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AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTO Prof. Roberto Moreno Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4 CRIAÇÃO DE VALOR E MERCADO FINANCEIRO ............................................................. 7 EXERCÍCIO ............................................................................................................................................................... 9 INSTRUMENTOS PARA A DECISÃO DE INVESTIMENTO .................................................... 9 Payback (Pb) .......................................................................................................................... 10 Payback descontado (Pbd) .................................................................................................... 11 Valor Presente Líquido (VPL) ................................................................................................. 12 Taxa Interna de Retorno (TIR) ............................................................................................... 14 Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM) ......................................................................... 19 Valor Presente Líquido Anualizado (VPLA) ............................................................................ 19 EXERCÍCIOS ............................................................................................................................................................ 21 O QUE DESCONTAR — DETERMINAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA .......................................... 24 EXERCÍCIOS ............................................................................................................................................................ 32 COMO DESCONTAR — DETERMINAÇÃO DO CUSTO DE CAPITAL ........................................ 34 Risco ....................................................................................................................................... 34 Custo Médio Ponderado de Capital (km) .............................................................................. 36 Custo Marginal de Capital (kmg) ............................................................................................. 42 EXERCÍCIOS ............................................................................................................................................................ 45 AVALIAÇÃO DE EMPRESAS .................................................................................... 49 Cuidados com o Método do Fluxo de Caixa Descontado ...................................................... 49 Avaliação da Empresa versus Avaliação do Patrimônio Líquido ........................................... 51 Aplicação dos Modelos .......................................................................................................... 54 EXERCÍCIOS ............................................................................................................................................................ 58 CASOS ........................................................................................................... 60 Eastman Kodak ...................................................................................................................... 60 Lasting Impressions Company ............................................................................................... 61 Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 3 Esse texto tem o propósito de apresentar os principais conceitos da Análise de Investimento, incluindo Avaliação de Empresas, de modo a facilitar sua apreensão pelo aluno, em complemento ao material contido na referência bibliográfica apresentada abaixo e não substitui, em nenhuma hipótese, a leitura desse material. Por se tratar da discussão de um conteúdo que envolve cálculo financeiro, é imprescindível para o bom acompanhamento das aulas que os alunos utilizem calculadora financeira. Por essa razão, deverão tê-las. Bibliografia • Básica DAMODARAN, Aswath, Avaliação de Investimento: ferramentas e técnicas para a determinação de qualquer ativo. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. • Complementar COPELAND, Tom; KOLLER, Tim e MURRIN, Jack, Avaliação de Empresas — Valuation: calculando e gerenciando o valor das empresas. São Paulo: Makron Books, 2000. ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph, W. e JAFFE, Jeffrey F., Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1995. BREALEY, Richard A. e MYERS, Stewart C., Princípios de Finanças Empresariais. McGraw-Hill: Lisboa, 1998, 5a. Edição. Os exercícios utilizados neste texto foram extraídos da bibliografia indicada. Roberto Moreno é Doutor em Economia pela FGV/EPGE. Professor da UFF, foi professor da FGV e Diretor, Coordenador de Mestrado, Coordenador de Extensão e professor do IAG - PUC-Rio. Foi Presidente da ANPAD - Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração no período 1997 - 2000. É Consultor de Empresas na área de Finanças Corporativas. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 4 INTRODUÇÃO O papel do administrador financeiro é mais espinhoso do que parece ser à primeira vista. Considere a figura 1 a seguir, que apresenta uma empresa através dos grupos de conta mais importantes de seu balanço. A partir dela, podemos entender melhor a dimensão de seus encargos, das decisões que constituem sua responsabilidade: Figura 1 BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO Ativo Passivo Circulante Circulante Exigível de Ativo Longo Prazo Permanente Patrimônio Líquido • A Decisão de Financiamento – Administrar a Captação de Recursos Esta função, fundamental para financiar as atividades da empresa, implica em decisões que envolvem permanente conflito entre o risco assumido e a rentabilidade esperada. Para ser bem-sucedido, o administrador financeiro deve captar recursos ao menor custo possível, além de combinar eficientemente o emprego de recursos próprios e de terceiros. Administrar a captação de recursos envolve dois tipos de decisão: de um lado, combinar recursos de curto prazo - Passivo Circulante - e recursos de longo prazo - Exigível de Longo Prazo e Patrimônio Líquido; de outro lado, combinar recursos próprios - Patrimônio Líquido - e recursos de terceiros - Passivo Circulante e Exigível de Longo Prazo. Se o financiamento se faz, predominantemente, através de recursos de curto prazo certamente o seu custo será menor, acarretando maior rentabilidade para os acionistas da empresa. No entanto, o financiamento através de Passivo Circulante exige renovação Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 5 periódica e, em conseqüência, a assunção de dois tipos de risco: a incapacidade de obter os fundos em face de uma conjuntura econômica desfavorável1 - que poderia conduzir a uma insolvência técnica - e/ou, a ocorrência de um aumento expressivo nas taxas de juros e, portanto, dos custos do financiamento. A opção por um financiamento apoiado em recursos de longo prazo é mais segura. Afinal, uma vez contratado e internalizado os recursos, nenhuma conjuntura desfavorável será capaz de afetar a saúde financeira da empresa. Em compensação, o preço a ser pago é o de se financiar através de custos maiores - o financiamento de longo prazo é mais caro - e reduzir, assim, a rentabilidade da empresa. Como se vê, essa decisão envolve um conflito na escolha entre o risco a assumir e a rentabilidade (o retorno) que se deseja obter: quanto maior a segurança (menor risco), menor rentabilidade (maior o custo) e vice-versa. A combinação adequada de recursos próprios e de terceiros, conhecida como Estrutura Financeira ou de Capitalda empresa, envolve conflito semelhante. A captação de recursos de empréstimo é muito rentável para o acionista sempre que o custo do financiamento for inferior a rentabilidade obtida com a aplicação desses recursos, ou seja, a rentabilidade do Ativo. A decisão implica em risco, na medida em que não há como garantir que essa situação perdure depois que a escolha foi feita. No caso em que a empresa - por exemplo, em virtude de um processo recessivo - alcance um retorno sobre seus ativos insuficiente para cobrir seus encargos financeiros, essa situação se refletirá sobre os acionistas na forma de menores lucros e, portanto, menor rentabilidade. A predominância do capital acionário no financiamento da empresa reduz o risco, posto que esses recursos não são exigíveis, mas reduz também a rentabilidade dos acionistas na medida em que o lucro que lhes resta - depois de pagos todos os encargos - terá que remunerar um maior volume de recursos.2 • A Decisão de Investimento - Administrar a Aplicação de Recursos Aqui a tarefa básica é a de obter a melhor remuneração possível na aplicação dos recursos disponíveis para a empresa. Em condições normais, os ativos de longo prazo – registrados no Ativo Permanente - têm maior remuneração que os ativos de curto prazo – presentes no Ativo Circulante - mercê de sua maior maturidade. Por outro lado, são ativos menos líquidos. Eis, mais uma vez, o conflito sempre presente na vida do administrador financeiro. A concentração dos recursos aplicados preferencialmente no Ativo Permanente deverá assegurar elevada rentabilidade do ativo total e, daí, da própria empresa. No entanto, 1 Por exemplo, o sequestro de ativos financeiros no início do Plano Collor reduziu a disponibilidade de crédito no sistema financeiro. 2 Note que um lucro líquido de $10 representará 10% de retorno para o acionista se o Patrimônio Líquido for $100, mas apenas 5% de retorno se o Patrimônio Líquido for $200. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 6 considerando-se a iliquidez desses ativos quando comparados àqueles que compõem o Ativo Circulante, essa decisão conduzirá a um maior risco para a empresa, o que certamente desagradará aos seus acionistas. Obviamente, o inverso ocorre caso a empresa opere com Ativo Circulante relativamente elevado. Uma vez admitida uma certa distribuição na aplicação dos recursos entre ativos de curto prazo e de longo prazo, há que determinar como alocá-los. Com respeito ao longo prazo, normalmente existem diferentes oportunidades de investimento para a empresa, mas os recursos são escassos. Assim, é necessário escolher entre as possíveis aplicações, de modo a obter-se o melhor compromisso risco-retorno. A Análise de Projetos de Investimento realiza exatamente a tarefa de discutir critérios a serem empregados pela empresa nessa escolha e, desta maneira, ajuda na determinação do Ativo Permanente da empresa. No curto prazo, a discussão é focada em torno dos princípios que devem nortear a distribuição dos recursos entre as diferentes contas do Ativo Circulante − Disponibilidades, Contas a Receber e Estoques − e das fontes de financiamento de curto prazo do Passivo Circulante, i.e., Fornecedores, Salários e Impostos a Pagar e Bancos. Essas são as questões relevantes no estudo da Administração do Capital de Giro. As Decisões de Investimento e de Financiamento combinam-se de modo a alcançar o objetivo máximo do executivo financeiro: criar valor para o acionista. Para alcançar este objetivo, é necessário que as inversões de recursos obedeçam ao princípio básico de que o retorno (benefício) esperado de cada unidade monetária aplicada supere o custo de fazê-lo. Assim, o retorno de cada real deixado no caixa, que toma a forma de aumento de liquidez da empresa, tem que ser comparado com o custo associado a esta decisão, no caso a remuneração que a empresa deixa de ganhar em aplicações de curto prazo, por exemplo. Ou, a margem de contribuição adicional que a aquisição de uma nova máquina deve produzir tem que ser comparada com o custo dos recursos necessários para esta aquisição. Mais ampla e intuitivamente, a criação de valor para o acionista será realizada sempre que cada unidade monetária aplicada trouxer um benefício superior ao custo dos recursos necessários para essa aplicação, ou seja, sempre que a decisão de investimento resultar em ativos mais rentáveis que o custo dos recursos captados através da decisão de financiamen- to. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 7 CRIAÇÃO DE VALOR E MERCADO FINANCEIRO Considere a situação de um indivíduo que dispõe de $50 neste período e espera dispor de $60 no próximo período. Nessas circunstâncias, e na ausência de um mercado financeiro, o máximo consumo hoje seria de $50, embora pudesse consumir, no limite, até $110 amanhã. A situação muda radicalmente com a existência de um mercado financeiro e, em conseqüência, de uma taxa de juros neste mercado. Se este fosse o caso e a taxa de juros fosse de 10% ao período, surgiriam as seguintes possibilidades: 1. Consumo presente: Qualquer valor entre $0 e a soma de $50 com o valor presente de $60. Esse resultado decorreria da possibilidade de se antecipar o consumo hoje, tomando emprestado sobre o valor esperado ($60) amanhã. Claro que, neste caso, o consumo presente máximo seria de $104,55, e nenhum consumo futuro seria possível. 2. Consumo futuro: Qualquer valor entre $0 e a soma de $60 com o valor futuro de $50. Esse valor má- ximo de consumo resultaria da aplicação da renda presente por um período, para aumentar o consumo futuro. Nesse caso, o consumo presente seria nulo e o consu- mo futuro alcançaria $115. A figura abaixo resume a situação. Note que qualquer combinação sobre a reta FP é possível para esse indivíduo, bastando distribuir os recursos entre consumo presente e futuro, segundo suas preferências. Dentro desse contexto, imagine que esse indivíduo encontrasse uma oportunidade de investimento que lhe permitisse, aplicando $30 hoje, alcançar $31 amanhã. Certamente, diante das circunstâncias, essa oportunidade não lhe seria interessante. (Por quê?). Nem 115,00 C1 C0 104,55 0 60,00 50,00 P F Empresta Toma emprestado I Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 8 ficaria entusiasmado com outra oportunidade que lhe permitisse receber amanhã $33, caso aplicasse $30 hoje. Todavia, imagine que lhe propusessem aplicar $30 hoje e receber $40 amanhã. Qual deveria ser a reação desse indivíduo? A diferença básica entre as situações é que, nesta última, o indivíduo ganha $10 em relação aos $30 que aplicou, um resultado melhor do que o mercado lhe permitiria. Adicionalmente, é extraordinário que ele não precise renunciar a $30 de consumo presente para se beneficiar dessa oportunidade de investimento. A existência do mercado financeiro permite-lhe manter seu padrão de consumo, tomar emprestado $30 no mercado para realizar a aplicação, receber $40 no período seguinte e resgatar o empréstimo feito, pagando $33 ($30 de principal e $3 de juros). Depois de tudo concluído, terá obtido um ganho líquido de $7, terá criado valor. Alternativamente, esse indivíduo poderia considerar que a receita de $40 no futuro corresponderia a um valor equivalente hoje, seu valor presente, igual a $36,36. Comparando esse resultado com a aplicação proposta — e a comparação é possível porque feita com valores no mesmo ponto do tempo —, concluiria que essa oportunidade lhe traria um ganho de $6,36 líquidos, em valores de hoje, equivalentes aos $7 no período futuro. À diferença entre o valor presente do ganho de $40 e a aplicação realizada de $30, ou seja, os $6,36, chamamos Valor Presente Líquido e, quando positivo, expressa a criação de valor e o aumento de oportunidades para o indivíduo. Essas conclusões a que chegamospara um indivíduo aplicam-se completamente a qualquer agente econômico e, em particular, às empresas. Também elas só criarão valor e beneficiarão os seus acionistas, se escolherem oportunidades de investimento que apresentem Valor Presente Líquido positivo. Embora tais conclusões apliquem-se a todas as decisões financeiras, elas são particularmen- te importantes para auxiliar na escolha dos investimentos a serem realizados dentre as diferentes alternativas frequentemente disponíveis para as empresas. É importante considerar que a expressão “investimento” está relacionada às aplicações de recursos que geram aumento de capacidade produtiva e se caracterizam pelo prazo normalmente extenso de maturidade, a exemplo do que acontece com a aquisição ou modernização de equipamentos, aquisição, modernização ou ampliação de instalações, bem como aquisição de participação em outras empresas. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 9 Exercício A figura abaixo representa a situação da Srta. J. Fawn. No período 0, a renda de seu trabalho e o seu consumo corrente são iguais a $40; mais tarde, no período 1 esse fluxo é igual a $22. Há uma oportunidade disponível de fazer o investimento representado pelo ponto D. Tomando emprestado e fazendo empréstimos a outras pessoas, a Srta. Fawn pode alcançar qualquer ponto pertencente à linha FDE. a. Qual é a taxa de juros de mercado? (Observação auxiliar: A nova linha EF da taxa de juros de mercado é paralela à linha AH.) b. Qual é o VPL do ponto D? c. Se a Srta. Fawn desejar consumir a mesma quantidade de cada período, quando deverá consumir no período zero? 0 40 60 75 22 H F B D A E C1 C0 0 . Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 10 INSTRUMENTOS PARA A DECISÃO DE INVESTIMENTO A análise de projetos de investimento pode ser realizada utilizando-se diferentes modelos, com diferentes pressupostos. Dos mais utilizados, podemos destacar o Payback, o Payback Descontado, o Valor Presente Líquido, a Taxa Interna de Retorno, a Taxa Interna de Retorno Modificada e o Valor Presente Líquido Ajustado. Antes de começarmos a discutir critérios, é importante distinguir entre projetos de investimento independentes e projetos de investimento mutuamente excludentes: • Projetos independentes: são aqueles para os quais a decisão aceitar ou rejeitar não afeta a decisão sobre outro projeto, nem é por ela afetada. Ex. A decisão da Petrobrás em alterar a sua marca não afeta sua decisão de investir na exploração de uma bacia petrolífera recém descoberta. • Projetos mutuamente excludentes: dois projetos são mutuamente excludentes quando a escolha de um implica na rejeição do outro. Ex. Uma empresa proprietária de um terreno, pode escolher entre lá instalar um parque temático ou, alternativamente, um moderno centro de consumo. Note que a escolha de um dos projetos automaticamente elimina o outro. Passemos aos diferentes métodos. Payback (Pb) Com esse critério, procura-se determinar o prazo necessário para a recuperação do investimento inicial, dentro do suposto de que as entradas de caixa relativas ao projeto ocorram a uma fração constante em cada período. O payback é, então, comparado com o prazo considerado máximo para que um investimento seja considerado: se o projeto apresenta payback inferior ao máximo, deve ser considerado; caso contrário, é descartado. Se dois projetos são mutuamente excludentes, será escolhido o de menor payback. Se dois projetos são independentes, o de menor payback será realizado primeiro. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 11 Exemplo Considere os seguintes projetos de investimento alternativos: O cálculo do payback é feito acumulando-se as entradas de caixa a cada período, de modo a determinar em quantos períodos o investimento inicial terá sido recuperado. Note que, no caso do exemplo, não é possível distinguir entre os três projetos, pois eles apresentam o mesmo prazo médio de retorno, ou seja, são igualmente bons (ou igualmente ruins). Se o payback máximo tivesse sido estabelecido como 2, todos os projetos seriam rejeitados; se tivesse sido estabelecido como 4, todos seriam aceitos. Seriam, de fato, os três projetos igualmente bons ou igualmente ruins? Como critério de decisão, o payback apresenta algumas dificuldades muito importantes: 1. Não considera o valor do dinheiro no tempo As entradas de caixa de diferentes períodos são acumuladas como se ocorressem no mesmo período. 2. Negligencia os fluxos de caixa posteriores ao período de recuperação No exemplo, o projeto C é tão bom quanto os projetos A ou B e, no entanto, apre- senta um fluxo de $60 mil no quarto período! 3. Trata arbitrariamente o período adequado de recuperação do investimento Por que dois períodos é o prazo máximo de retorno a ser considerado? Ou quatro períodos? Payback descontado (Pbd) Uma alternativa ao payback clássico é o payback descontado, que opera com o valor presente das entradas de caixa para o cálculo do prazo médio de retorno. Ano A B C 0 (100) (100) (100) 1 20 50 50 2 30 30 30 3 50 20 20 4 60 60 60.000 Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 12 Exemplo No exemplo acima, se as entradas de caixa fossem descontadas à taxa de 10%, conver- tendo-se, assim, todos os valores para o período 0, estaria resolvido o problema de desconsiderar o valor do dinheiro no tempo e esses fluxos poderiam ser acumulados para calcular-se o payback. Agora, o peso do quarto período no projeto C o coloca à frente dos demais, apresentando o menor prazo de recuperação em relação aos demais. E isso ocorreu porque ao se converter as entradas de caixa para seus valores equivalentes em 0, a contribuição delas por período para a recuperação do investimento inicial diminuiu, aumentando o payback. Esse fato, no caso do projeto C, obrigou a que se considerasse a expressiva contribuição do quarto período, o que havia sido negligenciado no exemplo do payback clássico. Embora tenha resolvido o primeiro problema assinalado, o payback descontado não solucionou a questão da arbitrariedade do “ponto de corte”; nem a questão da negligência dos fluxos de caixa posteriores ao período de recuperação está equacionada, embora o exemplo induza a pensar que sim uma vez que ao trabalhar-se com o valor presente dos fluxos, o peso do quarto período foi reconhecido. Note, contudo, que se houvessem outros fluxos posteriores, ou se o valor mais elevado ocorresse em períodos à frente, não seria considerado. Apesar de todos as suas deficiências, o payback é frequentemente utilizado por empresas de grande porte ao tomar decisões de pequena importância. E isso se explica pelo fato de que para muitas decisões o custo de uma análise detalhada acaba por superar o eventual prejuízo se um erro fosse cometido. De fato, um investimento que tem um período de recuperação curto e continua gerando fluxos de caixa positivos por algum tempo à frente, muito provavelmente tem VPL positivo. Em resumo, o conceito de payback é de simples (e barata!) aplicação e muito intuitivo. Para muitas empresas que estruturam suas divisões como centros de lucro, e mesmo para aquelas que não o fazem, é mais eficiente recomendar a aplicação de uma regra de payback para decisões financeiras até um certo valor, do que exigir análises mais completas e sofisticadas, porém mais dispendiosas e demoradas. Valor Presente Líquido (VPL) O conceito de VPL lida com a comparação entre o valor presente dos fluxos de caixa líquidos gerados por um projeto e o investimento inicial necessário para realizá-lo. Em outras palavras, trata-se de comparar os benefícios e os custos associados ao projeto, uma abordagem inerente ao processo de decisão financeira, usandocomo data focal o período inicial, o período 0. A aplicação do critério é imediata: 1992 1993 Lucro Líquido 120,00 130,00 (+) Depreciação 53,00 58,00 (-) Desembolsos de Capital -75,00 -80,00 (-) Variação de Capital de Giro -24,00 -25,00 (-) Pagamentos do Principal -10,00 -10,00 (+) Captação de Nova Dívida - 41,58 * FCA 64,00 114,58 * 10 + 0,3(80 + 25) Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 13 • Se os benefícios superam os custos, ou seja, se VPL > 0, o projeto deve ser aceito. Em caso contrário, rejeita-se o projeto; • Se dois projetos aceitáveis são mutuamente excludentes, deve-se escolher o de maior VPL; • Entre projetos independentes aceitáveis, devem-se realizar prioritariamente os de maior VPL. Em termos formais, A taxa de desconto k utilizada para determinar o valor presente dos fluxos futuros tem várias origens e dela trataremos mais adiante. Por ora, basta considerar que reflete o custo de oportunidade de aplicações de mesmo risco, ou seja, o retorno que poderia ser alcançado em aplicações de risco idêntico ao do projeto em análise. Exemplo O projeto A envolve uma aplicação de $2.000 e uma entrada de caixa de $2.000 no período 1; o projeto B exige uma aplicação de $2.000 e gera entradas de caixa de $1.000 no 1o., $1.000 no 2o. e $5.000 no 3o. período. Se a taxa de desconto adequada é de 10%, qual o VPL desses projetos? Nesse caso, aceita-se o projeto B e rejeita-se o projeto A. Algumas vezes, os fluxos de caixa oriundos de um projeto têm um comportamento menos convencional. Este é o caso quando, por exemplo, o projeto exige mais de um desembolso de caixa. Exemplo Considere a análise de um projeto de mineração que exige um investimento inicial de $60. O fluxo de caixa previsto no primeiro ano é $155 e no segundo ano a mina estará exaurida, mas será necessário o desembolso de $100 para restaurar o terreno. Qual o VPL do projeto a 10%? E a 30%? A aplicação do VPL em casos como esse não oferece maiores dificuldades: é suficiente descontar os fluxos de caixa, atentos para o seu sinal. Em geral, Inv. k)(1 FC VPL n n n − + = 182 - 2.000 0,1)(1 2.000 VPL 1A =− + = 3.492 2.000 0,1)(1 5.000 0,1)(1 1.000 0,1)(1 1.000 VPL 321B =− + + + + + = 1,74 - 60 0,1)(1 100 0,1)(1 155 VPL 2110% =− + − + = 0,06 60 0,3)(1 100 0,3)(1 155 VPL 2130% =− + − + = Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 14 Taxa Interna de Retorno (TIR) A Taxa Interna de Retorno, cuja relação com o VPL é muito próxima, procura sintetizar em uma taxa de rentabilidade as qualidades de um projeto de investimento, de modo que esse indicador possa ser comparado com os retornos de opções alternativas de aplicação dos recursos. Para compreendermos melhor o conceito, suponha que a aplicação de $100 em um CDB resulte, ao final de um período, em $120. Qual a rentabilidade dessa aplicação? A resposta é a taxa interna de retorno. Lançando mão da matemática financeira, chegaríamos facilmente a essa taxa: Suponha, agora, que em lugar de um CDB, os $100 fossem aplicados em outro instrumento financeiro, que pagasse $15 no final do primeiro período e $120 no final do segundo. O cálculo da TIR obedeceria ao mesmo princípio da matemática financeira: Embora a solução não seja tão simples quanto no exemplo anterior, o conceito que leva ao resultado é o mesmo e facilmente compreendido: A Taxa Interna de Retorno é a taxa de desconto que iguala o valor presente dos fluxos de caixa ao investimento inicial. Dito de outra forma é a taxa de desconto que leva o VPL de um projeto a igualar-se a zero. A TIR, por si só, não tem qualquer significado. O retorno de 17,3% na segunda aplicação é compensador? E o que dizer dos 20% implícitos na primeira aplicação. A resposta a essas questões depende de definir-se o retorno exigido. • Como critério de decisão, devem ser aceitos os projetos cuja TIR supere a taxa de retorno exigido; devem ser rejeitados aqueles cuja TIR seja inferior ao retorno exigido; • Para projetos aceitáveis e mutuamente excludentes, deve-se realizar o de maior TIR; • Em caso de projetos aceitáveis e independentes, a prioridade deve ser daqueles com maior TIR. De modo geral, a TIR é a taxa de desconto que soluciona a seguinte equação: . k)(1 Inv k)(1 FC VPL j j n n jn + − + = 20% TIR100 TIR)(1 120 0 ou TIR)(1 120 100 =− + = + = 17,3% TIR100 TIR)(1 120 TIR)(1 15 0 ou TIR)(1 120 TIR)(1 15 100 22 =− + + + = + + + = Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 15 A essa altura, já dá para perceber que a semelhança entre os critérios do VPL e da TIR. A relação entre os dois critérios pode ser ilustrada por um exemplo. Exemplo Os fluxos de caixa de um projeto estão apresentados abaixo. Calcule o seu VPL para as seguintes taxas de desconto: 0%, 5%, 10%, 15% e 20%. Os cálculos nos levam aos seguintes resultados: Com base nos resultados do exemplo, é possível traçar o perfil de VPL para este projeto. O perfil de VPL é a curva que indica o VPL do projeto para cada taxa de desconto, como se vê abaixo. Note que, no exemplo, a curva corta o eixo horizontal (das taxas). Neste ponto, o VPL é nulo e, em consequência, esta taxa de desconto é a própria TIR — no caso, 13,07%. Inv. TIR)(1 FC 0 n n n − + = Período 0 1 2 FC (100,00) 60 60 Taxa 0% 5% 10% 15% 20% VPL 20,00 11,56 4,13 -2,46 -8,33 Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 16 Veja que os dois critérios sugerem a mesma conclusão. No caso da TIR, se o retorno exigido for inferior a 13,07%, o projeto deve ser aceito; em caso contrário, deve ser rejeitado. Essa é também a conclusão que o uso do VPL acarretaria, pois o VPL é positivo para as taxas de desconto inferiores a 13,07%, e negativo para as taxas de desconto superiores. Contudo, nem sempre a convivência desses critérios é tão pacífica. Em várias situações, o uso da TIR apresenta dificuldades e os resultados podem conflitar com aqueles que seriam obtidos com o VPL. É o que se apresenta a seguir. A Taxa de Reinvestimento A abordagem da TIR supõe que os fluxos de caixa que entram são reaplicados à mesma TIR. No entanto, é possível que não haja alternativa de aplicação que permita o reinves- timento com essa remuneração. Taxas Múltiplas de Retorno Os fluxos de caixa convencionais são do tipo uma saída de caixa — o investimento inicial — e entradas de caixa subsequentes. Em alguns casos, este esquema pode ser rompido pela natureza do projeto. O exemplo da exploração da mina é um desses casos. A um investimento de $60, segue-se uma entrada de caixa de $155 e, posteriormente, outra saída de caixa de $100, destinada a restaurar o terreno. Nesse caso, como o perfil de VPL abaixo indica, há duas TIR. Qual utilizar para fins de decisão? -10,00 0,00 10,00 20,00 30,00 0% 5% 10% 15% 20% 25% V PL Taxa TIR = 13,07% Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 17 O problema da multiplicidade de taxas ocorre sempre que o conjunto de fluxos de caixa de um projeto apresente mais de uma inversão, isto é, uma mudança entre saída e entrada de caixa. Por exemplo, um fluxo tradicional, com uma saída e uma entrada de caixa, apresenta uma inversão. Um fluxo não convencional com entradas e duas saídas apresenta, pelo menos, duas inversões: da saída para entrada e, em algum momento, da entrada para saída. Pode ser provado que um diagrama de fluxo de caixa terá tantas TIR’s positivas quantas forem as inversões no diagrama. A Questão da Escala Quando lidamos com projetos mutuamente excludentes, o problema da escala pode ser particularmente importante. Trataremos dele através de um exemplo. Suponha que um produtor de teatro esteja pensando em montar uma peça, Os Maias, baseada em Eçade Queiroz, para a qual é possível adotar dois enfoques: a produção simples e a superprodução. Os fluxos de caixa associados a cada um dos enfoques são os seguintes: Período 0 1 VPL25% TIR Produção simples - 10 40 22 300% Superprodução - 25 65 27 160% Devido ao elevado risco do projeto, optou-se por uma taxa de desconto de 25%. A equipe está dividida, pois um grupo acha que o desejável é realizar a produção simples, cuja TIR é maior; outro grupo entende que o melhor é realizar uma superprodução, tendo em vista o maior VPL. Com quem está a razão? Com aqueles que preferem a superprodução. Embora a superprodução tenha um retorno menor, este é compensado pelo maior valor que é investido, ao contrário da produção simples na qual o retorno expressivo incide sobre uma base muito reduzida. -5 -4 -3 -2 -1 0 1 0% 10% 20% 30% 40% 50% V PL Taxa TIR 25% 331/3 % Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 18 A Questão da Distribuição dos Fluxos no Tempo Esta questão é outra fonte de dificuldades com o uso da TIR, quando os projetos são mutuamente excludentes. Um exemplo ajudará a esclarecer a natureza do problema. Considere os seguintes fluxos de caixa, representativos de dois projetos, A e B, mutua- mente excludentes: Ano 0 1 2 3 VPL0% VPL10% VPL15% TIR A -10.000 10.000 1.000 1.000 2.000 669 109 16,04% B -10.000 1.000 1.000 12.000 4.000 751 - 484 12,94% Note que para taxas de desconto mais baixas, o projeto B parece superior ao projeto A, ao contrário do que ocorre às taxas mais elevadas. O perfil de VPL para os dois projetos, na próxima página, nos ajudará a enxergar melhor as dificuldades de decisão impostas, neste caso, pelo uso da TIR. Os projetos têm o mesmo VPL para a taxa de desconto de aproximadamente 10,5%. Com taxas de desconto inferiores a esta, o projeto B é melhor; para taxas superiores, melhor o projeto A. E, no entanto, o critério da TIR indica o projeto A como superior ao B. De fato, ocorre que o projeto A tem entradas de caixa mais elevadas no início, ao contrário do projeto B. Assim, maiores taxas de desconto beneficiarão o projeto A, ao permitir que as entradas de caixa iniciais (mais elevadas para A), sejam reinvestidas a essas taxas de desconto. Por outro lado, porque seus fluxos mais elevados ocorrem mais tarde, o projeto B irá se beneficiar quando as taxas de desconto forem menores. O conflito revelado pelos perfis de VPL dos projetos indica que, no caso de projetos mutuamente excludentes, é melhor utilizar-se o VPL do que a TIR. Afinal, é preferível um projeto que lhe dá um retorno de 10% é aumenta sua riqueza imediatamente, do que outro que lhe traz um retorno de 20%, mas aumenta sua riqueza de apenas $50 imediatamente. Ou seja, é melhor o projeto que lhe traz o maior aumento imediato, independente da taxa de retorno. -2.000 -1.000 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 0% 5% 10% 15% 20% 25% V PL Taxas VPLA VPLB VPL10,5% = ± 605 Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 19 Apesar dessas deficiências o método da Taxa Interna de Retorno é amplamente utilizado. Por quê? Aparentemente, é mais simples e mais intuitivo falar de um projeto em termos de sua TIR do que de seu VPL a uma certa taxa de desconto. Por outro lado, a utilização do VPL exige que se defina uma taxa para descontar o fluxo de caixa e essa tarefa pode ser penosa e implicar em grande responsabilidade. O cálculo da TIR não depende dessa definição a priori (embora ela possa ser necessária para fins de comparação) e pode facilitar a decisão. Afinal, mesmo quando o administrador financeiro tem dificuldades de determinar a taxa correta de desconto, sempre pode calcular a TIR de um projeto e utilizar sua intuição para decidir se essa TIR é suficientemente boa ou não. Finalmente, sempre é possível utilizar-se a Taxa Interna de Retorno Modificada. Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM) A TIRM procura trabalhar realisticamente com a TIR. A partir de um diagrama de fluxo de caixa, com entradas e saídas de caixa, o cálculo da TIRM é feito da seguinte maneira: 1. determina-se o valor futuro das entradas, capitalizando-as segundo uma taxa de reaplicação já identificada como possível; 2. determina-se o valor presente das saídas, se houver mais de uma, descontando-as à taxa identificada de captação; 3. os procedimentos em 1 e 2 transformarão o fluxo de caixa original em um fluxo com uma saída e uma entrada de caixa. Para este fluxo, não há dificuldades em calcular-se a taxa interna de retorno que, nesse caso, tem o nome de Taxa Interna de Retorno Modificada. A TIRM constitui-se em uma alternativa interessante, especialmente porque elimina dois problemas já mencionados: o da taxa de reinvestimento e o das taxas múltiplas. Esse último porque o fluxo original é transformado em um fluxo clássico, que só permite uma solução para a TIR. Valor Presente Líquido Anualizado (VPLA) Não raro as empresas defrontam-se com oportunidades de investimento mutuamente excludentes e vidas úteis diferentes. Será que a aplicação do modelo de fluxo de caixa descontado é suficiente para a decisão? Exemplo A Academia de Tênis GK precisa escolher entre duas máquinas lançadoras de bolas de tênis. A máquina I custa menos que a máquina II, mas tem vida útil menor. As saídas de caixa das duas máquinas são as seguintes: A máquina I custa $500, dura três anos e gera despesas de manutenção de $120 ao final de cada ano. A máquina II custa $600, dura quatro anos e acarreta despesas de manutenção de $100 por ano. As receitas anuais com as duas máquinas são iguais e a taxa de desconto relevante para a empresa é 10%. Nessa situação, calculamos o VPL dos custos e escolhemos a máquina que gera o menor custo, a máquina I: Máquina 0 1 2 3 4 I 500 120 120 120 II 600 100 100 100 100 Período Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 20 A decisão, nesse caso, lança mão de uma perspectiva ingênua porque máquina II tem uma vida útil mais longa e talvez por isso seu custo anual seja mais baixo. Como ajustar os diferentes custos às vidas úteis diferentes? Uma abordagem possível é a de considerar tantos reinvestimentos em cada uma das máquinas que a vida útil desses novos “mega projetos” sejam as mesmas. No caso do exemplo, isso seria realizado supondo-se a realização repetida do projeto I por quatro períodos subsequentes, totalizando 12 períodos, e do projeto II por três períodos, também totalizando 12 períodos. Assim, teríamos dois “mega projetos” de mesma vida útil e compararíamos, simplesmente, o VPL de seus custos, escolhendo o de menor VPL. Alternativamente, o seguinte tratamento é equivalente: 1. Determine o valor da anuidade que seja equivalente ao VPL dos custos de cada máquina, respeitada a sua vida útil. Esse é o Valor Presente Líquido Anualizado (VPLA) de cada máquina; 2. Compare os VPLA’s. A máquina de menor VPLA, nesse caso, será a escolhida. O VPLA indica o dispêndio anual que a empresa suportaria na repetição indefinida desse ciclo de reposição. Por essa razão, a simples comparação dos valores é suficiente para decisão. No exemplo, a aplicação do método resulta em escolher a máquina II, contrariando a percepção original: Embora fundamentais, os critérios de decisão discutidos dependem fundamentalmente de duas variáveis: os fluxos de caixa projetados e a taxa de desconto a ser utilizada, ou a taxa de juros a ser usada como referência, no caso da TIR. Os próximos dois capítulos cuidarão exatamente de explorar, com mais profundidade, essas duas dimensões do processo de avaliação. Máquina 0 1 2 3 4 VPL (10%) I 500 120 120 120 798,42 II 600 100 100 100 100 916,99 Período Máquina 0 1 2 3 4 VPL (10%) VPLA (10%) I 500 120 120 120 798,42 321,06 II 600 100100 100 100 916,99 289,28 Período Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 21 Exercícios 1. A Nova Products tem um período de payback máximo aceitável de cinco anos. A empresa está considerando a compra de uma nova máquina e deve escolher uma dentre duas alternativas. A primeira máquina exige um investimento inicial de $14.000 e gera entradas de caixa, após o imposto de renda, de $3.000/ano em cada um dos próximos sete anos. A segunda máquina exige um investimento inicial de $21.000 e propicia entradas de caixa anuais, após o imposto, de $4.000 por um período de vinte anos. a. Calcule o período de payback para cada máquina. b. Qual das máquinas a empresa deveria aceitar? Por quê? c. Sua resposta se alteraria se fosse empregado o payback descontado, a 10%? 2. Utilizando uma taxa de custo de capital de 14%, calcule o valor presente líquido para cada um dos projetos independentes listados no quadro seguinte e diga quais deles são aceitáveis ou não. Projeto A Projeto B Projeto C Projeto D Projeto E Investimento Inicial $26.000 $500.000 $170.000 $950.000 $80.000 Ano Entradas de Caixa 1 $4.000 $100.000 $20.000 $230.000 $0 2 4.000 120.000 19.000 230.000 0 3 4.000 140.000 18.000 230.000 0 4 4.000 160.000 17.000 230.000 20.000 5 4.000 180.000 16.000 230.000 30.000 6 4.000 200.000 15.000 230.000 0 7 4.000 14.000 230.000 50.000 8 4.000 13.000 230.000 60.000 9 4.000 12.000 70.000 10 4.000 11.000 3. A Hook Industries está considerando a substituição de uma de suas velhas máquinas de perfurar. Três alternativas de substituição estão sendo estudadas. Os fluxos de caixa relevantes associados a cada uma delas são apresentados no quadro a seguir. O custo de capital da empresa é de 15%. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 22 Máquina A Máquina B Máquina C Investimento inicial $85.000 $60.000 $130.000 Ano Entradas de Caixa 1 $18.000 $12.000 $50.000 2 18.000 14.000 30.000 3 18.000 16.000 20.000 4 18.000 18.000 20.000 5 18.000 20.000 20.000 6 18.000 25.000 30.000 7 18.000 - 40.000 8 18.000 - 50.000 a. Calcule o valor presente, liquido (VPL) para cada máquina. b. Utilizando o VPL, avalie a aceitabilidade de cada máquina. c. Faça a classificação das máquinas, da melhor para a pior alternativa, utilizando o VPL. 4. Calcule a taxa interna de retorno os seguintes projetos e indique para cada um deles o custo de capital máximo que a empresa poderia ter. Projeto A Projeto B Projeto C Projeto D Investimento Inicial $90.000 $490.000 $20.000 $240.000 Ano Entradas de caixa 1 $20.000 $150.000 $7.500 $120.000 2 25.000 150.000 7.500 100.000 3 30.000 150.000 7.500 80.000 4 35.000 150.000 7.500 60.000 5 40.000 - 7.500 - 5. A Thomas Company está considerando dois projetos mutuamente excludentes. Ela tem um custo de capital de 12% e estimou os fluxos de caixa de acordo com o quadro seguinte: Projeto A Projeto B Investimento inicial $130.000 $85.000 Ano Entradas de caixa 1 $25.000 $40.000 2 35.000 35.000 3 45.000 30.000 4 50.000 10.000 5 55.000 5.000 a. Calcule o VPL de cada projeto e avalie a sua aceitabilidade. b. Calcule a TIR de cada projeto e avalie a sua aceitabilidade. c. Trace o perfil, do VPL para cada projeto em um mesmo gráfico. d. Avalie e discuta as classificações dos dois projetos com base no que foi encontrado em a, b e c. 6. A Portland Products está considerando a implantação de um dentre três projetos mutuamente excludentes para aumentar sua eficiência de produção. A empresa planeja Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 23 usar um custo de capital de 14% para avaliar esses projetos que têm riscos iguais. O investimento inicial e as entradas de caixa anuais durante a vida de cada projeto são resumidos a seguir: Projeto X Projeto Y Projeto Z Investimento Inicial $78.000 $52.000 $66.000 Ano Entradas de caixa 1 $17.000 $28.000 $15.000 2 25.000 38.000 15.000 3 33.000 - 15.000 4 41.000 - 15.000 5 - - 15.000 6 - - 15.000 7 - - 15.000 8 - - 15.000 a. Calcule o VPL para cada projeto durante sua vida. Classifique os projetos em ordem decrescente, com base no VPL. b. Utilize a abordagem do Valor Presente Líquido Anualizado (VPLA) para avaliar e classificar os projetos em ordem decrescente, com base no VPLA. c. Compare e contraste suas respostas em a e b. Qual projeto você recomendaria para a empresa implementar? Por quê? Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 24 O QUE DESCONTAR — DETERMINAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA Embora o processo de decisão financeira apoie-se, necessariamente, nos demonstrativos financeiros, deles lança mão tendo clareza que obedecem a objetivos contábeis, distintos dos financeiros. Uma diferença fundamental encontra-se na forma em que tratam as operações nas empresas. Para a Contabilidade, a apuração do Lucro culmina o processo de mensuração; para Finanças, a matéria-prima é o fluxo de caixa. Enquanto a Contabilidade registra as operações quando ocorrem — regime de competência —, Finanças só registra as entradas e saídas de caixa a que dão origem — regime de caixa. Dessa forma, uma empresa que compre $500 de mercadorias à vista e as revenda a prazo por $1.000, registraria o resultado dessa operação na área contábil e na área financeira de diferentes maneiras, refletindo as filosofias que orientam esses profissionais: Como se vê, a mesma operação pode ser vista, ao mesmo tempo, como um sucesso e um fracasso. Na análise de investimento interessa confrontar os benefícios gerados pelo projeto com os seus custos. Dessa forma, o importante são as entradas e saídas de caixa que determinam os recursos líquidos com os quais a empresa pode contar, e não lucros contábeis não necessariamente disponíveis para empresa saldar seus compromissos. E isso só pode ser alcançado com o uso de fluxos de caixa, por registrarem as entradas e saídas efetivas de caixa. Neste sentido, interessam apenas os fluxos de caixa após o imposto de renda, uma vez que os impostos significam, certamente, uma saída de caixa. Ainda assim, os fluxos só podem ser registrados quando ocorrerem. Por exemplo, os impostos serão considerados quando pagos e não na ocorrência do fato gerador. O objetivo de realizar-se um projeto de investimento é o de alterar, de forma positiva, os fluxos de caixa atuais e futuros da empresa. Um projeto de investimento, então, deve ser apreciado considerando toda e qualquer alteração do fluxo de caixa que sua realização acarreta à empresa, os fluxos de caixa incrementais. Para evitar a dificuldade de determinar os fluxos de caixa da empresa com e sem o projeto, um processo que pode ser bastante trabalhoso na prática especialmente em grandes empresas, cada projeto deve ser encarado como se fosse uma miniempresa. Dessa maneira, os fluxos de caixa incrementais são apurados a partir das receitas e custos a que o projeto dá origem, ou seja, a partir de uma Demonstração de Resultados estimada do projeto, isolando- os de quaisquer outras atividades da empresa. Direitos Obrigações Direitos Obrigações 1.000 500 1.000 500 Resultado 500 Resultado -500 Visão Contábil Visão Financeira Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 25 Na determinação dos fluxos de caixa incrementais é necessário ter alguns cuidados: Custos irrecuperáveis Um custo irrecuperável, ou custo afundado, é um custo já incorrido e tem que ser pago (ou já foi pago) independente de se realizar ou não um projeto. Por essa razão, não pode ser incluído na apuração do fluxo incremental. Exemplo 1 Em 1971, a Lockheed solicitou uma garantia federal para um empréstimo bancário com o objetivo de continuaro desenvolvimento do TriStar, um avião destinado a competir com o 747 da Boeing e o DC-10, na ocasião da McDonnell Douglas e hoje também da Boeing. A empresa argumentava que seria loucura abandonar um projeto no qual já havia investido US$1 bilhão. O argumento, contudo, era falacioso: o gasto realizado é como leite derramado, não mais interessa. Exemplo 2 Uma pesquisa de mercado realizada com o objetivo de determinar se há mercado para um certo produto representa um custo irrecuperável, que não poderá ser incluído no fluxo de caixa incremental do produto. Embora a decisão de desenvolver ou não o produto possa depender do resultado da pesquisa de mercado, o contrário não é verdadeiro. Custo de Oportunidade Sem dúvida, são as entradas e saídas de caixa que interessam e porque estamos acostumados a compreender custos como desembolso de caixa, negligenciamos as situações em que é preciso estar atento aos custos de oportunidade. Considere o caso de uma empresa que pretende expandir suas instalações utilizando um imóvel de sua propriedade para este fim. Podemos concluir que, porque o imóvel é da empresa, não acarreta qualquer desembolso de aluguel ou de aquisição e, portanto, não onera os fluxos de caixa incrementais? Certamente não! A razão para isto é que o imóvel pode ser utilizado alternativamente pela empresa, seja alugando-o ou, mesmo, vendendo-o. Em consequência, ao utilizar o imóvel no projeto de expansão, a empresa terá sacrificado um benefício que poderia obter caso utilizasse esse ativo em sua melhor alternativa. A esse benefício sacrificado chamamos custo de oportunidade e, em função da utilização desse ativo no projeto, deve ser considerado no fluxo de caixa incremental. Efeitos Colaterais Os fluxos de caixa incrementais reconhecem todas as alterações que a realização do projeto acarreta para os fluxos de caixa da empresa. Assim, se o projeto gera externalidades, positivas ou negativas, para as atividades da empresa, essas devem ser incorporadas aos fluxos de caixa do projeto. Exemplo 1 Quando a Ford cogitou lançar o Ka no Brasil, levou em consideração o fato de que algumas vendas ocorreriam às custas do seu modelo Fiesta, destinado a uma faixa de mercado semelhante. Em consequên- cia, ajustou para baixo os fluxos de caixa do projeto, de modo a refletir essa canibalização. Exemplo 2 Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 26 Um ramal de uma ferrovia pode ser um projeto rejeitável, isoladamente, mas valioso no contexto de toda a ferrovia, ao contribuir para aumentar o tráfego da linha principal. Capital de Giro Líquido O Capital de Giro Líquido (CGL), ou Capital Circulante Líquido (CCL), é a diferença entre os Ativos Circulantes e o Passivo Circulante, e seu nível depende do porte e do nível de atividade da empresa. Tendo em vista que um projeto de investimento visa, em última análise, ampliar essas duas dimensões da empresa, de forma geral impacta o volume de caixa, de contas a receber, de estoques, de contas a pagar etc., que fazem parte do CGL, obrigando a um investimento da empresa no Capital de Giro Líquido. Ao final do projeto, de outro lado, a menor exigência de CGL libera recursos da empresa para outras aplicações. Em ambos os casos, o investimento e o desinvestimento em CGL originados pelo projeto de investimento têm que ser contemplados na apuração do seu fluxo de caixa. Custos Indiretos Só devem ser considerados os custos indiretos incrementais ao projeto. O overhead da empresa — salários do pessoal de escritório, luz etc. —, frequentemente são diluídas como custo de produção, incorretamente. As despesas dessa natureza que existiam antes continuarão a existir com ou sem o projeto e não podem ser a ele atribuídas. Custos de Financiamento A análise de um projeto de investimento tem o seu foco concentrado no fluxo de caixa gerado pelos ativos do projeto, sem preocupações sobre a maneira como ele será financiado. Em função dessa separação entre a decisão de investimento e a decisão de financiamento, normalmente não são incluídos nos fluxos de caixa os desembolsos com juros decorrentes dos recursos eventualmente contratados para o projeto. A análise é feita como se o projeto fosse integralmente financiado com capitais próprios. Depreciação Como foi mencionado no início do capítulo, há uma diferença entre fluxo contábil e o fluxo de caixa, fruto do tratamento distinto das operações da empresa segundo o regime de competência ou o regime de caixa. Neste último, só se reconhecem despesas e receitas que dão origem a saídas e entradas de caixa, com a exceção, já vista, da apropriação do custo de oportunidade. Possivelmente, a mais importante rubrica que diferencia o fluxo contábil do fluxo de caixa é a depreciação. Considerada pela Contabilidade como despesa, reduz o lucro tributável e o lucro disponível para o acionista. Dessa maneira, o lucro contábil subestima a geração de caixa do projeto — dentro da ótica da miniempresa —, uma vez que deduz uma despesa que não dá origem a um desembolso. Por essa razão, para determinar o fluxo de caixa a partir da Demonstração de Resultados projetada, é necessário somar-se de volta ao Lucro Líquido a despesa de depreciação: FC = LLíquido + Depreciação (Depr) LLíquido = (LAJIR – Juros)(1 – TC), onde TC = alíquota do IR da pessoa jurídica. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 27 Como a decisão de financiamento do projeto não é considerada em sua análise, os Juros não são incluídos na Demonstração de Resultados. Portanto, LLíquido = LAJIR (1 – TC) LAJIR = Vendas – Custos Variáveis – Custos Fixos – Depr LLíquido = (Vendas – Custos Variáveis – Custos Fixos – Depr)(1 – TC) FC = (Vendas – Custos Variáveis – Custos Fixos – Depr)(1 – TC) + Depr FC = (Vendas – Custos Variáveis – Custos Fixos)(1 – TC) + TC.Depr Esta última é uma forma alternativa de apresentar o fluxo de caixa relevante, destacando o benefício fiscal da depreciação em seu último termo Inflação A inflação distorce os fluxos de caixa no tempo, ao alterar seu poder de compra. A aplicação de $1.000 em um CDB que paga 8% de juros, resultará em $1.080 ao final de um período. Se durante este período ocorrer uma inflação de 5%, o poder de compra desse valor se reduzirá a 1.080/1,05 = $1.029. Nesse caso, a remuneração real da aplicação terá se reduzido a 1.029/1.000 2,9%! O valor de $1.080 e a remuneração de 8% são, portanto, ilusões. Quando se analisa um projeto de investimento na presença de inflação, os valores nominais — $1.080 e 8% — devem ser traduzidos em seus valores reais correspondentes — $1.029 e 2,9% — para evitar que se cometa um erro na decisão final. As taxas de juros nominais e reais obedecem à seguinte relação, conhecida como equação de Fisher: (1 + i) = (1 + r)(1 + θ), onde i = taxa de juros nominal, em termos decimais r = taxa de juros real, em termos decimais θ = taxa de inflação, em termos decimais. Em termos do exemplo apresentado, a taxa de juros real pode ser diretamente obtida usando-se a relação apresentada: A equação de Fisher é muito útil porque permite, a partir do conhecimento de duas das variáveis, calcular a terceira. E na utilização dos fluxos de caixa para a decisão de investimento, há que ter consistência entre o que está sendo descontado e a taxa de desconto utilizada. 2,9%r 0,051 0,081 r1 θ1 i1 r1 = + + =+ + + =+ Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 28 Os fluxos nominais devem ser descontados à taxa nominal. Os fluxos reais devem ser descontados à taxa real. Investimento Inicial e Fluxo de Caixa Residual Um dos fluxos mais importantes na decisão de investimento é a saída de caixa relevante no momento zero, que viabiliza o projeto ao longo do tempo. O esquema apresentado a seguir resume os principais elementos a serem considerados paraa determinação do Investimento Inicial, no caso de ativos físicos. Custo do ativo novo Investimento Depreciável + Custo da instalação - Receita com a venda do ativo velho Resultado da venda do ativo velho ± IR sobre a receita com a venda do ativo velho ± Investimento no Capital Circulante Líquido Investimento Inicial O esquema, que procura esgotar as diferentes operações de investimento em ativo físico (aquisição de equipamento, substituição de equipamento etc.) permite calcular com facilidade o investimento inicial. Duas observações são importantes: • O valor do equipamento depreciável inclui o custo da instalação, quando houver. • O IR sobre a receita com a venda do ativo velho, no caso de substituição de equipamento, incide sobre o ganho de capital (preço de venda > preço de compra) e sobre a recupera- ção da depreciação (preço de compra ≥ preço de venda ≥ valor contábil). Em certas condições, pode significar um benefício fiscal no caso de perda ( preço de venda ≤ valor contábil). Igualmente importante é o fluxo de caixa residual de um projeto, o fluxo de caixa resultante da liquidação de um investimento no final de sua vida útil. A semelhança do investimento inicial, também é possível construir um esquema que facilite determinar o fluxo de caixa residual. Receita com a venda do ativo novo Resultado da venda do ativo novo ± IR sobre a receita com a venda do ativo novo - Receita com a venda do ativo velho Resultado da venda do ativo velho ± IR sobre a receita com a venda do ativo velho ± Investimento no Capital Circulante Líquido Fluxo de caixa residual Também aqui o esquema procura ser bem geral, podendo ser utilizado para a liquidação de um projeto envolvendo a aquisição de um equipamento, ou um projeto envolvendo sua substituição. Note que a expressão “ativo novo” diz respeito ao ativo que substituiu um outro existente, o “ativo velho”. Note ainda que se o ativo antes em operação não tivesse sido substituído, teria sido alienado na maturidade do projeto. Assim, o fluxo de caixa incremental considera o Resultado da venda do ativo novo e dele subtrai o Resultado que Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 29 seria obtido com a venda do ativo velho, caso ele não tivesse sido substituído. Este é o ganho incremental. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 30 Exemplo Uma máquina hoje em operação foi comprada há dois anos por $40.000 e está sendo depreciada linearmente por um período de cinco anos. Ela pode ser vendida hoje por $42.000. Uma nova máquina, depreciável linearmente por três anos, pode ser adquirida por $140.000, mais $10.000 de custos de instalação. Se a nova máquina for adquirida, espera-se que o investimento em duplicatas a receber aumente em $10.000, o investimento em estoques cresça em $25.000 e as duplicatas a pagar cresçam em $15.000. Espera-se que os lucros antes da depreciação e do imposto de renda sejam de $70.000 para cada um dos próximos três anos com a máquina existente, e de $120.000 no primeiro ano e $130.000 no segundo e terceiro anos com a nova máquina. Ao final dos três anos, o valor de mercado da máquina existente seria zero, mas a máquina nova poderia ser vendida por $35.000 antes dos impostos. Tanto os ganhos normais quanto os ganhos de capital são taxados a alíquota de 40%. Determine os fluxos de caixa incrementais do projeto de substituição da máquina antiga. Investimento Inicial Após dois anos, o valor contábil da máquina existente será igual ao custo de aquisição, deduzida a depreciação acumulada, ou seja, Valor contábil = 40.000(1 – 2/5) = 24.000 A venda desse equipamento se faria ao preço de $42.000. O imposto, neste caso, envolveria ganho de capital e recuperação da depreciação: Fato Gerador Valor Imposto Ganho de Capital 42.000 – 40.000 = 2.000 0,4 x 2.000 = 800 Recuperação da depreciação 40.000 – 24.000 = 16.000 0,4 x 16.000 = 6.400 Imposto Total 800 + 6.400 = 7.200 Dessa forma, o investimento inicial seria, Custo do novo ativo 140.000 + Custo da instalação 10.000 - Receita com a venda do ativo velho (42.000) + IR sobre a receita com a venda do ativo velho 7.200 + Investimento no Capital Circulante Líquido 20.000 + Duplicatas a receber 10.000 + Estoques 25.000 - Duplicatas a pagar 15.000 Investimento Inicial 135.200 Depreciação Máquina nova = (140.000 + 10.000) 3 = 50.000/ ano Máquina velha = 40.000 5 = 8.000 Fluxo de Caixa Residual Receita com a venda do novo ativo 35.000 ± IR sobre a receita com a venda do novo ativo - 0,4 x 35.000 = 14.000 - Receita com a venda do ativo velho - ± IR sobre a receita com a venda do ativo velho - ± Investimento no Capital Circulante Líquido 20.000 Fluxo de caixa residual 41.000 Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 31 Em resumo, eis os fluxos de caixa incrementais deste projeto: Ano Investimento Inicial Fluxos Operacionais Incrementais Fluxo Residual Fluxos Incrementais 0 (135.200) (135.200) 1 46.800 46.800 2 52.800 52.800 3 52.800 41.000 93.800 Lucro Líquido Lucro Líquido Fluxo de Lucro antes antes após caixa da depreciação dos impostos Impostos os impostos operacional e dos impostos Depreciação (1) - (2) 0,4 x (3) (3) - (4) (5) + (2) Ano (1) (2) (3) (4) (5) (1) Máquina Nova 1 120.000 50.000 70.000 28.000 42.000 92.000 2 130.000 50.000 80.000 32.000 48.000 98.000 3 130.000 50.000 80.000 32.000 48.000 98.000 Máquina Velha 1 70.000 8.000 62.000 24.800 37.200 45.200 2 70.000 8.000 62.000 24.800 37.200 45.200 3 70.000 8.000 62.000 24.800 37.200 45.200 Fluxo operacional incremental 1 46.800 2 52.800 3 52.800 Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 32 Exercícios 1. A ACC está estudando a substituição de uma máquina. A máquina velha foi adquirida há três anos por $10.000. A empresa deprecia a máquina pelo método de depreciação linear durante um período de cinco anos. A máquina nova custa $14.000. Suponha que a empresa tenha uma alíquota de imposto de renda de 40% sobre o lucro normal e alíquota de 30% para ganhos de capital. Calcule para cada um dos casos a seguir o investimento inicial da substituição. a. A ACC vende a máquina velha por $11.000. b. A ACC vende a máquina velha por $7.000. c. A ACC vende a máquina velha por $4.200. d. A ACC vende a máquina velha por $3.000. e. A ACC paga $2.000 para que a máquina velha seja retirada, pois ninguém a quer. 2. Uma empresa está considerando a reforma de seu equipamento para atender à crescente demanda por seus produtos. O custo para as modificações no equipamento será de $1,9 milhões, mais $100.000 de instalação. A empresa depreciará linearmente as modificações no equipamento por um período de cinco anos. As receitas de vendas adicionais proporcionadas pela reforma estão projetadas em $1,2 milhão por ano, e as despesas operacionais adicionais e outros custos (excluindo a depreciação), no montante de 40% das vendas adicionais. A empresa tem uma alíquota de imposto de renda de 40%. a. Quais serão os lucros incrementais antes da depreciação e impostos gerados pela reforma? b. Quais serão os lucros incrementais após os impostos gerados pela reforma? c. Quais serão as entradas de caixa operacionais incrementais geradas pela reforma? 3. A Looner Industries está atualmente analisando a compra de uma nova máquina que custa $160.000 e exige $20.000 para instalação. A compra dela irá resultar em um aumento no capital circulante líquido de $30.000, para atender à expansão do nível das operações. A empresa planeja depreciar o ativo durante um período de cinco anos, pelo método linear e espera vender a máquina por um valor líquido de $10.000, antes dos impostos, no final de sua vida útil. A empresa está sujeita a uma alíquota de imposto de renda de 40%. a.Calcule o fluxo de caixa residual para uma vida útil de (1) três anos, (2) cinco anos e (3) sete anos. b. Discuta os efeitos da vida útil nos fluxo de caixa residuais, utilizando os valores calculados em a. c. Supondo uma vida útil de cinco anos, calcule os fluxos de caixa residuais, se a máquina fosse vendida por (1) $9.000 ou (2) $170.000 líquidos (antes dos impostos) ao final dos cinco anos. d. Discuta o efeito do preço de venda nos fluxos de caixa residual, utilizando os valores encontrados em c. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 33 4. A Wells Printing está considerando a compra de uma nova máquina impressora. O custo total do equipamento instalado seria de $2,2 milhões. Esse desembolso seria parcial- mente coberto pela venda de uma impressora existente. A impressora velha tem um valor contábil de zero, custou $1 milhão dez anos atrás, e pode ser vendida hoje por $1,2 milhão antes do imposto de renda. Espera-se que a nova máquina impressora gere em cada um dos próximos cinco anos um aumento nas vendas no valor de $1,6 milhão; porém, o custo dos produtos (excluindo a depreciação) representará 50% das vendas. O novo equipamento não afetará a necessidade de capital circulante líquido da empresa. A nova impressora será depreciada linearmente, com valor residual nulo ao final de sua vida e a empresa está sujeita a uma alíquota de imposto de renda de 40%, tanto para seus ganhos normais quanto para seus ganhos de capital. O custo de capital da Wells é de 11%. a. Calcule o investimento inicial exigido pela nova máquina impressora. b. Calcule as entradas de caixa operacionais relacionadas com a nova impressora. c. Calcule o período de payback. d. Calcule o VPL e a TIR, relacionados com a nova impressora proposta. e. Faça uma recomendação de aceitar ou rejeitar a nova máquina impressora e justifique sua resposta. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 34 COMO DESCONTAR — DETERMINAÇÃO DO CUSTO DE CAPITAL A aplicação do método do fluxo de caixa descontado depende de duas variáveis básicas: os fluxos de caixa relevantes e a taxa de desconto. Os condicionantes do fluxo de caixa foram tratados no capítulo anterior. Falta, portanto, cuidar da determinação da taxa de desconto. Antes de entrar propriamente na discussão de qual seria a taxa de desconto correta, faremos uma breve digressão sobre risco. Risco Uma aplicação em caderneta de poupança rende 0,5% a.m.. Você ficaria satisfeito se lhe fosse prometido o mesmo retorno caso investisse seu dinheiro em ações das Indústrias Votorantim? Certamente que não, a menos que seja um aficionado do bungee jumping (aquela brincadeira de pular de um ponto elevado, preso apenas por um elástico); afinal, o ganho na primeira aplicação costuma ser mais garantido que na segunda e você, provavelmente, só fará o investimento nas ações se a sua expectativa de retorno for mais elevada que 0,5% a.m.. Os indivíduos costumam se comportar dessa maneira: só correm mais risco se o retorno esperado for maior. E risco, nesse contexto, tem a ver com a variabilidade dos retornos possíveis. A origem do risco em um projeto de investimento está na projeção dos fluxos de caixa dele decorrentes, normalmente realizada com maior chance de erro quanto mais larga a maturidade da decisão. Também as decisões de investimento corporativo não fogem a regra dos indivíduos e quanto maior o risco de um projeto, maior tem que ser o retorno esperado para compensá-lo, o que costuma ser feito através da taxa de desconto: maior o risco, maior a taxa de desconto utilizada. A escolha da taxa, seguindo esse princípio, tanto pode se apoiar na experiência de quem decide, quanto pode utilizar algoritmos mais ou menos sofisticados que relacionam risco e taxas de retorno exigidas. Entre esses últimos, destaca-se por sua disseminação, o CAPM (Capital Asset Pricing Model)3, um modelo que, de um lado, mede o risco associado ao retorno dos diferentes ativos e, de outro, determina a rentabilidade que ele precisa gerar compatível com esse risco. O modelo parte do suposto que a variabilidade dos retornos de um ativo isolado, ou seja, seu risco, é fruto de uma parcela atribuível apenas ao ativo — o risco diversificável — e outra relacionada às variáveis econômicas que afetam o mercado no qual esse ativo é negociado — o risco sistemático. Risco Total = Risco Diversificável + Risco Sistemático Exemplo 3 Sharpe, William F., “Capital Asset Prices: A Theory of Market Equilibrium Under Conditions of Risk”, Journal of Finance 19 (September, 1964), pp. 425-442. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 35 Os retornos das ações da Petrobrás, nos últimos dois anos, variaram tanto em consequência dos vazamentos de óleo ocorridos, quanto devido à crise cambial que afetou a economia brasileira. A primeira variável diz respeito apenas à empresa e contribui para o risco diversificável de seus papéis; a segunda está relacionada ao ambiente econômico no qual os ativos da empresa são negociados, mas seus efeitos transcenderam à Petrobrás. De fato, impactaram todas as empresas que atuam nesse mercado — a economia brasileira — ainda que com diferentes pesos. Estabelecer a diferença entre esses riscos é importante porque o risco diversificável de um ativo pode ser eliminado (diversificado) se as pessoas substituírem a aplicação nesse ativo isoladamente pela aplicação em uma carteira de ativos que o contenha. E quanto maior a parcela de risco diversificável contida na variabilidade dos retornos do ativo, mais risco poderá ser eliminado pela aplicação em carteiras, processo a que chamamos de diversificação. Exemplo Retomando o exemplo anterior, admita um investidor que tenha todos os seus recursos aplicados em ações da Petrobrás e suponha que a rentabilidade desses papéis tenha flutuado com os episódios mencionados de tal maneira que tenha alcançado –25% em seu pior desempenho, e 32% em seu melhor desempenho no período. Assim também teria flutuado a rentabilidade da riqueza desse investidor, toda ela aplicada na Petrobras. Para evitar essa variabilidade, o investidor poderia vender parte de suas ações da Petrobras e comprar ações da, por exemplo, Springer. O retorno das ações da Springer não é afetado pelo que acontece à Petrobras. Dessa forma, tendo agora uma carteira com ações da Petrobras e da Springer, o que acontecesse de negativo com os retornos da Petrobras afetaria menos o retorno da carteira, pela presença nela de ações de uma outra empresa sem qualquer relação com a Petrobras. O modelo conclui que a combinação adequada de ativos em uma carteira, reduz o risco total dos ativos na carteira à sua parcela de risco sistemático, que reflete a sensibilidade dos retornos desse ativo às flutuações do retorno da carteira de mercado, uma carteira formada com todos os ativos de risco da economia. O CAPM faz mais: estabelece uma medida para esse risco sistemático, conhecida como beta e, finalmente, propõe uma relação entre o risco sistemático e a taxa de retorno exigida, conhecida como linha de mercado de títulos, que tem a seguinte expressão: ki = kf + βi(kM - kf) onde, ki = taxa de retorno exigida. kf = taxa de retorno do ativo sem risco. kM = taxa de retorno da carteira de mercado. βi = o beta do ativo, indica o risco sistemático desse ativo. Quanto maior o beta, maior o risco indicado. A diferença (kM - kf) é conhecida como prêmio de mercado, a parcela βi(kM - kf) indica a remuneração necessária para compensar o risco incorrido com a aquisição do ativo, e a expressão pode ser interpretada da seguinte maneira: O retorno exigido em qualquer aplicação tem que ser pelo menos igual ao obtido em um ativo sem risco, acrescido de uma compensação pelo risco específico da aplicação. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof.Roberto Moreno 36 Na prática, o uso do CAPM esbarra em dificuldades de mensuração. Não é simples estimar o valor correto de kf, kM e o beta do ativo e as técnicas utilizadas apoiam-se em informações históricas, o que compromete, adicionalmente, os resultados obtidos. De fato, não há garantia de que esses resultados permanecerão válidos no futuro. Passemos agora à discussão de um instrumento fundamental para a decisão de investimento — o Custo Médio Ponderado de Capital. Custo Médio Ponderado de Capital (km) O conceito de “capital”, especialmente no âmbito da análise de investimento, refere-se às fontes de recursos de longo prazo utilizadas no financiamento da empresa e composta pelo Exigível de Longo Prazo e também pelos recursos próprios, uma vez que não são exigíveis. Entende-se por Custo de Capital a taxa de retorno que a empresa precisa obter sobre seus ativos, de modo a manter o seu valor de mercado. Pode ser compreendido, também, como sendo a taxa de retorno que os investidores na empresa — credores e acionistas — exigem para financiar a empresa. No Balanço de uma empresa, o valor de mercado dos ativos, o valor que seria obtido se ela vendesse esses ativos pelo melhor preço é, por definição, igual ao valor de mercado do seu financiamento, o valor de resgate de sua dívida acrescido do valor obtido com a venda de suas ações, A = D + S. Ativo Passivo Valor dos Ativos (A) Valor da Dívida (D) Valor das Ações (S) Uma empresa pode ser vista como uma combinação de carteiras, e a carteira representativa do Passivo é composta pelo financiamento via dívida e pelo financiamento via ações. Se você fosse o único investidor nessa empresa, dono tanto da dívida, quanto das ações, qual seria o retorno desse seu investimento na empresa? Como acontece com qualquer carteira, seria a média ponderada de seus ganhos em dívida e em ações, os pesos sendo iguais à participação de cada investimento na carteira total: Exemplo Uma empresa tem ativos no valor de $100, financiados com uma dívida de $40 e $60 de ações. Os credores (você!) recebem um retorno de 8% e os acionistas (você, de novo!) recebem um retorno de 15%. Qual é o seu retorno como único investidor nessa empresa? Ativo Passivo Ativos 100 Dívida 40 Ações 60 SD S k SD D kk SDm + + + = Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 37 De acordo com o que vimos, seu retorno seria de Qual é o custo de financiamento para esta empresa? Os mesmos 12,2%, pois o que é retorno para quem financia (investidor), é custo para quem é financiado. Esse é custo médio ponderado de capital da empresa. Mais interessante ainda, o retorno obtido com os ativos — o retorno operacional — é exatamente igual a 12,2%! Para compreender isto, note que a taxa de retorno a ser paga aos credores está fixada em contrato. Os acionistas, de seu lado, recebem o retorno residual. Se a empresa só conseguisse obter 10% de retorno operacional e contratou a dívida com a taxa de 8%, o retorno dos acionistas seria Portanto, o custo médio ponderado de capital é igual ao retorno obtido com os recursos aplicados nos ativos da empresa. Se você estivesse diante de uma oportunidade de investimento, com risco exatamente igual ao das aplicações nos ativos da empresa, qual seria a taxa de desconto mais adequada a ser utilizada para a sua decisão de investimento? Diante do exposto, exatamente o custo médio ponderado de capital, e é por essa razão que ele é visto como o custo de oportunidade para as decisões de investimento de mesmo risco que aquelas da empresa, desde que o financiamento do projeto se faça da mesma maneira que o financiamento da empresa. Embora o conceito de custo médio ponderado seja intuitivo, seu cálculo exige que se obtenha o custo de cada uma das fontes de financiamento da empresa. Custo da Dívida O custo do capital de terceiros é o custo hoje de se levantar recursos através de títulos de dívida e tem que considerar todos os encargos relacionados. Por exemplo, é muito comum a cobrança de uma taxa de abertura de crédito pelas instituições financeiras quando realizam empréstimos. Um título de dívida particularmente importante é a debênture, papel emitido com um valor nominal, pagamento periódico de juros (cupom) e resgate do valor nominal na maturidade. As empresas emitem esses títulos e os vendem no mercado através de intermediários financeiros, em um processo de leilão semelhante à venda de ações. Além dos juros periódicos, calculados sobre o valor nominal, e da despesa de colocação cobrada pelos bancos, o custo da captação via debêntures é influenciado pelo preço pelo qual os papéis são vendidos no leilão: a venda com deságio, ou seja, se os debenturistas pagam por eles preço inferior ao valor nominal, aumenta o custo da empresa; a venda com ágio, caso em que os papéis são colocados por preço superior ao valor nominal, reduz o custo da empresa; a venda ao par, quando vendidos pelo valor nominal, restringe o custo aos juros periódicos e às despesas de colocação. 12,2% 100 60 x 15 100 40 x 8km =+= % 3 111k 100 60 x k 100 40 x 810% SS =+= Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 38 Uma vez identificadas todas as variáveis envolvidas, calcula-se a TIR do fluxo de caixa do empréstimo. Finalmente, é preciso considerar que a legislação brasileira permite a dedução das despesas de juros no cálculo do imposto de renda. Essa característica equivale ao governo dividir com a empresa o pagamento dos juros da dívida contratada e reduz o seu custo efetivo pela alíquota do imposto aplicável. Em vista disso, o custo efetivo será igual a: kD = TIR (1 – TC) Exemplo 1 Duchas, uma empresa que atua no setor de equipamentos contra incêndio, pretende levantar $1 milhão no banco e, conversando com seu gerente, foi informada de que o empréstimo poderia ser liquidado em quatro parcelas iguais e semestrais de $270 mil cada. Além disso, havia a cobrança, a título de comissão de crédito, de 1% do valor do empréstimo, pagos antecipadamente. A empresa está sujeita a uma alíquota de imposto de renda de 28%. Qual seria o custo desses recursos? Devido à comissão de crédito, a empresa só recebe $990 mil do empréstimo contratado. O fluxo de caixa, então, é o seguinte: Período Fluxo 0 (990.000) 1 270.000 2 270.000 3 270.000 4 270.000 A TIR é 3,57% ao semestre e o custo efetivo kD = 3,57 x (1 – 0,28) = 2,57% ao semestre e 5,21% ao ano. Exemplo 2 Duchas está examinando também a venda de $10 milhões em títulos de dívida de 20 anos, a um cupom de 14% anuais, tendo esses papéis um valor nominal de $1.000. Todas as informações indicam que esses títulos seriam vendidos com deságio de 2%. Os custos de colocação são de 2,5% do valor nominal. Se a empresa está na faixa de 28% de imposto de renda, qual o custo efetivo desses recursos? A empresa receberá, liquidamente, o valor nominal, descontado o deságio e os custos de colocação por cada título: Deságio = 1.000 x 0,02 = 20 Custos de Colocação = 1.000 x 0,025 = 25 Recebimento líquido = 1.000 – 20 – 25 = 955 A cada ano, a empresa pagará juros de 0,14 x 1.000 = 140. No último ano, além do cupom de juros, terá que resgatar o título pelo seu valor nominal, ou seja, desembolsará 140 +1.000. Eis o fluxo de caixa: Período Fluxo 0 955 1 - 19 (140) 20 (1.140) A TIR é 14,71% ao ano e o custo efetivo kD = 14,71 x (1 – 0,28) = 10,59% ao ano. Análise de Projetos de Investimento e Avaliação de Empresas Prof. Roberto Moreno 39 Custo da Emissão de Novas Ações Não custa repetir que o retorno recebido pelo acionista é pago pela empresa, ou seja, constitui um custo para a empresa. Existem três fontes possíveis de financiamento via o Patrimônio Líquido — as ações preferenciais, as ações ordinárias e os lucros retidos — cada uma delas tem um custo para a empresa. Para calcular este custo, pense sobre
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