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Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER 2005 RREEGGAA EE DDRREENNAAGGEEMM 1 INTRODUÇÃO 1.1 REGA E DRENAGEM Rega é uma operação agrícola que permite abastecer a água necessária às culturas. Podemos notar três aspectos importantes na rega: 1 - a água é colhida, transportada e distribuída às culturas; 2 - a água deverá ser suficiente para satisfazer as necessidades das culturas; 3 - os agricultores deverão ser capazes de manusear o caudal usado para a rega. Em climas secos onde a baixa precipitação não satisfaz as necessidades em água das culturas a rega é um garante para o sucesso da produção agrícola. É claro que a rega por si só não trará os benefícios necessários se não for adequadamente complementada com outras práticas agrícolas. A rega deverá funcionar em harmonia com a drenagem para garantir uma condição optimal de humidade no solo. O alagamento prolongado do solo é prejudicial às culturas; por outro lado água excessiva poderá provocar a lavagem dos nutrientes no solo empobrecendo-o. Dependendo das condições climáticas do local em questão a rega poderá ser total ou suplementar. Em climas secos toda a água necessária para a cultura deve ser abastecida através da rega. Em áreas onde a produção agrícola é possível com base na precipitação sendo que a rega vai aumentar a produção, falamos de rega suplementar. A Rega e Drenagem devem, portanto permitir a obtenção dum rendimento óptimo nas circunstâncias específicas do local. Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 1.2 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA AGRICULTURA IRRIGADA Em resumo podem ser apontadas as seguintes vantagens da agricultura irrigada: • • Produção garantida, pois a chuva deixa de ser o factor determinante na agricultura, pouco importando a sua boa ou má distribuição. Maior produção por unidade de área, possibilidade de mais que uma colheita por ano e melhor qualidade do produto. • • • • • • Possíveis desvantagens poderão ser: Um cultivo mais intenso é capaz de expor em perigo a fertilidade do solo. Perigo de prejuízo por inundação. Perigo de salinização, seja por sais na água de rega, seja por sais na água no lençol freático e/ou no subsolo. Os canais de Rega e de drenagem são obstáculos ao trabalho mecanizado e ocupam espaço que poderia ser destinado à cultura. Por causa dos custos envolvidos a rega precisa de um cálculo económico. Lixiviação de nutrientes por percolação profunda de água; doenças ligadas à água, etc. 1.3 A GEOGRAFIA E DIFUSÃO DA REGA A origem da rega data de há mais de 4000 anos. As antigas civilizações tiveram suas origens em regiões áridas, onde a produção só era possível graças à rega. Assim, as grandes aglomerações se fixaram nas margens férteis dos rios Huang Ho e Iang-tse Kiang, no vasto império da China, do Nilo, no Egipto, do Tigre e do Eufrates, na Mesopotânia/Babilónia, do Ganges e do Indo, na Índia e do Mekong na Indochina, e foram nascidas e conservadas graças à utilização eficiente de seus recursos hidráulicos. Só mais tarde a cerca de 1500 anos, é que a humanidade foi se desenvolvendo em regiões húmidas, onde a rega perdeu sua necessidade vital. 2 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 Com o tempo a necessidade de mais alimentos cresceu com o contínuo crescimento demográfico e a humanidade se viu novamente obrigada a usar os recursos da rega. O papel da produção de alimentos é cada vez maior que o de matéria básica para a indústria: algodão 7% cana de açúcar 6% forragens 10% outros 9%. arroz 34% trigo 17% milho 4% outros cereais 5% hortaliças e frutas 8% As tabelas 1.1 a 1.3 mostram a situação da rega no mundo, em África e em Moçambique, respectivamente. Tabela 1.1: Distribuição de regadios pelo Mundo em % e em milhões de ha, FAO production Yearbook 1991. Área regada em Milhões de ha. % da área regada no Mundo Ásia Ex União Soviética América do Norte Europa América Latina África Oceânia 160 21 20 17 16 11 2 67 9 8 7 7 5 2 Tabela 1.2: Distribuição de áreas regadas (ha) em África em relação à potencialmente regável, 1982. 3 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 País Área Potencialmente Regável Área regada (ha) Área regada, % da área regável Angola Kenya Madagascar Moçambique Nigeria Senegal Sudão Zimbabwe 6.700.000 350.000 1.200.000 2.400.000 2.000.000 180.000 3.300.000 280.000 10.000 49.000 960.000 70.000 850.000 100.000 1.750.000 130.000 < 1 14 80 3 43 56 53 46 Tabela 1.3: Tendência da área regada em Moçambique. Ano Áreas com infra-estrutura de rega (ha) 1968 1973 1987 65.000 100.000 125.000 70% das áreas com infra-estruturas de rega em Moçambique encontram-se nas províncias de Maputo e Gaza (açucareiras e o regadio de Chókwe). As percentagens conforme a cultura cultivada são: arroz 43% cana de açúcar 31% outros cereais e hortaliças 22% 4 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 citrinos 4% 2. QUANTIDADE DE ÁGUA DE REGA E PROGRAMAÇÃO DA REGA 2.1 EVAPOTRANSPIRAÇÃO DA CULTURA TRANSPIRAÇÃO Plantas expostas à atmosfera absorvem a radiação solar. Esta energia vai provocar a formação de vapor de água dentro das células da planta. O vapor formado difunde-se através dos estomas das folhas para a atmosfera. Este processo chama-se transpiração. Esta perda de água através das folhas é reposta pela absorção da água do solo através das raízes. Ao mesmo tempo nutrientes dissolvidos na água do solo entram na planta e são distribuídos por todas as partes da planta. As células são abastecidas pela água para manter a sua turgidez, metabolismo fotossintético e crescimento. A transpiração é, portanto essencial neste processo de translocação na planta. É estimado que mais de 95% de toda a água absorvida pela planta é perdida através da transpiração. O problema aparece quando a água perdida pela transpiração não é reposta suficientemente cedo para manter a condição optimal da água na célula. Como resultado a planta murcha. EVAPOTRANSPIRAÇÃO Evapotranspiração (ET) é a soma da água perdida a partir da superfície do solo descoberto através da evaporação (E) e a perdida pelas plantas através da transpiração (T). A evaporação do solo é incluída porque em muitos casos é uma perda inevitável da água na zona radicular que deverá ser reposta pela precipitação ou rega. EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA Necessidades de água da cultura são definidas como a quantidade de água necessária para satisfazer as perdas por evapotranspiração duma cultura (ETc) livre de doenças, crescendo num 5 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 campo largo, sob condições não restritivas do solo (água e fertilidade) e atingindo a produção potencial máxima nas dadas condições ambientais. Nestas condições 3 factores determinam as necessidades de água da cultura: (1) factor climático que vai determinar o nível da ET. (2) características da planta quanto à transpiração. (3) condições ambientais que afectam o abastecimento de água a planta como a capacidade de retenção de água do solo. A evapotranspiração de referência da cultura (ETo) é estimada pela evapotranspiração duma cultura de referência nas condições padrão ou de referência. ETo é definida como a taxa de evaporação duma superfície extensa de relva verde de altura uniforme 8 - 15 cm, crescendo activamente, cobrindo completamente a superfície do solo, crescendo sem deficiência de água. A evapotranspiração de referência da cultura pode ser determinada directamente através da medição em lisímetrosou indirectamente através de cálculo usando fórmulas empíricas ou tinas de evaporação. No caso das tinas terão que ser usados factores de correcção da tina que são função do tipo de tina. Fórmulas empíricas vulgarmente usadas são: fórmula de Penman, o método de Thornthwaite, o método de Blaney-Criddle entre outras. A seguir será tratada apenas a medição de ETo com lisímetros. 2.2 DETERMINAÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DA CULTURA USANDO LISÍMETROS Lisímetro é um grande contentor recheado de solo, geralmente localizado no campo para representar as condições ambientais do campo, em que as condições solo-água-planta podem ser reguladas e monitoradas duma forma mais precisa que no perfil do solo natural, fig. 2.1. O lisímetro é usado para medir a quantidade de água que entra ou sai dum contentor de solo descoberto ou coberto duma vegetação. A quantidade de água que sai ou entra no lisímetro pode ser representada através da seguinte equação de balanço de água: 6 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 7 P + I = ET + D W± ∆ P = precipitação I = irrigação D = drenagem ∆W = variação da humidade durante um dado período de tempo. A precipitação e rega podem ser medidas directamente por métodos convencionais como, por exemplo, pluviómetros. Arranjos especiais são feitos na base do lisímetro para medir a água percolada através do lisímetro, a drenagem (D). A mudança da humidade no solo (∆W), a qual representa o armazenamento da água no solo depois duma precipitação ou rega ou a redução da água no solo devido a evapotranspiração é como se segue: Em lisímetros pesáveis a mudança de peso (corrigido para a precipitação e drenagem) oferece resultados precisos de mudança de humidade. O mecanismo de pesagem é complicado e caro o que torna este método limitado. Em lisímetros não pesáveis outros métodos são usados como tensiómetros, métodos de resistência eléctrica ou prova de neutrões. O método de amostragem não tem sido muito conveniente para este caso porque deixaria buracos no lisímetro. Em muitos casos ainda o balanço de água é determinado no período entre duas drenagens, ∆W torna-se desprezível e a equação do balanço toma a forma: ET = P + I - D Os lisímetros são uma ferramenta indispensável para o controlo da precisão das fórmulas para o cálculo da evapotranspiração e dos equipamentos para a medição da evapotranspiração. Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 Fig. 2.1: lisímetro 2.3 RELAÇÃO ENTRE EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA (ETo) E EVAPOTRANSPIRAÇÃO MÁXIMA DUMA CULTURA (ETc) Como tratado anteriormente, ETo é a quantidade de água usada por uma cultura padrão (relva verde) crescendo em condições optimais. Dá-nos, portanto a medida do efeito das condições climáticas no uso da água das culturas. No entanto, a cultura de interesse será diferente da cultura padrão em muitos aspectos de tal forma que ETc será diferente de ETo nas mesmas condições climáticas. Adicionalmente ETc varia em função do estágio de crescimento como função da cobertura do terreno (área foliar), desenvolvimento radicular e actividade das folhas. A relação ETc/ETo tem sido calculada experimentalmente, usando lisímetros e é chamada constante de cultura (Kc). Sendo conhecido Kc então pode ser calculada a ETc como: ETc = Kc * ETo Esta relação tem sido usada nos projectos de rega para estimar as necessidades de água da cultura. O valor de ETo ao longo do período de crescimento da cultura pode ser calculado usando um método adequado para os dados disponíveis. DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE CULTURA (Kc) 8 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 Para uma dada cultura Kc não é constante, depende principalmente do estágio de crescimento da cultura. Outros factores tais como a frequência da precipitação ou rega também afectam o valor de Kc. Para todas as culturas anuais o período de crescimento pode ser dividido em 4 estágios (ver exemplo para cultura de milho – fig.2.2): 1 - Fase inicial ou de estabelecimento - desde a germinação ao estabelecimento. Caracterizada por um fraco aumento da cobertura vegetal (menor que 10%). 2 - Fase de desenvolvimento - desde o final da fase inicial até à cobertura total do terreno. Rápido aumento da cobertura vegetal. 3 - Fase de cobertura máxima - caracterizada por uma cobertura aproximadamente constante, até ao início da maturação. 4 - Fase de maturação - desde o início da maturação até a colheita, folhas velhas transpirando menos. Fig. 2.2: Fases de crescimento – exemplo da cultura de milho. Na fase inicial a ETc é baixa devido à baixa transpiração. Sendo ETc a soma da evaporação a partir do solo nú e da transpiração, a ETc vai depender do período de tempo em que o solo está húmido e do grau de humidade. Isto porque a evaporação do solo é maior em solos 9 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 húmidos e vai decrescendo com a redução da humidade do solo. Este efeito é mais significativo na fase inicial e Kc é determinado em certa medida pela quantidade total da precipitação ou rega e o intervalo de tempo de incidência, veja fig. 2.3. Fig. 2.3: Valores médios de Kc durante a fase inicial A variação dos valores de Kc ao longo do ciclo da cultura é normalmente representada por uma curva de Kc que começa com a sementeira até a colheita. Esta curva é determinada experimentalmente usando lisímetros para medir ETc e ETo. Um exemplo da curva de Kc para milho pode ser visto na fig.2.4. 10 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 Fig. 2.4: Exemplo da curva de Kc para a cultura de milho. Valores de Kc para várias culturas podem ser encontrados no manual da FAO para Irrigação e Drenagem "FAO 24 - Crop Water Requirements". Na tabela 2.1 e tabela 2.2 são, respectivamente, apresentadas as durações das fases de crescimento e os valores de Kc para algumas culturas. 11 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 Tabela 2.1: Duração aproximada das fases de desenvolvimento para algumas culturas. (Fonte: FAO 24, 1984) Cultura Fase inicial fase de desenv. fase de cobertura máxima fase de maturação Total Cevada/aveia /trigo Feijão - seco Couve Cenoura algodão alface Milho- grão cebola-verde Cebola- seca amendoim batata mapira tomate 15 15 15 20 20 25 20 25 30 30 20 35 20 30 25 20 15 20 25 30 25 30 20 20 30 35 25 30 25 30 25 30 30 35 50 50 30 50 35 30 30 40 25 35 35 40 30 35 30 35 40 45 50 65 35 40 60 65 30 70 55 65 15 45 40 60 10 20 70 10 45 45 30 50 40 45 40 70 30 40 20 20 15 20 20 20 45 50 10 10 30 40 5 10 40 45 25 25 20 30 30 30 25 30 120 150 95 110 120 140 100 150 180 195 75 140 125 180 70 95 150 110 130 140 105 145 120 130 135 180 12 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 Tabela 2.2: Coeficientes de cultura (Kc) para diferentes estágios de crescimento e condições climáticas dominantes. (Fonte: FAO 24, 1984) Cultura Humidade (HR) RH > 70% RH < 20% Velocidade do vento (m/s) 0 - 5 5 - 8 0 - 5 5 - 8 Cevada Cenoura Milho (grão) Algodão Alface Cebola, seca Cebola, verde Amendoim Batata Mapira Tomate Trigo Estágio da cultura 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 1,05 1,1 0,25 0,25 1,0 1,05 0,7 0,75 1,05 1,1 0,55 0,55 1,05 1,15 0,65 0,65 0,95 0,95 0,9 0,90,95 0,95 0,75 0,75 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 1,0 0,55 0,55 1,05 1,1 0,7 0,7 1,0 1,05 0,5 0,5 1,05 1,1 0,6 0,6 1,05 1,1 0,25 0,25 1,15 1,2 0,2 0,2 1,1 1,15 0,8 0,85 1,15 1,2 0,6 0,6 1,2 1,25 0,65 0,7 1,0 1,05 0,9 1,0 1,05 1,1 0,8 0,85 1,0 1,05 1,0 1,05 1,05 1,1 0,6 0,6 1,15 1,2 0,75 0,75 1,1 1,15 0,55 0,55 1,2 1,25 0,65 0,65 1,15 1,2 0,2 0,2 13 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 2.4 NECESSIDADES DE ÁGUA DA CULTURA Como foi referenciado antes, as necessidades da água da cultura NAC ou ETc são calculadas a partir de ETo e Kc pela equação: ETc = Kc * ETo Resumo de passos necessários para calcular ETc: 1 - Calcular ETo por década para o período de crescimento considerado. 2 - Construir a curva de Kc e extrapolar valor de Kc por décadas. 3- Calcular ETc por década. 2.5 O BALAÇO DA ÁGUA NO SOLO Água é adicionada à humidade do solo no perfil pela precipitação, P (mm), rega, I (mm), ou ascensão capilar, Ge (mm), do lençol freático. Água é retirada do solo por evapotranspiração, ETc (mm), percolação profunda, Dp (mm), e escoamento superficial, Ro (mm). A equação do balanço da água pode ser então escrita como: ∆W = P + I + Ge - ETc - Ro - Dp ∆W = mudança de humidade no solo (mm). 14 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 2.6 A CONTRIBUIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO NO BALANÇO DA ÁGUA NO SOLO Nem toda a precipitação que atinge o solo é utilizável pelas plantas. Parte da precipitação é perdida tanto através do escoamento superficial como da percolação profunda. O escoamento superficial depende da intensidade e duração da precipitação, das características do solo (textura, estrutura), do declive do terreno e da cobertura vegetal. A percolação profunda vai depender da humidade inicial do solo, capacidade de retenção da água do solo (tipo do solo) e da profundidade da zona radicular (tipo de cultura). A parte útil da precipitação (Ptot - Ro - Dp) é designada de precipitação efectiva e pode ser definida como a fracção da precipitação que é armazenada na zona radicular e usada pelo sistema planta-solo para evapotranspiração. Como não é prático medir a precipitação efectiva em cada local, uma série de fórmulas empíricas têm sido desenvolvidas para estimar a precipitação efectiva, algumas destas fórmulas são apresentadas a seguir. É de notar que nenhuma destas fórmulas foi testada para a nossa região. a) Percentagem fixa da precipitação eff totP = a* P a = 0,7 - 0,9 b) Método da FAO eff tot totP = 0,6 P -10 ; P < 70 mm eff tot totP = 0,8 P - 24 ; P > 70 mm c) Método USDA-SCS eff tot tot totP = P ( 125 -0,2 P 125 ) ; P < 250 mm 15 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 16 eff tot totP = 125+0,1 P ; P > 250 mm Agora a equação do balanço de água pode ser escrita como: ∆W = P + I + G - ET - Deff e c p,I Onde Dp,I = percolação do excesso de água de rega. 2.7 A CONTRIBUIÇÃO DO LENÇOL FREÁTICO NO BALANÇO DA ÁGUA DO SOLO Se o lençol freático não estiver muito abaixo da zona radicular, poderá contribuir para a humidade na zona radicular através da ascensão capilar. O fluxo capilar é função dos seguintes factores: - a profundidade do lençol freático; - o tipo de solo; - o teor de humidade na zona radicular, ou seja, a diferença no teor de água entre o lençol freático (100%) e a zona radicular. Para a maior parte dos solos a contribuição do lençol freático significa apenas quando este se situa a menos de um metro da zona radicular, veja fig. 2.5. Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 Fig. 2.5: Contribuição do lençol freático para a humidade na zona radicular em mm/dia. 2.7 NECESSIDADES LÍQUIDAS DA ÁGUA DE REGA Se tivermos em conta que a humidade do solo deve ser mantida constante a um certo nível (∆W = 0) e as necessidades da cultura ETc devem ser totalmente satisfeitas sem perda da água de rega através do escoamento superficial ou percolação profunda (Dp,I = 0), a equação do balanço da água no solo pode ser reescrita como: eff n e cP + I + G - ET = 0 e então 17 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 18 e n c effI = ET -( P + G ) Onde, In = necessidades líquidas da água de rega. EXERCÍCIO: Calcule as necessidades líquidas de água de rega (In) para o mês de Janeiro na estação meteorológica de Xai-Xai. Use o método da FAO para calcular a Precipitação efectiva. Cálculo Dados: ETo = 161 mm; Kc = 1,1; Precipitação, P = 108 mm; Solo franco arenoso (solo 7, fig.5.2); Lençol freático a 1,5 m de profundidade. R: In = ETc - (Peff + Ge) ETc = ETo*Kc = 161*1.1 = 177.1 mm Peff = ? Ptot > 70 mm; Peff= 0,8.Ptot-24 = 0,8*108-24 Peff = 62,4 mm Ge = 0,5 mm/dia (veja fig.2.4, solo 7) Para todo o mês de Janeiro Ge = 31*0,5 = 15,5 mm In = 177,1-(62,4+15,5) = 99,2 mm. Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 2.3 METODOS DE DETERMINAÇÃO DA HUMIDADE DO SOLO 2.3.1 INTRODUÇÃO Para tomar a decisão de quando regar pode-se basear no conhecimento da humidade actual do solo. Conhecendo a humidade actual do solo, pode-se determinar a quantidade de água de rega necessária para manter a humidade do solo a um nível acima do nível mínimo desejável para as culturas. Os valores de humidade do solo podem ser determinados por medição directa ou por dedução de outros parâmetros do solo como, por exemplo, o potencial de água do solo ou a condutividade eléctrica. A seguir são alguns dos métodos usados para determinar a humidade do solo. 2.3.2 MÉTODO GRAVIMÉTRICO A percentagem da humidade é determinada por pesagem de uma amostra de solo retirada do campo, seca na estufa mantida à temperatura de 150oC (acima desta temperatura pode ocorrer a perda da matéria orgânica) e pesada novamente; por diferença de peso obtêm-se o conteúdo de humidade e o peso de solo seco a 105oC. Este é o método de mais fácil uso e por isso largamente usado na determinação da humidade do solo. Amostras de solo são retiradas em várias profundidades na zona radicular e em diversos lugares representativos na área a ser regada. Calcula-se a percentagem de água por peso seco: W W w W d W d = − × 1 0 0 onde W = humidade do solo em percentagem de peso seco (%) Ww = peso do solo húmido (g) Wd = peso do solo seco (g) 19 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 Para o cálculo da humidade em percentagem por volume, θ, (cm3/cm3) é necessário multiplicar W pela densidade aparente do solo em g /cm3. Também se pode usar a fórmula seguinte, conhecendo o volume da amostra de solo e considerarmos que a densidade da água é igual à unidade: θ = − ×Ww Wd V 100 Onde: θ = humidade do solo em percentagem de volume (cm3/cm3 ) V = Volume do solo (cm3). 2.3.3 MÉTODO DO TENSIÓMETRO Este instrumento mede directamente a tensão de humidade de solo, consiste em uma cápsula de porcelana porosa, cheia de água e ligado a um dispositivo a vácuo (Fig. 2.6). Com a sonda, faz-se um buraco no solo com diâmetro pouco maior que o da cápsula e de profundidade suficiente para atingir o local escolhido; a cápsula é introduzida firmemente no solo para permitir perfeito contacto com a massa envolvente. À medida que as raízes retiram a água do solo, ocorre o aumento da tensão e estabelece-se um fluxo de água da cápsula para o solo até que ocorra um equilíbrio entre a tensão do solo e o vácuo do tensiômetro. Um mostrador graduado ou uma coluna de mercúrio indicará a tensão. Estes instrumentos são algumas vezes empregados aos pares, um próximo à superfície e outro no fundo da zona das raízes. Isto auxilia as medições para uma efectiva rega. Os tensiômetro registam só até 0,8 bar,amplitude pequena em termos de solo, e seu emprego fica restrito às condições de elevado teor de humidade geralmente existentes em um regadio. No ciclo de rega, a tensão de humidade de solo, excedendo 0,8 bar, fará com que o ar entre no conjunto através dos poros da cápsula, quebrando o vácuo e prejudicando as determinações; para colocar o tensiômetro novamente em funcionamento, dever-se-á encher novamente a cápsula, molhando o solo ao redor. Deve-se encher o tensiômetro com água pura e 20 Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-2005 eliminada qualquer bolha de ar porventura existente, e manuseá-la o menos possível, com cuidado para evitar que a gordura sempre existente na pela das mãos entupa-lhe os poros. A tabela 2.3 fornece indicações para a interpretação das leituras de tensiômetros. Figura 2.6: Tensiómetro 21 EVAPOTRANSPIRAÇÃO EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA Cálculo
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