Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MISSÕES E EVANGELIZAÇÃO Professor Me. Marcelo Aleixo Gonçalves Professor Me. Roney de Carvalho Luiz GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; GONÇALVES, Marcelo Aleixo; LUIZ, Roney de Carvalho. Missões e Evangelização. Marcelo Aleixo Gonçalves; Roney de Carvalho Luiz. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2019. 268 p. “Graduação - EaD”. 1. Missões. 2. Evangelização. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0542-4 CDD - 22 ed. 241 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Roney de Carvalho Luiz Designer Educacional Ana Claudia Salvadego Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Matheus Felipe Davi Qualidade Textual Yara Dias Ilustração Daphine Marcon Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO RE S Professor Me. Roney de Carvalho Luiz Graduando no curso de licenciatura em História. Possui mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2012), contemplado com bolsa de estudos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e graduação em Teologia pelo Centro Universitário de Maringá (2006). Atualmente, é coordenador e professor do curso de bacharelado em teologia EaD - UniCesumar; professor convidado no curso de pós-graduação lato sensu em teologia bíblica na PUC-PR. É membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Atua, principalmente, na área de teologia bíblica. Professor Me. Marcelo Aleixo Gonçalves Pós-graduado em Gestalt Terapia Psicologia (2014). Graduado em Psicologia Bacharelado e Formação de Psicólogo (2014). Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário de Maringá - Unicesumar (2013). Pós-graduado em História das Religiões – Universidade Estadual de Maringá - UEM (2007). Mestrado em Missiologia - FTSA Faculdade Teológica Sul Americana (2006). Licenciatura em Filosofia também pela UEM (2004). Graduação em Formação Teológico Pastoral - Seminário Evangélico Metodista de Teologia (2000). É professor no Centro de Ensino Superior de Maringá - Unicesumar. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Filosofia da Religião. Atuando, principalmente, nos seguintes temas: aproximações hermenêuticas, exegese bíblica, filosofia, teologia, o divino em Platão e mitologia/mito, História das Religiões, História de Israel, História da Igreja, Poder Pastoral em Foucault e aconselhamento pastoral. Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) para desbravar reflexões gerais diante de um tema tão oportuno, que visa favorecer sua instrumentalização e preparação para um melhor entendimento de mais um assunto muito relevante para o cristianismo: a Missão e a Evangelização. É importante entender Missão como parte central da teologia cristã, pois tudo que se faz é em função da Missio Dei (missão de Deus), isso porque o Deus da Bíblia é o Deus missionário que trabalha e cumpre uma missão voltada para o resgate da aliança com a humanidade e toda Sua criação. Nosso intento nestas páginas é apresentar, de for- ma panorâmica, alguns aspectos básicos em relação ao tema: Missão e Evangelização. Nosso pressuposto é Deus em Jesus Cristo como o centro/base/alicerce do Evangelho e o autor do chamado, vocare (vocação), para que cada cristão seja um missionário, ou seja, que impelido pelo Espírito Santo cada ser humano continue a apresentar a aliança de Deus em favor de Sua criação. A Graça de Deus é a origem, a possibilidade e a força dinamizadora da missão e da evangelização e parte do pressuposto que Deus em Cristo está no e com o outro antesque o(a) missionário(a), de forma abrangente, seja a ação servidora da Igreja. Queremos te capacitar a partir de fundamentos bíblicos, teológicos, pastorais e históri- cos, a coordenar, com clareza e segurança, projetos contextualizados de ação missioná- ria e evangelística e, assim, cooperar com a Missio Dei. Apresentaremos a doutrina e a prática da Missão e da Evangelização, buscando conciliar teoria e prática atualizadas, trazendo para a vida da igreja um diálogo entre a teologia da encarnação e os desafios presentes da evangelização na sociedade contemporânea. Es- peramos que você reflita sobre as razões bíblico-teológicas para que o desenvolvimento de seu ministério cristão possa ser relevante em contextos urbanos e transculturais. Que Deus abençoe sua vida e seu chamado! Professores Marcelo Aleixo e Roney de Carvalho APRESENTAÇÃO MISSÕES E EVANGELIZAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I MISSÃO CRISTÃ 15 Introdução 16 Missão Cristã – Conceitos E Termos 31 O Que é Missão Cristã? 40 Motivação na Missão Cristã 49 Considerações Finais 54 Referências 56 Gabarito UNIDADE II A HISTÓRIA DA MISSÃO CRISTÃ - PANORAMA GERAL 59 Introdução 60 A História da Missão Cristã: Por que essa Missão Tem História? 71 O “Grande Século” das Missões Cristãs 81 Missão Integral, Aspectos Gerais 87 Missão Cristã na América Latina 92 Considerações Finais 97 Referências 98 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III TEOLOGIA DA MISSÃO, ALGUNS ASPECTOS 101 Introdução 102 Teologia e Teologia da Missão 113 O Deus Trino e a Missão 116 O Espírito de Deus Atua na Missão Cristã 123 Igreja e Missão: Qual o Papel da Igreja? 138 Evangelização e Missão, ou Seja, a Missão de Evangelizar 144 Considerações Finais 149 Referências 151 Gabarito UNIDADE IV EVANGELIZAÇÃO CRISTÃ 155 Introdução 156 Evangelho, Evangelização e Evangelismo 167 Os Fundamentos Bíblicos da Evangelização Cristã 173 A Teologia da Evangelização Cristã 175 Evangelização Cristã e a Graça de Deus 183 Evangelização na Igreja Primitiva 197 Considerações Finais 202 Referências 204 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V MÉTODOS DE EVANGELIZAÇÃO 207 Introdução 208 Métodos de Evangelização Cristã 211 O Lugar Da Igreja Na Evangelização 216 A Ação Estratégica da Igreja na Evangelização 224 O Evangelista (Santidade de Vida) 232 Conversão (Conceito e Implicações) 260 Considerações Finais 265 Referências 267 Gabarito 268 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professor Me. Marcelo Aleixo Gonçalves Professor Me. Roney de Carvalho Luiz MISSÃO CRISTÃ Objetivos de Aprendizagem ■ Analisar os conceitos e termos que envolvem o tema “Missão Cristã” ■ Conhecer definições que envolvem o tema “Missão”. ■ Verificar alguns fundamentos bíblicos sobre a “Missão”. ■ Entender a motivação evangelística despertando os sentimentos de: gratidão, responsabilidade e de preocupação com os perdidos. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Missão cristã – conceitos e termos ■ O que é Missão Cristã? ■ Motivação na Missão Cristã INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Nosso material está dividido em cinco unidades. Cada uma das três primeiras unidades busca oferecer de forma concentrada alguns temas muito importantes para nossa reflexão sobre a Missão Cristã. As outras duas uni- dades restantes pensarão os pressupostos e os métodos da Evangelização Cristã. Para uma compreensão básica do tema, é necessário fazer uma breve apre- sentação de alguns termos muito utilizados na reflexão sobre Missão Cristã, embora aqui apresentados de forma informativa, no decorrer do material, apa- recerão melhor explanados. Nesta primeira unidade – Missão Cristã: conceitos e termos –, pedimos a sua atenção para as definições e explicações referentes a cada termo: Missão, Missiologia, Missio Dei, Missão Transcultural, Teologia da Missão, Grande Comissão, Missão Integral e Missão Urbana. Apresentamos de forma breve cada termo logo no início, porque entendemos que se pode correr o risco de serem mal entendidos ou confundidos durante as leituras que se seguirão. Neste primeiro momento, os termos aparecem de forma preliminar, porém, no decor- rer da leitura das páginas seguintes, sofrerão uma explanação um pouco mais aprofundada, mesmo se tratando de um material de estudos de aspectos gerais do tema Missão Cristã. O privilégio de ser representante de Deus e o desafio da responsabilidade de sê-lo de maneira adequada devem ter um peso crescente durante a vida do estudante de teologia, por isso, lembraremos de abordar o tema, ainda que de maneira pontual. Queremos, com esse tópico, despertar a ideia da responsabilidade pessoal e de prestar contas a Deus, o Juiz Soberano, um estímulo importante, uma grande motivação, a cumprir, com excelência, o chamado ministerial. Ainda despertar a preocupação pelos não evangelizados e, também, a preocupação pelos já con- vertidos. Trataremos de refletir sobre o objetivo da Missão Cristã e a motivação para a Missão. Ótimos estudos! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 ©shutterstock MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 MISSÃO CRISTÃ – CONCEITOS E TERMOS Caro(a) aluno(a), para uma compreensão básica desse tema, é necessário fazer uma breve apresentação de alguns termos muito utilizados na reflexão sobre Missão Cristã, embora aqui apresentados de forma informativa, no decorrer do material, aparecerão melhor explanados. O doutor John Stott (2010, p. 47) escreveu que “o ponto de vista mais antigo ou tradicional era o de igualar Missão e evangelismo, missionários e evangelis- tas, missões a programas evangelísticos”. Além disso, esses termos, geralmente, são utilizados com os sentidos mais variados possíveis, algumas vezes gerando confusão entre os mesmos e uma compreensão não correta sobre o que de fato é a Missão. Missão: derivado do latim missio, “envio”, mais especificamente da expres- são latina missione, do verbo mittere, que significa: ação, tarefa, ordem, mandato, compromisso, incumbência, encargo ou obrigação de enviar. Cabe ressaltar o que um simples dicionário apresenta sobre esse termo: ato de enviar ou ser enviado, encargo, incumbência de um dever, compromisso, ordem. E o antônimo é, entre outros, ociosidade. Na língua grega, corresponde à palavra apostole, que, em por- tuguês, é “apóstolo”, isto é, alguém enviado por ordem de outrem para realizar uma tarefa. É associada, exclusivamente, ao cristianismo, até mesmo no Léxico Missão Cristã – Conceitos E Termos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 das religiões, editado por Hans Waldenfels, o verbete missão, de Karl Müller SVD, trata, exclusivamente, da Missão Cristã. Em resumo, como apresenta González (2008), a Missão é a atividade de Deus no mundo. Deus é o protagonista da Missão. Deus age no mundo pela Sua graça, para reconciliar o mundo consigo mesmo: 18 Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, 19 ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da re- conciliação. 20 Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus. (II Coríntios 5.18,19). O termo “missões” está carregado de muitos significados, refere-se à atividade do povo de Deus na comunicação do Evangelho. Para facilitar o aprendizado, optamos, em nossa disciplina, trabalhar tão so- mente o termo “Missão”, ao invés de “Missões”. Tradicionalmente, o termo“Missões” cria uma imagem de movimento unidi- recional: do mundo cristão ao mundo não cristão. Por essa razão, por muito tempo, as missões associavam-se a uma prática missionária eclesiocêntri- ca, na qual a igreja era protagonista da Missão. Portanto as missões são as atividades dirigidas a estender a fé cristã, mesmo em lugares onde a fé já existe. “As ‘missões’ são o que a igreja tem feito – bem ou mal – na gestão de estender a fé fora e dentro das fronteiras onde ela mesma está arraigada” (GONZÁLEZ, 2008, p. 39). Fonte: os autores. MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Karl Barth (1959, p. 120) descreve a Missão da seguinte maneira: entendida no sentido mais estrito da palavra – o qual, contudo, é o sentido real, original – “Missão” significa “enviar”, enviar às nações com o propósito de testificar o Evangelho, o qual representa a raiz da exis- tência e ao mesmo tempo a raiz também de toda a tarefa do povo de Cristo. Na “Missão”, a Igreja se descobre e se põe no seu caminho e, para tanto, dá o passo necessário nas profundezas do seu próprio ser, passo além de seu próprio ser e além do seu próprio ambiente (o que do ponto de vista cristão desperta tantos problemas), para dentro daquela humanidade que está aprisionada a tantas crenças falsas, obstinados e impotentes, e sujeita a tantos deuses falsos (falsos porque refletem simplesmente a própria glória e miséria da humanidade), de invenção e autoridade mais antigas e mais recentes – para aquele mundo dos ho- mens que ainda são estranhos à palavra de Deus concernente à Sua ga- rantia de misericórdia que os inclui, à palavra que em Jesus Cristo tam- bém lhes foi enviada. Portanto, essa palavra deve ser levada primeiro ao homem, como mensagem nova para ele. O chamado que constitui a comunidade é precisamente o mandamento para se levar esta mensa- gem ao mundo dos homens, às nações, aos pagãos. Ao obedecer a este mandamento, a comunidade está empreendendo a “missão aos pagãos”. Tempos atrás, sob o aspecto teológico, a Missão foi tratada apenas como subpro- duto da doutrina do estudo da Igreja, a Eclesiologia. Não muito depois, com as divisões dos temas teológicos, passou a ser colocada como um dos temas da Teologia Prática, muito em função do Conselho Mundial de Igrejas (C.M.I.), órgão do protestantismo, que nasceu do trabalho missionário mundial e dedi- cou muitos estudos à Missão. Podemos dizer que foi o C.M.I., em seus estudos e reflexões, quem trouxe a Missão para o foco central da atenção da Igreja, isso feito, reconhecemos, hoje, que a Igreja existe para a Missão de Deus. É preciso reconhecer que a principal base bíblica para a Missão (Mateus 28.18-20), é, por vezes, mal interpretada, o que lhe impõe uma limitação em sua amplitude, isso porque, muitas vezes, a questão denominacional aparece e busca prender o cha- mado de Jesus a ações particulares de uma igreja, enquanto, na verdade, o texto refere-se à implantação do Reino de Deus, que é bem maior que as denominações. 18 Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a auto- ridade nos céus e na terra. 19 Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20 ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos. (Mateus 28.18-20). ©shutterstock Missão Cristã – Conceitos E Termos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Então, temos que Missão é o ato de Deus refazer a aliança com o ser humano. Neto (2002, p. 26) escreve que a palavra “Missão”, nos dias atuais, já não está restrita apenas ao ambiente cristão ou religioso. As empresas, indústrias, ins- tituições bancárias etc. adaptaram-se aos novos tempos, deixando claro, para funcionários e clientes, a sua “Missão”. Tornou-se comum entrar num banco e ver escrito em letras garrafais: “Nossa Missão é ser o melhor banco do Brasil, assegurar a satisfação dos clientes, atender às expectativas dos acionistas e con- tribuir para o desenvolvimento do país” (BOSCH, 2002, p. 458). Já segundo Neto (2002, p. 26), nosso ponto de partida para entender a Missão é afirmá-la como o testemunho do amor e da presença de Deus na história pelos cristãos. Desejamos con- ceituar a Missão no âmbito do cristianismo contemporâneo. Vejamos alguns termos: Missionário: um missionário ou evan- gelista é uma pessoa que se deixa usar como cooperador de Deus na Missão e é funda- mental que não haja confusão nos papéis, como percebido, por exemplo, em I Coríntios 3.5-9: 5 Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Se- nhor atribuiu a cada um. 6 Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer; 7 de modo que nem o que planta nem o que rega são al- guma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. 8 O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho. 9 Pois nós somos cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus. O missionário é o cooperador do dono da obra, mas a obra não é dele. Como o próprio Jesus um dia disse ao apóstolo Pedro: “‘Simão, filho de João, você me ama?” Ele respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que te amo’. Disse Jesus: ‘Pastoreie as minhas ovelhas’” (João 21.16), as ovelhas são do Senhor. Num dos artigos escritos pelo professor Antônio Carlos Barro ([2016], on-line)1, no caso aqui, tra- tando particularmente do missionário num contexto transcultural, comenta que: MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 o missionário também existe na forma da sua cultura, tem a mesma aparência do seu povo e os mesmos costumes. Tem a sua cultura ecle- siástica enraizada e com ela identifica-se plenamente. O missionário deve abrir mão do seu direito de pertencer a sua própria cultura antes mesmo de deixá-la. (BARRO, [2016], on-line)1. O missionário não deve ser obstinado, por isso, não pode ancorar-se na sua cultura ao mesmo tempo em que deseja colocar o seu barco em outros portos (culturas). Entre o povo a ser ministrado e o missionário, não deve haver nada, ele é despojado da sua dignidade, ele esvazia-se de si mesmo. Entre o povo a ser ministrado, o missionário é escravo, é pessoa de condição servil e está no meio dos outros para servir, desistindo dos seus próprios interesses. Torna-se semelhante aos outros na medida em que serve. Aos poucos, ele pode ser consi- derado um dentre o povo. “Ele come com os pecadores”, como diziam de Jesus. Humilhar-se é ser cristão. Ninguém será um agente do reino de Deus sem passar pelo processo da humilhação. A obediência a Deus é inquestionável, mesmo em face da morte e dos perigos. Escobar (1997, p. 38) escreve que a reflexão do mis- sionário deve ser sempre iluminada pela Palavra de Deus, “através dos séculos, a obediência ao imperativo missionário de Jesus Cristo, em sua dimensão trans- cultural, recebeu inspiração e direção do modelo pioneiro do apóstolo Paulo”. Missiologia: é a disciplina/ciência teológica que busca estudar a realidade da ação missionária em seu conjunto e em seus diversos elementos e características. Ou seja, é a disciplina da Teologia que se ocupa de analisar e estudar as missões da Igreja sob a luz dos princípios da revelação divina, da história da Igreja, das doutrinas teológicas, conjugando-se com os temas importantes como: a soterio- logia, a Trindade, a cristologia, a eclesiologia, entre outros. Somam-se, ainda, os conhecimentos da antropologia, sociologia e de outros aspectos relacionados, uma vez que, em sua pesquisa, é importante o contato e parceria com outras dis- ciplinas de estudo. Na obra Missões e Antropologia, Filho (2004, p. 67) escreve que “amissiologia como disciplina enfrenta alguns problemas. Um deles é que os críticos estão mais preocupados com as ciências sociais do que com os assuntos teológicos”. Outro problema é que a missiologia é feita apenas no ocidente e lhe falta a perspectiva global. Precisa enfrentar situações novas que estão acontecendo no campo missionário, como, por exemplo, o envio de missionários, em maior Missão Cristã – Conceitos E Termos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 escala, para os países da janela 10/401. O termo “Janela 10/40” originou-se com Luis Bush, diretor da International AD2000 & Beyond Movement, durante a 2ª Conferência de Lausanne, em Manila, em julho de 1989. Temas como a contex- tualização da Missão da igreja, responsabilidade social na Missão, diálogo como método de evangelismo, questões teológicas no encontro com religiões não cris- tãs e Missão dos seis continentes para os seis continentes precisam ser discutidas amplamente pelos missiólogos, definindo os assuntos mais importantes para o desenvolvimento das missões no século XXI (FILHO, 2004). Em resumo, é a reflexão crítica sobre a Missão, a missiologia é a disciplina que estuda, de forma sistemática e coerente, tudo o que for relacionado à missão de Deus e à da comunidade da fé. É uma disciplina ampla que se desenvolve em diálogo com a Antropo- logia, a Economia, a História, a História das Religiões, a Teologia Siste- mática, e muitas outras disciplinas. (GONZÁLEZ, 2008, p. 67). Observação: González (2008), em sua obra, traz, logo na introdução, o subtema “A história da igreja e a história das missões”, em que escreve que “a história da Igreja e a história das missões não deveriam se separar”. A reflexão crítica sobre a vida da igreja, seja na liturgia, seja na teologia ou nas práticas pastorais, não se deve isolar da reflexão crítica sobre a extensão da fé cristã por parte do povo de Deus em lugares nos quais a igreja chega pela primeira vez ou onde se insere como agente de renovação. Infelizmente, a própria definição das disciplinas – História da Igreja e História das Missões – mostra uma dicotomia, uma estrutura bipolar que parece negar a unidade entre igreja e Missão, insinuando que há cer- tos capítulos na vida da igreja que são parte de sua verdadeira “história” e outros que somente são parte de sua “Missão”. O autor sugere que deveríamos estudar essa história como a História da Igreja em Missão. 1 A partir de Manila, o nome Janela 10/40 ficou convencionado pelas agências missionárias a uma faixa de terra que vai do oeste da África até a Ásia. Subindo a partir da Linha do Equador, fica entre os graus 10 e 40, formando um retângulo. Na região, vive o maior número de povos não evangelizados da terra, cerca de 3,2 bilhões de pessoas em 62 países. É ali que estão algumas megalópoles de hoje, ou seja, cidades com uma grande concentração urbana como Tóquio (Japão), Calcutá (Índia), Bagdá (Iraque), Bancoc (Tailândia), entre outras. De cada 10 pobres da Terra, 8 estão nessa região, e somente 8% dos missionários trabalham entre eles. É nessa faixa que se concentram os adeptos das três maiores religiões não cristãs do mundo: islamismo, hinduísmo e budismo. Na maioria dos países dessa região, há falta de receptividade aos cristãos e, em especial, aos missionários que ali atuam. A liberdade religiosa, quando existe, é frágil. Há necessidade de missionários, líderes, pastores e escolas de treinamento para os poucos cristãos existentes. Há poucos missionários atuando nesses países devido à política de restrições quanto à entrada e perseguições que sofrem. A necessidade de tradução da Bíblia é grande. ©shutterstock MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 Missio Dei: a expressão vem do latim, significando “Missão de Deus”, dando a ideia de “o envio de Deus”, no sentido de “ser enviado”, uma frase usada na dis- cussão missiológica protestante, especialmente desde a década de 50. Conforme aponta Guimarães (2012, on-line)2, em seu artigo, essa expressão teve seu uso, primeiramente, em um sentido missionário, em 1934, por Karl Hartenstein, um missiólogo alemão que se inspirou na ênfase que Karl Barth dava a actio Dei, a “ação de Deus”, bem como em uma palestra proferida, em 1928, em que Barth disse que a Missão está relacionada com a Trindade. A ideia da Missio Dei, não o termo em si, teve seu auge no pensamento missionário, em 1952, na cidade de Willingen, por ocasião da Conferência do CoMIn. Foi nessa ocasião que o termo foi entendido de forma clara, e, a partir daí, a Missão passou a ser vista como pro- veniente do próprio Deus, procedente de Sua própria natureza (BOSCH, 2002). Georg Vicedom também teve um papel na popularização do conceito da Missio Dei ao usá-la na Conferência da Cidade do México (1963) e em seu texto The Mission of God (1965). Foi ainda em Willingen que a Missio Dei foi colocada no contexto da Trindade e não no da soteriologia e nem no da eclesiologia. O sentido clássico da expres- são foi ampliado, como claramente o coloca David Bosch (2002, p. 467): Missão Cristã – Conceitos E Termos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 a doutrina clássica da Missio Dei como Deus, o Pai, enviando o Filho, e Deus, o Pai e o Filho enviando o Espírito, foi expandida no sentido de incluir ainda outro “movimento”: Pai, Filho e Espírito Santo, enviando a igreja para dentro do mundo. Diante de tal conceito, caro(a) aluno(a), fica claro que a Missão é um atributo divino, da qual a Igreja é convidada (convocada) a fazer parte como um instru- mento para a mesma. Como escreveu Moltmann (1977, p. 64): “não é a igreja que deve cumprir uma Missão de salvação no mundo; é a Missão do Filho e do Espírito mediante o Pai que inclui a igreja”. Historicamente, o conceito de “Missio Dei” foi mutuado da escolástica por Karl Barth em 1932. De lá pra cá, o conceito assumiu um leque bastante amplo de significados, às vezes contrários aos intentos de Barth. Em todo caso, a ideia ajudou a expressar a convicção que a Igreja não é autora e a deten- tora da Missão. Essa última é, antes de mais nada e fundamentalmente, obra do Deus uno e trino. (BOSCH, 2002. p. 467.) Não se pode esquecer que Deus é o protagonista da Missão, pois essa Missão revela o plano de Deus na história humana e leva a termo o projeto do Seu Reino. Cabe à Igreja continuar o caminho missionário, e essa não deve esquecer-se da Missão que Ele nos outorgou e nem do Senhor que a sustenta. “Nem quem planta nem quem rega é alguma coisa, mas Deus é que faz crescer” (Mateus 13.24-30). Hermann Brandt (2006, p. 78) escreve que só se pode falar da Missio Dei como Missio Dei recebida; traduzindo: da corte que Deus faz em Cristo, que não só nos corteja, mas nos “libertou”, “nos tirou de toda servidão [...] para a liber- dade”, pelo fato de Cristo nos “ter conquistado” e nos ter posto “sob seu domínio”. Em outras palavras, a tese da Missio Dei se baseia na experiência dessa liberdade recebida. Contudo, para não ser mal entendido, quero dizer o que isso implica e, também, que me leva a fundamentar o discurso da Missio Dei no testemunho do Evangelho experimentado como libertação. MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Missão Transcultural: é a Missão cristã acontecendo além fronteira, imersa em outras culturas, ou como escreve Barro ([2016], on-line)1 em seu artigo, transcultural no sentido de cruzar qualquer fronteira que separa o mensageiro do ouvinte. Convencionou-se pensar em transcultural como além-mares. Todavia é fato que qualquer Missão, seja ela perto ou longe, é Missão transcultural. Além das barreiras mais conhecidas,como a da linguística, costumes, geográficas, étni- cas etc., temos, ainda, as barreiras sociais, morais, religiosas, familiares. Como escreve Escobar (1997, p. 52), “a Missão cristã sempre implicou em cruzar fron- teiras, porém cada geração cristã, ao cruzar novas fronteiras, tem de explorá-las antes de lançar-se à aventura”. Teologia da Missão: é o estudo do enfoque teológico da Missão cristã; pro- põe elaborar e estudar os temas bíblicos que se destacam apontando a questão salvífica, plano de Deus para todas as pessoas. Nessa perspectiva, a Bíblia apre- senta a história da salvação e o chamamento da Igreja para cumprir a Missão. A Teologia da Missão deve ser algo que nasce no coração de uma Igreja essen- cialmente missionária a serviço dos pobres e dos outros. Deve ser uma Igreja diferente, pois não tem pátria, cultura ou é dona de verdades, ela, sim, espera por sua pátria celestial e, enquanto aguarda, precisa estar empenhada, desen- volvendo a Missão para a qual foi comissionada. Teologia da Missão tem a ver com o Evangelismo que é: aquela atividade de Deus, por meio de seus representantes, com o pro- pósito de promover a redenção dos homens. O Deus da Bíblia está inte- ressado nos homens. O primeiro e maior dos missionários foi o Logos, chamado Cristo, durante sua Missão terrena. (CHAMPLIN; BENTES, 1995, p. 259). Essa Missão é a Missão de uma comunidade eclesial comprometida com a defesa da vida e o anúncio insistente da mensagem de salvação, 18 Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, 19 ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da re- conciliação. 20 Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus. (II Coríntios 5.18-20). Missão Cristã – Conceitos E Termos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 Essa Missão, caro(a) aluno(a), não deve ser simplesmente uma entre muitas ati- vidades da Igreja, deve ser sempre a prioridade, a razão maior de sua existência em relação ao mundo e em obediência à ordenança de nosso Senhor. A Teologia da Missão entende que a Igreja é de natureza missionária, pois nasceu no envio do Filho e na missão do Espírito Santo. Há, ainda, especialmente na América Latina, a Teologia da Missão Integral que frisa a percepção do ser humano em sua integralidade, sua dignidade e ple- nitude de vida e, além disso, entende indissociáveis da mensagem do Evangelho cristão os cuidados com o meio ambiente, criação de Deus e a oposição contra toda forma de opressão e injustiça. Na perspectiva da Teologia da Missão Integral, entende-se que Deus criou o mundo, o fez na expressão do Seu amor e generosidade e culminou sua cria- ção com o ser humano, imagem e semelhança do Criador. Com o ser humano, estabeleceu relacionamento e o incumbiu de cuidar da criação, aspectos que se perderam quando esse era o alvo e em pecado é afastado. 4 Esta é a história das origens dos céus e da terra, no tempo em que foram criados: Quando o Senhor Deus fez a terra e os céus, 5 ainda não tinha brotado nenhum arbusto no campo, e nenhuma planta havia germinado, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e também não havia homem para cultivar o solo. 6 Todavia, brotava água da terra e irrigava toda a superfície do solo. 7 Então, o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente. 8 Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, para os lados do leste, e ali colocou o homem que formara. 9 Então o Senhor Deus fez nascer do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento. E no meio do jardim estavam a árvore da vida e a árvore do conhecimen- to do bem e do mal. 10 No Éden, nascia um rio que irrigava o jardim, e depois se dividia em quatro. 11 O nome do primeiro é Pisom. Ele per- corre toda a terra de Havilá, onde existe ouro. 12 O ouro daquela terra é excelente; lá também existem o bdélio e a pedra de ônix. 13 O segundo, que percorre toda a terra de Cuxe, é o Giom. 14 O terceiro, que corre pelo lado leste da Assíria, é o Tigre. E o quarto rio é o Eufrates. 15 O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo. (Gênesis 2.4-15). MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 A Teologia da Missão Integral se ocupa de temas que chamam a atenção para o resgate do relacionamento dos seres humanos com Deus, com os seus semelhan- tes e, também, com a restauração do propósito inicial – o Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo. E é em Jesus Cristo que essa condição de resgate acontece. Entendemos, teologicamente, que a Missão é um dos atributos pessoais de Deus, isso significa que, do início ao fim, a Missão cristã é a Missio Dei (Missão de Deus) e não do homem. Diante disso, faz-se urgente a busca por uma teolo- gia de missão que não seja antropocêntrica, eclesiocêntrica ou “agenciocêntrica”, mas teocêntrica, isso porque a Missão é uma obra essencialmente de Deus, e Ele nos convocou para cooperarmos na Sua grande obra. Em se tratando de Teologia e Missões, entendo ser importante trazer aqui as palavras de Samuel Escobar (1997, p. 68), quando escreve que, no desenvolvimento recente da teologia na América Latina, a teologia praticamente tem sido missiologia (...), pois para o evangélico latino-a- mericano médio, a evangelização ainda é o âmago da missão da igreja; é a própria razão de ser da igreja. (...) Os teólogos evangélicos na Amé- rica Latina não fazem teologia para a galeria de acadêmicos ou para os cães de guarda fundamentalistas. As questões relevantes na teologia devem ser sempre as mesmas questões de missões. Essa tarefa é empol- gante, mas não sem dificuldades e lutas. E continua explorando esse tema quando afirma que: em relação a missões, a tarefa do teólogo está sempre entre dois ex- tremos: o ideológico e o crítico. Alguns acham que a tarefa do teólogo é prover uma “ideologia” para o empreendimento missionário como ele existe. A função da ideologia é explicar (prover racionalidade) e justificar (sancionar ou legitimar) um fato social. Alguns imaginam a tarefa da teologia de missões exatamente dentro desses parâmetros: a criação de uma teoria de missões que irá substanciar certa expressão do empreendimento missionário. A missiologia simplesmente torna-se metodologia. Outros veem a tarefa da teologia de missões como crítica, em que o empreendimento missionário é submetido à luz das ciências sociais, de modo a expor todas as falhas, ao ponto de, no fim, o próprio trabalho missionário ser abandonado. Essa é uma das maneiras de a missiologia tornar-se uma atividade puramente acadêmica, assumindo a forma de um comentário sempre negativo, sem compromisso com a prática. Penso que, mantendo-se perto da atividade missionária, a missiologia evita a armadilha da esterilidade acadêmica. Mas também Missão Cristã – Conceitos E Termos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 creio que, sendo fiel à Palavra de Deus, a missiologia também evita a ar- madilha de simplesmente prover uma ideologia conveniente ao sistema missionário existente. (ESCOBAR, 1997, p. 72). Grande Comissão: a Grande Comissão foi a última comunicação terrena do Senhor Jesus. A tarefa remidora é muito grandiosa e requer uma autoridade especial por detrás dela, a autoridade de Cristo, registrada em Mateus 28.18-20: 18 Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a auto- ridade nos céus e naterra. 19 Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20 ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos. A Grande Comissão ordena a todos os cristãos que partam e façam discípulos em todas as nações. O caráter centrípeto da evangelização centraliza-se na comu- nhão com a igreja, o lar espiritual dos que decidem arrepender-se e confiar na verdade do evangelho (BOWIE, 1992, p. 15). Gary North diz que a Grande Comissão é necessária, porque o homem, em sua rebelião contra Deus, esqueceu quem foi que lhe deu a sua missão. Ele esqueceu a quem é histórica e eternamente responsável. Os homens precisam de regenera- ção para reconquistar o favor de Deus. O homem ainda está debaixo do governo de Deus, mas recusa conhecer esse fato. Ele adora outros deuses, quer feitos por ele ou encontrados na natureza (Romanos 1.18-21). Ele pode até mesmo adorar As práticas e os métodos missionários, aliados à teologia que se desenvolve antes, durante e depois da gestão missionária, revelam que a relação entre teologia da missão e a prática missionária não é unidirecional. As teologias da missão foram se desenvolvendo conforme a prática missionária enfren- tava conflitos, triunfos, derrotas e até expulsão. Esta história ilustra como as práticas e as teologias mudam ao longo dos tempos à medida que as circunstâncias históricas modificam a cultura e a tarefa missionária Fonte: González (2008, p. 45). ©shutterstock MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 a própria natureza (panteísmo), personificando-a como feminina. O fato é que as duas missões de Deus estão unidas por seu status como pactos. Deus estabeleceu primeiro o pacto do domínio (família), porque o homem não tinha se rebelado ainda. Ele, então, estabeleceu a Grande Comissão (Igreja), porque tinha estabe- lecido o fundamento judicial para um Novo Pacto, um pacto universal que une todos os homens, de todas as raças e antecedentes, sob Deus. 15 E disse-lhes: “Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. 16 Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. 17 Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; 18 pegarão em ser- pentes; e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal nenhum; imporão as mãos sobre os doentes, e estes ficarão curados”. 19 Depois de lhes ter falado, o Senhor Jesus foi elevado aos céus e assentou-se à direita de Deus. 20 Então, os discípulos saíram e pregaram por toda parte; e o Senhor cooperava com eles, confirmando-lhes a palavra com os sinais que a acompanhavam. (Marcos 16.15-20). Aqui, como os discípulos, recebemos a grande comissão missionária, na qual o Senhor, que agora se assenta à direita de Deus, nos convoca para que Sua obra continue por intermédio da Igreja, Seu corpo místico. O Evangelho que salienta proeminentemente o poder e a atividade do Filho de Deus na terra termina rasgando novos horizontes para a igreja no mundo. Aquela tarefa até hoje é inacabada, mas o mesmo Senhor ainda opera com os que obedecem ao Seu comando, confirmando a Palavra com os sinais que se seguem. (DAVIDSON, 1997, p. 62). Em relação à “Grande Comissão”, González (2008, p. 56) escreve que “a passagem começa com as palavras: ‘portanto, ide...’”. A conjunção “portanto” implica sempre um antecedente, uma razão para o que segue. Nesse caso, esse antecedente são as palavras do próprio Jesus: “todo poder me foi dado no céu e na terra. Portanto, ide...” (Mateus 28.18-19). Em última instância, a razão pela qual os crentes devem ir a todas as nações não é termos pena dos que se per- dem, ou porque nossa cultura seja superior, ou por termos algo a lhes ensinar. Missão Cristã – Conceitos E Termos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 A principal razão é o senhorio universal de Jesus Cristo. Jesus disse que já é o Senhor de toda a terra. Não há lugar onde Ele não esteja. Não há lugar para o qual seja necessário que os crentes o levem. O Senhor, que era no princípio com Deus, por quem todas as coisas foram feitas, e que é a luz que ilumina todo ser, já está lá. Está atuando nos indivíduos e nas culturas, ainda que não o conhe- çam, ainda que Sua presença seja anônima. Nesse sentido, o que todos os crentes fazem ao darem seu testemunho é convidar outros a crer, levando-os ao conhe- cimento do nome de Jesus, de Seus ensinamentos e de Suas promessas. Mas não levar Jesus. Se o Senhor Jesus já está ali ao chegarmos, isso quer dizer que, no empreendimento missionário, vamos ao encontro, não só de quem não crê, mas também de Jesus, em quem nós já cremos. Indo a esses lugares, nos quais Ele nos disse que Seu senhorio, apesar de desconhecido, é real, conhecemos um pouco mais d’Ele e de Seus propósitos. Assim, por exemplo, “Pedro aprendeu um pouco mais do Evangelho ao pregá-lo ao pagão Cornélio e a igreja antiga aprendeu um pouco mais ao penetrar a cultura grego-romana” (GONZÁLEZ, 2008, p 65). Bosch (2002), logo na introdução de sua obra, nos informa que, desde os anos 50, tem havido uma notável escalada no uso do termo “Missão” entre os cristãos. Isso foi acompanhado de uma significativa ampliação do conceito, ao menos em certos círculos. Até a década de 1950, a palavra “Missão”, mesmo não sendo usada numa acepção unívoca, tinha um conjunto de sentidos razoavel- mente circunscrito. Ela designava: a. O envio de missionários a um território especificado. b. As atividades empreendidas por tais missionários. c. A área geográfica em que os missionários atuavam. d. A agência que expedia os missionários. e. O mundo não cristão ou “campo de missão”. f. O centro a partir do qual os missionários operavam no “campo de missão”. g. Uma congregação local sem um pastor residente e que ainda dependia do apoio de uma igreja mais antiga estabelecida. MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 h. Uma série de serviços especiais destinados a aprofundar ou difundir a fé cristã, em geral, em um ambiente nominalmente cristão. Se tentarmos elaborar uma sinopse mais especificamente teológica de “Missão”, assim como o termo tem sido usado tradicionalmente, observamos que ela foi parafraseada como: ■ Propagação da fé. ■ Expansão do reinado de Deus. ■ Conversão dos pagãos. ■ Fundação de novas igrejas. Ainda assim, todas essas conotações associadas à palavra “Missão”, por mais fami- liares que sejam, são de origem bastante recente. Até o século 16, o termo era usado exclusivamente com referência à doutrina da Trindade, isto é, ao envio do Filho pelo Pai e do Espírito Santo pelo Pai e pelo Filho. Os jesuítas foram os primeiros a usá-lo em termos da difusão da fé cristã entre pessoas (incluindo protestantes) que não eram membros da Igreja Católica. Nessa nova acepção, ele estava intimamente associado à expansão colonial do mundo ocidental no que, mais recentemente, se tornou conhecido como Terceiro Mundo (ou, às vezes, Mundo dos Dois Terços). Resumidamente, temos, então, que o termo “missão” pressupõe alguém que envia, uma pessoa ou pessoas enviadas por quem envia, as pessoas para as quais alguém é enviado e uma incumbência. Toda a terminologia pressupõe, assim, que quem envia tem a autoridade para fazer isso. Com frequência, sustentava- -se que quem realmente enviava era Deus, que tinha a incontestável autoridade de decretar que pessoas sejam enviadas para executar Sua vontade. Na prática, entretanto, a autoridade era entendida como sendo conferida à Igreja ou a uma sociedade missionária, ou mesmo a um potentado cristão. Nas missões católicas romanas, em particular, a autoridade jurídica permaneceu sendo, durantemuito tempo, o elemento constitutivo da legitimidade do empreendimento missionário. Fazia parte de toda essa abordagem conceber a missão em termos de expansão, ocupação de campos, conquista de outras religiões e coisas semelhantes. Projeto Missionário: é entendido como o conjunto de esforços, métodos e estratégias para levar adiante a Missão; envolve a parte técnica e operacional e a discussão do alvo. O Que é Missão Cristã? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 O QUE É MISSÃO CRISTÃ? Gosto da definição de Hermann Brandt (2006, p. 37), quando diz: minha definição é muito singela: missão é impulso para a transforma- ção. Trata-se de uma definição propositalmente minimalista, oriunda da perspectiva externa. Embora ela não baste para a concepção de Mis- sio Dei (sem excluí-la, entretanto), não se expõe à crítica de que missão seria exclusivamente proselitismo ou colonialismo. Antes, tal redução da compreensão de missão presta-se para incluir a múltipla e recíproca influência, distanciamento, adoção e transformação, os quais, muitas vezes, são excluídos ao se preconizar ou repudiar uma “ordem” autori- tativa de fazer missão. A Missão Cristã teve um desdobramento histórico importante que vale a pena ser percebido: “até o século XVI, o termo missão era usado para a Trindade, referindo-se ao ato do Pai enviar o Filho e, do Pai e o Filho enviarem o Espírito Santo. A conotação era compreendida no sentido da Missio Dei” (BOSCH, 2002, p. 17). A partir daí, uma nova conotação emergiu, no entanto, hoje, o conceito começa a ser visto, uma vez mais, como Missio Dei. Como já visto, Missão é um atributo divino. Esse conceito difere do que tradicionalmente era aceito, ou seja, a propagação do cristianismo, historicamente falando: especialmente a partir do século XVIII, se concebia a missão essen- cialmente em termos geográficos: era quase sempre um cruzamento de fronteiras geográficas com o propósito de levar o evangelho [...] para os “campos missionários” do mundo não-cristão (os países pagãos). (PA- DILLA, 1982, p. 14) Os Jesuítas usavam o termo para descrever a ação da Igreja Católica em difun- dir sua fé entre os que não pertenciam ao seu redil. No último século, a ideia de missão caminhou para o conceito de Missio Dei, pois não existe missão desli- gada de Deus e tudo o que a igreja faz emana da ação de envio de Deus, o Pai, Deus, o Filho, e Deus, o Espírito Santo. Dessa forma, missão e Missio Dei tornam- -se sinônimas, contudo a expressão missão é, por vezes, utilizada para referir-se à Missio Ecclesiae (Missão da Igreja). Esse sentido só é real na concepção do comissionamento da Igreja por parte do Deus trino: MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 Deus, o Pai, enviou o Filho, e o Filho é ambos, o Enviado e o Enviador. Juntos, o Pai e o Filho enviam o Espírito Santo, que, por sua vez, envia a Igreja, congregações, apóstolos e servos, colocando sobre eles a obri- gação de cumprir seu trabalho. (BOSCH, 2002, p. 20). A Missio Ecclesiae nada mais é do que a Missio Dei: “Deus não tem uma missão para a sua Igreja, mas uma Igreja para a Sua missão” (BOSCH, 2002, p. 23). Aqui, pode-se destacar outra ênfase que surgiu na conferência de Willingen e poste- rior conferência da Cidade do México, que relacionou a Missio Dei e a Missio Ecclesiae e afirmou que “não há participação em Cristo sem participação em sua missão” (BOSCH, 2002, p. 23). A Missio Ecclesiae, como o recebimento do “envio”, da Missio Dei, ficou clara nas palavras de Cristo em João 20.21 – “Disse- lhes, pois, Jesus, outra vez: paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”. As palavras de Jesus evidenciam que Missão é participar do envio de Deus entendido em seu ministério trinitário, cujo fundamento é o amor por toda a humanidade, revelado cabalmente na encarnação de Jesus de Nazaré. Ele é o centro do envio de Deus e a Missão que lhe corresponde segue os seus passos. Nesse sentido, missão é, antes, uma ação divina do que da Igreja. O fato é que a Igreja não tem uma Missão em si, mas diante da entrada do pecado e do processo deformativo que esse trouxe ao mundo, Deus concedeu ao ser humano, em Sua bondade e misericórdia, o privilégio de participar e se envol- ver em Sua missão, a Missio Dei. Assim, “missão é manifestar o amor do Reino de Deus, como compartilhado em Cristo, no poder do Espírito Santo, através de palavras e obras com vistas à transformação, à restauração integral de toda a criação, para a glória divina” (BARRO, 2008, on-line)1. Missão Cristã pressupõe presença e diálogo, deve ser caracterizada pela ida do cristão até a(s) pessoa(s) que necessita(m) ouvir(em) e receber(em) o Salvador Jesus e marcada por uma clara comunicação do propósito de salvação oferecida por Deus. Crendo que o missionário não está sozinho em Missão, pois o Senhor Jesus prome- teu estar presente (Mateus 28.20) e há, também, a presença ativa do Espírito Santo. 7 Mas eu lhes afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei. 8 Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. 9 Do pecado, porque os homens não crêem em mim; 10 da justiça, por- que vou para o Pai, e vocês não me verão mais; 11 e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado. (João 16.7-11) O Que é Missão Cristã? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Missão Cristã pressupõe, ainda, serviço, foi assim que nos ensinou o Senhor Jesus, uma vez que Ele mesmo mostrou que veio para servir e não para ser servido. [...] Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, 27 e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; 28 como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. (Mateus 20.26,27). Nas palavras de Jesus, é maior quem serve mais e não quem é mais servido. 12 Quando terminou de lavar-lhes os pés, Jesus tornou a vestir sua capa e voltou ao seu lugar. Então lhes perguntou: “Vocês entendem o que lhes fiz? 13 Vocês me chamam ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e com razão, pois eu o sou. 14 Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. 15 Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz. 16 Digo-lhes verdadeira- mente que nenhum escravo é maior do que o seu senhor, como também nenhum mensageiro, é maior do que aquele que o enviou. 17 Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem. (João 13.12-17). E, para servir, é preciso ter disposição para amar, visto que o amor é a base fun- damental do serviço e de todas as virtudes espirituais (Gálatas 5.22,23). O amor está na base do intuito remidor de Deus, 16 Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele. (João 3.16,17). E é esse amor que deve nos inspirar e fazer com que nos comprometamos em ir até as pessoas como embaixadores de Cristo em missão. 16 De modo que, de agora em diante, a ninguém mais consideramos do ponto de vista humano. Ainda que antes tenhamos considerado Cristo dessa forma, agora já não o consideramos assim. 17 Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! 18 Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, 19 ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confioua mensagem da reconciliação. 20 Portanto, somos embaixado- res de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus. (II Coríntios 5.16-20). MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 No intuito de apresentar o que é a Missão Cristã, recorro a David J. Bosch (2002, p. 26), em seu livro “Missão Transformadora”, em que, logo no início, oferece uma definição “provisória”, seguem os 13 pontos por ele apresentados: 1. Proponho que a fé cristã é intrinsecamente missionária. Um elemento distintivo das religiões missionárias, em contraposição às ideologias mis- sionárias, é que todas elas “aderem a algum grande ‘desvelamento’ da verdade última que creem ser de significação universal” (BOSCH, 2002, p. 189). Ainda, a fé cristã, por exemplo, vê todas as gerações da terra como objetos da vontade salvífica e do plano de salvação de Deus, ou, em termos ne- otestamentários, considera o reinado de Deus que veio em Jesus Cristo como destinado a toda a humanidade. (BOSCH, 2002, p. 189). Essa dimensão da fé cristã não é um extra opcional: o cristianismo é missioná- rio por sua própria natureza, ou nega sua própria razão de ser. 2. A missiologia, como ramo da disciplina da teologia cristã, não é um empre- endimento desinteressado ou neutro; ela procura, antes, olhar o mundo a partir da perspectiva do compromisso com a fé cristã. Tal abordagem não sugere uma ausência de exame crítico. Na verdade, precisamente por causa da missão cristã, será necessário submeter toda definição e toda manifes- tação da missão cristã a uma análise e avaliação rigorosa. 3. Por conseguinte, nunca podemos arrogar-nos delinear a missão com excessiva nitidez e autoconfiança. Em última análise, a missão perma- nece indefinível; ela nunca deveria ser encarcerada nos limites estreitos de nossas próprias predileções. O máximo que podemos esperar é for- mular algumas aproximações do que a missão significa. 4. A missão cristã dá expressão ao relacionamento dinâmico entre Deus e o mundo, particularmente à maneira como ele foi retratado, primeiro, na história do povo do pacto, Israel, e, então, de modo supremo, no nasci- mento, vida, morte, ressurreição e exaltação de Jesus de Nazaré. 5. A Bíblia não deve ser tratada como um depósito de verdades às quais poderíamos recorrer aleatoriamente. Não há “leis de missão” imutáveis e objetivamente corretas às quais a exegese da Escritura nos daria acesso e que nos proporcionariam esquemas que pudéssemos aplicar em cada O Que é Missão Cristã? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 situação. Nossa prática missionária não é realizada em continuidade inquebrantada com o testemunho bíblico; ela é um empreendimento intei- ramente ambivalente executado no contexto da tensão entre providência divina e confusão humana (BOSCH, 2002). O envolvimento da igreja na missão permanece um ato de fé sem garantias terrenas. 6. Toda a existência cristã deve ser caracterizada como existência missio- nária, ou, nas palavras do II Concílio Vaticano, “a igreja peregrina é por sua [própria] natureza missionária”. À luz disso, é tautológico falar de um “evangelho universal”. A igreja começa a ser missionária não por meio de sua proclamação universal do Evangelho, mas por meio da universa- lidade do Evangelho que ela proclama. 7. Teologicamente falando, “missões no exterior” não é uma entidade sepa- rada. A natureza missionária da igreja não depende simplesmente da situação na qual ela se encontra em dado momento, mas está baseada no próprio Evangelho. A justificação e a fundamentação das missões no exterior, bem como das missões no próprio país, residem na universali- dade da salvação e na indivisibilidade do reinado de Cristo. A diferença entre missões no exterior e no próprio país não é uma diferença de prin- cípio, mas de alcance. Temos, pois, de repudiar a doutrina mística da água salgada, isto é, a ideia de que viajar para países estrangeiros consti- tui a condição sine qua non de qualquer empenho missionário e o teste e critério final do que seja verdadeiramente missionário. A publicação de Godin e Daniel (1943) foi o primeiro estudo sério que destruiu o “mito geográfico” (Bridston) da missão: ela provou que também a Europa era um “campo de missão”. Esse livro, porém, não foi longe o suficiente. Ao conceito de missão como primeira pregação do Evangelho às pessoas pagãs, ele simplesmente acrescentou a ideia de missão como reapresenta- ção do Evangelho a pessoas neopagãs. Ainda definia a missão em termos de seus destinatários, não em termos de sua natureza, e propunha que a missão está cumprida assim que o Evangelho tenha sido (re)apresentado a um grupo de pessoas (BOSCH, 2002). 8. Temos de distinguir Missão (no singular) de Missões (no plural). O pri- meiro conceito designa primordialmente a Missio Dei (missão de Deus), isto é, a autorrevelação de Deus como Aquele que ama o mundo, o envol- vimento de Deus no e com o mundo, a natureza e atividade de Deus, que compreende tanto a igreja quanto o mundo, e das quais a igreja tem o MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 privilégio de participar. Missio Dei enuncia a boa nova de que Deus é o Deus para às/pelas pessoas. Missões (as missiones ecclesiae [“missões da igreja”]: os empreendimentos missionários da igreja) designa formas par- ticulares, relacionadas com tempos, lugares ou necessidades específicos, de participação na Missio Dei . 9. A tarefa missionária é tão coerente, ampla e profunda quanto o são a necessidade e as exigências da vida humana. Várias conferências missio- nárias internacionais têm formulado isso desde os anos 50, como a igreja inteira levando o Evangelho inteiro ao mundo inteiro. As pessoas vivem em uma série de relações integradas, portanto divorciar a esfera espiritual ou pessoal da esfera material e social é indicativo de uma antropologia e sociologia errônea. 10. Segue-se do que foi dito anteriormente que a Missão é o “sim” de Deus ao mundo. Quando falamos de Deus, isso já implica o mundo como teatro da atividade divina. O amor e a atenção de Deus dirigem-se primordialmente ao mundo, e a missão é “participação na existência de Deus no mundo”. Em nossa época, o sim de Deus ao mundo revela-se, em grande medida, no engajamento missionário da igreja no tocante às realidades de injus- tiça, opressão, pobreza, discriminação e violência. Encontramo-nos em grau crescente em uma situação verdadeiramente apocalíptica, em que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres, e onde a violência e a opressão tanto da direita quanto da esquerda estão aumentando. A igreja em Missão não pode cerrar os olhos a essas realidades, já que o padrão da igreja no caos de nossa época é completamente político. 11. A missão inclui a evangelização como uma de suas dimensões essenciais. Evangelização é a proclamação da salvação em Cristo às pessoas que não creem n’Ele, chamando-as ao arrependimento e à conversão, anunciando o perdão do pecado e convidando-as a tornarem-se membros vivos da comunidade terrena de Cristo e a começarem uma vida de serviço aos outros no poder do Espírito Santo. O Que é Missão Cristã? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 12. Missão também é o “não” de Deus ao mundo. Sugeri que missão é o “sim” de Deus ao mundo. Isso foi proposto na convicção de que há uma continuidade entre o reinado de Deus, a missão da igreja e justiça, paz e integridade na sociedade e de que a salvação também tem a ver com o que acontece às pessoas neste mundo. Ainda assim, o que Deus nos pro- porcionou em Jesus Cristo e o que aigreja proclama e corporifica em sua Missão e evangelização não é simplesmente uma afirmação ou ratifica- ção do melhor que as pessoas podem esperar neste mundo em termos de saúde, liberdade, paz e libertação de carência. O reinado de Deus é mais do que o progresso humano no plano horizontal. Assim, se, por um lado, sustentamos o “sim” de Deus ao mundo como expressão da solida- riedade cristã com a sociedade, também temos de confirmar a missão e evangelização como o “não” de Deus, como expressão de nossa oposição e conflito com o mundo. Nem uma igreja secularizada (isto é, uma igreja que se preocupa apenas com atividades e interesses deste mundo), nem uma igreja separatista (isto é, que só se envolve em salvar almas e prepa- rar os convertidos para o além) podem articular fielmente a Missio Dei. 13. A igreja em missão pode ser descrita em termos de sacramento e sinal. Ela é um sinal no sentido de indicação, símbolo, exemplo ou modelo; é sacramento no sentido de mediação, representação ou antecipação. Não é idêntica ao reinado de Deus, mas também não deixa de estar relacionada com ele; é “um antegosto de sua vinda, o sacramento de suas antecipações na história”. Vivendo na tensão criativa de, ao mesmo tempo, ser chamada para fora do mundo e ser enviada ao mundo, ela é desafiada a ser o jar- dim experimental de Deus na terra, um fragmento do reinado de Deus, tendo “as primícias do Espírito” (Romanos 8.23) como penhor do que há de vir (II Coríntios 1.22). Resumindo, missão é a Igreja em movimento, é marca e comprovante de vitali- dade da Igreja, porque uma Igreja morta é aquela que deixa de ser missionária. ©shutterstock MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 MISSÃO CRISTÃ - OBJETIVO Caro(a) aluno(a), o objetivo da Missão Cristã é, primordialmente, a salvação da humanidade em todos os seus aspectos. A missão não pode ser nada menos que a continuação da atividade redentora de Deus mediante a publicação dos fatos da salvação. Essa é a sua autoridade maior e sua comissão suprema. Deus nos envia a dar continuidade na história da salvação, a história da Missio Dei. A meta da Missão Cristã não é simplesmente uma salvação individual, pessoal, nem sequer espiritual; é a realização da esperança da justiça, da socialização de toda a humanidade e da paz do mundo. Esse outro aspecto de reconciliação com Deus pela realização da justiça foi descuidado pela Igreja. A Igreja deve trabalhar por essa realização, baseada na esperança futura, como escreveu Moltmann (2009, on-line)3. A Missão Cristã deve estar intimamente relacionada ao propósito divino e universal, propósito esse enfatizado por Jesus. Sendo assim, o objetivo da Missão Cristã é produzir não somente discípulos, mas também trazer de volta ao Pai Seus filhos, para que sejam transformados, dia a dia, segundo a imagem do Filho de Deus e possam se transformar em pro- clamadores das palavras de salvação a outros. Conforme Efésios 4.13, “até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. O Que é Missão Cristã? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 A obediência à Missão Cristã precisa se tornar efetivamente a forma de viver da Igreja, consequentemente, a forma de viver de cada cristão, pois não pode haver objetivo maior do que cumprir com excelência o chamado de Deus na vida, anun- ciar o Evangelho da salvação e buscar uma vida reta diante de Deus e dos homens. O que se entende, então, como objetivo/finalidade da Missão é: fazer dis- cípulos de (e para) Jesus e isso significa comunicar o Evangelho e oportunizar preparo para as pessoas reconhecerem a ação de Deus a fim de que amadureçam em sua fé e também se envolvam e participem da Missão, isso em uma ação de amor e promoção da pessoa. Não é simplesmente ir atrás de “adeptos”, é, na rea- lidade, buscar alcançar pessoas para o Reino de Deus que cooperarão conosco com a implantação diária do Seu Reino. Não podemos perder de vista a questão de que o Deus cristão é o Deus missionário, que trabalha e age por nós e pelo mundo. Tudo que se deve fazer na Igreja também deve ser feito em função da Missão. Isso significa dizer que a Missão é Missão de Deus, Ele é sempre o maior interessado, e Sua Missão é estabelecer o Seu Reino. O Reino de Deus se expande maravilhosamente em uma progressão incrí- vel, o que Ele disse uma vez restrito aos israelitas: 5 Agora, se me obedecerem fielmente e guardarem a minha aliança, vo- cês serão o meu tesouro pessoal dentre todas as nações. Embora toda a terra seja minha, 6 vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. Essas são as palavras que você (Moisés) dirá aos israelitas. (Êxodo 19.5,6). A partir de Cristo, diz a todos nós: 9 Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. 10 Antes vocês nem sequer eram povo, mas agora são povo de Deus; não haviam recebido misericórdia, mas agora a receberam. (I Pedro 2.9,10). Desde o começo da história e até o fim dos tempos, Deus age para salvar o mundo e Sua ação mais contundente foi o envio de Seu Filho Jesus para libertar e sal- var. Conforme Lucas 19.10: “pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido”. ©shutterstock MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 MOTIVAÇÃO NA MISSÃO CRISTÃ Neste tópico, entendo ser muito significativa a questão da motivação, especialmente, em relação à forma de agir da Igreja primitiva e a partir dela. A motivação evangelística, o cumprimento da Missão, seja na Igreja primitiva, seja na igreja cristã de hoje, deve ser sempre a Pessoa do Senhor Jesus Cristo, Seu amor e a Missão que nos outorgou. Seu amor nos constrange e deve nos impulsionar a darmos passos em direção ao perdido, levando-o a compreen- der a necessidade de se reconciliar com Deus. O QUE PODEMOS ENTENDER SOBRE MOTIVAÇÃO? Motivação é um dos mais importantes processos que explicam a conduta humana. Pode ser definida como uma ação dirigida a objetivos, sendo autorregulada, bio- lógica, cognitiva e espiritualmente. Define-se pelo desejo de exercer altos níveis de esforço em direção a determinados objetivos. Há quem diga, em um jogo de palavras, que motivação seja o “motivo da ação”, isto é, qual a razão/motivo que está por trás da ação? O que impulsiona tal ação? Em nossa opinião, quem melhor respondeu a essas questões foi o apóstolo Paulo em sua carta aos Filipenses (2.1- 11, grifos do autor): 1 Se por estarmos em Cristo nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão, 2 completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude. 3 Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. 4 Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. 5 Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, 6 que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia ape- Motivação na Missão Cristã Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 41 gar-se; 7 mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. 8 E, sendo encontrado em forma humana, hu- milhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! 9 Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joe- lho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 etoda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. O motivo da ação evangelística não pode, de maneira alguma, ser a ambição ego- ísta ou a vaidade (muitas vezes, percebemos o quanto isso motiva alguns: igrejas maiores, mais recursos, maior reconhecimento pessoal etc.). Paulo escreve que devemos aprender com o Senhor Jesus, em Sua humildade e obediência, agindo para a glória de Deus. O apóstolo Paulo como exemplo de motivação no ministério. Não só no apóstolo Paulo, mas na grande maioria dos cristãos do primeiro século, percebe-se grande motivação em relação à comunhão, unidade, evange- lização/missão e obediência à Palavra de Deus. A motivação de Paulo não era o sofrimento, como alguns inadvertidamente pensam. O sofrimento acontecia como algo para desmotivá-lo, mas vencia a des- motivação com a fé, a convicção de seu chamado e a certeza da volta de Cristo, exemplo disso, temos no que escreveu para Timóteo (1.11-12): 11 Deste evangelho fui constituído pregador, apóstolo e mestre. 12 Por essa causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o que lhe confiei até aquele dia. Tanto em Paulo como nos primeiros cristãos, havia uma grande motivação, um grande entusiasmo para cumprirem a Palavra do Senhor. Estes cristãos eram homens e mulheres de todos os níveis e posições na sociedade, de todos os lugares do mundo conhecido, tão convictos de que eles tinham descoberto a chave para o enigma do universo, com tanta certeza de que conheciam o único Deus verdadeiro, que nada os impedia de transmitir as boas novas a outras pessoas (...). Podiam ser desprezados, ridicularizados, privados dos seus direitos, roubados em seus bens, suas casas, até em suas famílias, nada os deti- nha. Podiam ser caluniados diante das autoridades como ateus perigo- sos, ser obrigados a sacrificar aos deuses imperiais – eles se recusavam a transigir (chegar a um acordo, negociação) (...). MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E42 No cristianismo tinham encontrado algo totalmente novo, autêntico e satisfatório. Eles não estavam dispostos a negar a Cristo, mesmo diante da opção de perder a vida e até pelo seu estilo de morte faziam conver- tidos à sua fé. (GREEN, 1984, p. 79). O versículo 24 corre o risco de ser mal compreendido, quando Paulo diz que “completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo”, exige de nós cuida- dos nessa leitura, pois de forma alguma o apóstolo está dizendo que a morte de Cristo foi insuficiente, nem que de algum modo, ele fez a obra de redenção com Cristo, mas está expressando a ideia de que um cristão, especialmente um líder, suportará os sofrimentos que Jesus estaria suportando (humanamente falando), se ainda estivesse no mundo, isso porque Cristo disse aos Seus discípulos que, se o mundo o odiasse (como se mostrou de fato), também odiaria Seus discípu- los. Caso as pessoas o perseguissem, elas também perseguiriam Seus seguidores: 18 Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou. 19 Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia. 20 Lembrem-se das palavras que eu lhes disse: Nenhum escravo é maior do que o seu senhor. Se me per- seguiram, também perseguirão vocês. Se obedeceram à minha palavra, também obedecerão a de vocês. 21 Tratarão assim vocês por causa do meu nome, pois não conhecem aquele que me enviou. (João 15.18-20). O apóstolo Paulo acreditava que estava sofrendo as aflições que Deus permitia que ele sofresse e, na segurança de que estava sempre nas mãos de Deus, via suas tribulações como momentos de alegria e fortalecimento de sua fé, não por “gos- tar” do sofrimento, mas por entender que Deus trata com Seus filhos (Hebreus 12.5-8). Já em Romanos (8.16-17) 16 O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus. 17 Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória. Sobre esse tema, escreveu ainda o apóstolo Paulo: 27 Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, para que assim, quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica, 28 sem de forma alguma deixar-se intimidar por aqueles ©shutterstock Motivação na Missão Cristã Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 que se opõem a vocês. Para eles, isso é sinal de destruição, mas para vocês, de salvação, e isso da parte de Deus; 29 pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele, 30 já que estão passando pelo mesmo combate que me viram enfrentar e agora ouvem que ainda enfrento. (Filipenses 1.27-30). Qual era o segredo de tal fervor nas ações evangelísticas da Igreja Primitiva? Qual a motivação no cumprimento da Missão? Para oferecermos uma resposta a essas questões, recorremos a Green (1984), em sua obra “Evangelização na Igreja Primitiva”, na qual o autor resume, em pelo menos três aspectos, três sen- timentos que norteavam as ações e, sem dúvida, eram a motivação para cumprir o chamado do Senhor. 1. O sentimento de gratidão. 2. O sentimento de responsabilidade. 3. O sentido de preocupação. O sentimento de gratidão O que os motivava não era um dever social, não eram razões humanitárias ou benefi- centes, o que os movia era a experiência extraordinária do amor de Deus que Jesus Cristo lhes proporcionara. A descoberta de que a maior força do universo era o amor, e que esse amor tinha descido ao ponto mais baixo da auto-humilhação para o bem e salvação da humanidade, e descobrir isso provocou um efeito enorme sobre os que creram que nada podiam remover. Paulo entendeu isso e foi despertado nele um imenso sentimento de gratidão, sua vida de amor e autossacrifício na causa do Evangelho mostram com que profundidade este amor o tinha dominado e agora motivado. MISSÃO CRISTÃ Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E44 Gálatas 2.20 – “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. 1 Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, 2 por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. 3 Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribu- lações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; 4 a per- severança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. 5 E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu. 6 De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios. 7 Dificilmente haverá alguém que morra por um justo, embora pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. 8 Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. 9 Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por meio dele, seremos salvos da ira de Deus! 10 Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido re- conciliados, seremos salvos por sua vida! 11 Não apenas isso, mas tam- bém nos gloriamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação. (Romanos 5.1-11). E ainda: 11 Irmãos, quero
Compartilhar