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© A gametogênese é um processo no qual células diplóides geram células haploides, isto é, os gametas, que ao se fundirem com o gameta do sexo oposto da mesma espécie, formarão uma célula diploide totipotente capaz de dar origem a um indivíduo completo. A meiose que origina os gametas é controlada no tempo (puberdade e vida intraembrionária) e no espaço (ovários e testículos). Nos homens a meiose ocorre de forma linear a partir da puberdade, enquanto que nas mulheres ocorre primariamente na vida embrionária, sendo retomada a partir da puberdade. Espermatogênese Na gametogênese masculina, a espermatogônia (célula germinativa primordial) é uma célula tronco unipotente, que prolifera durante a puberdade e é capaz de resguardar sua capacidade unipotente. As espermatogônias acompanham o homem a vida inteira, gerando sucessivas espermátides, isso se deve ao microambiente do testículo que é favorável a autorrenovação das espermatogônia, impedindo uma diferenciação completa dessas células, mantendo um pool de células germinativas a longo prazo. As espermatogônias do tipo A se auto renovam, mantendo- se unipotentes. As espermatogônias do tipo B entram na cascata de diferenciação, dando origem aos espermatócitos primários (na primeira fase da meiose) e os secundários (na fase dois da meiose) que reduzem sua carga genética e se tornam células haploides. Para cada espermatogônia que entra na via de diferenciação, temos a formação de quatro gametas haplóides, que são gerados continuamente. As espermátides se acumulam na cabeça do epidídimo e na ejaculação são transportadas para o útero. Continuamente a cada 36 dias as espermatogônias do tipo B entram em diferenciação, gerando novos gametas saudáveis, ou seja, novos espermatozóides. Vale ressaltar, que todo esse processo só ocorre após a puberdade, onde seremos capazes de encontrar espermatócitos primários quando os níveis de testosterona aumentarem e a meiose for estimulada. A espermatogênese é regulada pelo eixo hipotálamo- hipófise-testículo, neste, o hipotálamo secreta o hormônio estimulador das gonadotrofinas (GnRH), induzindo a liberação do hormônio luteinizante (LH) e foliculoestimulante (FSH) pelos gonadotrófos da © adenohipófise. Estes por sua vez, ao chegar aos testículos instigam a produção de testosterona pelas células intersticiais de Leydig e favorecem o papel mantenedor das células de Sertoli na espermatogênese, então desencadeada pela ação da testosterona. Além disso, há o desenvolvimento de características secundárias, uma vez que este eixo é ativado na puberdade, havendo o engrossamento da voz, crescimento ósseo e de pelos na face e pubianos. Durante a espermatogênese, dentro dos testículos, encontramos uma gradação com as espermatogônias próximas ao córtex e os espermatozoides imaturos (mais avançados na cascata de diferenciação) no lúmen do testículo. A expansão clonal que gera a autorrenovação da espermatogônia do tipo A e espermatogônias do tipo B demora cerca de 16 dias. A espermatogônia do tipo B, entra na rota de diferenciação gerando o espermatócito do tipo I, que está na primeira fase da meiose. Esta dura 24 dias, gerando o espermatócito do tipo II (na segunda fase). A segunda fase dá origem a espermátide, durante algumas horas, e este fica preso na luz do túbulo seminífero. O processo pode ser resumido em uma meiose controlada no tempo e no espaço, gerando alterações morfológicas, que vão resultar em células especializadas na função de fertilizar. É realizada a ubiquitinação das mitocôndrias paternas culminando em sua degeneração, caso estas não sejam destruídas há o esgotamento metabólico do embrião, acarretando em sua degeneração. A espermatogônia possui mitocôndrias, aparelho de Golgi anterior ao núcleo da célula e núcleo heterocromático (sem transcrição em larga escala) e o centríolo, organizando o microtúbulo do flagelo dos espermatozoides. O aparelho de Golgi é essencial para fertilização, mediando os eventos químicos e bioquímicos que vão propiciar a chegada à membrana plasmática do ovócito. Esses elementos se reorganizam, resultando em uma forma compatível com a função de fertilização. Golgi se torna anterior, sendo denominado vesícula acrossomal, posicionado na cabeça do espermatozóide. A peça intermediária é composta por mitocôndrias, centríolos e o citoesqueleto de tubulina (flagelo). Todas as mitocôndrias localizam-se nessa peça intermediária, e essas não penetram no ovócito, e o que por ventura penetrar é ubiquitinado e degradado. Todas essas mudanças ocorrem entre a fase que temos a espermátide e o espermatozóide propriamente dito. No flagelo observamos dímeros de tubulina com uma dupla centralizada, com presença de dineína (quebra de ATP) que promove o batimento do flagelo e regula o momento no qual o núcleo do espermatozóide será ejetado para o ovócito. Em indivíduos portadores da Síndrome de Kartagener, a carência de dineína gera espermatozóides imóveis. © Ovogênese Na gametogênese feminina, a ovogônia (célula germinativa primordial) tem uma capacidade limitada de autorrenovação. Após alguns ciclos de renovação ela já entra na meiose, passando a ser um ovócito primário (na fase I da meiose) ainda na vida embrionário. Até os três meses de gestação há o esgotamento das ovogônias, de maneira que todas já se transformaram em ovócitos primários nos ovários em desenvolvimento. As meninas já nascem com todo repertório de gametas para vida toda. Durante a puberdade, cerca de 5 a 8 ovócitos primários serão recrutados, por responderem mais intensamente aos hormônios sexuais, entrando na segunda fase da meiose, tornando-se ovócitos secundários que serão disponibilizados para fertilização. Os ovócitos ainda não são haplóides, o citoplasma do ovócito tem uma capacidade de reprogramação do núcleo do zigoto, tornando-o de uma célula totipotente. O ovócito primário gera um secundário e o primeiro corpúsculo polar, se o ovócito secundário for fertilizado a meiose prossegue e o ovócito dá origem ao gameta e o segundo corpúsculo polar (dois corpúsculos secundários). Além disso, o primeiro corpúsculo polar se divide e forma os corpúsculos polares definitivos. Para cada ovogônia que inicia a meiose, temos efetivamente um gameta viável que concentra grande parte do citoplasma, e um total de três corpúsculos polares que não podem ser fertilizados, mas desempenham papel importante na orientação do processo de clivagem do zigoto. A exposição a agentes mutagênicos é muito mais crítica para o patrimônio genético dos gametas femininos que para os masculinos, posto que exposição a agentes do ambiente como a poluição ambiental e solventes orgânicos, cancerígenos, entre outros, podem resultar na perda da qualidade dos ovócitos. Após a ovogênese, que ocorre completamente até o terceiro mês de gestação, quando a menina nasce com suas reservas de ovogônias esgotadas, há - nos ovários - apenas os folículos primários, representantes da meiose I. Estes são compostos pela ovogônia na meiose I e pelas células foliculares (epiteliais somáticas). Quando a puberdade se inicia os hormônios sexuais - FSH e LH - oriundos da adenohipófise, pelo eixo hipotálamo- hipófise-ovário, atuam sobre as células foliculares, estimulando a proliferação, com recrutamento desses folículos a cada mês para a possível fertilização. Finalmente, um dos folículos em crescimento adquire primazia e continua a crescer por absorção de líquido, enquanto os folículos restantes recrutados durante o ciclo sofrem atresia. Um destes é o folículo dominante, que se torna o folículo secundário, dominante, e possui várias camadas de células foliculares, em seu antro acumula bastante hormônio, e a camada ao redor é denominada corona radiata após a ovocitação. Dizer que a mulher está ovulando não é totalmente correto, uma vez que o que é disponibilizado para fertilização não é o óvulo (queseria o gameta haplóide), mas sim um gameta diplóide - ovócito secundário - que ainda não findou a meiose, sendo considerado óvulo (haplóide) apenas após a fertilização. O remanescente das células foliculares que permaneceram na parede do ovário, após a ejeção do ovócito secundário, forma o corpo lúteo, que secreta progesterona, mantendo a parede do endométrio ativa e espessa para sustentar o suposto embrião. O ovócito apresenta em seu citoplasma um arcabouço de transcritos essencial para a reprogramação genética do núcleo somático do embrião que se desenvolverá futuramente. Esse arcabouço é formado por proteínas, rRNAs, tRNAs, mRNAs. A primeira vista esses conteúdos, que são encontrados em todas as células parecem supérfluos, mas dado ao somatórios desses a importância e relevância qualitativa desse material, aliada a quiescência transcricional do embrião, atribuímos a esses componentes o efeito maternal. Dessa forma, se o ovócito for fertilizado, esses compostos © exercem seus efeitos regulatórios sobre o núcleo somático. Entre o ovócito e a corona radiata há a zona pelúcida, uma camada acelular que contém glicoproteínas importantes para manutenção estrutural após a fertilização e prevenção e inibição de gravidez ectópica, reduzindo as chances de implantação do embrião em local anômalo (por exemplos nas tubas uterinas). As gravidezes ectópicas geralmente ameaçam a vida da mãe, porque os vasos sanguíneos que se formam em locais anormais são propensos a sofrer rupturas como resultado do crescimento do embrião e da placenta. Tipicamente, a gravidez ectópica é revelada por sintomas de dor abdominal e/ou sangramento vaginal. Normalmente, é necessário o uso de drogas ou intervenção cirúrgica para interromper a gravidez. Modificações nos componentes ultraestruturais dos ovócitos os especializam em células pró-fertilização. Dentre estas características podemos citar os grânulos corticais, na região mais externa da célula, estes são na realidade o aparelho de Golgi (essencial para via secretória celular). Além disso, ocorrem modificações no citoesqueleto, de maneira que os filamentos de actina se projetam de forma submembranar, gerando microvilosidades cruciais para otimizar o contato entre o citoplasma do ovócito e do espermatozóide. O hipotálamo estimula as gonadotrofinas, liberando FSH e LH, estimulando a proliferação dos folículos primários, que se tornam secundários, de forma que seja finalizada a primeira meiose e se de início a segunda. No útero, o FH e o LSH, estimulam a proliferação do endométrio e a expansão das artérias espiraladas. O folículo secundário também começa a produzir estrogênio, influenciando na proliferação do endométrio, de forma que este fique apto a receber o feto. Caso não ocorra fertilização, não há implantação e produção de gonadotrofina coriônica humana (hCG), causando a degeneração das células do corpo lúteo, com consequente redução da produção de progesterona. Isso faz com que as células do endométrio parem de proliferar e sejam ‘’descartadas’’, isto é, há a liberação do extrato funcional do endométrio. Se houver a fertilização, haverá implantação, com consequente produção de hCG pelo sinciciotrofloblasto, mantendo o corpo lúteo, que aumenta os níveis de progesterona, instigando a proliferação ainda mais expressiva do endométrio, para que este fique cada vez mais propício à sustentação do embrião. Em suma, a primeira fase do ciclo menstrual é marcada pelo estrogênio, que prepara o corpo para sustentação do embrião. O LH atua em pico, cerca de 24h antes da ovocitação. A segunda fase do ciclo é marcada pela progesterona liberada pelo corpo lúteo, a fim de manter o embrião que por ventura tenha sido formado após a fertilização bem sucedida © Fertilização Podemos definir a fertilização como o momento exato em que o espermatozóide penetra no óvulo, esse processo pode acontecer naturalmente ou com auxílio de tratamentos em clínicas de fertilização, como por inseminação ou fertilização in vitro. O primeiro evento essencial à fertilização é a capacitação, em que ocorrem mudanças bioquímicas no espermatozóide durante o momento de sua permanência no útero, a fim de que se torne apto para vencer todas as estruturas que dificultam o processo de fertilização. A capacitação possui eventos rápidos e lentos, que medeiam alterações em diversos parâmetros celulares como a captação de íons cálcio e bicarbonato, a atuação da albumina, que altera a membrana do espermatozóide, pela remoção do colesterol, aumentando o pH e favorecendo a reação acrossomal. Além disso, a perda de proteínas e carboidratos que ocludem sítios importantes de reconhecimento a ligação na zona pelúcida também é essencial. Podemos citar ainda alterações no potencial de membrana, influenciando a abertura e fechamento de canais sensíveis à voltagem, por fim, após a passagem do espermatozóide do útero até as tubas uterinas há sua hiperativação. Dentro dos eventos rápidos, a ativação de canais de cálcio específicos dos espermatozoides (CatSper), permitem a passagem rápida de cálcio, resultando no aumento da sua concentração intracelular e no aumento dos níveis de cAMP (mediante ativação da adenilil ciclase), com consequente fosforilação de substratos alvo. Esses canais estão envolvidos na ativação da mobilidade do espermatozóide. A mobilidade até as tubas uterinas, mais especificamente as fímbrias, ocorre a partir da contração da musculatura do útero e das tubas, pois nesse momento o espermatozóide não tem mobilidade. A mobilidade, em decorrência da ativação do batimento do flagelo, se dá durante a fertilização, em que o batimento rápido desses flagelos promove a expulsão do núcleo do espermatozóide em direção ao citoplasma do ovócito. Nos eventos mais lentos, os canais de cálcio do tipo não CatSper, estão envolvidos no transporte (influxo) de HCO3- alterando o pH do citoplasma, bem como na eliminação do colesterol. A albumina é importante para remoção de moléculas densas que inibem a interação dos receptores da superfície do espermatozóide com os ligantes na superfície do ovócito. Ademais, o efluxo de potássio altera a polaridade da membrana, impactando nos processos de sinalização celular e liberação de receptores. A fertilização pode parecer um processo rápido, mas obedece a várias etapas. Primeiramente, há a quimioatração. Esse processo é importante principalmente em espécies aquáticas, onde há liberação de gametas de inúmeras espécies no meio aquoso, de modo que a liberação de ‘’pistas químicas’’, resulta na atração de gametas da mesma espécie. No ser humano, esse processo funciona por gradiente de temperatura, auxiliando os espermatozóides a encontrarem a tuba uterina em que se encontra o óvulo. Posteriormente, é necessário que os espermatozóides atravessem a corona radiata, uma região composta por camadas de células foliculares que rodeiam o ovócito, tais células são epiteliais bastante justapostas entre si. Desse modo, há a exocitose da vesícula acrossomal, a partir da ligação ligante-receptor entre as células da corona e o espermatozóide. Essa vesícula contém enzimas proteolíticas que contribuem para a hidrólise de ligações célula-célula, permitindo a abertura de um caminho por entre essa camada, ademais existem ainda enzimas na mucosa tubária que auxiliam nesse processo. Depois de atravessar a corona, o espermatozóide deve atravessar a zona pelúcida (ZP). Essa zona, se assemelha a uma trama de fibras formando poros pequenos que inicialmente dificultam a passagem dos espermatozóides por eles. A ZP exibe três proteínas principais (ZP-1, ZP-2 e © ZP-3), a ZP-3 é uma das mais importantes na ligação receptor-ligante com receptores específicos da membrana do espermatozóide. Tal interação ativa a entrada de cálcio, mediante a exocitose da vesícula acrossomal, despejando no meio extracelularenzimas proteolíticas, que aumentam os poros das glicoproteínas da ZP, facilitando a migração espermática. Após a exocitose da vesícula acrossomal, a cabeça do espermatozóide está livre para fazer contato com o ovócito, de forma que as microvilosidades do último facilitam essa interação, promovendo a liberação do núcleo da cabeça do espermatozóide para dentro do ovócito, sem a liberação da peça intermediária, não havendo a presença de mitocôndrias paternas no embrião. Depois que um espermatozóide realizou de maneira bem sucedida a fertilização, há a modificação do microambiente para impedir que ocorra a fertilização por outros espermatozóides, visando impedir a poliespermia (fertilização por vários espermatozóides simultaneamente) que inviabilizaria o desenvolvimento do embrião. Para isto, existem mecanismos rápidos e lentos. No primeiro, em virtude da fusão das membranas do espermatozóide fertilizador e do ovócito, há uma perturbação do potencial de membrana, gerando um ''choque’’, isto é, um impulso elétrico que é propagado pela membrana do ovócito, afastando a fertilização por outros espermatozóides. A lenta se dá pela fusão dos grânulos corticais, que são exocitados, liberando enzimas e retraindo as microvilosidades. Com isso há a redução da interação com outros espermatozóides. Outro fator é a modificação da membrana celular, assim como, a secreção de fatores que inibem ou repelem a conexão com outros espermatozóides. Após a liberação do núcleo espermático para o citoplasma do ovócito, há a formação do pronúcleo feminino e masculino, que exibem carioteca transiente. Suas membranas nucleares desaparecem rapidamente quando os cromossomos maternos e paternos são replicados na preparação para a primeira clivagem. Nesse processo o embrião recomeça a mitose, que nesta etapa ocorre sem as fases GAP (diretamente fase S e M). Assim, nos primeiros momentos o embrião é transcricionalmente quiescente, em virtude disso fica clara a importância da abundância de transcritos relacionados a estrutura celular de origem materna (efeito maternal). Até 24 horas após a fertilização, o zigoto (ovócito fertilizado) inicia uma rápida série de divisões celulares mitóticas denominadas clivagem. Essas divisões não são acompanhadas por crescimento celular, então elas subdividem o zigoto em várias células‑filhas menores denominadas blastômeros. O embrião como um todo não aumenta em tamanho durante a clivagem e permanece envolto pela zona pelúcida. A primeira divisão de clivagem divide o zigoto para produzir duas células‑filhas. A segunda produz quatro blastômeros iguais. Em 3 dias, o embrião consiste em 6 a 12 células, e, em 4 dias, consiste em 16 a 32 células. O embrião nesse estágio é denominado mórula. A mórula alcança o útero entre o 3o e o 4o dia de desenvolvimento. Por volta do quinto dia, a ação de enzimas cria uma abertura na zona pelúcida e o, agora denominado, blastocisto eclode espremendo-se através dela para fora, a fim de aderir ao endométrio, dando início ao processo de implantação e placentação.
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