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ÉTICA, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS (3) (2)

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Prévia do material em texto

ÉTICA, CIDADANIA E 
DIREITOS HUMANOS
Prof. Dr. Jefferson Aparecido Dias
004 Aula 1: Conceito de Direitos Humanos
012 Aula 2: Ética
018 Aula 3: Cidadania
025 Aula 4: Desenvolvimento Histórico Da Construção Dos 
Direitos Humanos (1ª Parte)
031 Aula 5: Desenvolvimento Histórico Da Construção Dos 
Direitos Humanos (2ª Parte)
039 Aula 6: Direitos Humanos E Direitos Fundamentais
045 Aula 7: Eficácia Vertical e Horizontal dos Direitos Humanos e 
Fundamentais
053 Aula 8: O Sistema Internacional de Proteção dos Direitos 
Humanos
059 Aula 9: Sistemas Regionais de Proteção dos Direitos 
Humanos
067 Aula 10: Diversidade Cultural e Direitos Humanos
074 Aula 11: Os Direitos Fundamentais na Constituição de 1988
079 Aula 12: Solução para a Colisão de Princípios
084 Aula 13: Igualdade na Ordem Constitucional
089 Aula 14: Liberdade na Ordem Constitucional
094 Aula 15: Fraternidade na Ordem Constitucional
099 Aula 16: Temos Direitos Humanos! E os Nossos Deveres?
002
Introdução
O que são os direitos humanos?
Eu, como ser humano, tenho direitos pelo simples fato de ter nascido ou os 
meus ancestrais, com suas lutas, são os grandes responsáveis para que, no 
presente, meus direitos sejam garantidos e respeitados?
Os meus direitos podem ser exigidos apenas em relação ao Estado ou eu 
posso pleitear direitos humanos em minhas relações interpessoais?
Além de direitos, eu também tenho deveres?
Essas são algumas das perguntas que pretendo responder com o texto a 
seguir, em 16 (dezesseis) aulas, nas quais é apresentado amplo conteúdo a 
ser investigado, a fim de que todos nós possamos, juntos, evoluir no reco-
nhecimento e garantia dos direitos humanos.
Importante frisar que, como orientando do saudoso Joaquín Herrera Flores 
(vale a pena consulta a obra do maestro), defenderei uma posição mais 
crítica em relação aos direitos humanos, em especial em relação à teoria 
tradicional que os contempla como produtos naturais, decorrentes da es-
sência dos seres humanos. Mas, a par disso, serão apresentados conceitos 
clássicos em homenagem justamente a essa teoria tradicional.
Ao final, espero que a leitura do presente texto e dos demais materiais 
disponibilizados pela Unimar EaD permita que todos nós possamos desen-
volver e manter vivos os processos de luta em defesa dos direitos huma-
nos, a fim de que alcancemos uma situação de empoderamento cidadão e 
possamos lutar por uma vida digna de ser vivida.
003
01
Conceito de 
Direitos Humanos
004
O que são os direitos humanos? Essa, provavelmente, é uma das perguntas que mais
intrigam os estudiosos, tamanhas as polêmicas que envolvem a conceituação de
direitos humanos, muitas delas vinculadas à sua origem e amplitude. A presente aula
pretende trazer algumas respostas possíveis e convidar a todos para uma re�exão
sobre o que são os direitos humanos.
Direitos humanos –
produtos naturais?
Para uma teoria tradicional dos direitos humanos, os direitos humanos são produtos
naturais, ou seja, decorrem da própria natureza dos seres humanos. Nesse sentido,
querido(a) aluno(a), pelo simples fato de nascer, independentemente do local em que
isso ocorra, todos nós, seres humanos, já teríamos garantidos os nossos direitos
humanos.
Essa, em certa medida, é a concepção adotada pela Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, proclamada em 26 de agosto de 1789, com a Revolução
Francesa, que em seu artigo 1º  previa que: “Os homens nascem e são livres e iguais
em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum”.
No mesmo sentido restou estabelecido na Declaração Universal dos Direitos
Humanos que, em seu artigo 1, estabelece que: “Todos os seres humanos nascem livres
e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em
relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (NAÇÕES UNIDAS, 2018). Essas
premissas levaram Comparato (2019, p. 15) a a�rmar em sua obra “A a�rmação
histórica dos direitos humanos” que:
O que se conta, nestas páginas, é a parte mais bela e importante de
toda a História: a revelação de que todos os seres humanos, apesar
das inúmeras diferenças biológicas e culturais que os distinguem
entre si, merecem igual respeito, como únicos entes do mundo
capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza.
005
Em razão desses conceitos, defende-se que os direitos humanos são dotados de
essencialidade, pois seriam inerentes a todos os seres humanos e vinculados
diretamente à sua essência. Outra decorrência lógica dessa concepção de direitos
humanos é que eles seriam universais, ou seja, titularizados por todos os seres
humanos, independentemente do seu local de nascimento e mesmo do contexto
social no qual vivem. Assim, pouco importaria, para �ns de garantia dos direitos
humanos, se uma pessoa nasceu em um país da África ou em algum país europeu,
pois os direitos humanos, sendo naturais e universais, deveriam ser garantidos para
todos, independentemente de seu contexto social.
Regra básica quando se fala em direitos humanos é rechaçar toda e
qualquer forma de discriminação que possa defender a sua violação,
em especial de minorias que, frequentemente, são ignoradas pelos
textos normativos. Assim, cuidado com qualquer manifestação que
possa transparecer preconceituosa, seja nas mídias sociais ou em
provas, pois alguns concursos tendem a eliminar os candidatos que
defendam uma eventual violação de direitos humanos.
Essa concepção universalista dos direitos humanos foi estabelecida inicialmente com
a Revolução Francesa e, posteriormente, foi rea�rmada pela ONU ao ser aprovada a
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Apesar de universais, contudo, os direitos humanos teriam sido consagrados
gradativamente, num processo que segundo alguns autores se deu por meio de
gerações ou dimensões de direitos humanos, as quais estariam vinculadas aos
valores defendidos pela Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.
A primeira geração ou dimensão estaria relacionada aos direitos civis e políticos, os
quais imputariam obrigações negativas ao Estado, a quem caberia garantir a
liberdade individual do cidadão. Já a segunda geração contemplaria os direitos sociais,
006
econômicos e culturais, os quais exigiriam uma atuação positiva do Estado, que seria
obrigado a garantir a igualdade de direitos para todos os cidadãos.
Por �m, os direitos de terceira geração, relacionados ao ideal de fraternidade, diriam
respeito aos direitos difusos e coletivos, que envolveriam a atuação do Estado e dos
próprios cidadãos na garantia dos direitos titularizados por todos, como é o caso do
meio ambiente saudável.
Particularmente não me agrada essa divisão dos direitos humanos em gerações ou
dimensões, pois ela pode trazer a ideia equivocada de que a conquista de direitos
humanos deve ocorrer de forma escalonada, ou seja, a luta pelos direitos de segunda
geração somente deve ocorrer após todos terem conquistado os de primeira geração.
Na verdade, parece-me que o ideal é que os direitos humanos sejam concebidos de
forma integrada, e que a luta por sua concretização ocorra independentemente de
qual geração lhe seja atribuída.
Apesar dessa minha posição crítica, tenho que reconhecer que, na atualidade, ao
contrário do que ocorria no passado, tem crescido a preocupação com os supostos
direitos de terceira geração, ou seja, os relacionados com a fraternidade ou com a
solidariedade. Essa preocupação tem motivado posições altruístas, a partir das quais
os cidadãos têm colaborado cada vez mais com as pessoas que, por uma razão ou
outra, buscam auxílio junto a seus pares.
A partir dessa concepção, conforme leciona Norberto Bobbio, o problema da
atualidade já não seria justi�car ou estabelecer os direitos humanos, mas sim adotar
meios para torná-los efetivos.
Acesse: Disponível aqui
Em homenagem aos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, a ONU publicou textos explicativos sobre cada um dos seus
artigos, cuja leitura é imprescindível. NAÇÕES UNIDAS BRASIL: Textos
explicativos sobrea Declaração Universal dos Direitos Humanos.
007
https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/textos-explicativos/
El tres de mayo de 1808 en Madrid, de Goya (1814) | Fonte: Disponível aqui
Direitos humanos –
produtos culturais?
Se para a teoria tradicional de direitos humanos eles devem ser concebidos como
produtos naturais e vinculados à essência dos seres humanos, para uma teoria crítica,
os direitos humanos, na verdade, são produtos culturais construídos e conquistados
historicamente pelos seres humanos dentro de seus contextos sociais.
Se para a teoria tradicional de direitos humanos eles devem ser concebidos como
produtos naturais e vinculados à essência dos seres humanos, para uma teoria crítica,
os direitos humanos, na verdade, são produtos culturais construídos e conquistados
historicamente pelos seres humanos dentro de seus contextos sociais.
Nesse sentido, para Joaquín Herrera Flores, os direitos humanos são “resultados
provisórios de lutas sociais por dignidade.” (HERRERA FLORES, 2009, p. 120). Uma vez
que o autor conceitua a dignidade humana como o acesso igualitário, não
previamente hierarquizado, aos bens necessários para uma vida digna de ser vivida, é
008
http://www.xtec.cat/~fchorda/goya/dosincc.htm
possível conceituar direitos humanos como os resultados provisórios de processos de
luta pelo acesso igualitário, não previamente hierarquizado, aos bens necessários
para uma vida digna de ser vivida (HERRERA FLORES, 2009).
Por essa concepção, os direitos humanos não são, portanto, garantidos a todos os
seres humanos pelo simples fato de nascerem, sendo necessário que lutas sejam
travadas para que os direitos sejam conquistados e, posteriormente, tais lutas
continuam a ser necessárias para que os direitos humanos sejam mantidos.
Outra consequência da adoção dos direitos humanos como produto cultural é que
eles deixam de ser considerados universais e ganham conotação regional ou local.
Assim, já não se pode falar que os direitos humanos são necessariamente os mesmos
independentemente do local de nascimento e o contexto social no qual vive cada ser
humano.
É possível encontrar, portanto, seres humanos em situações diferentes em relação à
conquista e efetivação de direitos humanos, pois dependem em grande parte do
contexto no qual se pretende garanti-los.
A obra “El tres de mayo de 1808 en Madrid'', de Goya, é usada por Joaquín Herrera
Flores para explicar como o suposto universalismo dos Direitos do Homem e do
Cidadão consagrados pela Revolução Francesa não foram garantidos aos espanhóis
em 1808:
[...] do que se defendiam os homens e mulheres que estavam a ponto
de ser fuzilados pelos soldados franceses pintados por Goya?
Atacando ideais universalistas da Ilustração francesa, os “rebeldes” se
deixavam matar por ideais, do mesmo modo, universalistas da
tradição anti-ilustrada espanhola. Ao mesmo tempo, os soldados do
exército da liberdade os assassinavam em nome dos ideais mais
universais surgidos da Revolução ilustrada. De dois particularismos
chegava-se à violência, pois eles se apresentavam como ideais
universais que todos deveriam aceitar. (HERRERA FLORES, 2009, p.
173).
Por outro lado, porém, como o autor adverte, não se pode admitir um regionalismo
absoluto, pois se estaria diante de um novo universalismo ou, conforme defende, um
universalismo de retas paralelas.
009
Da mesma forma que um universalismo de partida não é desejável, pois ele
desconsidera o contexto social no qual os seres humanos nascem e vivem, um
universalismo de retas paralelas também não deve ser buscado, pois ele acaba por
desconsiderar as características particulares dos demais, sendo válido apenas o local.
A solução, assim, seria um universalismo de chegada, a ser buscado a partir do
diálogo intercultural, no qual os seres humanos possam conhecer novas realidades
diferentes daquelas existentes em seu contexto, e buscar, no contato com os outros
seres humanos, estabelecer quais direitos deverão ser universalizados:
Ao universal, há que se chegar – universalismo de chegada ou de
con�uência – depois (não antes) de um processo de luta discursivo,
de diálogo ou de confrontação em que se rompam os preconceitos e
as linhas paralelas. Falamos do entrecruzamento de propostas, e não
de uma mera superposição (HERRERA FLORES, 2009, p. 162).
A garantia e efetividade dos direitos humanos exigem, portanto, uma grande
vigilância, pois é necessário lutar para que eles sejam reconhecidos pelos textos
normativos, mas isso não basta, pois é necessário que se continue a lutar para que os
textos normativos sejam efetivamente colocados em prática.
Não basta que o direito à saúde seja reconhecido pelo texto constitucional e por
inúmeras leis, mas é necessário que os governantes efetivamente disponibilizem
médicos, remédios, hospitais, etc. para que tal direito seja usufruído pelo cidadão,
que tem no voto e na participação popular a sua maior arma.
010
Acesse: PFDC SAC
No Brasil, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC),
vinculada ao Ministério Público Federal, atua de forma intensa na
defesa dos direitos humanos, seja por meio da emissão de notas
técnicas referentes a atos normativos, seja por meio de outras formas
de atuação extrajudicial. Em sua página da internet, a PFDC divulga
todas as suas atuações em defesa dos direitos humanos.
Além disso, o cidadão que se sentir prejudicado por alguma medida
adotada pelo Governo Federal pode oferecer uma representação por
meio da “Sala de Atendimento ao Cidadão”, disponibilizada a seguir via
endereço eletrônico.
011
http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/
http://www.mpf.mp.br/servicos/sac
02
Ética
012
“Ética” é uma expressão que faz parte do nosso dia a dia como algo que deve ser
respeitado por todos. Repetimos de forma quase que automática que somos éticos e,
com a mesma facilidade, julgamos as atitudes dos outros e as classi�camos como
antiéticas. Mas, a�nal, o que é ética?
Conceito de ética
A expressão ethos, que se originou da palavra ética, era utilizada pelos gregos para
representar “aquela dimensão da vida humana sobre que incidem normas [...]
destinadas a fornecer parâmetros para decidir entre opções de conduta futura
igualmente possíveis e mutuamente contraditórias.” (ADEODATO, 2012, p. 71).
Assim, a ética estava relacionada ao estabelecimento de regras de conduta que
tivessem como perspectiva a escolha do certo ao invés do errado, do justo ao
contrário do injusto.
Em razão disso, a ética é conceituada como “a ciência ou �loso�a que fará a eleição
das melhores ações tendo como horizonte o interesse coletivo, universal.” (ALMEIDA;
CHRISTMANN, 2009, p. 4).
Essa busca pelo coletivo e pelo universal, inclusive, seria a diferença apresentada
entre ética e moral, pois esta segunda não teria “pretensões de universalização,
porque ela tem como base o próprio comportamento social, não uma re�exão sobre
ele [e] não se baseia numa re�exão, mas nos costumes de determinada sociedade em
determinado lugar, em um preciso tempo histórico. Ele é, portanto, costumeiro,
tradicional, e não �losó�co” (ALMEIDA; CHRISTMANN, 2009, p. 4).
Apesar dessa suposta distinção de moral e ética, não raras vezes as duas palavras são
utilizadas como sinônimos, pois ambas estariam relacionadas ao agir humano e
teriam como objetivo delimitar se esse agir é correto, justo.
Aristóteles (2001), em sua obra “Ética a Nicômacos”, defende que o justo (e, portanto,
o que seria moral e ético) é agir com proporcionalidade, no meio termo, evitando os
excessos que se caracterizariam como injustos.
013
Assim, para Aristóteles, a atuação correta e justa é aquela que pode ser considerada
proporcional e que se afasta dos extremos, sendo que as condutas extremas e,
portanto, desproporcionais, seriam violadoras da moral e da ética.
Emmanuel Kant, ao de�nir moral, sustenta que: “O princípio supremo da moral é,
portanto: age segundo uma máxima que possa ter valor como lei geral. Toda máxima
que não seja suscetível dessa extensão é contrária à moral.” (KANT, 1993, p. 40). Para
ele, o agir moralé desejado por todos, pois bene�cia a todos, ao contrário da ação
imoral, que prejudicaria não apenas o seu autor, mas toda a comunidade na qual ele
está inserido.
Trazendo essas situações para os nossos dias, é possível veri�car que a atuação ética
e moral de um político tende a bene�ciar toda a comunidade na qual ele está
inserido, ao contrário do agir imoral e antiético, que além de prejudicar a
comunidade, também acaba por prejudicar até mesmo o país como um todo.
Capa: Disponível aqui
Nos tempos atuais, muitos são os dilemas morais que se apresentam,
em especial em razão do desenvolvimento de novas tecnologias. É
certo que tais tecnologias, por si só, não podem ser classi�cadas como
boas ou más, mas, infelizmente, o uso que delas se faz pode ser
considerado bom ou mal. Sobre o tema, é muito interessante o livro
“Justiça: o que é fazer a coisa certa”, de Michael J. Sandel, no qual o
autor discute vários temas instigantes dos nossos tempos tais como
suicídio assistido, aborto, imigração, impostos, os limites morais do
mercado, etc. Trata-se de uma excelente leitura.
É 014
https://www.amazon.com.br/Justi%C3%A7a-que-fazer-coisa-certa-ebook/dp/B00VGG06CE
Ética na prática
Como se vê, os conceitos de ética, moral e justiça, apesar de não serem idênticos,
acabam por se entrelaçar, pois todos dizem respeito às regras de condutas impostas
aos seres humanos e que tenham como resultado algo que pode ser tido como certo,
apesar da imensa di�culdade que tais conceitos impõem.
Interessante que essa di�culdade em de�nir o correto, o certo, en�m, o justo, é tão
difícil que o legislador brasileiro optou, no caso da Lei de Improbidade Administrativa,
em indicar o que é errado ou injusto.
Neste sentido, para a mencionada Lei, são considerados como atos de improbidade
administrativa e, portanto, atos imorais e injustos, aqueles que (1) tenham como
objetivo o enriquecimento ilícito do agente público, (2) resultem em prejuízo ao
Patrimônio Público e (3) violem os princípios que devem nortear a atuação da
Administração Pública (BRASIL, 1992).
Assim, em resumo, ética pode ser considerada a ciência que se dedica a estudar o que
deve ser considerado como sendo um agir moral e justo ou, em outras palavras, o
estudo que permite diferenciar o certo do errado.
A partir desse conceito, praticamente todas as pro�ssões elaboram o seu Código de
Ética, que traz regras de conduta e vedações que servem de orientação para que os
pro�ssionais ajam de forma correta e não adotem posturas que possam ser
consideradas inadequadas.
Assim, a título de exemplo, no caso dos médicos, o Conselho Federal de Medicina
editou o Código de Ética Médica, o qual estabelece que, em respeito aos direitos
humanos (Capítulo IV), é vedado ao médico: “Deixar de obter consentimento do
paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser
realizado, salvo em caso de risco iminente de morte.” (BRASIL, 2010, p. 37).
015
Da mesma forma que o Conselho Federal de Medicina, praticamente
todas os conselhos de classe possuem um Código de Ética, o qual é de
observância obrigatória pelos pro�ssionais. Além disso, os preceitos
dos Códigos de Ética com frequência são exigidos em concursos
públicos. No caso da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o Código
de Ética (Resolução nº 02/2015) é um dos temas exigidos no Exame de
Ordem, cuja aprovação é imprescindível para o Bacharel de Direito que
pretenda advogar.
Como vimos na aula anterior, os direitos humanos podem ser concebidos como
produtos naturais, vinculados à própria essência dos seres humanos e de observância
obrigatória por todos, ou como produtos culturais, resultados provisórios de
processos de luta pela dignidade humana.
016
Em qualquer um dos dois sentidos, porém, os direitos humanos demandam uma
atuação tendo em vista a si próprio e o outro, ou seja, impõem uma conduta que, a
despeito de permitir o exercício do meu direito, também respeite o direito garantido
ao outro.
Existe um dito popular no sentido de que “o meu direito vai até onde começa o direito
do outro”. Apesar de tê-la ouvido com enorme frequência, não consigo concordar com
tal frase, pois ela transmite a ideia de que a única forma que possuo para aumentar
os meus direitos é reduzindo os direitos dos outros. Assim, parece-me que uma
melhor formulação da frase seria que “o meu direito vai até onde VAI o direito do
outro”, pois, se para mim é garantido o direito à saúde, é porque esse é um direito
que é garantido para todos, ou seja, um direito humano.
Assim, a garantia dos direitos humanos depende de um compromisso ético de todos
“com nós mesmos, com os outros e com a natureza [...] compromisso com os direitos
humanos”, que consiste em “criar as condições e as possibilidades sociais,
econômicas, culturais, políticas e jurídicas de ter, exigir e garantir as
responsabilidades que assumimos nesse processo de humanização do humano.”
(HERRERA FLORES, 2009, p. 214).
A�nal, não se podem garantir direitos humanos se os humanos não agirem com ética
em relação a si mesmos e à natureza.
Acesse: Disponível aqui
Infelizmente, nem sempre os agentes públicos respeitam a ética em
suas condutas e, nesses casos, acabam sendo processados pela prática
de atos de improbidade administrativa. O Ministério Público Federal
disponibiliza um “Mapa da Improbidade” no qual é possível veri�car o
número de ações de improbidade administrativa em curso e, inclusive,
ter acesso a documentos relacionados a cada uma destas ações.
017
http://aplicativos.pgr.mpf.mp.br/mapas/mpf/improbidade/
03
Cidadania
018
Imagine-se morando na Europa antes da Revolução Francesa, durante os Estados
Absolutistas. Imaginou? Bom, �que sabendo que naquele momento histórico inexistia
a �gura do cidadão, e os seres humanos eram tidos como objeto (e não titular) de
direito dos que detinham o poder.
Assim, o Estado tinha o poder soberano de “deixar viver e fazer morrer”, conforme
leciona Foucault (1999), pois os seres humanos eram tidos como vinculados à terra
que ocupavam e junto com ela integravam a propriedade de seu dono.
Com a revolução francesa, surge a �gura do cidadão e, como vimos na primeira aula,
é criada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Capa: Disponível aqui
Quando você lê a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”,
imagina que nela também estão contemplados os direitos das
“Mulheres e Cidadãs”? Saiba que não, pois, na época, apesar dos ideais
de liberdade, igualdade e fraternidade defendidos pelos franceses
revolucionários, os direitos foram conquistados apenas para os
homens, pois as mulheres permaneceram sendo consideradas objeto
de direito. Olympe de Gouges defendeu a aprovação, também, de uma
“Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, nos exatos termos da
versão masculina, mas foi decapitada pelos revolucionários. Uma
leitura interessante é a história em quadrinhos de Olympe de Gouges:
BOCQUET, José-Louis. MULLER, Catel. Olympe de Gouges. Trad. André
Telles. São Paulo: Record, 2014.
Assim, a �gura do cidadão surge apenas com a Revolução Francesa, a partir da qual
passam a ser estabelecidos direitos deste em relação ao Estado. E hoje, como
podemos conceituar a cidadania?
019
https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/hqs/quadrinhos/adulto/olympe-de-gouges-42233718
Conceito de cidadania
Atualmente, já não estamos num estado absolutista, e o poder soberano foi
substituído, no caso das democracias, pelo poder do povo. No caso do Brasil, a
Constituição Federal de 1988 é expressa em a�rmar que: “Todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição.” (parágrafo único, do art. 1º. BRASIL, 1988).
Votar em candidatos que possam representá-lo e participar diretamente, nos termos
da Constituição, da gestão do país são direitos do cidadão, que também pode se
candidatar para ocupar cargos públicos eletivos, como Presidente da República e
demais cargos do Poder Executivo e do Poder Legislativo.
Assim, cidadania pode ser conceituada comoa "capacidade para o exercício dos
direitos políticos, como processo de transformação do poder soberano em órgão
representativo." (FRANCO, 2019, p. 106).
Como no Brasil os direitos de votar (cidadania ativa) e ser votado (cidadania passiva)
são exclusivos dos brasileiros, o conceito de cidadão, em certa medida, acaba se
confundindo com o de nacional ou naturalizado.
E como �cam os estrangeiros?
E os estrangeiros?
No Brasil, os direitos e deveres dos estrangeiros estão previstos na Lei nº 13.445, de
24 de maio de 2017, a qual instituiu a Lei da Migração. Para referida lei, são adotados
os seguintes conceitos:
II - imigrante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que
trabalha ou reside e se estabelece temporária ou de�nitivamente no
Brasil;
III - emigrante: brasileiro que se estabelece temporária ou
020
de�nitivamente no exterior;
IV - residente fronteiriço: pessoa nacional de país limítrofe ou
apátrida que conserva a sua residência habitual em município
fronteiriço de país vizinho;
V - visitante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao
Brasil para estadas de curta duração, sem pretensão de se
estabelecer temporária ou de�nitivamente no território nacional;
VI - apátrida: pessoa que não seja considerada como nacional por
nenhum Estado, segundo a sua legislação, nos termos da Convenção
sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº
4.246, de 22 de maio de 2002 , ou assim reconhecida pelo Estado
brasileiro.
Para tais pessoas, ao contrário do que ocorre com o nacional, não é garantido o
direito ao voto, razão pela qual é possível concluir que eles não são titulares de
cidadania ativa ou passiva. Apesar disso, a mencionada Lei de Migração é expressa
em a�rmar que para todos os acima mencionados é adotado como princípio a
“universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos.” (art. 3º,
inciso I).
Assim, apesar de não serem cidadãos brasileiros, os estrangeiros, qualquer que seja a
sua classi�cação de acordo com a lei, são titulares de direitos e de deveres. Nesse
sentido:
Os estrangeiros praticamente se igualam aos nacionais quanto ao
exercício de direitos e deveres. Evidentemente, contudo, que se lhes
atribuem algumas limitações próprias. (...)
Os direitos políticos não são reconhecidos aos estrangeiros,
ressalvado os portugueses, consoante se constata do § 2º  do art. 14
da CF. Assim, não podem votar, nem podem ser eleitos para o
exercício de cargos políticos. Também estão impedidos de apresentar
ação popular (art. 5º, LXXIII, da CF). Igualmente, não podem exercer
cargos, empregos ou funções públicas (art. 37, I, da CF), salvo na
forma da lei (art. 37, I, in �ne, e art. 207, § 1º). Nem podem
subscrever projeto de lei de iniciativa popular (art. 61, § 2º, da CF).
(TAVARES, 2018, p. 681).
021
Apesar de o Brasil não admitir o direito de voto para os estrangeiros, o que também
ocorre na Argentina, alguns países da América do Sul o admitem. Vejamos um breve
resumo sobre o tema (BAHTEN, 2013):
Paraguai: os estrangeiros residentes no país podem votar nas eleições
municipais;
Uruguai: os estrangeiros com família constituída e vivendo há mais de 15 anos
no país, com boa conduta e que possuam capital ou propriedade, ou que
desempenhem alguma atividade pro�ssional no país, podem votar nas mesmas
condições que os nacionais;
Chile: os estrangeiros residentes há mais de 5 anos no país podem votar nas
mesmas condições que os nacionais.
Assim, no Uruguai e no Chile, preenchidas algumas condições especiais, os
estrangeiros também podem votar, tal qual os nacionais. Essa equiparação do
nacional e o estrangeiro, no que diz respeito ao voto são “tentativas explanatórias que
procuram ultrapassar a �gura da cidadania clássica de�nida pelo pertencimento a um
território (país) para dar conta da crescente mobilidade dos cidadãos do mundo e,
diante disso, da falta de ferramentas jurídico-políticas para garantir seus direitos.”
(CHELIUS, 2011, p. 233).
Dentre os estrangeiros, porém, existem alguns que têm sofrido ainda mais em relação
à violação de seus direitos e esses são os refugiados, que estudaremos no próximo
tópico.
Cidadania e direitos
humanos: o desafio dos
refugiados!
Como vimos no item anterior, apátridas são pessoas que nenhum Estado reconhece
como nacional. Isso pode ocorrer por alguns motivos (PEREIRA, 2014, p. 12):
(1) a discriminação das minorias nas legislações nacionais, pela retirada da
nacionalidade de alguns grupos em virtude de posições políticas, étnicas ou religiosas;
022
(2) a não inclusão de todos os residentes do país no patamar de “cidadãos” quando o
Estado se torna independente; e
(3) pelos critérios soberanos de distribuição da nacionalidade que podem entrar em
con�ito em determinadas situações.
O fato de o apátrida não ser reconhecido como nacional e, portanto, cidadão de
qualquer país, acaba por exigir um tratamento especial por parte do país no qual ele
reside.
No caso dos refugiados, Segundo Pereira:
[...] a discussão não está diretamente atrelada à questão da 
cidadania como decorrência da nacionalidade, mas sim na 
impossibilidade de um ser humano manter uma vida em 
segurança no seu país de nascimento, em virtude de bem fundado 
temor de perseguição por questões políticas, raciais, religiosas, 
sociais e étnicas, dentre outras que envolvam grave afronta aos 
direitos humanos. (PEREIRA, 2014, p. 12).
023
Os refugiados, assim, são forçados a deixarem os seus países e ingressarem em
outros Estados a �m de tentar garantir a própria vida. Para se ter uma ideia do
crescente desa�o que é garantir os direitos dos refugiados, dados do ACNUR, Agência
da ONU para Refugiados, indicam que, em 2017, o número de refugiados chegou a
68,5 milhões de pessoas (ACNUR, 2018).
Assim, da mesma forma que para os estrangeiros devem ser garantidos todos os
direitos humanos garantidos aos cidadãos, também os refugiados precisam ser
tratados com igual respeito e consideração, levando-se em consideração a sua
condição especial de perseguido, obrigado a deixar para trás o próprio país.
Fonte: Disponível aqui
A situação dos refugiados é dramática e, infelizmente, parece longe de
ter um �nal feliz. Para manter-se atualizado sobre o tema, a consulta à
página da ACNUR, Agência da ONU para os Refugiados é
imprescindível: ACNUR. Refugiados.
024
https://www.acnur.org/portugues/quem-ajudamos/refugiados/
04
Desenvolvimento Histórico da 
Construção dos Direitos 
Humanos (1ª Parte)
025
A compreensão da evolução histórica dos direitos humanos depende de qual a
concepção que deles se adota, pois, se entendermos que os direitos humanos são
produtos naturais, que decorrem da própria essência dos seres humanos, eles teriam
surgido no exato instante em que o homem foi criado (criacionismo) ou nasceu
(evolução natural).
Por outro lado, se a teoria adotada for a que atribui aos direitos humanos a qualidade
de produtos culturais (resultados de processos de luta), tais direitos nasceram
justamente após uma luta realizada para a sua consagração.
Em resumo, se forem concebidos como produtos naturais, os direitos seriam apenas
revelados (pois já existiriam, desde sempre, junto com o homem), ou criados (a partir
das lutas) se tidos como produtos culturais.
Antecedentes históricos
No próximo item, estudaremos a Magna Carta de João Sem-Terra, de 1215, tida como
um dos primeiros documentos a reconhecer direitos humanos. Antes dela, porém,
Castilho apresenta os seguintes documentos que, em tese, representariam as
primeiras manifestações em defesa dos direitos humanos: 
No Egito do ano 1250 antes de Cristo, consta que Moisés recebeu no monte
Horeb os dez mandamentos que lhe foram entregues por Deus. Supõe-se ter
sido o primeiro documento escrito, relacionado com direitos humanos.
Na China do século IV antes de Cristo, os �lósofos Mêncio e Mo-Tseu
reformaram a teoria do altruísmo, de Confúcio, e passaram a chamá-la de teoria
do amor universal. Segundo esses �lósofos, todas as pessoas, de todas as
classes sociais, são iguais. E os indivíduos, governantesou governados, devem
ter sua dignidade respeitada por meio da tolerância, da generosidade e da
conduta reta.
Na Roma do ano 450 antes de Cristo, os plebeus obtiveram a votação da Lei das
XII Tábuas, que diminuiu o poder arbitrário dos cônsules.
Na Roma do ano 413, Santo Agostinho publicou “Cidade de Deus”, re�etindo
sobre as diferenças entre governos tirânicos e governos que agem conforme a
lei. (CASTILHO, 2018, p. 31).
026
Esses documentos não são citados como sendo os portadores de regras e princípios
de direitos humanos, mas é certo que eles, de alguma forma, podem ter sido
utilizados para a elaboração de documentos futuros, que possuem em seu conteúdo
normas relacionadas a direitos humanos.
Acesse: Biblioteca¹   Biblioteca²   Biblioteca³
A temática dos direitos humanos tem ganhado grande destaque nos
últimos anos, a ponto de serem criadas várias bibliotecas (virtuais e
físicas) a ela dedicadas. Que tal visitá-las e conhecer mais sobre a
história dos direitos humanos? Indicamos algumas delas: Biblioteca
Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo¹; Biblioteca
Temática de Direitos Humanos da Cidade de São Paulo²; Biblioteca
Virtual do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos³.
A Magna Carta de João
Sem-Terra
Um dos primeiros documentos históricos a mencionar os direitos humanos é a Magna
Carta, assinada pelo Rei João Sem-Terra, no dia 15 de julho de 1215, a �m de fazer
cessar as hostilidades que recebia por parte dos barões do reino (COMPARATO, 2019,
p. 83-86).
027
http://www.direitoshumanos.usp.br/
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/programas_projetos/bibliotecas_tematicas/index.php?p=14330
http://ibdh.org.br/biblioteca-virtual/
Vários são os preceitos da Magna Carta que inspiraram regras e princípios atuais,
dentre as quais merece destaque a sua cláusula 39, que prevê o princípio do devido
processo legal, atualmente previsto no art. 5º, inciso LIV, da Constituição Federal
(COMPARATO, 2019, p. 94).
Além disso, em sua cláusula 61, a Magna Carta traz o “primeiro esboço de um
mecanismo de responsabilidade do rei perante os seus súditos, vale dizer, o início do
processo de abolição do próprio regime monárquico.” (COMPARATO, 2019, p. 94).
Importante destacar, contudo, que a Magna Carta não teve como objetivo garantir os
direitos do cidadão, mas sim os direitos dos barões do reino, ou seja, da burguesia
que buscava se proteger do arbítrio existente em um Estado absolutista que, por sua
vez, nem sempre respeitou os preceitos nela contidos. Nesse sentido,
[...] o documento nunca pretendeu ser uma declaração duradoura de 
princípios legais. Foi apenas uma solução prática para uma crise 
política e serviu exclusivamente aos nobres e religiosos que queriam 
limitar o comportamento despótico do rei. E caz ou não, a Magna 
Carta de 1215 foi um marco na história,tornando-se o início da 
monarquia constitucional inglesa e um primeiro passo para o 
constitucionalismo no mundo ocidental. (CASTILHO, 2018, p. 52-53).
Realmente, apesar de hoje ser questionável a e�cácia que a Magna Carta possuiu na
época, é evidente que muitos de seus preceitos serviram de fonte de inspiração para
a construção do constitucionalismo moderno e, também, para a sua posterior
conversão em direitos que devem ser garantidos para todos os seres humanos.
A Declaração de Virgínia
A Declaração de Virgínia, de 1776, que marca a independência dos Estados Unidos, é
considerada um dos mais importantes documentos de reconhecimento dos direitos
humanos, pois pela primeira vez é reconhecido o “direito à vida, que só voltaria a
aparecer no século XX” (CASTILHO, 2018, p. 84).
028
Além disso, a mencionada Declaração pela primeira vez reconhece a soberania 
popular e a existência de direitos inerentes a todos os seres humanos (e, portanto, 
naturais). Nesse sentido, é a lição de Comparato (2019, p. 117):
A importância histórica da Declaração de Independência está 
justamente aí: é o primeiro documento político que reconhece, a par 
da legitimidade da soberania popular, a existência de direitos 
inerentes a todo ser humano, independentemente das diferenças de 
sexo, raça, religião, cultura ou posição social. 
Neste sentido, merecem ser transcritos os dois primeiros artigos da Declaração de
Virgínia, que trazem os preceitos acima mencionados (CASTILHO, 2018, p. 85):
Declaração dos Direitos da Virgínia (Williamsburg, 12 de junho de
1776)
029
(Declaração de direitos formulada pelos representantes do bom povo
de Virgínia, reunidos em assembleia geral e livre; cujos direitos que
pertencem a eles e à sua posteridade, como base e fundamento do
governo)
Artigo 1º: Que todos os homens são, por natureza, igualmente livres e
independentes e têm certos direitos inatos, dos quais, quando entram
em estado de sociedade, não podem por qualquer acordo privar ou
despojar seus pósteros e que são: o gozo da vida e da liberdade com
os meios de adquirir e de possuir a propriedade e de buscar e obter
felicidade e segurança.
Artigo 2º: Que todo poder é inerente e, consequentemente, deriva do
povo; que os magistrados são seus mandatários e seus servidores e,
em qualquer momento, perante ele responsáveis.
Importante mencionar ainda que os preceitos representam “historicamente a
transição dos direitos de liberdade legais ingleses para os direitos fundamentais
constitucionais.” (CASTILHO, 2018, p. 84), distinção que será mais bem explicada em
nossa aula 6.
Apesar de discordar dessa concepção jusnaturalista, ou seja, de que os direitos
humanos são produtos naturais, entendo que é perfeitamente possível conceber, a
partir da Declaração de Virgínia, os direitos humanos como sendo produtos culturais,
pois ela e os direitos por ela consagrados (criados) surgiram justamente como
resultado de processos de luta pela independência dos Estados Unidos. A discussão
que restaria, portanto, é saber se tais direitos são realmente “universais e absolutos”
ou se comportam certos “ajustes” que permitam que eles sejam concebidos a partir
de determinados contextos como regionais e relativos, tema que abordaremos em
aula futura.
030
05
Desenvolvimento Histórico da 
Construção dos 
Direitos Humanos (2ª Parte)
031
Em nossa aula anterior, dedicada ao estudo da história dos direitos humanos, vimos
alguns antecedentes históricos que precederam a elaboração de documentos
especí�cos para tratar dos direitos humanos, bem como a Declaração de Virgínia,
elaborada no contexto da Independência dos Estados Unidos e na qual foram
contemplados, pela primeira vez, alguns direitos humanos garantidos até hoje.
Agora estudaremos a Revolução Francesa e os documentos de direitos humanos que
dela decorreram, direta ou indiretamente.
Revolução Francesa e
Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão
A Declaração de Virgínia de 1776, mencionada na aula anterior e que marcou a
independência dos Estados Unidos, é tida como a primeira declaração moderna sobre
direitos humanos, e teria servido de inspiração para a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, aprovada em 1789 pela Revolução Francesa e considerada “um
dos mais importantes documentos sobre o tema dos direitos humanos de todos os
tempos.” (CASTILHO, 2018, p. 31).
É importante que reconheçamos o contexto social no qual eclodiu a Revolução
Francesa, num momento de governos absolutistas que desconheciam a �gura do
cidadão, pois ainda prevalecia a concepção dos seres humanos como súditos. Assim,
retirando o Clero e a Realeza, que por serem os detentores do poder tinham, por
consequência, “direitos”, os demais seres humanos eram tidos como “objeto” de
direito e não “titulares” de direito.
Os súditos não tinham praticamente qualquer direito em relação ao seu soberano,
sendo impensável imaginar que eles pudessem pleitear o reconhecimento de direitos
em face do Estado, cuja personalidade se confundia com a do próprio governante,
como se pode concluir pela célebre frase de Rei Luiz XIV de que o “Estado sou eu” (no
original, “L’État c’est moi"). A frase completa seria (FUKS,s.d.) “Je suis la Loi, Je suis l'Etat;
032
l'Etat c'est moi" (Eu sou a Lei, eu sou o Estado; o Estado sou eu!) e bem demonstra o
tamanho do poder do rei na época, o qual concentrava em suas mãos o poder sobre
tudo e sobre todos.
Nesse cenário, eclode a Revolução Francesa quando, impulsionados pelos ideais
iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, os revolucionários derrubaram o
regime absolutista e instauraram uma Assembleia Constituinte que marcou o início
do regime republicano (COMPARATO, 2018, p. 140).
Os revolucionários franceses estavam tão convencidos de que
inauguravam uma nova era com a Revolução Francesa que adotaram
um novo calendário, em substituição ao calendário gregoriano. O novo
calendário francês tinha os seguintes meses: Pluvioso, Ventoso,
Germinal, Floreal, Prairial, Messidor, Termidor, Frutidor, Vendemiário,
Brumário, Frimário e Nivoso (CALENDÁRIO, 1989, p. 51-53).
A Assembleia Constituinte, no dia 26 de agosto de 1789, aprovou a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, a qual trazia em seu preâmbulo que (COMPARATO,
2018, p. 165-166):
Os representantes do povo francês, constituídos em Assembleia
nacional, considerando que a ignorância, o descuido ou o desprezo
dos direitos humanos são as únicas causas das desgraças públicas e
da corrupção dos governos, resolveram expor, numa declaração
solene, os   direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a
�m de que essa declaração, constantemente presente a todos os
membros do corpo social, possa lembrar-lhes sem cessar seus
direitos e seus deveres; a �m de que os atos do poder legislativo e os
do poder executivo, podendo ser a todo instante comparados com a
�nalidade de toda instituição política, sejam por isso mais
respeitados; a �m de que as reclamações dos cidadãos, fundadas
033
doravante em princípios simples e incontestáveis, redundem sempre
na manutenção da Constituição e na felicidade de todos. Em
consequência, a Assembleia nacional reconhece e declara, na
presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do
Homem e do Cidadão.
Seguindo, em seu artigo primeiro, consagra o princípio da igualdade, ao a�rmar que:
“Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. As distinções sociais só
podem fundar-se na utilidade comum.” (COMPARATO, 2018, p. 166).
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, bem como os ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade inspiraram praticamente todos os demais documentos que
consagram direitos humanos no mundo ocidental. Contudo, é sempre bom alertar
que, no contexto história da Revolução Francesa, apenas os direitos dos homens
eram contemplados, pois as mulheres continuavam a ser consideradas como “objeto”
e “não titulares” de direitos.
Fonte: Disponível aqui
O texto integral da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
está disponível na Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da USP.
034
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html
A Declaração Universal
dos Direitos Humanos
Em 10 de dezembro de 1948, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, foi
aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos que, reiterando os ideias
defendidos durante a Revolução Francesa, proclama, em seu artigo I, os “três
princípios axiológicos em matéria de direitos humanos: a liberdade, a igualdade e a
fraternidade.” (COMPARATO, 2019, p. 233).
A referida Declaração (e a própria internacionalização dos direitos humanos), nas
palavras de Piovesan (2018, p. 210), “constitui, assim, um movimento extremamente
recente na história, que surgiu a partir do pós-guerra, como resposta às atrocidades e
aos horrores cometidos durante o nazismo.” A autora também a�rma que
“apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos, a Era Hitler foi
marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, o que
resultou no extermínio de onze milhões de pessoas.” (PIOVESAN, 2018, p. 210).
A referida Declaração tem como principais características a amplitude, por de�nir um
extenso rol de direitos, a indivisibilidade dos direitos humanos, e a universalidade, ao
prever que tais direitos devem ser garantidos para todos os seres humanos,
035
independentemente de sua nacionalidade ou condição especial, como aconteceu com
o regime nazista, “que condicionava a titularidade de direitos à pertinência à determinada
raça (a raça pura ariana).” (PIOVESAN, 2018, p. 231).
A Declaração não é um tratado, tampouco tem força de lei, mas é considerada a
“interpretação autorizada da expressão ‘direitos humanos’, constante da Carta das
Nações Unidas, apresentando, por esse motivo, força jurídica vinculante.” (PIOVESAN,
2018, p. 238).
Além disso, a Declaração é um importante marco na implantação de um Sistema
Internacional de Direitos Humanos, como se verá em aula futura.
Outros momentos e
documentos históricos
Além dos importantes documentos analisados nestas duas aulas dedicadas à história
dos direitos, outros momentos da história, tanto do Brasil, como de outros países,
têm importância na consagração (ou construção) dos direitos humanos. Dentre esses
momentos, Castilho destaca os seguintes:
- No Brasil de 1850 foi promulgada a Lei de Extinção do Trá�co
Negreiro no Brasil (Lei nº 581), chamada “Lei Eusébio de Queiroz”.
- Nos Estados Unidos de 1854, o chefe indígena Seattle enviou uma
carta ao então presidente Franklin Pierce, que havia proposto
comprar uma parte das terras da tribo, oferecendo em troca outra
reserva. A carta tem sido divulgada pela ONU como o maior libelo em
favor do meio ambiente na história.
- Nos Estados Unidos de 1863, o presidente Abraham Lincoln
proclamou a emancipação dos escravos, num documento que
resultou na aprovação da 13ª emenda da Constituição norte-
americana, que proíbe escravidão ou trabalhos forçados.
- Na Suíça de 1864, foi aprovada a Convenção da Cruz Vermelha
sobre o socorro aos feridos nos campos de batalha.
- No Brasil de 1871, o país dá mais um passo na direção da abolição
da escravatura, votando a Lei do Ventre Livre.
036
- No Brasil de 1888, a�nal é abolida a escravidão por meio da Lei
Áurea (Lei nº 3.353). Foi o último país a tomar tal atitude.
- Na Bélgica de 1890, o Ato Geral da Conferência de Bruxelas
dispunha sobre a repressão ao trá�co de escravos africanos.
- Na Roma de 1891, o papa Leão XIII promulgou a encíclica Rerum
Nova-rum, sobre a situação dos trabalhadores.
- Na França de 1898, Émile Zola divulga o seu famoso “Eu Acuso!”, um
libelo contra o processo do capitão Dreyfus.
- No Brasil de 1908, é fundada a Cruz Vermelha brasileira, tendo sido
seu primeiro presidente o médico Oswaldo Cruz.
- Na Rússia de 1918, Lênin proclamou a Declaração dos Direitos do
Povo Trabalhador e Explorado, um ano após a revolução socialista. O
fundamento principal era eliminar a exploração da força de
trabalho.
- Na Inglaterra de 1942, Mahatma Gandhi (“Mahatma”, do sânscrito
“A Grande Alma”) a partir do seu discurso “Um Apelo à Nação”,
propõe e funda o moderno estado indiano. Sua revolução tinha como
princípio o chamado Satyagraha, uma forma não violenta de
protesto.
- No Brasil de 1951, é aprovada a Lei Afonso Arinos (Lei nº 1.390), que
inclui entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de
preconceitos de raça ou de cor.
- Nos Estados Unidos de 1963, Martin Luther King Jr. profere o
discurso “Eu tenho um Sonho”, na Marcha para Washington.
(CASTILHO, 2018).      
Como se vê, muitas foram as lutas para que os direitos humanos fossem consagrados
(ou criados), mas é importante destacar que o fato de um direito ser reconhecido não
garante que ele será respeitado e mantido, pois é necessário que as lutas continuem
a �m de que os preceitos contidos na Constituição e na lei sejam efetivamente
concretizados.
037
Martin Luther King.
038
06
Direitos Humanos e 
Direitos Fundamentais
039
¹ Uma versão ampliada deste texto pode ser encontrada em: SERVA,Fernanda
Mesquita. DIAS, Je�erson Aparecido. A repercussão dos direitos fundamentais nas
relações particulares a partir de uma teoria crítica de direitos humanos. In  FERREIRA,
Jussara Suzi Assis Borges Nasser. AMARAL, Ana Cláudia Corrêa Zuin Mattos do.
Empresa, negócio jurídico e responsabilidade civil. Florianópolis: Qualis Editora, 201,
p. 247-275.
Vimos nas aulas anteriores como se deu a consagração histórica dos direitos
humanos: por meio de instrumentos internacionais que os reconheceram como
sendo direitos universais, a serem garantidos a todos os seres humanos,
independentemente de qualquer condição especial.
Alguns direitos humanos, porém, já estão reconhecidos pelos ordenamentos jurídicos
dos países e, com isso, ao serem positivados, são classi�cados como direitos
fundamentais e passam a ter um caráter nacional, apesar de continuarem a ter uma
aspiração universal.
Assim, a diferença entre direitos humanos e direitos fundamentais seria o fato de o 
primeiro, universal, nem sempre estar positivado; ao passo que o segundo, nacional,
sempre está positivado na Constituição ou nas leis do Estado. Nesse sentido, Sarlet
esclarece:
[...] “direitos fundamentais” se aplica para aqueles direitos do ser
humano reconhecidos e positivados na esfera do direito
constitucional positivo de determinado Estado, ao passo que a
expressão “direitos humanos” guardaria relação com os documentos
de direito internacional, por referir-se àquelas posições jurídicas que
se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente de sua
vinculação com determinada ordem constitucional, e que, portanto,
aspiram à validade universal, para todos os povos e tempos, de tal
sorte que revelam um inequívoco caráter supranacional
(internacional). (SARLET, 2010, p. 29)
040
Fonte: Disponível aqui
Além dos termos “direitos humanos” e “direitos fundamentais”,
também são usados outros termos, como “direitos humanos
fundamentais”, mas, basicamente, a diferença entre estes termos
consiste no fato de eles estarem ou não previstos na Constituição ou
nas leis do país. Utilizando a expressão “direitos humanos
fundamentais”, o Ministério Público Federal lançou uma coletânea de
artigos, em homenagem aos 70 anos da Declaração Universal dos
Direitos Humanos e 20 anos do reconhecimento da jurisdição da Corte
Interamericana de Direitos Humanos e as mudanças na aplicação do
direito no Brasil.
Corroborando tal posição, Rodrigo Maia Santos (2014, p. 36-37) ressalta a importância 
da diferenciação no que tange ao aspecto geográfico para a distinção de direitos 
fundamentais e direitos humanos:
Se não considerarmos o critério do plano de positivação, seremos 
obrigados a concordar que não há diferenças entre direitos humanos 
e direitos fundamentais.
[...]
Há pesquisadores que utilizam a terminologia "direitos humanos 
fundamentais", porém só é possível concordar se se referir aos 
direitos humanos inseridos na ordem constitucional, por exemplo. 
Neste caso, será possível, pois haverá identidade de conteúdo 
(material) e hierarquia constitucional (formal).
No mesmo sentido, destacando a característica relacionada aos direitos
fundamentais, de estarem estes consagrados em preceitos de ordem jurídica, Gilmar
Ferreira Mendes (2014, p.147) a�rma que esse é “o divisor entre as expressões
041
http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/coletanea_direitos_humanos_fundamentais.pdf
direitos fundamentais e direitos humanos”.
A partir de tais premissas, a expressão direitos humanos:
[...] ou direitos do homem, é reservada para aquelas reivindicações
de perene respeito a certas posições essenciais ao homem. São
direitos postulados em bases jusnaturalistas, contam com índole
�losó�ca e não possuem como característica básica a positivação
numa ordem jurídica particular. A expressão direitos humanos,
ainda, e até por conta da sua vocação universalista, supranacional, é
empregada para designar pretensões de respeito à pessoa humana,
inseridas em documentos de direito internacional. (MENDES, 2014, p.
147).
Já a expressão direitos fundamentais:
[...] é reservada aos direitos relacionados com posições básicas das
pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Estado. São
direitos que vigem numa ordem jurídica concreta, sendo, por isso,
garantidos e limitados no espaço e no tempo, pois são assegurados
na medida em que cada Estado os consagra. Essa distinção
conceitual não signi�ca que os direitos humanos e os direitos
fundamentais estejam em esferas estanques, incomunicáveis entre si.
Há uma interação recíproca entre eles. Os direitos humanos
internacionais encontram, muitas vezes, matriz nos direitos
fundamentais consagrados pelos Estados e estes, de seu turno, não
raro acolhem no seu catálogo de direitos fundamentais os direitos
humanos proclamados em diplomas e em declarações
internacionais. É de ressaltar a importância da Declaração Universal
de 1948 na inspiração de tantas constituições do pós-guerra.
(MENDES, 2014, p. 147).
No caso do Brasil, faz-se oportuno salientar que a tutela dos direitos humanos pelo 
ordenamento jurídico concretizou-se por meio das incorporações dos Tratados 
Internacionais e, também, pela sua expressa adoção em nível constitucional como 
direitos fundamentais.
Nesse sentido, Piovesan (2018c, p. 70-71) sustenta que:
042
Preliminarmente, é necessário frisar que a Constituição Brasileira de
1988 constitui o marco jurídico da transição democrática e da
institucionalização dos direitos humanos no Brasil. O texto de 1988,
ao simbolizar a ruptura com o regime autoritário, empresta aos
direitos e garantias ênfase extraordinária, situando-se como o
documento mais avançado, abrangente e pormenorizado sobre a
matéria, na história constitucional do País.
[…]
Ao �m da extensa Declaração de Direitos enunciada pelo art. 5º, a
Carta de 1988 estabelece que os direitos e garantias expressos na
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte. À luz desse dispositivo
constitucional, os direitos fundamentais podem ser organizados em
três distintos grupos: a) o dos direitos expressos na Constituição; b) o
dos direitos implícitos, decorrentes do regime e dos princípios
adotados pela Carta constitucional; e c) o dos direitos expressos nos
tratados internacionais subscritos pelo Brasil. A Constituição de 1988
inova, assim, ao incluir dentre os direitos constitucionalmente
protegidos, os direitos enunciados nos tratados internacionais de que
o Brasil seja signatário. Ao efetuar tal incorporação, a Carta está a
atribuir aos direitos internacionais uma hierarquia especial e
diferenciada, qual seja, a de norma constitucional.
Concluindo, veri�ca-se que a distinção precípua entre direitos humanos e direitos
fundamentais é no plano de consagração. O primeiro, universal, reconhecido a todos
os seres humanos, embora nem sempre positivado; o segundo, nacional, reconhecido
pela Constituição ou leis de cada país.
043
Fonte: Disponível aqui
Agora que você já sabe a diferença entre direitos humanos e direitos
fundamentais, que tal ler o artigo 5º da Constituição da República
Federativa do Brasil, que traz um extenso rol de direitos fundamentais
expressamente garantidos em nosso país? A Constituição está
disponível no seguinte endereço eletrônico: BRASIL, Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988.
044
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
07
Eficácia Vertical e Horizontal dos 
Direitos Humanos e 
Fundamentais
045
Como vimos nas aulas anteriores, os direitos humanos têm como uma de suas
principais funções proteger o cidadão em relação ao Estado. Essa característica está
presente tanto nos documentos atuais que consagram direitos humanos, como as
Constituições modernas, quanto nos documentos mais antigos, como a Magna Carta,
a Declaração de Virgínia, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e na
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nesse caso, estamos diante da “e�cáciavertical” dos direitos humanos.
Ao lado dessa e�cácia, também se questiona se os direitos humanos também
condicionam e devem ser observados nas relações entre particulares, ou seja, se
possuem, ao lado de uma “e�cácia vertical”, também uma “e�cácia horizontal”. Esse é
o tema da aula de hoje¹.
Ao se trazer à baila a discussão dos direitos fundamentais nas relações particulares,
observa-se que a doutrina denomina de “e�cácia horizontal” a aplicação destes
direitos previstos na Constituição da República nas relações entre os indivíduos.
Saleme (2011, p. 15), utilizando essa terminologia, apresenta a classi�cação das
funções dos direitos fundamentais:
Prestação perante terceiros - Aqui se fala em e�cácia horizontal dos
direitos fundamentais, ou seja, o reconhecimento dos direitos
individuais para a solução de con�itos entre indivíduos. O Estado
deve intervir para garantir a proteção interindividual. Pode-se
exempli�car a ação do juiz que, antes de qualquer análise, deve
veri�car os direitos individuais e suas projeções no campo
interpessoal.
No mesmo sentido, leciona Barroso (2013, p. 397/399):
O segundo desenvolvimento doutrinário que comporta uma nota
especial é a aplicabilidade dos direitos fundamentais às relações
privadas. O debate remonta à decisão do caso Lüth (v. supra), que
superou a rigidez da dualidade público/privado ao admitir a
aplicação da Constituição às relações particulares, inicialmente
regidas pelo Código Civil.
Diante da importância para o tema, faz-se oportuno trazer algumas considerações
sobre o caso de Lüth, acima mencionado.
046
¹ Uma versão ampliada deste texto pode ser encontrada em: SERVA, Fernanda
Mesquita. DIAS, Je�erson Aparecido. A repercussão dos direitos fundamentais nas
relações particulares a partir de uma teoria crítica de direitos humanos. In:  FERREIRA,
Jussara Suzi Assis Borges Nasser. AMARAL, Ana Cláudia Corrêa Zuin Mattos do.
Empresa, negócio jurídico e responsabilidade civil. Florianópolis: Qualis Editora, 2015,
p. 247-275.
Trata-se de decisão proferida pelo Tribunal Constitucional Alemão em
que se tratou a respeito da vinculação ou não, e de que forma os
particulares estariam vinculados ou não a direitos fundamentais. Em
1950, o Presidente do Clube de Imprensa de Hamburgo, Erich Lüth
sustentou boicote a um �lme (Amada Imortal), dirigido por um
cineasta, Veit Harlan, que havia produzido um �lme anti-semita
produzido durante o 3º Reich. Este cineasta conseguiu no Tribunal de
Justiça de Hamburgo que Lüth abstivesse-se de boicotar o �lme, com
base no art. 826 do BGB que reza: “quem causar danos intencionais
a outrem, e de maneira ofensiva aos bons costumes, �ca obrigado a
compensar o dano”. Lüth, insatisfeito com a represália sofrida em
seu direito de livre manifestação de pensamento/expressão, recorreu
ao Tribunal Constitucional alegando ofensa aos seus direitos
fundamentais. A Corte deu provimento ao recurso de Lüth
entendendo que o Tribunal de Justiça desconsiderou o signi�cado do
direito de expressão e informação de Lüth também no âmbito das
relações entre particulares, como se o mesmo fosse aplicável
somente nas relações estabelecidas com o Estado. Reconheceu,
assim, a e�cácia irradiante dos direitos fundamentais. Nesta decisão
apontou-se que o Poder Judiciário, como órgão do Estado, não
poderia deixar de intervir na questão, eis que, em relação a ele há
uma e�cácia direta e imediata dos direitos fundamentais. Assim, o
Estado, através de seu órgão de Poder Judiciário, ao omitir-se de
adentrar na questão dos direitos fundamentais que lhe fora trazida à
tona, estaria atuando como agressor a estes direitos fundamentais.
Trata-se, neste caso, da teoria dos deveres de proteção (MATEUS,
2007, p. 79).
No que tange aos sujeitos passivos dos direitos fundamentais, tem-se entendido que
pode �gurar tanto o Estado como o particular. Assim, os direitos fundamentais
incidem não apenas nas relações entre o Estado e o cidadão, mas também naquelas
entre particulares (cidadãos).
047
Além das e�cácias vertical e horizontal, Bruna Pinotti Garcia Oliveira e
Rafael de Lazari (2018, p. 118). também destacam a chamada “e�cácia
diagonal dos direitos humanos/fundamentais, aplicada às relações
entre particulares em que há subordinação entre eles, notadamente
nas relações de trabalho (empregador/empresa e empregado).”
Segundo os autores, essa subordinação exigiria que os direitos
humanos/fundamentais fossem aplicados de forma proporcional �m
de promover o equilíbrio entre os agentes. Apesar de reconhecer a sua
importância, os autores adotam postura restritiva e crítica à sua
aplicação.
Aduz Gilmar Ferreira Mendes (2014, p. 175-176), mediante breves apontamentos
históricos, que:
A História aponta o Poder Público como o destinatário precípuo das
obrigações decorrentes dos direitos fundamentais. A �nalidade para
a qual os direitos fundamentais foram inicialmente concebidos
consistia, exatamente, em estabelecer um espaço de imunidade do
indivíduo em face dos poderes estatais. Os desdobramentos
originados pelas crises sociais e econômicas do século XX, contudo,
tornaram evidente que não se poderia mais relegar o Estado ao
simples papel de vilão dos direitos individuais. Percebeu-se que aos
Poderes Públicos se destinava a tarefa de preservar a sociedade civil
dos perigos de deterioração que ela própria fermentava. Deu-se
conta de que o Estado deveria atuar no seio da sociedade civil para
nela predispor as condições de efetiva liberdade para todos. A�nal,
tornou-se claro também que outras forças sociais, como grupos
econômicos ou políticos de peso, poderiam, da mesma forma, trazer
para o indivíduo vários dos constrangimentos que se buscavam
prevenir contra o Estado. As razões que conduziram, no passado, à
048
proclamação dos direitos fundamentais podem, agora, justi�car que
eles sejam também invocados contra particulares. 
Nota-se que a problemática do tema envolve, em muitos casos, o aparente con�ito
entre dois princípios constitucionais: o da autonomia da vontade (implícito) e o da
aplicação imediata dos direitos fundamentais (explícito – art. 5º, § 1º da Constituição
da República de 1988). Nesse sentido, Mendes (2014, p. 177) assevera que:
[…] há direitos — em especial direitos de defesa -—em que se põe a
questão de saber se, e em que medida, alcançam as relações
privadas.
A resistência a que esses direitos se sobreponham à manifestação de
vontade nas relações entre os cidadãos preza o fato de que,
historicamente, tais direitos foram concebidos como proteção contra
o Estado, e que este seria fortalecido no seu poder sobre os
indivíduos se as relações entre os particulares fossem passíveis de
conformação necessária pelos direitos fundamentais. Haveria, então,
detrimento de outro princípio básico das sociedades democráticas—
o da autonomia individual, em especial no que tange à liberdade de
contratar.
A discussão sobe de ponto quando consideramos que o princípio da
autonomia da vontade, mesmo que não conste literalmente na
Constituição, acha no Texto Magno proteção para os seus aspectos
essenciais. A Carta de 1988 assegura uma liberdade geral no caput
do seu art. 59 e reconhece o valor da dignidade humana como
fundamento do Estado brasileiro (art. 3º, III, da CF) — dignidade que
não se concebe sem referência ao poder de autodeterminação. Tudo
isso con�rma o status constitucional do princípio da autonomia do
indivíduo.
Essa limitação da autonomia da vontade também é reconhecida por Jussara Ferreira e
Maria de Fátima Ribeiro (2007, p. 91), as quais apontam que:
A limitação da autonomia privada vem de�nida pela ordem pública,
pelo princípio da função social, pelos bons costumes e pelo princípio
da boa-fé. Não se questiona a necessidade da liberdade para
negociar desde que considerada a questão da igualdade de
contratar. A mudança de paradigma contribui na pós-modernidade
049
para o assentamento da de�nição dos limites indispensáveis ao novo
modelo negocial.
Adotou-se, portanto, a teoria da ponderação de interesses para veri�car quando e em 
que medida os direitosfundamentais obrigam os particulares nas suas relações 
privadas. Sobre isso, Mendes (2014, p. 178-179) pontua:
  De�nir quando um direito fundamental incide numa relação entre
particulares demanda exercício de ponderação entre o peso do
mesmo direito fundamental e o princípio da autonomia da vontade.
Há de se efetuar essa ponderação à vista de casos concretos, reais ou
ideados. Cabe ao legislador, em primeiro lugar, estabelecer em que
hipóteses a autonomia da vontade haverá de ceder. Assim, o próprio
legislador já pune, e com pena criminal, as decisões tomadas por
particulares que importem discriminação racial, não valendo, em
casos assim, dizer que, por alguém ser o proprietário de um prédio,
possa vir a restringir, odiosamente, a entrada nele a pessoas de certa
etnia. Ao Judiciário incumbirá o exame da conformidade da
deliberação legislativa com as exigências da proporcionalidade e
estabelecer outras ponderações, nos casos não antevistos pela lei.
Essa possibilidade dos direitos fundamentais serem aplicados nas relações entre
particulares, com e�cácia horizontal, é facilmente percebida pela simples leitura de
vários preceitos elencados na Constituição da República de 1988. Por outro lado,
alguns direitos consagrados na constituição, evidentemente, são aplicáveis apenas
nas relações entre os cidadãos e o Estado, possuindo, portanto, apenas uma e�cácia
vertical. A exemplo, destaca-se que teriam e�cácia somente vertical os seguintes
preceitos constitucionais:
1. 5º, inciso XXXVII: proibição de juízo ou tribunais de exceção;
2. 5º, inciso LI: direito do brasileiro nato de não ser extraditado;
3. 59, inciso LXXIV: assistência jurídica integral e gratuita aos hipossu�cientes;
4. 59, inciso LXXV: indenização pelo Estado ao condenado por erro judiciário ou ao
que �car preso por tempo excedente;
5. 59, inciso XXXIV: direito à indenização quando ocorrer a desapropriação.
  Em sentido diverso, teriam e�cácia tanto vertical quanto horizontal os seguintes
direitos consagrados constitucionalmente:
1. 1º, inciso III: princípio da dignidade da pessoa humana;
050
2. 3º, inciso IV: princípio da vedação à discriminação odiosa;
3. 5º, caput: princípio da igualdade;
4. 5º, inciso V: direito de resposta, proporcional ao agravo (o sujeito passivo pode
ser o órgão de imprensa particular);
5. 5º, caput e inciso X: princípio da liberdade e da privacidade;
6. 5º, incisos LIV e LV: princípio do contraditório e da ampla defesa;
7. 6º e 7º: direitos sociais, especialmente o direito ao trabalho (e�cácia direta
contra empregadores privados);
8. 79, inciso XVII: gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de ⅓
constitucional;
9. 79, inciso XXX: proibição aos empregadores de estabelecer diferenças salariais e
de critérios de admissão, por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
Nesse aspecto, veri�ca-se que alguns direitos fundamentais admitiriam uma e�cácia 
vertical, ou seja, seriam aplicáveis apenas nas relações do cidadão com o Estado e 
outros, além dessa e�cácia vertical, também teriam uma e�cácia horizontal, 
regulando as relações entre particulares.
Essas posições, contudo, não são unânimes, pois também existem teorias no sentido 
da ine�cácia horizontal (ou doutrina da State Action), segundo a qual os direitos 
humanos não podem ser aplicados às relações entre particulares e a teoria da e�cácia 
horizontal indireta, a qual prevê que os direitos “só se aplicam indiretamente aos 
particulares, sob o argumento de que, do contrário [...] acabaria aniquilando por 
completo a autonomia da vontade.” (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 119).
051
Fonte: Disponível aqui
O STF (Supremo Tribunal Federal) expressamente reconheceu a
possibilidade de aplicação dos direitos humanos nas relações entre
particulares, ou seja, com e�cácia horizontal, ao julgar o Recurso
Extraordinário nº 201.819/RJ, no qual decidiu que sociedade civil sem
�ns lucrativos não poderia expulsar associado sem a observância do
devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório. BRASIL,
Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 201.819/RJ: União
Brasileira de Compositores UBC x Arthur Rodrigues Vilarinho. Relatora:
Ministra Ellen Gracie. Relator para acórdão: Ministro Gilmar Mendes.
Julgamento: 11/10/2005. Publicação: DJ 27/10/2006.
052
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=1641534
08
O Sistema Internacional de 
Proteção dos Direitos 
Humanos
053
De certa forma, a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pode ser
considerada a certidão de nascimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos,
pois, a partir de então, o mundo passou a ter um documento que se propôs a garantir
e impor a adoção de mecanismos de respeito aos direitos humanos de forma
universal, ou seja, a todos os países, permitindo a criação, na sequência de um
Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos.
Antes da Declaração, porém, alguns fatos podem ser considerados os precedentes
históricos desse novo Sistema, pois, conforme observa Piovesan, “o Direito
Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho situam-se
como os primeiros marcos do processo de internacionalização dos direitos humanos”
(PIOVESAN, 2018b, p. 203).
O Direito Humanitário é o direito relacionado às guerras, ou seja, aos con�itos
armados e, ainda segundo a autora (PIOVESAN, 2018b, p. 203), sua origem remonta “à
Convenção de 1864, tem como fontes principais as quatro Convenções de Genebra de
1949 e os seus princípios devem aplicar-se hoje quer às guerras internacionais, quer
às guerras civis e a outros con�itos armados”.
Já a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho foram criadas após a
Primeira Guerra Mundial, também contribuíram para o processo de
internacionalização dos direitos humanos e serviram de fundamento para a criação
do Sistema Internacional (ou Global) de Direitos Humanos que tem, dentre os seus
principais órgãos, a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho de Tutela,
o Conselho Econômico e Social, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado (art.
7, da Carta da ONU, 1945).
Fonte: Disponível aqui
A Carta das Nações Unidas foi assinada em São Francisco, em 26 de
junho de 1945 e está disponível no seguinte endereço eletrônico.
054
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2017/11/A-Carta-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas.pdf
Assembleia Geral
A Assembleia é formada por todos os membros das Nações Unidas, sendo que cada
um deles pode indicar até cinco representantes, o que “não signi�ca que cada
membro possa votar cinco vezes, pois a Carta é expressa no sentido de que cada qual
possui um voto.” (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 844).
As questões importantes precisarão contar com a aprovação de um quórum
quali�cado de dois terços dos membros presentes e votantes. Tais situações, segundo
o art. 18 da Carta da ONU, são:
[...] recomendações relativas à manutenção da paz e da segurança 
internacionais; à eleição dos membros não permanentes do Conselho 
de Segurança; à eleição dos membros do Conselho Econômico e 
Social; à eleição dos membros do Conselho de Tutela, de acordo 
como parágrafo 1 (c) do artigo 86; à admissão de novos membros 
das Nações Unidas; à suspensão dos direitos e privilégios de 
membros; à expulsão dos membros; questões referentes ao 
funcionamento do sistema de tutela e questões orçamentárias.
Nos demais casos, as deliberações poderão ser tomadas, segundo o mesmo preceito,
pela maioria simples dos membros presentes e votantes.
Interessante destacar, contudo, que, em todos os casos, tal qual ocorre em um
condomínio, onde o condômino em débito não tem direito a voto, o mesmo se dá na
ONU, segundo o preceito contido no art. 19 da Carta da ONU:
O membro das Nações Unidas que estiver em atraso no pagamento
de sua contribuição �nanceira à Organização não terá voto na
Assembleia Geral, se o total de suas contribuições atrasadas
igualarem ou excederem a soma das contribuições correspondentes
aos dois anos anteriores completos. A Assembleia Geral poderá,
entretanto,permitir que o referido membro vote, se �car provado
que a falta de pagamento é devida a condições independentes de sua
vontade.
055
Assim, a falta de pagamento da contribuição �nanceira devida por cada um dos países
da ONU impede-o de participar das suas deliberações, salvo caso da permissão
especial prevista no �nal do preceito acima mencionado.
Conselho de Segurança
O Conselho de Segurança da ONU é composto por quinze membros, sendo cinco
permanentes (França, China, Reino Unido, Rússia e Estados Unidos) e dez não
permanentes (temporários), eleitos pela Assembleia Geral para um mandato de 2
anos. O Brasil já foi um membro não permanente no Conselho de Segurança por dez
vezes (BRASIL, s.d.):
[...] nos biênios 1946-47, 1951-52, 1954-55, 1963-64, 1967-68, 
1988-89, 1993-94, 1998-99, 2004-05 e 2010-11. Para o último, foi 
eleito com 182 votos (dentre 183 países votantes), o que 
demonstra o amplo reconhecimento das contribuições do Brasil 
à atuação do Conselho.
O papel do Conselho de Segurança é extremamente importante, pois, segundo o art.
14 da Carta da ONU:
A �m de assegurar pronta e e�caz ação por parte das Nações Unidas,
seus membros conferem ao Conselho de Segurança a principal
responsabilidade na manutenção da paz e da segurança
internacionais e concordam em que no cumprimento dos deveres
impostos por essa responsabilidade o Conselho de Segurança aja em
nome deles.
Assim, a manutenção da paz e da segurança internacionais são as principais
responsabilidades do Conselho de Segurança da ONU.
056
Fonte: Disponível aqui
No Conselho de Segurança existe a possibilidade de os membros
permanentes, quais sejam, França, China, Reino Unido, Rússia e
Estados Unidos, exercerem o poder de veto, o que impede que a
medida votada seja implementada. Assim, mesmo que 14 dos 15
membros votem a favor de alguma medida, se um dos membros
permanentes vota contra a medida não será aprovada. Sobre o tema:
GUIMARÃES, Fernanda. CARVALHO, Patrícia Nasser de. A atuação do
conselho de segurança das nações unidas na guerra civil síria: con�itos
de interesse e impasses entre os P5 e a consequente falta de resolução
para a questão. Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações
Internacionais, v.6, n.12, Jul./Dez. 2017, p.66-83.
A Corte Internacional de
Justiça
A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão judicial da ONU e tem seu
funcionamento regulado por seu Estatuto, que foi anexado à Carta da ONU. É
composta por quinze juízes e possui competência contenciosa e consultiva. Somente
os Estados-partes podem �gurar nos seus processos (PIOVESAN, 2018, p. 219).
057
https://seer.ufrgs.br/austral/article/viewFile/76055/47677
Para a defesa dos Direitos Humanos, Bruna Pinotti Garcia Oliveira e
Rafael de Lazari destacam que o Sistema Internacional contempla o
Comitê de Direitos Humanos, criado pelo Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos de 1966, e o Conselho de Direitos Humanos,
órgão intragovernamental criado pela Resolução nº 60/251, de
15/03/2006, com o “objetivo de proteger todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais em relação a todas as pessoas.” (OLIVEIRA,
LAZARI, 2018, p. 906).
058
09
Sistemas Regionais de 
Proteção dos Direitos 
Humanos
059
Sistemas regionais de
proteção dos direitos
humanos
Ao lado do Sistema Internacional (ou Global) de Direitos Humanos, estudado em
nossa última aula, também temos os sistemas regionais, os quais congregam o
Sistema Europeu, o Sistema Interamericano e o Sistema Africano, os quais
analisaremos nos próximos tópicos.
Além dos Sistemas acima mencionados e que estudaremos a seguir, 
importante destacar que Bruna Pinotti Garcia Oliveira e Rafael de Lazari 
também abordam o Sistema Islamo-Árabe de Direitos Humanos, cujos 
principais documentos são a Declaração Islâmica Universal dos 
Direitos Humanos (19/09/1981), a Declaração do Cairo de Direitos 
Humanos no Islã (05/08/1990) e a Carta Árabe de Direitos Humanos 
(15/09/1994) (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 900).
060
Sistema Europeu de
Direitos Humanos
O Conselho da Europa foi criado em 5 de maio de 1949, após a Segunda Guerra
Mundial, “com o objetivo de uni�car a Europa.” (PIOVESAN, 2018a, p. 123).
Posteriormente, em 4 de novembro de 1950, os países membros do Conselho
elaboraram a Convenção Europeia de Direitos Humanos, criando o Sistema Europeu
de Direitos Humanos.
Para compreender esse Sistema, imprescindível conhecer o contexto no qual ele
surgiu:
[...] um contexto de ruptura e de reconstrução dos direitos humanos,
caracterizado pela busca de integração e cooperação dos países da
Europa ocidental, bem como de consolidação, fortalecimento e
expansão de seus valores, dentre eles a proteção dos direitos
humanos (PIOVESAN, 2018a, p. 123).
Assim, os países da Europa ocidental vencedores da Segunda Guerra Mundial
adotaram a Convenção como um mecanismo para impedir que os horrores da
mencionada Guerra voltassem a ocorrer e, também, para buscar a uni�cação da
Europa, fragmentada em razão de anos de con�itos, bem como rea�rmar a
importância dos direitos humanos.
Dentre os seus órgãos, o mais importante é a Corte Europeia de Direitos Humanos,
criada em 1⁰ de novembro de 1988, por meio do Protocolo n⁰ 11, que teve como
grande inovação a previsão do direito de petição para indivíduos, grupos de
indivíduos e organizações não governamentais, os quais passaram a ter a
possibilidade de demandar diretamente perante a Corte no caso de violações de
direitos humanos (PIOVESAN, 2018a).
061
Fonte: Disponível aqui¹  Fonte: Disponível aqui²
As decisões da Corte Europeia de Direitos Humanos são 
disponibilizadas na internet, mas apenas em inglês ou francês.
(EUROPA. European Courts of Human Rights).¹
Em língua portuguesa, alguns documentos e decisões podem ser 
encontrados na página disponibilizada pelo Ministério Público de 
Portugal (PORTUGAL. Ministério Público. Gabinete Documentação e 
Direito Comparado: direitos humanos).²
Sistema Interamericano
de Direitos Humanos
No Sistema Interamericano de Direitos Humanos, três temas precisam ser estudados:
a Convenção Americana, a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A Convenção Americana de Direitos Humanos, também denominada Pacto de San
José da Costa Rica, é o “documento de maior importância” no mencionado Sistema,
segundo Piovesan (2018a, p. 149), assegurando, dentre outros:
[...] o direito à personalidade jurídica; o direito à vida; o direito a não 
ser submetido à escravidão; o direito à liberdade; o direito a um 
julgamento justo; o direito à compensação em caso de erro judiciário;
o direito à privacidade; o direito à liberdade de consciência e religião;
o direito à liberdade de pensamento e expressão; o direito à resposta;
062
https://www.echr.coe.int/Pages/home.aspx?p=home&c=
http://gddc.ministeriopublico.pt/pagina/direitos-humanos?menu=direitos-humanos
o direito à liberdade de associação; o direito ao nome; o direito à
nacionalidade; o direito à liberdade de movimento e residência; o
direito de participar do governo; o direito à igualdade perante a lei; e
o direito à proteção judicial (PIOVESAN, 2018a, p. 150).
Visando garantir o cumprimento de tais preceitos e a observância dos direitos
humanos nos países do continente americano, o Sistema conta com a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, que tem como atribuições:
[...] fazer recomendações aos governos dos Estados-partes, prevendo 
a adoção de medidas adequadas à proteção desses direitos; 
preparar estudos e relatórios que se mostrem necessários; solicitar 
aos governos informações relativas às medidas por eles adotadas 
concernentes à efetiva aplicação da Convenção; e submeter um 
relatório anual à Assembleia Geral da Organização dos Estados 
Americanos (PIOVESAN, 2018a, p. 153).
Note-se que a Comissão não é um órgão jurisdicional, papel reservado para a Corte, e
tem como principal objetivo atuar como uma instância que visa garantir a observância
dos direitos humanos por parte dos estados parte da OEA (Organização dos Estados
Americanos).
Além disso,

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