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DIREITO CIVIL - PARTE GERAL CAPITULO 2 QUAL E O OBJETO DA RELACAO JURIDICA E COMO SE ADQUIRE, MODIFICA OU EXTINGUE UM DIREITO?

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DIREITO CIVIL - PARTE GERAL
CAPÍTULO 2 – QUAL É O OBJETO DA 
RELAÇÃO JURÍDICA E COMO SE ADQUIRE, 
MODIFICA OU EXTINGUE UM DIREITO?
Henrique de Almeida Carvalho
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Introdução
O que é importante para as pessoas? Os seres humanos são capazes de formar diversos tipos de relações
jurídicas em busca de conseguirem o que desejam. São inúmeras as necessidades de satisfação humanas: a tão
sonhada casa própria, o veículo do ano, roupas e sapatos novos ou até mesmo o seu chocolate preferido.
Na sociedade de consumo, caracterizada pelo capitalismo, a mente humana busca cada vez mais a aquisição de
bens materiais produzidos para serem rapidamente descartados ou substituídos, o que chamamos de
obsolescência programada. Mas, bem é só aquilo que pode ser comprado? Existem direitos inerentes à
personalidade do indivíduo, por exemplo, que não possuem valor econômico. É o caso do direito à honra e do
direito à vida.
Os bens são objeto das relações jurídicas formadas entre as pessoas na sociedade. O aparelho eletrônico que
você utiliza, a energia elétrica da sua casa, o alimento que você ingere, todos esses bens constituem elementos
importantes de relações jurídicas que fizeram tudo isso chegar até você. Os alimentos que você consumiu hoje,
por exemplo, foram plantados ou produzidos, vendidos para o supermercado e comprados por você.
Mas todo fato que acontece no mundo é importante para o direito? Como é possível criar, modificar ou extinguir
as relações jurídicas? O que é um negócio jurídico?
Vamos estudar esse conteúdo a partir de agora. Acompanhe!
2.1 Objeto da relação jurídica
Relação jurídica é toda relação social que produz efeitos jurídicos, ou seja, é relevante para o direito. A compra e
venda de um aparelho celular, a doação de um imóvel, o empréstimo de dinheiro, a produção de um comercial de
TV com celebridades, a adoção de uma criança, a relação entre pais e filhos, o ato de fazer um testamento, as
relações de trabalho, o tratado internacional assinado por diversos países, são todos exemplos de relações
sociais importantes para o mundo jurídico.
Toda relação jurídica é constituída por três elementos: sujeitos, objeto e vínculo jurídico. Clique para conhecer
cada um deles.
Sujeito
Os sujeitos da relação jurídica são as pessoas: João, Maria, o supermercado, a empresa de materiais de
construção, o município, a União, a ONU etc.
Objeto
Bem é aquilo que pode ser objeto das relações jurídicas. É o veículo objeto da doação, o dinheiro objeto da
locação, o imóvel objeto da alienação, os direitos de propriedade intelectual objetos do contrato de cessão, por
exemplo.
Vínculo
O vínculo jurídico é aquilo que liga as pessoas que participam da relação jurídica, garantindo o cumprimento das
obrigações.
A seguir, falaremos em mais detalhes sobre o conceito da palavra bens para o direito. Acompanhe.
2.1.1 Conceito de bens
Embora de pequena extensão, a palavra “bens” pode significar um sem-número de coisas. É a moeda, o livro, os
sapatos, a música, a invenção de uma obra literária, os direitos patrimoniais, o nome, a honra etc.
Atenção, bem não tem o mesmo significado jurídico de coisa! Coisa é gênero, enquanto bem é uma espécie de
coisas. O tema gera ampla discussão na doutrina. Coisa é tudo que existe na sociedade, exceto as pessoas
naturais (ser humano) e pessoas jurídicas (grupo de pessoas e/ou bens dotados de personalidade própria, como
as sociedades empresárias). Bens são coisas materiais ou imateriais que podem proporcionar utilidades às
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as sociedades empresárias). Bens são coisas materiais ou imateriais que podem proporcionar utilidades às
pessoas. 
Existe uma categoria especial de bens, denominada bens jurídicos. Alguns bens jurídicos não são coisas, como a
liberdade, a vida e a honra do indivíduo. Por outro lado, existem coisas que não podem ser objeto de relações
jurídicas, porque são insuscetíveis de apropriação pelo homem. É o caso do mar, do sol, da lua e das nuvens.
Em razão da variedade de bens que existem na sociedade, os bens podem ser classificados de diversas formas.
2.1.2 Classificação
As diferentes classes de bens são disciplinadas nos artigos 79 a 103 do Código Civil (BRASIL, 2002), conforme
três critérios: bens considerados em si mesmos (arts. 79 a 91), bens reciprocamente considerados (arts. 92 a 97)
e bens considerados em relação ao seu titular (arts. 88 a 103).
Os bens considerados em si mesmos podem ser classificados em cinco categorias, conforme o organograma
abaixo:
Figura 1 - Organograma sobre a classificação dos bens considerados em si mesmos, conforme as normas 
previstas nos artigos 79 a 91 do Código Civil.
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em BRASIL, 2002.
VOCÊ QUER VER?
O documentário “A História das Coisas” ou , de Annie Leonard, demonstra emThe Story of Stuff
apenas vinte minutos os impactos negativos do consumismo no meio ambiente, na saúde da
população e nas relações interpessoais. O documentário ilustra todo o processo de produção
até a venda, utilização e eliminação dos bens materiais, alertando para os riscos da falsa ideia
de necessidade estipulada pela mídia e pelas grandes empresas. Você pode acessá-lo em:
< .>.https://www.youtube.com/watch?v=9GorqroigqM
https://www.youtube.com/watch?v=9GorqroigqM
- -4
Os bens corpóreos são aqueles que têm existência física ou material, como as bicicletas, um relógio, a mesa de
jantar. Já os bens incorpóreos possuem existência abstrata, que não podemos tocar ou perceber pelos nossos
sentidos. É o caso dos direitos autorais e da propriedade intelectual. A marca Coca-Cola, por exemplo, é um bem
incorpóreo.
Essa classificação tem importantes aplicações práticas. Se uma celebridade deseja transmitir seus direitos de
imagem (bem incorpóreo) para a produção de um comercial, será realizado um contrato de cessão. Já os bens
corpóreos são transmitidos pelo contrato de compra e venda (de um sofá, de um carro etc.). A classificação entre
bens corpóreos e incorpóreos, no entanto, não foi disciplinada pelo Código Civil.
Os bens móveis são aqueles que podem ser transportados sem alteração da sua substância, suscetíveis de
movimento próprio (como os animais) ou de locomoção por força alheia (como as mercadorias), denominados
móveis propriamente ditos, nos termos do art. 82, do Código Civil (BRASIL, 2002). Existem direitos equiparados
aos bens móveis por disposição legal, como “os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes”
(BRASIL, 2002, art. 83, II) e “os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações” (BRASIL, 2002, art.
83, III). Além disso, as energias que tenham valor econômico, como a elétrica, hidráulica e eólica, também são
consideradas bens móveis para os efeitos legais (BRASIL, 2002, art. 83).
Já os imóveis, chamados de bens de raiz, são aqueles que não podem ser removidos de um lugar para outro sem
destruição ou alteração da sua substância. Conforme o art. 79 do Código Civil (BRASIL, 2002), podem ser
classificados em imóveis os listados na tabela a seguir. Clique para ver.
Por natureza É o solo, com sua superfície, subsolo e espaço aéreo.
Por acessão
natural
É aquilo que se agrega naturalmente ao solo, como as árvores e os cursos de água.
Por acessão
artificial
É tudo que o homem incorpora definitivamente ao solo, como as plantações, edifícios e
construções.
O art. 80 do Código Civil (BRASIL, 2002) determina que “os direitos reais sobre imóveis e as ações que o
asseguram” e o “direito à sucessão aberta” são equiparados aos imóveis para os efeitos legais.
Figura 2 - A plantação de trigo é um exemplo de bem imóvel por acessão artificial, porque foi incorporada 
definitivamente ao solo pela atuação humana.
Fonte: Johan Larson, Shutterstock, 2018.
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Enquanto os bens móveis podem ser adquiridos pela entrega da coisa, denominada tradição (BRASIL, 2002, art.
1.226), os imóveis só podem ser transferidos pelo registro no cartório de registro de imóveis (BRASIL, 2002, art.
1.227). Se alguém acumula uma grande dívida, pode oferecer um imóvel como garantia parao seu pagamento, o
que chamamos de hipoteca (BRASIL, 2002, art. 1.473). Por outro lado, se um carro ou outro bem móvel for
oferecido como garantia para o pagamento de determinada dívida, fala-se em penhor (BRASIL, 2002, art. 1.431).
Bens fungíveis são “os móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, quantidade e
qualidade” (BRASIL, 2002, art. 85), sem que isso modifique o seu conteúdo. Quando você deposita R$ 100,00 no
banco, por exemplo, e depois de uma semana faz o saque do mesmo valor, o banco não te devolve a mesma nota
de R$ 100,00. Isso porque o dinheiro é um bem fungível – as duas notas têm o mesmo valor econômico, social e
jurídico. Os bens infungíveis, por outro lado, são insubstituíveis, como uma obra de arte, uma escultura famosa. O
empréstimo de bens fungíveis é denominado mútuo (BRASIL, 2002, art. 586), enquanto o empréstimo de bens
infungíveis é denominado comodato (BRASIL, 2002, art. 579).
Bens consumíveis são aqueles cujo uso importa destruição imediata da coisa, como também os destinados à
alienação (BRASIL, 2002, art. 86). Podem ser consumíveis de fato, como os alimentos, que desaparecem
imediatamente quando usados, ou consumíveis de direito. Os bens juridicamente consumíveis não desaparecem
pelo uso, mas pela alienação a um terceiro. As laranjas, por exemplo, são bens juridicamente consumíveis para o
vendedor da feira, que não pode utilizar novamente aquelas que vendeu para os consumidores.
Já os bens inconsumíveis podem ser usados continuamente sem que o seu uso importe destruição. O bolo de
cenoura, por exemplo, é um bem consumível. As roupas do seu guarda-roupa são bens inconsumíveis, porque
podem ser utilizados continuadamente.
Bens divisíveis são “os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de
valor, ou prejuízo do uso a que se destinam” (BRASIL, 2002, art. 87). É o caso, por exemplo, de um pacote de
açúcar ou de um litro de refrigerante. Por outro lado, um livro ou um CD, não podem ser divididos, em razão do
prejuízo do uso a que se destinam.
Se Carlos compra uma barra de chocolate para os seus três filhos, é possível dividir o doce em três partes, uma
para cada um. Mas se Carlos compra um cachorrinho para os três, Ana, Caio e Miguel não poderão dividir o
animal. Os três serão donos do cachorro, o que chamamos de condôminos.
São bens singulares aqueles que, “embora reunidos, se consideram , independentemente dos demais”per si
(BRASIL, 2002, art. 89). É o caso de uma caneta, de um livro. Os bens singulares podem ser simples, quando
formados pela coesão natural das partes (como um elefante ou uma árvore) ou compostos, quando formados
pela união artificial das partes (como um navio ou automóvel).
Já os bens coletivos, ou universalidades, são aqueles considerados em um conjunto formado por várias coisas
singulares, de modo que o todo tem individualidade própria. Abrangem as universalidades de fato e
universalidades de direito. A universalidade de fato corresponde à “pluralidade de bens singulares que,
pertencentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária (BRASIL, 2002, art. 90). Se Tiago tem uma biblioteca
VOCÊ QUER LER?
O livro “A crise de 2008 e a economia da depressão”, do economista norte-americano Paul
Krugman explica como a crise do mercado imobiliário afetou toda a economia mundial. Isso
porque as instituições financeiras dos Estados Unidos concederam desenfreadamente crédito
fácil para clientes de alto risco, que ofereciam suas casas como garantia do pagamento das
dívidas (hipoteca). O efeito cascata provocado pelo aumento dos juros e pela queda do preço
dos imóveis provocou a grande recessão norte-americana de 2008, uma das maiores da
história do mundo.
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pertencentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária (BRASIL, 2002, art. 90). Se Tiago tem uma biblioteca
(bem coletivo) em casa, ainda sim pode vender, abandonar ou emprestar cada um dos seus livros,
individualmente.
Considera-se universalidade de direito “o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor
econômico” (BRASIL, 2002, art. 91), como a herança e o patrimônio.
Figura 3 - A biblioteca é um exemplo de bem coletivo caracterizado pela universalidade de fato, nos termos do 
art. 90 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Fonte: Photogl, Shutterstock, 2018.
Os bens podem ser enquadrados, em sua maioria, em mais de uma categoria. As sacas de café, por exemplo, são
bens móveis, fungíveis e divisíveis. Já os óculos são bens móveis, indivisíveis e inconsumíveis.
Depois de compreender a classificação dos bens considerados em si mesmos, vamos conhecer os bens
reciprocamente considerados, classificados em principais e acessórios.
Conforme o art. 92 do Código Civil (BRASIL, 2002), “[p]rincipal é o bem que existe sobre si, abstrata ou
concretamente”, enquanto acessório é “aquele cuja existência supõe a do principal”. Por isso, (i) a natureza do
acessório é a mesma do principal; (ii) o acessório segue o destino do principal e (iii) o proprietário do principal é
proprietário do acessório.
Imagine que Rodrigo adquiriu um sítio com quinze pés de limão. Os pés de limão, incorporados ao solo do sítio,
são considerados bens imóveis. Se Rodrigo doar o sítio para André, os pés de limão acompanharão a doação.
Além disso, Rodrigo é proprietário de todos os limões percebidos no sítio, de sua propriedade.
Conforme o art. 95 do Código Civil (BRASIL, 2002), os bens acessórios são classificados em produtos e frutos.
Os produtos são utilidades cuja percepção diminui a substância da coisa principal, porque não são produzidos
periodicamente, como os metais retirados das jazidas minerais. Já os frutos são utilidades produzidas
periodicamente. São classificados em três tipos listados na interação abaixo. Clique para ver.
Naturais
Aqueles que se renovam periodicamente por sua própria natureza, como os pés de limão. 
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Aqueles que se renovam periodicamente por sua própria natureza, como os pés de limão. 
Industriais
Aqueles que se renovam periodicamente pela atuação humana, como a produção de uma fábrica.
Civis
São rendimentos produzidos pela coisa, como o valor mensal do aluguel do apartamento pago pelo locatário ao
locador, proprietário do imóvel.
Os bens acessórios abrangem também as pertenças, que não integram a coisa, mas são destinadas a ornamentar
ou facilitar o uso do bem principal (BRASIL, 2002, art. 93). Apesar de acessórios, as pertenças mantêm a sua
individualidade e autonomia.
A principal diferença é que, via de regra, os negócios jurídicos sobre o bem principal não abrangem as pertenças.
Isso significa que, ao comprar um apartamento, os objetos de sua decoração não são adquiridos com o imóvel.
Também são espécies de bens acessórios as despesas ou melhoramentos que podem ser realizados sobre bens
móveis ou imóveis, denominadas benfeitorias. Podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias, conforme o art. 96
do Código Civil (BRASIL, 2002).
São voluptuárias as benfeitorias de luxo, para o embelezamento da coisa, “que não aumentam o uso habitual do
bem” (BRASIL, 2002, art. 96, §1º). As benfeitorias úteis são aquelas que, como o próprio nome diz, “aumentam
ou facilitam o uso do bem”(BRASIL, 2002, art. 96, 2º). Já as necessárias são aquelas imprescindíveis para
conservar o bem ou evitar que seja deteriorado (BRASIL, 2002, art. 93, §3º).
As benfeitorias são relevantes para o direito quando realizadas por terceiro, que não são proprietários do bem. É
o caso, por exemplo, do locatário de uma casa que realiza reparos na parede para evitar a infiltração de uma
água (necessária), que constrói uma garagem (útil) ou que realiza obras de jardinagem (voluptuárias).
Conforme o art. 1.219 do Código Civil (BRASIL, 2002), o possuidor de boa-fé tem direito de ser indenizado pelas
benfeitorias necessárias e úteis, além de poder levantar (retirar) as benfeitorias voluptuárias, desde que não
afete a estrutura da coisa.
O possuidor de má-fé, no entanto, apenas tem direito à indenização pelas benfeitorias necessárias e não pode
levantar as voluptuárias (BRASIL, 2002,art. 1.220).
Agora que estudamos a classificação dos bens considerados em si mesmos e dos bens reciprocamente
considerados, vamos conhecer a classificações dos bens quanto à sua titularidade. Acompanhe!
2.2 Da titularidade dos bens
Neste tópico, vamos entender a classificação dos bens conforme o seu titular, pessoa proprietária do bem.
Qual é a diferença entre bens públicos e bens privados? O que significa bem de família? O que é bem de uso
VOCÊ SABIA?
A locação de imóveis urbanos é disciplinada pela Lei nº 8.245 (BRASIL, 1991). A lei determina
que as benfeitorias úteis realizadas pelo locatário sejam indenizáveis desde que autorizadas
pelo locador (BRASIL, 1991, art. 36). Se você pretende alugar um imóvel residencial, certifique-
se das diversas regras especiais previstas na lei de locações, que disciplina as obrigações do
locatário e do locador. As locações de vagas autônomas de garagem ou de espaços para o
estacionamento de veículos, contudo, continuam reguladas pelo Código Civil.
- -8
Qual é a diferença entre bens públicos e bens privados? O que significa bem de família? O que é bem de uso
comum do povo? Todas essas perguntas estão intrinsecamente ligadas ao estudo da classificação dos bens
quanto à sua titularidade.
A classificação dos bens considerados em relação ao sujeito titular do domínio se dá em função do regime
jurídico ao qual o sujeito titular do bem é submetido. Nesse sentido, os bens podem ser divididos em bens
públicos e bens privados.
2.2.1 Bens públicos
Conforme o art. 98 do Código Civil (BRASIL, 2002), “são públicos os bens do domínio nacional pertencentes às
pessoas jurídicas de direito público interno”. Os bens dos entes da Administração Direta (União, estados e
municípios) e dos entes da Administração Indireta (autarquias e fundações públicas) são, portanto, considerados
bens públicos.
Figura 4 - As praias do litoral brasileiro são consideradas bens públicos de uso comum do povo, nos termos do 
art. 99 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Fonte: Por Anton Gvozdikov, Shutterstock, 2018.
Nos termos do art. 99 do Código Civil (BRASIL, 2002), os bens públicos podem ser classificados em três
categorias: bens de uso comum do povo, de uso especial e dominicais. Clique nas abas a seguir para conhecê-las.
•
Bens de uso comum
Os bens de uso comum do povo são aqueles que podem ser utilizados por qualquer pessoa, “como
•
- -9
Os bens de uso comum do povo são aqueles que podem ser utilizados por qualquer pessoa, “como
rios, mares, estradas, ruas e praças” (BRASIL, 2002, art. 99). “O uso comum dos bens públicos pode
ser gratuito ou retribuído” (BRASIL, 2002, art. 103), como é o caso da instituição de pedágios nas
rodovias.
Para Carlos Roberto Gonçalves, “O povo tem o direito de usar tais bens, mas não tem o seu
domínio. Este pertence à pessoa jurídica de direito público. Mas é um domínio com características
especiais, que lhe confere a guarda, administração e fiscalização dos referidos bens, podendo ainda
reivindicá-los” (GONÇALVES, 2016, p. 317).
•
Bens de uso especial
Os bens de uso especial são aqueles utilizados para a execução dos serviços públicos, “tais como
edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual,
territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias” (BRASIL, 2002, art. 99, II). É o caso dos
imóveis utilizados pelas escolas e hospitais públicos.
•
Bens dominicais
Já os bens dominicais “constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como
objeto de direito pessoal ou real” (BRASIL, 2002, art. 99, III). Isso significa que o Poder Público
exerce os poderes de proprietário sobre os bens dominicais, podendo inclusive vendê-los aos
particulares, desde que não afetados à finalidade pública específica. É o caso dos títulos da dívida
pública, do arsenal das Forças Armadas, das estradas de ferro e dos prédios públicos desativados.
Ao contrário, os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial se caracterizam pela inalienabilidade,
imprescritibilidade e impenhorabilidade. Isso quer dizer que não podem ser vendidos (BRASIL, 2002, art. 100),
não podem ser adquiridos por particulares por meio de usucapião (BRASIL, 2002, art. 102)e nem podem ser
oferecidos como garantia do pagamento de determinada dívida. Por exemplo, o município não pode vender
determinada praça pública ou utilizá-la como pagamento de uma dívida, e se Antônio mora há vinte anos na
praça, ainda assim, não poderá adquirir a sua propriedade.
Agora, você irá ler sobre os bens privados. Vamos lá?
•
•
VOCÊ QUER LER?
Conforme a Lei de Acesso à Informação, Lei nº 12.527 (BRASIL, 2011) e o Decreto nº 8.777
(BRASIL, 2016), que instituiu a chamada “Política de Dados Abertos do Governo Federal”, as
informações sobre os bens imóveis da União passaram a ser publicadas na internet pela
Secretaria do Patrimônio da União. Os dados podem ser acessados no link:
<http://www.planejamento.gov.br/assuntos/patrimonio-da-uniao/consulta-de-imoveis-da-
>.uniao/imoveis-dominiais
http://www.planejamento.gov.br/assuntos/patrimonio-da-uniao/consulta-de-imoveis-da-uniao/imoveis-dominiais
http://www.planejamento.gov.br/assuntos/patrimonio-da-uniao/consulta-de-imoveis-da-uniao/imoveis-dominiais
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2.2.2 Bens privados
Os bens privados ou particulares são conceituados por exclusão, como todos aqueles que não são públicos
(BRASIL, 2002, art. 98).
Os bens privados, portanto, são aqueles que integram o complexo patrimonial dos cidadãos comuns, que
responde pelo cumprimento das suas obrigações.
Entre os bens particulares, um deles merece proteção especial para garantir o direito ao mínimo existencial do
indivíduo, fundamento no princípio constitucional da dignidade humana. É o chamado bem de família,
disciplinado nos artigos. 1.711 a 1.722 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Imagine que Marcos é um professor que perdeu seu emprego e precisa sustentar seus três filhos. Mesmo que
Marcos acumule diversas dívidas, o imóvel residencial que vive com as crianças não poderá ser utilizado para o
pagamento dos débitos. É o que chamamos de impenhorabilidade dos bens de família.
Há duas espécies de bens de família. Clique nos itens a seguir.
• 
Legal
Conforme a Lei nº 8.009 (BRASIL, 1990), o imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade
familiar, é impenhorável e não responderá pelas dívidas contraídas pelos familiares que nele
resida.
• 
Voluntário
É aquele instituído como de família por ato de vontade do próprio casal da entidade familiar,
através do registro do ato de sua instituição no cartório de registro de imóveis, nos termos do art.
1.711 do Código Civil (BRASIL, 2002).
•
•
- -11
Figura 5 - Família em seu imóvel residencial, que tem proteção especial garantida pelo ordenamento jurídico.
Fonte: Andrey_Popov, Shuterstock, 2018.
O princípio da impenhorabilidade do bem de família, contudo, comporta algumas exceções determinadas na Lei
nº 8.009 (BRASIL, 2009), como os débitos trabalhistas, de pensão alimentícia e de tributos relativos ao próprio
imóvel.
- -12
E o ar atmosférico e a luz solar, que não se enquadram na categoria de bens públicos ou privados? São os
denominados bens fora de comércio, que não podem ser objetos de relações jurídicas. Isso significa que não é
possível comprar, vender, alugar, emprestar, ou doar determinados bens. É o caso dos bens que, por sua
natureza, não podem ser apropriados pelas pessoas. Também estão fora de comércio os bens legalmente
inalienáveis, como os bens públicos de uso comum e uso especial, e os bens indisponíveis pela vontade humana,
como os bens doados com cláusula de inalienabilidade (BRASIL, 2002, art. 1.911).
Os bens são objeto das diversas relações jurídicas constituídas entre pessoas, capazes de criar, modificar e
extinguir direitos e obrigações. Mas tudo que acontece na vida em sociedade é relevante para o direito? O que é
um fato, ato ou negócio jurídico? É o que aprenderemos no próximo tópico. Vamos lá!
2.3 Fato, Ato e Negócio Jurídico
Todo acontecimento natural ou humanorelevante para o direito, que produz efeitos jurídicos, são denominados
fatos jurídicos. Nesse sentido, “[n]em todo acontecimento constitui fato jurídico. Alguns são simplesmente fatos,
irrelevantes para o direito. Somente o acontecimento da vida relevante para o direito, mesmo que seja fato
ilícito, pode ser considerado fato jurídico” (GONÇALVES, 2016, p. 324).
A chuva que cai em alto mar, por exemplo, não é importante para o direito, porque não gera nenhum efeito
jurídico. Mas a forte tempestade que causa danos no teto do apartamento gera efeitos jurídicos para o
proprietário do imóvel ou até para terceiros, como o locatário.
Para Paulo Nader (2016, p. 352):
Há o mundo fático, palco de todo os acontecimentos – naturais ou humanos – e o mundo jurídico, que
se compõe do universo de relações jurídicas. Cada pessoa tem o seu patrimônio de relações jurídicas,
formado por seus direitos subjetivos e deveres jurídicos. Aqueles dois mundos – o fático e jurídico –
não se confundem, mas se intercomunicam, pois há acontecimentos que se limitam ao mundo fático
e outros que participam de um e de outro.
O Código Civil disciplina os fatos jurídicos no Livro III, artigos 104 a 232 (BRASIL, 2002).
2.3.1 Noção, características
Para entender como os fatos jurídicos influenciam as relações jurídicas formadas entre pessoas, é preciso
conhecer como se dá a aquisição, modificação e extinção de direitos. Veja cada um destes conceitos clicando na
interação a seguir.
“Ocorre a aquisição de direitos com a sua incorporação ao patrimônio e à personalidade do titular”
VOCÊ SABIA?
Em 2008, o Superior Tribunal de Justiça declarou, por meio da súmula nº 364 (BRASIL, 2008),
que “[o] conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel
pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas”. Isso porque a proteção especial do bem
de família não compreende apenas a entidade familiar, mas está relacionada ao direito
inerente à dignidade humana, que pertence a todos os indivíduos: o direito à moradia.
- -13
“Ocorre a aquisição de direitos com a sua incorporação ao patrimônio e à personalidade do titular”
(GONÇALVES, 2016, p. 330). Pode ser originária, quando se adquire um direito independentemente da existência
de um anterior, ou derivada, quando há uma relação jurídica com o anterior titular, como na locação de um
imóvel. Os direitos da personalidade do indivíduo, por exemplo, são adquiridos originariamente, com o seu
nascimento. A aquisição também pode ser gratuita, como a doação, ou onerosa, como o contrato de compra e
venda. 
Já a modificação de direitos ocorre quando há alteração do seu objeto ou titular. A modificação objetiva
compreende a mudança no objeto do direito, e pode ser quantitativa, que ocorre quando o objeto aumenta ou
diminui de extensão ou volume, ou pode ser qualitativa, quando há alteração do seu conteúdo. É o que ocorre,
por exemplo, “quando a forma avençada de pagamento foi em dinheiro e o credor concorda em receber em
cheque” (NADER, 2016, p. 380).
A modificação subjetiva de direitos ocorre quando há alteração do seu titular, e pode ser inter vivos, como na
compra e venda, ou causa , por meio do qual há sucessão dos direitos aos herdeiros. mortis
Os atos jurídicos também podem ser praticados para a conservação de direitos violados ou ameaçados de lesão.
Se o direito já foi violado, é possível tomar medidas judiciais de caráter repressivo. É o exemplo da ação de
reparação civil pelos danos causados por violação aos direitos da personalidade, que chamamos de ação
indenizatória.
Finalmente, os direitos podem ser extintos de diversas formas. É o caso do perdão de uma dívida, do abandono
de um bem em alto-mar, dos direitos personalíssimos que são extintos com morte da pessoa natural.
Extinção é diferente da perda do direito, que ocorre quando o anterior titular efetivamente perde o direito para o
novo titular. É o caso, por exemplo, da compra e venda e até mesmo do furto de determinado bem, que é um ato
ilícito que produz efeitos jurídicos.
Assim como as pessoas, “[t]odos os direitos têm o seu ciclo de vida: nascem, duram, alguns se modificam, e se
extinguem” (NADER, 2016, p. 381). A aquisição, modificação, conservação e extinção de direito é relacionada às
diversas espécies de fatos jurídicos. Vamos conhecer a sua classificação?
2.3.2 Classificação
Fato jurídico em sentido amplo é “todo acontecimento natural ou humano capaz de criar, modificar, conservar
ou extinguir relações jurídicas” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017, p. 370).
Há duas espécies de fatos jurídicos em sentido amplo: os fatos naturais, que são simples fatos da natureza, e os
fatos humanos, que decorrem da atuação humana. Os primeiros também são denominados fatos jurídicos em
sentido estrito, e classificam-se em: a) ordinários, como o nascimento e a morte; e b) extraordinários, como os
furacões e tempestades.
- -14
Figura 6 - Os furacões ou terremotos são fatos naturais extraordinários que provocam vários efeitos jurídicos, 
principalmente em relação aos danos sofridos pelos moradores.
Fonte: Byggarn.se, Shutterstock, 2018.
Os fatos humanos, também denominados atos jurídicos em sentido amplo, são ações humanas que provocam a
criação, modificação ou extinção de direitos, e dividem-se em atos lícitos e ilícitos. Veja a diferença entre eles
clicando na interação a seguir.
•
Atos lícitos
Os atos lícitos são aqueles que “praticados em conformidade com o ordenamento jurídico,
produzem efeitos jurídicos voluntários, queridos pelo agente (GONÇALVES, 2016, p. 326). É o caso
do aluguel de um apartamento e da compra e venda de um veículo.
•
Atos ilícitos
Já os atos ilícitos são aqueles proibidos direta ou indiretamente pelo ordenamento jurídico e que
geram efeitos jurídicos involuntários, como a obrigação de indenizar ou ressarcir o prejuízo
causado. 
Os atos lícitos são classificados em ato jurídico em sentido estrito e negócio jurídico.
O ato jurídico em sentido estrito “constitui simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que
determina a produção de efeitos legalmente previstos” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017, p. 379). É uma
ação humana em que não há uma vontade qualificada, mas simples intenção com efeitos predeterminados na lei.
Quando o pai reconhece a paternidade do filho, por exemplo, seu ato é desprovido de qualquer conteúdo
negocial, de modo que a sua simples manifestação de vontade provoca efeitos determinados por lei e que não
•
•
- -15
negocial, de modo que a sua simples manifestação de vontade provoca efeitos determinados por lei e que não
podem ser alterados.
O negócio jurídico, por sua vez, é aquela espécie de ato jurídico que envolve a manifestação de vontade com
finalidade negocial, constituindo meio para realização da autonomia privada. Para Francisco Amaral, “[p]or
negócio jurídico deve-se entender a declaração de vontade destinada a produzir efeitos que o agente pretende e
o direito reconhece. Tais efeitos são a constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas” (AMARAL,
2003, p. 371).
Por fim, o ato-fato jurídico é aquela ação humana que o direito não considera a vontade, consciência ou intenção
do agente, mas a simples consequência do ato. Por isso, “o ato-fato jurídico nada mais é do que um fato jurídico
qualificado pela atuação humana” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017, p. 377). Ocorre, por exemplo, quando
uma pessoa acha casualmente um tesouro e, por isso, tem direito à metade do bem encontrado (BRASIL, 2002,
art. 1.264).
Figura 7 - Organograma sobre a classificação dos fatos jurídicos, que se dividem em fatos naturais, atos jurídicos 
e ato-fato jurídico.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
Em razão da sua diversidade de formas, os negócios jurídicos podem ser classificados de diversas maneiras.
Quanto ao número de declarantes, há negócios jurídicos unilaterais, bilaterais e plurilaterais.
Os unilaterais são aqueles que se realizam por uma única exteriorização de vontade, como o testamento. Os
bilaterais compreendem duas manifestações de vontades. Podem sersimples, quando apenas uma das partes
possui vantagens (ex. doação), ou sinalagmáticos, quando ambas as partes auferem direitos e obrigações de
caráter recíproco (ex. compra e venda). Os negócios jurídicos plurilaterais são aqueles compostos por mais de
duas partes, como os contratos de sociedade formada por vários sócios.
Quanto às vantagens patrimoniais produzidas, há negócios jurídicos gratuitos e onerosos.Os negócios jurídicos
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Quanto às vantagens patrimoniais produzidas, há negócios jurídicos gratuitos e onerosos.Os negócios jurídicos
gratuitos, como a doação pura, são aqueles em que apenas uma das partes aufere vantagens, sem impor ao
beneficiado a realização de uma contraprestação. Já nos onerosos, como a locação, ambas as partes auferem
vantagens e obrigações, denominadas contraprestação.
Os contratos onerosos podem ser comutativos, quando as prestações são certas e determinadas, ou aleatórios,
caracterizado pelo risco do negócio, pois as vantagens ou sacrifícios das partes dependem de um fato futuro e
imprevisível.
Quanto ao momento de produção de efeitos, os negócios jurídicos inter vivos produzem efeitos imediatos,
durante a vida dos negociantes, como o casamento. Já os negócios causa produzem efeitos apenas depois mortis
da morte do agente, como o testamento.
Figura 8 - O casamento civil é uma espécie de negócio jurídico inter vivos, pois produz efeitos imediatos durante 
VOCÊ O CONHECE?
William Henry Gates (1955), ou simplesmente Bill Gates, é um dos bilionários que mais doou
seu patrimônio no mundo. O americano, conhecido por ser cofundador da Microsoft, doou
cerca de 4,6 bilhões de dólares só no ano de 2017, o que equivale a aproximadamente 5% da
sua fortuna. A maior parte das doações do bilionário é destinada à instituição de caridade
criada por ele e sua esposa, a “Bill & Melinda Gates Foundation”. Leia mais em:
<https://forbes.uol.com.br/negocios/2017/08/bill-gates-doa-us-46-bilhoes-em-acoes-da-
>.microsoft/
https://forbes.uol.com.br/negocios/2017/08/bill-gates-doa-us-46-bilhoes-em-acoes-da-microsoft/
https://forbes.uol.com.br/negocios/2017/08/bill-gates-doa-us-46-bilhoes-em-acoes-da-microsoft/
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Figura 8 - O casamento civil é uma espécie de negócio jurídico inter vivos, pois produz efeitos imediatos durante 
a vida dos cônjuges.
Fonte: paultarasenko, Shutterstock, 2018.
Os negócios jurídicos também se dividem em principais, que possuem existência própria, e acessórios, cuja
existência é subordinada ao negócio principal. A locação de um imóvel, por exemplo, é o negócio jurídico
principal. A fiança, em que o fiador garante satisfazer ao locador a obrigação assumida pelo locatário (BRASIL,
2002, art. 818), é o negócio jurídico acessório ao contrato de locação.
No próximo tópico, vamos conhecer os elementos essenciais e acidentais do negócio jurídico. Acompanhe!
2.4 Elementos do Negócio Jurídico
Já aprendemos que o negócio jurídico é aquela espécie de ato jurídico caracterizada pela manifestação da
vontade com finalidade negocial, capaz de criar, modificar ou extinguir as relações jurídicas.
A diversidade de negócios jurídicos fundamentou a sua classificação em, basicamente 4 categorias. Veja clicando
nos itens a seguir.
• 
a) Unilaterais, bilaterais ou plurilaterais.
• 
b) Gratuitos ou onerosos.
• 
c) Inter vivos ou causa mortis.
• 
d) Principais e acessórios.
Em razão da sua complexidade, o negócio jurídico é composto por elementos essenciais e acidentais que o
caracterizam.
2.4.1 Elementos essenciais
Como o próprio nome já diz, os elementos essenciais do negócio jurídico são aqueles indispensáveis para a sua
existência e validade. Os elementos necessários à existência do negócio jurídico compreendem a declaração de
vontade, a finalidade negocial e a idoneidade do objeto (GONÇALVES, 2016, p. 358).
A declaração da vontade é o instrumento pelo qual a vontade do sujeito é exteriorizada. Pode ser expressa de
modo explícito (por meio de palavras ou de gestos), tácita (pelo comportamento do agente é deduzida a sua
intenção) ou presumida, nos casos expressamente previstos na lei. O doador, por exemplo, pode fixar prazo para
o donatário aceitar ou não a doação pura. Se o donatário não se manifestar dentro prazo, presume-se que aceitou
a doação (BRASIL, 2002, art. 539).
A finalidade negocial é “o propósito de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos” (GONÇALVES, 2016,
p. 364).
Além disso, o objeto do negócio jurídico deve ser idôneo, conforme os requisitos previstos na lei para a produção
dos seus efeitos. Nesse sentido, apenas as coisas fungíveis podem ser objetos do contrato de mútuo (BRASIL,
2002, art. 586), enquanto só podem ser objetos do contrato de comodato as coisas infungíveis (BRASIL, 2002,
art. 579).
Os requisitos de validade do negócio jurídico, previstos no art. 104 do Código Civil (BRASIL, 2002)
•
•
•
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Os requisitos de validade do negócio jurídico, previstos no art. 104 do Código Civil (BRASIL, 2002)
compreendem: (i) “agente capaz”; (ii) “objeto lícito, possível e determinado” e (iii) “forma prescrita ou não
defesa em lei”.
O agente capaz é aquele que tem capacidade para exercer diretamente os seus direitos, adquirida pela
maioridade (aos 18 anos completos) ou por emancipação (BRASIL, 2002, art. 5º). As crianças podem celebrar
negócios jurídicos? Sim, mas apenas por meio da representação dos seus pais, tutores ou curadores.
Enquanto os absolutamente incapazes (BRASIL, 2002, art. 3º) devem ser representados para a prática de atos
jurídicos válidos, os relativamente incapazes (BRASIL, 2002, art. 4º) devem ser assistidos por seu representante
legal.
Figura 9 - Crianças não podem celebrar um negócio jurídico válido, como comprar valiosos presentes, apenas 
por meio da representação de seus pais, tutores ou curadores.
Fonte: Shutterstock, 2018.
Além de lícito ou conforme o ordenamento jurídico, o objeto deve ser também possível e determinado ou
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Além de lícito ou conforme o ordenamento jurídico, o objeto deve ser também possível e determinado ou
determinável. Nesse sentido, o contrato de compra e venda de drogas (objeto ilícito) ou de nuvens (objeto
impossível) celebrado por duas pessoas não tem validade.
Para o direito brasileiro, a forma dos negócios jurídicos é geralmente livre, de modo que as exceções ou
exigências de forma específica são previstas expressamente em lei. O negócio jurídico de compra e venda de
imóvel de valor superior a trinta vezes o salário mínimo, por exemplo, deve ser celebrado por escritura pública
(BRASIL, 2002, art. 108).
2.4.2. Elementos acidentais
Além dos elementos essenciais, que constituem os requisitos de existência e validade do negócio jurídico, há os
denominados elementos acidentais, que não são necessários à sua existência nem validade, mas podem ser
introduzidos pela vontade das partes.
Os elementos acidentais do negócio jurídico constituem autolimitações da vontade e interferem no plano da
eficácia, ou seja, na produção de efeitos do negócio jurídico. São a condição, o termo e o encargo, disciplinados
nos artigos 121 a 137 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Figura 10 - ganograma sobre os elementos dos negócios jurídicos, que se dividem em essenciais, relacionados à 
existência e validade, e acidentais, que se relacionam à eficácia do negócio jurídico.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
A condição é a cláusula que “subordina o efeito do negócio jurídico a um evento futuro e incerto” (BRASIL, 2002,
art. 121), como as condições climáticas no dia da partida de futebol e a aprovação no vestibular. Há duas
espécies: suspensivas (BRASIL, 2002, art. 125) e resolutivas (BRASIL, 2002, art. 127).
As condições suspensivas impedem que o negócio jurídico produza efeitos antes de acontecido o evento futuro e
incerto. É o exemplo do pai que promete para o filho, “se você passar no vestibular, te darei uma motocicleta”. Já
a condição resolutiva é aquela em que o negócio jurídico produz efeitos desde logo, mas sua eficácia será extinta
se o evento futuro e incerto acontecer.O diretor da escola de Carlos, por exemplo, celebrou com os pais do aluno
o seguinte negócio: “Carlos receberá bolsa de estudos para estudar no colégio, que será cancelada caso ele fique
de recuperação”. 
As condições devem ser lícitas, ou seja, não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes. Conforme o
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As condições devem ser lícitas, ou seja, não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes. Conforme o
art. 123 do Código Civil (BRASIL, 2002), invalidam os negócios jurídicos os itens listados a seguir.
(i)
“as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas”
(ii)
“as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita”
(iii)
“as condições incompreensíveis ou contraditórias”
No caso das condições impossíveis resolutivas, o Código Civil as considera simplesmente inexistentes (BRASIL,
2002, art. 124).
Considera-se termo “o dia ou momento em que começa ou extingue a eficácia do negócio jurídico, podendo ter
como unidade de medida a hora, o dia, o mês ou o ano” (GONÇALVES, 2016, p. 400). O termo convencional é a
cláusula que subordina a eficácia ou produção de efeitos do negócio jurídico a acontecimento futuro e certo. Se
um contrato de locação foi celebrado com início de vigência no dia 15 de janeiro de 2020, este será o seu termo
inicial. Se as partes estipularem a data em que cessará a locação, no dia 15 de janeiro de 2022, este será o seu
termo final. Nem todos os negócios admitem termo. Não se pode, por exemplo, estipular o termo final do
casamento civil.
O Código Civil determina que o termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito (BRASIL, 2002,
art. 131). É diferente da condição suspensiva, que suspende a eficácia da aquisição e do exercício do direito
(BRASIL, 2002, art. 125).
Finalmente, o encargo é o elemento acidental típico dos negócios jurídicos gratuitos, pelo qual se impõe ao
beneficiário um ônus ou uma obrigação. É o caso da doação de um terreno para a Prefeitura, em que o doador
impõe o ônus de ali ser construída uma igreja ou uma escola.
“O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito” (BRASIL, 2002, art. 136), de modo que a doação
já produz desde logo os efeitos jurídicos. Conforme o art. 137 do Código Civil (BRASIL, 2002), o encargo ilícito ou
impossível é considerado inexistente, “salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se
CASO
Clarice, paulistana de 18 anos, acabou de ser aprovada no curso de direito da UFRJ e está à
procura de um imóvel residencial para alugar. Depois de visitar um apartamento em
Copacabana, Clarice celebrou com o locatário, Rodrigo, de 35 anos, o contrato de locação do
apartamento com início de vigência em 01/01/2019.
Os dois estipularam por escrito a seguinte cláusula “caso a locatária transfira o curso para a
Universidade de São Paulo (USP), o contrato será extinto sem pagamento de multa”.
O contrato de locação celebrado por Clarice e Rodrigo é válido, porque foi celebrado por
agentes capazes, tem objeto lícito, possível e determinado e forma escrita. Os contratos de
locação, via de regra, são de forma livre.
O negócio jurídico produzirá efeitos a partir de 01/01/2019, termo inicial do contrato. Clarice
e Rodrigo estipularam uma condição resolutiva, de modo que, acontecido o evento futuro e
incerto (transferência para a USP), o negócio jurídico celebrado por Clarice e Rodrigo deixará
de produzir efeitos.
• O contrato é válido?
• Se sim, a partir de quando produzirá efeitos?
• Qual espécie de condição foi estipulada por Clarice e Rodrigo?
•
•
•
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impossível é considerado inexistente, “salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se
invalida o negócio jurídico”. Caso o donatário não cumpra o ônus estabelecido, a doação pode até ser revogada
(BRASIL, 2002, art. 555). 
Síntese
Chegamos ao final do capítulo. Aprofundamos nosso conhecimento sobre a classificação dos bens, que
constituem o objeto das relações jurídicas, e conhecemos as diversas espécies de fatos relevantes para o direito,
denominados fatos jurídicos.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• compreender o que são os bens e como constituem objeto da relação jurídica;
• identificar a classificação dos bens considerados em si mesmos e dos reciprocamente considerados;
• compreender as noções jurídicas que diferenciam bens públicos de bens privados;
• aplicar as classificações dos bens em situações práticas do cotidiano;
• compreender os conceitos de fato jurídico em sentido amplo, fatos naturais, atos jurídicos lícitos e 
ilícitos e atos-fatos jurídicos;
• identificar a classificação e os elementos essenciais e acidentais do negócio jurídico.
Bibliografia
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, no inciso II do § 3 do art. 37 e no § 2 do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei n 8.112, de 11o o o o
de dezembro de 1990; revoga a Lei n 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei n 8.159, de 8o o
Diário Oficial da União, Brasília-DF, nov. 2011. Disponível em:de janeiro de 1991; e dá outras providências. 
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VENOSA, S. S. . 18. ed. São Paulo: Atlas, 2018.Direito civil: parte geral
https://www.youtube.com/watch?v=9GorqroigqM
	Introdução
	2.1 Objeto da relação jurídica
	2.1.1 Conceito de bens
	2.1.2 Classificação
	2.2 Da titularidade dos bens
	2.2.1 Bens públicos
	Bensde uso comum
	Bens de uso especial
	Bens dominicais
	2.2.2 Bens privados
	2.3 Fato, Ato e Negócio Jurídico
	2.3.1 Noção, características
	2.3.2 Classificação
	Atos lícitos
	Atos ilícitos
	2.4 Elementos do Negócio Jurídico
	2.4.1 Elementos essenciais
	2.4.2. Elementos acidentais
	Síntese
	Bibliografia

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