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1 Epidemiologia – Aula 2 Nessa aula falaremos da ecologia das doenças e da tríade epidemiológica. São dois conceitos importantes no estudo das doenças que evoluíram muito no século passado a partir de vários pesquisadores que trabalharam com isso. Tudo começou com Galeno que tinha a questão dos miasmas, e isso vem da Grécia onde Hipócrates já tinha a ideia de águas, ares e lugares. Os quais estavam associados às doenças e os miasmas eram esses compostos estranho que existiam nesses locais e que a inalação deles, a ingestão desses miasmas causava a doença. Essa teoria foi dominante durante muito tempo e só no final do século XIX que a gente teve finalmente o Pasteur lançando uma nova teoria que é a teoria dominante até hoje em dia que é o causador de doenças efetivamente. Ele acaba com a teoria da geração Espontânea de que a vida surge em qualquer lugar. Ele mostra que a vida surge a partir de é determinado dos ovos de parasitos, de ovos de moscas, que existem microrganismos que não enxergávamos nesse momento. Durante o final do século XIX se estabelece a teoria dos germes, que existem microrganismos que causam doenças e isso foi uma revolução na ciência. A tríade epidemiológica em que a doença clínica (meio do triangulo) é estabelecida ou causada a partir de uma união de um conjunto de fatores compostos pelo agente infeccioso, o hospedeiro (que sempre foi o cara que ficou doente) e o ambiente. Descobriu-se então porque esse hospedeiro num determinado ambiente ficava doente era porque ele estava submetido à ação dos agentes infeccioso. A teoria dos germes então dominou o século passado. Entretanto também durante o século passado, principalmente da segunda metade dele até o final e o começo do século atual, começou-se a caracterizar alguns pontos importantes que nesse começo do século passado foram descartados. A preocupação com o parasito, com o microrganismo ficou muito maior então começou a caracterizar. O ambiente é fundamental por vários fatores, a importância da genética do hospedeiro e da microbiota que ele porta também é muito importante. Então o conjunto de microrganismos que se hospeda nenhum determinado hospedeiro e a constituição genética dele são fundamentais também para que a doença clínica se estabeleça. Começou a se encontras muitos hospedeiros com parasitas, porém sem em doença clínica, muitos hospedeiros com a doença clínica mais grave ou mais branda apesar de ter o mesmo parasito que outro hospedeiro, situações em que a co-infecção que o hospedeiro tem era o que caracterizava se a doença clínica ficaria mais grave ou mais branda, então a interação da ecologia desses fatores dentro do próprio hospedeiro que 2 Epidemiologia – Aula 2 passou a ser encarado então como ecossistema por si só. Então ele é um ecossistema dentro de um ecossistema. Então tivemos essa evolução daquela pirâmide anterior que era o agente infeccioso predominando sobre os hospedeiros e o ambiente para uma situação em que sobre o ambiente se estabelece em agente infeccioso e hospedeiro e a partir disso a gente pode vir a ter a doença clínica estabelecida ou não. EXEMPLO Em um estudo com cabras silvestres das montanhas da Espanha. Os animais silvestres cresceram muito importância no final do século passado no começo desse século, para o estudo da parasitologia da epidemiologia porque são animais submetidos às condições naturais de exigência, de desafio parasitário, de alimentação o que é uma situação bem diferente do laboratório que é uma situação muito artificial que foi o que dominou o século passado em termos de estudo. Onde o animal do laboratório era desafiado por apenas um parasito, bem alimentado e com temperatura constante. O ecossistema muito mais complexo do que esse desafio único que se estabelece dentro do laboratório. As cabras das montanhas (por elas estarem ameaçadas de extinção) elas sofriam uma umas mortalidades na época do inverno que matavam um grande número de animais em uns determinados invernos em outros invernos quase não se tinha mortes. Associado a essas mortalidades se identificava com uma pneumonia nos animais. Pneumonia que é uma doença clínica com a possibilidade de múltiplos agentes serem causadores dessa pneumonia. Então para tentar determinar quem era o culpado dessa pneumonia foi feito um grande estudo epidemiológico tentando caracterizar todos os agentes potencialmente causadores de pneumonia nesses animais e se tem uma lista grande de a gente que poderiam estar causando a pneumonia. Nenhum desses agentes foi identificado como a causa da doença, às vezes era um às vezes era outro. Deste modo chegou-se a conclusão que a causa de uma determinada doença está sujeita a uma serie de fatores importantes e relevantes para que ela se estabeleça ou não. Tem-se 3 níveis de efeitos resultando em estresse fisiológico. O primeiro nível é praticamente ambiental: Densidade da população: quando a densidade atingir um determinado limite, havia então o estabelecimento da mortalidade. 3 Epidemiologia – Aula 2 Competição interespecífica: animais que comiam o melhor capim que outros, qualidade do leite dos filhotes (que dependia da alimentação da mãe), outros animais domésticos que existia na região como cabras e cães (os quais interferiam na predação), perturbação causada pelos humanos, assim como lixo, contaminação do ambiente e o clima (verão com chuvas com pastos mais nutritivos..) Esses fatores levava a modificação de dois aspectos importantíssimos dentro do comportamento dos animais: o comportamento de pastejo, de agressividade, de tolerância entre si ou de agressão e a deterioração da área de ocupação dos animais ou não, ou seja, se a área que eles ocupavam era melhor ou pior. Esses 2 fatores alteravam diretamente a prevalência ( que é o número de animais positivos para uma determinada agente) e também a intensidade desse desafio. Então mais do que dizer se o animal é positivo ou negativo para um determinado helminto saber qual a carga parasitária, qual a carga infectante que ele é submetido na população e que ele está. Desta forma, hoje em dia dá-se muito mais importância para a intensidade do desafio que é feito sobre um determinado animal. Por isso que é tão importante hoje em dia não é em termos de transferir um pouquinho para a doença humana. Então quando se inala ou ingere (exemplo da COVID-19) um pequeno número de partículas virais por um efeito exponencial de crescimento ele vai crescer mais lentamente no seu corpo dando tempo para que o sistema imune mande uma resposta, produza anticorpos adequados neutralizantes e muitas vezes você nem note que tenha sido infectado. Por outro lado, quando a quantidade de vírus inalado é maior, o número de células que ele vai infectar no seu organismo vai ser muito maior, sua doença clínica vai ser mais grave, a probabilidade de ficar doente é maior. Quando pensamos em parasitismo de uma forma geral, é clássico dentro da parasitologia de que você tenha uma dentro de uma população de infectados a maior parte dos indivíduos (isso para praticamente todos os agentes infecciosos até hoje já caracterizados) sofre menos com a doença e elimina e produz menos formas infectantes. Uma pequena proporção da população (10 a 20% da população, geralmente) infectada são os que se chama dos superdispersores esses indivíduos sofrem muito com a dispersão, não controlam ela e produzem uma grande quantidade de partículas infectantes contaminando tremendamente o ambiente. São esses indivíduos deve-se controlar na produção bovina, no canil, etc.. é aquele animal que tem uma diarreia mais grave, está sempre positivo para determinado helminto, que sempretem um problema com amebíase... então esses animais que são os grandes dispersores são eles que contaminam tremendamente. Voltando a figura anterior, todos esses agentes gera um estresse fisiológico, estresse imunológico, estresse alimentar, estresse comportamental todos esses aspectos são prejudicados no animal acarretando nele uma injúria pulmonar de maior ou menor grau e uma resistência prejudicada em um grau maior ou menor, resultando em última instância na pneumonia. Logo não se pode acusar nenhum dos vírus, parasitas, bactérias, nem a qualidade da 4 Epidemiologia – Aula 2 nutrição por ser o único e exclusivo causador da pneumonia e sim como a pneumonia ser uma resultante última de todos esses fatores que se juntam na capacidade de resistência do animal a defesa de doenças. Então não é um fator o causador, mas a tríade (ambiente, hospedeiro e agente infeccioso) sendo o agente infeccioso uma comunidade parasitária que infecta aquele determinado animal. AMBIENTE O ambiente é fundamental porque ele gera um ruído na sua compreensão do que está causando a doença clínica que é vasto e disperso. Então compreender que do ambiente pode estar levando a um determinado problema médico leva-se às vezes alguns anos, pois não vai ser em 1 ano de estudo, por exemplo, que você vai caracterizar sazonalidade. O relevante da nossa análise epidemiológica inicial é que é muito difícil ou impossível que antes de começar o trabalho se saiba a lista de fatores que são relevantes. Vamos falar de alguns fatores ambientais que frequentemente têm uma ação ou um efeito importante sobre a ocorrência das doenças. ÁGUA Os organismos vivos dependem de água. a água é tem funções importantíssimas em qualquer organismo. Os organismos biológicos são feitos geralmente 60 até 70% de água. É um recurso que é disponível desigualmente no planeta. Dentro dos organismos biológicos 2 funções são importantíssimas :a primeira a água é um solvente universal, por ser uma molécula bipolar ela consegue carregar no corpo de qualquer organismo íons negativos e íons positivos, então ela permite com que através do sangue, por exemplo, nutrientes sejam distribuídos para o seu corpo, que o oxigênio vai, que o CO2 venha, etc. Segunda função importante é que ela é um tampão de temperatura, então os vertebrados mamíferos que são ectodérmicos (tem variações de temperatura segundo ambiente externo)é graças a água que essas variações não são mais intensas do que elas ocorrem normalmente, então a água consegue absorver uma grande quantidade de calorias sem uma grande elevação de temperatura. Essa estabilidade de temperatura é fundamental para o funcionamento adequado das enzimas que são à base de qualquer processo metabólico no organismo vivo. Se lembre de que numa enzima qualquer processo enzimático tem-se uma faixa ótima de temperatura, abaixo dessa faixa ótima a enzima produz muito pouco a conversão de substrato em produto acima da faixa ótima de temperatura a conversão de substrato em produto cai até o ponto de desnaturar a enzima, na faixa ótima de temperatura a conversão é perfeita. E esse efeito de tampão de temperatura também acontece no planeta de uma forma geral, então os desertos por terem pouca água às flutuações de temperatura são imensos, nos ambientes úmidos a amplitude térmica é baixíssima. Nessa busca por água para os organismos vivos, qualquer bicho, plantas modifica completamente sua área de ocorrência seu 5 Epidemiologia – Aula 2 comportamento, sua estratégia, sua agressividade para conseguir água. Apesar de o planeta terra ser chamado de planeta agua o volume de água é muito pequeno perto do volume do planeta Terra. A segundo bolinha azul (a menor) é toda Água Doce do planeta, ou seja, boa parte da água do planeta é salgada e água salgada a gente não bebe. Debaixo dessa bola azul menorzinha tem uma outra bolinha azul minúscula que é essa água doce que está disponível no planeta para bebermos. A Água Doce que está vendo na bolinha intermediária Água Doce que está congelada, que está em aquíferos debaixo da terra, que está fora do nosso alcance. E é com esse bolinha minúscula que devemos dar de beber a todos os mais de 7 bilhões de pessoas, todos os animais de produção, todos os animais domésticos, todas as plantas para alimentação. Essa Água Doce que está sujeita à contaminação com produtos químicos, contaminação biológica, esgoto etc. Os 2 fenômenos maravilhosos da ciência que garantem boa parte da nossa saúde hoje em dia são: ter água limpa para beber e para higiene e o tratamento de esgoto. A disponibilidade de água afeta completamente agregação dos hospedeiros e dos parasitas que eles são portadores. Cada hospedeiro é como se fosse um ônibus parasitário, você carrega com você uma série de microrganismos o tempo todo. Hoje sabe-se que apenas 1% das bactérias existentes no intestino de qualquer animal é cultivável, ou seja, os outros 99% não crescem em placa de petri, não consegue caracterizar ela direito. Então esse carreamento de parasita para um lado para o outro quando você muda a disponibilidade da água eles podem aumentar ou diminuir. Há locais em que a água está mais disponível do que em outros. Então a dinâmica de caminhada para conseguir a água muda completamente e há também a frequência dos parasitas em volta dessas fontes de água, quanto mais concentrada é a água todos os animais vão convergir para o mesmo local para beber água, maior concentração de parasitas em voltas daquele poço d'água e com um agravante você também tem uma sobrevivência maior dos parasitos nesse ambiente mais úmido porque tem mais água. A concentração da água e disponibilidade da água afeta diretamente a exposição dos animais aos parasitos. O que também vale para o confinamento bovino também. Dentro de um confinamento todos os animais vão convergir para aqueles poucos bebedores que estão disponíveis em água, é nesses locais que a exposição os parasitos se dá de uma forma mais intensa. Então uma boa distribuição de cocho de água, uma boa higiene em volta do cocho diminui a ocorrência de doenças no meu confinamento. 6 Epidemiologia – Aula 2 Pode haver uma mudança na constituição físico-química da água que pode ser mais salobra eu posso ter mais conteúdo de magnésio de ferro aumentando a dureza da água e aí haver problemas renais podem se estabelecer. Então e esses fatores todos de injeção de água, de composição físico- química e orgânica da água podem levar a uma queda de imunidade do animal por efeitos fisiológicos deletérios e por aumento do desafio causado pelos parasitos. Então seca prolongada tende ao carretar maior mortalidade dos animais devido a várias doenças diferentes. TOPOGRAFIA A constituição física da superfície muda completamente alguns aspectos importantes em termos da exposição a fatores ambientais nos animais. O primeiro aspecto importante é o clima. CLIMA Quanto mais alto estou posso estar submetido a temperaturas mais frias e a regimes de umidade às vezes maiores ou menores dependendo do local que tiver. SOLO Regiões mais altas tendem a ter solos mais pobres do que as regiões mais baixas porque os nutrientes micros minerais do solo vão sendo carreado pela água há uma tendência de que a parte mais baixa seja mais fértil. E essa mudança na fertilidade vai mudar também a ocorrência das plantas, a própria presença da água também por conta da permeabilidade do solo. Então a topografia é relevante para que você interfira no clima, na fitofisionomia vegetal (termo que descreve qual é o aspecto de constituição das plantas que podem acontecer naquele determinado ambiente) então é você tem cada tipo de solo, vai selecionaro conjunto de plantas e obviamente vai selecionar os animais que também podem viver a partir daquele conjunto de plantas. VENTO Um aspecto importante também que a topografia chega a interferir e pode interferir na ocorrência das doenças é o próprio fluxo de ar. O vento que é predominante no local, o sentido de dispersão dos parasitos. Se estiver em uma região que está a favor do vento os parasitos que estão na região que está mais longe, os ovos vão ser trazidos para a minha direção. Então quando eu tenho um local que eu vejo todas as árvores inclinadas para uma determinada região, um determinado sentido geográfico, você pode saber que esse local venta bastante e que há uma predominância do vento na direção que a árvore está inclinada então eu nunca vou colocar os animais jovens no local para onde sopra o vento eu vou colocar de onde sopra o vento. Porque o animal mais jovem geralmente tem menos parasitos, tem menos de exposição e ele não vai contaminar a idade mais velha. Notem que ver também que o vento pode carregar: fumaça, radiação, fungos, contaminantes químicos... esses fatores todos podem levar à modificação da doença nos animais. 7 Epidemiologia – Aula 2 ALTITUDE Topografia está intimamente associado com altitude, o aspecto de um terreno e a altitude em que o solo ou que o animal está sendo criado podem interferir diretamente na exposição deles a doença. Existe um estudo clássico mostrando que no Havaí originalmente não tinha Plasmódio, não tinha malária vira aviária. A partir do momento que foi introduzido a malária no Havaí teve uma extinção de grande número de espécies ou quase extinção de algumas populações e os efeitos foram tão mais graves quanto mais ao nível do mar estava o animal, pois quanto mais os animais começavam a subir em altitude os mosquitos transmissores da malária já não conseguiam sobreviver bem nessas temperaturas mais frias com isso os animais dessas regiões conseguiam sobreviver porque tinha um desafio menor. Em altitude eu vou tentar colocar os animais mais jovens no local mais alto da minha propriedade e as idades mais velhas na região mais baixa, seguindo o mesmo princípio que por gravidade os ovos parasitários seriam carreados para a parte mais baixa logo os animais mais jovens ficam em cima para que eles não sejam desafiados tão intensamente. NUTRIENTES As regiões mais baixas tendem em ser mais nutritivas em termos de composição do solo para as plantas logo eu também há uma melhor diversidade de nutrientes oferecidos para os animais a partir dessas plantas. A respiração, a glicose te fornecem carbono, hidrogênio e oxigênio, todos os outros nutrientes que compõem o nosso corpo estão diretamente ligado à abundância deles no ambiente terrestre de uma forma geral. Então quem remove esses micronutrientes no solo são as plantas disponibilizando esses nutrientes para os herbívoros, os consumidores primários, que por sua vez vão ser ingeridos pelos carnívoros, os consumidores secundários, logo é muito mais provável eu ter alguma deficiência micro mineral em herbívoro do que em carnívoro. Os carnívoros já comem o pacote nutricionalmente mais equilibrado que é a carne do que quem come planta especificamente. Então pessoas veganas frequentemente têm que comer algum tipo de suplemento vitamínico mineral para equilibrar a sua deficiência de micro mineral e de vitaminas porque nas plantas é difícil assegurar que na dieta diária tudo que eu preciso esteja naquele prato de comida. CLIMA Topografia, latitude, longitudes vão definir o clima de um determinado local. Então o clima é afetado por todos esses fatores em última instância modificando quanto de sol, quanto de água, quanto vai ser a produção primária, logo quanto vai ser a biodiversidade no local. Então nós somos um país privilegiado em biodiversidade porque nós temos uma situação que está sendo modificada agora intensamente pela destruição amazônica que é esse fenômeno dos Andes e da Serra do mar gerar em regiões de muita intensidade de sol que é a região tropical, uma boa quantidade de água que permite então uma boa quantidade de fotossíntese das plantas 8 Epidemiologia – Aula 2 e uma produtividade primária grande logo biodiversidade. Então o clima ele permite com que a partir dessa biodiversidade imensa você possa ter uma produtividade grande em termos de vida. Só que quanto mais plantas, mais animais e consequentemente mais parasitos. Desta forma a quantidade de parasitos nos ambientes tropicais é muito maior as doenças tropicais a que nós estamos submetidos é muito maior do que qualquer ambiente temperado ou sub temperado e agora com o processo de aquecimento global e a tropicalização de áreas que antes eram temperadas vamos ter invasão de mosquitos, barbeiros em áreas que nunca tiveram a presença desses hospedeiros invertebrados e a disseminação então dessas doenças tropicais para uma grande parcela do mundo afora. Na figura anterior de cadeia trófica mostra que a produção primária é bancada pelo sole pela água que fornece energia para todos os níveis superiores que são os consumidores primários, secundários, terciários e para aqueles que fazem reciclagem nutriente. Hoje em dia também os satélites que tem fornecido grande parte da nossa informação meteorológica, cada vez mais a informação de solo vem sendo substituída pela informação de satélite que tem se mostrado cada vez melhor e com diminuição da escala também muito grande. O importante no clima é saber como o mesmo vai interferir diretamente nas condições locais de ocorrência das plantas, dos animais e também no desafio parasitário ambiental submetido aos animais. O calor rigoroso, a seca rigorosa, chuva intensa, vento excessivo, todos são fatores que podem levar ao aumento ou diminuição da ocorrência de doenças. Nem sempre o parasito mata o animal, mas ele debilita, ele rouba recurso, ele favorece a ação de outro parasita que esse sim pode causar uma doença clínica maior, então criar o animal nas condições de higiene de menor desafio parasitário possível é a estratégia interessante. Condição de assepsia não é tão interessante. Ter uma microbiota saudável, uma microbiota que é positiva, que é benéfica ao hospedeiro é importante para a saúde de qualquer animal. Então esse desafio parasitário deve ser mantido dentro de níveis controlados e você deseja também sempre controlar parasitos sabidamente mais patogênicos. Todos esses fatores anteriormente descritos (abióticos- não vivos) vão determinar finalmente a vegetação de um determinado local. VEGETAÇÃO A vegetação vai afetar diretamente não só a alimentação do animal, mas também pode modificar a exposição deles as plantas tóxicas a disponibilidade de nutrientes, a presença de abrigo ou não nesses locais, o favorecimento da persistência de determinados microrganismos então. Um exemplo, na Inglaterra era sempre caracterizado uma infecção fúngica pulmonar em esquilos e ninguém sabia bem o 9 Epidemiologia – Aula 2 que acontecia e estudos demonstraram que se o arbusto ficasse muito grande, muito fechado tinha maior crescimento do fungo na raiz das plantas desses arbustos, pois ela ficava mais úmida e mais fechada. E o esquilo frequentando esse arbusto tinha mais infecção pulmonar, então em última instância agora estão controlando a infecção fúngica pulmonar nos esquilos fazendo poda dos arbustos. Às vezes é mais fácil saber que existe uma associação do que saber o Mecanismo causal diretamente que pode vir a levar essa doença clínica dentro dos animais. COMO COMEÇAR A CARACTERIZAR? Primeira coisa que eu tenho que fazer é anotar bem a vegetação da minha propriedade, saber caracterizar plantas tóxicas.HOSPEDEIRO Dentro do hospedeiro eu tenho alguns aspectos são importantíssimos na constituição dele. Então eu primeiro tenho que pensar o hospedeiro como escalas diferentes. Se estou em clínica de pequenos animais o indivíduo para mim interessante, é aquele animal que está na minha mesa que é importante para mim. Se estou trabalhando como veterinário no confinamento bovino eu estou cuidando de uma população. Se sou epidemiologista de animais silvestres, por exemplo, eu já penso num ecossistema, eu tenho várias populações compostas de vários indivíduos que interagem entre si em um determinado local levando o aumento ou a diminuição de ocorrência de doenças. Então nessas três situações são feitas análises diferentes, se estou pensando no indivíduo eu faço uma análise clínica, diagnósticos individual, eu tenho controle da coleta eu sei da onde veio aquele sangue, etc. Já estou fazendo uma analisada uma população muitas vezes não coleta nada dos indivíduos, eu vejo quem morreu. Se for feita coleta de fezes muita das vezes essa coleta não é individual. E aí com isso eu tenho ideia do que é que está acontecendo na população. Se eu estou trabalhando com o ecossistema, eu já tenho várias espécies diferentes, informações clínicas variadas, eu tenho coleta com várias metodologias então a coisa se torna bem mais complicada. O que se deve ter em mente é que qualquer informação é melhor que nenhuma informação, sempre anote bem as informações que você tem. Então nossa área de estudo na medicina veterinária é variavelmente mais os vertebrados com quem os invertebrados. Embora a gente estude muito invertebrado como transmissor de doenças como causas de doença, mas não para cuidar da saúde do carrapato, por exemplo, não é nossa estratégia. Peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos são as nossas principais áreas de atuação. Então pensar que dentro dessas classes animais, quanto mais próximo evolutivamente está algum animal do outro mais provável de ter transmissão cruzada de doenças. Então a lista de zoonoses dos répteis é infinitamente menor do que a lista que vem dos primatas que é gigantesca. Existe também a proximidade evolutiva dos parasitos, alguns são mais multi hospedeiros, são mais versáteis em termos de infecção do 10 Epidemiologia – Aula 2 que outros parasitos que já são mais específicos, mais exclusivos em determinados grupos. Um dos fatores de emergências de doença é a maior miscigenação de animais e de organismos que nunca estiveram tão próxima, então agora essa proximidade favorece o Salto evolutivo de um hospedeiro para o outro. É então pensando nesse Salto evolutivo é sempre mais difícil saltar em termos quando eu tenho um hospedeiro numa temperatura muito diferente do outro. As aves também que estão a temperatura um pouquinho mais acima do que a nossa normalmente também tem uma dificuldade maior de passar doenças para a gente do que dentro do grupo dos mamíferos em que certamente há favorecimento de temperatura também. Pensando nessa questão de um hospedeiro ser desafiado por um parasita e poder ser infectado não. TEORIA DA RAINHA VERMELHA Desde o final do século passado uma teoria interessante que se chama teoria da rainha vermelha hipótese da rainha vermelha. Ela diz que na realidade você tem você tem parasito e hospedeiro sempre em competição um com o outro em termos evolutivos. O parasito precisa do hospedeiro para reproduzir e se ele for controlado completamente pelo hospedeiro ele não reproduz e vai extinção. Por outro lado o hospedeiro se sucumbir completamente ao parasito ele também vai extinção então ele é selecionado para resistir ao parasito. Então a teoria da rainha vermelha foi extraído esse nome dá a história da Alice Através do Espelho em que por ela estar no mundo dos espelhos para ela ficar parada ela tinha que ficar correndo ou andando o tempo todo. É exatamente o que acontece com o parasito e hospedeiro em termos evolutivos, está um sempre correndo contra o outro para ficar parado no mesmo lugar de estar convivendo um contra o outro, se um dos 2 parar em algum momento ele fica para trás e é levado à extinção pelo parasito ou levado extinção pelo hospedeiro no caso ele conseguir controlar completamente o parasito. ESPÉCIE Pensando então nessa questão da constituição genética do hospedeiro a espécie é muito importante e o que existe em termos evolutivos é a espécie, o resto é organização para estudo (classe, ordem, filo e família). O que existe é aquele indivíduo que reproduz com outro indivíduo e construiu uma espécie por manterem troca genômica entre si. Hoje em dia as nossas principais fontes de proteínas são aves e mamíferos, e os peixes os quais cresceram muito nos últimos anos. Dentro desses grupos eu sempre vou me preocupar mais com aves e mamíferos para a nossa produção de proteínas. E obviamente os invertebrados que vão ocorrem nesses animais os helmintos que ocorrem nesses animais também gerar uma maior preocupação de estudos da minha parte. O que é importante dentro dessa questão da espécie a própria linhagem genética e hoje em dia uma das grandes linhas de estudo é compreender como a genômica de um animal é importante para eles e resistentes ou tolerantes a determinado organismo. Resistência de um de um parasito: animal que resiste à invasão do parasito, é ele tem 11 Epidemiologia – Aula 2 a pele grossa, ele não tem os epitopos moleculares para o vírus grudar, a bactéria não consegue acessar o organismo dele por uma série de fatores. Com esse conceito de resistência ele evoluiu inclusive o conceito de resiliência onde o animal é capaz de resistir ao parasito apesar do número que ele tem dentro deles. Tolerância: capacidade de controlar os efeitos fisiológicos e de impedir a reprodução do parasito, então apesar de ser infectado, ele consegue manter o parasito sob controle e não sofrer efetivamente muitos defeitos deletérios a partir da reprodução desse parasito dentro do seu organismo. A tabela anterior mostra vários efeitos documentados de resistência e tolerância genética a vários organismos diferentes em espécies de bovino, aves, caprinos, e suínos.. São esses mecanismos que permitem que geneticamente um animal consiga diminuir os efeitos de um determinado parasito ou impedir a invasão dele ao seu organismo. Já consegue inclusive caracterizar os genes que estão associados à suscetibilidade genética doenças infecciosas é que gene especificamente confere resistência a um determinado agente ou linhagem. A variabilidade genética é uma das coisas muito importantes em termos de resistência a doenças, na capacidade de produzir os anticorpos diferentes, mas em algumas situações se é caracterizado que uma determinada linhagem genética é resistente a um parasito eu vou começar a criar mais dessa linha genética, o que eu não posso ter é nunca chegada de um parasito que seja eficaz contra aquela linhagem. Além da genética do organismo hospedeiro que confere melhor capacidade imune devido a todos esses fatores que estão descritos aí, temos também outros fatores que estão classicamente ligados à uma melhor ou pior resposta imunológica. Alguns deles são: Sexo; Idade; Estado nutricional do hospedeiro. Idade: tanto existe uma suscetibilidade maior de animais mais jovens em algumas situações e uma subjetividade maior de animais mais velhos. Então normalmente o animal que saiu da puberdade, ou seja, entrou na vida adulta e não está ainda velho esse animal que tem um máximo de resposta imunológica com outras doenças. Em alguns casos por mecanismos ligados ao desafio parasitário ao próprio mecanismo de atuação do parasito eu posso ter uma suscetibilidade maior de jovens oumais velhas. Mas normalmente as 2 extremos são mais suscetíveis às doenças. 12 Epidemiologia – Aula 2 Sexo: existe um mecanismo bem caracterizado desde o final do século passado em que há uma retroalimentação positiva entre a secreção de testosterona e a secreção de cortisol. Quanto mais um macho produto testosterona mais ele produz cortisol e mais imunossuprimido ele está. Isso tem haver com uma questão de direcionamento energético da energia que seria direcionado para o sistema imunológico para desenvolvimento dos caracteres reprodutivos secundários (chifres, penas do pavão, ou seja, ficar mais bonito para atrair a fêmea). Já nas fêmeas essa suscetibilidade maior das doenças ocorre durante o período gestacional em mamíferos e nas aves durante o período de postura, há a chamada imunossupressão puerperal onde no 1/3 final da gestação quando o filhote tende a crescer em tamanho, quando há uma demanda energética máxima de criação do filhote, existe uma imunossupressão nessa fêmea. Não posso esquecer também que quando eu penso em sexo também existem as doenças venéreas. A exposição às doenças venéreas podem afetar diferentemente machos e fêmeas e mesmo o próprio comportamento deles pode expor eles de uma forma diferente aos parasitos. Os machos quando estão brigando entre si na época reprodutiva eles têm uma maior exposição à doenças, lesões traumáticas, a transmissão de determinados parasitos. As fêmeas quando estão aglomeradas no harém levam a interações agonísticas mais intensas, a brucela do aborto de uma pode contaminar a outra. Então devemos pensar o comportamento animal também como um fator de suscetibilidade a doenças. Estado nutricional: pensando em termos de alimentação. Pois se você não come bem, não tem os substratos e requisitos necessários para uma resistência doença, para tolerância a doença ou para a própria cicatrização das lesões causadas pelo parasito. A gente tem que pensar em nutrição não só como fornecimento de energia, mas também o substrato da energia e como os micro minerais necessários para a composição de uma boa saúde. Os próprios hábitos alimentares pensando nutrição também podem melhorar ou piorar a minha qualidade de nutrientes. Os carnívoros tem muito menos possibilidade de deficiência de minerais que os herbívoros. Mas também o próprio comportamento ingere animais diferentes, tem uma exposição aos parasitas dos animais que ingerem maior do que um herbívoro que come planta então ele tem controle maior do número de parasitos que ele acaba sendo exposto. Devemos sempre pensar na comunidade parasitaria, onde cada animal é um “ônibus parasitário” tem uma “galera” dentro dele competindo, cooperando, interferindo entre si, debilitando ou favorecendo o sistema imunológico. Evitem pensar apenas em um parasito como sendo mais importante, mas tendo a pensar na saúde do animal com uma composição de diversos fatores diferentes. AGENTE INFECCIOSO Como essa classe vocês tem disciplinas voltadas só para ela não vou entrar muito no tema. Vou apenas lembrar a importância em da espécie do agente infeccioso, que parasito que é, da linhagem genética dele. Dose infectante: quanto menor a dose maior a probabilidade de o animal conseguir montar uma boa resposta imunológica. 13 Epidemiologia – Aula 2 A via de infecção: pode ser super-relevante, ou seja, se é transcutânea, por inalação, por ingestão, entrada pela pele.. todas essas vias de infecções diferentes podem levar a efeitos fisiológicos completamente diferentes. Duração da exposição: quanto tempo o parasita permanece no animal e que ele pode vir a adquirir o parasito então eu quero que isso diminua o máximo possível. A própria estratégia de Transmissão do parasito: é por contato direto, por contato com o solo, por um hospedeiro invertebrado. E por último: pensar sempre na comunidade parasitaria infectante.
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