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Indaial – 2019 GeoGrafia rural Prof. Anselmo das Neves Bueno Prof. Carlos Odilon da Costa 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof. Anselmo das Neves Bueno Prof. Carlos Odilon da Costa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: B928g Bueno, Anselmo das Neves Geografia rural. / Anselmo das Neves Bueno; Carlos Odilon da Costa. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 229 p.; il. ISBN 978-85-515-0399-7 1. Geografia rural. - Brasil. I. Costa, Carlos Odilon da. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 910.091734 III apresentação Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Geografia Rural. A partir do estudo deste livro, você conhecerá os conceitos fundamentais da Geografia Rural e entenderá as relações desta disciplina com os espaços agrários em nosso país e no mundo, bem como entenderá como os princípios humanos podem ser aplicados no gerenciamento de recursos naturais. Você perceberá que o desenvolvimento da sociedade implica a extração de produtos da natureza e, consequentemente, na sua transformação. Desta forma, ficará mais claro por que a degradação do meio ambiente, em prol do desenvolvimento, tem sido alvo de análise e importantes debates. Você entenderá que as consequências da degradação ambiental apresentam efeitos negativos também para o desenvolvimento humano, suas atividades econômicas e para a própria sociedade, decorrentes, entre outros fatores, da expansão urbana, avanço da agropecuária sobre os biomas, assim como da geração de energia e seus efeitos. Compreenderá que as atividades econômicas realizadas nos espaços agrícolas vão muito além apenas da produção de alimentos e sua distribuição, pois são questões históricas de formas de ocupação e modelos de exploração que podem desenvolver um território ou explorá-lo de maneira negativa, aumentando a desigualdade social, a miséria e intensificando os problemas ambientais como um todo, ocasionando um prejuízo generalizado para todos que habitam este planeta. No que se refere à dinâmica demográfica e à relação sociedade/ natureza, você verá que existe uma versão mais moderna que reconhece a existência de outros fatores na equação população/meio-ambiente/ desenvolvimento/atividades econômicas. A pressão demográfica, neste caso, não entraria como determinante dos problemas ambientais, como um agravante. Através dos gêneros de vida e do complexo geográfico, a Geografia Rural desenvolveu várias preocupações e linhas de análises e investigações, principalmente a dos tipos de agricultura. Dessa forma, o campo de estudo da Geografia Rural ou agrária é o estudo da atividade espacial agrícola e pecuária, que são alguns entre os diversos sistemas socioeconômicos na atualidade. O ponto de vista do geógrafo agrário é o espacial e é dirigido particularmente para o arranjo e distribuição dos padrões de atividade agropecuária, bem como para seus processos geradores, cuja dinâmica procura analisar e compreender a dimensão espaço-tempo. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Finalmente, podemos dizer que a Geografia Rural procura principalmente contribuir para o planejamento e desenvolvimento da agricultura ou das atividades agrárias, mas em termos de bem-estar social e econômico das comunidades rurais e de todos os atores envolvidos nessa atividade socioeconômica. Boa leitura e bons estudos! Prof. Anselmo das Neves Bueno NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – GEOGRAFIA RURAL ....................................................................................................1 TÓPICO 1 – ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL ..........................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL ..............................................5 2.1 O ESPAÇO RURAL: ASPECTOS CONCEITUAIS E TEÓRICOS ...............................................7 2.2 DIFERENTES FORMAS DE CLASSIFICAR O ESPAÇO RURAL ..............................................8 2.3 O ESPAÇO RURAL E A QUESTÃO DO USO DA ÁGUA ........................................................13 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................19 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................20 TÓPICO 2 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO ..........................23 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................23 2 ESPAÇO RURAL NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO ................................................................24 2.1 A FÁBULA DOS CICLOS ECONÔMICOS ..................................................................................26 2.1.1 Espaço rural no Brasil República e início do século XX ....................................................27 2.2 ESPAÇO RURAL BRASILEIRO NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO ..................................30 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................41 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................42 TÓPICO 3 – A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL ..............................................................45 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................45 2 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMONO MUNDO ......................................................46 2.1 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMO NO BRASIL ......................................................52 2.2 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL – SÉCULO XXI ...............................................................55 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................62 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................63 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................64 UNIDADE 2 – ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE .....................................................................67 TÓPICO 1 – NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE .....................................69 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................69 2 PRINCIPAIS CONCEITOS E TEMAS DA NOVA RURALIDADE ............................................69 2.1 RURALIDADE CAMPO E CIDADE .............................................................................................76 2.2 DESAFIOS E POSSIBILIDADES FRENTE A NOVA RURALIDADE ......................................78 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................82 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................84 TÓPICO 2 – OS PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL ...............87 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................87 sumário VIII 2 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO MUNDO .....................................................................87 2.1 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL .......................93 2.2 FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL ....................................99 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................105 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................107 TÓPICO 3 – OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE ............................................................................................................109 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109 2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (GLOBAL) ..................................................109 2.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (AMÉRICA LATINA) ..............................114 2.2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS MECANIZADOS (BRASIL)....................117 2.2.1 Sistema Agrícola de Base Familiar .....................................................................................118 2.2.2 Sistema Plantio Direto (SPD) ...............................................................................................119 2.2.3 Agroecologia ..........................................................................................................................121 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................125 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................127 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129 UNIDADE 3 – ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO .................................................131 TÓPICO 1 – INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL ..............................................................................................................................133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133 2 POLÍTICAS PÚBLICAS, INSTITUIÇÕES E DESENVOLVIMENTO RURAL ......................134 2.1 O ESPAÇO RURAL E A PRODUÇÃO ALIMENTAR ..............................................................138 2.2 AGRO TURISMO E O TURISMO RURAL .................................................................................141 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................147 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................148 TÓPICO 2 – MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL ...................................................149 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149 2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL MUNDIAL ..................................................152 2.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL LATINO AMERICANO ...........................154 2.2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO .............................................157 2.2.1 Movimento dos Sem Terra ..................................................................................................161 2.2.2 Marcha das Margaridas .......................................................................................................163 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................167 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................169 TÓPICO 3 – ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA .........................171 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171 2 ENSINO DE GEOGRAFIA E ESPAÇO RURAL ...........................................................................176 2.1 BNCC GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NO ESPAÇO RURAL ...........................180 2.2 ENSINO GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO FUNDAMENTAL .........................................184 3 ENSINO DE GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO MÉDIO .......................................................189 3.1 EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DO ENSINO MÉDIO ...............................................................191 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................194 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................201 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................202 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................205 1 UNIDADE 1 GEOGRAFIA RURAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os conceitos pertinentes ao tema: questão agrária, questão agrí- cola, uso e a exploração da terra no Brasil e no mundo; • compreender as abordagens teóricas e históricas referentes à reprodução do camponês e do latifundiário e suas relações com o capitalismo; • saber as bases teóricas que consolidaram o capitalismo, como sistema he- gemônico, no tocante à agricultura; • entender o funcionamento do capitalismoe sua relação com a produção do capital; • compreender como se deu o desenvolvimento do Espaço Rural durante a evolução do Sistema Capitalista Financeiro e Informacional; • entender as diferenças na relação capitalista entre os países periféricos e os países centrais no que se refere à agricultura; • conhecer as origens da concentração fundiária brasileira, suas causas e consequências; • compreender que a estrutura agrária de um território (país, estado, municí- pio) está diretamente relacionada à estrutura social, política e econômica. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados. TÓPICO 1 – ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL TÓPICO 2 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO TÓPICO 3 – A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL 1 INTRODUÇÃO A formação histórica do meio rural brasileiro apresenta diferenças marcantes em relação à formação do meio rural europeu e norte-americano, ao mesmo tempo em que é muito parecido com o de outros países não desenvolvidos, principalmente com os da América Latina. Basta lembrar as funções específicas assumidas historicamente pelas cidades, a vinculação da grande agricultura de origem colonial do mercado externo e a possibilidade de deserção da população por um vasto território, para entender a particularidade brasileira no que se refere à constituição e composição das sociedades locais, à relação campo/cidade e às relações entre o que é “agricultura” e o que é “rural” (WANDERLEY, 1999). FIGURA 1 – RURAL X URBANO FONTE: <https://www.smartkids.com.br/content/articles/images/232/thumb/zona-urbana-zona- rural.png>. Acesso em: 13 fev. 2019. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 4 No Brasil, o meio rural foi historicamente percebido como constituindo um “espaço diferenciado”, que corresponde a formas sociais distintas: as grandes propriedades rurais (fazendas e engenhos), os pequenos aglomerados (povoados) e padrões culturais específicos. Esses espaços, juntamente com as pequenas cidades do interior, tiveram um importante papel na história do povoamento brasileiro, como “pontos de apoio da civilização” (WANDERLEY, 1999, p. 18). Contemporaneamente, as transformações introduzidas no meio rural brasileiro pelo processo de “modernização conservadora” da sociedade e da agricultura, iniciado depois da Segunda Guerra Mundial, levaram alguns autores a caracterizar esse período pela ocorrência de um “processo de urbanização do campo” (SILVA, 1997; CARNEIRO, 1998). Como unidade político-administrativa, os municípios brasileiros têm origem no modelo da República Romana que os impôs às regiões conquistadas, como a Península Ibérica, de onde, naturalmente, chegou ao Brasil-Colônia (IBAM, 2001; CIGOLINI, 2000). De acordo com Guimarães (2006, p. 119), a evolução do espaço rural brasileiro: As condições naturais do território brasileiro favorecem o desenvolvimento de uma atividade agropecuária em larga escala. Com um relevo predominantemente plano, uma significativa diferenciação climática e sendo detentor das maiores reservas de água doce conhecidas, o Brasil se consolidou no mercado internacional como um dos grandes produtores de grãos, carnes e bioenergia do mundo contemporâneo. Essa trajetória da agropecuária nacional, embora tenha seu desenvolvimento ligado a condições naturais favoráveis, é, igualmente, indissociável dos condicionantes históricos, políticos, sociais e geográficos que traçaram o processo de construção do espaço rural brasileiro. FIGURA 2 – ESPAÇO RURAL BRASILEIRO MODERNO FONTE: <https://cursoenemgratuito.com.br/wp-content/uploads/2017/09/2.jpg>. Acesso em: 17 fev.2019. TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL 5 Foi somente com a Constituição de 1824 que iniciou a verdadeira história dos municípios brasileiros, pois “até então o que havia entre nós era o município português, transportado para cá” (CIGOLINI, 2000, p. 34). Mas, no que se refere à regulamentação das funções municipais, verifica-se que ela ocorreu somente em 1828, através de lei complementar que retirou a autonomia dos municípios. Com isso, os municípios brasileiros tiveram limitadas suas liberdades, atribuições e competências. Por outro lado, foi-lhes dada “margem para que se abrisse discussão em torno das suas disposições, originando o fantasma da autonomia que assombrou o período republicano” (CIGOLINI, 2000; BERNARDES; SANTOS; WALCACER, 1983). Também surgiam vilas e cidades sem a prévia existência de freguesias. Tanto cidades quanto vilas podiam ser sedes de municípios. Tradicionalmente, no Brasil, a decisão sobre a criação de uma vila ou cidade ou sobre a elevação de um aglomerado pré-existente a esta ou àquela condição sempre emanou de uma disposição governamental, que não se prendia a qualquer requisito formal. A sede de uma freguesia, a primitiva unidade territorial brasileira, podia ser elevada arbitrariamente à vila ou diretamente à condição de cidade, na Colônia como no Império. Também ocorreram fundações, numa ou noutra categoria, não precedidas de freguesias, a instalação de ambas sendo simultânea. Salvador, Rio de Janeiro e Filipéia foram erigidas diretamente em cidades ainda no século XVI e, nos séculos subsequentes, outras assim seriam implantadas, como Belém e São Luiz, no norte, e Cabo Frio, no Rio de Janeiro, também fundadas no início do século XVII, e Petrópolis, já em meados do século XIX” (BERNARDES; SANTOS; WALCACER, 1993, p. 25). Importante lembrar que na Colônia a Coroa se reservava o direito de elevar as vilas à categoria de cidade. Mas também podiam criar vilas os donatários ou seus representantes, desde que as terras estivessem sob sua jurisdição, sendo os limites geográficos demarcados pelos limites das freguesias, sempre que se tratasse de espaço com ocupação consolidada. Até existiam regras para que cidades e vilas pudessem exercer suas diferentes funções, mas a decisão de criar ou elevar uma localidade à categoria de vila, ou cidade, não obedecia à norma alguma. Com a República, alguns governos estaduais tomaram iniciativas de uniformizar seus respectivos quadros territoriais, mas foi só com o Estado Novo que surgiram as diretrizes básicas nacionais de divisão territorial que continuam até hoje. 2 ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL As relações entre campo/cidade e rural/urbano influenciam a agricultura, fundamentando o entendimento sobre a organização e configuração dos municípios do Brasil. Entretanto, essa realidade cogita a necessidade científica UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 6 de uma análise teórica categórica direcionada por uma perspectiva crítica, considerando a complexidade e dinamicidade das informações, sugerindo novos caminhos, de modo radical, tal como considera Domingues (2011). Dentro das escolas geográficas clássicas podemos citar a visão do determinismo geográfico de Friedrich Ratzel (séc. XIX) e o ambientalismo francês de Paul Vidal de La Blache (entre os séc. XIX e séc. XX), o que levou muitos estudiosos a desenvolverem dentro do campo da geografia humana e econômica a importância das atividades agrárias nos espaços rurais, assim como a importância da produção industrial crescente dentro desses períodos após a primeira e segunda revolução industrial. A demanda e a necessidade de matéria- prima, oriunda do campo e a transformação das indústrias nas cidades, assim como a crescente circulação de capital das atividades terciárias do comércio e das prestações de serviços, criou uma verdadeira simbiose sistêmica das relações econômicas, interligando cada vez mais as atividades econômicas entrecampo e cidade. O geógrafo deve estudar o espaço geográfico considerando as relações entre as causas e consequências no tempo e espaço. Para tanto, é preciso analisar diferentes abordagens sobre a temática e suas diferentes definições da Geografia Rural, como este livro demonstra. Precisamos analisar estes espaços de uma forma crítica, porém, nunca de maneira isolada. A Ciência Geográfica não trata ou aborda os estudos de seus espaços de maneira isolada, mas sempre interliga os espaços físicos e naturais com os aspectos humanos, pois a Ciência Geográfica é a amplitude da discussão das transformações e caracterizações dos espaços. FIGURA 3 – UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO RURAL FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/66077/>. Acesso em: 29 jan. 2019. TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL 7 2.1 O ESPAÇO RURAL: ASPECTOS CONCEITUAIS E TEÓRICOS Em específico, destacamos a contribuição da análise para o planejamento e o ensino de geografia rural. Logo, a pesquisa se constitui numa reflexão conceitual que se estruturou por meio de distintos referenciais teóricos acerca do rural brasileiro e a sua relação com o urbano, bem como discute e apresenta formas diferenciadas de ensino da disciplina no que tange à relação rural/ urbano e campo/cidade. Para entendermos o espaço rural, precisamos entender principalmente as relações financeiras que envolvem as atividades econômicas, as atividades produtivas, desde a produção de matéria prima – oriunda do campo e dos espaços agrários – até as atividades de transformação das indústrias e da prestação de serviços e comércio como um todo, fazendo com que essa relação sistêmica seja uma ideia de compreensão entre todos os atores envolvidos na construção destes espaços geográficos e dos territórios neles envolvidos. A partir da discussão, fica evidente a justificativa que indica a relevância do desenvolvimento do conhecimento científico, particularmente para o da fragmentação geográfica sobre o espaço agrário. Baseado nesse princípio de fragmentação do espaço geográfico entre rural e urbano, por exemplo, podemos levantar o seguinte questionamento sobre a análise da fragmentação desses espaços. Veja a figura a seguir para observar a fragmentação e a caracterização destas áreas: FIGURA 4 – AS DIFERENÇAS ENTRE O URBANO E O RURAL. FONTE: <http://webquestfacil.com.br/pastas/12774/campo-cidade.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2019. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 8 Para Abramovay (2000), o meio rural caracteriza-se por sua imensa diversidade. Estabelecer tipologias capazes de captar uma grande diversidade é uma das missões mais importantes das pesquisas contemporâneas voltadas para a dimensão espacial do desenvolvimento. As diferentes paisagens, dos meios rurais e urbanos, cada vez mais desenvolvem a hinterlândia de suas atividades realizadas, não apenas a agricultura e a indústria, mas todo o processo produtivo entre as suas relações nos territórios envolvidos busca a prática do desenvolvimento regional entre esses espaços. Abramovay (2000) aborda que o peso da agricultura entre nós é e será, por um bom tempo, mais importante do que nos países desenvolvidos. Mas é óbvio também que o desenvolvimento rural não pode ser confundido com o crescimento da agricultura. O desafio (científico e político) está em descobrir as fontes e as oportunidades de diversificação do tecido social, econômico e cultural das regiões rurais e não em apostar todas as fichas num setor só, por mais promissor que seja. A diversificação do mundo rural traz consigo, inevitavelmente, aquilo que o sociólogo alemão Max Weber chamou de desencantamento do mundo, num processo acelerado de racionalização das relações humanas. O rural não é definido pelo setor agrícola, mas isso não o torna uma espécie de mundo mágico existente à margem do conjunto da sociedade e da racionalidade econômica. Seu processo de racionalização coloca-o diante de oportunidades inéditas de afirmação social, cultural e política. Que o livro de Favareto ajuda a descobrir (ABROMAVAY, 2007). 2.2 DIFERENTES FORMAS DE CLASSIFICAR O ESPAÇO RURAL O que define o espaço rural hoje? Antes de começar a responder a esta pergunta, é necessário deixar claro que diferentemente do que ocorre nos espaços urbanos em todo o planeta, onde há muitas similaridades nas formas e fenômenos que esses espaços abrigam, existem realidades rurais das mais distintas no mundo. Contudo, nos limitaremos a abordar algumas particularidades entre o rural europeu e o de países subdesenvolvidos. Respeitar a premissa das desigualdades entre os espaços rurais de países ricos e pobres é condição necessária para compreender melhor o tema, para não cair na tentação das generalizações que na maioria das vezes compromete a análise dos problemas. O conceito de territórios assimétricos ajuda na tarefa de investigação proposta para entendermos os conceitos destes espaços. Para González e Dasí (2007), ao se estudar os territórios rurais, o pesquisador se depara com uma dificuldade de análise, que consiste nas distintas formas de processos que ocorrem no espaço rural de países ricos e de países pobres, tendo em vista que a função do espaço rural nos primeiros, vai para além da produção de alimentos, enquanto nos países pobres a função do rural é, essencialmente, a produção alimentar. TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL 9 FIGURA 5 – ESPAÇOS AGRÍCOLAS NOS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS FONTE: <https://journals.openedition.org/confins/docannexe/file/8639/1460_pobreza_rural_ accroche_pi_acaua_maison_paysanne-small480.jpg>. Acesso em: 25 jan. 2019. Portanto, o rural e o agrário teriam deixado de ser sinônimos há muito tempo nos países desenvolvidos, por outro lado, nos subdesenvolvidos, os termos rural e agrário continuam sendo considerados sinônimos. FONTE: <http://clebinho.pro.br/wp/wp-content/uploads/2015/09/paulo-soja-100.jpg>. Acesso em: 25 jan. 2019. FIGURA 6 – ESPAÇOS AGRÍCOLAS PAÍSES DESENVOLVIDOS Nos países ricos da Europa observa-se uma inflexão/inversão de fluxo populacional – exceto da população jovem –, ou seja, um êxodo urbano rumo aos espaços rurais. Esse processo se deve à emergência de um renascimento rural ou uma nova ruralidade. A causa para essa inflexão seria uma percepção positiva do rural, em meio ao despertar ecológico no presente século, motivada pelas más UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 10 condições de vida enfrentadas nas cidades grandes. Uma representação espacial que obtém mais sucesso a cada dia, pois sugere uma alternativa de vida saudável, próspera, tranquila e que tem trazido mudanças significativas no imaginário do rural dos países ricos. O movimento migratório gera mudanças nesse “novo rural” – europeu –, como a criação de atividades não agrícolas no espaço rural. Tais demandas são possibilitadas pelas tecnologias de comunicação e por uma boa infraestrutura (estradas, ferrovias, telefonia etc.). Na Europa, este “novo rural” passa a ser o território das classes médias, como afirmam os autores. Essas classes médias não priorizam a produção de alimentos, mas procuram lugares amenos e belos, em que possam manter contato com a natureza e a qualidade dos alimentos. Somado a isso, há um reforço do sentimento de pertencimento (identificação) ao lugar. Realidade bem diferente é encontrada no rural dos países pobres, em que a pobreza continua concentrada nesse espaço. Resultado de um processo histórico de colonização e exploração – saque – dos recursos desses países (GONZÁLEZ; DASÍ, 2007). FIGURA 7 – POLÍTICA AGRÁRIA EUROPEIA, O NOVO RURAL FONTE: <http://ec.europa.eu/agriculture/cap-for-our-roots/index_pt.htm>. Acesso em: 25 jan. 2019. TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL 11 Há, portanto, uma continuidade destas desigualdades entre ricos e pobres, possibilitada por um desenvolvimento desigual e combinado que promove a transferência das riquezas naturais dos últimos aos primeiros e num mundo em globalização,essa transferência se dá, sobretudo, através da negociação de commodities nas principais bolsas de valores do planeta. Cabe aqui abrir um parêntesis para citar o paradoxo enfrentado pelos países pobres e exportadores de alimentos, este que consiste na dificuldade de acesso aos mesmos alimentos que produzem, pois, significativa parte da população desses países não possui dinheiro suficiente para adquiri-los. Em resumo, a insegurança alimentar é a marca desses países. E cada vez mais estas práticas de produção de alimentos e o medo da escassez de recursos naturais traz um alerta para todos os territórios do planeta sobre como as futuras gerações sobreviverão e se sustentarão com a disputa por alimentos/nutrição de qualidade. Essa discussão abre o debate de como a produção de alimentos é diferente da distribuição e que resulta em fome, desnutrição e desigualdade entre todos os habitantes do planeta, em uma necessidade tão simples e cada vez mais difícil de combater que é o simples ato de alimentar-se dignamente. A acumulação de capital promove a coerência imposta a processos, lógicas e dinâmicas muito diversas e variadas entre os espaços territoriais envolvidos. O processo de articulação, abertura e integração dos mercados recondiciona as economias aderentes, forçando-as à convergência e à reacomodação de suas estruturas. Quando se acelera o processo interativo, acirra-se a concorrência inter e intraterritorial, por exemplo, como os espaços rurais e urbanos. Os mercados localizados passam a ser expostos à pluralidade das formas superiores de capitais estrangeiros. Na esteira da incorporação, multiplicam- se as interdependências e as complementaridades regionais, que podem acarretar o aumento tanto das potencialidades quanto de suas vulnerabilidades. Metamorfoseia-se a densidade econômica de pontos seletivos no espaço: sua capacidade diferencial de multiplicação, de reprodução e de geração de valor e riqueza; sua capacidade de articulação inter-regional; o grau e a natureza das vinculações e a densidade dos circuitos “produtivos”. Mudam e diversificam-se os fluxos, o movimento de seus eixos de circulação e seu potencial produtivo, a estrutura sócio-ocupacional de seus habitantes e etc. As conexões e desconexões são muitas vezes rápidas e facilitadas por diversos mecanismos. Diferenciam-se, ainda mais, as manifestações territoriais dos processos de produção, de consumo, de distribuição, de troca (circulação), que são, por natureza, marcadamente diversificadas espacialmente. As temporalidades dos diversos espaços, crescentemente integrados, abreviam o curso de vários processos históricos. Os espaços, tornados conexos, amplificam e adensam seus fluxos. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 12 Considerando David Harvey como o maior expoente desta vertente investigatória que procura pesquisar o desenvolvimento geográfico desigual dos espaços geográficos aqui estudados, “[...] o campo e o meio urbano ocultam um verdadeiro fermento de oposição, porém, se interligam dentro de suas atividades humanas neles envolvidos” (HARVEY, 2000, p. 102). A citação a seguir resume grande parte desta agenda: o estudo das contraposições, paradoxos e contradições entre, de um lado, a capacidade crescente que o capital tem para se apropriar e extrair excedentes (rendas diferenciais monopolistas) das diferenças locais, das variações culturais locais etc. (Harvey, 2000), de outro, das amplas possibilidades de construção dos “espaços da esperança”. Para esse autor, A busca por essa renda leva o capital global a avaliar iniciativas locais distintivas. Também leva à avaliação da singularidade, da autenticidade, da particularidade, da originalidade, e de todos os outros tipos de outras dimensões da vida social incompatíveis com a homogeneidade pressuposta pela produção de mercadorias. Para o capital não destruir totalmente a singularidade, base da apropriação das rendas monopolistas, deverá apoiar formas de diferenciação, assim como deverá permitir o desenvolvimento cultural local divergente e, em algum grau, incontrolável, que possa ser antagônico ao seu próprio e suave funcionamento. É em tais espaços que todos os tipos de movimentos oposicionistas devem se organizar [...]. O problema para o capital é achar os meios de cooptar, subordinar, mercadorizar e monetizar tais diferenças apenas o suficiente para ser capaz de se apropriar das rendas monopolistas disto. O problema dos movimentos oposicionistas é usar a validação da particularidade, singularidade, autenticidade e significados culturais e estéticos de maneira a abrir novas possibilidades e alternativas [...] construindo, de modo ativo, novas formas culturais e novas definições de autenticidade, originalidade e tradição [...]. Ao procurarem explorar valores de autenticidade, localidade, história, cultura, memórias coletivas e tradição, abrem espaço para a reflexão e a ação política, nas quais alternativas podem ser tanto planejadas como perseguidas (HARVEY, 2005, p. 238). Muitas formulações analíticas atuais sobre território estão exaltando em demasia (muitas vezes banalizando) as potencialidades e a capacidade endógena de uma única escala espacial (geralmente a menor) como inerentemente a melhor para a promoção do desenvolvimento. É certo que no âmbito local muitas ações importantes podem ser articuladas, por exemplo, as escalas dos espaços rurais na nova economia global e na sua maneira de produção, que pode ser empregada em pequenas áreas do espaço, com muita tecnologia e recursos financeiros, como ocorre nos países desenvolvidos. Desse modo, transforma os territórios devolutos em espaços transformadores e produtivos, assim como nos países subdesenvolvidos em que esses mesmos espaços, até mesmo com capacidade de maior produção agrícola e pecuária com menor produção. Esses mesmos espaços e territórios envolvidos acabam sendo mal aproveitados e ociosos, por não terem um olhar de desenvolvimento regional, focados no crescimento de seus territórios junto com seus atores envolvidos (BRANDÃO, 2004). TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL 13 FIGURA 8 – ESPAÇOS RURAIS EM PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS FONTE: <http://jodama201.pbworks.com/f/1302001532/agricultura-familiar-1.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2019. 2.3 O ESPAÇO RURAL E A QUESTÃO DO USO DA ÁGUA Cada vez mais o espaço rural requer políticas produtivas com as práticas ambientais de sustentabilidade para o desenvolvimento, uma prática não pode mais ser separada da outra, não há como fi rmar o desenvolvimento extrativista, agrícola e da pecuária sem buscar nas ciências ambientais a teoria e prática para o crescimento econômico. O espaço rural não sobreviverá muito tempo se continuarmos a adotar políticas predatórias, de interesses mínimos das parcelas das populações, sem evitar um colapso econômico. É preciso intensifi car as relações sistêmicas de todos os espaços envolvidos e espécies de seres vivos, não apenas o ser humano, mas toda a cadeia da vida planetária, para que possamos garantir para as futuras gerações a possibilidade de existir em nosso meio ambiente e continuar a produzir alimentos sem que a desigualdade, nas formas de distribuição, agrave a sobrevivência de todas as espécies na Terra. FIGURA 9 – USO DA ÁGUA NAS ATIVIDADES ECONÔMICAS MUNDIAIS FONTE: Adaptado de Water for People, Water for Life, UNESCO, 2003 Considerado o grande mentor da ciência econômica moderna, Adam Smith, escreveu em 1776, uma obra que explica como as nações fi cam ricas e que “O marco mais decisivo da prosperidade de qualquer país é o aumento no número de seus habitantes” (SMITH, 1983, p. 56). UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 14 Alves (2014, p. 220) aponta que: “Esta visão positiva do crescimento populacional fez parte do pensamento político à luz do iluminismo e da economia clássica. Pensadores como o marquês de Condorcet e William Godwin – precursores do pensamento demográfico – tinham uma visão favorável do crescimentoeconômico e populacional”. FIGURA 10 – MAU USO DA TERRA NAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS FONTE: <https://farm1.staticflickr.com/529/32780880885_562c1beb4b_z.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2019. Neste sentido, Alves (2014, p. 224) constata que: O século XX apresentou o maior crescimento demográfico de toda a história da humanidade, com a população mundial aumentando quase quatro vezes (de cerca de 1,6 bilhão de habitantes em 1900 para 6 bilhões em 2000). Mas a taxa de fecundidade total (TFT), que estava em torno de 5 filhos por mulher em meados do século, começou a cair a partir de 1965 e chegou a 2,53 filhos na virada do milênio. Desta forma, o ritmo de crescimento demográfico vai diminuir no século XXI, embora deva continuar positivo, pois existe uma certa estagnação da transição da fecundidade. A queda da fecundidade mundial foi de 31,5% nos 20 anos anteriores à CIPD de 1994 e de 18% nos 20 anos posteriores. A Divisão de População da ONU, na revisão 2012, estima uma TFT global de 2,24 filhos por mulher, no quinquênio 2045- 50, e de 2,0 filhos por mulher, no quinquênio 2095-2100. Portanto, a estabilização da população mundial só seria alcançada, caso seja, no início do século XXII. Desta forma, parece intempestiva a afirmação de Camarano (2013, p. 606) ao assinalar a ideia de que “mesmo que a fecundidade aumente em um futuro próximo, é improvável que o declínio populacional seja abortado”. TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL 15 Ao contrário, a projeção média da ONU estima uma população mundial de 10,9 bilhões de habitantes em 2100, um acréscimo de 4,8 bilhões de habitantes no século XXI, quantidade superior, em termos absolutos, aos 4,5 bilhões do século XX. Boa parte do atual crescimento populacional é inercial e seria equivocado reforçar os argumentos dos alarmistas da superpopulação. Contudo, colocar em pauta a iminência do declínio da população mundial como se fosse uma ameaça de colapso da espécie humana, ignora o verdadeiro perigo que é o círculo infernal que se abate sobre milhares de outras espécies que estão sendo extintas e os ecossistemas que estão sendo desconfigurados. Dizer que a redução da população prejudicará o crescimento econômico é desconsiderar que, do ponto de vista mais amplo da sobrevivência da vida no Planeta, o desenvolvimento tem se tornado o problema central. O Living Planet Report (WWF, 2012) mostra que a pegada ecológica da população mundial já superava em 50% a biocapacidade do Planeta, em 2008. Ou dito de outra forma, a humanidade estava gastando em um ano o que a capacidade regenerativa da natureza consegue repor em um ano e meio. Outra metodologia que indica que as atividades antrópicas estão ultrapassando os limites da Terra é conhecida como Fronteiras Planetárias. Johan Rockström, da Universidade de Estocolmo e colegas (ROCKSTRÖM et al., 2009) identificaram nove dimensões centrais para a manutenção de condições de vida decentes para as sociedades humanas e o meio ambiente: mudanças climáticas; perda de biodiversidade; uso global de água doce; acidificação dos oceanos; mudança no uso da terra; depleção da camada de ozônio estratosférico; ciclo do nitrogênio e fósforo; concentração de aerossóis atmosféricos; e poluição química. FIGURA 11 – PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO E ARENIZAÇÃO FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_legenda/ cb831aa5211af0d95855675c6192936d.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2019. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 16 Por exemplo, em 2013, a concentração de CO2 na atmosfera ultrapassou 400 partes por milhão (ppm), bem acima das 280 ppm da era pré-industrial. O limiar de segurança é de 350 ppm. Está em xeque o modelo que traz muitos benefícios para poucos, poucos benefícios para muitos e nenhum benefício para a natureza e a biodiversidade. Porém, o crescimento econômico tem sido uma aspiração não só das forças capitalistas, mas também dos trabalhadores e dos governos. Para o mundo corporativo, isto certamente representa bilhões de novos consumidores ávidos por casas, carros e aparelhos de TV (CEBDS, 2009). Neste sentido, não há como discordar quando Ana Amélia diz: “Acredita-se que nenhum país deseje o declínio populacional, pois isto tem implicações de várias ordens. A primeira é a perda de poder econômico e geopolítico em relação a países onde a população ainda cresce” (CAMARANO, 2013, p. 606). Mas a autora parece cair em contradição ao considerar que a população não é um problema quando há crescimento, mas se torna um problema quando há decrescimento. Realmente, o declínio da população e da economia é um anátema do capitalismo. O desejo de acumulação de riqueza pessoal e nacional, os interesses geoestratégicos do poder político e as diversas forças pró-natalistas do mundo somam-se para manter por mais tempo possível o processo de ampliação do desenvolvimento econômico. A Escola da Economia Ecológica há muito tempo argumenta que “A economia é um subsistema do ecossistema e o ecossistema é finito, não cresce e é materialmente fechado”, como afirmou Herman Daly, que também considera que o desenvolvimento atual tem gerado um “crescimento deseconômico”, com os custos sendo maiores do que os benefícios. Ele completa: “Precisamos decrescer até chegar a uma escala sustentável que, então, procuramos manter num estado estacionário. O decrescimento, assim como o crescimento, não pode ser um processo permanente” (IHU, 2011). Sem dúvida, tem aumentado o número de pessoas que consideram o desenvolvimento o principal vetor de destruição das fontes naturais da vida e da biodiversidade (ALVES, 2014, p. 219). O capitalismo não consegue ser ao mesmo tempo socialmente inclusivo, justo e ambientalmente sustentável. Por conta disso, alguns autores falam em desenvolvimento sem crescimento, enquanto outros defendem a ideia do decrescimento (LATOUCHE, 2009; DEMARIA et al., 2013; MEDIAVILLA, 2013; ALVES, 2014b). Pouco antes da Rio+20, em 2012, a revista Estudos Avançados da USP publicou um número com diversos artigos tratando dos limites do crescimento econômico e a possibilidade do crescimento sustentável. TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL 17 FIGURA 12 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS FONTE: <https://abrilexame.files.wordpress.com/2016/09/size_960_16_9_mudancas- climaticas3.jpg?quality=70&strip=info&w=920>. Acesso em: 28 jan. 2019. O mau uso da água para a agropecuária por exemplo, pode ser uma amostra de como lidamos com o uso dos recursos naturais de uma forma, que sejam em nossa concepção, infinita, porém, não nos damos conta de que esses recursos são finitos e que seu mau uso pode desencadear o aumento da fome, das desigualdades sociais e mudanças climáticas cada vez mais catastróficas, em todo o planeta. A agricultura e a pecuária são as atividades humanas que mais usam por exemplo, o recurso hídrico desde o plantio e em toda a cadeia de produção. Até chegar à mesa de toda a população, milhões e milhões de metros cúbicos de água são necessários para produzir uma parcela mínima de alimentos. Se não usarmos esse recurso de maneira mais sustentável e com a consciência de que irá terminar, adiantaremos cada vez mais o colapso socioeconômico do planeta. FIGURA 13 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS FONTE: <http://twixar.me/J01T> Acesso em: 27 jan. 2019. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 18 A poluição dos rios, que espalha as toxinas de cianobactérias, diminui a disponibilidade de água doce e provoca a mortandade de peixes e da vida aquática. Lagos, como o mar de Aral, estão diminuindo ou secando para atender aos interesses da irrigação a fim de alimentar uma população crescente. Aumenta a taxa de extinção de espécies e a degradação dos ecossistemas, com redução da vida selvagem. As áreas produtivas diminuem, enquanto crescem os aterros de descarte antrópico. FIGURA 14 – REDUÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS FONTE: <https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2016/03/cantareira-e1458674694213.jpg>. Acesso em: 27 jan. 2019. Três em cada quatro empregos do mundo são fortes ou moderadamente dependentes de água, segundo a estimativa do Relatório das Nações Unidas (UNESCO WWAP). Consequentemente, a escassez e os problemas de acesso à água e ao saneamento podem limitar o crescimento econômico e a criação de empregos no mundo nas próximas décadas, de acordo com o documento, que cita também a falta de investimentos em infraestrutura e os altos índices de vazamentos nos sistemas hídricos das cidades e dos espaços rurais globais, inclusive de países desenvolvidos. Diante da possibilidade de um colapso ambiental, as atividades humanas deveriam ser direcionadas para a recuperação ecológica e não para a acumulação da riqueza ostentatória em benefício de uma minoritária elite populacional. Precisamos compreender que a produção do espaço rural e o cuidado com o meio ambiente devem andar de mãos dadas. O rural não é definido pelo setor agrícola e não o torna uma espécie de mundo mágico existente à margem do conjunto da sociedade e da racionalidade econômica. Seu processo de racionalização coloca-o diante de oportunidades inéditas de afirmação social, cultural e política. http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/water_drives_job_creation_and_economic_growth_says_new_un_report-1/#.VvF-peIrJph 19 Neste tópico, você aprendeu que: • A formação e caracterização do Espaço Rural Brasileiro e mundial e o processo histórico de formação destes territórios apresenta transformação contínua com o uso das novas tecnologias adotadas no sistema de produção agrícola. • Há diferentes formas de classificar o espaço rural brasileiro, partindo pelas diferentes áreas e regiões do Brasil, assim como suas vocações e aptidões para o agronegócio. • Precisamos ter um olhar para o desenvolvimento regional, porém com respeito ao meio ambiente e foco em políticas agrárias que tragam o crescimento econômico, mas com a consciência sustentável ambiental. RESUMO DO TÓPICO 1 20 1 As condições naturais do território brasileiro favorecem o desenvolvimento de uma atividade agropecuária em larga escala. Com um relevo predominantemente plano, uma significativa diferenciação climática e sendo detentor das maiores reservas de água doce conhecidas, o Brasil se consolidou no mercado internacional como um dos grandes produtores de grãos, carnes e bioenergia do mundo contemporâneo. Como a extensão do território brasileiro contribuiu e ainda contribui para que as atividades rurais econômicas continuem a se expandir e cada vez mais tornam-se importantes na economia de nosso país? 2 As relações entre campo/cidade e rural/urbano influenciam a agricultura, fundamentando o entendimento sobre a organização e configuração dos municípios do Brasil. Entretanto, essa realidade cogita a necessidade científica de uma análise teórica categórica direcionada por uma perspectiva crítica, considerando a complexidade e dinamicidade das informações. De que maneira podemos observar o aumento das relações das atividades econômicas no campo, com a migração dos trabalhadores para os centros urbanos, chamado no século XX de êxodo rural? 3 É preciso intensificar as relações sistêmicas de todos os espaços envolvidos e espécies de seres vivos, não apenas o ser humano, mas toda a cadeia da vida planetária, para que possamos garantir para futuras gerações a possibilidade de existir em nosso meio ambiente, e continuar a produzir alimentos sem que a desigualdade, nas formas de distribuição, agrave a sobrevivência de todas as espécies na Terra. Uma das preocupações que envolvem o meio ambiente e a produção agrícola é o uso da água de maneira predatória e inconsciente pelas populações mundiais e pelos governos. De acordo com o exposto, podemos afirmar que: I- Cada vez mais o espaço rural requer a necessidade das políticas produtivas com as práticas ambientais de sustentabilidade para o desenvolvimento, uma prática não pode mais ser separada da outra. II- O espaço rural não sobreviverá muito tempo se continuarmos a adotar políticas predatórias, de interesses mínimos das parcelas das populações, sem evitar um colapso econômico e cada vez mais crises humanitárias causadas pela falta de alimentos e fome. III- Precisamos voltar ao debate sobre população e desenvolvimento dentro dos diferentes espaços, bem como o uso da terra e dos recursos naturais, para criarmos boas perspectivas de futuro para o nosso Planeta. AUTOATIVIDADE 21 Assinale a resposta CORRETA: a) ( ) As alternativas I e II estão corretas. b) ( ) As alternativas II e III estão corretas. c) ( ) Somente a alternativa I está correta. d) ( ) Todas as alternativas estão corretas. 22 23 TÓPICO 2 FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A formação do espaço brasileiro aconteceu muito antes da conquista de nosso país no ano de 1500, século XV, pelos europeus. Essa ocupação ocorreu desde a expansão dos povos indígenas pré-históricos, acerca de 12 mil anos, como relatam alguns estudos arqueológicos, expressa em pinturas rupestres e fósseis encontrados em todas as regiões do Brasil. FIGURA 15 – PRIMEIROS CICLOS ECONÔMICOS DO BRASIL FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-F1Gcrhd0m2c/UT4WB3BF-YI/AAAAAAAAEp0/W2 Ov00gh1bI/s1600/ Economia+no+século+XVI.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2019. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 24 2 ESPAÇO RURAL NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO A primeira forma de ocupação do território brasileiro foi por meio das capitanias hereditárias, sistema instituído no Brasil em 1536, pelo rei de Portugal Dom João III. Foram criadas 14 capitanias, divididas em 15 lotes e distribuídas para 12 donatários, que eram os representantes da nobreza portuguesa. Em troca, esses donatários eram obrigados a pagar tributos à Coroa. Portanto, desde o início da ocupação do Brasil por Portugal, o território brasileiro foi propriedade do Estado. Nesse sentido, Faoro (2000, p. 6) argumenta que “[...] a coroa conseguiu formar, desde os primeiros golpes da conquista, imenso patrimônio rural”. FIGURA 16 – CAPITANIAS HEREDITÁRIAS FONTE: <http://professorasueli-historia.blogspot.com/2009/05/mapa-das-capitanias- hereditarias.html>. Acesso em: 13 fev. 2019. TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO 25 Pode-se dizer que a divisão de terras por conta das capitanias hereditárias, a primeira subdivisão do território brasileiro no espaço rural, formaram os primeiros grandes latifúndios, grandes áreas rurais com o objetivo monocultor e exportador. Foi o início de um problema fundiário, que persiste até hoje em nosso país, que é a concentração de terras nas mãos de grandes latifundiários enquanto a maioria da população não tem acesso à produção agropecuária por conta do monopólio ou dominação total desses espaços rurais. O que eram as Capitanias Hereditárias? “Era o sistema que Portugal implantou no Brasil, que realizava a divisão das terras brasileiras em longas faixas que partiam do litoral até os limites do Tratado de Tordesilhas. Cada faixa de terra era considerado uma capitania e cada capitania tinha um responsável por ela, esses responsáveis eram escolhidos pelo rei de Portugal, e ganhava o título de donatário”. FONTE: https://www.estudokids.com.br/capitanias-hereditarias/. Acesso em: 13 fev. 2019. IMPORTANT E Desde os primeiros anos do século XVI, as terras exploradas na América portuguesa se resumiam ao litoral brasileiro, sendo que o pau-brasil era o produto que mais interessava aos colonizadores. No entanto, a partir do fim da primeira metade do século XVI em diante, ocorreu uma significativa mudança na configuração do território, já que houve um aumento da interiorização da ocupação, tendo em vista a conquista dos chamados sertões, regiões distantes do litoral. Nosso país se resumia, nas primeiras décadas, das ocupações para a exploração dos benefícios do pau-brasil, bem como para os tingimentos de roupas e móveis com a resina extraída daplanta. Já a partir da segunda metade do século XVI, a cana-de-açúcar começa a ser a primeira monocultura agrícola de grande expressão na nova economia da colônia portuguesa e começa então o chamado primeiro grande ciclo econômico da economia brasileira, com o principal objetivo de abastecer o mercado europeu. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 26 FIGURA 17 – FASES OU CICLOS DA ECONOMIA BRASILEIRA FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-uP9J-F6JK_0/VlS1EZlzFgI/AAAAAAAAEgA/zqfv EM2WgU /s1600/Periodos%2Bda%2BHist%25C3%25B3ra%2Bdo%2BBrasil.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2019. “Dessa forma, notamos que a fazenda açucareira representava bem mais que um mero sistema de exploração das terras coloniais. Nesse mesmo espaço rural percebemos a instituição de toda uma sociedade formada por hábitos e costumes próprios. O engenho propiciou um sistema de relações sociais específico, conforme podemos atestar na obra clássica “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre. Na qualidade de um espaço dotado de relações específicas, o engenho e o açúcar trouxeram muitos aspectos culturais da sociedade brasileira”. FONTE: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/ocupacao-do-territorio- brasileiro. Acesso em: 29 jan. 2019. IMPORTANT E 2.1 A FÁBULA DOS CICLOS ECONÔMICOS A ideia dos ciclos econômicos, baseada na análise histórica de que o período colonial teria sido economicamente conduzido por eles, ou seja, sustentado sucessivamente pela exportação de produtos específicos em determinados períodos da história brasileira, primeiramente o pau-brasil, depois o açúcar, o ouro e o café, não se sustenta mais como definição principal do subdesenvolvimento do nosso país e do crescimento dos espaços rurais. Ao longo da colonização, observamos que a incursão pelo interior do nosso território abriu caminho para o conhecimento de novos espaços, plantas, frutas e raízes que compunham a nossa TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO 27 vegetação. Nesse processo, o contato com as populações indígenas também foi de suma importância para que os colonizadores conhecessem as potencialidades curativas e culinárias das chamadas drogas do sertão. 2.1.1 Espaço rural no Brasil República e início do século XX Os primeiros traços da agropecuária brasileira agroexportadora surgiram no final do período imperial e início da velha República em meados de 1870 a 1890. Com isso, a caracterização do espaço rural brasileiro começou a se distinguir pelos latifúndios monocultores, além disso, houve também a introdução da mão de obra livre, com o objetivo de substituir a mão de obra servil e escravocrata que perdurava desde o início da ocupação do território brasileiro. Nesse período, ficava cada vez mais vigente a pressão dos segmentos urbanos, representado pela burguesia civil e as forças militares, a favor da proclamação da República. FIGURA 18 – ILUSTRAÇÃO REFERENTE À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA EM 1889 FONTE: <https://www.cafeculturabrasil.com/wpcontent/uploads/2016/11/ proclamacao_da_republica_ by_ benedito_calixto_1893-1024x631.jpg>. Acesso em: 7 fev. 2019. Com a Proclamação da República, em 1889, nosso país começou a passar por uma desconstrução do espaço que até então era colônia de Portugal, durante os períodos colonial e imperial, e passa a deliberar sobre representatividade partidária com a nova política instalada no território. Cresceu a influência dos partidários ao desenvolvimento, sendo tomadas algumas medidas favoráveis à produção local, como por exemplo a lei do similar nacional, que proibia UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 28 a importação de produtos já fabricados no país (a abrangência dessa lei foi severamente reduzida cerca de um século depois, nos governos neoliberais de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso). Foi preciso esperar até a Revolução de 1930 para que um modelo de desenvolvimento autônomo pudesse firmar-se. Aquele movimento colocou um ponto final na República Velha e em sua política econômica liberal e pode ser considerado o marco inicial daquilo que mais tarde ficou conhecido como desenvolvimentismo nacional. “Desde meados dos anos 1940, a agricultura brasileira vem passando, de forma ininterrupta, por um profundo reajustamento produtivo, visando a sua modernização. Esse processo, caracterizado por diferentes etapas, ocorre por meio de uma contínua melhoria e ampliação do sistema logístico de infraestrutura de transporte e armazenagem, e, institucionalmente, por meio de políticas visando ao aumento e à diversificação das exportações e, principalmente, pela transformação da base técnica de produção do setor agropecuário. Com isso, em seu decorrer, o processo de modernização vai sendo permeado por um crescente aumento das trocas intersetoriais, o que implica a ampliação e a intensificação das condições de produção agrícola e, no limite, na transformação deste setor em um complexo agroindustrial mais completo, agora envolvendo um articulado sistema de interesses e de ações intersetoriais. Todas essas transformações decorrem de um rearranjo técnico-econômico e territorial em que, necessariamente, não só há uma concentração da produção em determinados produtos, como, simultaneamente, ocorre uma especialização dinâmica dos lugares em que se realiza no espaço e no tempo. A sua forma de concretização no território varia em função da época em que ocorre, do padrão técnico-científico disponível, bem como do modo de como se dá a inserção dos diferentes países na economia-mundo e, sobretudo, das políticas públicas adotadas na consecução dos objetivos almejados. Entre 1940 e 1950, era inquestionável a primazia das atividades agropecuárias sobre o conjunto da economia brasileira, aí compreendida não só o domínio econômico, como social, político e cultural. Nesse período, e sem se considerar os produtos pecuários, o valor da produção dos 20 principais produtos agrícolas, segundo Bernardes (1961), equivalia a 54% do valor de toda a produção industrial do País”. FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 fev. 2019. IMPORTANT E A abertura de novas áreas de pastagens foi uma das principais causas do aumento da área dos estabelecimentos verificados no período. Em “zonas de ocupação mais antiga” como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, esse processo se deu por “um recuo da área já cultivada” com lavouras. A grande expansão da atividade pecuária, no entanto, se deu em áreas de fronteira agrícola, sobretudo, pela “incorporação aos estabelecimentos rurais de grandes trechos de campos de cerrado na Região Centro-Oeste [...], onde se verificou o maior acréscimo relativo de área total” (BERNARDES, 1961, p. 103). TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO 29 De acordo com o texto Evolução do espaço rural brasileiro de Luiz Sérgio Pires Guimarães (IBGE, 2016, p. 124): “Apesar de a expansão da pecuária predominar, havia também uma preocupação, por parte do governo brasileiro, de ocupar essas áreas da Região Centro-Oeste com colônias agrícolas para a produção de alimentos e matérias-primas a baixo custo. Com isso, criava- -se, nos “sertões brasileiros”, um mercado para produtos industrializados, direcionando-se um expressivo contingente populacional, sobretudo da Região Nordeste, para o interior do País e, ao mesmo tempo, ocupando espaços até então vazios. Visando à implantação desse projeto, foram criadas, em 1943, por iniciativa estatal, as Colônias Agrícolas Nacionais de Goiás e de Mato Grosso, que, embora não atingissem seu objetivo de criar núcleos de pequenos produtores, deram origem, respectivamente, aos municípios de Ceres e Dourados. Outra região de fronteira agrícola, cuja ocupação se baseou na criação de colônias, foi a do Paraná. Diferentemente da Região Centro-Oeste, o projeto de colonização nesse estado, que tinha um caráter empresarial, foi, em princípio, bem-sucedido. A sua ocupação se deu com base no estabelecimentode descendentes de italianos e alemães procedentes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que ocuparam pequenos lotes de terra no sudoeste e oeste do Paraná. Cabe ressaltar que, além de uma pequena policultura de alimentos, eles cultivavam a hortelã, destinada a empresas compradoras, a menta e a soja, esta última utilizada apenas como forragem verde para alimentação de animais. Outra área de fronteira agrícola existente, na década de 1940, localizava-se no Maranhão. Diferentemente do Paraná e da Região Centro-Oeste, contudo, a frente de ocupação naquele estado apresentou um caráter “espontâneo”, absorvendo um excedente populacional proveniente do semiárido nordestino. Nessas áreas, estabeleceu-se um sistema de produção agroextrativista em que se alia a agricultura de queima e o pousio com o extrativismo das amêndoas de babaçu, principal base econômica do estado. Nesse período, começa também a se intensificar a produção de arroz, cujo cultivo precedia, em parte, a formação dos pastos para a pecuária em estabelecimentos maiores. Assim, seja em áreas consolidadas ou de expansão, a produção agropecuária dos anos 1940-1950 estava estruturada sobre uma malha fundiária extremamente desigual, na qual, ao lado de grandes estabelecimentos dedicados à pecuária e a lavouras de alto valor comercial, coexistiam pequenos estabelecimentos que praticavam uma agricultura destinada à subsistência e ao abastecimento do mercado interno. A maior parte dessa produção era obtida por meio das diferentes formas do sistema de “meação”, relação de trabalho então predominante na agricultura. O trabalho assalariado, quando empregado, restringia-se a algumas grandes lavouras, sendo mais comumente utilizado nos períodos em que a safra demandava um contingente mais elevado de mão de obra”. FONTE: IBGE. Coordenação de Geografia. Brasil: uma visão geográfica e ambiental no início do século XXI. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov. br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 fev. 2019. IMPORTANT E UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 30 2.2 ESPAÇO RURAL BRASILEIRO NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO Atualmente o modelo do espaço rural brasileiro está centrado nos resquícios da formação territorial passada, caracterizado pela grande concentração de terras para a minoria da população com verdadeira vocação agropecuária. Esta tornou-se uma das atividades econômicas mais importantes do nosso país e uma das mais solidificadas para cruzar grandes crises econômicas no Brasil e o no mundo, principalmente desde o início da globalização. Grande parte da atividade agropastoril de nosso país é exportador e definido como agropecuária moderna regional, pois há grandes diferenças entre as microrregiões do IBGE. As regiões se diferem por causa de suas particularidades, desprezando sua grandeza ou localização geográfica. São distintas por suas atuações com a produção agropecuária (região da soja, milho, leite, tomate entre outras). Ainda podemos destacar a subdivisão regional em 1967, em que o geógrafo brasileiro Pedro Pinchas Geiger propôs uma outra divisão regional do país, em três regiões geoeconômicas ou complexos regionais. Uma outra força do capitalismo informacional globalizado em nosso país está baseada nas exportações de commodities, que exporta matéria-prima de maneira in natura, sem que seja necessário grande ou nenhum processamento. Assim, em meados da década de 1960 e 1970 a adoção de uma série de políticas públicas específicas para a chamada “modernização conservadora” da agricultura provocou importantes transformações no setor, consolidando a grande agricultura comercial, por meio da tecnização de seus processos produtivos e de uma maior abertura ao mercado internacional. A modernização deste processo de novas técnicas agrícolas e a ampliação das máquinas, como forma de produção no campo brasileiro a partir desta década, também marca o grande início da indústria automobilística e metalmecânica em nosso país. Nesse contexto, a produção agropecuária apresentou um desempenho muito superior em comparação com as décadas anteriores, devido tanto ao aumento da sua produtividade como da diversificação das exportações agrícolas e da ampliação da produção. Ao final desse período, a situação do mercado continuava favorável, com abundância de créditos baratos, preços de insumos e bens de capital em declínio e os commodities em alta, além do aumento do mercado consumidor, fazendo com que nosso país começasse a entrar em uma nova era de produção e tecnização no espaço rural nacional. TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO 31 De acordo com Guimarães (2006): “Esse quadro em que o setor agropecuário se estrutura, com base na expansão e na modernização tecnológica da produção de commodities de alto valor comercial, foi consolidado ao longo da década de 1970. Nesse período, foram ampliados os investimentos públicos na infraestrutura, no armazenamento e na modernização da produção agropecuária em larga escala. Chama a atenção o aumento da mecanização do setor agropecuário entre os anos 1970 e 1980, quando a maioria dos estados mais que dobrou o número de tratores utilizados. Estados com grande produção de grãos, como, Paraná, Goiás e Mato Grosso que quintuplicaram as suas frotas nessa década. Só Mato Grosso (incluída a área do atual Mato Grosso do Sul, para efeitos de comparação) passa de um total de 4 386 tratores, em 1970, para 44 320 unidades, em 1980. Como os preços das commodities internacionais eram ainda mais favoráveis que na década anterior, ampliou-se a participação do Brasil, no mercado internacional, com o aumento das exportações de vários produtos agrícolas, entre os quais se destacam a soja, o café, o milho, a laranja (em suco), o açúcar e as carnes. Essas atividades modernizadas aumentaram, inicialmente, suas áreas na Região Sul, nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, para, posteriormente, em meados da década, se expandirem sistematicamente por toda a Região Centro-Oeste, e, por fim, atingindo o Estado do Pará, ampliando a fronteira agrícola para áreas até então só parcialmente integradas à dinâmica de produção capitalista. Todo esse dinamismo, baseado na grande oferta de capitais existentes no mercado internacional e em uma política de crédito altamente subsidiada, deteriora-se a partir da crise do petróleo de 1979, quando ocorre uma forte retração da economia internacional. Dos anos 1980 até meados da década seguinte o crescimento da dívida externa do Brasil e das taxas de juros internacionais provocou uma significativa redução dos recursos para o financiamento rural e refletiu de imediato na redução das áreas de lavouras, pastagens e pessoal ocupado na agricultura conforme verificado no período. A política de crédito foi gradativamente substituída pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) como principal instrumento de incentivo para a expansão e desenvolvimento do setor agropecuário. Apesar disso, o quadro de hiperinflação obrigou o governo a elaborar um conjunto de políticas de ajustamento macroeconômico que materializadas em uma série de planos econômicos restringiram a plena expansão do setor agropecuário. Com a manutenção de um cenário macroeconômico desfavorável no Brasil, delineou-se na década de 1990 sobretudo a partir do segundo quinquênio, a necessidade de se construir um novo quadro institucional que permanece até o período atual e que redefiniu o espaço entre o público e o privado nos mercados agroalimentares, alinhando as novas diretrizes às exigências da Organização Mundial do Comércio (OMC). O Estado deixa, em grande medida, de ser o gestor das políticas públicas para o setor, passando a exercer o papel de principal coordenador e fiscal destas. Isso implicou a “retirada do governo de controles diretos na forma de preços ou compras e, em muitos casos, implicou no desmantelamento de serviços de extensão e, também, na eliminação de políticas setoriais maisativas” (WILKINSON, 2003, p. 12). “Tais medidas vieram acompanhadas de uma menor proteção tarifária e de uma maior abertura ao comércio internacional, levando em vários casos a um aumento no ritmo de importação de alimentos”. Visando aumentar o volume de investimentos diretos vindos do exterior, procedeu-se, conforme complementa este autor, a uma “modificação da legislação sobre os níveis de participação de capitais estrangeiros em empresas nacionais e a uma maior tolerância à remessa de lucros” (WILKINSON, 2003, p. 27). Com isso, torna possível intensificar ainda mais a modernização da agricultura, o que provocou um aumento da competitividade da produção brasileira no comércio internacional, alavancando as exportações. As consequências desse novo quadro foi a exacerbação das características do processo de modernização”. FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 fev. 2019. IMPORTANT E UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 32 Com a intensificação do processo de globalização o conceito de região passou a ser questionado, sobretudo porque alguns autores entendiam que a globalização seria responsável por uma homogeneização espacial. A discussão sobre globalização e região merecem destaque por causa da ideia do seu potencial homogeneizador, já que no mundo globalizado não haveria espaço para a diferenciação, bem como a região que guarda em sua essência a noção de singularidade. FIGURA 19 – TIPOS DE COMMODITIES FONTE: <https://academy.alvexo.com/academy-basics/basic-articles/learn-to-trade- commodities>. Acesso em: 17 fev. 2019. Os territórios e os espações geográficos na atualidade estão fragmentados pela ação e pela produção do capital globalizado, ideia centrada no discurso que prega o fim do “Estado-Nação”, pois há de um lado a emergência de uma cultura global e de outro uma economia também global (ARRAIS, 2007). Concorda-se com Pontes (2007, p. 490) que defende que “a globalização pode não significar homogeneização total, mas sim diferenciação de partes, isso ocorre devido as diferentes potencialidades regionais e dos vários agentes” que atuam com forças desiguais no território. Segundo Haesbaert e Limonad (2007, p. 40): Se muitos autores afirmam que o mundo contemporâneo vive uma era de globalização, outros, por sua vez, enfatizam como característica principal do nosso tempo a fragmentação. Globalização e fragmentação constituem de fato os dois polos de uma mesma questão que vem sendo aprofundada, seja através de uma linha de argumentação que tende a privilegiar os aspectos econômicos - e que enfatiza os processos de globalização inerentes ao capitalismo -, seja através do realce de processos fragmentadores de ordem cultural. Para Elias e Pequeno (2007) a reestruturação do agronegócio e da agropecuária não homogeneizou a produção ou os espaços agrícolas nem os espaços urbanos. O que de fato acontece é um intenso processo de fragmentação da produção e do espaço agrícola, em contraposição ao processo de globalização da produção e do consumo agropecuário. Assim, entendendo a paisagem e a TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO 33 região como categorias fundamentais para a leitura e a compreensão dos processos ocorridos ao longo do tempo e da realidade atual da microrregião Ceres, propõe- se pensar na noção de paisagem regional que não seria somente a junção das duas importantes categorias, mas uma forma mais ampla e complexa de verificar ao mesmo tempo as problemáticas postas pela dinâmica sucroenergética, as diferenciações que o processo acarreta na região e que se apresenta por meio da paisagem. FIGURA 20 – AGRICULTURA E AS TENDÊNCIAS GLOBAIS FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/1354290/>. Acesso em: 17 fev. 2019. O processo histórico da formação do território brasileiro levou em consideração os efeitos da industrialização e a configuração dos modelos de ocupação das primeiras atividades econômicas do país, como os grandes ciclos agrícolas da cana de açúcar no período colonial, do café entre a Colônia e o Império e também o declínio da indústria cafeeira no início da Velha República e o início da industrialização a partir da segunda metade do Século XX. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 34 FIGURA 21 – DIVISÃO REGIONAL GEOECONÔMICA BRASILEIRA FONTE: <https://estudegeografia.webnode.com.br/_files/200000164-8e2898f227/regioes%20 geoeconomicas.jpg>. Acesso em: 13 fev. 2019. Legenda: 1) Amazônia 2) Centro-Sul 3) Nordeste Com base na divisão, diferente do que se perpetua nas bases do IBGE, os limites das regiões não são coincidentes com os estados. Tal fato representa a noção de que um estado em face de suas características pode ter parte do seu território em mais de uma região, como é o caso do Maranhão e de Minas Gerais. O espaço rural brasileiro atualmente concentra a maior desigualdade social e trabalhista de todas as atividades econômicas de nosso país, pois faltam legislações que garantam ao produtor rural acesso básico ao desenvolvimento humano e distribuição de renda. A produção principalmente dos pequenos produtores é pouco valorizada no mercado interno e externo, pois há pouco retorno. Hoje ainda há uma competição desleal entre o minifundiário policultor e o grande agroexportador que concentra a maior parte das terras agricultáveis e cultiváveis tanto para produção de grãos como para a produção pecuária e seus derivados. A grande agroindústria está atenta principalmente para os grandes produtores que possuem capacidade de competição e grande produção de qualidade em sua matéria-prima. TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO 35 FIGURA 22 – PRINCIPAIS PRODUTOS BRASILEIROS AGROPECUÁRIOS DE EXPORTAÇÃO FONTE: <https://www.infoenem.com.br/wp-content/uploads/2017/07/dados_agropec.jpg>. Acesso em: 13 fev. 2019. A agropecuária e o extrativismo não são tratados com tanta relevância, um equívoco que deve ser reparado, já que este setor apresenta grande representatividade no volume de exportações brasileiras e corresponde em torno de 8% do PIB (Produto Interno Bruto). A produção agrícola no Brasil teve início com a cultura da cana-de-açúcar pelos portugueses durante o período colonial, que foi seguida pelo cultivo do café, principalmente nos séculos XIX e XX e posteriormente pela pecuária bovina. Atualmente, a cultura mais representativa do país é a da soja, principalmente na região Centro-Oeste. Destinada à exportação, ela representa 9% da balança comercial. A cana-de-açúcar, o café e a pecuária bovina ainda possuem importância na agropecuária nacional e, além destes, também podemos encontrar produções de milho, laranja, trigo, fumo, arroz, feijão, cacau e algodão. FONTE: https://www.infoenem.com.br/geografia-no-enem-um-panorama-da- agropecuaria-brasileira/. Acesso em: 13 fev. 2019. IMPORTANT E UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL 36 FIGURA 23 – COLHEITA DE CANA-DE-AÇÚCAR MECANIZADA FONTE: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/ Colheita+mecanizada+sem+despontador_000fk6rupcd02wyiv80sq98yqsxy7xf9.JPG>. Acesso em: 13 fev. 2019. Os estados que mais se destacam na agropecuária no Brasil desde as primeiras décadas da segunda metade do século XX são os estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, porém, existe um crescimento na produção rumo ao norte do país. O setor também está se tornando cada vez mais dependente da tecnologia a qual gera melhorias nas máquinas, nos defensivos, nas sementes e nos fertilizantes, de modo a ampliar a produção e aperfeiçoar os produtos. “Assim, apesar de variações locais pouco significativas, o nível de concentração da estrutura fundiária manteve-se elevado em todo o espaço agropecuário. Mesmo tendo sido reduzida a área total dos estabelecimentos, estes intensificaram suas produções. Apesar de a intensificação produtiva ter caracterizado o período,
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