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FACULDADE DOM ALBERTO BIOFÍSICA SANTA CRUZ DO SUL – RS 2 1 INTRODUÇÃO À BIOCÚSTICA A acústica é a parte da Física responsável pelo estudo dos sons. Aqui, vamos dar ênfase às propriedades sonoras que mais interessam no âmbito da Biologia e, por isso, vamos chamar, a partir de agora, o conteúdo de Bioacústica. Nesta unidade estudaremos os fenômenos ondulatórios envolvidos em diversos processos, como, por exemplo, no de eco localização; estudaremos também a biofísica da fonação e da audição, bem como a biofísica dos ultrassons (aplicações e consequências). O som em si não é um fenômeno físico, mas sim biológico. O som nada mais é do que a interpretação das ondas sonoras pelo cérebro. Assim, o mais comum é confundir o termo som com ondas sonoras. Nas ondas sonoras, as moléculas do meio vibram na mesma direção em que o som se propaga. Essa característica nos permite classificar as ondas sonoras como ondas longitudinais. Uma onda sonora se forma quando as moléculas de um dado meio são forçadas a mudar a sua posição. Ao mudarem de posição elas comprimem as moléculas imediatamente à sua frente e, do lado oposto ao sentido do deslocamento, elas criam uma zona de baixa pressão. Isso acaba por criar um gradiente de pressão necessário para a propagação do som. É por esse motivo que o som não se propaga no vácuo, pois nele não existem moléculas. Após determinado tempo, todas as moléculas passam a possuir velocidades iguais. Isso nos leva a classificar as ondas sonoras como periódicas. Osciladores harmônicos são sistemas capazes de oscilar indefinidamente, sempre apresentando o mesmo período. Entretanto, não existe um oscilador harmônico ideal, pois a força de atrito impede tal fato. AULA 11 A 20 ialys Realce 3 A imagem acima mostra o registro gráfico unidimensional ou estrutura de uma onda. A região mais superior de uma onda é chamada de crista e a mais inferior é chamada de vale. Define-se como comprimento de onda (λ) a distância entre duas cristas consecutivas. A distância entre o eixo médio (linha tracejada) e a crista ou vale é conhecida como amplitude (a). Podemos ainda definir os termos freqüência e período. Por frequência (f) entende-se o número de ciclo da onda em um determinado intervalo de tempo e por período (T) a duração de apenas um ciclo. Podemos relacionar esses termos de acordo com as seguintes equações: Onde as unidades no Sistema Internacional (SI) são: v = m/s λ = metros T = segundos f = Hz (hertz) As ondas sonoras necessitam de um meio elástico para se propagar. Entende- se por meio elástico o meio no qual a sua forma inicial é recuperada após ser deformada. A velocidade do som depende do meio no qual ele está se propagando. No ar, o som se propaga com velocidade de 340 m/s e na água sua velocidade é de 1.414 m/s. 4 Para continuarmos o estudo da Bioacústica, devemos ainda definir as qualidades fisiológicas do som. Essas qualidades são, para os biólogos, muito importantes, uma vez que os animais emitem sons de diferentes maneiras. Assim, os ornitólogos, por exemplo, utilizam gravações dos cantos das suas aves de estudo para determinar a espécie, período de acasalamento, entre outras coisas. Altura: diz respeito à frequência do som. Por meio dela podemos classificar os sons como graves (baixa frequências) ou agudos (alta frequência). Diferentes animais captam diferentes frequências sonoras. Assim, existem sons que não podem ser ouvidos por humanos, mas o são por outra espécie animal, sendo o inverso também verdadeiro. O ouvido humano consegue captar frequências no intervalo entre 16 Hz e 17.000 Hz (ou 17 kHz). Entretanto, esses limites variam de acordo com a idade e com o próprio indivíduo. Assim, classificamos como infrassons os sons que possuem frequência menor que 16 Hz, e como ultrassons os sons que possuem frequência maior que 17 kHz. Na aula 10 entraremos em mais detalhes sobre a audição humana. Intensidade: é a qualidade dos sons que os permitem serem percebidos a determinadas distâncias. Assim, sons fracos são captados a pequenas distâncias e sons fortes a distâncias relativamente maiores. A intensidade sonora pode ser calculada de acordo com a equação: Onde I é a intensidade sonora, P é a potência e S é a área da secção transversal. Como P é dado em W (watts) e S em metros quadrados (m2), a unidade da intensidade sonora obtida pela equação acima é W/m2. Em relação a capacidade auditiva, os sons mais fracos (menos intensos) percebidos são chamados de I0. Dessa forma, para se calcular a intensidade sonora de acordo com o som mais fraco, usamos a equação: 5 Onde β é a intensidade sonora em dB (decibel), I é a intensidade e I0 a intensidade do som mais fraco audível. Para humanos, I0 = 10-12 W.m-2. Timbre: é a qualidade do som que nos permite identificar dois instrumentos (fontes sonoras) distintos produzindo sons na mesma altura e intensidade. É dessa maneira que conseguimos diferenciar o mesmo som produzido por um violão e uma guitarra, por exemplo. O timbre depende dos sons secundários (chamados sons harmônicos), os quais acompanham o som principal. 2 FENÔMENOS ONDULATÓRIOS Na aula anterior estudamos as qualidades dos sons. Aprendemos a calcular a intensidade sonora por meio de duas equações diferentes e fizemos uma breve explanação sobre a audição humana. Nesta aula, trataremos de alguns fenômenos ondulatórios de importância biológica. Inicialmente, faremos uma definição dos termos e, em seguida, discutiremos os fenômenos. Ressonância No Universo existem diversas formas de se transmitir informações. Embora objetos separados fisicamente pareçam ser entidades totalmente independentes, existe uma forma na qual ocorre uma interação entre eles, mesmo à distância. Essa forma é conhecida como ressonância. Assim, ressonância é, no sentido amplo da palavra, a transferência de energia de um sistema em oscilação para outro sistema que não está em oscilação. No momento em que um desses sistemas passa a oscilar com a mesma frequência do outro, dizemos que esses dois sistemas estão em ressonância. Esse fenômeno tem diversas aplicações na área biológica, como, por exemplo, a ressonância magnética nuclear, onde um sistema é posto sob um intenso campo 6 magnético em que as frequências das ondas são iguais às dos núcleos que se quer estudar, geralmente os núcleos 1H da água. Dessa forma, os sistemas acabam por absorver energia de acordo com a quantidade de água existente em sua composição, formando uma imagem dos gradientes de concentração encontrados. Refração Define-se como refração quando uma onda passa de um meio para outro, nos quais as velocidades de propagação das ondas são diferentes. Um exemplo que pode ser utilizado é quando uma onda que se propaga na superfície da água passa a se propagar em regiões em que a profundidade aumenta. Nas regiões mais profundas a onda se propaga com velocidade maior. Assim, a relação entre o ângulo de incidência e a velocidade de propagação nos meios pode ser calculada por: A relação é igual aos índices de refração dos meios. Podemos dizer que: Pelo exposto acima, podemos concluir que a velocidade da onda no meio 2 é menor do que a velocidade no meio 1 e, portanto, a onda inclina-se em relação à superfície de separação. Isso pode ser facilmente observado nas ondas do mar observadas em uma praia. A onda que chega à praia tem sua velocidade diminuída constantemente, pois ela se move no sentido onde a praia fica cada vez mais rasa. Reflexão A reflexão de ondas tem um significado especial para alguns seres vivos. Por meio delas eles podem rastrear seu meio, o que é fundamental para sua sobrevivência. Os 7 animais que usam a reflexão de ondas como forma de localização incluem osmorcegos, golfinhos e baleias. Biologicamente, esse fenômeno de localização por meio de reflexão de ondas é conhecido como ecolocalização. Vamos tomar como exemplo os morcegos. Esses animais possuem hábitos noturnos, sendo que durante o dia eles dormem pendurados pelos pés. Os morcegos emitem ultrassons (frequências muito altas) em torno de 20 a 215 kHz pelas narinas ou pela boca, dependendo da espécie. Essas ondas sonoras atingem os objetos à volta do morcego e são refletidas por eles, retornando ao animal. Assim, com base no tempo que o som demorou a retornar ao animal ele consegue saber a distância, e, portanto, a posição de um dado objeto. Embora o termo ecolocalização possui um sufixo eco-, este denota a palavra eco (do verbo ecoar) e, portanto, podemos definir o sentido da palavra como orientação através do eco. A frequência das ondas emitidas varia de espécie para espécie e sua eficiência também. Os animais que possuem uma eficiência maior na ecolocalização são os animais insetívoros, como os próprios morcegos que são capazes de capturar sua presa em pleno voo na total escuridão. Já os golfinhos são capazes de emitir ultrassons subaquáticos na frequência de 150 kHz sob formas de estalidos. Esses sons são emitidos por um órgão localizado no alto da cabeça desses animais chamados sacos nasais ou sacos aéreos. Provavelmente, uma 8 ampola cheia de óleo chamada espermacete seja a responsável por controlar, amplificar e enviar os sinais para frente. Ao retornar (eco), o som é captado por um grande órgão adiposo localizado no seu maxilar inferior (mandíbula), sendo transmitido para a orelha interna e, a seguir, para o cérebro. Um outro som só será emitido novamente quando o eco do primeiro for interpretado pelo cérebro. Fonte: depositphotos.com A figura acima, demonstra que quanto mais próximo do objeto o animal estiver mais rapidamente os sons serão emitidos. Com a continuidade desse processo, os golfinhos conseguem identificar a distância e a velocidade do objeto, podendo segui-los. 3 BIOFÍSICA DA FONAÇÃO Na aula anterior conhecemos um meio de comunicação entre alguns animais e seu meio por intermédio de sons produzidos por eles. Nesta aula, vamos estudar como os sons são produzidos pelo homem. A fala é o meio de comunicação mais avançado entre todos os existentes. Por meio dela o homem é capaz de interagir com o seu meio, com as outras pessoas e com ele 9 próprio. Durante a evolução, surgiram mutações em um gene identificado como FOX, as quais possibilitaram a fonação. Obviamente que o processo não é tão simples dessa maneira, mas não cabe aqui maiores explanações a respeito da origem evolutiva da fala, uma vez que esse é um assunto extenso e extremamente específico. Biofisicamente, compreende-se como fonação não apenas a fala em si, mas todos os sons emitidos pelo aparelho fonador humano. Dentre esses outros sons podemos citar o choro, o riso, a tosse, o espirro, o grito etc. A produção da voz pelas pregas vocais é completamente diferente daqueles sons produzidos por instrumentos musicais de cordas (ex. violino, violão, guitarra) ou por instrumentos vibrantes (ex. tambor). Neles, o som é produzido pelas variações de pressões que eles produzem no meio que os circunda. Já a produção da voz é dada pela fragmentação da corrente aérea respirada. Entretanto, os sons vocálicos são produzidos através de interrupções sucessivas na coluna de ar que se movimenta pelo trato respiratório, como ocorre, por exemplo, nos instrumentos de sopro (ex. saxofone, trompete). A vibração das cordas vocais sofre interferência de vários fatores, como, por exemplo, o gradiente de pressão entre as superfícies superior e inferior das cordas vocais, tensão e elasticidade das pregas vocais e o efeito Venturi. A qualidade dos sons produzidos pelas cordas vocais é influenciada pelos elementos móveis que compõem o aparelho fonador humano. Esses elementos móveis são responsáveis pela capacidade de que algumas pessoas têm em cantar melhor do que outras. Essa capacidade é decorrente, em parte, da geometria desses elementos. Além disso, as cavidades ressonantes (ex. boca, nariz, caixa torácica etc.) e também a massa das pregas vocais influem na tonalidade da voz. Em relação à massa das cordas vocais sabe-se que o hormônio testosterona promove o seu aumento além de desenvolver a região da laringe. Durante o crescimento, a laringe passa a se tornar maior e sua posição fica mais baixa contribuindo para o fato de a voz em adultos ser mais grave do que em crianças. Como estudado na aula anterior, a ressonância tem um papel importante na biofísica da fonação. Os sons que são gerados na laringe são modificados na laringe, bem como na boca e na cavidade nasal. Como essas estruturas possuem uma geometria variável e complexa elas podem ressonar diversos espectros de frequências. Para se ter uma ideia, as cavidades nasal, faríngea, laríngea e bucal atuam como sistemas ressonadores na faixa 10 entre 300 a 500 Hz. Outras estruturas, como os brônquios grossos (diâmetro acima de 3 mm), ressoam com frequências entre 1000 e 1700 Hz. Como pode se notar, o volume das estruturas pode alterar as qualidades dos sons. Isso é notado quando se observam pacientes com hipertrofia das amígdalas (agora chamadas tonsilas faríngeas) e tumores localizados nessas regiões. O centro de controle da voz encontra-se no córtex cerebral, numa região motora localizada anteriormente no sulco central. Dessa região surgem os impulsos nervosos que modificam o estado de diversos músculos envolvidos na fala, como, por exemplo, os músculos responsáveis pela respiração (exemplo: diafragma, intercostais). Controlam também a tensão das pregas vocais e os movimentos das paredes da cavidade nasal e bucal. Como qualquer processo natural, a fonação também ocorre com economia de energia. O som produzido pelo ronco, por exemplo, é um tipo de som que não é encontrado em nenhum tipo de idioma. Do ponto de vista físico, o ronco consome muita energia e, por isso, é evitado pelos seres vivos como forma de comunicação. A audição e a fonação estão intimamente ligadas. Quando ocorre uma falta de retroalimentação entre o sistema fonador e o auditivo, a fonação começa a deteriorar. 4 BIOFÍSICA DA AUDIÇÃO Durante a aula passada estudamos como a fala é formada biofisicamente. Nesta aula sobre Bioacústica destacaremos como ondas sonoras são captados pelo homem. A audição é a transformação da energia sonora captada em energia elétrica. Essa energia elétrica são os impulsos elétricos enviados ao cérebro por meio dos nervos. Mesmo em animais primitivos se pode observar a transdução da energia sonora em energia elétrica, como ocorre nos hidrozoários. Entretanto, somente em animais mais evoluídos (dos artrópodes em diante) observa-se a existência de um aparelho auditivo. As estruturas responsáveis pela audição, equilíbrio e detecção de movimentos são células ciliadas conectadas a neurônios sensoriais (neurônios aferentes). As ondas elétricas são produzidas pela movimentação dos cílios. Essas ondas elétricas propagam- 11 se pelos nervos em direção aos centros especializados na análise e integração desses estímulos. Os peixes adotaram uma tática alternativa na captação de estímulos do meio. Eles possuem um órgão sensorial conhecido como linha lateral. Essa linha, disposta ao longo da região mediana de cada lado do corpo, é formada por células sensoriais capazes de perceber diferentes tipos de vibrações na água, indicando a presença de um predador ou de uma presa. Essas células sensoriais reúnem-se em grupos chamados neuromastos, que são capazes de detectar não só as vibrações, como também são capazes de identificar o sentido de propagação da onda. Em relação à audição humana, o órgãovestíbulo-coclear detecta ondas nas frequências situadas entre 16 a 17.000 Hz, como já exposto na aula 7. Além disso, comentamos também que esse limite não é necessariamente fixo, uma vez que eles podem variar de indivíduo para indivíduo e conforme a idade. Chamamos de limiar de audição a intensidade mínima de cada frequência que o órgão pode escutar. Hoje existem toques de telefones celulares muito utilizados por jovens em idade escolar que são inaudíveis aos indivíduos adultos. Esses toques exploram a incapacidade do homem de repor todas as suas células sensoriais utilizadas na captação das ondas sonoras. Dessa maneira, indivíduos jovens tendem a apresentar as estruturas responsáveis pela audição de forma mais íntegra do que os indivíduos adultos, muito embora isso não seja necessariamente verdadeiro, uma vez que muito jovens têm o costume de ouvir músicas com o volume muito alto, prejudicando sua audição. Observe as estruturas que compõem o ouvido humano: 12 Fonte: blog-de-cfq-leonor-silveira-8d.blogspot.com A membrana timpânica é uma membrana localizada orelha externa, separando esta da orelha média. Essa membrana possui, no adulto, espessura de 0,1 mm e uma área média de 64 mm2. Note que a membrana timpânica não é plana, apresentando uma concavidade voltada para o meato acústico externo. Um ossículo chamado martelo está ligado à membrana timpânica, com sua cabeça se articulando com outro ossículo, esse chamado bigorna. Por sua vez, a bigorna liga-se ao estribo e este liga-se à janela oval. Na orelha interna, temos o órgão da audição propriamente dito, chamada de vestíbulo- coclear. Nele encontramos a cóclea e a ela ligada encontramos os canais semicirculares. Esses canais são preenchidos com um líquido e estão envolvidos com o equilíbrio do corpo, ou seja a função vestibular. Quando uma onda sonora chega a parte externa da orelha ela perde parte de sua energia por causa do atrito com as paredes do meato acústico externo. A parte restante penetra até atingir a membrana timpânica para o qual transfere sua energia. O ouvido externo comporta-se como um tubo acústico fechado. A extremidade fechada não permite que as moléculas promovam os movimentos de expansão e compressão, e, assim, a parte fechada (localizada junto à membrana timpânica) possui uma pressão maior do que a outra http://www.blog-de-cfq-leonor-silveira-8d.blogspot.com/ 13 extremidade, que se encontra aberta. Isso cria um gradiente de pressão. A frequência dentro de um tubo acústico fechado é dada pela equação: Onde f é a frequência em Hz, v é a velocidade de propagação do som (no ar a 27°C e 1 atm de pressão atmosférica vale 348 m/s) e L é o comprimento do tubo. Assim, podemos calcular a frequência de ressonância no meato acústico externo. Como o comprimento do meato é de 2 a 3 cm, substituindo na equação acima chegamos ao valor de 2.900 e 4.350 Hz. A membrana timpânica separa dois meios distintos: o ar e o líquido contido dentro do ouvido interno. Assim, essa membrana atua como um separador dos meios. Quando uma onda sonora chega ao ouvido externo por meio do ar, 99,9% da sua energia é retida. Sendo assim, dizemos que somente 0,1% sofreu refração. Esse 0,1% é o responsável por ser transformado em energia elétrica. Dessa maneira, deve haver a menor perda de energia possível até essas ondas chegarem à cóclea. As ondas sonoras que chegaram à orelha externa e média (por meio da membrana timpânica) acabam por movimentar o estribo, o que acaba movimentando a janela oval consequentemente. Ao movimentar a janela oval, as ondas sonoras chegam à escala vestibular. As escalas vestibular e média estão separadas pela membrana vestibular (membrana de Reissner. Essa membrana é extremamente fina e elástica, o que permite que essas duas escalas funcionem como se fossem uma. Outra estrutura importante no processo de audição é a membrana basilar, que está localizada acima da escala timpânica. Assim, no momento em que o estribo comprime a janela oval forma-se uma onda de pressão nas escalas média e vestibular, o que acaba por movimentar a membrana basilar em direção à escala timpânica. Toda vez que a membrana basilar se move perpendicularmente ao seu plano, a membrana tectorial desliza em uma direção longitudinal à membrana basilar. Quando se move, a membrana tectorial comprime e estira os cílios das células internas e externas, o que provoca sua excitação e o surgimento de impulsos elétricos. Esses impulsos se propagam em direção aos filetes nervosos do nervo coclear. Essas células ciliadas fazem sinapses com neurônios que se ligam ao complexo olivar superior, onde as informações serão processadas. 14 5 ULTRASSONS: EFETIOS BIOLÓGICOS E APLICAÇÕES Iniciamos nossa última aula sobre Bioacústica. Nesta aula abordaremos os efeitos biológicos produzidos pelos ultrassons, bem como suas aplicações médicas. Relembrando, chamamos de ultrassons aqueles sons cujas freqüências ultrapassam os limites máximos que podem ser captados pela audição humana. Quando um feixe ultrassônico com energia superior a 100 mW/cm2 passa por um meio, ele provoca efeitos que podem ser classificados em térmicos e não-térmicos. Efeitos térmicos dos ultrassons Os ultrassons possuem a propriedade de elevar a temperatura do meio em que são aplicados. Isso permite sua aplicação no tratamento de diversas patologias musculares, tendinosas e ósteo-articulares. A equação abaixo representa a transferência de energia do feixe ultrassônico para o tecido biológico: Onde: I é a intensidade do feixe ultrassônico transmitido; I0 é a intensidade do feixe ultrassônico incidente; e é a base dos logaritmos neperianos; α é o coeficiente de absorção linear do material que constitui o meio atravessado pelo ultrassom; x é a espessura do meio. 15 Note, pela equação acima, que quanto maior for o coeficiente de absorção e a espessura do meio menor será a intensidade transmitida. Energia é absorvida por meios de mesma espessura é expressa pela equação: Onde: A presença de proteínas no meio absorvedor faz aumentar o coeficiente de absorção do meio. Assim, tecidos ricos em colágeno, como os tendões, ligamentos, articulações, por exemplo, conseguem absorver grande parte da energia do feixe ultrassônico. Efeitos não-térmicos dos ultrassons Dentre diversos efeitos não-térmicos dos ultrassons podemos citar a micromassagem, a variação do diâmetro arteriolar e o aumento da permeabilidade da membrana celular. As oscilações provocadas pelo feixe ultrassônico ao atravessar os tecidos provocam sua micro massagem. Assim, com o movimento dos tecidos, a circulação de fluidos intra e extracelulares aumenta, o que facilita a remoção de catabólitos e também aumenta a oferta de nutrientes. O aumento da permeabilidade das membranas ocorre devido a alterações nos potenciais de membrana. Lota e Darling, em 1955, demonstraram que ocorre um aumento na condutância da membrana ao potássio. Em relação à variação do diâmetro arteriolar foi observado que os ultrassons podem provocar tanto constrição quanto dilatação. Feixes pulsados de ultrassons foram capazes de abrir capilares sanguíneos em zonas isquêmicas crônicas. Entretanto, esses não são efeitos bem definidos e não podem ser relacionados ao aumento da temperatura do meio. 16 Aplicações clínicas dos ultrassons As aplicações clínicas dos ultrassons estão basicamente relacionadas ao aumento da temperatura dos meios internos e da micro massagem que eles são capazes de promover nos tecidos. Obviamente que não se podem utilizar potências arbitrárias dos ultrassons. As potências utilizadas variam entre 0,5 W/cm2 e 5 W/cm2. Sabe-se que acima dos 2 W/cm2 aumentam os efeitos lesivos dos ultrassons e, por isso, usam-se técnicas de posicionamento do transdutor sobre aárea desejada. A penetração do feixe ultrassônico é inversamente proporcional a sua frequência. Já foi demonstrado que feixes de 90 kHz penetram o dobro da distância que um feixe de 1 MHz consegue penetrar. Os feixes ultrassônicos utilizados de forma terapêutica penetram entre 3 a 5 cm nos tecidos moles. As aplicações de ultrassons são contraindicadas em regiões mal vascularizadas, pois a circulação sanguínea é um fator importante para dissipação do calor. Dessa forma, caso haja aplicação de ultrassom nesses locais, existe a possibilidade de se causar lesões irreversíveis nesses tecidos. Hoje os ultrassons são utilizados no tratamento de processos inflamatórios como artrites, tendinites, miosites; no tratamento de edemas, no tratamento de dores crônicas; na cicatrização de feridas, dentre outros. Existem contraindicações no uso de ultrassons de alta potência. Por exemplo: Osteoporose; Fratura não consolidada; Ruptura recente de tendão ou ligamento; Implantes plásticos ou metálicos; Marca-passo cardíaco; Gravidez; Tumores; Infecções; Epífises ósseas em processo de crescimento.