialização dinâmica dos lugares em 
que se realiza no espaço e no tempo. A sua forma de concretização no território varia em 
função da época em que ocorre, do padrão técnico-científico disponível, bem como do 
modo de como se dá a inserção dos diferentes países na economia-mundo e, sobretudo, 
das políticas públicas adotadas na consecução dos objetivos almejados. 
Entre 1940 e 1950, era inquestionável a primazia das atividades agropecuárias sobre o 
conjunto da economia brasileira, aí compreendida não só o domínio econômico, como 
social, político e cultural. Nesse período, e sem se considerar os produtos pecuários, o valor 
da produção dos 20 principais produtos agrícolas, segundo Bernardes (1961), equivalia a 
54% do valor de toda a produção industrial do País”.
FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 
fev. 2019.
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A abertura de novas áreas de pastagens foi uma das principais causas 
do aumento da área dos estabelecimentos verificados no período. Em “zonas 
de ocupação mais antiga” como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio 
Grande do Sul, esse processo se deu por “um recuo da área já cultivada” com 
lavouras. A grande expansão da atividade pecuária, no entanto, se deu em áreas 
de fronteira agrícola, sobretudo, pela “incorporação aos estabelecimentos rurais 
de grandes trechos de campos de cerrado na Região Centro-Oeste [...], onde se 
verificou o maior acréscimo relativo de área total” (BERNARDES, 1961, p. 103). 
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De acordo com o texto Evolução do espaço rural brasileiro de Luiz Sérgio Pires 
Guimarães (IBGE, 2016, p. 124):
“Apesar de a expansão da pecuária predominar, havia também uma preocupação, por 
parte do governo brasileiro, de ocupar essas áreas da Região Centro-Oeste com colônias 
agrícolas para a produção de alimentos e matérias-primas a baixo custo. Com isso, criava- 
-se, nos “sertões brasileiros”, um mercado para produtos industrializados, direcionando-se 
um expressivo contingente populacional, sobretudo da Região Nordeste, para o interior 
do País e, ao mesmo tempo, ocupando espaços até então vazios. Visando à implantação 
desse projeto, foram criadas, em 1943, por iniciativa estatal, as Colônias Agrícolas Nacionais 
de Goiás e de Mato Grosso, que, embora não atingissem seu objetivo de criar núcleos 
de pequenos produtores, deram origem, respectivamente, aos municípios de Ceres e 
Dourados. 
Outra região de fronteira agrícola, cuja ocupação se baseou na criação de colônias, foi a do 
Paraná. Diferentemente da Região Centro-Oeste, o projeto de colonização nesse estado, 
que tinha um caráter empresarial, foi, em princípio, bem-sucedido. A sua ocupação se deu 
com base no estabelecimentode descendentes de italianos e alemães procedentes do 
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que ocuparam pequenos lotes de terra no sudoeste e 
oeste do Paraná. Cabe ressaltar que, além de uma pequena policultura de alimentos, eles 
cultivavam a hortelã, destinada a empresas compradoras, a menta e a soja, esta última 
utilizada apenas como forragem verde para alimentação de animais.
 Outra área de fronteira agrícola existente, na década de 1940, localizava-se no Maranhão. 
Diferentemente do Paraná e da Região Centro-Oeste, contudo, a frente de ocupação 
naquele estado apresentou um caráter “espontâneo”, absorvendo um excedente 
populacional proveniente do semiárido nordestino. Nessas áreas, estabeleceu-se um 
sistema de produção agroextrativista em que se alia a agricultura de queima e o pousio 
com o extrativismo das amêndoas de babaçu, principal base econômica do estado. Nesse 
período, começa também a se intensificar a produção de arroz, cujo cultivo precedia, em 
parte, a formação dos pastos para a pecuária em estabelecimentos maiores. 
Assim, seja em áreas consolidadas ou de expansão, a produção agropecuária dos anos 
1940-1950 estava estruturada sobre uma malha fundiária extremamente desigual, na 
qual, ao lado de grandes estabelecimentos dedicados à pecuária e a lavouras de alto 
valor comercial, coexistiam pequenos estabelecimentos que praticavam uma agricultura 
destinada à subsistência e ao abastecimento do mercado interno. A maior parte dessa 
produção era obtida por meio das diferentes formas do sistema de “meação”, relação de 
trabalho então predominante na agricultura. O trabalho assalariado, quando empregado, 
restringia-se a algumas grandes lavouras, sendo mais comumente utilizado nos períodos 
em que a safra demandava um contingente mais elevado de mão de obra”.
FONTE: IBGE. Coordenação de Geografia. Brasil: uma visão geográfica e ambiental no 
início do século XXI. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.
br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 fev. 2019.
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2.2 ESPAÇO RURAL BRASILEIRO NO PERÍODO 
CONTEMPORÂNEO 
Atualmente o modelo do espaço rural brasileiro está centrado nos 
resquícios da formação territorial passada, caracterizado pela grande concentração 
de terras para a minoria da população com verdadeira vocação agropecuária. 
Esta tornou-se uma das atividades econômicas mais importantes do nosso país 
e uma das mais solidificadas para cruzar grandes crises econômicas no Brasil 
e o no mundo, principalmente desde o início da globalização. Grande parte da 
atividade agropastoril de nosso país é exportador e definido como agropecuária 
moderna regional, pois há grandes diferenças entre as microrregiões do IBGE. 
As regiões se diferem por causa de suas particularidades, desprezando sua 
grandeza ou localização geográfica. São distintas por suas atuações com a 
produção agropecuária (região da soja, milho, leite, tomate entre outras). Ainda 
podemos destacar a subdivisão regional em 1967, em que o geógrafo brasileiro 
Pedro Pinchas Geiger propôs uma outra divisão regional do país, em três regiões 
geoeconômicas ou complexos regionais.
Uma outra força do capitalismo informacional globalizado em nosso 
país está baseada nas exportações de commodities, que exporta matéria-prima de 
maneira in natura, sem que seja necessário grande ou nenhum processamento. 
Assim, em meados da década de 1960 e 1970 a adoção de uma série de políticas 
públicas específicas para a chamada “modernização conservadora” da agricultura 
provocou importantes transformações no setor, consolidando a grande agricultura 
comercial, por meio da tecnização de seus processos produtivos e de uma maior 
abertura ao mercado internacional. A modernização deste processo de novas 
técnicas agrícolas e a ampliação das máquinas, como forma de produção no 
campo brasileiro a partir desta década, também marca o grande início da indústria 
automobilística e metalmecânica em nosso país. Nesse contexto, a produção 
agropecuária apresentou um desempenho muito superior em comparação com 
as décadas anteriores, devido tanto ao aumento da sua produtividade como da 
diversificação das exportações agrícolas e da ampliação da produção. Ao final 
desse período, a situação do mercado continuava favorável, com abundância de 
créditos baratos, preços de insumos e bens de capital em declínio e os commodities 
em alta, além do aumento do mercado consumidor, fazendo com que nosso país 
começasse a entrar em uma nova era de produção e tecnização no espaço rural 
nacional.
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
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De acordo com Guimarães (2006):
 “Esse quadro em que o setor agropecuário se estrutura, com base na expansão 
e na modernização tecnológica da produção de commodities de alto valor comercial, foi 
consolidado ao longo da década de 1970. Nesse período, foram ampliados os investimentos 
públicos na infraestrutura, no armazenamento e na modernização da produção agropecuária 
em larga escala. Chama a atenção o aumento da mecanização do setor agropecuário entre 
os anos 1970 e 1980, quando a maioria dos estados mais que dobrou o número de tratores 
utilizados. Estados com grande produção de grãos, como, Paraná, Goiás e Mato Grosso que 
quintuplicaram as suas frotas nessa década. Só Mato Grosso (incluída a área do atual Mato 
Grosso do Sul, para efeitos de comparação) passa de um total de 4 386 tratores, em 1970, 
para 44 320 unidades, em 1980.
 Como os preços das commodities internacionais eram ainda mais favoráveis que 
na década anterior, ampliou-se a participação do Brasil, no mercado internacional, com o 
aumento das exportações de vários produtos agrícolas, entre os quais se destacam a soja, 
o café, o milho, a laranja (em suco), o açúcar e as carnes. Essas atividades modernizadas 
aumentaram, inicialmente, suas áreas na Região Sul, nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, 
para, posteriormente, em meados da década, se expandirem sistematicamente por toda a 
Região Centro-Oeste, e, por fim, atingindo o Estado do Pará, ampliando a fronteira agrícola 
para áreas até então só parcialmente integradas à dinâmica de produção capitalista. Todo 
esse dinamismo, baseado na grande oferta de capitais existentes no mercado internacional 
e em uma política de crédito altamente subsidiada, deteriora-se a partir da crise do petróleo 
de 1979, quando ocorre uma forte retração da economia internacional. 
 Dos anos 1980 até meados da década seguinte o crescimento da dívida externa 
do Brasil e das taxas de juros internacionais provocou uma significativa redução dos 
recursos para o financiamento rural e refletiu de imediato na redução das áreas de lavouras, 
pastagens e pessoal ocupado na agricultura conforme verificado no período. A política de 
crédito foi gradativamente substituída pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) 
como principal instrumento de incentivo para a expansão e desenvolvimento do setor 
agropecuário. Apesar disso, o quadro de hiperinflação obrigou o governo a elaborar um 
conjunto de políticas de ajustamento macroeconômico que materializadas em uma série 
de planos econômicos restringiram a plena expansão do setor agropecuário. 
 Com a manutenção de um cenário macroeconômico desfavorável no Brasil, 
delineou-se na década de 1990 sobretudo a partir do segundo quinquênio, a necessidade 
de se construir um novo quadro institucional que permanece até o período atual e que 
redefiniu o espaço entre o público e o privado nos mercados agroalimentares, alinhando 
as novas diretrizes às exigências da Organização Mundial do Comércio (OMC). O Estado 
deixa, em grande medida, de ser o gestor das políticas públicas para o setor, passando 
a exercer o papel de principal coordenador e fiscal destas. Isso implicou a “retirada do 
governo de controles diretos na forma de preços ou compras e, em muitos casos, implicou 
no desmantelamento de serviços de extensão e, também, na eliminação de políticas 
setoriais maisativas” (WILKINSON, 2003, p. 12). “Tais medidas vieram acompanhadas de 
uma menor proteção tarifária e de uma maior abertura ao comércio internacional, levando 
em vários casos a um aumento no ritmo de importação de alimentos”. Visando aumentar o 
volume de investimentos diretos vindos do exterior, procedeu-se, conforme complementa 
este autor, a uma “modificação da legislação sobre os níveis de participação de capitais 
estrangeiros em empresas nacionais e a uma maior tolerância à remessa de lucros” 
(WILKINSON, 2003, p. 27). Com isso, torna possível intensificar ainda mais a modernização 
da agricultura, o que provocou um aumento da competitividade da produção brasileira 
no comércio internacional, alavancando as exportações. As consequências desse novo 
quadro foi a exacerbação das características do processo de modernização”.
FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 
fev. 2019.
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Com a intensificação do processo de globalização o conceito de região 
passou a ser questionado, sobretudo porque alguns autores entendiam que a 
globalização seria responsável por uma homogeneização espacial. A discussão 
sobre globalização e região merecem destaque por causa da ideia do seu 
potencial homogeneizador, já que no mundo globalizado não haveria espaço 
para a diferenciação, bem como a região que guarda em sua essência a noção de 
singularidade. 
FIGURA 19 – TIPOS DE COMMODITIES
FONTE: <https://academy.alvexo.com/academy-basics/basic-articles/learn-to-trade-
commodities>. Acesso em: 17 fev. 2019.
Os territórios e os espações geográficos na atualidade estão fragmentados 
pela ação e pela produção do capital globalizado, ideia centrada no discurso que 
prega o fim do “Estado-Nação”, pois há de um lado a emergência de uma cultura 
global e de outro uma economia também global (ARRAIS, 2007). Concorda-se 
com Pontes (2007, p. 490) que defende que “a globalização pode não significar 
homogeneização total, mas sim diferenciação de partes, isso ocorre devido as 
diferentes potencialidades regionais e dos vários agentes” que atuam com forças 
desiguais no território. Segundo Haesbaert e Limonad (2007, p. 40):
Se muitos autores afirmam que o mundo contemporâneo vive uma 
era de globalização, outros, por sua vez, enfatizam como característica 
principal do nosso tempo a fragmentação. Globalização e fragmentação 
constituem de fato os dois polos de uma mesma questão que vem 
sendo aprofundada, seja através de uma linha de argumentação que 
tende a privilegiar os aspectos econômicos - e que enfatiza os processos 
de globalização inerentes ao capitalismo -, seja através do realce de 
processos fragmentadores de ordem cultural.
Para Elias e Pequeno (2007) a reestruturação do agronegócio e da 
agropecuária não homogeneizou a produção ou os espaços agrícolas nem os 
espaços urbanos. O que de fato acontece é um intenso processo de fragmentação 
da produção e do espaço agrícola, em contraposição ao processo de globalização 
da produção e do consumo agropecuário. Assim, entendendo a paisagem e a 
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
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região como categorias fundamentais para a leitura e a compreensão dos processos 
ocorridos ao longo do tempo e da realidade atual da microrregião Ceres, propõe-
se pensar na noção de paisagem regional que não seria somente a junção das 
duas importantes categorias, mas uma forma mais ampla e complexa de verificar 
ao mesmo tempo as problemáticas postas pela dinâmica sucroenergética, as 
diferenciações que o processo acarreta na região e que se apresenta por meio da 
paisagem. 
FIGURA 20 – AGRICULTURA E AS TENDÊNCIAS GLOBAIS
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/1354290/>. Acesso em: 17 fev. 2019.
O processo histórico da formação do território brasileiro levou em 
consideração os efeitos da industrialização e a configuração dos modelos de 
ocupação das primeiras atividades econômicas do país, como os grandes ciclos 
agrícolas da cana de açúcar no período colonial, do café entre a Colônia e o 
Império e também o declínio da indústria cafeeira no início da Velha República e 
o início da industrialização a partir da segunda metade do Século XX. 
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FIGURA 21 – DIVISÃO REGIONAL GEOECONÔMICA BRASILEIRA
FONTE: <https://estudegeografia.webnode.com.br/_files/200000164-8e2898f227/regioes%20
geoeconomicas.jpg>. Acesso em: 13 fev. 2019.
Legenda: 
1) Amazônia
2) Centro-Sul
 
3) Nordeste
Com base na divisão, diferente do que se perpetua nas bases do IBGE, 
os limites das regiões não são coincidentes com os estados. Tal fato representa 
a noção de que um estado em face de suas características pode ter parte do seu 
território em mais de uma região, como é o caso do Maranhão e de Minas Gerais.
O espaço rural brasileiro atualmente concentra a maior desigualdade 
social e trabalhista de todas as atividades econômicas de nosso país, pois faltam 
legislações que garantam ao produtor rural acesso básico ao desenvolvimento 
humano e distribuição de renda. A produção principalmente dos pequenos 
produtores é pouco valorizada no mercado interno e externo, pois há pouco 
retorno. Hoje ainda há uma competição desleal entre o minifundiário policultor 
e o grande agroexportador que concentra a maior parte das terras agricultáveis e 
cultiváveis tanto para produção de grãos como para a produção pecuária e seus 
derivados. A grande agroindústria está atenta principalmente para os grandes 
produtores que possuem capacidade de competição e grande produção de 
qualidade em sua matéria-prima. 
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
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FIGURA 22 – PRINCIPAIS PRODUTOS BRASILEIROS AGROPECUÁRIOS DE EXPORTAÇÃO
FONTE: <https://www.infoenem.com.br/wp-content/uploads/2017/07/dados_agropec.jpg>. 
Acesso em: 13 fev. 2019.
A agropecuária e o extrativismo não são tratados com tanta relevância, um 
equívoco que deve ser reparado, já que este setor apresenta grande representatividade no 
volume de exportações brasileiras e corresponde em torno de 8% do PIB (Produto Interno 
Bruto). A produção agrícola no Brasil teve início com a cultura da cana-de-açúcar pelos 
portugueses durante o período colonial, que foi seguida pelo cultivo do café, principalmente 
nos séculos XIX e XX e posteriormente pela pecuária bovina.
 Atualmente, a cultura mais representativa do país é a da soja, principalmente na 
região Centro-Oeste. Destinada à exportação, ela representa 9% da balança comercial. A 
cana-de-açúcar, o café e a pecuária bovina ainda possuem importância na agropecuária 
nacional e, além destes, também podemos encontrar produções de milho, laranja, trigo, 
fumo, arroz, feijão, cacau e algodão. 
FONTE: https://www.infoenem.com.br/geografia-no-enem-um-panorama-da-
agropecuaria-brasileira/. Acesso em: 13 fev. 2019.
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FIGURA 23 – COLHEITA DE CANA-DE-AÇÚCAR MECANIZADA
FONTE: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/
Colheita+mecanizada+sem+despontador_000fk6rupcd02wyiv80sq98yqsxy7xf9.JPG>. Acesso 
em: 13 fev. 2019.
Os estados que mais se destacam na agropecuária no Brasil desde as 
primeiras décadas da segunda metade do século XX são os estados de São Paulo, 
Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro, Paraná, 
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, porém, existe um crescimento na produção 
rumo ao norte do país. O setor também está se tornando cada vez mais dependente 
da tecnologia a qual gera melhorias nas máquinas, nos defensivos, nas sementes e 
nos fertilizantes, de modo a ampliar a produção e aperfeiçoar os produtos.
“Assim, apesar de variações locais pouco significativas, o nível de concentração 
da estrutura fundiária manteve-se elevado em todo o espaço agropecuário. Mesmo tendo 
sido reduzida a área total dos estabelecimentos, estes intensificaram suas produções. 
Apesar de a intensificação produtiva ter caracterizado o período,registraram-se também o 
avanço e a abertura de novas áreas de fronteira agrícola, no sentido norte/nordeste. 
 Com a valorização da atividade agropecuária, o predomínio dos estabelecimentos 
dirigidos pelos próprios proprietários aumentou. Apesar de o Brasil estar posicionado 
como um grande produtor mundial de alimentos e de matéria-prima, tendo por base uma 
produção agropecuária capitalista altamente tecnificada, era o trabalho familiar, e não o 
assalariado, a principal forma de emprego da mão de obra em 2006. Essa mão de obra, 
que representava 77% do total de trabalhadores rurais, de um modo geral, mantinha-se 
ligada à pequena produção. Esta última, apesar da heterogeneidade de situações no que 
diz respeito ao nível de modernização de seu processo produtivo, mantinha-se, em grande 
parte, atrelada ao mercado interno, voltando sua produção, basicamente, aos alimentos 
que compõem a cesta básica nacional. 
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TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
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Por fi m, a série histórica da informação censitária, entre 1940 e 2006, revela que a agropecuária 
brasileira vem se modernizando a partir de diferentes modelos produtivos que, em comum, 
têm o fato de privilegiar a grande produção monocultora de alto valor comercial, destinada 
à exportação, enquanto a pequena produção de fraca inserção no mercado e/ou voltada 
à comercialização continua a ter papel relevante na produção alimentar para o mercado 
interno. Se, em princípio, adotou-se um modelo de “substituições de importações”, a partir 
de meados dos anos 1960, o setor rural passa a ser reconfi gurado no padrão clássico da 
modernização conservadora, cujos princípios e estratégias locacionais defi nem, em grande 
parte, a geografi a do espaço rural brasileiro na contemporaneidade”.
FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 
fev. 2019.
FIGURA 24 – EXPANSÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA
FONTE: <http://marcosbau.com.br/geobrasil-2/1211-2/>. Acesso em: 13 fev. 2019.
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Existem atualmente amplas discussões sobre o tema abrangendo 
principalmente o efeito do uso de agrotóxicos e da produção de transgênicos. 
A agricultura orgânica, ou seja, aquela que não faz uso de agrotóxicos, tem sido 
cada vez mais defendida devido aos danos que os agrotóxicos podem causar 
ao organismo. Entretanto, a agricultura orgânica acontece principalmente em 
pequenas propriedades. Já o cultivo de transgênicos é questionado, pois não 
se sabe ao certo o que a alteração do DNA feito nos organismos geneticamente 
modificados pode causar em nossa saúde e no meio ambiente.
O agronegócio é importante para a compreensão das ciências humanas 
por causa das transformações na história do Brasil, dos debates que pode causar, 
a importância na economia e as suas relações com o homem e com o meio. 
Para Abramovay (1999), a nova dinâmica territorial dos espaços rurais requer 
políticas públicas descentralizadas que valorizem os atributos locais e regionais 
no processo de desenvolvimento, além da visão de que a integração do agricultor 
com a indústria é o único caminho para a geração de empregos. O desafio está 
em como criar condições para valorização de um território com variedade de 
atividades e mercados.
Para Harvey (2012), as diferenças geográficas vão além dos legados 
histórico-geográficos e estão relacionadas também com as estruturas político-
econômicas que reconfiguram o presente. A influência do capital internacional 
baseado na maximização de lucros está por trás das atuais políticas. Além disso, 
as políticas de desenvolvimento territorial tornaram-se, principalmente após 
a década de 50, “fundamentalmente parte subsidiária da política econômica 
(cumpre lembrar, capitalista) a nível nacional” (COSTA, 2000, p. 59).
Vejamos no quadro a seguir como classificar a atual estrutura agrária 
Brasileira.
FIGURA 25 – EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA BRASILEIRA
FONTE:<https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/inlineimages/img_ART_LM_
grafico_002_201 71206.jpg>. Acesso em: 13 fev. 2019.
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
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O setor de subsistência na economia brasileira: gênese histórica e formas de 
reprodução
Guilherme C. Delgado
Caio Prado Jr., em sua obra Formação do Brasil Contemporâneo (1979), desenvolveu os 
capítulos “Agricultura de Subsistência” e “Pecuária” do Brasil Colonial, mas adverte antes 
que tais setores não constituem atividades fundamentais da economia colonial, centrada 
no trinômio: grande propriedade, trabalho escravo e monocultura voltado ao comércio 
exterior. Certamente a agricultura de subsistência e a pecuária não se encaixam neste 
trinômio, embora já no período colonial “ocupassem” parcela expressiva da população em 
extensão territorial muito vasta da colônia. 
Mas não podemos colocá-las no mesmo plano, pois pertencem a outra 
categoria, e a categoria de segunda ordem [...]. Trata-se de atividades 
subsidiárias destinadas a amparar e tornar possível a realização das 
primeiras. Não têm uma vida própria, autônoma, mas acompanham 
aquelas, a que se agregam como simples dependência. Numa palavra, 
não caracterizam a economia colonial brasileira e lhes servem apenas 
de acessórios [...] (PRADO, 1979, p. 124).
É claro, na construção analítica da obra em questão, que o tripé grande propriedade/
trabalho escravo/monocultura, estrutura a produção da grande lavoura e da mineração na 
produção de mercadorias para o setor externo. 
Quando trata da agricultura de subsistência, da pecuária e mesmo das produções 
extrativistas naquela obra, o tripé não se aplica, e o autor ora recorre ao argumento de setor 
subsidiário residual, reflexo etc., ora faz uso de uma outra noção do setor de subsistência, na 
qual se destaca sua especialização na provisão de gêneros de subsistência para o consumo 
interno. 
Já apontei acima os motivos principais porque fiz esta distinção 
fundamental numa economia como a nossa, entre a grande 
lavoura que produz para a exportação e a agricultura que chamei 
de “subsistência” por destinar-se ao consumo e à manutenção da 
própria colônia [...]. Há a considerar a natureza econômica intrínseca 
de cada uma e outra categoria de atividade produtiva, o fundamento, 
o objetivo primário, a razão de ser respectiva de cada uma delas. A 
diferença aí é essencial, e já me ocupei suficientemente da matéria 
(PRADO, 1979, p. 157).
Mais adiante, depois de exemplificar diversos ramos das atividades de subsistência no Brasil 
Colonial, o autor conclui indicando um segundo caráter específico do setor de subsistência: 
Assim, com maior ou menor independência do lavrador, e maior 
ou menor extensão da lavoura respectiva, constituem-se a par das 
grandes explorações, as culturas próprias e especializadas que se 
destinam à produção de gêneros alimentícios de consumo interno 
da colônia (grifo nosso). É um setor subsidiário da economia colonial, 
depende exclusivamente do outro, que lhe infunde vida e forças 
[...]. Em geral a sua mão-de-obra não é constituída de escravos: é o 
próprio lavrador modesto e mesquinho que trabalha. Às vezes conta 
com o auxílio de um ou outro preto ou mais comumente de algum 
índio ou mestiço [...] (PRADO, 1979, p. 160-161). 
IMPORTANT
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UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
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Em síntese, a noção de setor de subsistência, na obra de Caio Prado Jr., apresenta quatro 
características a destacar: 
a) atividade subsidiária que depende ora exclusivamente, ora parcialmente da grande 
lavoura; 
b) setor produtor de bens de consumo destinados ao autoconsumo da fazenda e ao 
consumo interno da economia interna (da colônia), mas não à exportação; 
c) especialização na produção de alimentos – um valor de uso, distinto das mercadorias 
produzidas para o mercado externo; e 
d) estrutura produtiva distinta da grande lavoura, visto que no setor de subsistência 
praticamente não se utiliza o trabalho escravo, a produção é do tipo não monocultivo e 
o estabelecimento produtivo é em geral de dimensõespequenas (familiar), produzindo 
algum ou alguns produtos com mão-de-obra própria e/ou participação de inúmeras 
relações de trabalho (dependendo da atividade), que em geral não são de trabalho 
escravo, tampouco de trabalho assalariado. 
Observa-se finalmente que, de acordo com Caio Prado Jr., o setor de subsistência alberga-
se na grande propriedade, geograficamente externa às zonas das grandes lavouras, 
sujeita às relações fundiárias de dominação impostas pelo sistema de sesmarias. Porém, 
diferentemente da grande lavoura, os agricultores de subsistência gozam de certa 
autonomia, principalmente na pecuária, na qual os contratos de parceria entre proprietários 
absenteístas e vaqueiros são completamente distintos dos “contratos” entre grandes 
proprietários e os seus “moradores de condição” na grande lavoura.
FONTE: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3234/1/Livro_Questao_Social.pdf. 
Acesso em: 24 fev. 2019.
41
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A formação do espaço rural brasileiro desde a ocupação pelos colonizadores 
foi se modificando de acordo com a transformação do território nacional, 
caracterizando o atual modelo agrário brasileiro.
• A evolução dos grandes ciclos econômicos desde a produção de cana-de-
açúcar e do café entre o período imperial e da velha república, assim como a 
prática e a formação dos grandes latifúndios coloniais até as atuais práticas de 
exploração da terra na atualidade.
• O espaço rural contemporâneo é o reflexo nos modelos de ocupação e exploração 
do espaço desde os tempos coloniais e que as desigualdades e problemas com 
a terra em nosso país é de cunho secular e histórico.
• De acordo com a Evolução da Estrutura Fundiária Brasileira, as pequenas 
propriedades agrárias representam uma pequena parte na produção de 
alimentos tanto para a agroindústria como para as exportações, o que não 
acontece com as grandes áreas monocultoras exportadoras de commodities 
agrícolas no espaço agrário do Brasil.
42
1 A esfera produtiva sempre esteve em destaque seja na produção de 
produtos para exportação – que aconteceu durante a maior parte da história 
econômica brasileira – seja no fornecimento de matérias-primas para o 
surgimento e consolidação da agroindústria nacional. Atualmente é a 
principal responsável pelos saldos positivos na balança comercial. Descreva 
e explique o que são commodities.
2 Os países desenvolvidos adotaram a pequena agricultura como forma de 
ocupação do espaço rural. Os países subdesenvolvidos são o paraíso dos 
latifúndios e há a expropriação de milhões de trabalhadores rurais sem-terra 
que deu sustentação para uma grande desigualdade social e um pequeno 
mercado consumidor com baixo desenvolvimento social e econômico. 
Como podemos descrever a atual situação dos espaços rurais e agrários nos 
países subdesenvolvidos? 
Assinale a alternativa CORRETA: 
a) ( ) Caracterizado por latifúndios familiares monocultores e exportadores, 
principalmente de commodities, produção de maneira in natura sem grande 
transformação ou nenhuma.
b) ( ) Se destaca pela igualdade na distribuição de terras e pela atividade 
familiar em pequenas áreas produtoras e policultoras, definidos como 
minifúndios agroexportadores.
c) ( ) Identificado por um problema sistêmico e em cadeia generalizada nos 
países subdesenvolvidos com concentração fundiária teremos a presença 
do latifúndio e, consequentemente, o aumento dos trabalhadores sem-terra, 
dos conflitos fundiários, das ocupações e da pobreza tanto no campo como 
na cidade.
d) ( ) O desenvolvimento não perpassa os aspectos econômicos, sociais, 
culturais e ambientais e para que haja equilíbrio no campo será necessária 
uma maior distribuição da terra, ou seja, a exploração agrícola com base na 
pequena agricultura familiar.
3 Uma série histórica da informação censitária, entre 1940 e 2006, revela 
que a agropecuária brasileira vem se modernizando a partir de diferentes 
modelos produtivos que em comum têm o fato de privilegiar a grande 
produção monocultora de alto valor comercial, destinada para a exportação, 
enquanto a pequena produção de fraca inserção no mercado e/ou voltada 
para a comercialização continua a ter papel relevante na produção alimentar 
para o mercado interno. A produção da agricultura familiar tem perdido 
cada vez mais espaço com a concorrência das grandes agroindústrias em 
nosso país, o que leva a intensificar a exploração de terras não como um 
sustento do pequeno proprietário rural no campo e sim a aumentar os 
lucros dos grandes conglomerados industriais no setor de alimentos, o qual 
desfavorece o pequeno produtor por:
AUTOATIVIDADE
43
I- Criar incentivos agrícolas para as famílias de pequenas propriedades rurais.
II- Aumentar as diferenças dos trabalhadores rurais com os trabalhadores dos 
espaços urbanos, intensificando a desigualdade social nestas áreas.
III- Cria concentração fundiária na mão de poucos proprietários rurais, 
dificultando os segmentos de produção das famílias agrícolas.
Assinale a alternativa CORRETA: 
a) ( ) As alternativas I e II estão corretas.
b) ( ) As alternativas II e III estão corretas.
c) ( ) As alternativas I e III estão corretas.
d) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
44
45
TÓPICO 3
A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO 
CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS CONCEPÇÕES 
SOBRE O ESPAÇO RURAL
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Atualmente vemos cada vez mais a influência da globalização e da 
tecnologia no modo de produzir alimentos, na extração dos recursos naturais, no 
aumento corrente da demanda de consumo por novos produtos, novas práticas 
e hábitos alimentares. A necessidade de atender cada vez mais à grande oferta 
na produção e diversificação de alimentos faz com que os sistemas produtivos 
fiquem cada momento mais complexos e dinâmicos, aumentando a dificuldade ao 
acesso alimentar em várias nações do planeta e transformando outras em caóticas 
e centralizadoras. A compreensão das transformações que aconteceram e estão 
acontecendo no rural brasileiro passa, necessariamente, pelo estudo do processo 
histórico de constituição do rural enquanto espaço de produção e reprodução 
social de sua população. 
FIGURA 26 – TECNOLOGIA E AGROPECUÁRIA
FONTE: <http://cerradoeditora.com.br/cerrado/wp-content/uploads/2017/02/Drones-
Agricultura.jpg>. Acesso em: 17 fev. 2019.
46
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
De acordo com o texto de Ivo Elesbão em O espaço rural brasileiro em 
transformação:
“As mudanças observadas no espaço rural dos países desenvolvidos passam também a ser 
detectadas no espaço rural brasileiro que hoje é estudado à luz das mesmas transformações, 
ampliando o enfoque que outrora recaía somente na produção de alimentos e matérias-
primas, para considerar também a relação com as atividades não agrícolas. Estas atividades, 
praticadas por componentes de muitas famílias rurais, ganham importância na busca da 
compreensão das transformações de que o rural brasileiro vem sendo palco e que se 
intensificaram nos últimos tempos. 
Neste artigo, analisam-se as transformações em curso, apoiando-nos para isso, em uma 
revisão bibliográfica que tem o rural como objeto de estudo e que busca compreender 
as mudanças que estão ocorrendo nesse espaço. Necessário se faz ressaltar que nem 
de longe pode ser considerada uma reflexão exaustiva, pois entendemos as limitações 
ao analisar um espaço que é estudado por várias áreas da Ciência e que congrega uma 
enorme quantidade de trabalhos produzidos sobre o tema. 
Nossa análise será dividida em duas partes e irá se pautar em algumas mudanças históricas 
e na complexidade de relações de que o rural atualmente se reveste. Na primeira parte 
buscaremos discorrer sobre as transformações no rural brasileiro ao longo do século XX 
enfocando quatro grandes acontecimentos: o fim do último grande ciclo econômico 
(ciclo do café); o processo de modernização da agricultura; a migração campo/cidade; e o 
reconhecimento da importância da agricultura familiar. Nasegunda parte nossa análise terá 
como base a emergência de novas atividades e novos valores no rural contemporâneo, os 
quais representam a diversidade de situações na teia de relações que se estabelecem entre 
o rural e o urbano”.
FONTE: https://revistas.rcaap.pt/finisterra/article/view/1421/1117. Acesso em: 17 fev. 2019.
IMPORTANT
E
2 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMO NO MUNDO
Mesmo com o crescimento vigente das atividades de transformação 
e indústria no mundo, assim como a ampliação do setor de serviços, tanto na 
empregabilidade como nas relações econômicas mundiais, destacamos, no setor 
primário, o setor agropecuário que tem cada vez mais enfatizado as relações 
de trabalho, produção e ocupação dos espaços produtivos, levantando novos 
debates desde a desigualdade no campo em diversos países e continentes do 
planeta como até mesmo a distribuição das terras nos territórios, mostrando o 
agravamento e a fragilidade de determinadas nações em lidar com as questões 
agrárias e a política de terras no mundo. 
Ao trazer o debate para os dias atuais, verifica-se que muitas previsões 
efetuadas sobre o destino do campesinato e de sua pequena unidade de produção não 
se confirmaram ou sofreram alterações significativas e foram expressas inicialmente 
na abordagem de Veiga (1991), na qual o autor ressalta que ao contrário do que se 
https://revistas.rcaap.pt/finisterra/article/view/1421/1117
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL
47
previa, principalmente nas visões de Marx, Lênin e Kautsky, a classe camponesa não 
desapareceu, porém, sofreu mutações significativas nas suas relações produtivas e 
sociais, constituindo-se na base da produção agrícola nos países capitalistas centrais, 
como os Estados Unidos e grande parte da União Europeia.
Observamos um crescente aumento da pobreza e conflitos relacionados 
aos espaços produtivos desde a América Latina, África e Ásia como principal foco 
do debate. A fome e a falta de alimentos ainda são o problema central em diversas 
regiões do planeta, acirrando conflitos regionais entre os povos. O modo capitalista 
de produção na construção da imagem da agricultura e sua representação através 
do conceito que passou a ser difundido como agronegócio, enfatiza o crescimento 
da agroindústria principalmente nos países em desenvolvimento no mundo como 
o Brasil e demais países agroprodutores da América Latina. O uso dos termos 
“agronegócio e agroindústria” se propagou tanto nos círculos acadêmicos quanto 
nos meios políticos e de comunicação entre as nações do planeta. 
Mendonça, Pitta e Xavier (2012, p. 5) situa que:
A chamada industrialização da agricultura ocorre principalmente a 
partir dos anos 1950, em um contexto de crise de superacumulação 
de capital em nível mundial. No Brasil, este modelo ganha força 
principalmente a partir dos anos 1960 e combina a grande exploração 
agrícola com o estímulo ao uso de insumos industriais. É no período 
marcado pelo caráter monopolista ou imperialista do capital que se 
observa o processo de industrialização da agricultura, conhecido 
popularmente como agronegócio.
A relação do agronegócio está ganhando força no capitalismo financeiro e 
informacional da atualidade, desenvolvendo uma relação do sistema de produção 
cada vez mais dependente das relações financeiras e econômicas da globalização.
FIGURA 27 – MODELO DE UM SISTEMA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL
FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo/evolucao-
da-agricultura.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019.
48
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
A propriedade monopolista pressupõe a incorporação de todos 
os momentos da chamada cadeia produtiva. Como exemplos de grandes 
conglomerados capitalistas do setor de produção de alimentos podemos citar 
a Bunge e a Cargil, empresas com maior parte de capital estadunidense que 
dominam o monopólio das grandes agroindústrias no mundo, desde o controle 
das matérias-primas até a circulação das mercadorias, considerando-se o papel 
essencial do capital financeiro. 
FIGURA 28 – EXEMPLO DE OLIGOPÓLIO DO AGRONEGÓCIO
FONTE: <http://www.ceisebr.com/uploads/conteudo/conteudo/2018/07/86Y
DL/1494545796776-20H5N9_510x400.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019. 
A internacionalização deste modelo através da exportação de capitais 
aprofundou a especialização dos monocultivos em determinados países e a 
divisão internacional do trabalho, sistema que amplia a desigualdade social e as 
diferenças entre a base da cadeia produtiva da base de uma pirâmide financeira 
e produtiva, até o ápice das classes donas dos meios de produção, característica 
que vem desde o período das grandes navegações e conquistas dos territórios 
mundiais pelos europeus a partir de uma da herança colonial. 
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL
49
“O tempo de produção consiste de duas partes: um período em que o 
trabalho é realmente aplicado na produção, e um segundo período, durante o qual a 
mercadoria “inacabada” é abandonada à influência de processos naturais, sem se submeter 
simultaneamente ao processo de trabalho, tendo, como exemplos, os processos naturais, 
químicos e fisiológicos. Enquanto o trabalho humano normalmente desencadeia esses 
processos, após o ponto de partida iniciado pelo insumo-trabalho, o processo prossegue 
de forma independente. Esses intervalos no processo de produção não criam nem valor e 
nem mais-valia, é o que ressaltam os autores Mann e Dickinson (1987). 
A produção agrícola é caracterizada não somente por um relativo longo tempo de produção 
total (já que diversos cultivos são realizados anualmente), mas também por uma grande 
diferença entre o tempo de produção e o tempo de trabalho; há um longo período em que 
o tempo de trabalho é quase que completamente interrompido (exemplo disso, é o tempo 
em que a semente leva para se desenvolver na terra). Neste caso, a redução do tempo de 
produção é severamente afetada por fatores naturais e, assim, não pode ser facilmente 
modificada socialmente ou manipulada, como ocorre na indústria propriamente dita. Na 
produção pecuária, a reprodução dos animais é delimitada por processos naturais definidos. 
Praticamente toda a pesquisa agrícola desenvolve esforços para reduzir a preponderância 
do tempo de produção sobre o tempo de trabalho: inseminação artificial, processos de 
alimentação forçada, desenvolvimento de sementes híbridas, cultivo de plantas em soluções 
nutritivas e outros. Por isso, a capitalização da agricultura avança mais rapidamente nas 
esferas onde o tempo de produção pode ser reduzido com sucesso. Inversamente, as 
esferas de produção caracterizadas por uma certa rigidez da não-identidade entre tempo 
de produção e tempo de trabalho não exercem a mesma atratividade ao grande capital, 
sendo deixadas, então, ao pequeno produtor familiar. 
A não identidade entre o tempo de produção e o tempo de trabalho estabelece uma 
série de obstáculos à penetração capitalista em certas esferas da agricultura, que, pelo 
fundamento biológico de seu processo produtivo, opõe resistência ao avanço da divisão 
social do trabalho, e, assim, ao próprio domínio da socialidade capitalista, comprometendo, 
no médio e longo prazo, a manutenção da taxa média de lucro do capital, já que este 
não consegue circular e se reproduzir de maneira mais rápida e eficaz, como ocorre na 
indústria (ABRAMOVAY, 1992). 
Portanto, em razão dessas dificuldades, a grande propriedade produtora capitalista, 
na agricultura, cedeu espaço para a pequena unidade de produção familiar, pois esta 
última, preservando uma característica semelhante à das antigas unidades de produção 
camponesas, conseguiu se reproduzir com taxas de lucro abaixo da taxa média de lucro, 
porém com a utilização de instrumental produtivo altamente tecnificado e plenamente 
integrado ao mercado, competindo em igualdade de condições com a grande propriedade 
produtora capitalista, que, devido aos seus altoscustos de manutenção e seu baixo e lento 
retorno dos investimentos de capital, retira-se da competição e, consequentemente, da 
produção agrícola. 
Foi assim, então, que, nos países capitalistas centrais, coube à agricultura familiar o papel 
de grande produtora e fornecedora de alimentos e insumos para indústria, a preços mais 
baixos e em quantidade suficiente para garantir o abastecimento da população. Além disso, 
possibilitou a manutenção da renda dos agricultores familiares, colaborando para a fixação 
do produtor agrícola no campo, reduzindo significativamente o êxodo rural e melhorando 
IMPORTANT
E
50
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
as condições de trabalho e de vida, tanto no campo como na cidade. Cabe ressaltar que 
coube ao Estado um papel extremamente importante, pois ele operou como elemento 
centralizador e responsável, em última análise, pela alocação da atividade dos agricultores. 
Apesar da ocorrência dos fatos e acontecimentos levantados pelos diversos autores 
acima, na qual a preponderância da agricultura familiar, nos países capitalistas centrais, 
surgiu como fator decisivo para a derrocada de um dos pressupostos básicos de Marx e 
seus seguidores, que previam o fim da pequena unidade de produção camponesa, e, por 
conseguinte, da classe camponesa, e a preponderância da grande exploração capitalista, 
em decorrência do desenvolvimento do modo de produção capitalista, outros aspectos 
devem ser considerados na atual discussão”.
FONTE: SIQUEIRA, Oscar Graeff. O modo de produção capitalista e a agricultura. 
COLÓQUIO – Revista do Desenvolvimento Regional – Faccat – Taquara/RS – v. 11, n. 2, 
p. 113-131, jul./dez. 2014. Disponível em: https://seer.faccat.br/index.php/coloquio/article/
view/156/137. Acesso em: 12 set. 2019.
Observa-se que o modo de produção capitalista não tem medido esforços 
para substituir ou apropriar-se de processos naturais de produção, em que a 
natureza dita as regras do desenvolvimento de plantas e animais, trocando-os 
por artificiais. 
A produção agrícola teve um desenvolvimento significativo nos últimos 
anos, com o avanço científico e tecnológico que proporcionou aos produtores 
ampliar seus empreendimentos, com uso de tecnologias e implementos agrícolas, 
tornando possível a incorporação e uso de novas terras, adubos químicos para 
a correção de solos para o aumento de produção. Fatores que proporcionaram 
uma otimização em todo o processo de produção, desde o plantio-colheita, até a 
exportação e comercialização (OLIVEIRA, 2007). Entretanto, sem dúvida, o avanço 
técnico foi impulsionado por grandes empresas multinacionais que associaram a 
necessidade do campo ao acúmulo de capital. Porém, o que é produzido não 
chega a todos de maneira igual, como nem todos têm o direito de produzir com 
eficiência, já que o capitalismo dita as regras de produção e comercialização. Para 
a compreensão da estrutura é necessário que o ensino de Geografia esteja voltado 
para a explicação da lógica do modo de produção capitalista. 
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL
51
“A concentração fundiária no Brasil é resultado de uma distribuição de terra 
que aconteceu no passado de forma desordenada e destinada, muitas vezes, a quem não 
precisava. Sem contar que os lotes de terra eram gigantescos. Atualmente, grande parte 
das terras brasileiras se encontra nas mãos de uma minoria de famílias, o que promove 
o surgimento de uma enorme quantidade de trabalhadores desprovidos de terras para 
cultivar o seu sustento e de sua família.
A disparidade existente na estrutura fundiária brasileira gera a insatisfação de várias classes 
da sociedade (trabalhadores rurais, cientistas políticos, sociólogos, entidades religiosas, entre 
outros), que apoiam a implantação da reforma agrária. Esse pensamento está alicerçado 
em dois pontos determinantes: o primeiro é o fator social e o segundo, o econômico. O 
fator social está relacionado ao fato de que há milhares de famílias que precisam de um 
pedaço de terra para cultivar seu alimento, o que também, de certa forma, torna-se o seu 
emprego. Já o fator econômico refere-se aos objetivos ligados à produção de alimentos 
para o abastecimento interno, forçando a diminuição dos seus preços, que recentemente 
foram inflacionados diante da crise mundial de alimentos. Incluindo ainda que esses 
pequenos produtores podem se tornar exportadores para diversos países do mundo, o que 
contribuiria para a economia do país.
Na tentativa de solucionar os fatores citados acima, a Nova Constituição Federal de 1988 
trouxe um artigo que determina a aplicação da reforma agrária em propriedades rurais 
que se encontram na categoria de improdutivas. No entanto, o artigo deixou falhas 
por não expressar especificamente o que caracteriza uma propriedade improdutiva. 
O desprovimento de informações específicas quanto a esse tipo de propriedade gerou 
a ascensão dos problemas relacionados à luta pela terra, surgindo, inclusive, confrontos 
armados que deixaram mortos e feridos, como o massacre do Eldorado dos Carajás (Pará).
A imprecisão de informações leva os sem-terra a interpretarem “ao pé da letra” o artigo da 
Constituição Federal, portanto, quando esse grupo visualiza uma propriedade improdutiva, 
eles se veem no direito de invadi-la. Do outro lado da questão, estão os proprietários dessas 
terras que sempre negam essa condição, afirmando que elas são produtivas e que a invasão 
não passa de um ato ilegal e criminoso. Nesse caso, o proprietário aciona o poder público, 
exigindo uma atitude”.
FONTE: http://profisabelaguiar.blogspot.com/2014/12/voce-sabe-o-que-e-reforma-agraria.
html. Acesso em: 20 fev. 2019.
IMPORTANT
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52
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
FIGURA 29 – CHARGE “KOIZAS DA VIDA” – A HEREDITARIEDADE DA TERRA
FONTE:<http://4.bp.blogspot.com/VzSAfIuHEBw/UsrCP728qEI/AAAAAAAADX8/Ph4Up39t7dw/
s1600/CHARGE-01-FABIANO-CARTUNISTA.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019.
Por fim, observamos que há diversas contradições no desenvolvimento do 
capitalismo, pois a produção do capital nunca decorre de relações especificamente 
capitalistas de produção, fundadas no trabalho assalariado e no capital. Para 
que a relação capitalista ocorra é necessário que seus dois elementos centrais 
estejam constituídos, ou seja, o capital produzido e os trabalhadores despojados 
dos meios de produção. Entre as relações não capitalistas de produção estão o 
campesinato ou agricultura camponesa e familiar e a propriedade capitalista 
da terra das grandes empresas do agronegócio atual, baseadas na sujeição da 
renda da terra ao capital, pois assim o capital pode subordinar a produção de tipo 
camponês, especular com a terra, comparando-a e vendendo-a e por isso sujeitar 
o trabalho que se dá na terra, sem que o trabalhador seja expulso, sem que se dê 
a expropriação de seus instrumentos de produção.
2.1 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMO NO BRASIL
No capitalismo, “[...] o processo de produção do espaço social determina 
as suas formas por meio das relações sociais, que são compreendidas na tríade 
formada pelo capital, trabalho assalariado e propriedades fundiárias [...]” 
(FERNANDES, 1999, p. 24). A partir da citação podemos analisar que os espaços 
agrários nos países desenvolvidos se deram de maneira diferente dos países 
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento como é o caso do Brasil. 
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL
53
A desigualdade no espaço rural do Brasil torna-se muito mais acirrada nas 
áreas afastadas dos grandes centros urbanos do centro-sul brasileiro em direção ao 
interior dos estados da federação, como algumas áreas da Amazônia e do centro 
oeste brasileiro. Nestas áreas rurais, há uma grande gama de pobreza e difícil acesso 
para a produção dos pequenos agricultores familiares no qual gera um problema 
sistêmico e em cadeia generalizada nos países subdesenvolvidos, pois com essa 
concentração fundiária, teremos a presença do latifúndioe consequentemente o 
aumento dos trabalhadores sem-terra, dos conflitos fundiários, das ocupações e 
da pobreza tanto no campo como na cidade.
FIGURA 30 – CONCENTRAÇÃO DE TERRAS NOS GRANDE LATIFÚNDIOS
FONTE: <http://brasil.agenciapulsar.org/wp-content/uploads/2017/07/CHARGE-REFORMA-
AGR%C3%81RIA-1985.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019
De acordo com Guanziroli et al. (2001, p. 15):
Os capitalistas que hoje ostentam os melhores indicadores de 
desenvolvimento humano, dos Estados Unidos ao Japão, apresentam 
um traço comum: a forte presença da agricultura familiar, cuja 
evolução desempenhou um papel fundamental na estruturação 
de economias mais dinâmicas e de sociedades mais democráticas 
e equitativas. A expansão e dinamismo da agricultura familiar 
basearam-se na garantia do acesso à terra que em cada país assumiu 
uma forma particular, desde a abertura da fronteira oeste americana 
aos ‘farmers’ até a reforma agrária compulsória na Coreia e em Taiwan 
[...] a agricultura familiar desempenhou um papel estratégico [...] o de 
garantir uma transição socialmente equilibrada entre uma economia 
de base rural pra uma economia urbana e industrial.
O desenvolvimento perpassa os aspectos econômicos, sociais, culturais 
e ambientais e para que haja equilíbrio no campo será necessária uma maior 
distribuição da terra, ou seja, a exploração agrícola com base na pequena 
agricultura familiar e de subsistência.
54
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
 No Brasil as políticas agrárias têm sido debatidas a partir da proclamação 
da constituição de 1988 quando um dos textos da nova carta magma, a política 
agrária, começou a ser debatido. Infelizmente temos pouco apoio dos três poderes 
da nossa República Federativa e pouco engajamento político para tratar e definir 
metas efetivas sobre essa questão, pois há interesses particulares de grandes 
produtores rurais e nos esquecemos das verdadeiras problemáticas sociais do 
campo.
FIGURA 31 – AGRONEGÓCIO E O SOCIAL NO ESPAÇO RURAL
FONTE: <http://brasil.agenciapulsar.org/wp-content/uploads/2015/03/guarani-kaiowa-
agronegocio.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019
O Brasil é caracterizado como um dos países com a maior concentração 
de terras do mundo e onde a maioria dos camponeses ou pequenos agricultores 
continuam sem ter uma área para cultivar. As conclusões fazem parte de um 
balanço realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre os fatos ocorridos 
no período de 2011 a 2014 e mostra que no período pesquisado aconteceram os 
piores indicadores em matéria de reforma agrária dos últimos 20 anos. De acordo 
com Fernandes (2001, p. 23-24):
A questão agrária é o movimento do conjunto de problemas relativos 
ao desenvolvimento da agropecuária e das lutas de resistência dos 
trabalhadores, que são inerentes ao processo desigual e contraditório 
das relações capitalistas de produção [...] os problemas referentes à 
questão agrária estão relacionados, essencialmente, à propriedade da 
terra, consequentemente à concentração da estrutura fundiária; aos 
processos de expropriação, expulsão e exclusão dos trabalhadores 
rurais: camponeses e assalariados; à luta pela terra, pela reforma agrária 
e pela resistência na terra; à violência extrema contra os trabalhadores, 
http://brasil.agenciapulsar.org/mais/politica/brasil-mais/mst-pressiona-por-reforma-agraria-no-espirito-santo/
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL
55
à produção, abastecimento e segurança alimentar; aos modelos de 
desenvolvimento da agropecuária e seus padrões tecnológicos, às 
políticas agrícolas e ao mercado, ao campo e à cidade, à qualidade 
de vida e dignidade humana [...] a questão agrária compreende as 
dimensões econômica, social e política. 
2.2 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL – SÉCULO XXI
A questão agrária no início de século XXI acende novas e velhas questões 
sobre a questão da terra no Brasil desde a época colonial, a concentração de terras 
e a exploração pelos grandes latifundiários monocultores. A grande diferença 
está na contínua modernização e mecanização do sistema de produção agrário ao 
longo das últimas décadas do século XX e século XXI.
FIGURA 32 – OCUPAÇÃO DE TERRAS NO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
FONTE: <https://www.embrapa.br/documents/1355154/1529080/Gráfico+-
+ocupação+de+terras+no+Brasil+-+apresentação+Blairo+GAF/65352537-3395-4513-ba9c-
bcf794cfa478?t=1467741265151>. Acesso em: 19 fev. 2019.
56
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
Delgado (2010), sobre a questão agrária, comenta que atualmente há 
prevalência do agronegócio no modelo agrário brasileiro, ou seja, a antinomia 
“reforma agrária” versus “modernização técnica”. A abordagem de Delgado 
(2010) é centrada na perspectiva econômica, porém observaremos sob o olhar 
geográfico, abordando questões correlacionadas e que conformam o cerne da 
questão agrária brasileira no início de século.
FIGURA 33 – MODELO AGRÁRIO E AGRÍCOLA DO BRASIL ATUAL.
FONTE: <https://pt.slideshare.net/LarissaSantos19/slides-aula-11-modelo-agrrio-agrcola>. Acesso 
em: 23 fev. 2019.
A concentração fundiária não é uma novidade na história brasileira, pois se 
ressignifica a cada momento e o mesmo pode ser dito sobre a internacionalização 
da agricultura. Se a colonização foi o marco inicial da invasão estrangeira – do 
ponto de vista dos povos “indígenas” (tupis, guaranis, xavantes, ynanomamis 
e tantos outros) – hoje vivemos uma nova onda de internacionalização da nossa 
agricultura, expressa no domínio dos espaços agrários por grandes empresas 
transnacionais e na compra de terras por empresas, fazendeiros e fundos 
financeiros estrangeiros.
 No dizer de David Harvey (2004, p. 121), estamos diante de um processo 
de renovação do imperialismo, baseada na acumulação por espoliação:
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL
57
Todas as características da acumulação primitiva que Marx menciona 
permanecem fortemente presentes na geografia histórica do 
capitalismo até nossos dias. A expulsão de populações camponesas e 
a formação de um proletariado sem-terra tem se acelerado em países 
como o México e a Índia nas três últimas décadas; muitos recursos 
antes partilhados como a água, têm sido privatizados (com frequência 
por insistência do Banco Mundial) e inseridos na lógica capitalista 
da acumulação; formas alternativas (autóctones e mesmo, no caso 
dos Estados Unidos, mercadorias de fabricação caseira) de produção 
e consumo têm sido suprimidas. Indústrias nacionalizadas têm sido 
privatizadas. O agronegócio substitui a agricultura familiar. E a 
escravidão não desapareceu (particularmente no comércio sexual).
A produção agropecuária brasileira vem crescendo de forma extraordinária 
principalmente na segunda metade do século XX em diante. Estima-se que 80,6% 
do crescimento da produção agropecuária no país se referem aos ganhos de 
produtividade entre os anos de 1975 a 2016. 
O crescimento da produção e da produtividade resultou em um grande 
alongamento da cadeia produtiva agrícola, com a expansão de vínculos com 
as indústrias de fornecimento e de processamento, bem como com a crescente 
ligação com os serviços sofisticados de pesquisa, de experimentação e difusão, 
de consultorias em áreas da tecnologia da informação, da genética animal, da 
agricultura de precisão e demais serviços relacionados com a propriedade e 
indústrias da cadeia de produção. Infelizmente ainda não está reconhecida a 
importância e os efeitos positivos da expansão da agropecuária na economia 
brasileira. 
É conhecida a contribuição positiva da produção de biocombustíveis para 
o meio ambiente. Os biocombustíveis são produzidos a partir da cana-de-açúcar 
e são atestados internacionalmente. Práticas reconhecidamente nocivas como o 
despejo de vinhoto nos rios são coisas do passado.
Em 2014 o setor agropecuário era um segmento muito grande. A cadeia 
produtiva é longa e provavelmente representa 25% do PIB. O ano de 2013 foi exemplar, pois 
enquanto a indústria cresceu1,3% e o setor de serviços 2%, a agropecuária expandiu 7%. 
FONTE: http://www.agricultura.gov.br/noticias/agropecuaria-puxa-o-pib-de-2017. Acesso 
em: 20 fev. 2019.
NOTA
58
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
Os segmentos industriais ligados ao agro foram os que tiveram melhor 
desempenho: caminhões, tratores, implementos, fertilizantes, defensivos e 
produtos veterinários. Contrapor agricultura com a indústria é um conceito 
superado. Boa parte da indústria trabalha em conjunto com a produção agrícola 
e demonstra forte dinamismo tecnológico, compondo o que se chama de 
agronegócio.
FIGURA 34 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NO CAMPO
FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_legenda/
aceef70abc091dc82939f5ea7cb96eef.jpg>. Acesso em: 23 fev. 2019
O processo de desenvolvimento econômico caracteriza-se por uma 
constante mudança e uma sucessão de desafios que surgem a cada sucesso. 
Fatores externos sempre apresentam novas agendas como é o caso da discussão 
sobre o aquecimento global e os seus impactos no setor, algo inexistente há 15 
anos. Apesar do enorme avanço e da mudança no crescimento agrícola a lista 
atual de desafios continua grande. É o que tentamos mostrar em seguida. 
A infraestrutura brasileira ficou pequena para acomodar o extraordinário 
crescimento da produção e dos mercados. Individualmente é sem dúvida o maior 
problema do setor, uma vez que os gastos com o complexo armazém-transporte-
porto estão se tornando proibitivos e já limitam a expansão da área plantada. É 
uma questão conhecida e não evolui com o passar do tempo, ficando estagnada.
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL
59
Novos corredores de exportação, particularmente a construção de uma 
saída pelo norte do país, são indispensáveis e continuarão a pressionar o sistema 
produtivo mesmo que amadureçam alguns projetos mais viáveis para a solução 
da questão. Certamente a infraestrutura só melhorará quando a confiança e a 
regulação possa atrair grupos consideráveis de capital privado.
 Na verdade, a melhor forma de aumentar a produtividade da economia 
brasileira nos dias de hoje é a construção de uma boa solução logística. Isso vale 
tanto para o campo quanto para a cidade. Ganhos nessa área implicarão mais 
renda e produção, mais exportações e com preços menores para os consumidores. 
O sucesso do pacote tecnológico desenvolvido nas últimas décadas 
introduz permanentes desafios agronômicos tanto para a pesquisa quanto para a 
produção. Neste último caso, a intensificação dos cultivos num ambiente tropical 
mantém a porta aberta para novas pragas como foi o caso recente da rápida 
expansão da ameaçadora lagarta exótica Helicoverpa armigera que ainda desafia o 
agricultor e acrescenta mais custos à produção. 
É preciso registrar que a verdadeira solução teria de passar por uma 
ampliação de atividades preventivas (rotação de culturas, manejo integrado de 
pragas, vazio sanitário e áreas de refúgio) que são atendidas apenas de forma 
parcial. Por sua vez, os desafios agronômicos foram apontados no excelente 
artigo Sete teses sobre o mundo rural brasileiro (conferir nas Referências). Do ponto 
de vista institucional cabe registrar que o Ministério da Agricultura, Pecuária e 
Abastecimento está muito enfraquecido (terceiro desafio). A contínua troca de 
titulares numa estrutura na qual operam quase 40 ministérios torna a coordenação 
entre unidades quase impossível. Entretanto, a maior parte da agenda que afeta o 
setor é multidisciplinar e extrapola a atuação do Ministério da Agricultura o que 
torna extraordinariamente difícil o encaminhamento satisfatório das questões 
regulatórias. 
É particularmente verdadeiro no que tange à aprovação de novas 
variedades geneticamente modificadas, aos novos defensivos e produtos 
veterinários de qualquer natureza. Por trás dessa situação existe mais do 
que confusão burocrática: existe uma questão ideológica não resolvida e mal 
acomodada no nosso presidencialismo de coalisão. A resistência hoje está 
fortemente concentrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) 
que sistematicamente tenta impedir a aprovação de produtos ecologicamente 
equilibrados já em uso em regiões que têm grande cuidado com o meio ambiente, 
como a Europa. 
Os mecanismos de transferência de grãos não funcionaram a contento e a 
perda de capital dos agricultores foi enorme. O adequado manejo de água no país 
ainda é limitado. Buainain et al (2013, p. 20) declaram que
60
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
O caso do rio São Francisco é revelador: o rio está definhando, os 
prometidos programas de revitalização não ocorreram, e o projeto de 
transposição está inconcluso. Além disso, é possível que as outorgas 
de água para irrigação tenham ido além do razoável, o que estaria 
impedindo a recomposição dos reservatórios na região e reduzindo 
a produção de energia elétrica. O país simplesmente não tem ainda 
um bom programa de manejo integrado de água, algo que está se 
tornando um problema global. 
Uma questão antiga – as relações de trabalho na agricultura – ainda 
permanece tumultuada, a despeito do fato de o documento legal que estatui 
normas para o trabalho no campo ser datado de 1973. Questões ligadas à jornada 
de trabalho, ao transporte e à alimentação de trabalhadores não residentes na 
propriedade são objeto de disputa judicial com alguma regularidade. Esse também 
é o caso dos trabalhadores migrantes, aqueles provenientes de outras regiões, 
que são contratados temporariamente para períodos de colheita (os chamados 
safristas). Até hoje não existe uma regulamentação adequada para o trabalho 
temporário, atividade rural obrigatória no mundo inteiro, em épocas de colheita. 
Ademais, aqui e ali emergem denúncias de trabalho escravo nessas regiões, onde 
os trabalhadores são invariavelmente submetidos a situações degradantes de 
alimentação, habitação, saúde, higiene e segurança. 
Finalmente, uma questão tipicamente urbana inseriu-se no contexto rural: 
a disputa sobre a terceirização das atividades. Já é antiga a acusação feita por 
sindicatos e aceita pelo Ministério Público e pela Justiça do Trabalho de que a 
terceirização de atividades da forma como é tratada, é sinônimo de precarização 
dos serviços, o qual leva as autoridades a não aceitar a terceirização se a julgarem 
como atividade-fim da empresa. Como não há uma definição que discrimine com 
clareza a atividade-meio da atividade-fim prevalece a interpretação do juiz, o 
qual vira objeto de inúmeras contestações por parte dos empresários que por sua 
vez argumentam, com alguma razão, que no mundo moderno muitas atividades 
são exercidas por grupos de empresas. 
FIGURA 35 – SISTEMA INTEGRADO DE PRODUÇÃO
FONTE: <https://3rlab.files.wordpress.com/2016/10/sistema-integrado-1.jpg?w=474&h=276>. 
Acesso em: 23 fev. 2019.
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL
61
Um exemplo comum de ampliação de tecnologia na produção no campo 
brasileiro é a da informática: para a maior parte das empresas a contratação de 
terceiros é decisiva, pois não possuem nem porte nem capacidade financeira para 
manter uma equipe própria. No caso da agricultura, existe uma ação antiga que 
busca evitar a atividade de terceirização de plantio, de cultivo e de colheita de 
laranjas, operadas pelas grandes indústrias de suco.
Para Vieira, Figueiredo e Reis (2014, p. 1085),
Diante dessas considerações, o futuro da agricultura no Brasil passa, 
primeiramente, pela manutenção dos ganhos de produtividade das 
regiões ricas, notadamente o aumento da produtividade da terra 
com ênfase na extensão da safra. Secundariamente, mas não menos 
importante, a agricultura do estado dependerá mais uma vez do 
seu principal ativo, o capital humano, para incorporação de novas 
produções e de áreas marginais à economia.
Neste sentido, a infraestrutura deve ser considerada, especialmente a 
questão logística e a energética o qual requernovos modelos de participação 
do poder público. Deve-se incentivar a participação de fontes renováveis de 
energia, como etanol, biodiesel e eletricidade gerada a partir da biomassa e 
estabelecer rotas alternativas para o transporte das safras, cada vez maiores, com 
o estabelecimento de hidrovias e melhorar o acesso aos portos da região norte 
do país. Os investimentos, até pelo porte financeiro, não podem ficar a cargo 
exclusivo do poder público, no entanto, sua presença é fundamental na medida 
em que as soluções requerem novos arranjos institucionais que não se viabilizam 
sem uma firme e clara liderança do poder público.
62
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL
LEITURA COMPLEMENTAR
O papel e a importância da agricultura familiar no desenvolvimento rural 
brasileiro contemporâneo
Lauro Mattei
Desde o início do processo de ocupação do território brasileiro a 
agricultura familiar – por muito tempo chamada de agricultura de subsistência – 
faz parte da rotina das atividades produtivas do país. Todavia, ao longo de todo 
período imperial, e também nos períodos subsequentes, este tipo de agricultura 
não recebeu praticamente nenhum apoio governamental para se desenvolver 
adequadamente. 
Constata-se, ainda, que durante o processo de modernização da agricultura 
brasileira (décadas de 1960 e 1970), as políticas públicas para a área rural, em 
especial a política agrícola, privilegiaram os setores mais capitalizados e a esfera 
produtiva das commodities voltadas ao mercado internacional e produzidas nos 
grandes latifúndios, com o objetivo de fazer frente aos desequilíbrios da balança 
comercial do país. Para o setor da agricultura familiar, o resultado dessas políticas 
foi altamente negativo, uma vez que grande parte desse segmento ficou à margem 
dos benefícios oferecidos pela política agrícola, sobretudo nos itens relativos ao 
crédito rural, aos preços mínimos e ao seguro da produção.
De um modo geral, se pode dizer que até o início da década de 1990 não 
existia nenhum tipo de política pública, com abrangência nacional, voltada ao 
atendimento das necessidades específicas do segmento social de agricultores 
familiares, o qual era, inclusive, caracterizado de modo meramente instrumental 
e bastante impreciso no âmbito da burocracia estatal brasileira. 
Neste cenário foi criado, em 1996, o Programa Nacional de Fortalecimento 
da Agricultura Familiar (PRONAF), para atender a uma antiga reivindicação 
das organizações dos trabalhadores rurais, as quais demandavam a formulação 
e a implantação de políticas de desenvolvimento rural específicas para o maior 
segmento da agricultura brasileira, porém o mais fragilizado em termos de 
capacidade técnica e de inserção nos mercados agropecuários.
FONTE: https://ren.emnuvens.com.br/ren/article/view/500/396. Acesso em: 24 fev. 2019
63
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A questão agrária no capitalismo contemporâneo e as novas concepções sobre 
o espaço rural, as transformações que vem ocorrendo no meio agrário no Brasil 
e no mundo através da ótica do sistema econômico capitalista.
• O crescimento do espaço rural brasileiro apresenta distorções no 
desenvolvimento, criando épocas e períodos diferentes nos níveis de 
crescimento econômico no campo em nosso país, acirrando as desigualdades 
sociais na atualidade.
• Neste momento social, econômico e político aos quais o Brasil e o Mundo tem 
passado que a ocupação e exploração dos espaços rurais tem enfatizado a 
exploração do capital humano e aumentando a participação – nas economias – 
dos países nas atividades agropecuárias e extrativistas.
• O avanço e a modernização da agropecuária e a ampliação do uso de tecnologias 
em nosso país e regiões, antes não exploradas, para fins agrários se tornando 
novos territórios agroindustriais e exportadores.
64
1 Até hoje não existe uma regulamentação adequada para o trabalho 
temporário, atividade rural obrigatória no mundo inteiro, em épocas de 
colheita. Ademais, aqui e ali emergem denúncias de trabalho escravo nessas 
regiões, onde os trabalhadores são invariavelmente submetidos a situações 
degradantes de alimentação, habitação, saúde, higiene e segurança. 
Finalmente, uma questão tipicamente urbana inseriu-se no contexto rural: a 
disputa sobre a terceirização de atividades.
Como podemos descrever a atuação da terceirização do trabalho nos espaços 
rurais no Brasil conforme a Lei nº 13.429/2017 que alterou a Lei nº 6.019/74, 
pois mudanças substanciais foram estabelecidas nas relações de trabalho com 
a empresa de prestação de serviços a terceiros, principalmente sob o aspecto 
da possibilidade do contrato de trabalhadores para o exercício da atividade-
fim?
2 O Brasil é caracterizado como um dos países com a maior concentração de 
terras do mundo e cerca de 200 mil camponeses continuam sem ter uma 
área para cultivar. As conclusões fazem parte de um balanço realizado pela 
Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre os fatos ocorridos no período de 
2011 a 2014 e mostra que nos quatro anos pesquisados aconteceram os 
piores indicadores em matéria de reforma agrária dos últimos 20 anos.
Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O Brasil possui uma política agrária bem estruturada e definida desde o 
início da Nova República.
b) ( ) Os problemas referentes à questão agrária estão relacionados 
essencialmente com a propriedade da terra, consequentemente com a 
concentração da estrutura fundiária, com os processos de expropriação, 
expulsão e exclusão dos trabalhadores rurais.
c) ( ) O crescimento da produção e da produtividade resultou em um grande 
alongamento da cadeia produtiva agrícola, com a expansão de vínculos 
entre as indústrias de fornecimento e de processamento e com a crescente 
ligação com os serviços sofisticados.
d) ( ) O processo de desenvolvimento econômico no espaço rural brasileiro 
não é caracterizado por uma constante mudança e uma sucessão de desafios 
que surgem a cada sucesso no sistema produtivo nacional, favorecendo 
todo o sistema produtivo.
AUTOATIVIDADE
http://brasil.agenciapulsar.org/mais/politica/brasil-mais/mst-pressiona-por-reforma-agraria-no-espirito-santo/
65
3 Para que a relação capitalista ocorra é necessário que seus dois elementos 
centrais estejam constituídos, ou seja, o capital produzido e os trabalhadores 
despojados dos meios de produção. Entre as relações não capitalistas de 
produção estão o campesinato ou agricultura camponesa e a propriedade 
capitalista da terra, baseadas na sujeição da renda da terra ao capital, 
pois assim o capital pode subordinar a produção de tipo camponês, pode 
especular com a terra, comparando-a e vendendo-a e por isso sujeitar o 
trabalho que se dá na terra, sem que o trabalhador seja expulso, sem que se 
dê a expropriação de seus instrumentos de produção. 
Sobre o termo campesinato ou agricultura camponesa, assinale a alternativa 
CORRETA:
a) ( ) Utiliza para o seu crescimento o foco na produção junto ao agronegócio 
e as exportações, desenvolvendo todos os segmentos de produção do espaço 
rural.
b) ( ) Atribui-se ao campesinato à prática da agricultura familiar ou 
camponesa sem grandes investimentos financeiros para a produção 
familiar.
c) ( ) O termo campesinato é utilizado para definir agricultores das 
cooperativas agrícolas que fornecem sua produção diretamente para as 
agroindústrias.
d) ( ) Trata-se de agricultura camponesa ou campesinato a prática de 
produção agropecuária voltada para a exportação de produtos agrícolas. 
66
67
UNIDADE 2
ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer os conceitos pertinentes aos temas: rural, novas ruralidades e a 
relação entre campo cidade;
• compreender os desafios e possiblidades da nova ruralidade e observar as 
convergências de olhares entre o rural e o urbano;
• compreender como se deu o desenvolvimento dos processos de moder-
nização, industrializaçãoe formação dos complexos agroindustriais no 
Brasil e no mundo;
• entender os sistemas agrícolas contemporâneos e a sustentabilidade em 
âmbito global na América Latina e no Brasil;
• compreender a estrutura dos complexos industriais no decorrer do 
processo de modernização, industrialização e formação dos complexos 
agroindustriais no mundo e no Brasil.
Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você 
encontrará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados.
TÓPICO 1 – NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE.
TÓPICO 2 – OS PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, 
INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS 
AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL.
TÓPICO 3 – OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A 
SUSTENTABILIDADE.
Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em 
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás 
melhor as informações.
CHAMADA
68
69
TÓPICO 1
NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, os estudos referentes ao Espaço Rural e a sua configuração 
na Modernidade – caracterizado por mudança de vida, comportamento e acesso 
as tecnologias no campo – iniciaram pelos anos de 1970, sobretudo nos Estados 
Unidos da América e França.
Como foi mencionado por Wanderley (2009, p. 203): “[...] os chamados 
países do capitalismo são frequentemente vistos, senão como modelos, pelo 
menos como referências que apontam os rumos das transformações econômicas e 
sociais que demais países tenderão de alguma forma a vivenciar”. Essa disposição 
é baseada nas inúmeras transformações socioeconômicas pelas quais o mundo 
passou ao longo do processo histórico que sucederam primeiramente nos países 
desenvolvidos e posteriormente nos países subdesenvolvidos.
Tem-se evidenciado que nos últimos anos existe uma significativa 
disposição para a relação da vida em espaços rurais como a mais apropriada 
aos habitantes da cidade. Deste modo, ocorre a valorização do espaço rural, 
já que é relacionada à natureza, pois constata-se que a urbanização é ligada à 
industrialização, em especial a industrialização da agricultura que estava acabando 
com os poucos vestígios naturais de que existem na Terra. Nesse contexto, os 
habitantes da cidade enxergam o campo como um escape do estresse e tentam 
desfrutar das qualidades do espaço rural, resultando numa grande procura deste 
espaço para a construção de uma segunda moradia ou mesmo definitiva ou ainda 
para praticar o turismo rural. 
Esta nova configuração do Espaço Rural e a nova relação entre Rural e 
Urbano são nosso foco de estudo.
2 PRINCIPAIS CONCEITOS E TEMAS DA NOVA RURALIDADE
O conceito de rural ou de urbano são idênticos a tantos outros que só 
existem em relação direta com o seu oposto tal como acontece com a pobreza e 
a riqueza, por exemplo. Para pensar os termos da relação entre os dois polos, a 
primeira dificuldade que se impõe é justamente a própria delimitação. É preciso 
reconhecer a especificidade do rural, não para separá-lo do urbano, mas para 
integrá-lo de maneira complementar.
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
70
Portanto, para entendermos a questão envolvendo a Nova Ruralidade em 
seus aspectos de relações sociais, políticas e econômicas, é necessário também 
entender a construção do meio urbano e a sua relação com o campo nos últimos 
tempos. Nas palavras de Lobão (2018, p. 2) “[...] novas funcionalidades e novos 
modelos [...]” do rural tem modificado as suas relações sociais e econômicas a 
partir das novas necessidades da sociedade, como por exemplo, a ampliação da 
produtividade agrícola. Essas novas funcionalidades e novos modelos resultam 
na nova ruralidade”.
Na base da emergência da nova ruralidade de acordo com Abramovay 
(2003), há pelo menos uma transformação qualitativa na articulação das três 
dimensões principais que admitem a definição do rural: a proximidade com a 
natureza, a relação com as cidades e as relações interpessoais resultantes da baixa 
densidade populacional. Quanto a proximidade com a natureza: os recursos 
naturais antes destinados à produção de bens primários, são atualmente objeto 
de novas formas de utilidade social, principalmente voltados à conservação da 
biodiversidade, o bom emprego das potencialidades paisagísticas e a procura 
de fontes renováveis de energia. Já a relação com as cidades: nesta dimensão os 
espaços rurais dão lugar a uma maior distinção e relação intersetorial de suas 
economias. Quanto aos relacionamentos interpessoais: trocam a homogeneidade 
e o isolamento pela ação crescente de distinção de um indivíduo do outro e 
de heterogeneização, combinada com maior mobilidade física, com a nova 
representação populacional e com a crescente conexão entre negócios antes 
nitidamente independentes no rural e no urbano, comércios de bens e serviços.
Para se compreender o rural sob um aspecto não normativo é preciso adotar 
dois processos. No primeiro existe a necessidade de perceber o desenvolvimento 
(desenvolvimento não é o mesmo que crescimento da economia) não como uma 
ideia, mas sim pelos conceitos descritos num “[...] dever ser [...]” (RIVERO, 2003 
apud FAVARETO, 2007, p. 2), porém, “[...] como evolução de configurações sociais 
determinadas, analisando as interdependências entre meio-ambiente, instituições 
e estruturas sociais a partir de um enfoque de sua trajetória em longo prazo” 
(RIVERO, 2003 apud FAVARETO, 2007, p. 2). Já o segundo, é a definição que 
consiste na peculiaridade deste “[...] tipo de espaço que é o rural [...]” (FAVARETO, 
2006 apud FAVARETO, 2007, p. 2). 
Para entendermos na prática a nova ruralidade e os novos objetivos para a 
produção do desenvolvimento econômico no Brasil, precisamos entender que esses 
espaços de produção agrícola estão se tornando cada vez mais dinâmicos em um processo 
de constante mudanças devido ao consumo humano, ou seja, a nova ruralidade converte-
se em espaços de consumo. O que acarreta em termos geográficos essas mudanças?
ATENCAO
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE
71
Atualmente é quase comum adicionar o adjetivo “novo” ao se falar da 
característica do rural no mundo moderno. Comenta-se em “novo rural” ou em 
“novas ruralidades” e em muitos casos sem uma análise aprofundada em esclarecer 
o que é atual e o que é contínuo. Isto implica, principalmente, em conhecer qual 
o resultado desta nova condição, “[...] insinuada pela adjetivação crescentemente 
vista na bibliografia sobre estudos rurais, em termos de instâncias empíricas 
fundamentais e de articulações conceituais para entendê-las” (FAVARETO, 2007, 
p. 2). 
De acordo com Favareto (2006, p. 103), “[...] a oposição campo-cidade se 
desloca para a contradição rural-urbano”. Enquanto a primeira diz respeito:
[...] ao contraste entre espaços, sendo os campos o lugar de realização 
de atividades predominantemente primárias, destacadamente a 
agricultura, na segunda o estatuto fundante da distinção desloca-se 
para o grau de artificialização destes espaços e seus impactos para os 
modos de vida, exigindo assim uma abordagem capaz de combinar 
critérios ecológicos com outros de caráter social e econômico. O rural 
mostra-se não mais uma categoria passível de ser apreendida em 
termos setoriais e sim territoriais (FAVARETO, 2006, apud PRADO; 
RIBEIRO, 2017, p. 53).
O rural tem sido estudado por distintas pesquisas agrárias e estas têm 
comprovado nas últimas décadas a formação de uma “ruralidade contemporânea” 
para Carneiro (1999) ou um “novo rural” de acordo com Graziano (1999) ou 
segundo Wanderley (2000) uma “nova ruralidade”. Segundo estes pesquisadores, 
o espaço rural não pode ser mais tomado tão somente como o conjunto de 
atividades agropecuárias e agroindustriais em benefício da sua modernização 
e mecanização; da crise reprodutiva da agricultura familiar; das novas funções 
e novos tipos de atividades no campo; e da conformação de novas identidades 
sociais no ambiente rural. 
Existem questionamentos sobre um novo rural. A articulaçãoentre a 
atividade não-agrícola com a agricultura por membros de famílias camponesas 
é um método tão antigo quanto é o campesinato brasileiro (CARNEIRO, 2006). 
Deste modo, poderíamos concluir que o rural exclusivamente agrícola nunca 
existiu em algum período da história. Já na concepção de Veiga (2004, p. 64), “[...] 
o que é novo nessa ruralidade pouco tem a ver com o passado, pois nunca houve 
sociedades tão opulentas como as que hoje estão valorizando sua relação com a 
natureza”. 
Quanto a nova ruralidade para Wanderley (2000), é uma construção 
histórica que comporta uma dimensão produtiva e uma dimensão patrimonial a 
ser desfrutada e conservada. Em concordância com esse conceito Favareto (2006) 
esclarece que a nova ruralidade não se limita às travessas clássicas de concepção 
das dinâmicas rurais, dentre os quais se sobressaem o econômico. 
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
72
A ruralidade seriam as características de tudo aquilo que se está relacionada 
à vida rural, as condições materiais e morais da existência das populações 
rurais. Nesta concepção “[...] a ruralidade não é uma realidade “empiricamente 
observável”, no entanto uma “representação social”, determinada culturalmente 
por atores sociais (CARNEIRO, 1999, p. 162 apud MENEGATI; HESPANHOL, 
2005, p. 2). Os autores citam o conceito de ruralidade de acordo com Abramovay 
(2000): 
[...] de natureza territorial e não setorial e o mesmo se aplica à noção 
de urbano. As cidades não são definidas pela indústria nem o campo 
pela agricultura [...] Ainda que em muitos casos a agricultura ofereça 
o essencial das oportunidades de emprego e geração de renda em 
áreas rurais, é preferível não defini-las por seu caráter agrícola. Há 
evidências de que os domicílios rurais (agrícolas e não-agrícolas) 
engajam-se em atividades econômicas múltiplas, mesmo nas regiões 
menos desenvolvidas. Além disso, conforme as economias rurais se 
desenvolvem, tendem a ser cada vez menos dominadas pela agricultura 
(ABRAMOVAY, 2000, p. 7 apud MENEGATI; HESPANHOL, 2005, p. 
2). 
A partir da década de 1980 o Brasil sofreu grandes mudanças nas relações 
rural/urbano. Ocorreu o êxodo rural devido à Revolução Verde que estimulou 
uma massa de trabalhadores às grandes cidades, originando ao mesmo tempo 
transformações nas relações de produção no ambiente rural (VILELA, 2002), 
bem como crise do modelo vigente atual de acordo com Vilela (2002), de modo 
paralelo a um processo de desestruturação/reestruturação do ambiente rural, em 
que os afazeres rurais mais tradicionais apresentam sua importância econômica 
diminuída, cedendo lugar a outros afazeres que são criados ou recriados com 
uma eficácia socioeconômica significativa em relação até mesmo aos trabalhos 
não-agrícolas.
O atendimento à demanda urbana passa a reestruturar o ambiente rural 
em conjunturas sociopolíticas reservadas, originando oportunidades de mercado 
altamente distintas para inúmeros grupos de renda (VILELA, 2002). Estão inclusas 
uma grande extensão de bens localizados como: residência, atividades de lazer, 
áreas de conservação, entre outras, servindo em grande parte para atender à classe 
média urbana contemporânea que procura o ambiente rural para fugir da vida 
urbana. Deste modo, uma grande variedade de atores novos e velhos competem 
por recursos nesse ambiente rural, de acordo com Vilela (2002, p. 99):
[...] no qual a agricultura poderá tornar-se crescentemente residual, 
ainda que os agricultores mantenham uma presença social e ideológica 
representativas do rural e de seu caráter territorial. O espaço 
rural passa, assim, a ser palco do surgimento de novas categorias 
socioprofissionais, dotadas de experiências as mais diversas, em busca 
de um lugar em um velho/novo espaço revalorizado. 
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE
73
O espaço citado por Vilela (2002), e que é o território brasileiro, torna-
se revalorizado. Conforme Sabourin e Teixeira (2002), surge como componente 
fundamental do desenvolvimento rural por apresentar como principal 
característica a diversidade que resultou construções e progressos históricos, 
econômicos, culturais e sociais. 
Sabourin e Teixeira (2002, p. 23) conceituam o território como “[...] 
um espaço geográfico construído socialmente, marcado culturalmente e 
delimitado institucionalmente”. As ações direcionadas para o seu planejamento 
e desenvolvimento devem manifestar as intenções dos habitantes locais. Além 
disso, são resultados de um processo almejado, dividido, produtor de riquezas 
e redistributivo, a partir da declaração de parcerias entre os atores públicos, 
privados, nacionais, regionais ou locais envolvidos. 
Por esse motivo, Sabourin e Teixeira (2002, p. 28) comentam que “[...] o 
planejamento e o desenvolvimento dos territórios rurais passam a exprimir as 
dimensões de fenômenos locais, regionais, nacionais e internacionais”. Segundo 
os autores, nesse processo a intervenção entre os interesses individuais e coletivos 
é dificultada pela globalização das atividades econômicas, pela definição de 
objetivos, pelo estabelecimento de metas de curto e longo prazos e até mesmo 
pela valorização da particularidade da localidade.
Segundo Vilela (2002), as relações territoriais atualmente estão marcadas 
pela influência que a globalização desempenha no local, bem como a importância 
do local perante a globalização. Schneider (2004, p. 90) considera essa influência 
da globalização no local como “[...] o quadro atual é profundamente marcado por 
um processo de ampliação da interdependência nas relações sociais e econômicas 
em escala internacional”. Para Schneider (2004), isto demonstra que a globalização 
é uma particularidade da extraordinária habilidade da adaptação que a economia 
capitalista tem em âmbito mundial e da relação de dependência entre as condições 
de tempo e espaço no processo global de produção de produtos.
Nessa totalidade, Perico e Ribeiro (2005) sugerem a existência de uma 
nova ruralidade que nela está implantada a redefinição do rural. É necessária a 
reavaliação da ideia de que o rural é a população dispersa, baseada exclusivamente 
na produção agropecuária, para advir à reconstrução do objeto de trabalho e 
de política, ao determinar o setor rural como “[...] território construído a partir 
do uso e da apropriação dos recursos naturais, de onde são gerados processos 
produtivos, culturais, sociais e políticos” (PERICO; RIBEIRO, 2005, p. 19). 
Deste modo, os autores comentam que devido a sua potencialidade como 
território, o âmbito rural passa a ser estratégico no desenvolvimento absoluto 
e harmônico da região. Do mesmo modo, a formação de capital social, de 
institucionalidade e de capital político se depara, nos territórios rurais, com a 
oportunidade adequada, a partir do fortalecimento dos costumes tradicionais, de 
suas comunidades e de seus próprios modos de organização. 
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
74
Atualmente está acontecendo a valorização dos ambientes rurais, 
principalmente nos países desenvolvidos e é um acontecimento novo que pouco 
tem a ver com “[...] as relações que essas sociedades mantiveram no passado com 
tais territórios” (VEIGA, 2006, p. 334), pois nunca houveram sociedades tão ricas 
e nem tanta valorização da sua relação com o meio ambiente. A “revolução do 
espaço” que produz a “sociedade urbana” tende a renovar a ruralidade, porém 
mediante mutação, e não “renascimento” (VEIGA, 2004).
[...] na atual etapa da globalização, a ruralidade dos países avançados 
não desapareceu, nem renasceu, fazendo com que as duas hipóteses 
fossem ao mesmo tempo parcialmente verificadas e refutadas, o 
que leva à formulação de uma terceira: o mais completo triunfo da 
urbanidade engendra a valorização de uma ruralidade que não está 
renascendo, e sim nascendo (VEIGA, 2004, p. 58). 
Essa valorização é o resultado do reconhecimento da importância das 
áreas rurais para a qualidade de vida e o bem-estar da humanidade globalizada 
por conter nelastrês vetores: a conservação do patrimônio natural e da 
biodiversidade, o aproveitamento econômico das amenidades naturais pelo 
turismo e a exploração de fontes alternativas e renováveis de energia. O rural que 
ainda não foi modificado ou destruído pela agressão das atividades do homem 
deve ser progressivamente conservado, mesmo admitindo-se no território a 
existência de atividades econômicas de baixo impacto. Contudo, faz com que 
aconteçam inéditas combinações socioeconômicas no território rural que está 
mais próximo ou aberto (VEIGA, 2006). 
Para Lefebvre (2001, p. 75), a aversão “urbanidade-ruralidade” aumenta 
ao invés de dissipar-se, à medida que a aversão “cidade-campo” se enfraquece. 
Bagli (2006, p. 82) cita que apesar das transformações sucedidas no campo 
estarem direcionadas a uma homogeneização dos espaços, a “[...] intensificação 
das relações se estabelecem justamente pela manutenção das peculiaridades”. 
Os espaços ampliam suas inter-relações porque as diferenças existentes 
em cada um deles favorecem a busca pelo outro como tentativa de suprimir 
possíveis ausências”, como por exemplo, a prática do turismo rural, conforme 
Figura 1. A valorização do espaço rural associada à natureza pelos habitantes das 
cidades, pois enxergam o rural como um escape para o estresse, e tentam gozar 
das amabilidades do espaço rural, resultando numa maior demanda do espaço 
rural à “[...] construção de uma segunda residência ou para a sua residência 
definitiva ou mesmo para a prática do turismo” (MATOS; MEDEIROS, 2011, p. 
1-2).
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE
75
FIGURA 1 - TURISMO RURAL
FONTE: <https://www.cidadeecultura.com/wp-content/uploads/2016/08/Morungaba-Turismo-
Rural-Haras-Hipica-Sao-Silvano-ft-Ken-Chu-bx.jpg>. Acesso em: 24 fev. 2019.
A distinção entre o rural e o urbano nos países do capitalismo avançado 
e nos países latino-americanos, asiáticos e africanos nos quais a urbanização se 
deu como ação de subdesenvolvimento, seria admissível pensar que a ruralidade 
se expressará de modo específico (FAVARETO, 2007). Todavia, com relação ao 
caso do Brasil, para Stürmer (2008, p. 45) citando Veiga (2003), existe a carência 
da elaboração de um “[...] plano estratégico de desenvolvimento sustentável 
com diretrizes, objetivos e metas, que favoreçam sinergias entre a agricultura e 
os setores terciários e secundários das economias locais”, de modo a cultivar as 
vantagens comparativas e ainda as competitivas dessas regiões. 
Veiga (2003) compreende que o desenvolvimento regional passa pela 
estabilidade entre o fortalecimento da capacidade concorrencial do território e 
a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes, o que é alcançado a partir 
da criação de novas formas de parceria entre os atores envolvidos, sejam eles 
públicos, privados, nacionais, regionais ou locais.
O Estado e a sociedade apresentam problema em agir com a mudança 
de paradigma constituída na construção dessa nova ruralidade. Fazendo com 
que o discurso, as políticas e os programas em prol do desenvolvimento rural 
nem sempre congreguem os novos temas e, frequentemente, acabam alterando 
o aspecto dos velhos valores e práticas adotados anteriormente, minimizando à 
dimensão setorial dos seus aspectos agrícola e agrário (FAVARETO, 2007). Mas 
para que esta ideia seja vencida, há a necessidade que os líderes do agronegócio 
sobrepujem o discurso setorial e atuem no desenvolvimento territorial. Incluindo 
também a capacidade de auxiliar e de ser favorecido pelo desenvolvimento 
sustentável das localidades sob sua autoridade e das quais dependerá a 
conservação de sua própria competitividade (FAVARETO, 2007).
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
76
2.1 RURALIDADE CAMPO E CIDADE
Para efeitos analíticos os municípios com menos de 20 mil habitantes não 
deveriam ser considerados urbanos no Brasil (VEIGA, 2004). Segundo o IBGE 
(2018a), baseado neste parâmetro que vem sendo usado desde a década de 1950, 
seria considerada rural a maior parte dos municípios brasileiros (68,4%) que 
possui até 20 mil habitantes em 2018 e abriga apenas 15,4% da população do país 
(32,1 milhões de habitantes), o que por si só seria suficiente para desmantelar a 
situação de urbanização do país para 70%. 
Não há possibilidade de falar do campo e da cidade como coisas 
diferentes porque: o campo está na cidade e a cidade está no campo. Portanto, 
é mais garantido falar sobre o rural considerando: a) o rural não mais ou não 
exclusivamente como divisão específica; b) o rural não mais ou não tão-somente 
como produção agrícola ou agropecuária; c) o rural como reprodução social e 
simbólica, ou seja, pode-se afirmar que o rural, independentemente de onde 
se habita ou do que se faz, é uma percepção de mundo, uma maneira como os 
indivíduos e os grupos instituem suas inclusões sociais e também bem-sucedidas 
(PESSOA, 2007). 
FIGURA 2 – CIDADE E CAMPO
FONTE: <https://fotos.web.sapo.io/i/o8f0789f8/8865036_gZONM.jpeg>.
Acesso em: 22 fev. 2019.
No Brasil, considera-se cidade toda sede de município e área urbanizada 
como “[...] toda área de vila ou de cidade, legalmente definida como urbana e 
caracterizada por construções, arruamentos e intensa ocupação humana [...]”, 
apenas desconsidera-se as “[...] funções peculiares dos diferentes aglomerados 
[...]”, assim o urbano passa a ser “[...] definido a partir de carências e não de suas 
próprias características”. Para o autor, populações inferiores a 20.000 habitantes 
são consideradas cidades, porém, realmente seriam “[...] aldeias, povoados e 
vilas. Superestimação de nosso grau de urbanização” (MARQUES, 2002, p. 97-
98).
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE
77
A cidade é caracterizada pelo agrupamento e é espaço favorável à 
prática de trabalhos que demandam encontro, proximidade ou probabilidade de 
diálogo, especificação e complementaridade de papéis e empregos. Já o campo, é 
caracterizado pela extensão e disseminação, acolhe técnica e economicamente a 
execução de outras atividades (SPOSITO, 2006). 
E o espaço urbano é o território em que se estende a modernidade e a 
cotidianidade no mundo contemporâneo, segundo Lefebvre (2001). Logo, o 
campo é onde há a prevalência da natureza, embora a agricultura e outras tarefas 
a transformam, mas não lhe separam da sua prioridade “geográfica”. Ainda que 
não seja exterior à natureza, o espaço urbano é mais propriamente produzido 
como
[...] um lugar de produção e de obras. A produção agrícola faz 
nascer produtos; a paisagem é uma obra. Esta obra emerge de uma 
terra lentamente modelada, originariamente ligada aos grupos 
que a ocupam através de uma recíproca sacralização que é a seguir 
profanada pela cidade e pela vida urbana (LEFEBVRE, 2001, p. 73).
Deste modo, o espaço rural e urbano “[...] não podem ser compreendidos 
separadamente [...]”, para Marques (2002, p. 96). E Moreira (2012) defende que 
mesmo que o rural e o urbano sejam distintos não significa que os mesmos 
sejam desconexos, muito pelo contrário, o que comprova a existência de uma 
aproximação entre ambos, uma justaposição que não significa o fim deles. 
O “[...] rural não desapareceu neste processo tampouco parou no tempo. O 
rural é dinâmico, e este dinamismo cria a adaptabilidade deste modo de vida” 
(MOREIRA, 2012, p. 50). 
O espaço rural tem passado atualmente por um conjunto de modificações 
com expressiva força sobre seus papéis e teor social. Essas transformações estão 
profundamente relacionadas com as características urbanas que são absorvidas 
pelo espaço rural, numa conexão capitalista de consumo e produção em 
quantidade e de modificação dos objetos e formas em produtos (MARQUES, 
2002). Segundo Wanderley (2001, p. 33), “As relações entre o campo e a cidade não 
destroem as particularidades dos dois polos e, por conseguinte, não representam 
o fim do rural; o continuum se desenha entre um polo urbano e um polo rural, 
distintos entre si e em intenso processo de mudança em suas relações”.
Desde os anos70, sobretudo em países desenvolvidos, a urbanização do 
campo foi impulsionada pelo desenvolvimento do capitalismo e também pela 
industrialização da agricultura. E a proliferação de atividades não-agrícolas no 
campo, como o turismo, comércio e ainda a prestação de serviços com significado 
transformado, porém, com natureza diferente do urbano, também contribuiu 
(MARQUES, 2002). Conforme Marques (2002, p. 99), “Enquanto a dinâmica 
urbana praticamente independe de relações com a terra, tanto do ponto de vista 
econômico, como social e espacial, o rural está diretamente associado à terra, 
embora as formas como estas relações se dão sejam diversas e complexas”.
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
78
Quanto a questão da relação cidade-campo, na contemporaneidade se 
transforma sendo que “Nos países industriais, a velha exploração do campo 
circundante pela cidade [...]”, núcleo de acúmulo “[...] do capital [...]”, abre 
mão do lugar para formas mais perspicazes de superioridade e de abuso, [...] 
tomando-se a cidade um centro de decisão e aparentemente de associação” 
(LEFEBVRE, 2001, p. 74). Já a divisão territorial do trabalho, “[...] o afastamento 
e contrassenso cidade-campo integram a divisão do trabalho social que não está 
nem ultrapassada nem contida [...]” (SPOSITO, 2006, p. 116). 
2.2 DESAFIOS E POSSIBILIDADES FRENTE A NOVA 
RURALIDADE
No Brasil, nos anos 1970 a população no campo alcançou seu pico com 
mais de 40 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 45% de habitantes do total 
nacional. Após este período, a população campestre entrou em total redução e 
em 1996 atingiu quase 34 milhões de indivíduos, alcançando somente 22% da 
totalidade do país, segundo Camarano e Abramovay (1999). De acordo com 
o IBGE (2018b), o último censo agrário apresentou a informação de que há 15 
milhões de trabalhadores rurais. Comparando com o censo agrário de 2006, 
observa-se uma diminuição de 1,5 milhão de habitantes, inclusos agricultores, 
suas famílias, além da mão de obra temporária e permanente (IBGE, 2018b).
As informações de cada censo do IBGE confirmam o êxodo do espaço 
rural, principalmente nas áreas mais pobres (CARNEIRO, 2008). Se o espaço 
rural for encarado como um espaço intocado, sem influência das cidades, serão 
construídas políticas distorcidas,
[...] pela via da “urbanização do campo”, para superar a decadência e 
a pobreza rural, condenando-o ao esvaziamento demográfico, social e 
cultural. Mas, caso o rural for encarado como capaz de preencher as 
funções necessárias à reprodução do modo de vida de seus habitantes 
e útil às cidades, então será possível construir uma estratégia de 
desenvolvimento articulada aos anseios do meio rural. A renovação 
das discussões sobre a sociedade rural brasileira passa, portanto, pela 
superação do mito da urbanização do campo (CARNEIRO, 2008, p. 
60).
Para compreender as ruralidades, torna-se importante observar as 
convergências de olhares entre o rural e o urbano. Quando analisamos uma 
série de acontecimentos sequenciais e ininterruptos do rural-urbano, o fazemos 
a partir da história dos atores sociais, das experiências vividas e ideologias que 
são construídas com o caminhar das estações. Por conseguinte, as ruralidades 
emergem hoje exatamente diante de uma mudança do valor que o rural começa a 
ganhar, tanto por parte de citadinos como dos próprios agricultores que o compõe. 
Sobressai-se a discussão levantada por Schneider (2009), o qual afirma que por 
mais que ainda não consolidado, há uma alteração cognitiva sobre o espaço rural, 
tanto por parte de estudiosos, planejadores de políticas públicas e atores sociais.
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE
79
A valorização destes espaços tradicionais, não somente de ordem da 
natureza intocada, mas também de culturas ainda preservadas, já que elas são 
consideradas sobreposições históricas que acompanham uma harmonia com a 
natureza e a valorização da terra; apreciam sabedorias passadas historicamente; 
apresentam simbologias e formam um imaginário social rural; e construíram 
historicamente uma identificação com o território (MATOS; MEDEIROS, 2011). A 
marca principal dessa nova realidade (o turismo rural e a produção agroecológica) 
vem sendo cada vez mais apropriada pelo capital que se aproveita dessas 
potencialidades para progredir sobre a nova ruralidade (ALENTEJANO, 2003).
Uma das razões que não pode ser negada, porém em muitas vezes é 
negligenciada, é o isolamento espacial destas culturas tradicionais rurais, que 
por um longo período da história do país persistiu. A concepção de culturas 
tradicionais também é produto de seu esquecimento, em que os indivíduos 
históricos construíam relações territoriais que permaneciam por longínquas 
gerações. A transformação nestes espaços era vagarosa, e o tempo e compasso de 
vida também (SANTOS, 2006). 
Embora analisar o espaço rural nacional e as ruralidades, sem entender 
esta maior conectividade advinda pelo processo de globalização, torna-se um 
erro. É imprescindível então ter um entendimento da necessidade de se analisar 
as culturas tradicionais a partir da relação e não do isolamento (SUZUKI, 2013). 
Parte-se do princípio que estas têm conexões atualmente que cada vez mais 
significam uma interligação com o espaço urbano, seja pelo contato físico ou por 
meios de comunicação. 
A sociedade fundada na aceleração do ritmo da industrialização 
passa a ser questionada pela degradação das condições de vida dos 
grandes centros. O contato com a natureza é, então, realçado por um 
sistema de valores alternativos, neoruralista e antiprodutivista. O ar 
puro, a simplicidade da vida e a natureza são vistos como elementos 
“purificadores” do corpo e do espírito poluídos pela sociedade 
industrial (CARNEIRO, 1999, p. 57). 
Assim, o movimento de modernização e a extensão deste espaço urbano 
para o espaço rural gera ao mesmo tempo a compreensão de novas ideias sobre 
distantes estruturas deste espaço, como, por exemplo, a produção alimentar; os 
impactos ambientais e as mudanças das maneiras de se viver (CARNEIRO,1999). 
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
80
FIGURA 3 – RELAÇÃO ENTRE O CAMPO E A CIDADE
FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-sC5mp-SkjGQ/Ud4ZOraNZXI/AAAAAAAAAIc/BItBpWrz
Ddc/s640/Interdepend%C3%AAncia.jpg>. Acesso em: 23 fev. 2019.
A longa evolução da relação entre o campo e a cidade denota visivelmente 
a permanência do fenômeno rural no mundo moderno, mesmo no período e 
nos países em que a urbanização foi mais atuante (PRADO; RIBEIRO, 2017). 
Assim, “[...] a oposição campo-cidade se desloca para a contradição rural-urbano. 
Enquanto a primeira diz respeito ao contraste entre espaços”.
[...] sendo os campos o lugar de realização de atividades 
predominantemente primárias, destacadamente a agricultura, na 
segunda o estatuto fundante da distinção desloca-se para o grau de 
artificialização destes espaços e seus impactos para os modos de vida, 
exigindo assim uma abordagem capaz de combinar critérios ecológicos 
com outros de caráter social e econômico. O rural mostra-se não mais 
uma categoria passível de ser apreendida em termos setoriais, e sim 
territoriais (FAVARETO, 2006, p. 103 apud PRADO; RIBEIRO, 2017, p. 
53).
Mas no território rural, além de desafios também existem possibilidades 
frente à nova ruralidade. Pode-se considerar essas possibilidades como o “[...] 
conjunto de atividades não-agrícolas, as que mais vêm solicitando os espaços 
rurais são as ligadas ao lazer – chácaras e sítios de lazer – e ao turismo em suas 
mais diversas formas” (ZUQUIM, 2007, p. 108). Atividades tais como: turismo 
verde, turismo ecológico, agroturismo, ecoturismo, turismo rural etc. Assim o 
campo: 
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE
81
[...] voltou a ser “visto”, não somente como lugar essencialmente 
agrário, mas também como lugar ao qual se poderiam incorporar os 
avanços tecnológicos, e lugar capaz de responder às novas demandas 
modernas sobre o campo – como atividades ruraisnão agrícolas de 
turismo, de lazer, da agricultura voltada a nichos de mercado especiais, 
de atividades de preservação e de conservação da natureza. Essas 
atividades, nos últimos anos, vêm solicitando muito desses espaços 
rurais, inclusive espaços há algum tempo esquecidos geográfica e 
economicamente (ZUQUIM, 2007, p. 4).
Observa-se que nesse novo modelo do espaço rural é possível criar 
possibilidades de “[...] organização territorial e de desenvolvimento rural” 
(ZUQUIM, 2007, p. 5) e deste modo pode proporcionar “[...] melhores condições 
de fixação e de construção do habitat rural, desde que haja políticas públicas 
compensatórias para a moradia, a agricultura e a natureza, das populações que 
se encontram em graves condições de empobrecimento rural” (ZUQUIM, 2007, 
p. 5). Deste modo, devagar, progride a concepção de que só o urbano é ligado ao 
moderno e o espaço rural deixa de ser o local atrasado e obsoleto. Mas um lugar 
com distintas atividades, espaço em que há a articulação das novas tecnologias 
para a produção, habitação e o desfrutar, com o cuidado do meio ambiente 
(ZUQUIM, 2007).
Além das possibilidades Gonçalves (1997) cita como desafios: os conflitos 
oriundos das modificações sobre a composição do trabalho do campo que foram 
fortes, com a diminuição integral dos empregos, relacionada à urbanização da 
força de trabalho. O autor adiciona ainda as transformações na sazonalidade e a 
cobrança de mão de obra qualificada. 
Vamos conhecer a paisagem rural? Acesse o link: http://portaldoprofessor.mec.
gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=178 e veja um plano de aula da disciplina de Geografia 
para o Ensino Fundamental.
DICAS
82
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Para entendermos a questão envolvendo a Nova Ruralidade em seus aspectos 
de relações sociais, políticas e econômicas, é necessário também entender a 
construção do meio urbano e sua relação com o campo nos últimos tempos.
• Na base da emergência da nova ruralidade, de acordo com Abramovay 
(2003) há pelo menos uma transformação qualitativa na articulação das três 
dimensões principais que admitem a definição do rural: a proximidade com 
a natureza, a relação com as cidades e as relações interpessoais resultadas da 
baixa densidade populacional que lhe é característica.
• Para compreender o rural sob um aspecto não normativo é preciso adotar dois 
processos. No primeiro, existe a necessidade de perceber o desenvolvimento 
não como uma ideia, mas sim pelos conceitos descritos num “dever ser”. Já no 
segundo, é a definição do que consiste a peculiaridade deste “tipo de espaço 
que é o rural”. 
• O rural tem sido estudado por distintas pesquisas agrárias e estas 
têm comprovado nas últimas décadas a formação de uma “ruralidade 
contemporânea” ou um “novo rural” ou uma “nova ruralidade”. O espaço 
rural não pode ser mais tomado tão-somente como o conjunto de atividades 
agropecuárias e agroindustriais em benefício da sua modernização e 
mecanização; da crise reprodutiva da agricultura familiar; das novas funções 
e novos tipos de atividades no campo e da conformação de novas identidades 
sociais no ambiente rural. 
• A ruralidade seria as características de tudo aquilo que se está relacionada à 
vida rural, as condições materiais e morais da existência das populações rurais. 
Nesta concepção a ruralidade não é uma realidade “empiricamente observável”, 
no entanto, uma “representação social” determinada culturalmente por atores 
sociais.
• As relações territoriais atualmente estão marcadas pela influência que a 
globalização desempenha no local, também como a importância do local perante 
a globalização. Nessa totalidade, sugerem a existência de uma nova ruralidade 
que nela está implantada a redefinição do rural. É necessária a reavaliação 
da ideia de que o rural é a população dispersa, baseada exclusivamente na 
produção agropecuária, para advir à reconstrução do objeto de trabalho e de 
política, ao determinar o setor rural como “território construído a partir do 
uso e da apropriação dos recursos naturais, de onde são gerados processos 
produtivos, culturais, sociais e políticos”. 
83
• Atualmente está acontecendo a valorização dos ambientes rurais. Essa 
valorização é o resultado do reconhecimento da importância das áreas rurais 
para a qualidade de vida e o bem-estar da humanidade globalizada, por conter 
nelas três vetores: a conservação do patrimônio natural e da biodiversidade; 
o aproveitamento econômico das amenidades naturais pelo turismo e a 
exploração de fontes alternativas e renováveis de energia.
• Não há possibilidade de falar do campo e da cidade como coisas diferentes 
porque: o campo está na cidade e a cidade está no campo. Portanto, é mais 
garantido falar sobre o rural considerando: a) o rural não mais ou não 
exclusivamente como divisão específica; b) o rural não mais ou não tão-somente 
como produção agrícola ou agropecuária; c) o rural como reprodução social e 
simbólica, ou seja, pode-se afirmar que o rural, independentemente de onde 
se habita ou do que se faz, é uma percepção de mundo, uma maneira como 
os indivíduos e os grupos instituem suas inclusões sociais e também bem-
sucedidas.
• No território rural, além de desafios também existem possibilidades frente a 
nova ruralidade. Pode-se considerar essas possibilidades como o “conjunto de 
atividades não-agrícolas, as que mais vêm solicitando os espaços rurais são as 
ligadas ao lazer – chácaras e sítios de lazer – e ao turismo em suas mais diversas 
formas”. Atividades tais como: turismo verde, turismo ecológico, agroturismo, 
ecoturismo, turismo rural etc.
84
AUTOATIVIDADE
1 Quando analisamos uma série de acontecimentos sequenciais e 
ininterruptos do rural-urbano, o fazemos a partir da história dos atores 
sociais, das experiências vividas e ideologias que são construídas com 
o caminhar das estações. Por conseguinte, as ruralidades emergem 
hoje exatamente diante de uma mudança do valor que o rural começa a 
ganhar, tanto por parte de citadinos como dos próprios agricultores que 
o compõe. Sobre a ruralidade e as novas tecnologias aplicada ao campo, 
podemos afirmar que:
Analise as sentenças e assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As novas tecnologias no sistema de produção favorecem o aumento 
da produtividade, mas diminui os potenciais de exportação de insumos 
agrícolas.
b) ( ) O sistema de produção agrícola do Brasil possui um alto sistema de 
produtividade independente das mudanças na ruralidade em nosso país.
c) ( ) A interdependência da produção do campo com as cidades gera um 
sistema interdepende e constante crescimento na cadeia produtiva.
d) ( ) As novas tecnologias nada impactam com a ampliação do sistema de 
produção e não interferem no crescimento da produção de alimentos.
2 As relações territoriais atualmente estão marcadas pela influência que 
a globalização desempenha no local, também como a importância do 
local perante à globalização, segundo Vilela (2002). Para Schneider 
(2004, p. 90), essa influência da globalização no local como “[...] quadro 
atual é profundamente marcado por um processo de ampliação 
da interdependência nas relações sociais e econômicas em escala 
internacional”. Para o autor, isto demonstra que a globalização é uma 
particularidade da extraordinária habilidade da adaptação que a 
economia capitalista tem em âmbito mundial, da relação de dependência 
entre as condições de tempo e espaço no processo global de produção de 
produtos. A globalização possui um importante papel no novo espectro 
da ruralidade de nosso país. 
Marque a afirmativa CORRETA que descreve esse cenário no Espaço Agrícola 
de produção nacional.
a) ( ) A globalização amplia de maneira geral o sistema de produção, 
favorecendo todos na cadeia produtiva nacional.
b) ( ) O sistema de produção de alimentos nada tem a haver com a 
globalização e as exportações das commodittes brasileiras.
c) ( ) A globalização e as exportações nacionais favorecem principalmente o 
pequenoprodutor rural e as grandes agroindústrias no Brasil.
d) ( ) Os grandes produtores e latifundiários são as classes rurais mais 
favorecidas com a globalização, com as tecnologias e com as exportações de 
alimentos em nosso país. 
85
3 A longa evolução da relação entre o campo e a cidade denota visivelmente 
a permanência do fenômeno rural no mundo moderno mesmo no período 
e nos países em que a urbanização foi mais atuante (PRADO; RIBEIRO, 
2017). Por que a ruralidade pode ser considerada como um dos novos 
desafios para o desenvolvimento do Espaço Rural e das áreas urbanas no 
Brasil?
86
87
TÓPICO 2
OS PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, 
INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DOS 
COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, o foco deste tópico é discutir as concepções que são 
utilizadas para análise das relações que se estabeleceram entre os setores agrícola 
e industrial e que caracterizaram a produção agropecuária brasileira nas últimas 
décadas. 
Paralelamente à implantação no Brasil de um setor industrial produtor 
de bens de produção voltado para a agricultura, ocorreu a modernização e o 
desenvolvimento em escala nacional de um mercado para os produtos industriais 
do sistema agroindustrial. Esse processo ficou conhecido como "modernização da 
agricultura" e nele ocorreram modificações significativas na forma de se produzir. 
Poder-se-ia recuperar estes estudos através de diversos recortes, mas 
nos pareceu mais interessante privilegiar os estudos que discutem diretamente 
as relações setoriais entre agricultura e indústria e a formação do Complexo 
Agroindustrial. O termo Complexo Agroindustrial tem sido utilizado para 
descrever articulações entre os setores agrícola e industrial que vêm ocorrendo 
na agricultura brasileira. 
E por último a relação destes fenômenos com os conteúdos de geografia 
em sala de aula.
2 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO 
E FORMAÇÃO COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO 
MUNDO
A modernização e a industrialização agrícola tiveram na Revolução 
Verde a sua maior causa (LOBÃO, 2018). Ela modificou as relações de produção 
e trabalho no ambiente rural e as inovações tecnológicas dominaram a produção, 
especialmente com o processo de mecanização do campo e o emprego de insumos 
químicos e biológicos modernos, como fertilizantes e defensivos agrícolas 
utilizados para o controle de seres vivos prejudiciais à plantação. 
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
88
Com as revoluções industriais, o espaço rural se tornou cada vez mais 
integrado e subordinado ao espaço urbano. O processo de modernização 
da agricultura desencadeou diversas transformações no campo, alterando 
profundamente as formas de produção agrícola dos países. O processo de 
modernização do campo corresponde à implantação de novas tecnologias e 
maquinários no processo de produção no meio rural. A modernização agrícola, 
para Paiva (1971, p. 178 apud LOBÃO, 2018, p. 8) é “[...] o processo de melhoria 
da agricultura pela adoção de técnicas modernas [...]”. Essa conceituação se 
restringe somente às particularidades de produção stricto sensu. Ao mesmo 
tempo, reconhece-se que a definição de modernização agrícola é mais ampla, 
especialmente quando se procura trabalhar com aspectos de origem mais 
limitada, por exemplo, como é a situação das unidades de produção individual 
ou ainda de um pequeno grupo de agricultores nativos de determinado país ou 
região particular que não basicamente adotam métodos novos, mas exibem um 
padrão moderno em relação a diversos grupos.
Kageyama (1997) faz as devidas distinções analisando que em muitos 
casos as considerações sobre a modernização e industrialização da agricultura 
e formação de complexos agroindustriais são adotadas como sinônimos. Para a 
autora:
Por modernização da agricultura se entende basicamente a mudança 
na base técnica da produção agrícola. É um processo que ganha 
dimensão nacional no pós-guerra com a introdução de máquinas na 
agricultura (tratores importados), de elementos químicos (fertilizantes, 
defensivos, etc.), mudanças de ferramentas e mudanças de culturas 
ou novas variedades. [...] A “industrialização da agricultura” envolve 
a ideia de que a agricultura acaba se transformando num ramo de 
produção semelhante a uma indústria, como uma “fábrica” que 
compra determinados insumos e produz matéria-prima para outros 
ramos da produção [...] Finalmente, no período pós-75, temos a 
constituição do que se vem chamando de complexos agroindustriais. 
São vários complexos que se constituem, ao mesmo tempo em que a 
atividade agrícola se especializa continuamente (KAGEYAMA et al., 
1990, p. 113-115).
O processo de modernização se torna irreversível com a industrialização 
da agricultura. A produção agrícola regrediria somente no caso de uma regressão 
da base técnica da industrialização. A situação é que o término do processo de 
modernização da agricultura resulta na sua industrialização. Esse atributo “[...] 
representa a subordinação da Natureza ao capital, que, gradativamente, liberta 
o processo de produção agropecuária das condições naturais dadas, passando a 
fabricá-los sempre que se fizerem necessárias” (KAGEYAMA, 1997, p. 114). 
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL
89
Sobre os complexos agroindustriais e as empresas agroindustriais, organizadas 
em complexos agroindustriais, com suas estruturas geralmente localizadas em regiões 
constituídas por municípios de pequeno e médio porte, absorvem a produção na forma 
de matéria-prima do seu entorno local e regional. Esta matéria-prima é produzida 
geralmente com especificidade e em produção de escala, junto às pequenas propriedades 
de predomínio de mão de obra familiar e de pequenas cooperativas agrícolas.
NOTA
Deste modo, a modernização da agricultura dá liberdade para a 
produção agrícola, tornando-a independe das condições naturais impostas 
pela Natureza. Assim, surge a teoria da modernização que admite entender 
que há a possibilidade da transformação de uma economia agrícola tradicional 
em uma avançada e eficaz, apta para alcançar o desenvolvimento econômico, 
especialmente por meio do aperfeiçoamento da tecnologia. Aspectos como 
o emprego de insumos de produção modernos e o melhoramento do apoio 
educacional permitem as transformações tecnológicas dentro do campo da 
agricultura. Essas transformações beneficiam a aumento da produtividade dos 
fatores de produção e a elevação das taxas de retorno das ações agropecuárias, 
sendo estes o objetivo final do desenvolvimento agrícola (CONCEIÇÃO; 
CONCEIÇÃO, 2004).
Mas no desenvolvimento agrícola, no mesmo país, existem disparidade 
entre os lavradores e por este motivo nem todos conseguem os benefícios da 
modernização agrícola, já que há também um custo envolvido, assim muitos 
ainda estão na agricultura primitiva. Paiva (1971) considera que nos países em 
desenvolvimento não há igualdade quanto à modernização da agricultura, uma 
vez que não existem agricultores rústicos e contemporâneos convivendo no mesmo 
território. O autor, analisa a apresentação de produtores que usam tecnologias 
avançadas e técnicas modernas, originários de grandes centros de estudo e 
experimentação e a vivência de pequenos agricultores com estado tecnológico 
rudimentar “[...] que se mantêm ainda no estágio da ‘agricultura de enxada’, sem 
aplicar quaisquer dos conhecimentos e insumos que caracterizam a agricultura 
moderna [...]” (PAIVA, 1971, p. 172). Para o autor, esse fato é denominado de 
dualismo tecnológico. 
Dualismo tecnológico na agricultura brasileira existe já que o presente e o 
passado compartilham a mesma região, ou seja, há a modernização agrícola com 
a mecanização do campo, e a agricultura rudimentar com instrumentos arcaicos 
como a enxada convivendo num mesmo local. Para Conceição e Conceição (2004), 
historicamente considera-se no processo de modernização agrícola, a mecanização 
do campo culpada pela diminuição de força de trabalhobraçal no setor agrícola. 
No que lhe concerne, a terra é poupada pelas inovações químico-biológicas. 
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
90
Portanto, para os autores, as duas transformações têm permitido a 
maximização da produção dentro de um próprio território, através do aumento 
da produtividade integral dos fatores de produção, assim sendo, uma produção 
capital-intensiva. Há, mesmo que em menor dimensão, redução da força de 
trabalho agrícola com as inovações biológicas, no decorrer da adaptação de 
algumas culturas. Com uma maior oposição ou mesmo as tornando padronizadas 
no seu processo de amadurecimento, essas culturas têm admitido o emprego cada 
vez maior de máquinas que supram a mão de obra (CONCEIÇÃO; CONCEIÇÃO, 
2004).
Os atores econômicos que agem nesse sistema sempre estão determinados 
a buscar inovações tecnológicas, para aumento do seu lucro e para estarem a frente 
da concorrência, segundo Kugizaki (1983). Assim, todas as organizações se veem 
acuadas na renovação das suas tecnologias e aumento da sua produtividade, 
sendo que isso acontece a partir do reinvestimento de fração do seu lucro no 
processo produtivo. O autor esclarece, contudo, o aumento do uso dos fatores de 
produção não uniformemente, já que o fator trabalho tende a ganhar um aumento 
relativamente inferior que os outros. Ou seja, o investimento no fator mão de obra 
é inferior aos demais, como por exemplo em tecnologia. Deste modo, favorecendo 
a diminuição da demanda pelo fator mão de obra e, logo, expandindo-se o 
contingente de indivíduos desempregados ou subempregados, no setor agrícola 
e não agrícola. Assim, quanto mais investimento em novas tecnologias, menos 
trabalho e mais desemprego e subemprego em todos os setores. Por exemplo, 
hoje utilizam colheitadeiras na lavoura, demandando de menos mão de obra e 
tempo.
Albuquerque (1984) pretende em seu estudo despertar a atenção para o 
agroindustrial no mundo, pois ele a considera como:
[...] maior ritmo de crescimento das indústrias que se relacionam 
com a agricultura, prescindindo da intermediação do capital 
comercial. É falar em indústrias especializadas em fornecer insumos 
para a agricultura com tal porte econômico que possam financiar 
diretamente os agricultores — ou forçar o Estado a lançar linhas de 
crédito subsidiadas para tal — e em indústrias com tal capacidade 
de processamento que exijam especialização da produção de um 
grande número de produtores rurais. É falar, por fim, num mercado 
monopólico, ou pelo menos claramente oligopólico, tanto para as 
indústrias que fornecem insumos para a agropecuária como para 
as que processam sua produção. Nesse sentido, as raízes de alguns 
subsetores do sistema agroindustrial datam do século passado e do 
início deste. Já "nasceram", por assim dizer, de grande porte. O caso 
mais conhecido, o da Nestlé, levava, em 1890, um analista econômico 
da época - Karl Kautsky - a declarar que "180 aldeias (da Suíça) 
perderam sua autonomia econômica e se tornaram caudatárias da 
Casa Nestlé. Os seus habitantes ainda são, exteriormente, proprietários 
de suas terras, mas já não são camponeses livres". No Brasil, o Grupo 
Matarazzo — de raízes itahanas, mas de capital nacionalizado é, desde 
o início do século XX, um exemplo, entre outros, de feliz integração 
de indústrias de aumentos, têxtil e de controle da produção agrícola 
de grandes glebas - particularmente de algodão. Esse grupo viria a 
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL
91
dividir poder com a Sanbra e a Anderson Clayton nessa mesma área 
de algodão e seus derivados após 1934. Estas duas empresas, aliás, 
já antes dos anos 50 se instalaram como complexo agroindustrial e, 
em 1947 e em 1948, foram, apenas as duas, responsáveis por 9,0% do 
total de todas as exportações brasileiras (ALBUQUERQUE, 1984, p. 
162-187).
Não obstante, Schuh (1973) explica que principalmente no pós-Segunda 
Guerra Mundial, muito se confiou no mecanismo de propagação das novas 
tecnológicas no setor agrícola, como forma de desenvolvê-la igualmente em um 
país ou região. Entretanto, trata de corroborar que essa confiança no poder de 
propagação das novas tecnológicas precisava de mais compreensões. Segundo o 
autor, os processos inovadores acontecem tendendo a se localizarem em espaços 
específicos. Portanto, acontecem em realidades diferentes e com características 
intrínsecas àqueles ambientes em que se desenvolvem. Do mesmo modo, os 
processos inovadores são de complexa mudança de uma localidade para outra, 
não constituindo um processo com tendência a advir tão espontaneamente.
Em 1957 foi publicada a obra A Concept of Agribusiness de autoria de John 
Davis e Ray Goldberg (MENDONÇA, 2015), e assim agribusiness foi traduzido 
para o idioma português como agronegócio.
A publicação traz como premissa central a ideia de que o campo estaria 
passando por grandes transformações a partir de uma “revolução 
tecnológica”, tendo como base o “progresso” científico utilizado na 
agricultura. Sob essa perspectiva, seria necessário formular políticas 
públicas de apoio à grande exploração agrícola diante do aumento 
dos custos de produção, transporte, processamento e distribuição de 
alimentos e fibras (MENDONÇA, 2015, p. 376).
Davis e Goldberg (1957 apud MENDONÇA, 2015, p. 376), conceituam 
“[...] a agricultura como parte integrante da indústria que já teria existido há 
150 anos quando os camponeses produziam alimentos, instrumentos, insumos, 
combustível, morada, roupagens e utensílios domésticos”. A fundamental 
transformação notada nas “fazendas modernas” é que deixaram de ser 
autossustentáveis e tornam-se comerciais, com sua produção fundamentada nos 
monocultivos. Deste modo, atividades como armazenamento, processamento e 
distribuição foram transferidas para outras organizações que ainda passaram 
a fabricar produtos industrializados empregados neste modelo agrícola, como 
tratores, caminhões, combustível, adubos, ração, pesticidas, entre outros. Assim, 
surge: 
Então a proposta de se utilizar o termo “agronegócio”, pois, segundo os 
autores, “nosso vocabulário não acompanhou o ritmo do progresso”. 
Este “progresso”, descrito no livro, significaria que “nossas fazendas 
não poderiam operar nem por uma semana se estes serviços fossem 
cortados” (DAVIS; GOLDBERG, 1957, p. 2 apud MENDONÇA, 2015, 
p. 376).
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
92
Os autores ainda destacam que (DAVIS; GOLDBERG; 1957, p. 7 apud 
MENDONÇA, 2015, p. 376) o “[...] ímpeto da mecanização agrícola [...]” 
expressava uma subordinação crescente de produtos fabricados por segmentos 
industriais, com destaque para máquinas, tratores e fertilizantes químicos, para 
compensar o esgotamento da fertilidade da terra. Este processo exigia grande 
quantidade de energia e excitou a ampliação da produção petrolífera. Do mesmo 
modo, a indústria genética e farmacêutica desenvolvia sementes transgênicas e 
processos de inseminação artificial, o que penetrava, por um lado, a segmentação 
da produção agropecuária e, por outro, a constituição de grandes monopólios 
industriais que se apropriavam da renda do solo, bem como parte do que 
constituiria o chamado agronegócio. Os autores incluem proprietários de terra e 
indústrias, associações de empresários, instituições de pesquisa, universidades, 
grupos de lobby, também o governo que assumiria o papel de apoiar pesquisas e 
políticas de regulamentação e comércio.
O agronegócio representaria entre 35% e 50% da economia 
estadunidense. Para chegar a esses números, o estudo compara o 
total que os consumidores americanos gastaram em 1954, US$ 236,5 
bilhões, com o que foi gasto em alimentos, bebidas, tabaco, sapatos, 
roupas e acessórios, que somaria cerca de US$ 93 bilhões, ou 40% do 
total consumido naquele ano (DAVIS; GOLDBERG, 1957, p. 8). 
O detalhamento deste cálculo mostra os seguintes montantes em 
bilhões de dólares: alimentos industrializados (26,3), alimentos não 
processados(10,0), gastos em restaurantes (16,4), produtos têxteis 
(11,0), produtos de couro (3,0), bebidas alcoólicas (1,5), lã e papel 
(3,0), tabaco (2,8), vendas no atacado e exportação (15,0), outros (3,0) 
(DAVIS; GOLDBERG, 1957 apud MENDONÇA, 2015, p. 377).
Mendonça (2015, p. 378) citando Davis e Goldberg (1957, p. 376), menciona 
fatores “negativos” e expressam apreensão com “desajustes e desequilíbrios” 
em um desenvolvimento “evolutivo” que originaria problemas complicados 
na relação entre “fazendas comerciais” e agricultores camponeses pobres. Os 
autores confirmam as mudanças na estrutura econômica da agropecuária nos 
Estados Unidos entre os anos de 1947 a 1954. Em relação à mão de empregada, o 
total de trabalhadores conservou-se estável, em cerca de 24 milhões, porém, em 
relação ao total da força de trabalho empregada existiu uma redução de 41% para 
37%. Mas houve um acréscimo considerável nas despesas de produção, sendo 
que, entre estes, 111% são depreciação de máquinas, 70% custo com operação de 
veículos, 57% com fertilizantes, 35% com sementes e 59% com mão de obra. A 
soma de vendas do setor em termos totais cresceu 56%, mas a margem de lucro 
diminuiu 19%. 
A pesquisa menciona dados sobre o “retorno realizado por hora de 
todo o trabalho e gerência das fazendas”, isto é, a taxa de mais-valia social no 
setor, que apresentou uma queda de 25,5% entre anos de 1947 a 1954, segundo 
Mendonça (2015, p. 378 citando DAVIS; GOLDBERG, 1957, p. 11-15). Os dados 
citados esclarecem uma tendência de crise de superprodução no processo de 
industrialização da agricultura, que se diferencia pelo aumento proporcional 
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL
93
dos custos de produção em relação ao período de trabalho necessário. Assim, tal 
desequilíbrio significa a desproporção entre elementos do capital fixo em relação 
à mão de obra agregada na agricultura.
Kageyama (1997) comenta que ao final da década de 1980 um trabalho 
aplicou seu estudo em diversos casos de complexos agroindustriais, com base 
em um tratamento individualizado das relações entre suas partes componentes. 
Este estudo destacou algumas diferenças estruturais e relações internas, o 
que implica diferentes configurações matriciais (consumo intermediário, 
especialização/ endogenia da indústria fornecedora, etc.). Apesar de ter exposto 
uma periodização na qual as conformações dos diversos complexos que 
pesquisou também surgiram como fatos recentes. De acordo com Ramos (2007), 
o trabalho despertou a atenção para a carências de análises particularizadas 
sobre cada complexo e que tenham em conta suas distintas inserções no mercado 
internacional de bens (processados ou não); suas diferentes fases ou graus de 
agroindustrialização e, sobretudo, a necessidade de se refletir a formulação 
e implementação de políticas agrícolas específicas, dadas as diferentes 
configurações estruturais de cada um.
Os processos de modernização e industrialização e a formação dos 
complexos agroindustriais no Brasil para o desenvolvimento rural iniciaram na 
década de 1950, mas somente se consolidaram nos anos 1960, conforme será visto 
a seguir.
2.1 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO E 
INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL
O projeto de desenvolvimento rural brasileiro teve o objetivo da expansão 
e da concretização do agronegócio que resultou na ampliação da produtividade 
e investimentos para o Brasil pela exportação, e as implicações dos custos sociais 
e ambientais crescentes, de acordo com Marques (2002). No país, muitas das 
modificações estão ligadas ao projeto de desenvolvimento rural seguido pelo 
mesmo.
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
94
FIGURA 4 – AGROINDUSTRIAL
FONTE: <https://agrivence.com.br/agroindustria-se-recupera-e-impulsiona-pib-do-agronegocio-
em-2018/>. Acesso em: 3 mar. 2019.
No Brasil, o processo de modernização da agricultura iniciou-se na década 
de 1950, e teve como base as importações de meios de produção mais avançados 
daquele período. Entretanto, a sua consolidação aconteceu somente na década de 
1960, com a implantação no país de um setor industrial direcionado à produção 
de equipamentos e insumos para o campo.
Na década de 1960, depois da industrialização pesada agenciada 
pelo Plano de Metas (1956-1960), o governo brasileiro se deu conta 
da imprescindibilidade de instalar novas políticas que objetivassem 
a modernização da agricultura nacional, dado a necessidade 
econômica do país. Essa ânsia era evidenciada pelas pretensões 
de setores agrários que eram dados como atrasados em relação ao 
setor industrial recém-implantado, sendo que esse, por sua vez, 
preocupava-se com uma apropriada oferta interna de alimentos e 
matérias-primas. O Plano de Metas ocorreu durante o governo de 
Juscelino Kubitschek, membro do Partido Social Democrático (PSD). 
Os maiores objetivos do plano eram de construir uma infraestrutura 
básica à integração do sistema industrial brasileiro, antecipando-se à 
demanda, sendo o eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Minas Gerais o mais 
importante. Tal plano compreendia os setores de energia, transportes, 
indústrias de base, alimentação e educação, no qual os três primeiros 
foram os mais beneficiados. Para cada setor havia metas, sendo que 
o de energia possuía cinco; de transportes sete; de indústria de base 
onze; de alimentação seis e de educação somente um. Também existia 
a chamada meta-síntese, que compreendia a construção de Brasília. 
As fontes para esse financiamento advinham de recursos externos 
(OLIVEIRA, 2016, p. 27). 
Sobre o “maior número de metas do plano”, segundo Oliveira (2016, p. 27) 
citando Rangel (2000, p. 42), comenta “[...] a introdução de novas técnicas, por sua 
vez, supondo o emprego de um equipamento muito diferente do anteriormente 
usado, exige a criação das indústrias correspondentes – as indústrias de base”. 
https://agrivence.com.br/agroindustria-se-recupera-e-impulsiona-pib-do-agronegocio-em-2018/
https://agrivence.com.br/agroindustria-se-recupera-e-impulsiona-pib-do-agronegocio-em-2018/
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL
95
Essas indústrias surgem para concretizar a modernização da agricultura com a 
inserção de um novo padrão tecnológico no país. Apesar disso, no Plano de Metas 
as políticas direcionadas para a agricultura ainda eram modestas, com apenas 
3,2% dos investimentos planejados voltados ao setor alimentício.
Todo o crescimento ocorrido no período do governo Kubitschek pode 
ser entendido como um modelo direcionado à concretização de um “[...] 
desenvolvimento econômico acelerado [...]” (OLIVEIRA, 2016, p. 26). De tal 
modo, o Estado deveria desempenhar a função de agente indutor desse processo, 
quer comprovando às direções da economia e direcionando os investimentos, 
quer investindo em setores básicos, como infraestrutura. (RANGEL, 2000 apud 
OLIVEIRA, 2016). A propósito da “mecanização da agricultura”, a meta do plano 
era aumentar o número de tratores para 72.000, no entanto, “em meados de 1960 
já passava de 77.000 tratores”, deste modo, superando-a, segundo Oliveira (2016, 
p. 27 citando Lafer, 1975).
 
Segundo Martine (1991), 69% da frota de tratores do país estavam 
concentrados nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul, já em outras 
regiões a proporção era ínfima. Até meados da década de 1960 a tecnologia 
agrícola empregada na maior parte do país era rudimentar, mesmo estando 
em processo de modernização desde o final da II Segunda Guerra Mundial. 
Em relação a proporção de todos os estabelecimentos, a maioria possuía pouca 
maquinaria moderna. Para o autor, no Brasil a agricultura apresentava como 
objetivo aumentar a produção agrícola e regularizar o fornecimento de alimentos 
e não se modernizar. Ao mesmo tempo, existia o fato de que o país não possuía 
um parque industrial apto para tal dinamismo, já que os países desenvolvidos 
detinham a tecnologia.
Comparando os países desenvolvidos com o Brasil,o processo de 
modernização da agricultura do país foi tardio. Conforme Oliveira (2016, p. 28), 
“[...] esse processo não se deu do mesmo modo e nem na mesma intensidade em 
todos os estados, tendo o período mais lento de modernização entre os anos de 
1965 e 1967, graças ao período de reorganização política que o Brasil confrontava-
se, o Regime Militar”. A economia brasileira passou por um período particular da 
sua história após o golpe militar de 1964. O panorama de crise dos primeiros anos 
da década de 1960 foi transmudado, de modo que a partir de 1967 o crescimento 
rápido do Produto Interno Bruto (PIB) foi permitido, caracterizando o chamado 
“Milagre Econômico Brasileiro” que persistiu até por volta de 1973 (OLIVEIRA, 
2016). 
O Milagre Econômico Brasileiro foi fruto das várias políticas de 
investimentos produtivos que vinham desde o governo de Juscelino 
Kubitschek, continuando por toda década de 1960, gerando deste 
modo grandes estruturas produtivas e também a modernização da 
agricultura. De acordo com Resende (1990), a inflação no começo da 
década de 1960 chegou a alcançar 83,2% a.a., todavia foi combatida por 
um programa de estabilização econômica implementado entre 1964 
e 1968. No primeiro trimestre de 1964 chegou em aproximadamente 
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
96
100% a.a., já em 1969 estava em torno de 20%. Concomitantemente, 
o aumento do PIB que em 1963 era de 0,6%, recuperou-se após 
1966, e já em 1968 atingia a taxa de 9,8% (RESENDE, 1990). Tal 
desempenho do aglomerado econômico nessa fase foi acompanhado 
por transformações na estrutura produtiva do país. Segundo Cordeiro 
Neto (2007, p. 2), “no que concerne ao setor primário, por meio do 
processo denominado modernização conservadora, a agricultura 
incorporou mudanças significativas” (OLIVEIRA, 2016, p. 29).
Para Martine (1991), a transformação da agricultura camponesa numa 
agricultura moderna era um dos focos dessa modernização, ajustando o país às 
exigências do mercado externo, frente à expansão industrial e a necessidade cada 
vez maior de produção de matéria-prima. No entanto, a oligarquia rural nunca foi 
adepta à modernização e aos investimentos pesados, sendo forçada pelo Estado 
congregado ao capital industrial e financeiro. Para o autor, a principal questão 
envolvendo a agricultura estava no abastecimento urbano em quantidade e 
preços adequados. E com o êxodo rural rápido no momento, havia a diminuição 
da mão de obra no meio rural, porém, um crescente avanço de consumo de 
mantimentos nas áreas urbanas, acontecimentos que instigaram a intuição de 
políticas direcionadas para a lavoura.
Fica evidente que a questão da modernização da agricultura não se 
resumia ao aspecto produtivo em si, mas na armazenagem, transporte 
e comercialização, buscando quebrar o isolamento do produtor e 
criar meios mais eficientes para que os produtos agrícolas chegassem 
ao consumidor final. Esse modelo adotado nas décadas de 1960 
e 1970 era direcionado ao consumo de capital e tecnologia externa, 
ou seja, grupos especializados passavam a abastecer os produtores 
com insumos, desde maquinários, sementes, adubos, agrotóxicos e 
fertilizantes (BALSAN, 2006 apud OLIVEIRA, 2016, p. 29-30).
Neste contexto, Graziano Neto (1985) percebe uma modificação significativa 
no cenário agrícola brasileiro analisando os indicadores de modernização nesse 
período. A utilização de fertilizantes cresceu a uma taxa média de 60% ao ano e 
25% dos agrotóxicos. Mesmo não sendo tão alto em outros anos, esse crescimento 
se estendeu pelas décadas posteriores. 
O crescimento do cenário agrícola resultou das inovações tecnológicas no 
meio rural, já que os agricultores buscavam um maior rendimento, expandindo 
as áreas cultivadas e também melhorando sua produtividade, mas para que 
pudessem obter os maquinários e os insumos necessários para esse aumento, a 
“[...] opção de aquisição era facilitada pelo acesso ao crédito rural, determinando 
o endividamento e a dependência dos agricultores” (BALSAN, 2006, p. 126). 
Segundo o autor, devido a demanda, em 1965 foi criado pelo governo o Sistema 
Nacional de Crédito Rural (SNCR), assim provando a importância de um 
tratamento distinto do setor público em relação à agricultura, comparativamente 
aos demais setores produtivos brasileiros. 
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL
97
Tal medida foi instituída pelo presidente Castelo Branco (1964-1967), 
no qual direcionou os recursos financeiros para os setores econômicos 
conforme o grau de necessidade de cada. Esse conjunto de medidas 
faziam parte de reformas institucionais implementadas pelo Plano 
de Ação Econômica do Governo (PAEG), que buscava integrar um 
panorama adequado à retomada dos investimentos e à superação 
da crise dos primeiros anos da década de 1960 (GREMAUD; 
VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR., 2007 apud OLIVEIRA 2016, p. 
30).
Durante o governo militar ainda foram criadas várias instituições 
direcionadas ao desenvolvimento das atividades produtivas, conforme relata 
Benites (2000), como o Organismo de Coordenação de Crédito Rural (CNCR), 
o Fundo de Democratização do Capital das Empresas (FUNDECE), o Fundo 
de Financiamento para a Aquisição de Máquinas e Equipamentos Industriais 
(FINAME) e o Fundo de Financiamento de Estudos de Projetos e Programas 
(FINEP). Além das transformações na base técnica, também foram sentidas nas 
relações sociais de produção, especialmente pela modificação no processo da 
atividade agrícola, em que o trabalhador deixa de ser o agente ativo, o controlador 
do processo de trabalho, para se tornar um complemento das máquinas. 
(GRAZIANO, 1996). Assim, as tentativas de transformar o rural do Brasil:
[...] tinham como metas alcançar um crescimento econômico em 
um país em desenvolvimento, que possuía nítidas diferenças em 
comparação com outros países que tiveram uma industrialização 
menos tardia, acarretando assim um desequilíbrio econômico e social. 
A incessante busca pelo crescimento da economia brasileira, além 
do esforço para a superação dos pontos críticos que abocanhava o 
crescimento, levou a identificar quais os motivos do adiamento no 
desenvolvimento da agricultura nacional. Deste modo, a nova política 
agrícola brasileira deveria considerar um processo de modernização, 
aumentar e diversificar a produção e ganhos na produtividade. Em 
suma, essas transformações na base produtiva deveriam incluir, desta 
maneira, o surgimento de modernos setores produtores de máquinas, 
implementos e insumos agrícolas (OLIVEIRA, 2016, p. 31).
No final da década de 1960, a agricultura inicia vínculos com outros 
setores de produção, tornando-se dependente dos insumos que recebe de 
distintos segmentos industriais. A produção não mais se limita exclusivamente 
a bens de consumo final ou na comercialização de mercadorias in natura, mas, 
ao mesmo tempo, na produção de bens intermediários ou matérias-primas para 
outras indústrias de transformação. E existiam outras características importantes 
provenientes da modernização que não foram apenas referentes as técnicas de 
produção, mas também a modernização da circulação, da armazenagem e da 
comercialização da produção. Além disso, compreendia toda uma estrutura de 
acompanhamento de colheitas, de financiamento, de extensão rural e ainda da 
pesquisa agropecuária (MESQUITA, MENDES, 2009 apud OLIVEIRA, 2016). 
Na década de 1970, a modernização na agricultura modificou as relações 
produtivas agregando o campo com a cidade, agricultura e indústria. A propósito 
da modernização e a geografia agrária:
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
98
Considerando que o sentido das mudanças foi dado em direção à 
consolidação das relações campo-cidade, evidenciadas pelos papéis 
que passaram a exercer a agricultura e a indústria na economia 
nacional, os estudos de Geografia Agrária deixaram de ser tipicamente 
agrícolas e incorporaram de forma definitiva a vertente social como 
definidora da posturageográfica sobre o assunto (FERREIRA, 2002, 
p. 288).
Após os anos 1990, muitas pesquisas na geografia agrária e urbana 
partiram para as interpretações das inter-relações dos espaços contínuos:
O espaço rural foi altamente alterado com esse incremento de 
tecnologias e a aproximação das relações industriais em boa parte 
do campo brasileiro, mas esta mudança vem sendo realizada 
paulatinamente desde a década de 1960, sendo acelerada pós 1990. 
Nesse sentido, as temáticas sobre a relação campo e cidade ou 
urbanização do campo vem ganhando força no discurso geográfico 
brasileiro (ALVES; FERREIRA, 2011, p.11).
Os assuntos a respeito da multifuncionalidade dos espaços rurais, como 
a pluriatividade (turismo rural, camping, pesque e pague etc.) são discutidos a 
partir dos anos 90, principalmente depois dos estudos realizados por Graziano 
(1999) sobre o “Novo Rural Brasileiro”. O referido estudo demonstrou a crescente 
participação dessas atividades na renda das famílias camponesas e também dos 
empresários rurais. Porém, o estudo sofreu várias críticas de outros autores 
como Alentejano (2003), já que a renda não-agrícola é presente no orçamento 
das famílias rurais antes da década de 1990, ou seja, não há nada de novo nesta 
situação.
Essas novas ruralidades no urbano são observadas por meio de hortas 
urbanas ou agricultura urbana, além das questões sociológicas pelos migrantes 
nativos de áreas rurais que residem na cidade e cultivam tradições e culturas 
tradicionais. As cidades do agronegócio são cidades organizadas numa 
perspectiva da agropecuária. Dessa visão o campo é quem determina os processos 
e estruturas da cidade (ELIAS; PEQUENO, 2005). 
É importante frisar que a reestruturação da agropecuária não 
homogeneizou a produção ou os espaços agrícolas, nem tão pouco 
os espaços urbanos que crescem com este processo. O que ocorre em 
contraposição ao processo de globalização da produção e do consumo 
agropecuário é um intenso processo de fragmentação da produção 
e do espaço agrícola. Assim sendo, como recurso de método para 
compreensão da urbanização brasileira, do espaço agrário e das 
cidades do agronegócio, temos que considerar esta fragmentação, que 
torna cada vez mais diferenciados os espaços agrícolas e as cidades do 
agronegócio (ELIAS; PEQUENO, 2005, p. 30).
“O processo de modernização da agricultura tornou forte a distinção 
do campo brasileiro, uma vez que aumentou as lacunas existentes entre os 
produtores rurais demandadores de inovações mecânicas, físico-químicas e 
biológicas” e os produtores mais simples (OLIVEIRA, 2016, p. 31). Dessa inclusão 
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL
99
do aprimoramento tecnológico, procedeu um processo irreversível, instituindo, 
portanto, os Complexos Agroindustriais (CAIs) (OLIVEIRA, 2016), conforme será 
analisado a seguir. 
2.2 FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS 
NO BRASIL
Na década de 1950 não existia conceito próprio do inter-relacionamento 
das funções afins da agricultura ou das atividades com produtos agropecuários 
como o armazenamento, o processamento e a industrialização, conforme 
explica Araújo (1982, p. 238) citado por Cavalcante (2018, p. 30), nem os 
americanos tinham, mas o prof. John Davi que apresentou em 1955 o seu 
trabalho no Congresso de Distribuição de Produtos Agrícolas, em Boston, 
pela primeira vez disse a palavra agribusiness, conceituando como “[...] a soma 
total de todas as operações envolvendo a produção e distribuição de insumos 
agrícolas; operações de produção na fazenda; armazenamento, processamento 
e distribuição de produtos agrícolas e dos produtos deles derivados”, de acordo 
com Araújo (1982, p. 238) citado por Cavalcante (2018, p. 30). Deste modo, o 
agribusiness compreenderia, contemporaneamente, “[...] todas as funções que o 
termo agricultura abrangeria à época da agricultura tradicional”, Araújo (1982, 
p. 238) citado por Cavalcante (2018, p. 30).
 A concepção de agribusiness é “[...] uma das denominações dadas aos 
Complexos Agroindustriais (CAI) e foi desenvolvida inicialmente nos Estados Unidos 
(EUA.). [...] Essa definição generalizou a utilização do termo agribusiness para explicitar a 
crescente inter-relação setorial entre a agricultura e a indústria” (OCNER FILHO, 2017, p. 
12). Além da tradução do termo agribusiness para o português, também se traduziu “[...] 
para o francês como filière (cadeias) e a dimensão histórica foi considerada no contexto do 
desenvolvimento capitalista do setor agropecuário”. Graziano da Silva (1998, p. 68) citando 
Malassis (1973),
[...] considera a cadeia agroalimentar como o setor da economia 
agrícola constituído por um conjunto de empresas que estão 
envolvidas na produção agrícola e na sua transformação. A sua 
estrutura é caracterizada por um subsetor a montante (que fornece os 
bens de produção), o subsetor agrícola e o subsetor que transforma e 
distribui os produtos agrícolas e alimentares.
NOTA
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
100
O conceito original de agronegócio tem a ver com uma origem estática 
(GRAZIANO, 1996). O conceito se destina então unicamente ao aumento da noção 
de agricultura, que nos Estados Unidos dos anos 50 não poderia ser abordada 
como setor primário, porque na sua dinâmica produzia insumos e também 
estava em crescente interligação de setores. Deste modo, conforme a tradução, a 
expressão tornou-se Complexo Agroindustrial (GRAZIANO, 1996).
Entende-se por Complexo Agroindustrial:
[...] o conjunto de relações entre indústria e agricultura na fase em 
que esta mantém intensas conexões para trás, com a indústria para 
a agricultura e para frente, com as agroindústrias e outras unidades 
de intermediação que exercem impactos na dinâmica agrária. O 
Complexo Agroindustrial é uma forma de unificação das relações 
entre os grandes departamentos econômicos com os ciclos e as esferas 
de produção, distribuição e consumo, relações estas associadas às 
atividades agrárias (MÜLLER, 1989, p. 41).
Segundo Marafon (1998), foi Müller (1989) quem mais contribuiu para 
a definição de complexo agroindustrial no Brasil. Sendo que neste processo a 
economia natural é substituída pelas por atividades agrícolas associadas à moderna 
industrialização, a intensificação da divisão do trabalho e das trocas intersetoriais, a 
especialização da agricultura e a troca do comércio pelo interno e externo. Kageyama 
(1987), Graziano (1996) e outros estudiosos, analisam a existência de um Complexo 
Rural, precedente à constituição dos intitulados Complexos Agroindustriais 
(CAIs), numa condição em que haveria uma dinâmica muito simplória no qual o 
setor rural ou a atividade agrícola, sustentava poucas ou quase nenhuma relação 
com atividades externas às fazendas, a não ser com o comércio externo para um 
exclusivo produto, geralmente, em todo o circuito produtivo com valor mercantil 
como o caso da cafeicultura desde o século XIX. Em 1950 o Complexo Rural chega 
ao seu apogeu e submerge num processo de colapso e desarticulação. 
FIGURA 5 – LAVOURA DE CAFÉ
FONTE: <http://museudaimigracao.org.br/wp-content/uploads/2015/08/Foto-cafe-123.jpg>.
Acesso: 15 mar. 2019.
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL
101
Para o fim do predomínio do Complexo Rural, no cenário econômico 
brasileiro, foi decisivo uma forte atuação estatal que visava a industrialização e 
a modernização da agricultura, processo impulsionado, principalmente, depois 
da Segunda Guerra Mundial. Na década de 1950, as mudanças na base técnica 
da produção agropecuária surgiram com a importação de máquinas, tratores, 
adubos e outros insumos, concretizando-se quando esses bens de capital e 
insumos agrícolas começam a ser produzidos no mercado interno substituindo 
às importações (LOPES, 1993).
A agricultura perdeu território para a industrialização na década de 1950. 
Esse processo, para ser viabilizado, demandou políticas que alteravam os preçosna economia e também gerou uma transferência ampla da renda agrícola para 
diversos setores. O Brasil ocupa posições importantes no ranking mundial de 
produção e exportação de bens provenientes do complexo agroindustrial, sendo 
o agronegócio a atividade econômica mais aberta e competitiva no mercado 
externo (LOPES, 1993).
Já no século XX iniciou o processo de apropriação da agricultura pelo 
capital. A análise indica o surgimento da inter-relação que passaria a incidir 
entre a agricultura e a indústria e originaria o processo de industrialização 
da agricultura. Contudo, somente a agroindústria não era o bastante para a 
existência de um complexo agroindustrial. Para que isso acontecesse era preciso 
analisar alguns condicionantes econômicos que do mesmo modo são estruturais 
e temporais, isto é, um nível elevado de uniões entre distintas esferas e atividades 
econômicas (KAUTSKY, 1980).
FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL
FONTE: <https://meioambiente.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/desvendando-o-
agronegocio-no-brasil2/desvendando-o-agronegocio-no-brasil-15.jpg>. Acesso: 16 mar. 2019.
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
102
Costuma-se dividir o estudo do agronegócio em três partes. A primeira 
parte aborda os negócios agropecuários propriamente ditos, que representam 
desde os pequenos até os grandes produtores rurais, constituídos na forma de 
pessoas físicas, ou seja, fazendeiros ou camponeses, ou de pessoas jurídicas, isto 
é, empresas. Já na segunda parte, os negócios montantes aos da agropecuária, 
representados pelas indústrias e comércios fornecedores de insumos para a 
produção rural, como os fabricantes de fertilizantes, defensivos químicos, 
equipamentos etc. E por último, na terceira parte, estão os negócios à jusante 
dos negócios agropecuários, desde a compra, o transporte, o beneficiamento, 
a venda dos produtos agropecuários até o consumidor final. Estão nesta 
definição os frigoríficos, as indústrias têxteis e de calçados, os empacotadores, 
os supermercados e os distribuidores de alimentos, segundo o Agrocomunica 
(2018).
Para melhor compreensão do conceito de complexo agroindustrial é 
necessário conhecer a definição. A agroindústria como “[...] todo o segmento 
industrial de produtos alimentícios, as indústrias que transformam matéria-prima 
agropecuária em produtos intermediários para fins alimentares e não alimentares 
como casos especiais, as indústrias de óleos vegetais não comestíveis, de insumos 
agropecuários” segundo Dorighello (2003, p. 37 apud Lourenço (2010).
Segundo Araújo (2005), citado por Lourenço (2010), a agroindústria 
apresenta dois grupos distintos de agroindústrias: as alimentares e as não 
alimentares. Gonçalves (2005) comenta que essas organizações se transformaram 
em operações altamente especializadas. Além disso, foi criado um novo arranjo 
de funções externas à fazenda: a produção de insumos agrícolas e fatores de 
produção, compreendendo máquinas e implementos, tratores, combustíveis, 
fertilizantes, suplementos para ração, vacinas e medicamentos, sementes 
melhoradas, inseticidas, herbicidas, fungicidas entre outros itens, ainda serviços 
bancários, técnicos de pesquisa e informação.
Conforme Araújo (2005, p. 93 apud LOURENÇO 2010, p. 27) “[...] 
na agroindústria existem dois grupos distintos de agroindústrias”. As 
“Agroindústrias não alimentares: como fibras, couros, calçados, óleos vegetais 
não comestíveis e outras; Agroindústrias alimentares: voltadas para a produção 
de alimentos (líquidos e sólidos), como sucos, polpas, extratos, lácteos, carnes e 
outros” (ARAÚJO, 2005, p. 93 apud LOURENÇO 2010, p. 27).
Nas agroindústrias alimentares e não alimentares os procedimentos 
industriais são bem distintos uns dos outros, enquanto que os cuidados 
são maiores e bastante específicos nas agroindústrias alimentares, 
nas não alimentares os procedimentos industriais gerais são bastante 
similares aos de indústrias de outros setores. Sendo assim, os cuidados 
adotados pelas agroindústrias alimentares se justificam, pois elas 
tratam da produção de alimentos e têm uma preocupação muito 
maior, que é a segurança alimentar dos consumidores, com o objetivo 
de fornecimento de alimento seguro para a saúde do consumidor 
(LOURENÇO, 2010, p. 27).
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL
103
A propriedade agrícola alterou seu trabalho de subsistência para uma 
operação comercial enquanto os agricultores consomem cada vez menos a 
própria produção. Este moderno agricultor é um especialista, preso nas operações 
de cultivo e também de criação. Todavia, as funções de armazenar, processar e 
distribuir alimento e fibra vão se transferindo, em ampla escala, para instituições 
que estão fora da fazenda (ARAÚJO, WEDEKIN; PINAZZA, 1990).
Fora da fazenda constituiu-se complexas estruturas e armazenamento, 
transporte, processamento, industrialização e distribuição ainda melhores. Os 
complexos agroindustriais atualmente exercem significativa importância na 
economia do Brasil, citando-se todas as organizações que desenvolvem atividades 
no processo de produção, elaboração e distribuição dos produtos da agricultura 
e pecuária, abrangendo desde a produção e fornecimento de recursos até que 
o produto final chegue aos consumidores. De acordo com Gonçalves (2005), as 
instituições que incorporam o Complexo Agroindustrial são: aquelas diretamente 
envolvidas no processo, aquelas de apoio indireto à realização das atividades na 
tomada de decisões, tais como o governo e suas políticas e o sistema financeiro e 
de crédito. 
Os setores que compõem o Complexo agroindustrial são: produção 
agropecuária: engloba os inúmeros tipos de cultivo e criações; instituições: 
envolve os vários serviços prestados ao setor agropecuário, como: crédito, 
assistência técnica, extensão, pesquisa, entre outros; indústria de insumos: 
abrange os ramos industriais e comerciais que se orientam para o atendimento 
das necessidades produtivas agropecuárias, por exemplo: corretivos, fertilizantes, 
defensivos, implementos, equipamentos, entre outros; comercialização: diz 
respeito aos serviços de estocagem e comercialização dos produtos agropecuários, 
como: cooperativas, atacadistas, varejistas, redes de comercialização, entre 
outros; indústria de processamento: inclui os setores industriais com produção 
predominantemente baseada em matérias-primas de origem agropecuária 
(GONÇALVES, 2005).
Os Complexos Agroindustriais são considerados o novo modo de 
organização da atividade agrícola depois da sua modernização e industrialização, 
período em que a agricultura passa a ser inter-relacionada com outras atividades, 
estabelecendo relações diretas com a indústria. Nos CAI completos a agricultura 
vincula-se diretamente com os fornecedores de insumos, maquinário e 
equipamentos, e ainda com as agroindústrias processadoras dos seus produtos. Os 
processos produtivos modificaram com a introdução das inovadoras tecnologias, 
portanto, a agricultura deixa de ser um setor separado e autônomo e se incorpora 
a um complexo produtivo (GONÇALVES, 2005).
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
104
BNCC: GEOGRAFIA AGROINDUSTRIA MODERNA E COMPLEXOS AGRO 
INDUSTRIAIS
Caro acadêmico, com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Geografia 
é incorporada desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. Na nova abordagem proposta, 
o foco recai sobre o pensamento espacial e o raciocínio geográfico. Para se aproximar 
dos objetivos de aprendizagem, o professor também precisa se apropriar de conteúdos 
procedimentais. A Base reforça a ideia da Geografia como um componente importante 
para entender o mundo, a vida, o cotidiano, o mundo do trabalho. 
Essa é a grande contribuição da Geografia para os alunos da Educação Básica: desenvolver 
o pensamento espacial, estimulando o raciocínio geográfico para representar e interpretar 
o mundo em permanente transformação, relacionando componentes da sociedade e danatureza. Importante também destacar e relacionar a BNCC no componente curricular 
Geografia com o assunto estudado neste livro de estudos.
Caro acadêmico, para saber mais e relacionar com o assunto estudado, acesse: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Sucesso em seus estudos!
DICAS
105
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Com as revoluções industriais, o espaço rural se tornou cada vez mais integrado 
e subordinado ao espaço urbano. O processo de modernização da agricultura 
desencadeou diversas transformações no campo, alterando profundamente 
as formas de produção agrícola dos países. O processo de modernização do 
campo corresponde à implantação de novas tecnologias e maquinários no 
processo de produção no meio rural.
• O processo de modernização se torna irreversível com a industrialização da 
agricultura. A produção agrícola regrediria somente no caso de uma regressão 
da base técnica da industrialização. A situação é que o término do processo de 
modernização da agricultura resulta na sua industrialização.
• No desenvolvimento agrícola, no mesmo país, existem disparidades entre 
os lavradores e por este motivo nem todos conseguem os benefícios da 
modernização agrícola, já que há também um custo envolvido, assim muitos 
ainda estão na agricultura primitiva.
• Dualismo tecnológico na agricultura brasileira existe, já que o presente e o 
passado compartilham a mesma região, ou seja, há a modernização agrícola 
com a mecanização do campo e a agricultura rudimentar com instrumentos 
arcaicos como a enxada convivendo num mesmo local.
• O projeto de desenvolvimento rural brasileiro teve o objetivo da expansão e da 
concretização do agronegócio que resultou na ampliação da produtividade e 
investimentos para o Brasil pela exportação e as implicações dos custos sociais 
e ambientais crescentes.
• No Brasil, o processo de modernização da agricultura iniciou-se na década de 
1950 e teve como base as importações de meios de produção mais avançados 
daquele período. Entretanto, a sua consolidação aconteceu somente na década 
de 1960, com a implantação no país de um setor industrial direcionado à 
produção de equipamentos e insumos para o campo.
• No final da década de 1960, a agricultura inicia vínculos com outros setores 
de produção, tornando-se dependente dos insumos que recebe de distintos 
segmentos industriais. A produção não mais se limita exclusivamente a bens 
de consumo final ou na comercialização de mercadorias in natura, mas, ao 
mesmo tempo na produção de bens intermediários ou matérias-primas para 
outras indústrias de transformação.
106
• Na década de 1970 a modernização na agricultura modificou as relações 
produtivas, agregando o campo com a cidade, agricultura e indústria. A 
propósito da modernização e a geografia agrária, após os anos 1990, muitas 
pesquisas na geografia agrária e urbana partiram para as interpretações das 
inter-relações dos espaços contínuos.
• Os assuntos a respeito da multifuncionalidade dos espaços rurais, como a 
pluriatividade (turismo rural, camping, pesque e pague etc.) são discutidos a 
partir dos anos 90, principalmente depois dos estudos realizados por Graziano 
(1999) sobre o Novo Rural Brasileiro. O referido estudo demonstrou a crescente 
participação dessas atividades na renda das famílias camponesas e também 
dos empresários rurais.
• As novas ruralidades no urbano são observadas por meio de hortas urbanas ou 
agricultura urbana, além das questões sociológicas pelos migrantes nativos de 
áreas rurais que residem na cidade e cultivam tradições e culturas tradicionais. 
As cidades do agronegócio são cidades organizadas numa perspectiva da 
agropecuária. Nessa visão o campo é quem determina os processos e estruturas 
da cidade.
• Entende-se por Complexo Agroindustrial: “[...] o conjunto de relações entre 
indústria e agricultura na fase em que esta mantém intensas conexões para 
trás, com a indústria para a agricultura e para frente, com as agroindústrias e 
outras unidades de intermediação que exercem impactos na dinâmica agrária. 
O Complexo Agroindustrial é uma forma de unificação das relações entre os 
grandes departamentos econômicos com os ciclos e as esferas de produção, 
distribuição e consumo, relações estas associadas às atividades agrárias” 
(MÜLLER, 1989, p. 41).
• Os setores que compõem o Complexo Agroindustrial são: produção 
agropecuária: engloba os inúmeros tipos de cultivo e criações; instituições: 
envolve os vários serviços prestados ao setor agropecuário, como: 
crédito, assistência técnica, extensão, pesquisa, entre outros; indústria de 
insumos: abrange os ramos industriais e comerciais que se orientam para 
o atendimento das necessidades produtivas agropecuárias, por exemplo: 
corretivos, fertilizantes, defensivos, implementos, equipamentos, entre outros; 
comercialização: diz respeito aos serviços de estocagem e comercialização dos 
produtos agropecuários, como: cooperativas, atacadistas, varejistas, redes de 
comercialização, entre outros; indústria de processamento: inclui os setores 
industriais com produção predominantemente baseada em matérias-primas 
de origem agropecuária (GONÇALVES, 2005).
107
AUTOATIVIDADE
1 Os Complexos Agroindustriais são considerados o novo modo de 
organização da atividade agrícola depois da sua modernização e 
industrialização, período em que a agricultura passa a ser inter-relacionada 
com outras atividades, estabelecendo relações diretas com a indústria. 
Como podemos verificar a ligação do crescimento do Produto Interno Bruto 
(PIB) com a produção industrial e o crescimento do setor agroindustrial 
em nosso país? 
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O crescimento do PIB está diretamente ligado com as importações dos 
insumos agrícolas e com a diminuição do consumo interno de produtos 
agrícolas.
b) ( ) Os complexos agroindustriais ampliam as exportações e a velocidade 
do segmento de produção dos pequenos e médios produtores rurais. 
c) ( ) Os complexos agroindustriais apenas favorecem o grande produtor 
rural não havendo crescimento no PIB nacional.
d) ( ) O crescimento do PIB não tem nada a ver com o crescimento dos 
complexos agroindustriais, pois as exportações do setor primário de nosso 
país é apenas feito por commodity.
2 No Brasil, o processo de modernização da agricultura iniciou-se na década 
de 1950 e teve como base as importações dos meios de produção mais 
avançados daquele período. Entretanto, a sua consolidação aconteceu 
somente na década de 1960, com a implantação no país de um setor industrial 
direcionado à produção de equipamentos e insumos para o campo. 
Sobre a modernização no campo em nosso país, assinale a alternativa 
CORRETA:
a) ( ) O Brasil é considerado um país de agricultura e pecuária moderna, mas 
essa condição só começou a ocorrer a partir do início do século XXI, pois 
até então não havíamos passado por nenhum processo de modernização 
agropastoril.
b) ( ) A modernização no campo em nosso país é desigual quando observamos 
os complexos regionais brasileiros que favorecem mais as regiões norte e 
nordeste com espaços mais modernos e o centro-sul com o predomínio de 
minifundiários com agricultura familiar e extrativista.
c) ( ) Os espaços agrários seguem a mesma dificuldade de desenvolvimento 
regional de muitas áreas de nosso país, caracterizado ainda como um país 
com regiões mais desenvolvidas que outras, favorecendo o mau uso da terra 
e aproveitamento dos potencias de produção alimentar. 
d) ( ) As desigualdades regionais se restringem apenas as regiões extrativistas 
do norte do país, mais precisamente as famílias coletoras da floresta 
Amazônica.
108
3 O agronegócio ou em inglês agribusiness tem o conceito que se destina 
unicamente ao aumento da noção de agricultura que nos Estados Unidos 
dos anos 50 não poderia ser abordada como setor primário, porque na sua 
dinâmica, produzia insumos e também estava em crescente interligação 
de setores. O que se entende então por ComplexoAgroindustrial no 
agronegócio?
109
TÓPICO 3
OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A 
SUSTENTABILIDADE
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Os sistemas produtivos baseados unicamente no uso 
de insumos e na utilização intensiva de máquinas para o preparo do solo, como 
arados e grades mostraram-se inadequados e insustentáveis para a produção.
 
Com outro direcionamento surgiram no Brasil e no mundo movimentos 
de agricultura alternativos ao convencional, contrapondo-se ao uso abusivo de 
insumos agrícolas industrializados, da dissipação do conhecimento tradicional e 
da deterioração da base social de produção de alimentos.
 
Os sistemas sustentáveis de produção agrícola (agricultura, pecuária e 
silvicultura) podem ser conceituados como o conjunto de técnicas e práticas que 
visam à produção de alimentos, fibras, madeira e agroenergia, de forma a atender 
três requisitos fundamentais: ser economicamente viável, ambientalmente correto 
e socialmente justo. Esses sistemas têm como objetivo a produção com mínimo 
impacto aos recursos naturais, através do uso racional dos insumos, do respeito à 
legislação ambiental e trabalhista.
A partir desses movimentos surgiram correntes de atuação com diversas 
denominações para diferentes sistemas de produção empregados em diferentes 
condições ambientais, apresentando resultados satisfatórios do ponto de vista 
ecológico, agronômico, econômico e social. A agroecologia é uma ciência surgida 
na década de 1970 como forma de estabelecer uma base teórica para esses diferentes 
movimentos de agricultura não convencional. A agroecologia propõe alternativas 
para minimizar a artificialização do ambiente natural pela agricultura e apresenta 
uma série de princípios e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e 
avaliar agroecossistemas. Esse será nosso foco de estudo no tópico a seguir.
2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (GLOBAL)
A agricultura como um todo abrange elementos e processos conectados 
que propiciam a oferta de produtos aos seus consumidores finais, pela 
transformação de insumos originados pelos seus elementos. Este conjunto de 
processos e instituições interligadas por objetivos comuns forma um sistema que, 
por sua vez, engloba diversos sistemas menores, ou subsistemas (OSORIO et al., 
110
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
2017). Os sistemas agrícolas compõem um arranjo de elementos que funcionam 
como uma unidade. E na sua composição há animais, plantas e um conjunto da 
flora e fauna de uma região (HART, 1979). 
O surgimento da Revolução Verde teve uma boa atuação em termos 
produtivos em áreas favorecidas de um clima estável e energia barata. A partir 
deste período, “Milhões de hectares foram transformados em sistemas agrícolas de 
larga escala, especializados e dependentes de insumos industriais” (NICHOLLS; 
ALTIERI, 2012, p. 14). 
Existindo poucos investimentos para a ampliação da “[...] capacidade 
de adaptação da agricultura industrial às mudanças climáticas ou aos eventos 
climáticos extremos, a não ser por ações baseadas em ‘fórmulas mágicas’, como a 
transgenia, com a qual se espera que as culturas produzam mesmo em condições 
de estresse ambiental” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 14). 
Apresentam-se poucos trabalhos “[...] na elaboração de práticas de manejo 
que aumentem a resiliência da agricultura às mudanças climáticas” (NICHOLLS; 
ALTIERI, 2012, p. 14). Mas existem inúmeras constatações que provam “[...] que 
os manejos de base agroecológica contribuem enormemente nesse sentido”. 
Vários estudos que revelaram “[...] que agricultores familiares que adotam 
esses manejos conseguem lidar com as alterações climáticas, minimizando as 
quebras de safra” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 14). E os resultados de diversos 
estudos recomendam que esses manejos atribuem “[...] maior capacidade de 
resistência a eventos climáticos, proporcionando menor vulnerabilidade e maior 
sustentabilidade aos sistemas agrícolas no longo prazo” (NICHOLLS; ALTIERI, 
2012, p. 14).
Com base nessas evidências, vários especialistas têm sugerido que o 
resgate de sistemas de manejo tradicionais, juntamente com o emprego 
de estratégias de manejo de base agroecológica, pode representar o 
único caminho viável e robusto para aumentar a produtividade, a 
sustentabilidade e a resiliência da produção agrícola (NICHOLLS; 
ALTIERI, 2012, p. 14).
Foram citados poucos “[...] exemplos de como agroecossistemas 
complexos” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 15) apresentam a capacidade de 
se moldarem e resistirem as implicações das transformações do clima. Já os 
sistemas agroflorestais são capazes de suavizar o choque das grandes flutuações 
de temperatura sobre as culturas, conservando-as do mesmo modo em condições 
mais próximas dos reais. “Cultivos de café mais sombreados protegem as culturas 
da queda nos índices de precipitação e da redução da disponibilidade de água no 
solo em função de seu estrato superior florestal, reduzindo a evaporação do solo 
e aumentando a infiltração de água no solo” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 15). 
Há a união consente que os agricultores produzam diversas culturas ao 
mesmo tempo, reduzindo os riscos. Ou seja, os policultivos proporcionam maior 
equilíbrio de rentabilidade e menor declínio de produtividade durante temporadas 
de seca. Segundo Carvalho (2018, p. 25-26) citando ALTIERI et al., (2003):
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE
111
[...] sistemas agrícolas mais diversificados dispõem de mais recursos 
que podem estimular a ação de inimigos naturais, além de garantir 
maior resiliência ao ambiente, devido à quantidade de interações 
ocorrendo no sistema, diferente do que ocorre nos cultivos sob 
regime de monocultura, onde a presença de uma única espécie pode 
gerar desequilíbrios e instabilidades ambientais, além de favorecer o 
surgimento de inimigos naturais, pragas ou doenças.
Os sistemas silvipastoris intensivos são outro exemplo “[...] que combinam 
arbustos forrageiros plantados em altas densidades, árvores, palmeiras e 
pastagens. Nesses sistemas, é possível manter uma alta lotação animal e ainda 
produzir leite e carne por meio do pastejo rotacionado” (NICHOLLS; ALTIERI, 
2012, p. 15). Os exemplos citados apresentam uma combinação de benefícios 
produzidas pelos sistemas distintos de produção “[...] como regulação da água, 
microclima favorável, biodiversidade e estoques de carbono, não só fornece bens 
e serviços ambientais para os produtores, mas também proporciona uma maior 
resiliência às mudanças climáticas” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 15). 
SISTEMAS AGRÍCOLAS 
TRADICIONAIS
SISTEMAS AGRÍCOLAS 
CONTEMPORÂNEOS (REVOLUÇÃO VERDE)
Complexos e extremamente 
diversos (cultivos diversificados 
com sementes nativas milenares de 
grande variabilidade genética).
Monoculturas geneticamente uniformes (cultivos 
homogêneos de variedades de laboratório); perda 
de variedades antigas e a perda irrecuperável de 
material genético e de alternativas alimentícias.
A cada ciclo produtivo da agricultura 
de base camponesa, são utilizadas 
sementes nativas, solo fertilizado 
por processos ecológicos da natureza 
manejados pelos agricultores, água 
do ambiente, que são recursos 
endógenos que foram mantidos por 
gerações, visto que a agricultura 
nativa tem como base em seu 
conhecimento tradicional a interação 
solo–planta– água–ecossistema.
A cada safra novos insumos externos, como 
sementes, adubos químicos, agrotóxicos, 
petróleo e irrigação são necessários e precisam 
ser adquiridos.
QUADRO 1 – DISTINÇÕES ENTRE SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (REVOLUÇÃO 
VERDE) E SISTEMAS AGRÍCOLAS TRADICIONAIS
112
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
São utilizadas sementes nativas.
As sementes “melhoradas” somente são 
produtivas com base no pacote tecnológico. 
Sem os insumos adicionais, seu desempenho é 
inferior ao das variedades nativas. Portanto, o 
termo “variedades de alto rendimento” pode 
ser considerado enganoso, pois não é pelas 
características intrínsecasque as variedades 
apresentam alta produtividade. Além disso, com 
o estreitamento das bases genéticas da agricultura, 
as culturas ficaram fragilizadas e vulneráveis a 
desequilíbrios, as chamadas “pragas” e doenças 
(que decorrem de aumento da população de uma 
ou outra espécie por causa de desequilíbrios 
ecológicos nas interações ecológicas da cadeia 
alimentar) e as variações climáticas.
A base dessa agricultura é sustentável, 
responsável pela conservação das 
condições de produtividade.
Não conserva as condições de produtividade.
O solo é visto como uma unidade 
viva, rico em organismos que fazem a 
aeração e a decomposição da matéria 
orgânica, renovam os nutrientes e 
fertilizam o solo de um ciclo para o 
outro.
Considera o solo como substrato, adiciona 
adubo químico e água, e prepara-o com o uso de 
máquinas.
As variedades nativas não são 
produzidas somente para o mercado: 
são cultivadas para produzir 
comida, forragem para os animais 
e fertilizantes orgânicos para o 
solo, e podem ser consideradas, 
sob vários aspectos, melhores do 
que as chamadas “melhoradas 
cientificamente por seleção de certas 
características que respondem bem 
ao pacote”.
As monoculturas que privilegiam algumas 
variedades ameaçam a grande diversidade de 
espécies nativas e seus usos múltiplos. 
O pacote da Revolução Verde foi criado 
para substituir a diversidade em dois níveis: 
monoculturas de grãos que substituíram os 
cultivos mistos e a rotação de culturas diversas 
e base genética limitadíssima, priorizando a 
produção como mercadoria para venda.
FONTE: PEREIRA (2012, p. 687-689).
No Quadro 1, observamos várias diferenças entre os sistemas agrícolas 
contemporâneos (Revolução Verde) e os sistemas agrícolas tradicionais. Outra 
diferença a destacar: os sistemas agrícolas contemporâneos são amplamente 
dependentes de combustíveis a base de petróleo, pois utilizam nos seus 
maquinários e para produzirem fertilizantes, diferente dos sistemas agrícolas 
tradicionais, já que a maioria das pequenas propriedades emprega um ínfimo 
de insumos derivados de combustíveis fósseis, ocasionando vários benefícios e 
gerando um impacto ambiental reduzido, menos dinheiro gasto e aumento da 
resiliência com relação às flutuações no preço dos combustíveis fósseis (NIELSEN, 
2012).
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE
113
Observa-se que a dinâmica do sistema agrícola contemporâneo e alimentar 
mundial é menos tumultuado e confuso que os sobressaltos dos preços, das 
penúrias, da fome e das ferozes negociações mercantis internacionais permitem 
compreender. Os movimentos na superfície dos mercados e nas diretrizes 
agrícolas se esclarecem pelo arranjo, o funcionamento e a dinâmica do sistema 
agrícola e alimentar mundial. Este foi um sistema que se formou, realmente 
somente ao longo das últimas décadas, por constituir relação entre agriculturas 
bem distintas, produzidas no decorrer dos 10.000 anos de uma história agrária 
incrivelmente distinguida segundo as regiões do globo (MAZOYER; ROUDART, 
2010). 
Ora, esse sistema agrícola e alimentar mundial, composto por 
subsistemas regionais relativamente especializados, concorrentes e 
muito desiguais na eficiência, se desenvolve de maneira contraditória 
e divergente. Por um lado um número reduzido de propriedades e 
de regiões do mundo sempre acumula mais capitais, concentra os 
cultivos e as criações mais produtivas e conquista, sem cessar, novas 
partes de mercado. Por outro lado, regiões muito extensas e a maioria 
dos camponeses do mundo mergulham na crise e na indigência até 
serem excluídas. De um lado, uma agricultura que pode pecar por 
excesso de meios; de outro, uma agricultura que, na falta de meios, 
não renova a fertilidade dos ambientes que explora. Essa colossal 
distorção do sistema agrícola e alimentar mundial está na base das 
enormes desigualdades de renda e de desenvolvimento que existem 
entre os países (MAZOYER; ROUDART, 2010, p. 551-552). 
Segundo os autores, se infelizmente a Terra estivesse numa lei 
desenvolvimentista tão impetuosamente conflitante, não constituiria dúvida 
de que o destino fosse mais parecido com um conjunto de ilhas prósperas e 
guarnecidas, espalhadas em um mar de pobreza, num mundo próspero que aos 
poucos vai absorvendo cada ilha, uma depois da outra com resquício de miséria. 
Para Foley (2011), a demanda mundial de alimentos está crescendo 
velozmente, como também os impactos ambientais da ampliação agrícola. Ao 
intensificar a agricultura, o homem fez dela uma dominadora ameaça à Terra, já 
que consome 38% da extensão do mundo. 
Além da extensão do mundo que os sistemas agrícolas consomem, 
também precisarão de água, porém, sofrerão com a escassez de água e com as 
alterações climáticas que podem aumentar o risco de problemas de produção. 
As reivindicações daí decorrentes da água, alimentos e energia irão fortificar 
os conflitos da utilização do solo e aumentar os impactos ambientais. Por este 
motivo devemos com urgência harmonizar nossas crescentes necessidades 
consumistas com a proteção do meio ambiente. Também devemos produzir 
mais alimentos com o mínimo de recursos e isso pode acontecer por meio da 
agricultura sustentável (BROOKS, 2014).
114
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
A agricultura sustentável busca a assistência aos agricultores, recursos e 
comunidades por meio da promoção de práticas de cultivo e técnicas que são 
lucrativas, ambientalmente benéficas e boas para as comunidades. Há necessidade 
da proteção da biodiversidade e dos solos cultiváveis para o futuro da produção 
de alimentos. E também existe a necessidade da proteção da variedade genética 
para salvaguardar a resiliência dos ecossistemas (BROOKS, 2014). 
Podemos citar o exemplo do Centro de Sistemas de Conhecimento 
Tradicional (CIKS), localizado na Índia que busca garantir que os saberes 
tradicionais sobre diversas espécies sejam revalorizados nos sistemas agrícolas 
contemporâneos, de acordo com Nicholls e Altieri (2012). Por meio da 
agrobiodiversidade estão conhecendo uma abundância de espécies que resistem 
as secas, as pragas e também as doenças. Ainda os auxiliou na produção de 
alimentos de modo adaptado às condições da localidades, tradições e culturas. 
Além disso, proporcionam produtividades maiores. Os autores consideram que 
um dos maiores desafios no século XXI é produzir mais para suprir as necessidades 
alimentares da comunidade que a cada dia cresce mais, porém, reduzindo os 
desperdícios gerados pelo consumo e consequentemente os prejuízos à natureza.
2.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS 
(AMÉRICA LATINA)
Segundo os indicadores do Inter-American Development Bank (IADB, 
2014), a América Latina deve crescer 80% até 2050 no setor agrícola, já a sua 
população teve um aumento de mais de 35% no mesmo período. Os indivíduos 
pobres deste território consumem entre 50% e 80% de sua renda com alimentação, 
sendo que aproximadamente 2/3 da população rural total ainda vive na pobreza 
de acordo com a IADB (2014) citado por Ferreira et al. (2016). A agricultura 
Latino-Americana está num lento desenvolvimento produtivo, sendo que a taxa 
de crescimento anual da produtividade total dos fatores aumentou somente 1,9% 
entre os anos de 1961 a 2007, comparado com o percentual de 2,4% nos países 
da Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). Já nas 
nações da América Central e do Caribe, em que há limitação de terras, é um fator 
determinante da ampliação da produção, a taxa de crescimento é ainda inferior, 
1,1% para o mesmo período (IADB, 2014 citado por FERREIRA et al., 2016, p. 439). 
De acordo com Agroanalysis (2014, apud FERREIRA et al., 2016, p. 440):
Contudo, a América Latina e o Caribe já se estabeleceram como a maior 
região exportadora líquida de alimentos do mundo. A produção quase 
que total é destinada à exportação. De acordo com o IADB (2014), a 
América Latina e o Caribe alcançaram só uma fração de seu potencial 
para aumentar a produção agrícola,tanto para o consumo regional 
como para a exportação mundial. Entretanto, o cenário de concentração 
de terras férteis nas mãos de poucos proprietários e a falta de terras 
para que todos possam cultivar levaram ao surgimento de áreas de 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032016000300437#B20
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE
115
intenso conflito nesses países. A relação fundiária conturbada fez com 
que, em vários países, fossem criados projetos de reforma agrária 
com o objetivo de fazer melhor distribuição das terras. Países que já 
adotaram reformas nesse sentido são México, Cuba, Peru e Chile. 
Considera-se que 28% da terra agricultável tem uma potencialidade 
alta para a ampliação sustentável da superfície cultivada no planeta e 36% da 
terra está cerca de seis horas dos comércios locais o que corrobora com a real 
potencialidade agrícola desses países em extensão de terras, bem como o acesso 
ao escoamento dessa produção (ZEIGLER; TRUITT NAKATA, 2014). Mas, esses 
fatores são reunidos a uma série de condições desfavoráveis para o progresso 
de novas formas de agricultura produtiva e sustentável com o meio ambiente 
da região, por exemplo. Ainda carecem ser priorizados para melhorar o 
desenvolvimento da região as operações de organismo os créditos internacionais, 
investimentos públicos e privados, políticas de ação e ciência agrícola (ZEIGLER; 
TRUITT NAKATA, 2014).
O aumento da produtividade e da produção alimentar regional na 
América Latina e no Caribe são oriundos das contribuições dos investimentos 
em infraestrutura rural. E os organismos internacionais, como o Inter-American 
Development Bank (IADB), são responsáveis pelo financiamento sobretudo da 
construção e da reabilitação da irrigação, drenagem e controle de enchentes. Além 
disso, quanto aos projetos de desenvolvimento produtivo, o IADB ainda apoiou 
a infraestrutura regional ou nacional e na área rural apoiou estradas, eletricidade 
e água, para o desenvolvimento da pecuária (IADB, 2014 apud FERREIRA et al., 
2016).
O Programa de Serviços Agrícolas Provinciais (PROSAP) em 2004, 
financiou outros projetos de desenvolvimento agropecuário, como nas regiões 
do norte da Argentina e em 2006 com inversões em irrigação, estradas rurais 
e eletrificação, ainda investimentos em assuntos pertinentes à gestão da água. 
Outro exemplo, em 2008 na Bolívia, foi efetivado um programa nacional de 
irrigação, com destaque na bacia hidrográfica (IADB, 2014 apud FERREIRA et 
al., 2016). “O IADB também financiou programas de irrigação para o Brasil, no 
estado de Tocantins, em 2010. Os demais países latino-americanos também foram 
contemplados por esse programa, como Guatemala (2006), Guiana (2004), Haiti 
(2005 e 2007) e Jamaica (2004)” (FERREIRA et al., 2016, p. 440). Em 2010, no Brasil, 
no estado de Tocantins, o IADB financiou programas de irrigação. Já em 2004 
a Guiana e a Jamaica, em 2005 e 2007 o Haiti e a Guatemala em 2006, também 
foram contemplados por esse programa (FERREIRA et al., 2016). Referenciado 
as transferências de dinheiro aos produtores rurais, isso pode contribuir com 
a garantia de certo nível de renda para os agricultores, observando que esses 
programas também podem ser empregados como política para maximizar 
a produtividade, para a ampliação das transferências condicionais de renda 
para a adoção de tecnologias por meio da melhor gestão das propriedades 
rurais. Como exemplo, no Brasil, os créditos de custeio, de investimento ou de 
comercialização podem ser solicitados ao Governo Federal mediante cooperativas 
de crédito ou por mediação dos bancos, ambos financiados pelo Banco Nacional 
116
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bem como pelos Fundos 
Constitucionais de Financiamento (IADB, 2014). “O Patca (Proyecto de Apoyo 
a la Transición Competitiva Agroalimentaria) e o Procampo do México e da 
República Dominicana também são exemplos de transferência de renda ao setor 
agrícola” (IADB, 2014, apud FERREIRA, 2016, p. 440).
Na América Latina observa-se de forma intensa dois tipos de agricultura: a 
de subsistência e a de caráter comercial (quase sempre predomina a monocultura). 
Exemplo disso é o café, base de grande parte das rendas de exportação dos 
países latino-americanos como: Costa Rica, Colômbia, El Salvador e Guatemala. 
E a banana também apresenta grande importância econômica para países como 
Panamá e Honduras, segundo CEPAL (2014) citado por Ferreira (2016). Segundo 
CEPAL (2014 apud FERREIRA, 2016, p. 441), as monoculturas
[...] que se estabeleceram nos países da América Latina possuem 
índices de produtividade bastante elevados. Dentre as culturas que 
se destacam estão soja, cana-de-açúcar, frutas, trigo e cacau. Contudo, 
muitos países são responsáveis ainda pela exportação de carne bovina, 
abastecendo os mercados da Europa, por exemplo.
O Brasil enquadra-se na “primeira economia desse bloco de países, 
segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior” (MDIC, 
2014 citado por FERREIRA, 2016, p. 441), pois considera o Brasil como um dos 
país mais produtivos do globo, tanto em quantidade, quanto por ser produtivo 
(MDIC, 2014 citado por FERREIRA, 2016, p. 441). Segundo os autores, nas últimas 
três décadas “[...] a área plantada de grãos cresceu 42% [...]” (MDIC, 2014 citado 
por FERREIRA, 2016, p. 441), crescendo cerca de 230%. Ou seja, enquanto a área 
plantada prosseguiu cerca de 20 milhões de hectares, a produção ampliou em 
cerca de 135 milhões de toneladas e resultou num rendimento produtivo de em 
torno de 3,5% ao ano. Caso os outros países da América-Latina apresentassem a 
produtividade semelhante ao Brasil, a área cultivada seria de quase 20% inferior e 
assim a economia seria de cerca de 8,5 milhões de hectares, segundo MDIC (2014) 
citado por Ferreira (2016). 
Quanto aos sistemas agrícolas contemporâneos da América Latina podemos 
destacar a Agroecológica como um movimento com o objetivo de preservar o 
meio ambiente e ao mesmo tempo promover o crescimento socioeconômico dos 
pequenos lavradores. “Em face da exclusão política e social desses agricultores, 
esse movimento caracterizou-se por uma clara orientação de fazer crescer seu 
insignificante peso político nas sociedades latino-americanas” (KHATOUNIAN, 
2001, p. 28) Já os sistemas agrícolas brasileiros são fundamentais para a economia 
do país e existem vários relacionados a sustentabilidade, como será abordado a 
seguir. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032016000300437#B20
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032016000300437#B26
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032016000300437#B26
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE
117
2.2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS 
MECANIZADOS (BRASIL)
A partir da manifestação da chamada Revolução Verde, nas décadas de 
1960 e 1970, o espaço rural brasileiro vem passando por inúmeras mudanças “[...] 
a qual se baseia no aumento da produtividade agrícola, [...] e do uso intensivo de 
insumos químicos, mecanização e irrigação” (SALAMONI, 2000, p. 51). 
A discussão sobre a Revolução Verde surge com uma expectativa do 
Primeiro Mundo a respeito das inovações tecnológicas e desenvolvimento, 
principalmente o econômico direcionado ao “Terceiro Mundo”, como expressa 
Gómez (2006, p. 185):
O discurso da Revolução Verde estava repleto de uma perspectiva 
ocidental sobre a ciência, o progresso e a economia, que deviam 
promover-se (impor-se, se for preciso) nos países do chamado Terceiro 
Mundo. Em consonância com a teoria da modernização, que era o 
modelo de desenvolvimento próprio desses anos [...] a Revolução 
Verde identificava no Terceiro Mundo uma série de carências que 
deviam ser satisfeitas, à base de aumentar quantitativamente os bens 
e os serviços. Ao mesmo tempo, essa febre produtivista, que em teoria 
beneficiaria os paísespobres, servia tanto para aumentar a produção de 
matérias-primas baratas, destinadas às agroindústrias do denominado 
Primeiro Mundo que as beneficiavam, incrementando seu valor, como 
para aumentar a produção de maquinário e insumos químicos desses 
países ricos que vendiam para os países pobres.
A Revolução Verde tinha por finalidade a dominação dos meios naturais 
“[...] com base na indústria química de adubos sintéticos e de agroquímicos, bem 
como no uso intensivo de energia, pesquisa genética, máquinas e equipamentos”, 
segundo Mazzoleni e Oliveira (2010) citado por Maciel (2014, p. 502). Assim, 
esse modelo de agricultura é facilitado até adaptar alguma natureza para o 
acompanhamento uniformizado por medidas tecnológicas.
A partir dos anos 1980 surgem novas formas de organização das atividades 
no meio rural brasileiro, características que podem ser associadas ao processo de 
modernização da agricultura (GRAZIANO; GROSSI; CAMPANHOLA, 2002, p. 
39). O “novo rural” para Graziano, Grossi e Campanhola (2002) é dividido em três 
grandes grupos: agropecuária moderna, atividades não agrícolas relacionadas 
com a habitação e o lazer e as novas atividades impulsionadas por nichos de 
mercado. O autor pondera sobre uma provável segmentação das atividades no 
espaço rural, em vista que existem diversas atividades realizadas ao mesmo 
tempo no rural do Brasil, devido especialmente a sua proporção. Este aspecto 
acende um debate sobre quais seriam realmente os papéis e/ou os “novos” papéis 
da agricultura. Nesse período de exaltação pela contemporaneidade pensava-
se que nenhuma “[...] pesquisa poderia ser feita fora da modernidade química, 
nenhum financiamento poderia contemplar sistemas agrícolas rudimentares, 
nenhum consumidor mereceria um produto que não fosse seguro e moderno” 
(MAZZOLENI; OLIVEIRA, 2010, p. 571).
118
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
Com a maximização da produção de alimentos através do emprego 
intenso de adubos químicos e da mecanização, surgiram sérias implicações em 
relação ao seu uso na natureza. Logo a sociedade questiona sobre a relação dos 
efeitos ocasionados pelo uso de agroquímicos com os riscos à saúde. A partir 
dessa forma de pensar descobriram a necessidade da aquisição de alimentos 
que não prejudicasse a saúde e deste modo modificou o mercado consumidor e 
também as suas exigências. Deste modo, o produto agrícola produzido de forma 
tradicional, antes desvalorizado por não ser produzido de forma moderna com 
a agricultura química padronizada, torna-se o preferido e o mais valorizado com 
uma recompensa no preço por ser orgânico (MAZZOLENI; OLIVEIRA, 2010). 
Neste contexto surgem os inúmeros sistemas agrícolas contemporâneos 
voltados à sustentabilidade. A seguir apresentaremos três sistemas agrícolas 
empregados no Brasil.
2.2.1 Sistema Agrícola de Base Familiar
 
Agricultura familiar é uma alternativa produtiva que gera trabalho e 
renda, diminuindo a pobreza e a desigualdade da renda rural. Desse modo, a 
produção familiar rural, dada sua amplitude, possui uma importante função para o 
desenvolvimento da sociedade de forma generalizada, sobretudo quando se destacam 
as pequenas propriedades rurais (MACIEL et al., 2014). A agricultura familiar exerce 
um importante papel na economia brasileira, pois ela “[...] é a 8ª maior produtora de 
alimentos do mundo. Se considerada a produção agrícola nacional, o país salta para 
a 5ª posição, com faturamento anual de US$ 84,6 bi” (BRASIL, 2018).
FIGURA 7 – AGRICULTURA FAMILIAR
FONTE: <http://genjuridico.com.br/wp-content/uploads/2014/11/roca_agrifamiliar.jpg>. Acesso 
em: 31 mar. 2019.
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE
119
A agricultura familiar se caracteriza quando a família é ao mesmo 
tempo a proprietária dos modos de produção e trabalha nas próprias unidades 
produtivas. Assim, todos os procedimentos usados na produção são decididos 
pelos próprios agricultores que empregam seus conhecimentos tradicionais em 
todos os tratos culturais, começando pela seleção do local onde será o plantio, o 
modo de preparação do solo, as formas de colheita, finalizando com o plano de 
como será a comercialização do produto final (WANDERLEY, 2001). Algumas 
vantagens desse modo de produção são: a utilização do conhecimento puramente 
tradicional dos produtores, a “[...] gestão da foça de trabalho, particularmente 
relevantes em processos de produção intensivos em trabalho que exigem tratos 
culturais delicados e cuidadosos que dificilmente podem ser compensados pela 
firma patronal” (GUANZIROLI et al., 2001, p. 6).
A agricultura familiar gera trabalho local e reduz o êxodo rural, além de 
diversificar os sistemas de produção, permitindo uma atividade econômica em 
maior equilíbrio com o meio ambiente, contribui para o desenvolvimento das 
localidades e exerce um importante papel na economia brasileira (MACIEL et al., 
2014).
2.2.2 Sistema Plantio Direto (SPD)
O Sistema Plantio Direto (SPD) é o modelo de “[...] manejo 
conservacionista que envolve todas as técnicas recomendadas para aumentar a 
produtividade [...]” e gera a conservação ou melhoramento continuo do ambiente. 
O SPD baseia-se na “[...] ausência de revolvimento do solo, em sua cobertura 
permanente e na rotação de culturas” (SALTON; HERNANI; FONTES, 1998, 
p. 16-17). Implica, ao mesmo tempo, uma modificação no modo de ponderar 
a “[...] atividade agropecuária a partir de um contexto socioeconômico com 
preocupações ambientais” (SALTON, HERNANI; FONTES, 1998, p. 16-17). 
“A rotação de culturas é fundamental para se obter os efeitos esperados desse 
sistema” (SALTON; HERNANI; FONTES, 1998, p. 16-17). 
Este sistema exige adaptação local do método, pois acata três condições 
mínimas: “[...] não revolvimento do solo, rotação de culturas e uso de culturas de 
cobertura para formação de palhada, associada ao manejo integrado de pragas, 
doenças e plantas daninhas” (EMBRAPA, 2004, p. 2 apud HOFF, et al., 2011, p. 
488). 
120
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
FIGURA 8 – PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE REGEM O SISTEMA PLANTIO DIRETO
FONTE: <http://blog.agropro.com.br/wp-content/uploads/2016/01/Plantio-direto-diagrama.jpg>. 
Acesso em: 30 mar. 2019.
O plantio direto na palha foi introduzido primeiramente nos estados 
do Sul do Brasil por volta da década de 70, numa tentativa de minimizar as 
perdas de solo, fertilizantes, corretivos, sementes, combustível e trabalho, 
sem considerar os custos ambientais e as perdas de rendimentos das culturas 
provocadas principalmente pela erosão hídrica, pelo relevo ondulado e pelo mau 
gerenciamento das propriedades. Os primeiros estados que adotaram o Sistema 
Plantio Direto foram os estados do Paraná e do Rio Grande do Sul que também 
desenvolveram a tecnologia no mesmo período do tempo (HOFF, et al., 2011).
FIGURA 9 – SISTEMA PLANTIO DIRETO
FONTE: <http://blog.agropro.com.br/wp-content/uploads/2015/08/DSC_1778.jpg>. Acesso em: 
30 mar. 2019.
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE
121
Há no país uma escala crescente na adoção do Sistema Plantio Direto. O 
sistema em 2004
[...] ocupava quase 22 milhões de hectares dos 42,5 milhões de hectares 
destinados à produção de grãos no Brasil, segundo os dados estimados 
pela Febrapdp (2004). Em 2007, segundo Rocher (2009), este número 
chegou a 26 milhões de hectares, mais de 50% do total plantado no 
País. A expansão das áreas exploradas sob o SPD teve um crescimento, 
da safra 1992/1993 para a safra 2003/2004, de mais de 1000%, o que 
permite inferir que as áreas sob o sistema ainda possuem uma taxa 
de crescimento positiva. Segundo dados ainda da Federação Brasileira 
de Plantio Direto na Palha (2004), os Estados pioneiros na difusão do 
SPD, Rio Grande do Sul e Paraná, são também os Estados com a maior 
área de adoção do SPD, respectivamente, 3.593 mil hectares e 4.961 mil 
hectares, no período 2000-01, seguidos, na ordem, por Mato Grosso 
do Sul (1.699 mil ha), São Paulo (1.017 mil ha) e SantaCatarina (986 
mil ha). Os Cerrados, e especificamente Mato Grosso do Sul, são os 
que apresentaram a maior taxa de crescimento da área em SPD: cerca 
de 20% entre as safras 1999/2000 e 2000/2001, sendo estas as áreas de 
maior possibilidade de ampliação na adoção do sistema, mas que 
ainda dependem de uma maior intensificação da pesquisa centrada 
nas plantas de cobertura que possam resistir aos períodos secos (HOFF 
et al., 2011, p. 489-490).
A instituição que se destaca na pesquisa do Sistema Plantio Direto no 
Paraná e no Brasil é o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) com uma linha de 
pesquisa direcionada ao pequeno produtor, “[...] desenvolvendo equipamentos 
que utilizam tração animal” (HOFF et al., 2011, p. 489-490).
2.2.3 Agroecologia
A agroecologia é uma vertente agronômica que engloba técnicas 
ecológicas de cultivo com sustentabilidade social, incorpora fontes alternativas 
de energia e sua principal preocupação é “[...] sistematizar todos os esforços num 
modelo tecnológico socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente 
sustentável” (AMBIENTA BRASIL, s. p., 2019). Segundo Dabrowska (2012, p. 7), 
agroecologia é
Um conjunto significativo e crescente de redes, movimentos e 
organizações da sociedade civil em todo o mundo vem se organizando 
para afirmar a perspectiva agroecológica perante a opinião pública e os 
órgãos oficiais nacionais e supranacionais. Tomando como referência 
o relatório da Avaliação Internacional sobre Conhecimento, Ciência e 
Tecnologia Agrícola para o Desenvolvimento (IAASTD, na sigla em 
inglês), argumentam que esse é o caminho para o enfrentamento da 
crise sistêmica global que tem na agricultura uma de suas principais 
causas e vítimas. A mensagem principal do manifesto Tempo de Agir, 
assinado por organizações da sociedade civil de todo o mundo, é que 
agricultura de base agroecológica pode produzir comida suficiente 
para alimentar uma população humana crescente e contribuir para 
a criação de sistemas sociais mais justos e adaptados às mudanças 
climáticas.
122
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
A partir dos anos 60 e 70, o movimento ambientalista passou a interagir 
com a agroecologia. “Porque os assuntos do ambientalismo coincidiam com a 
agroecologia, eles infundiram ao discurso agroecológico uma atitude crítica 
em relação à agronomia orientada para a produção e sensibilizaram para 
um grande número de assuntos relacionados aos recursos” (HECHT, 1993, 
p. 11). Ao mesmo tempo, as críticas do movimento ambientalista foram 
gradativamente influenciando posições políticas em áreas estratégicas, como 
no caso da reavaliação das metas de desenvolvimento agrícola nos Estados 
Unidos e dois tipos de consequências resultaram no conflito da crise ambiental 
da agricultura global: nas regiões tecnológica e industrialmente mais evoluídas 
houve um escasso comprometimento da intensidade do uso de produtos 
agroquímicos na agricultura e a confiança em seu emprego, bem como não 
reduziu significativamente a utilização de recursos energéticos. Mas, “[...] nas 
situações em que tanto os camponeses como a nação estavam pressionando pelos 
recursos, onde prevaleciam estruturas distributivas regressivas e onde o enfoque 
das regiões temperadas não era apropriado às condições ambientais locais, a 
perspectiva agroecológica parecia de especial relevância” (HECHT, 1993, p. 13).
A agroecologia tem uma forte aplicabilidade por grande parte de famílias 
camponesas e também por estar amarrada a movimentos sociais, além de abordar 
questões referentes a agricultura e ao meio ambiente, tanto no Brasil quanto na 
América Latina, constituindo um sistema agrícola importante para a sociedade e 
a ciência. 
A proposição da agroecologia está sendo aplicada fortemente no 
universo da agricultura familiar, onde a família desempenha um papel 
fundamental na gestão e na condução das atividades agroecológicas. A 
agroecologia se desenvolve também ancorada em movimentos sociais 
e aborda questões de desenvolvimento através de redes sociotécnicas 
que legitima um conjunto de formas de agricultura, transformando 
a paisagem agrária contemporânea. A agroecologia desencadeia 
uma ruptura paradigmática e promove a emergência de debates e de 
críticas à agricultura convencional e consequentemente defende um 
conjunto de valores políticos e sociais associados ao ideário de uma 
sociedade justa e igualitária. A agroecologia é legitimada no Brasil e 
na América Latina por sua forte relação com o movimento social. O 
tema agroecologia coloca no debate público a questão do poder da 
ciência sobre o desenvolvimento da sociedade, destacando a natureza 
política do que está por trás das opções tecnológicas dos diferentes 
modelos utilizados na agricultura, portanto, a agroecologia coloca a 
questão mais geral da importância da relação entre sociedade e ciência 
(ABREU; BELLON, 2014, p. 12).
Abreu, Bellon e Torres (2016), definem o movimento para a conservação 
da agroecologia “de desenvolvimento rural de dimensões múltiplas” que surgem 
refazendo o meio campestre, enquanto também recupera e conserva cenários 
da natureza, resgatando conhecimentos relacionados à produção alimentar, 
dinamiza a fabricação de fibras, técnicas artesanais e moda ecológica empregando 
fontes recuperáveis e assim, reinventando a “consciência ética e humanista no 
espaço rural”. 
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE
123
A agroecologia é resultado da ruptura cultural das comunidades 
científicas e de grupos envolvidos no desenvolvimento rural, ou 
seja, a crítica ao modelo produtivista mostra-se concretamente na 
busca de práticas agrícolas de natureza ecológica e na introdução de 
inovações alternativas como, por exemplo, o manejo ecológico dos 
solos e a aplicação de princípios sociais da agroecologia. Essa atitude 
social crítica, reflexiva, é necessária em contextos em evolução, em 
particular tendo em vista a regulamentação da produção, que faz com 
que agroecologia passe a ser uma disciplina de referência, do ponto de 
vista das práticas agrícolas e da busca por equidade social, podendo 
servir de exemplo para outras formas de agricultura. A análise indica 
que a evolução da agroecologia depende da força da interação entre 
os movimentos sociais, redes científicas e construção de políticas 
públicas, tal como demonstramos no caso brasileiro, com avanços, 
mas pleno de incertezas no campo político e institucional (ABREU; 
BELLON, 2014, p. 12).
FIGURA 10 – A AGROECOLOGIA COMO RESULTADO DA ARTICULAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES 
TÉCNICO-PRODUTIVA, SOCIOCULTURAL, ECONÔMICA E POLÍTICA
FONTE:<http://twixar.me/9j1T> Acesso em: 30 mar. 2019.
Observamos, consequentemente, como a agroecologia estabelece que se 
relacionem em seu campo os conhecimentos de sistemas científico-tecnológicos, 
agricultura tradicional, social e culturalmente dependente, ambiente e ecologia 
(HECHT, 1993).
124
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
Acadêmico, você quer ler um exemplo de plano de aula sobre Agricultura 
orgânica: uma alternativa viável de sustentabilidade? Então acesse o link: http://
portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25764.
NOTA
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE
125
LEITURA COMPLEMENTAR
Especialistas imaginam o futuro dos alimentos na América Latina e no Caribe
Flore de Preneuf 
Banco Mundial lidera iniciativa que busca garantir que os sistemas agrícolas e alimentares da 
ALC conduzam ao crescimento inclusivo, gerem empregos e contribuam para alimentar parte 
da população mundial de maneira sustentável, nutritiva e segura.
Especialistas em agricultura se reuniram na Costa Rica esta semana para 
identificar oportunidades e ameaças que poderiam afetar os sistemas alimentares 
e agrícolas na América Latina e no Caribe (ALC).
O workshop reuniu a formuladores de políticas, pesquisadores e 
representantes de grupos de produtores, empresas do agronegócio, organizações 
da sociedade civil e agências de desenvolvimento,para examinar cenários 
futuros prováveis e identificar ações que poderiam ser realizadas para facilitar o 
surgimento de sistemas agrícolas e alimentares dinâmicos, produtivos e modernos. 
As conclusões do workshop servirão como insumos para um importante relatório 
sobre o futuro dos sistemas agrícolas e alimentares na ALC.
"Os resultados deste workshop serão usados para moldar as mensagens-
chave do relatório e assegurar que estas mensagens sejam pertinentes para uma 
ampla gama de atores e principais parceiros", disse Michael Morris, economista 
agrícola líder do Banco Mundial.
126
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE
O objetivo do relatório é melhorar a compreensão das oportunidades de 
transformação oferecidas pelos sistemas agrícolas e alimentares da ALC para 
contribuir para o crescimento, emprego e a segurança alimentar, enquanto se 
mantêm as dotações de capital natural nos âmbitos mundial e local. A elaboração 
do relatório vem de uma aliança liderada pelo Grupo Banco Mundial, da qual 
participam o Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares 
(IFPRI), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Instituto 
Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), McKinsey & Company 
(McKinsey) e The Nature Conservancy (TNC).
Com base nos resultados de trabalhos analíticos anteriores, os participantes 
do workshop construíram uma série de cenários futuros que refletiram diferentes 
combinações de fatores impulsionadores, como as mudanças climáticas, mudanças 
nas dietas humanas, o surgimento de tecnologias disruptivas e o aumento da 
escassez de terras agrícolas e água para irrigação. Depois de elaborar uma 
descrição detalhada de cada cenário e imaginar seus impactos no crescimento, 
na pobreza, na segurança alimentar e no meio ambiente, os participantes 
identificaram as ações necessárias para salvaguardar o desempenho dos sistemas 
agrícolas e alimentares em cada um dos cenários, se estes se tornaram realidade. 
Algumas das ações são projetadas para a proteção contra riscos potencialmente 
catastróficos, outras para permitir aos atores chave aproveitar as oportunidades 
que poderiam surgir, e outras, conhecidas como "grandes apostas", para alterar a 
trajetória de todo o sistema agrícola e alimentar.
Durante o evento realizado em 19 de fevereiro, os participantes chegaram 
ao consenso de que a ALC pode desempenhar um papel fundamental na 
contribuição à segurança alimentar mundial e na geração de serviços ambientais 
de importância no âmbito global. Em seus comentários, Eugenio Díaz-Bonilla, 
chefe do Programa da América Latina e no Caribe do IFPRI, enfatizou que é vital 
gerenciar o desenvolvimento de sistemas agrícolas, rurais e de alimentares de 
uma forma que se permita equilibrar os objetivos de crescimento inclusivo, a 
redução da pobreza e a sustentabilidade.
O anfitrião da atividade e diretor-geral do IICA, Manuel Otero, destacou 
o papel que a agricultura da ALC desempenha no mundo. "A agricultura está em 
nosso DNA, e cabe a nós aproveitar a oportunidade para nos tornarmos aqueles 
que irão garantir a segurança alimentar mundial", disse.
A partir de uma perspectiva de longo prazo, o relatório, que deverá estar 
pronto até o final de 2019, analisa as ações necessárias, hoje e nos próximos anos, 
para garantir que sistemas agrícolas e alimentares da ALC levem a um crescimento 
inclusivo, gerem empregos e contribuam para alimentar as cerca de 9,5 bilhões 
de pessoas em todo o mundo em 2050, de forma sustentável, nutritiva e segura.
FONTE: https://www.grupocultivar.com.br/noticias/especialistas-em-agricultura-imaginam-o-
futuro-dosalimentos-na-america-latina-e-no-caribe. Acesso: 20 mar. 2019.
127
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A agricultura como um todo abrange elementos e processos conectados 
que propiciam a oferta de produtos aos seus consumidores finais, pela 
transformação de insumos originados pelos seus elementos. Este conjunto de 
processos e instituições interligados por objetivos comuns forma um sistema 
que, por sua vez, engloba diversos sistemas menores ou subsistemas (OSORIO 
et al., 2017). Os sistemas agrícolas compõem um arranjo de elementos que 
funcionam como uma unidade. E na sua composição há um conjunto da flora 
e fauna de uma região (HART, 1979). 
• Observa-se que a dinâmica do sistema agrícola contemporâneo e alimentar 
mundial é menos tumultuado e confuso que os sobressaltos dos preços, das 
penúrias, da fome e das ferozes negociações mercantis internacionais permitem 
compreender. Os movimentos na superfície dos mercados e das diretrizes 
agrícolas se esclarecem pelo arranjo, funcionamento e dinâmica do sistema 
agrícola e alimentar mundial.
• Além da extensão que os sistemas agrícolas consomem, também precisarão 
de água, porém, sofrerão com a sua escassez e com as alterações climáticas 
que podem aumentar o risco de problemas de produção. As reivindicações 
decorrentes da água, alimentos e energia fortificarão os conflitos da utilização 
do solo e aumentarão os impactos ambientais.
• A agricultura sustentável busca a assistência aos agricultores e comunidades 
por meio da promoção de práticas de cultivo e técnicas que são lucrativas, 
ambientalmente benéficas e boas para as comunidades. Há a necessidade da 
proteção da biodiversidade e dos solos cultiváveis para o futuro da produção 
de alimentos.
• Quanto aos sistemas agrícolas contemporâneos da América Latina podemos 
destacar a Agroecológica como um movimento que tem o objetivo de preservar 
o meio ambiente e ao mesmo tempo promover o fator socioeconômico dos 
pequenos lavradores. Em face da exclusão política e social desses agricultores, 
o movimento caracterizou-se por uma clara orientação de fazer crescer seu 
insignificante peso político nas sociedades latino-americanas.
128
• A partir dos anos 1980 surgem novas formas de organização das atividades no 
meio rural brasileiro, características que podem ser associadas ao processo de 
modernização da agricultura (GRAZIANO; GROSSI; CAMPANHOLA, 2002). 
O “novo rural” para Graziano; Grossi; Campanhola (2002) é dividido em três 
grandes grupos: agropecuária moderna, atividades não agrícolas relacionadas 
com a habitação e lazer e as novas atividades impulsionadas por nichos de 
mercado.
• Agricultura familiar é uma alternativa produtiva, pois gera trabalho e 
renda, diminuindo a pobreza e a desigualdade de renda rural. A produção 
familiar rural, dada sua amplitude, possui uma importante função para o 
desenvolvimento da sociedade de forma generalizada, sobretudo quando se 
destacam as pequenas propriedades rurais.
• A agricultura familiar se caracteriza quando a família é ao mesmo tempo 
a proprietária dos modos de produção e trabalha nas próprias unidades 
produtivas. Assim, todos os procedimentos usados na produção são decididos 
pelos próprios agricultores que empregam seus conhecimentos tradicionais em 
todos os tratos culturais, começando pela seleção do local onde será o plantio, 
o modo de preparação do solo, as formas de colheita, finalizando com o plano 
de como será a comercialização do produto final.
• O Sistema Plantio Direto (SPD) é o modelo de “manejo conservacionista que 
envolve todas as técnicas recomendadas para aumentar a produtividade” e 
que gera a conservação ou o melhoramento contínuo do ambiente. O SPD 
baseia-se na “ausência de revolvimento do solo, em sua cobertura permanente 
e na rotação de culturas”.
• A agroecologia é uma vertente agronômica que engloba técnicas ecológicas de 
cultivo com sustentabilidade social. Ela também incorpora fontes alternativas 
de energia e sua principal preocupação é “sistematizar todos os esforços num 
modelo tecnológico socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente 
sustentável”.
129
1 Os sistemas agrícolas do planeta cada vez mais sofrerão com a escassez de 
água e alterações climáticas que podem aumentar o risco de problemas de 
produção. As reivindicações daí decorrentes em relação a água, os alimentose a energia fortificarão os conflitos da utilização do solo e aumentarão os 
impactos ambientais. Por esse motivo devemos com urgência harmonizar 
nossas crescentes necessidades consumistas com a proteção do meio 
ambiente. Também devemos produzir mais alimentos com o mínimo de 
recursos e isso pode acontecer por meio da agricultura sustentável, já que 
busca a assistência aos agricultores, os recursos e as comunidades por 
meio da promoção de práticas de cultivo e técnicas que são lucrativas, 
ambientalmente benéficas e boas para as comunidades (BROOKS, 2014). 
De acordo com o exposto, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A escassez de água e toda a alteração no meio natural impactará cada vez 
mais a produção de alimentos, tornando cada vez mais caro e competitivo 
os mercados internos e externos.
b) ( ) A produção de alimentos está pouco relacionado com as questões 
naturais, pois hoje com o nível tecnológico avançado podemos produzir em 
qualquer lugar do mundo.
c) ( ) A produção de alimentos deve ser feita de maneira sustentável, porém 
utilizando o máximo dos recursos hídricos disponíveis.
d) ( ) A abundância de recursos hídricos de nada adianta na produção de 
alimentos se as comunidades e as empresas não ampliarem a promoção de 
práticas de cultivo e técnicas que são lucrativas, porém, ambientalmente 
benéficas ao mercado externo.
2 A agricultura familiar é uma alternativa produtiva que gera trabalho e 
renda, diminuindo a pobreza e a desigualdade de renda rural. A produção 
familiar rural, dada a sua amplitude, possui importante função para o 
desenvolvimento da sociedade de forma generalizada, sobretudo quando 
se destacam as pequenas propriedades rurais. O que pode corroborar com 
as técnicas agrícolas de agricultura familiar?
De acordo com o exposto, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O incentivo de políticas públicas aos grandes produtores rurais e as 
agroindústrias.
b) ( ) O crescimento da agroindústria para a compra de produtos fornecidos 
por agricultores familiares a baixo custo de produção.
c) ( ) O incentivo de políticas públicas para a agricultura familiar como a 
criação de cooperativas produtoras para os pequenos e médios produtores 
agrícolas.
d) ( ) O crescimento da agricultura familiar não favorece o crescimento da 
produção das agroindústrias, pois as matérias primas deste segmento é 
oriundo dos grandes produtores rurais.
AUTOATIVIDADE
130
3 Os sistemas agrícolas mais diversificados dispõem de mais recursos que 
podem estimular a ação de inimigos naturais, além de garantir maior 
resiliência ao ambiente, devido à quantidade de interações ocorrendo no 
sistema, diferente do que ocorre nos cultivos sob regime de monocultura, 
em que a presença de uma única espécie pode gerar desequilíbrios e 
instabilidades ambientais, além de favorecer o surgimento de inimigos 
naturais, pragas ou doenças. Cite uma característica de cada um dos 
sistemas agrícolas tradicionais e contemporâneos da Revolução Verde:
a) Sistemas Tradicionais: 
b) Sistemas Contemporâneos: 
131
UNIDADE 3
ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E 
EDUCAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• entender a atuação das Instituições e políticas públicas para o desenvolvi-
mento rural nos espaços agrários de nosso país;
• entender as funções e as finalidades da produção alimentar familiar e in-
dustrial nos espaços agrários tanto para atender a demanda de alimentos 
nacional como para o agro comércio nacional e internacional;
• entender o crescimento e as práticas cada vez mais frequentes do turismo 
rural como atividade econômica aplicada nestas áreas, antes de produção 
apenas agropecuária, e atualmente como ampliação das atividades do 
terceiro setor das atividades econômicas;
• entender a importância dos movimentos sociais no campo e suas articu-
lações sociais para a melhoria da qualidade de vida das populações mais 
carentes nos espaços rurais do Brasil;
• compreender que os movimentos sociais vão além da revindicação de ter-
ras no Brasil e no mundo, mas sim ao direito à produção de renda através 
das atividades agropecuárias e exploração digna e sustentável nos espa-
ços agrários.
• enteder a importância da abordagem deste tema desde o Ensino Funda-
mental e Médio Básico de acordo com as Bases Nacionais Curriculares 
para Educação, como também no Ensino Superior;
• compreender também o papel da Ciência Geográfica na construção do es-
paço agrário e a influência na construção da sociedade moderna e crítica 
dos espaços econômicos e na produção de renda familiar e de subsistência.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O 
DESENVOLVIMENTO RURAL
TÓPICO 2 – MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
TÓPICO 3 – ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em 
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás 
melhor as informações.
CHAMADA
132
133
TÓPICO 1
INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O 
DESENVOLVIMENTO RURAL
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico serão abordados os temas: Políticas Públicas, 
Instituições e Desenvolvimento Rural; O espaço rural e a produção alimentar; e 
por último, Agroturismo e o Turismo Rural.
Pode-se conceituar políticas públicas como intervenções realizadas pelo 
Estado com a finalidade da promoção do crescimento econômico e do bem-estar, 
no seu sentido ampliado, segundo Lima (2014). E os Ministérios da Agricultura 
e Desenvolvimento Rural, formulam as políticas de geração de bem-estar e 
promoção humana na área rural, e produtivistas, que segundo Lima (2014, p. 
86), os sindicatos rurais intermediam, “[...] estas políticas estão mudando seus 
sistemas produtivos e melhorando as condições de vida”. 
Quanto ao termo desenvolvimento, há uma diversidade de concepções 
para este, devido a existência de diversos autores que estudam o tema, tais como: 
Furtado, Sem e Sachs, segundo Gonçalves e Pedroso (2016). Para estes autores, para 
compreender a concepção de desenvolvimento deve-se considerar as liberdades 
individuais, o bem-estar e o respeito da sustentabilidade ambiental. Neste 
contexto, Schneider (2007 apud GONÇALVES, PEDROSO, 2016) destaca que, ao 
mesmo tempo, é uma construção política e ideológica, que se está amarrada em 
certos condicionantes da história. E que a comprovação da existência entrelaçada 
a um determinado território somente é provável em face da existência de outro 
em situação diversa. “Logo, há, em um e no outro caso, uma construção social, 
uma crença decorrente de uma valoração da realidade” (SCHNEIDER, 2007 apud 
GONÇALVES, PEDROSO, 2016, p. 4).
Já as discussões acerca do desenvolvimento rural têm revelado várias 
particularidades importantes da população campestre, segundo Gonçalves e 
Pedroso (2016). Essas particularidades intrínsecas ao espaço rural fazem com que 
as questões e direitos básicos dos agricultores desenvolvam um difícil conjunto de 
relações que aumentam sobremaneira os problemas de cooperação e intervenção. 
Demandas de ordem social, econômica e produtiva facilmente desempenham 
uma influência determinante sobre o modo como o Estado intervirá no centro 
daquele grupo.
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
134
E o meio que o Estado intervém neste setor é pelas políticas públicas que 
beneficiam os interesses do agro turismo, do turismo rural e principalmente dos 
pequenos produtores rurais, já que as fomentações desses segmentos geram 
renda, decrescimento do êxodo rural e incremento no desenvolvimento rural. 
Segundo o Ministério do Turismo (MTur) o turismo rural é “[...] o conjunto 
das atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometidas com a 
produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e 
promovendo o patrimônio culturale natural da comunidade” (BRASIL, 2003). 
Segundo Araújo, Bahia e Ferreira (2011), o Turismo Rural na Agricultura Familiar 
(TRAF) e o agroturismo são segmentos reconhecidos legitimamente pelo MTur e 
têm como características principais o maior contato dos turistas com as atividades 
nas propriedades campestres. Contudo, o TRAF distingue-se pela inclusão no 
conjunto do turismo do segmento da agricultura familiar. 
2 POLÍTICAS PÚBLICAS, INSTITUIÇÕES E 
DESENVOLVIMENTO RURAL
As políticas públicas são fomentadas por instituições como os governos: 
federal, estadual e municipal que investem em pesquisas e deste modo 
promovem o desenvolvimento rural. Segundo Stumpf Júnior e Balsadi (2015), 
para o desenvolvimento rural há a necessidade da “[...] adoção e apropriação 
dos resultados da pesquisa pública pelos agricultores, assim como os impactos 
(econômicos, sociais e ambientais) dessa incorporação [...]”, também são 
dependentes expressivamente “[...] das políticas de crédito, de preço mínimo, de 
armazenamento, de seguro agropecuário, de comercialização e de infraestrutura, 
como estradas e acesso à água e energia elétrica”. São dependentes, além disso, 
“[...] da condição de saúde, de moradia, de alimentação e de acesso à educação” 
(STUMPF JÚNIOR; BALSADI, 2015, p. 522). 
Há um enorme leque de leis, políticas públicas e programas que apoiam 
o desenvolvimento rural e corroboram com esta “indissociabilidade”, segundo 
Stumpf Júnior e Balsadi (2015, p. 523), tais como: 
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
(Pronaf); Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); Programa 
Nacional de Biodiesel (PNB); Política Nacional de Assistência Técnica 
e Extensão Rural (Pnater); Seguro da Agricultura Familiar (SEAF); 
Lei da Agricultura Familiar; Lei Orgânica de Segurança Alimentar; 
Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF); 
Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios 
Rurais (Pronat); Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); 
Programa de Garantia de Preços Mínimos (PGPM); Política Nacional 
sobre Mudança do Clima (PNMC); Plano ABC (agricultura de baixa 
emissão de carbono); Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF); 
Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor); Política 
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo) e Plano 
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo); e Política 
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PSAN). 
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL
135
Stumpf Junior e Balsadi (2015) comentam que a maior parte das ações do 
governo iniciaram depois dos anos 2000, exceto o Pronaf, já que neste período 
ocorreu “[...] um maior compromisso dos formuladores de políticas públicas 
com o desenvolvimento rural, ao mesmo tempo em que “[...] expandiram-se os 
espaços de diálogo, participação e interlocução das organizações da sociedade 
civil [...]” com as três esferas governamentais: “[...] federal, estadual e municipal 
[...]”, conforme afirmam Stumpf Junior e Balsadi (2015, p. 523).
Essa expansão de ações evidencia que “[...] as agendas para o 
desenvolvimento rural e as formas de superação dos legados históricos de exclusão 
e pobreza se fortaleceram a partir deste reconhecimento do protagonismo dos 
territórios e da realidade dos atores locais [...]”, de acordo com Stumpf Júnior 
e Balsadi (2015, p. 523). Entretanto, ocasionou “novos e complexos desafios no 
sentido de melhor coordenação” destas ações, de modo a realizar a implementação 
e seu “papel transformador”. Sobre “à integração interinstitucional”, para o 
autor, há necessidade de observar a inclusão de distintos “atores, dentre os quais 
se destacam”, conforme ressaltam Stumpf Júnior e Balsadi (2015, p. 523):
[...] o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), as 
instituições de assistência técnica e extensão rural, instituições 
internacionais, instituições de fomento à pesquisa e de financiamento 
da atividade agropecuária, ministérios, prefeituras, instituições de 
desenvolvimento regional e empresas privadas. 
“Essa integração” objetiva basicamente o estabelecimento da colaboração 
“entre os atores envolvidos em prol da geração de conhecimentos e tecnologias 
que contribuam para a solução de problemas concretos da sociedade brasileira, 
potencializando os resultados de processos de inovação aberta” (STUMPF; 
BALSADI, 2015, p. 523). Na configuração atual, a ação da pesquisa pública na 
resolução de questões é: 
[...] buscada por meio da sua associação a políticas públicas nos âmbitos 
dos órgãos ligados a Ciência, Tecnologia e Inovação; Agricultura; 
Desenvolvimento Agrário, Meio Ambiente e Desenvolvimento Social. 
Além dos recursos próprios alocados nas instituições de pesquisa, 
ao longo do tempo, instituições como o Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Fundações 
Estaduais de Amparo à Pesquisa e vários Ministérios têm estabelecido 
editais de financiamento à pesquisa, alguns em parceria com a 
Embrapa e com as Oepas (STUMPF JÚNIOR; BALSADI, 2015, p. 524).
Por meio do Decreto nº 8.252, de 26 de maio de 2014, foi criada a Agência 
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). “Somos um Serviço 
Social Autônomo, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, de 
interesse coletivo e de utilidade pública” (BRASIL, 2014a). Os objetivos da Anater 
são:
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
136
Promover, estimular, coordenar e implementar programas de 
assistência técnica e extensão rural, com vistas à inovação tecnológica 
e à apropriação de conhecimentos científicos de natureza técnica, 
econômica, ambiental e social;
Promover a integração do sistema de pesquisa agropecuária e 
do sistema de assistência técnica e extensão rural, fomentando o 
aperfeiçoamento e a geração de novas tecnologias e a sua adoção pelo 
público previsto no artigo 3° do Decreto n° 8.252, de 26 de maio de 
2014;
Apoiar a utilização de tecnologias sociais e os saberes tradicionais pelo 
público previsto no artigo 3° do Decreto n° 8.252, de 26 de maio de 
2014;
Credenciar e acreditar pessoas físicas e jurídicas prestadoras de 
serviços de assistência técnica e extensão rural;
Promover programas e ações de caráter continuado para a qualificação 
de profissionais de assistência técnica e extensão rural que contribuam 
para o desenvolvimento rural sustentável;
Contratar serviços de assistência técnica e extensão rural conforme 
disposto em regulamento;
Articular-se com os órgãos públicos e pessoas jurídicas de direito 
público e privado, incluindo consórcios municipais para o 
cumprimento de seus objetivos;
Colaborar com as unidades da Federação na criação, implantação e 
operação de mecanismo com objetivos afins aos da ANATER;
Monitorar e avaliar os resultados das pessoas físicas e jurídicas 
prestadoras de assistência técnica e extensão rural com que mantenha 
contratos ou convênios;
Envidar os esforços necessários para universalizar os serviços de 
assistência técnica e extensão rural para o público previsto no artigo 3° 
do Decreto n° 8.252, de 26 de maio de 2014;
Envidar os esforços para ampliar os serviços de assistência técnica às 
organizações econômicas do público previsto no artigo 3° do Decreto 
n° 8.252, de 26 de maio de 2014;
Promover a articulação prioritária com os órgãos públicos estaduais 
de extensão rural visando a compatibilizar a atuação em cada unidade 
da Federação e ampliar a cobertura da prestação de serviços aos 
beneficiários (BRASIL, 2014b).
Para Stumpf Júnior e Balsadi (2015), o objetivo principal é expandir 
os serviços da Anater e promover sua união com o estudo agropecuário para 
assegurar que a maior parte dos camponeses acessem as informações e tecnologias 
desenvolvidas no Brasil pelas diversas instituições científicas, contribuindo para 
o aumento da produtividade, da renda, da qualidade de vida das famílias rurais 
e expandiro acesso dos camponeses às políticas públicas.
De acordo com o parágrafo (§) 3º da Lei nº 12.897, de 18 de dezembro de 2013: 
“As competências previstas nos incisos II e V do § 2º serão realizadas em estreita 
colaboração com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA”. 
Já o Art. 2º deixa claro que “A Anater dará prioridade às contratações de serviços 
de assistência técnica e extensão rural para o público previsto no art. 3º da Lei nº 
11.326, de 24 de julho de 2006, e para os médios produtores rurais”. E no Parágrafo 
único diz que: “A contratação dos serviços de assistência técnica e extensão rural 
para o público previsto no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, observará 
o disposto nos arts. 3º e 4º da Lei nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010 (BRASIL, 2013).
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL
137
Outro dado importante é que cerca de 85% dos estabelecimentos do 
espaço rural no Brasil pertencem aos agricultores familiares. E estes produzem 
“[...] 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 46% do milho, 38% 
do café e 21% do trigo. O setor também é responsável por 60% da produção de 
leite e por 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos [...]” (FENATA, 
2019). Outra situação constatada pela Secretaria de Agricultura Familiar e 
Cooperativismo: “[...] o governo trabalha com uma série de políticas públicas 
para reduzir o êxodo rural e tornar a produção dessas famílias mais eficiente. 
Entre elas, uma das mais importantes é da titulação da terra. Com esse título, 
esses trabalhadores ganham acesso a crédito rural e a programas como os de 
assistência técnica” (FENATA, 2019).
Lima (2014, p. 99) em sua pesquisa observa que o “meio rural brasileiro” 
está em evolução permanente, inclusive como resultado das várias políticas 
públicas que vêm sendo executadas há anos, gerando [...] alguns casos em 
benefícios em termos de qualidade de vida e melhoria significativas na produção. 
Há em certos casos também o registro da adoção de novas tecnologias”. 
Para Lima (2014, p. 99), as interferências do “Estado brasileiro por meio 
de políticas públicas específicas ao meio rural, principalmente programas como 
o PRONAF [...] reestruturam a agricultura, especialmente [...] os grupos de 
agricultores excluídos socialmente e que desenvolvem atividades tipicamente 
familiares” (LIMA, 2014, p. 99) que colaboram para a manutenção das populações 
no campo e assim minimizam o êxodo rural e cooperam com a ampliação 
da produção “[...] de alimentos e matérias primas [...]” (LIMA, 2014, p. 99). E 
certamente na ausência dessas intervenções do Estado haveria mais pobreza 
atualmente, segundo informam Gonçalves e Pedroso (2016, p. 13):
As Políticas Públicas que incidem sobre o meio rural constituem-se 
em espaço de grande importância para o fortalecimento do grupo 
social dedicado à produção em regime familiar. Dentre as medidas 
implementadas, é imprescindível evidenciar políticas como o 
Programa de Aquisição de Alimentos, por meio do qual ocorre 
a aquisição de gêneros alimentícios que serão, posteriormente, 
repassados para pessoas em situação de vulnerabilidade através da 
rede socioassistencial ou usadas pelos serviços públicos na merenda 
escolar. 
Aparece, deste modo, a questão da verificação de “[...] quais políticas 
públicas agrícolas, pesqueiras, agrárias e de promoção social têm sido ofertadas 
pelo Estado brasileiro, ao meio rural, tendo os Sindicatos como parceiros 
permanentes” (LIMA, 2014, p. 99), sobretudo a ação destas no campo. Para o autor 
os Sindicatos Rurais são: “[...] organizações sociais, que se dedicam a defender 
os interesses de seus associados, interesses econômicos, culturais, públicos e 
sociais nas diversas esferas públicas. Seus principais interesses se voltam para a 
defesa da categoria a qual representa, pensando no bem comum e na organização 
coletiva” (LIMA, 2014, p. 86).
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
138
Por meio dos Sindicatos Rurais muitos programas e projetos do Governo 
Federal são aplicados ao campo, com vistas ao aumento da produção e obtenção 
de melhorias nas condições de vida de toda à população que está em atividade 
no campo.
Olá, acadêmico! Você percebeu que neste tópico encontramos diversas siglas 
e muitas delas estão relacionadas com o ambiente escolar, por isso, destacamos duas siglas:
• Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf):
 O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) financia 
projetos individuais ou coletivos, que geram renda aos agricultores familiares e assentados 
da reforma agrária. O programa possui as mais baixas taxas de juros dos financiamentos 
rurais, além das menores taxas de inadimplência entre os sistemas de crédito do País. O 
acesso ao Pronaf inicia-se na discussão da família sobre a necessidade do crédito, seja 
ele para o custeio da safra ou atividade agroindustrial, seja para o investimento em 
máquinas, equipamentos ou infraestrutura de produção e serviços agropecuários ou não 
agropecuários. 
FONTE: http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo26.htm. Acesso em: 12 nov. 2019.
• Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE):
 O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) oferece alimentação escolar 
e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação 
básica pública. O governo federal repassa, a estados, municípios e escolas federais, valores 
financeiros de caráter suplementar efetuados em 10 parcelas mensais (de fevereiro a 
novembro) para a cobertura de 200 dias letivos, conforme o número de matriculados em 
cada rede de ensino.
FONTE: https://www.fnde.gov.br/programas/pnae. Acesso em: 12 nov. 2019.
NOTA
2.1 O ESPAÇO RURAL E A PRODUÇÃO ALIMENTAR
O espaço rural como alvo de análise tem na sua produção uma moral e 
uma constituição de modos e vida expressivos que acabam gerando atrativos à 
população da cidade. Entretanto, um dos apoios do designado turismo rural está 
no conceito de multifuncionalidade da agricultura, tendo como suposição que a 
pedra angular que distingue esta prática socioespacial são as técnicas agrárias e 
o simbolismo originado por estas. Froehlich et al. (2004) destaca que aparecem na 
atualidade pesquisas que propendem a analisar os múltiplos papéis do rural que 
tendem a romper com a visão do rural segmentado.
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL
139
Em primeiro lugar, o espaço rural não se define mais exclusivamente 
pela atividade agrícola. Como já foi observado, é significativa a 
redução de pessoas ocupadas na agricultura, dado que se associa 
ao aumento do número de pessoas residentes no campo exercendo 
atividades não- agrícolas e ao aparecimento de uma camada relevante 
de pequenos agricultores que combinam a agricultura com outras 
fontes de rendimento (GRAZIANO DA SILVA, 1996 apud CARNEIRO, 
1998, p. 56).
Para Graziano da Silva (2002), a partir da década de 1980 emergem novos 
modelos de organização das atividades no meio rural no país, com distinções 
que podem ser relacionadas ao processo de modernização da agricultura. 
Para o autor, o “novo rural” divide-se em três grandes grupos: agropecuária 
moderna, atividades não agrícolas ligadas à moradia e lazer e novas atividades 
impulsionadas por nichos de mercado. 
Graziano da Silva (2002) pondera sobre uma provável divisão em 
segmentos das atividades no espaço rural, em vista que existem várias atividades 
realizadas simultaneamente no rural do Brasil, devido sobretudo a sua amplitude. 
Esta situação gera uma discussão sobre quais seriam verdadeiramente os papéis 
e/ou os novos papéis da agricultura. Na percepção de Carneiro e Maluf (2003, p. 
19):
A abordagem da multifuncionalidade da agricultura se diferencia 
por valorizar as peculiaridades do agrícola e do rural e suas outras 
contribuições que não apenas a de bens privados, além dela repercutir 
as críticas às formas predominantesassumidas pela produção agrícola 
por sua insustentabilidade e pela qualidade duvidosa dos produtos 
que gera.
Portanto, para os agricultores a multifuncionalidade seria uma das 
estratégias de reprodução socioespacial, de maneira que valoriza as práticas 
características de cada recorte espacial, rompendo com o conceito dos três setores 
da economia: primário, secundário e terciário, conforme relata Carneiro e Maluf 
(2003, p. 19):
A noção de multifuncionalidade rompe com o enfoque setorial e 
amplia o campo das funções sociais atribuídas à agricultura que deixa 
de ser entendida apenas como produtora de bens agrícolas. Ela se 
torna responsável pela conservação dos recursos naturais (água, solos, 
biodiversidade e outros), do patrimônio natural (paisagens) e pela 
qualidade dos alimentos. 
A partir deste contexto, Carneiro e Maluf (2003, p. 19) consideram que 
os papéis da agricultura familiar estão centrados especialmente em quatro 
dimensões básicas da multifuncionalidade:
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
140
1º Reprodução socioeconômica das famílias, onde se analisa as fontes 
geradoras de renda, as condições de permanência no campo e as 
práticas de sociabilidade.
2º Promoção da segurança alimentar da sociedade em geral e das 
próprias famílias rurais, abrangendo a produção para o autoconsumo 
e para a comercialização.
3º A manutenção do tecido sociocultural, se referindo as condições de 
vida e da reprodução das culturas locais.
4º Preservação e conservação dos recursos naturais e da paisagem 
rural, entendido como o uso e gestão da natureza e as relações com as 
atividades produtivas.
Estas múltiplas funções constituídas no espaço rural consentem, 
respectivamente, com o estabelecimento de atividades não agrícolas que 
diversificam a possibilidade de geração de renda entre as famílias camponesas, e 
também valorizam os saberes e práticas dos agricultores (CARNEIRO; MALUF, 
2003). Segundo os autores, dentro desta percepção multifuncional da agricultura 
familiar o turismo rural vem se desenvolvendo como mais uma opção de aquisição 
de renda complementar e propicia a conservação das culturas e de modos de uso 
e gestão das riquezas naturais.
FIGURA 1 – AGRICULTURA FAMILIAR
FONTE: <http://appsuma.com.br/wp-content/uploads/2018/12/blog-07.jpg>. Acesso em: 15 
maio 2019.
Um desafio encontrado, foi o espaço rural brasileiro, que no decorrer dos 
anos de 1970 e 1980 “[...] sofreu um intenso processo de êxodo rural. A mecanização 
da produção agrícola expulsou trabalhadores do campo que se deslocaram para 
as cidades em busca de oportunidades de trabalho” (IBGE, 2019). Atualmente, 
o deslocamento do espaço rural para o espaço urbano permanece, entretanto, 
“em percentuais menores”. (IBGE, 2019). Conforme as informações do Pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios realizada em 2015 (IBGE, 2019), observou-se 
que cerca de 85% da população do Brasil residem no espaço urbano. E cerca de 
15% residem no espaço rural. 
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL
141
Além disso, segundo o Censo Agro 2017 citado pelo Instituto Humanitas 
Unisinos (2018), “[...] nos últimos anos houve uma intensificação do domínio 
do agronegócio sobre a agricultura brasileira resultando, entre outras coisas, 
nesse processo de expulsão da população do campo e na redução do emprego”. 
Paulo Alentejano em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos (2018), declarou 
que houve ampliação: “[...] das culturas que são controladas mais diretamente 
pelo agronegócio em detrimento das culturas alimentares básicas. Então, a área 
cultivada com soja, com milho, com cana, que são produtos que vão virar ração, 
combustível, deu uma ampliada. E caiu a área destinada à produção de alimentos 
básicos: arroz, feijão, mandioca”. 
Podemos observar que há múltiplas atividades econômicas desenvolvidas 
no espaço rural e algumas geram renda aos camponeses como a agricultura 
familiar e outras como o agronegócio, além disso, existem o agroturismo e o 
turismo rural, que são abordados a seguir.
 Um Tema complexo e polêmico foi tratado neste tópico: a questão da 
alimentação. Ao tratar sobre alimentação, tratamos também sobre a fome. Na geografia, 
um autor que pesquisou e escreveu sobre a fome foi Josué de Castro.
 Aos 38 anos de idade, Josué de Castro publica sua obra de maior repercussão: 
Geografia da fome que foi traduzida em mais de 25 idiomas. Este livro, de 1946, é uma 
referência fundamental no estudo do tema e logo foi reconhecido com o Prêmio Pandiá 
Calógeras, da Associação Brasileira dos Escritores e com o Prêmio José Veríssimo, da 
Academia Brasileira de Letras. Assim, Josué explica o objetivo de seu trabalho.
 O mapeamento do Brasil a partir de suas características alimentares deixou clara a 
trágica situação da fome no país, que não poderia mais ser atribuída a fenômenos naturais, 
mas a sistemas econômicos e sociais que poderiam ser transformados para o benefício da 
população.
FONTE: http://www.projetomemoria.art.br/JosuedeCastro/cont_pens1.htm. Acesso em: 29 
out. 2019.
NOTA
2.2 AGRO TURISMO E O TURISMO RURAL
Quando se fala em turismo em áreas não urbanas, de acordo com 
a definição de Schneider (2007 apud GONÇALVES, PEDROSO, 2016) há 
necessidade de refletir o espaço rural como uma área de sociabilidade, ambiente 
promissor para manifestações culturais variadas, um espaço onde incide a 
interação do homem com o meio ambiente, acontecimentos que vão além da 
mera produção de alimentos e ingredientes para alimentação. 
http://www.projetomemoria.art.br/JosuedeCastro/cont_pens1.htm
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
142
FIGURA 2 – O TURISMO RURAL
FONTE: <http://twixar.me/vR1T>. Acesso em: 15 maio 2019.
Segundo Niederle (2007), o espaço rural deixa de ser considerado apenas 
um fator econômico e passa a obter valor por outros fatores, como o cenário, 
tradição, gastronomia, artesanato entre outros. Mas o reconhecimento ofi cial no 
turismo do campo como opção de exploração econômica das propriedades rurais 
para fi ns de tributação somente ocorreu em 2015 por meio da Lei nº 13.171, de 21 
de outubro de 2015 (BRASIL, 2015, p. 2):
Dispõe sobre o empregador rural; altera as Leis nos 8.023, de 12 de 
abril de 1990, e 5.889, de 8 de junho de 1973; e dá outras providências.
 [...] 
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA 
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte 
Lei:
Art. 1º (VETADO). 
Art. 2º O § 1o do art. 3o da Lei no 5.889, de 8 de junho de 1973, passa a 
vigorar com a seguinte redação: 
"Art. 3º ..................................................................................... 
§ 1º Inclui-se na atividade econômica referida no caput deste artigo, 
além da exploração industrial em estabelecimento agrário não 
compreendido na Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada 
pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, a exploração do turismo 
rural ancilar à exploração agroeconômica........................................" (NR) 
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
Assim, começaram a ser consideradas como atividade rural a administração 
e hospedagens, o fornecimento de alimentação e bebidas em hotéis e restaurantes, 
organização de eventos artísticos e religiosos relacionados ao campo, também 
a promoção de visitas a propriedades rurais produtivas ou importantes 
historicamente, bem como a exploração do dia a dia da área rural. No Brasil 
vários autores pesquisaram o turismo e Beni (2001) foi o primeiro a conceituar 
uma tipologia. Ele dividiu o turismo em 15 tipos e somente 5 se desenvolvem 
com maior amplitude em espaços rurais: turismo de aventura, turismo ecológico 
e ecoturismo, que se destacam por deslocamentos, em regra, a espaços naturais, e 
agro turismo e turismo rural, particularmente para o deslocamento a áreas rurais.
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL
143
Na distinção entre Agroturismo e o Turismo Rural, para Beni(2001), o 
agroturismo é o deslocamento de indivíduos a espaços rurais com roteiros 
planejados ou espontâneos, com ou sem pernoite. Já o turismo rural é o 
deslocamento de indivíduos a espaços rurais com roteiros planejados ou 
espontâneos, com ou sem pernoite, para desfrute de paisagens e acomodações 
rurais. 
Para Beni (2001) o agroturismo e turismo rural são como atividades com 
praticamente os mesmos atributos, entretanto diferenciando-se somente na 
questão do comportamento do turista. No agroturismo o visitante é convidado 
a participar dos trabalhos rurais desenvolvidos na propriedade e no turismo 
rural o hóspede exclusivamente desfruta do ambiente agrícola. O autor cita 
outra distinção entre as duas modalidades: no turismo rural a estrutura pode 
ser construída ou transformada para receber o visitante, já no agroturismo as 
acomodações e equipamentos podem ser adequados para atender o passeante 
desde que as particularidades originais e arquitetônicas sejam conservadas. Para 
Pereira et al. (2007, p. 2) citando Ribeiro (1998) o agro turismo é:
[...] o conjunto de “atividades internas à propriedade, que geram 
ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continua 
a fazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior 
intensidade. Devem ser entendidas como parte de um processo de 
agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não-materiais 
existentes nas propriedades rurais (paisagem, ar puro etc.) a partir 
do” tempo livre “das famílias agrícolas, com eventuais contrações 
de mão de obra externa. São exemplos de atividades associadas ao 
agroturismo: a fazenda-hotel, o pesque-pague, a fazenda de caça, 
a pousada, o restaurante típico, as vendas diretas do produtor, o 
artesanato, a industrialização caseira e outras atividades de lazer 
associadas à recuperação de um estilo de vida dos moradores do 
campo”.
Para Schneider (2006) o agro turismo é uma das modalidades de turismo 
rural exercidas no país, ao lado do ecoturismo, turismo cultural, esportivo e 
ecológico. Sendo que todas essas modalidades unem ações centradas em espaços 
rurais tais como: hotéis fazenda que oferecem serviços e atividades de acolhimento, 
hospedagem, transporte, alimentação, lazer, diversão e entretenimento, entre 
outros. 
Já Campanhola e Graziano da Silva (2000) conceituam agroturismo como 
a totalidade de atividades incrementadas dentro da propriedade que fazem parte 
das tarefas agrícolas, tais como hotel fazenda, pesque-pague, pousada, restaurante 
típico, vendas diretas do produtor. Isto é, todas as tarefas que se relacionam com 
o dia a dia dos camponeses. 
Quanto ao turismo rural, segundo Elesbão (2014), apareceu por todo 
o país e por este motivo há a necessidade de abordar a temática considerada 
a variedade do espaço rural do país, em que a atividade de turismo rural vai 
se estabelecendo devido as características de cada local, aparecendo então o 
problema em determinar um modelo único.
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
144
O Ministério do Turismo define o turismo rural como “[...] o conjunto 
de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometidas com a 
produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e 
promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade” (BRASIL, 2003, p. 
11). Na década de 1980, o turismo rural surgiu no Brasil, Argentina e Uruguai, 
conforme corroboram Roque (2009) e Tiscoski (2011). E em meados do século XX, 
como atividade econômica, surgiu na Europa e nos Estados Unidos. Na Europa 
iniciou por meio da criação do Programa LEADER, que era um programa de 
desenvolvimento rural em 1991, fez com que muitos países implementassem 
políticas públicas de apoio ao Turismo Rural e à outras atividades não-agrícolas 
capazes de revitalizar os territórios rurais. Seguindo o exemplo europeu e 
acreditando no desenvolvimento do Turismo Rural também como forma de 
criar postos de trabalho e valorizar o patrimônio natural e histórico, hoje, esse 
segmento do turismo é trabalhado por países de todas as partes do mundo.
Na década de 1990, na Europa, sobressai-se os empreendimentos no 
turismo rural dos países: Alemanha, Espanha, Portugal, Suíça, Suécia, França, 
Itália, Áustria, entre outros, segundo Tiscoski (2011). Ainda na mesma década, 
as primeiras ações brotaram no Japão, na África e na Oceania. E a partir dos 
anos 2000 surgiram também na Mongólia, Madagascar e Ucrânia, de acordo com 
Tiscoski (2011).
FIGURA 3 – TURISMO RURAL NA EUROPA OCIDENTAL
FONTE: <https://meioambiente.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/agricultura-na-
europa-3/Agricultura-na-Europa-7.jpg>. Acesso em: 15 maio 2019.
No Brasil, embora a visitação a propriedades rurais seja uma prática 
conhecida em algumas regiões, apenas na década de 1980 passou a 
ganhar status de atividade econômica. Nessa época, começou a ser 
encarada com profissionalismo e caracterizada como Turismo Rural, 
quando determinadas propriedades em Santa Catarina, no Rio 
Grande do Sul e Espírito Santo, principalmente devido às dificuldades 
do setor agropecuário, decidiram diversificar suas atividades e receber 
turistas. Desde então, esse segmento vem crescendo gradativamente 
nas diferentes regiões do Brasil, favorecido pela diversidade cultural 
resultante dos processos de colonização (TISCOSKI, 2011, p. 75-76).
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL
145
Quanto às mudanças oriundas pelo turismo rural no local em que está 
inserido, Tiscoski (2011) considera os gastos financeiros realizados pelo turista 
como a primeira fase de um resultado propagador que pode ser analisado sob 
duas perspectivas: a presença do turista desencadeia a circulação monetária 
em determinada localidade à medida que gasta dinheiro com hospedagem e 
produtos comercializados no local, este dinheiro é reinvestido em aquisição de 
bens a serem processados e consumidos outra vez, e o estímulo ao surgimento de 
novas empresas à medida que a atividade gera chances de negócio.
Para a Associação Brasileira de Turismo Rural (ABTR, 2019), são quatro 
os pilares do Turismo Rural: “Incremento de Receita”, “Geração de Empregos”, 
“Preservação do Meio Ambiente” e “Preservação do Patrimônio Rural”. Para 
Trzaskos, Baum e Trobia (2010) se desenvolvidos esses fatores em união com 
a população da área, surgirão vários benefícios como emprego e renda aos 
camponeses, além da proteção da área natural, aliada à preservação das tradições 
deste povo. Assim, atualmente, o turismo rural brasileiro é considerado como 
segmento da economia que aparece como uma possibilidade de reconsiderar o 
rural no país. Não oponente, este conforma-se ainda como uma promessa, tendo 
observado que sua organização se encontra em um processo, apesar de ínfimo, de 
planejamento no âmbito nacional (BRASIL, 2013). Em razão do caráter dinâmico 
da atividade turística, somado à necessidade de promoção do desenvolvimento, 
surgem novos segmentos turísticos, dentre os quais vem despontando, de 
forma promissora e com incontestável potencial em nosso país, o Turismo Rural 
(BRASIL, 2013, p. 3).
Várias discussões surgem como tentativa para a compreensão desta prática 
espacial. O desenvolvimento do setor torna-se expressivo a tal ponto que obriga 
o Ministério do Turismo a lançar algumas documentações com a finalidade de 
direcionar o turismo rural no país. Mesmo com este movimento e a importância 
deste em termos de interiorização do turismo brasileiro, ainda existem questões 
conceituais em conjunto com falta de estudos neste setor, os quais evidenciam a 
necessidade urgente de se analisar este segmento. Principalmente através de um 
planejamento territorial, conforme relata Souza (2006).
Souza (2006) defende a concepção de que o planejamento territorial do 
turismo rural deve se estruturar diretamente a partir da identidade territorial local 
para ponderar o rural e consequentemente, o turismo. Centrada na identidade 
territorial construída historicamente em cada microescala, oEstado em conjunto 
com os agentes privados pode criar estratégias que desenvolvam a atividade do 
turismo rural. Assim, para o autor, o planejamento do turismo rural deve estar 
pautado na constituição de políticas públicas que valorizem os atores locais e 
seus saberes transmitidos pelos seus antepassados. 
Se assim estiver, o experimento prático cotidiano e o “saber local” dos 
camponeses deverão ter liberdade de expressão e ser congregados “à analise 
planejadora”, segundo Souza (2006, p. 69). Apenas a partir da premissa de 
redefinição dos saberes locais e da valorização das características da identidade 
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
146
como estrutura, para apreciar o turismo rural, é que poderemos ponderar em um 
planejamento territorial que viabilize o desenvolvimento regional, de acordo com 
a afirmação do autor. 
Kanitz (2010) completa que para o planejamento territorial viabilizar 
o desenvolvimento regional, por meio do turismo rural, há a necessidade de 
seguir os Planos Nacionais de Turismo, os quais tem sua constituição em 2003 
e configuram-se como o fundamental documento no Brasil para gerir estas 
atividades, já que apontam diretrizes para que os governos estaduais, secretarias 
e outros atores envolvidos possam implementar suas políticas públicas.
Plano de aula de Geografia com atividades para o 6º ano do Ensino Fundamental 
sobre compreender a importância da agricultura sustentável como uma alternativa para o 
uso inadequado do solo na agricultura: A agricultura sustentável como alternativa para o 
mau uso do solo na agricultura. Acesse: <https://novaescola.org.br/plano-de-aula/6319/a-
agricultura-sustentavel-como-alternativa-para-o-mau-uso-do-solo-na-agricultura>.
DICAS
147
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Para o desenvolvimento rural há a necessidade da adoção e apropriação dos 
resultados da pesquisa pública pelos agricultores, assim como os impactos 
(econômicos, sociais e ambientais) dessa incorporação, também são dependentes 
expressivamente das políticas de crédito, de preço mínimo, de armazenamento, 
de seguro agropecuário, de comercialização e de infraestrutura, como estradas 
e acesso à água e energia elétrica. São dependentes, além disso, da condição de 
saúde, de moradia, de alimentação e de acesso à educação.
• O espaço rural como alvo de análise tem na sua produção uma moral e uma 
constituição de modos e vida expressivos que acabam gerando atrativos à 
população da cidade. Entretanto, um dos apoios do designado turismo rural 
está no conceito de multifuncionalidade da agricultura, tendo como suposição 
que a pedra angular que distingue esta prática socioespacial são as técnicas 
agrárias e o simbolismo originado por estas. 
• As múltiplas funções constituídas no espaço rural consentem, respectivamente, 
o estabelecimento de atividades não agrícolas que diversificam a possibilidade 
de geração de renda entre as famílias camponesas e também valoriza os 
saberes e práticas dos agricultores. Dentro desta percepção multifuncional 
da agricultura familiar, o turismo rural vem se desenvolvendo como mais 
uma opção de aquisição de renda complementar e também de propiciar a 
conservação das culturas e de modos de uso e gestão das riquezas naturais.
• Há múltiplas atividades econômicas desenvolvidas no espaço rural e algumas 
geram renda aos camponeses como a agricultura familiar e outras como o 
agronegócio, além destas, existem o agroturismo e o turismo rural.
• As distinções entre o Agroturismo e o Turismo Rural dependem do 
comportamento do turista. No agroturismo o visitante é convidado a participar 
dos trabalhos rurais desenvolvidos na propriedade e as acomodações e 
equipamentos podem ser adequados para atender ao passeante desde que as 
particularidades originais e arquitetônicas sejam conservadas. E no turismo 
rural, o hóspede exclusivamente desfruta do ambiente agrícola e a estrutura 
pode ser construída ou transformada para receber esse visitante.
148
1 As múltiplas funções constituídas no espaço rural consentem, 
respectivamente, com o estabelecimento de atividades não agrícolas 
que diversificam a possibilidade de geração de renda entre as famílias 
camponesas e valorizam os saberes e práticas dos agricultores. Dentro desta 
percepção multifuncional da agricultura familiar, o turismo rural vem se 
desenvolvendo como mais uma opção de aquisição de renda complementar. 
Podemos afirmar como produção de renda no campo, principalmente em 
rendas complementares as seguintes atividades: 
a) ( ) Desenvolver conservação das culturas locais e regionais como modos 
de uso e gestão das riquezas naturais e dos recursos locais para a produção 
agropecuária.
b) ( ) Aprimorar as importações de insumos agrícolas para o aumento da 
produção agrária, pois a qualidade de produtos importados é superior aos 
nacionais.
c) ( ) Enfocar nos incentivos fiscais para o aumento de produção agropecuária, 
pois o grande problema do desemprego no campo ser maior que das cidades é 
exclusivamente das questões tributárias.
d) ( ) Desenvolver apenas o turismo rural como única e atual forma de renda 
dos trabalhadores do campo.
2 O espaço rural deixa de ser considerado apenas um fator econômico e 
passa a obter valor por outros fatores, como: cenário, tradição, gastronomia, 
artesanato entre outros. Uma atividade econômica nos Espaços Rurais 
que vem crescendo é o Turismo Rural ou o Ecoturismo, essas atividades 
entram como opções de exploração econômica das propriedades rurais e 
os potenciais que possam ser desenvolvidos para aprimorar a aquisição da 
renda familiar dos proprietários rurais e dos moradores das áreas rurais.
Sobre esse tema, podemos afirmar que:
a) ( ) O turismo rural é irrisório na produção e aprimoramento da renda dos 
proprietários rurais.
b) ( ) As práticas de aprimoramento da renda nas áreas rurais em nosso país 
têm atualmente como grande aliado o turismo rural sustentável.
c) ( ) O turismo rural é apenas uma complementação da renda das famílias 
nos espaços rurais, nunca serão a principal atividade de produção de renda.
d) ( ) As propriedades agrárias que investem no turismo rural não podem se 
tornar competitivas no mercado externo, por isso há uma desaceleração na 
produção de renda nestas áreas e prejuízo para os proprietários rurais que 
investem nesta modalidade econômica.
AUTOATIVIDADE
149
TÓPICO 2
MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2 serão abordados os seguintes temas: movimentos sociais 
no espaço rural mundial, movimentos sociais latino-americanos e movimentos 
sociais brasileiros. Segundo a teoria dos Novos Movimentos Sociais, atos 
coletivos armam-se a partir de repertórios criados sobre assuntos e dificuldades 
em circunstâncias conflituosas e de contestação. Para Melucci (2001), esses atos 
coletivos são produzidos por orientações propositadas desenvolvidas dentro 
de um campo de oportunidades e reservas. Desta maneira, a formação de ações 
coletivas depende da mediação das capacidades cognitivas dos atores individuais 
e de suas estratégias. 
Ribeiro e Cleps Júnior (2011, p. 78), consideram os movimentos sociais 
rurais:
[...] processos de luta social e política protagonizada por organizações 
representativas de agricultores familiares, camponeses e trabalhadores 
rurais sinalizam uma problemática que ganha espaço no debate de 
atualização da questão agrária: as disputas territoriais e conflitualidades 
entre os modelos de desenvolvimento do agronegócio e da agricultura 
camponesa/familiar. 
Os movimentos sociais são a ação de conflito oriundo de atores dos 
grupos sociais que lutam pelo domínio do sistema de ação da história, segundo 
Touraine (2006). E em toda sociedade há um movimento social que representa 
não uma básica mobilização, mas uma concepção de transformação social. O 
autor completa que nenhum movimento social é definido apenas pelo conflito, e 
sim pelo seu anseio de dominar o movimento histórico. Nestecontexto, Touraine 
(2006) define que o movimento social acontece por meio de três princípios: 
princípio de identidade; princípio de oposição: princípio de totalidade. Pedon 
(2009, p. 10) em sua tese conceitua movimentos sociais como um:
[...] tipo de mobilização coletiva de caráter perene, organizada e que 
realiza, por meio de suas ações, uma crítica aos fundamentos da 
sociedade atual, baseada nos processos de acumulação da riqueza 
e concentração do poder manifestados na forma do território. Esses 
processos têm como resultado a exclusão e a subordinação das 
classes populares. A proposta de conceituação dessas manifestações 
numa perspectiva geográfica baseia-se na formulação e emprego dos 
conceitos de movimentos socioespaciais e movimentos socioterritoriais, 
inserindo, dessa forma, a perspectiva geográfica no campo da teoria 
social crítica. 
150
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
Já o movimento socioterritorial, Fernandes (2000, p. 60) considera uma 
reflexão essencial para a compreensão dos movimentos sociais para “[...] além 
de suas formas de organização, mas também pelos processos que desenvolvem, 
pelos espaços que constroem, pelos territórios que dominam”. Isto é, um modo 
de considerar os movimentos sociais a partir de uma visão geográfica por meio 
das dimensões espacial e territorial. O autor, observa que não há distinção prática 
entre um movimento social ou socioterritorial, deste modo, podendo o mesmo 
ser visto como um movimento social ou como um socioterritorial.
FIGURA 4 – OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO ESPAÇO RURAL
FONTE: <http://agroecologia.redelivre.org.br/files/2012/06/mato%20grosso.jpg>. Acesso em: 15 
maio 2019.
A partir dos anos 60, em várias regiões acadêmicas do mundo 
ocidental, o estudo dos movimentos sociais ganhou espaço, densidade 
e status de objeto científico de análise e mereceu várias teorias. Tudo 
isso ocorreu porque, em parte, os movimentos ganharam visibilidade 
na própria sociedade, enquanto fenômenos históricos concretos 
(GOHN, 1997, p. 10).
Os atos e táticas de resistência dos movimentos sociais rurais instituem 
condições para que as suas questões sejam propagadas e atinjam inclusive as 
instâncias de decisão do Estado. Os movimentos sociais apresentam, na sua 
constituição, a característica de contestação da existência na qual fazem parte e 
se formam para gerar o rompimento de uma condição de ausência de direitos. 
No Brasil, os movimentos sociais rurais são transformações sociais no campo que 
têm incidido tanto através da luta por terra quanto nas valorações estabelecidas 
aos trabalhadores rurais (TOURAINE, 2006; MELUCCI, 2001). 
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
151
Delgado e Bergamasco (2017, p. 10) afirmam que os movimentos sociais, 
em conjunto com a iniciativa do Estado e da Academia, exerceram uma função 
importante na demarcação da Agricultura Familiar como um exemplo de 
agricultura, como segmento agregador “[...] de direitos e como identidade política 
unificadora de uma diversidade de unidades familiares no campo. 
Para Delgado e Bergamasco (2017), encontram-se dentre os movimentos 
que se destacam as lutas das mulheres rurais pela conquista de seus direitos e 
de seus “[...] espaços de autonomia [...]”. (DELGADO; BERGAMASCO, 2017, p. 
10). Ao mesmo tempo, observa-se a importância do registro das questões como 
o êxodo rural dos mais jovens, “[...] tendencialmente definitiva, as migrações 
sazonais e ou pendulares, que se apresentam como desafios, tanto na avaliação 
da dinâmica da própria Agricultura Familiar quanto na formulação de políticas 
públicas para o setor [...]”, segundo Delgado e Bergamasco (2017, p. 10). 
Fabrini (2007, p. 15) completa que há um conjunto distinto de movimentos 
sociais rurais que resistem e lutam contra as estruturas de desapropriação 
e subordinação dos quais se destacam os seguintes: “[...] movimentos dos 
assalariados temporários, posseiros, mulheres agricultoras, e agora, camponesas, 
atingidos por barragem, indígenas, sem-terra”.
Esses movimentos estão espalhados pelo mundo, cada um com sua 
importância. Alguns movimentos sociais no espaço rural serão abordados, 
inicialmente os de nível mundial.
Olá, acadêmico! Ainda sobre os movimentos sociais é importante saber que: 
os movimentos sociais brasileiros ganharam mais importância a partir da década de 1960, 
quando surgiram os primeiros movimentos de luta contra a política vigente, ou seja, a 
população insatisfeita com as transformações ocorridas tanto no campo econômico 
e social. Mas, antes, na década de 1950, os movimentos nos espaços rural e urbano 
adquiriram visibilidade. As ações coletivas mais conhecidas no Brasil são o Movimento dos 
Trabalhadores Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) e os 
movimentos em defesa dos índios, dos negros e das mulheres.
FONTE: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/movimentos-sociais-resumo/. Acesso 
em: 29 out. 2019.
NOTA
152
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL MUNDIAL
Com a crise mundial na área agrícola nas décadas de 1970 e 1980, 
ocorreram pactos multilaterais, como na Rodada Uruguaia do GATT, antecessor 
da Organização Mundial do Comércio (OMC) e nos blocos regionais como o 
Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA) e o Mercado Comum 
do Sul (MERCOSUL), inserindo a agricultura latino-americana no contexto dos 
mercados globalizados (SCHERER-WARREN, 2000). 
Segundo Favero (1998 apud SCHERER-WARREN, 2000, p. 36), este 
contexto dos mercados globalizados originou “[...] três categorias de agricultores: 
os integrados, que se organizam em sindicatos, cooperativas e associações 
especializadas; os precários, que participam de associações locais e redes; e os 
excluídos, que formam movimentos” (FAVERO, 1998 apud SCHERER-WARREN, 
2000, p. 36).
FIGURA 5 – MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO PELO MUNDO
FONTE: <https://marxcio.fi les.wordpress.com/2011/03/1131_bolivia-movimentos-sociais.gif>. 
Acesso em: 15 maio 2019.
Em 1980, surge o movimento social o Karnataka State Farmers Union 
(KRRS), traduzindo Associação de Agricultores do Estado de Karnataka, 
localizado na Índia. Surgiu como um movimento de fazendeiros. Eles veem o 
movimento como parte de um processo muito longo de construção de uma nova 
sociedade, que deve ser conduzida por pessoas em nível local até o nível global, 
mas o envolvimento ativo e direto da sociedade como um todo, de acordo com 
Via Campesina (2017). O KRRS é um movimento gandhiano e é incorporado pela 
Via Campesina. 
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
153
Em 1983, no auge da construção de grandes projetos de barragens, foi 
criada em São Francisco/EUA a International Rivers Network. A Rede contava com 
a “[...] participação de agricultores e ecologistas [...]”, e o espírito de integração na 
heterogeneidade registrou-se “[...] pelos participantes do Primeiro Encontro dos 
Povos Afetados pelas Barragens [...]”, concretizado no ano de 1997: “[...] e somos 
fortes, diversos e unidos e nossa causa é justa. Para simbolizar nosso crescimento, 
declaramos que o dia 14 de março será, a partir de agora, o Dia Internacional de 
Ação contra Barragens e Rios, Água e Vida” (SOCIAL MOVEMENT LIST, 2000 
apud SCHERER-WARREN, 2000b, p. 36, tradução nossa).
FIGURA 6 – MOVIMENTO DA VIA CAMPESINA
FONTE: <https://viacampesina.org/en/wp-content/uploads/sites/2/2007/09/2007-09-28%20
KRRS.jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.
Quanto ao surgimento da Via Campesina, aconteceu em 1992, “[...] 
quando os líderes de movimentos camponeses de diversas regiões reuniram-se 
no II Congresso da UNAG – Unión Nacional de Agricultores y Granaderos de 
Nicarágua”, realizado na cidade de Manágua, Nicarágua (RIBEIRO, SOBREIRO 
FILHO, 2012, p. 2). Mas somente em 1993 é oficializado o movimento, conforme 
relatam Ribeiro e Sobreiro Filho (2012).
Podemos compreender com a espacialização da Via Campesina 
Brasil a importância desse movimento na luta por um projeto contra 
hegemônicodesafiando as organizações dominantes. Vimos que a 
manifestação é a forma fundamental para a construção e expansão 
do movimento. A Via Campesina é um movimento articulador de 
movimentos camponeses e não camponeses, sendo uma expressão 
da conflitualidade da reprodução das relações capitalistas (RIBEIRO; 
SOBREIRO FILHO, 2012, p. 14).
Para Ribeiro e Sobreiro Filho (2012, p. 1) a Via Campesina articula 
organizações em nível global e regional, com a finalidade de se afrontar “[...] ao 
atual modelo de desenvolvimento no campo: o agronegócio: e também, constitui-
se como um dos principais movimentos que lutam contra o modelo neoliberalista”. 
154
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
Atualmente considera-se a Via Campesina como a maior articulação de 
trabalhadores em nível mundial, pois conta “[...] com articulações em 70 países 
de todos os continentes”. Assim, as populações rurais procuram a construção da 
solidariedade internacional, por meio “[...] das lutas e articulações de base [...]”, 
segundo afirmação de Egon Heck, secretariado nacional do Conselho Indigenista 
Missionário (CIMI) (MST, 2016, s. p.). 
Segundo Heck (MST, 2016, s. p.):
Dentre as principais bandeiras de luta levantadas estão: terra/território, 
luta pela demarcação das terras indígenas, quilombolas e populações 
tradicionais, juntamente com acento na reforma agrária ampla e 
popular; luta pela soberania alimentar e alimentação saudável, sem 
agrotóxicos e sementes transgênicas; além disso, estarão em pauta 
questões mais conjunturais como a defasa da Previdência, do petróleo 
e contra a violência.
Segundo Ribeiro e Sobreiro Filho (2012, p. 1), o movimento se particulariza 
partindo “[...] de manifestações, ocupações de terras e das propostas alternativas 
questionando sobre temas relevantes da nossa sociedade, tais como: reforma 
agrária; soberania alimentar; campesinato; agricultura camponesa sustentável; 
questão de gênero; direito humanos e outros”.
Além dos movimentos sociais citados existem inúmeros outros, como os 
movimentos sociais latino-americanos, os quais serão abordados a seguir. 
2.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL LATINO 
AMERICANO
A América Latina abrange a maior parte das nações das Américas do Sul 
e Central. Ela engloba Cuba, Haiti, República Dominicana, México, Argentina, 
Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, 
Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, 
República Dominicana, Uruguai e Venezuela, como é possível visualizar na 
Figura 7:
Costa Rica
El Salvador
Guatemala
México
https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica_do_Sul
https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica_Central
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
155
FIGURA 7 – MAPA DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Mapa-dos-paises-componentes-da-
America-Latina-onde-esta-situado-o-Brasil-Fonte_fig1_321282199>. Acesso em: 16 maio 2019.
Argentina
Chile
Peru
Equador
Panamá
Costa Rica
El Salvador
Guatemala
México
Belize
Honduras
Nicarágua
Venezuela Suriname
Guinea Francesa
Brasil
Bolívia
Paraguai
Uruguai
Durante anos a “luta pela reforma agrária” se estende com “[...] outras 
lutas na América Latina [...]”, os movimentos sociais, de acordo com Oliveira 
Neto (2015, p. 198), debatem a necessidade da ampliação das políticas com a 
finalidade de assegurar tanto a terra, quanto a qualidade de vida dos agricultores, 
e também as políticas relacionadas à produção, que comportem a entrada destes 
produtos rurais a outros mercados. 
Todo este desenvolvimento conduzido pelo capitalismo globalizado e 
pela lógica capitalista financeira mundial nas décadas de 1990 e de 2000 “[...] 
transformou países em desenvolvimento como o Brasil e outros da América 
Latina, ao impor medidas de ajuste estrutural às economias nacionais e ao Estado” 
(RIBEIRO; CLEPS JUNIOR, 2011). Estes “[...] ajustes abriram caminho para a 
globalização, que afetou o mundo da agricultura e os sistemas agroalimentícios 
na América Latina” (TEUBAL, 2008 apud RIBEIRO, CLEPS JUNIOR, 2011, p. 85). 
Após os anos 2000 ampliaram-se as discussões sobre os movimentos sociais 
rurais na América Latina (RIBEIRO; CLEPS JÚNIOR, 2011). E a discussão sobre o 
tema ampliou-se por meio de eventos, tais como: “[...] o Simpósio Internacional 
de Geografia Agrária (2009; 2007; 2005; 2003) e o Grupo de Trabalho sobre 
Desenvolvimento Rural vinculado ao Conselho Latino-americano de Ciências 
Sociais (CLACSO)” (RIBEIRO; CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 78).
156
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
Por meio dos movimentos sociais rurais, a agricultura do capital “[...] 
passou a ter papel central na economia de países como Brasil” (PAULINO, 2008 
apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 85). Porque foi escolhida para a geração 
de “[...] saldos comerciais [...]” (PAULINO, 2008 apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 
2011, p. 85) por meio das exportações. E ao mesmo tempo, o Estado garantiu “[...] 
condições ao avanço e à consolidação desse modelo agrícola, mediante subsídios 
de várias ordens, em particular creditícios” (PAULINO, 2008 apud RIBEIRO, 
CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 85). 
Consequentemente, brotaram resultados sociais claros na agricultura, 
produzidos por um “[...] caminho de desenvolvimento concentrador e excludente 
em que camponeses e trabalhadores rurais não se veem incluídos, exceto sob a 
égide da expropriação e exploração, nessa nova etapa de modernização técnica 
da agricultura” (PAULINO, 2008 apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 85). 
Organizações de trabalhadores rurais, agricultores familiares e 
camponeses de vários países, em especial na América Latina, ante as mudanças 
advindas pela globalização, defendem-se por meio da atualização de sua “[...] 
agenda política e reorientando seu campo de conflitos; nela, o enfrentamento e a 
luta política contra o modelo do agronegócio surgem como elemento central”, de 
acordo com Teubal (2008, p. 148-149 apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 86). 
Teubal (2003 apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 86) analisam esse 
fenômeno: 
Até fins do milênio, em todo o continente latino-americano, manifesta-
se o ressurgimento de importantes movimentos sociais camponeses, 
incluindo movimentos que intercalam comunidades indígenas, 
movimentos de médios e pequenos produtores e/ou trabalhadores 
rurais. Como consequência, a questão da terra e a reforma agrária 
adquirem uma nova identidade. 
As consequências dos movimentos e das suas discussões e ações “[...] 
podem ser visualizados como uma reação contra a consolidação de um sistema 
de agronegócios sob a égide do neoliberalismo” (RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, 
p. 86).
Outro movimento importante foi o Zapatista, localizado na região 
mexicana de Chiapas, em 1994 e que ocupou diversas cidades numa “[...] 
manifestação contra a NAFTA (North American Free Trade Agreement)”. Além 
disso, “[...] contestava as novas formas de dominação global do capital, defendia 
o direito e o respeito a manutenção das diversidades culturais, no caso a indígena 
(SOCIAL MOVEMENT LIST, 2000 apud SCHERER-WARREN, 2016, p. 36, 
tradução nossa)”. Com o auxílio da internet constituiu uma rede de apoiadores 
internacionais, segundo Gadea (1999) e Rossiaud (1999) apud Scherer-Warren 
(2016, p. 32-33). E em 1996, aconteceu o Encontro Internacional em Chiapas, 
realizado pelos zapatistas:
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
157
[...] com a presença de cerca de 6.000 ativistas e intelectuais, onde se 
deu continuidade a um novo desenho para a atuação da sociedade 
civil nos problemas globais. Um ano após, num encontro na Espanha, 
esta articulação foi denominada de Ação Global dos Povos (Peoples 
Global Action), passando a ser coordenada por dez movimentos 
sociais amplos e inovativos, dentre os quais o Movimento Sem-Terra 
(MST do Brasil) e o Karnataka State Farmers Union (KRRS da Índia) 
(SCHERER-WARREN, 2000, p. 32-33).
Na região de Chiapas, no México conviviam grupos indígenas e 
camponesesde modo simplório de acordo com suas culturas. A principal 
atividade da região de Chiapas é a agrária e a partir da efetivação do Tratado 
Norte-Americano de Livre Comércio entre México e Estados Unidos passou a ser 
discutida em âmbito internacional, segundo Simonetti (2012).
Nos anos 90, essas comunidades foram mais afetadas visto que a 
entrada em vigor no NAFTA contemplava mudanças de alguns 
artigos na Constituição Mexicana. Aquela que mais alterava a vida 
dessas comunidades foi o artigo 27 que prevê a regulamentação 
agrária, propriedade da terra e bem-estar dos camponeses. A alteração 
proposta visava destruir a propriedade coletiva da terra – Ejidos 
– principal conquista da Revolução de 1910. Ao incentivar o livre 
mercado da propriedade rural, com prejuízo dos pequenos lavradores 
que, sem infraestrutura agrícola e sem incentivos econômicos, 
encontram-se em absoluta desvantagem no mercado agrícola. A 
reforma favoreceu o renascimento de uma estrutura agrícola do 
latifúndio, inimigo principal da revolução de Emiliano Zapata, 
intensificando o conflito no campo. Tal mudança teve um impacto 
em Chiapas, onde as milícias privadas armadas a serviço do grande 
latifundiário, levaram as organizações camponesas e indígenas à luta 
armada pela defesa do chão, do sustento e da própria cultura (FELICE, 
1998 apud SIMONETTI, 2012, p. 126-127).
Além do Movimento Zapatista (SIMONETTI, 2012), podemos citar 
como exemplos de movimentos sociais rurais na América Latina: o Movimento 
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), movimento brasileiro de base 
rural, tendo como preocupação principal o mapeamento da formação de redes 
transnacionais, numa definição amplificada (RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011). O 
MST será apresentado posteriormente.
2.2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL 
BRASILEIRO
No Brasil existem diversas pesquisas acerca do papel ativo dos movimentos 
sociais na luta por direitos e garantias de grupos excluídos dentro da sociedade. 
A articulação de atuações coletivas que operam como oposição à exclusão e que 
geram novas dinâmicas sociais, sendo na cidade ou mesmo no campo, vem se 
restabelecendo e conquistando novos contornos sociais, segundo Picolotto (2007). 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032017000100123#B26
158
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
E as atuações e estratégias de oposição dos movimentos sociais rurais 
surgem cunhando condições para que as suas questões sejam divulgadas 
para que alcancem as instâncias decisórias do Estado. Os movimentos sociais 
apresentam na sua origem a característica de contestação da realidade na qual 
estão fundamentados e se constituem para a promoção da ruptura de uma 
circunstância de falta de direitos. (PICOLOTTO, 2007).
Uma das batalhas materiais de emergência, do dia a dia de bases dos 
movimentos sociais rurais, é a terra. Pois ela “[...] constitui um dos elementos 
centrais a partir do qual deriva a atuação dos movimentos de resistência” 
(MIRANDA; FIUZA, 2017, p. 128). Porém, existem movimentos predominantes 
que reivindicam o domínio da terra, e já outros que resistem pela utilização 
sustentável desta (MIRANDA; FIUZA, 2017). Deste modo, nota-se que “[...] as 
lutas dos movimentos sociais já não mais se voltam para a conquista do poder do 
Estado, mas contra o próprio poder, na medida em que reconhecem uma crise do 
Estado e do poder na sociedade atual” (MIRANDA; FIUZA, 2017, p. 128).
A história dos movimentos sociais do campo no território brasileiro surgiu 
a partir de duas principais frentes: as Ligas Camponesas, entre as décadas de 
1940 e 1960, localizadas na Região Nordeste, e nos anos 1980 surgiu o Movimento 
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conforme explicam Miranda e Fiúza 
(2017). Mas a partir dos anos 90, a agricultura mundial passou por mudanças 
importantes perante os novos padrões de acumulação e exploração sob a égide do 
capitalismo monopolista mundializado, segundo Oliveira (2004b apud RIBEIRO, 
CLEPS JUNIOR, 2011). 
Segundo Ribeiro e Cleps Júnior (2011, p. 76), nesse período,
 
[...] a atuação de corporações transnacionais ligadas aos negócios 
agrícolas nas etapas de produção, processamento, pesquisas e difusão 
de biotecnologia e no setor alimentício ganhou relevo, num movimento 
de expansão da agricultura capitalista que delineou, desde então, uma 
nova etapa de modernização técnica da agricultura no país, designada 
como agronegócio. 
Esse acontecimento marca o espaço rural e o trabalho agrícola no Brasil, 
e ainda abrange distintos esferas da sociedade. Este método envolve até “[...] 
subordinações, resistências e respostas dos trabalhadores rurais, camponeses 
e suas organizações políticas, frente a esse novo cenário desenhado para a 
agricultura brasileira [...]”, segundo Ribeiro e Cleps Junior (2011, p. 77). Para eles, 
no país, o modelo mais evidente desse aspecto de mobilização social advém das 
principais organizações relacionadas à Via Campesina, tais como:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032017000100123#B26
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
159
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST), do Movimento 
dos Pequenos Agricultores (MPA), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) 
e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Destes, o MST 
se destaca graças ao alcance expressivo de sua atuação, manifestada 
em discursos, notas públicas, entrevistas e demais estratégias, que 
se propagam no cenário público nacional, como também por ações 
diretas em que a pauta de denúncia e contestação ao agronegócio se 
pronuncia (RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 77).
Segundo Touraine (2006, p. 175), neste contexto os movimentos sociais são 
“[...] atores de um conflito, agindo com outros atores organizados, que lutam pelo 
uso social dos recursos culturais e materiais, aos quais os dois campos atribuem, 
tanto um com o outro, uma importância central”. Para o autor, os movimentos 
sociais exibem uma forte característica, na medida em que focam diretamente 
no sistema político, e tratam de estabelecer uma identidade que lhes comporte 
atuar sobre si próprios e sobre a sociedade em completo, através de técnicas, 
importâncias e regras sociais que formam um sistema de conhecimento. 
No Brasil, os movimentos sociais rurais apresentaram grande evidência 
nos anos 1950 com as Ligas Camponesas, especialmente na Região Nordeste. 
Elas caíram na clandestinidade nas décadas de 1960 e 1970 e nos anos 1980 
retornaram aos manifestos com a colaboração da igreja católica e também de 
partidos esquerdistas, tal como o Partido dos Trabalhadores (PT). De acordo com 
Grybowsky (1994), as dificuldades vivenciadas pela maior parte da população 
camponesa, especialmente os trabalhadores assalariados, os agricultores e as 
suas famílias, estavam presos a exploração e a marginalização gerada pela 
modernização agrária no campo.
Porém, o campo, a partir da década de 1970, suportou as decorrências deste 
desenvolvimento excludente, corroborado na deterioração dos recursos naturais, 
na centralização fundiária, no êxodo rural, nas modificações dos sistemas de 
produção e ainda de relações sociais. Neste contexto, os diversos atores sociais, 
como trabalhadores rurais, boias-frias, mulheres, jovens e pequenos produtores 
rurais, começaram a se organizar, demonstrando resistência aos problemas 
decorrentes deste processo de modernização. Nesta totalidade, Martins (1989) 
alega que a resistência campestre é uma batalha pela terra e pela preservação 
de uma história. Ela é fundamentada no trabalho coletivo do mutirão, também 
na preservação da agricultura familiar e ainda na sociabilidade entre vizinhos, 
parentes e compadres como uma opção concreta à degradação e à miséria.
Uma parte considerável dos movimentos sociais rurais possui uma 
história injusta, já que a ideia que prevaleceu até o final dos anos 1980, de 
tentar novas práticas políticas e também sociais, foi se misturando ao processo 
de instrumentalização do Estado por meiopartidário, conforme comenta Ricci 
(2005). Deste modo, diversos movimentos sociais se legitimaram pelos partidos 
políticos. E os movimentos sociais ao se legitimarem, segundo Cohen e Arato 
(2000), também se racionalizam, procurando resguardar os seus direitos, além de 
se aprovisionar com novas e criativas forças sociais. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032017000100123#B19
160
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
Neste caso, para Cohen e Arato (2000), os movimentos sociais as vezes 
são defensivos e já outras ofensivos. Defensivos quando se posiciona no 
desenvolvimento de identidades, de base local, que atuam sobre a consciência 
e a tradição dos grupos. Já em seu aspecto ofensivo, estão as estratégias no jogo 
de poder entre atores externos, visando se incluir institucionalmente no sistema 
político e intervir nas políticas públicas.
Para Miranda e Fiuza (2017, p. 17), os movimentos sociais apresentam 
a capacidade de combinar uma pluralidade de modelos de ação que vão de 
estratégias duvidosas e interruptivas, tais como: 
[...] os protestos públicos, passeatas e ocupações, até ações formais de 
encaminhamento de demandas. O conjunto dessas ações e formas de 
resistência é contingente e dinamizado pela relação com a sociedade 
civil e com o Estado em cada contexto histórico específico. No que 
diz respeito aos movimentos sociais rurais, estes têm intensificado 
a sua participação nas disputas que envolvem a luta pela terra e o 
controle social das políticas públicas relacionadas ao campo, buscando 
fortalecer a agricultura familiar. 
No entanto, segundo Miranda e Fiuza (2017, p. 17), “[...] nas últimas 
décadas os movimentos sociais rurais [...]” exibem-se com outras compreensões e 
técnicas, mais associadas ao habitual, das atitudes e dos anseios das pessoas que 
dependem da lavoura. 
Observa-se várias entidades religiosas articuladas com os movimentos 
sociais rurais, como a igreja católica, que movimentavam atividades religiosas e 
também políticas comunitárias desenvolvidas através das Comunidades Eclesiais 
de Base (CEBs) de acordo com a história relacionadas à agricultura familiar. 
“As CEBs, como se analisa posteriormente, introduziram elementos culturais 
e simbólicos que cimentaram a confiança e a solidariedade nas conexões entre 
os agricultores locais” (FREITAS; FREITAS, 2013 apud FREITAS; FERREIRA; 
FREITAS, 2019, p. 18). 
FIGURA 8 – CEBS DO BRASIL
FONTE: <http://cebsdobrasil.com.br/wpcontent/uploads/2018/08/20799461_753044231550121
_1812877185126960276_n-665x365.jpg>. Acesso em: 11 set. 2019.
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
161
Para Freitas, Ferreira, Freitas (2019, p. 18) que citam Petrini (1984) as CEBs 
são:
[...] grupos de cristãos que se reuniam regularmente na casa das 
famílias rurais ou nos centros comunitários, a fim de discutirem a 
Bíblia e debaterem sobre as questões sociais, econômicas e políticas 
que os afligia. A ideia de comunidade posta pela CEBs vinha de 
sua organização por grupos formados por indivíduos de uma 
mesma identificação geográfica: as comunidades rurais. O elemento 
“comunidade” e o debate em torno das “relações fraternas” reforçavam, 
entre os participantes [agricultores familiares], a proximidade social e 
a solidariedade.
Quanto ao “[...] trabalho desenvolvido pelas CEBs [...]”, Cintrão, 1996 
citado por Freitas; Ferreira; Freitas, (2019, p. 18), observa a desaprovação da prática 
social vivida ao destacar as questões econômicas e sociais oriundos da distinção e 
do abuso dos trabalhos dos desafortunados. Outro pilar que sustentava a atuação 
das CEBs, conforme citado pelo autor, era a crença cristã, com base em apegos 
éticos e de assistência. “A atuação das CEBs, como descrito, marcadamente tenta 
romper com a grande correlação de forças que existia com o Estado e entre grandes 
fazendeiros e pequenos agricultores, promovendo mais autonomia e consciência 
crítica”, de acordo com Freitas, Ferreira, Freitas (2019, p. 19).
2.2.1 Movimento dos Sem Terra
A organização do MST surgiu em 1979 e nos anos 1980 se fortaleceu. 
Na década de 1990 começou a participar ativamente do movimento cidadão 
planetário, conforme explica Scherer-Warren (2016, p. 35). E a partir dos anos 2000, 
o MST reúne três níveis principais de participação no movimento, propagando, 
concomitantemente, as mediações da igreja católica, “marxista-leninista” e 
também do “movimento cidadão”, de acordo com Scherer-Warren (2016, p. 37). 
Os níveis do MST são três, as bases, as lideranças e as articulações/redes 
transindenitárias:
a) As bases – os membros dos acampamentos ou assentamentos (os sem-
terra propriamente ditos), sujeitos aos processos de conscientização a 
partir da prática e da convivência no movimento ou, conforme BOGO 
(1998b), quando afirma que uma das linhas de ação do MST "é para 
formar novos seres humanos, [pois]... a transformação de um latifúndio 
em pequenas propriedade privadas... não leva a nada... o que constrói 
uma sociedade é a mudança de caráter das pessoas e a mudança de 
conduta das pessoas". Há uma grande diversidade cultural-regional 
destas bases, e frequentemente, os processos de formação política não 
são facilmente assimilados pelas culturas locais e geram resistências 
ou conflitos (QUEIROZ, 1999 apud SCHERER-WARREN, 2016, p. 37). 
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-20032019000100009&script=sci_arttext#B31
162
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
b) As lideranças – participam na estrutura organizativa do MST, que 
compreende coordenações locais (de assentamento e acampamento), 
regionais, estaduais e nacional e direções estaduais e nacional, todas 
sob a forma de coletivos sem presidência" (BERGER, 1998, p. 98). Nos 
quadros políticos do movimento e busca da uniformidade de atuação, 
seguindo princípios organizativos da segunda mediação mencionada 
acima (as lutas de massa). Neste caso, discursivamente o sujeito 
individual se dilui no coletivo como, por exemplo, no uso da expressão 
"a gente" em lugar de "eu", "evidenciando o desejo de apresentar o 
lugar do líder como um lugar de apagamento da individualidade e 
de submissão ao coletivo" (QUEIROZ, 1999, p. 2000 apud SCHERER-
WARREN, 2016, p. 37-38). 
c) As articulações/redes transindenitárias – referem-se ao nível da 
participação conjunta do MST com outros movimentos sociais e 
cidadãos simpatizantes em redes de informação, de vigília e de 
resistência e manifestações massivas locais, regionais, nacionais e 
transnacionais. Aqui encontramos redes mais horizontalizadas, menos 
estruturadas e na qual a discursividade sobre o direito a participação 
e vigília cidadã sobre decisões públicas que lhe dizem respeito, toma 
vulto (SCHERER-WARREN, 2016, p. 38).
Simonetti (2012, p. 128) ressalta que em esfera global, o MST participa 
da Via Campesina, que articula organizações camponesas dos diversos países e 
que “[..] lutam por terra, reforma agrária e política agrícola adequada a pequena 
produção’”. Quanto ao Setor de Direitos Humanos, o movimento, segundo 
Simonetti (2012, p. 128):
[...] desenvolve um trabalho de formação e divulgação dos direitos 
básicos e essenciais do cidadão brasileiro, da legislação geral e 
específica da questão agrária, nos diversos cursos e encontros do 
MST. Organiza as denúncias em âmbito nacional e junto aos órgãos 
internacionais. Recentemente na ONU, o MST foi representado pela 
Franciscan and Dominicans Fundation denunciando os constantes 
desrespeitos aos Direitos Humanos por parte do governo brasileiro. 
FIGURA 9 – MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA (MST)
FONTE: <https://terradedireitos.org.br/wp-content/uploads/2010/06/050524mst.jpg>. Acesso 
em: 16 maio 2019.
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
163
Quanto às mulheres do MST, elas participam e em muitos casos lideram 
ativamente as lutas em prol das terras, porém, não eram reconhecidas e nem 
favorecidas pelos Planos e Projetos de Reforma Agrária, segundo Sales (2007). 
O Instituto Nacionalde Colonização e Reforma Agrária (INCRA), por meio da 
Portaria nº 981/2003, tornou obrigatória os títulos das terras em nome do homem 
e da mulher, em casos de casamento ou união estável (SALES, 2007).
Quanto às desigualdades de gênero, sobre os direitos das agricultoras, 
criaram-se projetos que consideram as suas demandas. Sales (2007, p. 441) 
comenta que para:
A ampliação significativa da cidadania feminina no campo 
desencadeou-se principalmente com a Constituição de 1988, quando 
no artigo 226, § 5°, foi reconhecida a igualdade entre homens e 
mulheres na família, e no artigo 189, parágrafo único, estabelecida a 
igualdade de direitos entre homens e mulheres na obtenção de título de 
domínio ou de concessão de uso de terras para fins de reforma agrária. 
Essas conquistas são fundamentais, expressam a luta das mulheres, 
no entanto elas esbarram em outros obstáculos, como a falta de 
documentos e escolaridade. A dificuldade de lidar com atividades do 
mundo público, como abrir conta bancária, por exemplo, é reforçada 
pelas práticas e costumes sexistas, que colaboram com a perpetuação 
da subordinação das mulheres rurais. 
Porém, para o reconhecimento legítimo das camponesas nas atividades 
da agricultura há a necessidade de leis e de diversas atuações, unidas para 
o empoderamento destas mulheres, assim elas poderão desfrutar os direitos 
adquiridos. 
2.2.2 Marcha das Margaridas
Um olhar sobre os movimentos de mulheres rurais de um modo geral nos 
faz ver que houve transformações tanto na sua forma organizativa como no seu 
aparecimento público. Vários movimentos, representando identidades sociais e 
políticas diversas, emergiram no espaço público, através de ações e mobilizações 
que, ao se fazerem crescentes, deram visibilidade às mulheres rurais. Uma dessas 
ações, a Marcha das Margaridas, propõe, mediante suas reivindicações, mudanças 
que podem ser entendidas tanto como econômico-estruturais quanto simbólico-
culturais, ao apresentar demandas que incluem tanto o reconhecimento cultural, 
o reconhecimento da diferença, quanto a redistribuição econômica (AGUIAR, 
2016).
As reivindicações históricas das mulheres rurais, como as 
previdenciárias e de direitos sociais, dirigidas ao Estado, somaram-
se outras, relacionadas a temas produtivos e vinculados a um projeto 
estratégico de desenvolvimento rural, o qual, na sua concepção, 
questiona a ação do agronegócio, reafirma a importância do papel da 
agricultura familiar e questiona o lugar das mulheres na sociedade. 
Além disso, a Marcha das Margaridas vem mostrando, a cada ano em 
164
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
que ocorre, uma extraordinária capacidade de ampliar as dimensões 
constitutivas da identidade das trabalhadoras rurais, ao se nomearem 
mulheres do campo, da floresta e das águas, de ampliarem as suas 
bandeiras de lutas e de reafirmarem os seus direitos, ao propor a 
construção de políticas públicas que respondam as suas reivindicações. 
Tal feito é potencializado pelo contínuo processo de crescimento da 
sua capacidade articulatória e de mobilização, o que determina a força 
e o alcance das reivindicações, bem como o poder de negociação das 
Marchas das Margaridas no decorrer desses 15 anos (AGUIAR, 2016, 
p. 289-290).
Silva (2017, p. 2) ressalta que a Marcha das Margaridas congrega vários 
movimentos de mulheres rurais e urbanas, nas esferas “regional, nacional e 
internacional”, tais como: 
Contag – Confederação dos Trabalhadores na Agricultura, Cut – 
Central Única dos Trabalhadores, CNS – Conselho Nacional dos 
Seringueiros e movimentos autônomos de mulheres e feministas, 
como a Marcha Mundial de Mulheres, o MIQCB – Movimento de 
Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu, o MMTR – NE – Movimento 
de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste, Redelac – Rede de 
Mulheres Rurais da América Latina e Caribe e outros.
Por fim, diante dos processos de transformação em curso no campo, 
incluindo as florestas e as águas em toda a sua diversidade e dinâmica, e dos 
conflitos e resistências em que vivem suas populações, principalmente, diante 
da expansão do agronegócio e dos impactos dos grandes projetos que norteiam 
o modelo de desenvolvimento vigente, e que impactam sobremaneira a vida as 
mulheres que ali vivem, talvez o grande desafio que se apresenta hoje paras as 
mulheres rurais, camponesas, mulheres do campo, da floresta e das águas, enfim, 
seja a construção da unidade (AGUIAR, 2016).
FIGURA 10 – MARCHA DAS MARGARIDAS
FONTE: <http://www.marchamundialdasmulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/08/
marchamargaridas-300x190.jpg>. Acesso em: 16 maio 2019.
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
165
Para Aguiar (2016), o progresso da articulação dos movimentos numa 
mesma constituição é um desafio aos movimentos de mulheres de uma maneira 
geral, porém, principalmente, a Marcha das Margaridas, devido a sua função de 
articuladora. 
Para Aguiar (2016):
Enfrentar esse desafio significa se desvencilhar das identidades 
protegidas e impulsionar processos dialógicos que promovam um 
amplo debate sobre a realidade das mulheres do campo, da floresta e 
das águas no contexto atual, e sobre as bases de um projeto político de 
sociedade (ou de desenvolvimento) a partir da perspectiva feminista 
(AGUIAR, 2016, p. 290).
Segundo o Caderno de Apresentação da Marcha Mundial das Mulheres 
(2019, p. 5):
Desde 2000 até agora, já aconteceram 5 Marchas das Margaridas. É 
a maior manifestação de mulheres rurais da América Latina. As 
principais bandeiras das mulheres dos campos, das águas e das 
florestas são: justiça social, democracia, autonomia, igualdade e 
liberdade. As Margaridas elaboram plataformas políticas pautando: 
reforma agrária; soberania alimentar; valorização do trabalho das 
mulheres; direitos trabalhistas, sociais e previdenciários; valorização 
do salário mínimo; educação e saúde pública no campo; combate à 
violência; agroecologia e sustentabilidade; economia solidária etc. Em 
2019, a Marcha das Margaridas tem sua 6ª edição. A Marcha acontece 
em agosto, mas sua preparação e mobilização se inicia muitos meses 
antes, em um processo amplo e contínuo por todo o país. A Margarida 
que os poderosos quiseram calar espalhou sua semente.
Silva (2017) menciona como precursoras dos movimentos sociais: 
Elizabeth Teixeira e Margarida Alves: “Elizabeth Teixeira foi uma das primeiras 
mulheres que se destacou na defesa dos direitos dos(as) trabalhadores(as) 
rurais”, presidiu a Liga Sapé no final dos anos 1950. “Margarida Alves associa-se 
às lutas em defesa dos direitos dos/as trabalhadores rurais”, presidiu o Sindicato 
no início da década de 1980 e fundou o CENTRU – Centro de Educação e Cultura 
do Trabalhador Rural.
Além dos movimentos sociais de mulheres rurais, existem os movimentos 
sindical rural e também os de jovens rurais, entre outros, todos com os mesmos 
objetivos: melhores condições de vida, reconhecimento da identidade e terras 
para trabalhar.
166
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
Leia sobre a realidade da reforma da Previdência no campo no Brasil. 
Disponível em: http://www.ctb.org.br/site/noticias/rurais/a-cruel-reforma-da-previdencia-
para-as-mulheres-rurais: Acesso em: 2 abr. 2019.
Plano de aula – Movimentos sociais brasileiros urbanos e rurais
Plano de aula de Geografia com atividades para o 8º ano do Ensino Fundamental sobre 
distinguir as ações de movimentos sociais urbanos e rurais no Brasil, a partir de suas 
localizações e lógicas espaciais de atuação. Para saber mais acesse: https://novaescola.org.
br/plano-de-aula/6039/movimentos-sociais-brasileiros-urbanos-e-rurais. Acesso em: 2 abr. 
2019.
DICAS
DICAS
167
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Os movimentos sociais são a ação de conflito oriunda de atores dos grupos 
sociais que lutam pelo domínio do sistema de ação da história. E que em toda 
sociedade há um movimento social que representa não uma básica mobilização, 
mas uma concepção de transformação social. 
• A ViaCampesina articula organizações em nível global e regional, com a 
finalidade de afrontar o atual modelo de desenvolvimento no campo: o 
agronegócio, e também, constitui-se como um dos principais movimentos 
que lutam contra o modelo neoliberalista. Atualmente, considera-se a Via 
Campesina como a maior articulação de trabalhadores em nível mundial, pois 
conta “com articulações em 70 países de todos os continentes” (MST, 2016).
• Organizações de trabalhadores rurais, agricultores familiares e camponeses de 
vários países, em especial na América Latina, ante as mudanças advindas pela 
globalização, defendem-se por meio da atualização de sua “agenda política e 
reorientando seu campo de conflitos; nela, o enfrentamento e a luta política 
contra o modelo do agronegócio surgem como elemento central”, conforme 
Teubal (2008, p. 148-149 apud RIBEIRO, CLEPS JUNIOR, 2011, p. 86).
• Outro movimento importante é o Zapatista, localizado na região mexicana de 
Chiapas, em 1994, que ocupou diversas cidades numa manifestação contra a 
NAFTA (North American Free Trade Agreement). Além disso, contestava as 
novas formas de dominação global do capital, defendia o direito, o respeito e a 
manutenção das diversidades culturais, no caso a indígena.
• A história dos movimentos sociais do campo no território brasileiro surgiu a 
partir de duas principais frentes: as Ligas Camponesas, entre as décadas de 1940 
e 1960, localizadas na Região Nordeste e nos anos 1980 surgiu o Movimento 
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conforme explicam Miranda e 
Fiúza (2017). Mas a partir dos anos 1990, a agricultura mundial passou por 
mudanças importantes perante os novos padrões de acumulação e exploração 
sob a égide do capitalismo monopolista mundializado.
• A organização do MST surgiu em 1979 e nos anos 1980 se fortaleceu. Na década 
de 1990 começou a participar ativamente do movimento cidadão planetário. E 
a partir dos anos 2000, o MST reuniu três níveis principais de participação no 
movimento, propagando, concomitantemente, as mediações da igreja católica, 
marxista-leninista e também do movimento cidadão. 
168
• Um olhar sobre os movimentos de mulheres rurais de um modo geral nos 
faz ver que houve transformações tanto na sua forma organizativa como no 
seu aparecimento público. Vários movimentos, representando identidades 
sociais e políticas diversas, emergiram no espaço público, através de ações e 
mobilizações que ao se fazerem crescentes, deram visibilidade às mulheres 
rurais. Uma dessas ações: a Marcha das Margaridas propõe mediante suas 
reivindicações, mudanças que podem ser entendidas tanto como econômico-
estruturais quanto simbólico-culturais, ao apresentar demandas que incluem 
tanto o reconhecimento cultural, o reconhecimento da diferença, quanto à 
redistribuição econômica.
169
AUTOATIVIDADE
1 Delgado e Bergamasco (2017, p. 10) afirmam que os movimentos sociais, em 
conjunto com a iniciativa do Estado e da Academia, exerceram uma função 
importante na demarcação da Agricultura Familiar como um exemplo de 
agricultura, como segmento agregador “[...] de direitos e como identidade 
política unificadora de uma diversidade de unidades familiares no campo”. 
Para os autores encontram-se entre os movimentos que se destacam as lutas 
das mulheres rurais pela conquista de seus direitos e de seus “[...] espaços 
de autonomia [...]”. Ao mesmo tempo, observa-se a importância do registro 
das questões como o êxodo rural dos mais jovens, “[...] tendencialmente 
definitiva, as migrações sazonais e ou pendulares, que se apresentam como 
desafios, tanto na avaliação da dinâmica da própria Agricultura Familiar 
quanto na formulação de políticas públicas para o setor [...]”.
De acordo com o texto e sobre as migrações do campo para cidade podemos 
afirmar que:
a) ( ) Os movimentos migratórios do campo para cidade, conhecido Êxodo 
Rural, é a melhor alternativa para melhorar a renda familiar para 
determinados membros de famílias agrícolas, pois se torna uma opção de 
ampliação e melhoria da qualidade de vida dos indivíduos que tem sua 
origem de trabalho e produção de renda oriundas do campo.
b) ( ) A melhor opção para diminuir os direitos dos trabalhadores do campo 
em nosso país é praticar a migração para as áreas urbanas como forma de 
busca de atividades laborais e renda familiar.
c) ( ) Os direitos dos trabalhadores do campo devem ser iguais os dos 
trabalhadores urbanos, a luta por igualdade e qualidade de vida e serviços 
nos espaços rurais facilita a permanência dos trabalhadores rurais nas áreas 
agrícolas de nosso país e fortalece a produção de renda no campo.
d) ( ) As lutas pelos direitos dos trabalhadores rurais devem ser diferenciadas 
entre as mulheres e os homens, pois ambos executam atividades produtivas 
diferentes no campo e essa prática corrobora com a ampliação dos direitos 
entre os gêneros.
2 O desenvolvimento conduzido pelo capitalismo globalizado e pela lógica 
capitalista financeira mundial nas décadas de 1990 e de 2000 “[...] transformou 
países em desenvolvimento como o Brasil e outros da América Latina ao 
impor medidas de ajuste estrutural às economias nacionais e ao Estado”, 
ressaltam Ribeiro e Cleps Júnior (2011, p. 85). Deste modo, segundo Ribeiro 
e Cleps Júnior (2011, p. 85), a agricultura do capital “[...] passou a ter papel 
central na economia de países como o Brasil [...]”, porque foi escolhida para 
a geração de “saldos comerciais” por meio das “exportações”, ao mesmo 
tempo, o Estado garante “condições ao avanço e à consolidação desse 
modelo agrícola. As exportações se tornaram uma importante forma de 
170
ampliação da produção interna e ampliação do desenvolvimento do PIB – 
Produto Interno Bruto de nosso país. Sobre essa questão das exportações, 
podemos afirmar que:
a) ( ) As exportações dos produtos agropecuários de nosso país se tornaram 
importante fonte de renda para pequenos e grandes produtores rurais e 
auxiliou na ampliação da balança comercial brasileira.
b) ( ) As exportações não devem ultrapassar as importações, pois o saldo da 
balança comercial nacional ficará positivo apenas se houver um equilíbrio 
deste indicativo da balança.
c) ( ) As importações devem sempre ser mais atrativas no setor agropecuário 
no Brasil, pois apresentam melhor qualidade dos insumos agrícolas que 
os nacionais, não tendo capacidade de concorrência com os produtos 
nacionais.
d) ( ) O equilíbrio da balança comercial só ocorrerá se nós exportamos mais 
que importarmos, pois quanto maior as exportações mais lucro haverá para 
nosso país principalmente no setor industrial, não havendo concorrência e 
consequentemente a diminuição dos preços dos produtos que compõem a 
estrutura dos insumos agropecuários. 
171
TÓPICO 3
ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Para o embasamento teórico deste tema foram realizados levantamentos 
bibliográficos e históricos sobre a educação escolar no meio rural e sobre o ensino 
de Geografia. Também foram analisados documentos oficiais como a Lei de 
Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB). Para compreender a educação do 
espaço rural brasileiro se faz necessário estabelecer uma relação entre as políticas 
educacionais direcionadas para essa modalidade de ensino. 
No Brasil, somente a partir dos anos 1920 a educação para os sujeitos 
do campo assume a centralidade das discussões e debates acadêmicos, devido 
principalmente ao aumento do movimento migratório interno. Anteriormente, 
a escola ofertada no espaço rural se caracterizava por sua descontinuidade e 
desordenamento, não existindo uma legislação que embasasse a sua organização. 
Neste período (1930) consolida-se o que diversos autores denominaram de 
“Ruralismo Pedagógico”. Esta denominação refere-se a uma corrente de 
pensamento influenciada pelas discussões promovidas pelos chamados pioneiros 
da Nova Escola, iniciada nos anos de 1920 (RIBEIRO, 2010, p. 172). Foram 
implantados programas de extensão rural e currículosespecíficos para as escolas 
rurais visando manter os sujeitos no campo e evitar problemas, como por exemplo, 
o êxodo rural. Com o fim do Estado Novo (1945), durante a redemocratização 
brasileira, a educação para a população que residia no campo tinha continuidade 
através de diversos projetos, entre eles destacava-se a Comissão Brasileiro-
Americana de Educação das Populações Rurais (CBAR), a qual buscava o “[...] 
desenvolvimento de regiões campestres com a criação de programas de extensão 
de Centros de Treinamentos para professores” (BELTRAME; CARDOSO; 
NAWROSKI 2011, p. 112). 
Os programas criados pela CBAR tinham como finalidade conter o êxodo 
rural ou do fluxo migratório da população do campo para os espaços urbanos e 
assim, estimular o desenvolvimento econômico das comunidades rurais. O alto 
índice de analfabetos evidenciava o fracasso da educação rural que fundamentava 
a ideia defendida pelo “ruralismo pedagógico”, o qual sugeria uma escola que 
atendesse à demanda rural associando a sua formação com a produção agrícola 
para que os filhos dos agricultores permanecessem no campo.
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
172
FIGURA 11 – A EDUCAÇÃO NO CAMPO
FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/aeducaonocampo2-160925000314/95/a-educao-
no-campo-2-1-638.jpg?cb=1474761888>. Acesso em: 24 maio 2019.
Nessa perspectiva, compreende-se que a escola rural foi um instrumento 
significativo para a expansão do capitalismo no Brasil, acompanhando a 
desconstrução do modo de vida dos trabalhadores rurais, principalmente no que 
diz respeito ao trabalho, aos saberes construídos historicamente e a sua cultura. 
Aliado a esta perspectiva, em 1950 realizou-se a Campanha Nacional de Educação 
Rural (CNER). 
Não obstante, mesmo com o trabalho da CBAR e da CNER os anos que 
seguiram foram marcados pela intensificação do êxodo rural, embora houvesse 
a convicção de que a educação pudesse conter os problemas relacionados com a 
migração das populações para o espaço urbano. Essas novas ideias aprofundaram 
o afastamento dos povos do campo de sua realidade, pois a proposta de uma 
educação regionalizada não dialogava com a realidade desta população, não 
só desconsiderando a sua cultura e seus valores, mas também evidenciando a 
rigidez dos projetos destinados ao espaço rural, de acordo com Ribeiro (2010).
 A escola rural está profundamente distanciada da realidade do trabalho 
e da vida dos agricultores, uma vez que a educação tem sido utilizada pelas 
classes dominantes para manter a classe trabalhadora rural subordinada aos 
seus interesses. Por essa razão, “[...] a escola rural continua hoje, como sempre 
esteve, a mercê de modelos urbanos, distante, muito distante das necessidades do 
trabalho e da produção de vida camponesa e até mesmo de seus valores básicos 
mais profundos” (RIBEIRO, 2010, p. 176).
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
173
 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 4.024/61 favoreceu 
em parte os projetos que vinham sendo propostos para as escolas rurais brasileiras 
deixando a educação rural a cargo das administrações municipais. Estas por sua 
vez não contavam com grandes recursos, o que implicava na falta de infraestrutura 
das escolas. A referida lei contribuiu para a “[...] manutenção da dicotomia da 
formação de professores para o campo e para a cidade” (BELTRAME, 2011, p. 113), 
comprovando a percepção de que o homem do campo não precisa de escola, pois, 
“[...] para plantar não é necessário saber ler e escrever com fl uência, tampouco ser 
profi ciente nas ciências e na matemática” (BELTRAME, 2011, p. 113). 
Diante do contexto histórico da educação brasileira observa-se que até o 
período de redemocratização (1985) as escolas rurais haviam sido contempladas 
por políticas de ensino. É a partir da Constituição Federal de 1988, que a pauta 
passa a ser a educação, mesmo não citando diretamente a educação do/no campo 
(BELTRAME, 2011). Para Mancebo (2009), a Constituição de 1988 é um marco 
importante, pois destaca a ruptura com um modelo ditatorial que minimizava os 
direitos dos cidadãos, denotando que a partir desse período que os movimentos 
sociais encontram espaço para reivindicar os direitos garantidos por lei. 
A Educação do Campo surge com o propósito de construir uma escola 
engajada em um projeto popular, a qual vem ressignifi cando a teoria e a prática 
da educação rural. Destaca-se no processo histórico de consolidação da educação 
do campo a Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo (1998), a 
qual contou com a contribuição do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem 
Terra, reafi rmando a pertinência da luta por políticas públicas e um projeto 
educativo adequado à demanda dos sujeitos que vivem e trabalham no campo, 
estabelecendo a partir deste momento um novo referencial para discussão e 
mobilização popular: Substituía-se a denominada educação rural pela educação 
do campo.
FIGURA 12 – O CRESCENTE ACESSO DA TECNOLOGIA NO CAMPO
FONTE: <https://www.portal.ufpa.br/images/Educacao_no_campo.jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
174
A Educação do Campo que vem sendo discutida no âmbito acadêmico 
põe em debate a sua matriz formativa. Muito se discute sobre a sua formação e 
consolidação. Nas palavras de Fernandes (2012) entende-se que:
 Não existe outra fonte de nascedouro da Educação do Campo, embora 
diversas pessoas e instituições tenham se apropriado dessa ideia, mas 
jamais se apropriarão do movimento de luta e resistência que marca 
a identidade camponesa no seu fazer-se do dia a dia que possibilita 
a todos nós compreendermos o Paradigma Originário da Educação 
do Campo. Esta luta é uma semeadura. Plantamos nos campos dos 
desafios as esperanças e as resistências (FERNANDES, 2012, p. 15). 
Frigotto (2010) complementa quando afirma que denominação de 
Educação do Campo: 
[...] engendra um sentido que busca confrontar, há um tempo, a 
perspectiva colonizadora extensionista, localista e particularista 
com concepções e métodos pedagógicos de natureza fragmentária e 
positivistas. Esse confronto, que se expressa na forma semântica, só 
é possível de ser entendido, social e humanamente, no processo de 
construção de um movimento social e de um sujeito social e político 
– Movimento dos Sem Terra (MST) – que disputa um projeto social e 
educacional contra-hegemônico (FRIGOTTO, 2010, p. 36).
A Educação do Campo no cenário da educação brasileira se propõe 
como uma educação emancipatória e atua no sentido de superar as relações 
sociais capitalistas. Conforme proposto pela Resolução do Conselho Nacional 
de Educação (CNE), “[...] torna-se fundamental para reivindicação de políticas 
educacionais a elaboração das diversas práticas educativas” (SILVA, 2006, p. 61). 
A partir de Christóffoli (2006) entende-se que a escola do campo tem por meta 
preparar o sujeito que vive e almeja melhorar as suas condições de vida no meio rural, pois 
trata desde os interesses ligados à política, à cultura e à economia dos diversos grupos de 
trabalhadores do campo. Nesse cenário, de busca por melhoras na qualidade da educação 
do campo, surgem as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas com o 
intuito de promover avanços no sentido de tornar o ensino voltado para esta população, 
adequado as suas especificidades, pois historicamente não passava de uma adaptação do 
ensino ofertado no espaço urbano.
 
FONTE: Revista Interface, n. 9, jun. 2015, p. 111.
NOTA
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
175
FIGURA 13 – O ACESSO À EDUCAÇÃO NO CAMPO
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/e/educacao-campo.jpg>. Acesso em: 24 
maio 2019.
Nosso país possui atualmente um parecer técnico para o estudo definido 
como as Diretrizes Operacionais para a Educação nas Escolas Básicas do Campo, 
de acordo com os novos parâmetros da Base Curricular Nacional, a BNCC, que 
a partir de 2020 entrará em vigor em todo território nacional paraa educação 
Básica e Profissionalizante.
As Diretrizes Operacionais para a Educação nas Escolas Básicas do 
Campo (BRASIL, 2002a) garantem a universalização do acesso da população na 
Educação Básica e a Educação Profissional de Nível Técnico (BRASIL, 2002a, Art. 
3º), bem como o desenvolvimento social economicamente justo e ecologicamente 
sustentável (BRASIL, 2002a, Art. 4º). Contemplando a diversidade do campo 
em todos os seus aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, 
geração e etnia (BRASIL, 2002a, Art. 5º). 
O projeto institucional das escolas do campo busca garantir a gestão 
democrática construindo mecanismos que possibilitem estabelecer relações entre 
a escola, a comunidade local, os movimentos sociais, os órgãos normativos do 
sistema de ensino e os demais setores da sociedade (BRASIL, 2002a, Art. 10), 
consolidando desta forma a autonomia das escolas, o fortalecimento dos conselhos 
(BRASIL, 2002a, Art. 11), promovendo o aperfeiçoamento dos docentes (BRASIL, 
2002a, Art.12). Assim, as diretrizes estabelecem a identidade da escola do campo:
Pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-
se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória 
coletiva que sinaliza futuros, na rede da ciência e tecnologia disponível 
na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que 
associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da 
vida coletiva no país (BRASIL, 2002a, p. 37).
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
176
O Ensino da Geografia, tanto para o Ensino Fundamental como para o 
Ensino Médio, tem um papel importante no resgate não apenas do conhecimento 
do território nas atividades econômicas primárias, mas para a compreensão da 
interrelações que o campo e os espaços urbanos possuem em nosso país, que as 
atividades tanto nos espaços rurais como nos espaços urbanizados estão cada vez 
mais relacionados ao desenvolvimento e promove a necessidade da igualdade 
social nestas áreas. 
O ensino de geografia tem como papel resgatar identidades, fomentar 
criatividades, colaborar na construção de personalidades equilibradas, 
capazes de atuar nos diversos espaços da sociedade com o diferencial da 
ética e da cidadania planetária. Devemos fazer com que o aluno perceba 
qual a importância do espaço, na constituição de sua individualidade 
e da(s) sociedade(s) de que ele faz parte (escola, família, cidade, país 
etc.). Um dos maiores objetivos da escola, e também da Geografia, é 
formar valores de respeito ao outro, respeito às diferenças (culturais, 
políticas, religiosas), combate às desigualdades e às injustiças sociais 
(OLIVEIRA, 1994, p. 3).
FIGURA 14 – A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/
dd849f54604db4ced57dd14de7b5e901.jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.
2 ENSINO DE GEOGRAFIA E ESPAÇO RURAL
O Ensino de Geografia e a Geografia nos Espaços Rurais, conforme 
analisada anteriormente, deve estar ligada ao modelo de vida do campo. Para 
tanto, ressalta-se a importância e as especificidades deste modelo de educação 
para a geografia no processo de resgate da identidade do sujeito e de sua 
conscientização.
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
177
Um ensino de geografia que se pretende integrador deve levar em 
conta essa complexidade da realidade do campo brasileiro, articulando 
em sua dinâmica as particularidades e especificidades do lugar, sem 
desconsiderar as interconexões das escalas, ou seja, compreender o 
lugar é, antes de tudo, pensá-lo como uma totalidade constituída por 
espaços e tempos locais e globais (DAVID, 2010, p. 44).
O ensino de geografia permite que a escola do campo seja analisada a 
partir do lugar e das pessoas que o habitam. Ensinar Geografia deve estar atrelado 
a desvendar a espacialidade das práticas sociais e desta forma cabe a geografia 
instrumentalizar o aluno para que consiga conhecer o lugar onde vive. A escola 
do campo se institui como um espaço onde são reproduzidas as dinâmicas sociais 
rurais e o professor de Geografia possui desafios no que tange a ação educativa 
dos sujeitos do campo centrado na construção de conhecimentos e também na 
significação do lugar, atrelando o mesmo a perspectiva global. 
FIGURA 15 - AS ESTRATÉGIAS DO ENSINO DE GEOGRAFIA
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/e/geo[1].jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.
David (2010), afirma que:
Um ensino de geografia que se pretende integrador deve levar em 
conta essa complexidade da realidade do campo brasileiro, articulando 
em sua dinâmica as particularidades e especificidades do lugar, sem 
desconsiderar as interconexões das escalas, ou seja, compreender o 
lugar é, antes de tudo, pensá-lo como uma totalidade constituída por 
espaços e tempos locais e globais (DAVID, 2010, p. 44).
O ensino de Geografia na escola do campo deve se propor a discutir a 
realidade que está posta para os sujeitos do campo, compreender a sua dinâmica 
e especificidade. Nesse sentido, analisar a Educação do Campo na perspectiva 
geográfica nos remete a noção de lugar, o qual é caracterizado como “[...] um 
espaço onde o homem está inserido, mantendo relações sociais, nos fazendo 
refletir sobre o nosso papel no mundo” (WIZNIEWSKY, 2010, p. 32). 
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
178
Segundo Wizniewsky (2010), essas dinâmicas abarcam o encontro entre o 
professor e o lugar, sua inserção na comunidade escolar, a construção de projetos 
que valorizem o espaço rural em que a escola seja condutora de inserção social; 
planejamento adequado do ensino voltado para os sujeitos do campo e as suas 
expectativas, instrumentalizando-o para a permanência no campo. Compreende-
se que uma das atribuições da Geografia na educação básica hoje é pensar e 
entender o mundo e sua organização, tarefa que desafia os docentes no sentido 
de tornar válido para o aluno os conhecimentos que se propõem construir. 
Pensar uma escola para o espaço rural que esteja adequada as 
especificidades da população do campo, exige mais que a escolarização, pois essa 
estrutura é em muitos casos uma referência para a comunidade, tendo como um 
dos seus pilares o trabalho dos docentes que precisam compreender e valorizar 
esse lugar. Dessa forma, fica clara a ideia de que a formação de professores para as 
escolas do campo deve ser voltada para esse público e não apenas uma reprodução 
da escola urbana. Além disso, a própria organização da escola do campo envolve 
uma série de dinâmicas e de práticas que se estabelecem a partir da escola, de 
modo que integre a comunidade onde se insere a escola e os profissionais que ali 
exercem seu oficio. 
Um dos imperativos desta construção na ciência geográfica é a análise 
cartográfica, a qual contribui nesse aspecto em relação a percepção e leitura 
que os alunos podem ter do espaço. Desse modo, o mapa mental torna-se 
uma ferramenta de comunicação que permite o uso de uma linguagem para a 
representação espacial da vida (TESSMANN; DUARTE; DIAS, 2015). 
 Nesse aspecto, Richter afirma que se torna essencial “[...] incorporar os 
mapas mentais nas atividades de sala de aula, como linguagem cartográfica em 
busca da associação entre os saberes cotidianos e científicos” (RICHTER, 2013, p. 1). 
Logo, a percepção do espaço apontado pelo autor pode ser analisada e 
compreendida a partir dos mapas mentais no ensino da Geografia, os quais são 
imagens espaciais que vão além da representação do espaço vivido, ou seja, a 
percepção dos lugares vividos pelas pessoas. Os mapas mentais valem-se do 
universo simbólico e são produzidos por acontecimentos, sentimentos, ideias e 
envolvem o subjetivo e a imaginação. Desta forma, enriquecem a representação 
da realidade de determinado grupo social e possibilita a compreensão da sua 
leitura de mundo (TESSMANN; DUARTE; DIAS, 2015).
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
179
FIGURA 16 – AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO E A GEOGRAFIA RURALFONTE: <https://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2013/01/exodo-rural-
campones-platacao.jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.
Quanto ao ensino de Geografia na escola do campo percebe-se a necessidade 
de uma formação continuada, pois proporciona um maior embasamento para 
que seja possível uma construção de conhecimento tanto para o professor 
em formação quanto para o aluno. Para tanto nos afirma Callai (2012, p. 259): 
“Nós, professores que conhecemos a realidade das escolas em que atuamos, 
precisamos reconhecer também as capacidades e os interesses da comunidade 
e nos instrumentalizarmos, cada vez mais, com o conhecimento que produzirá a 
nossa capacidade de agir”.
Devemos pensar uma educação do campo que possibilite manter a 
identidade deste espaço, para que os sujeitos se vejam enquanto sujeitos-históricos 
atuantes no processo de transformação do lugar onde vivem. É importante que a 
escola mantenha em sua prática pedagógica o resgate histórico da legitimidade 
do seu movimento e que o ensino seja entendido por esses sujeitos nas suas 
experiências do cotidiano. Logo, atribui-se a ciência geográfica a responsabilidade 
de fazer essa leitura crítica do lugar, do local para o global e de propor uma análise 
interdisciplinar do ensino (DAVID, 2010, p. 44). Destaca-se que o mapa mental 
surge como uma ferramenta essencial do ensino de geografia, em vista que o 
mesmo proporciona conhecimento não somente sobre a percepção do espaço por 
parte do aluno, mas também acerca de sua visão de mundo.
A construção desse tipo de mapa não provém somente do campo 
das experiências dos indivíduos sobre os lugares vividos; eles 
também resultam do conhecimento histórico social da própria 
sociedade, que é perpassada de geração para geração. [...] os mapas 
mentais transcendem essa escala de relação e são registros de uma 
representação do conhecimento humano ao longo do tempo, que 
expressa pela linguagem cartográfica, suas interpretações sobre o 
meio em que vivem (RICHTER, 2013, p. 4).
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
180
Evidencia-se que os mapas mentais criados pelos alunos na referida 
pesquisa apontaram para a importância da discussão sobre o conceito de lugar 
como espaço de vivência, sem ser negado ou reduzido a uma escala de análise 
meramente expositiva. 
A sociedade contemporânea exige que o professor de geografia, como 
um profissional que atua na organização social, tenha um posicionamento contra as 
desigualdades sociais. Portanto, temos a necessidade de refletirmos sobre as consequências 
do processo educativo. Dessa maneira, ao analisar a disciplina de Geografia no contexto 
rural, entendemos que os conteúdos ministrados necessitam ser revistos, discutidos e 
planejados, com o intuito de que esse conhecimento possa ser apreendido, transmitido, 
analisado e elaborado, de forma a auxiliar na organização do espaço geográfico do aluno.
NOTA
2.1 BNCC GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NO 
ESPAÇO RURAL
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que 
regulamenta as aprendizagens essenciais a serem trabalhadas nas escolas 
brasileiras públicas e particulares da Educação Infantil, Ensino Fundamental e 
Ensino Médio para garantir o direito à aprendizagem e o desenvolvimento pleno 
de todos os estudantes. A Base estabelece dez competências gerais que devem 
guiar o trabalho em todos os anos e em todas as áreas de conhecimento. Cada área 
e cada componente curricular possuem suas competências específicas. Em cada 
componente estão definidas unidades, objetos de conhecimento e as habilidades.
No contexto da Geografia e da BNCC está inserida na área de Ciências 
Humanas, pois contribui para que os alunos desenvolvam a cognição, ou seja, 
sem prescindir da contextualização marcada pelas noções de tempo e espaço, 
conceitos fundamentais da área. Cognição e contexto são, assim, categorias 
elaboradas conjuntamente, em meio a circunstâncias históricas específicas, 
nas quais a diversidade humana deve ganhar especial destaque, com vistas ao 
acolhimento da diferença. 
O raciocínio espaço-temporal baseia-se na ideia de que o ser humano 
produz o espaço em que vive, apropriando-se dele em determinada circunstância 
histórica. A capacidade de identificação dessa circunstância impõe-se como 
condição para que o ser humano compreenda, interprete e avalie os significados 
das ações realizadas no passado ou no presente, o que o torna responsável tanto 
pelo saber produzido quanto pelo controle dos fenômenos naturais e históricos 
dos quais é agente. 
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
181
A abordagem das relações espaciais e o consequente desenvolvimento do 
raciocínio espaço-temporal no ensino de Ciências Humanas devem favorecer a 
compreensão, pelos alunos, dos tempos sociais e da natureza e de suas relações 
com os espaços. A exploração das noções de espaço e tempo deve se dar por meio 
de diferentes linguagens, de forma a permitir que os alunos se tornem produtores e 
leitores de mapas dos mais variados lugares vividos, concebidos e percebidos. Na 
análise geográfica, os espaços percebidos, concebidos e vividos não são lineares. 
Portanto, é necessário romper com essa concepção para possibilitar uma leitura 
geo-histórica dos fatos e uma análise com abordagens históricas, sociológicas e 
espaciais (geográficas) simultâneas. Retomar o sentido dos espaços percebidos, 
concebidos e vividos nos permite reconhecer os objetos, os fenômenos e os lugares 
distribuídos no território e compreender os diferentes olhares para os arranjos 
desses objetos nos planos espaciais. 
As Ciências Humanas devem estimular uma formação ética, elemento 
fundamental para a formação das novas gerações, auxiliando os alunos a construir 
um sentido de responsabilidade para valorizar os direitos humanos; o respeito ao 
ambiente e à própria coletividade; o fortalecimento de valores sociais, tais como 
a solidariedade, a participação e o protagonismo voltados para o bem comum e 
sobretudo, a preocupação com as desigualdades sociais.
 Cabe ainda às Ciências Humanas cultivar a formação de alunos 
intelectualmente autônomos, com capacidade de articular categorias de 
pensamento histórico e geográfico em face de seu próprio tempo, percebendo as 
experiências humanas e refletindo sobre elas, com base na diversidade de pontos 
de vista. Os conhecimentos específicos na área de Ciências Humanas exigem 
clareza na definição de um conjunto de objetos de conhecimento que favoreçam 
o desenvolvimento de habilidades e que aprimorem a capacidade dos alunos 
pensarem diferentes culturas e sociedades, em seus tempos históricos, territórios e 
paisagens (compreendendo melhor o Brasil, sua diversidade regional e territorial). 
E que os levem a refletir sobre a sua inserção singular e responsável na história da 
sua família, comunidade, nação e mundo. Ao longo de toda a Educação Básica, 
o ensino das Ciências Humanas deve promover explorações sociocognitivas, 
afetivas e lúdicas capazes de potencializar sentidos e experiências com saberes 
sobre a pessoa, o mundo social e a natureza. 
Considerando esses pressupostos, e em articulação com as competências 
gerais da Educação Básica, a área de Ciências Humanas deve garantir aos alunos 
o desenvolvimento de algumas competências específicas: 
• Compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de forma a exercitar o 
respeito a diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos.
• Analisar o mundo social, cultural e digital e o meio técnico-científico-
informacional com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, 
considerando suas variações de significado no tempo e no espaço, para intervir 
em situações do cotidiano e se posicionar diante de problemas do mundo 
contemporâneo.
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
182
• Identificar, comparar e explicar a intervenção do ser humano na natureza 
e na sociedade, exercitando a curiosidade e propondo ideias e ações que 
contribuam para a transformação espacial, social

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