Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS MICROIRRIGAÇÃO GOTEJAMENTO E MICROASPERSÃO JOSÉ ANTÔNIO FRIZZONE – ESALQ/USP/LEB PIRACICABA – SP JANEIRO-2012 SUMÁRIO Pág. CAPÍTULO 1 SISTEMAS DE MICROIRRIGAÇÃO E SEUS COMPONENTES 1.1 INTODUÇÃO 1 1.2 BENEFÍCIOS E LIMITAÇÕES 3 1.2.1 BENEFÍCIOS 4 1.2.2 LIMITAÇÕES 12 1.3 CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS, ECONÔMICAS E AMBIENTAIS 15 1.4 COMPOSIÇÃO DO SISTEMA 18 1.4.1 ESQUEMA DE INSTALAÇÃO DO SISTEMA NO CAMPO 19 1.4.2 DISPONIBILIDADE DE ÁGUA PARA O SISTEMA 22 1.4.3 DISPONIBILIDADE DE ENERGIA PARA O SISTEMA 24 1.4.4 ESTAÇÃO DE CONTROLE 24 1.4.5 SISTEMA DE FILTRAGEM 28 1.4.6 INJETORES DE PRODUTOS QUÍMICOS 30 1.4.7 VÁLVULAS DE CONTROLE E MEDIÇÃO 32 1.4.8 CONTROLADORES ELETRÔNICOS DE IRRIGAÇÃO 37 1.4.9 TUBULAÇÕES 38 1.4.10 EMISSORES 41 1.4.11 CONJUNTO MOTOBOMBA 43 1.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45 CAPÍTULO 2 SELEÇÃO DE EMISSORES E SEUS ESPAÇAMENTOS 2.1 EMISSORES PARA MICROIRRIGAÇÃO 47 2.2 FATORES INTERVENIENTES NA SELEÇÃO DE EMISSORES 54 2.2.1 QUALIDADE DESEJÁVEL DOS EMISSORES 55 2.2.2 USO DE EMISSORES REGULADOS 55 2.3 HIDRÁULICA DOS EMISSORES 56 2.3.1 HIDRÁULICA DE EMISSORES DOS TIPOS ORIFÍCIO E REGULADOS 56 2.3.2 HIDRÁULICA DE MICROTUBOS 63 2.3.3 PERDA DE CARGA LOCALIZADA EM EMISSORES NA LINHA LATERAL 67 2.4 VARIAÇÃO DE VAZÃO DOS EMISSORES 68 2.4.1 COEFICIENTE DE VARIAÇÃO DE FABRICAÇÃO 69 2.4.2 SENSIBILIDADE À TEMPERATURA 73 2.4.3 SENSIBILIDADE À OBSTRUÇÃO 74 2.5 PORCENTAGEM DE ÁREA MOLHADA 76 2.5.1 ÁREA MOLHADA 76 2.5.2 CONSIDERAÇÃO SOBRE OS EMISSORES E A CULTURA 78 2.5.3 IRRIGAÇÃO POR ÁRVORE 80 2.5.4 IRRIGAÇÃO PARA FORMAR FAIXA MOLHADA CONTÍNUA 87 2.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 90 CAPÍTULO 3 DESEMPENHO DA MICROIRRIGAÇÃO 3.1 INTRODUÇÃO 94 3.2 USO DE ÁGUA - TERMINOLOGIA 96 3.3 PARTIÇÃO DA ÁGUA APLICADA POR IRRIGAÇÃO 98 3.3.1 QUANTO À POSSIBILIDADE DE RECUPERAÇÃO 98 3.3.2 QUANTO AOS BENEFÍCIOS AGRONÔMICOS 99 3.4 NECESSIDADE DE ÁGUA DAS CULTURAS 101 3.5 NECESSIDADE DE IRRIGAÇÃO DAS CULTURAS 102 3.6 MEDIDAS DE DESEMPENHO DA IRRIGAÇÃO 102 3.6.1 INDICADORES DE EFICIÊNCIA 103 3.6.2 GRAU DE ADEQUAÇÃO 113 3.6.3 INDICADORES DE UNIFORMIDADE 113 3.6.4 RELAÇÃO ENTRE UNIFORMIDADE DE DISTRIBUIÇÃO E PERCOLAÇÃO 118 3.6.5 RELAÇÃO ENTRE GRAU DE ADEQUAÇÃO E EFICIÊNCIA DE DISTRIBUIÇÃO 119 3.6.6 FATORES QUE AFETAM O DESEMPENHO DOS SISTEMAS DE MICROIRRIGAÇÃO 121 3.7 INDICADORES DE PRODUTIVIDADE DA ÁGUA 125 3.7.1 PRODUTIVIDADE DA ÁGUA - CONCEITOS 126 3.7.2 FATORES QUE AFETAM A PRODUTIVIDADE DA ÁGUA 131 3.7.3 TÉCNICAS PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE DA ÁGUA 135 3.7.4 PERSPECTIVAS FUTURAS 138 3.8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 139 CAPÍTULO 4 NECESSIDADE DE IRRIGAÇÃO 4.1 QUANTIDADE DE IRRIGAÇÃO NECESSÁRIA 144 4.1.1 IRRIGAÇÃO REAL NECESSÁRIA - IRN 144 4.1.2 MÁXIMA IRRIGAÇÃO REAL NECESSÁRIA 146 4.1.3 IRRIGAÇÃO TOTAL NECESSÁRIA - ITN 150 4.2 EVAPOTRANSPIRAÇÃO - ET 156 4.2.1 EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA - ETo 158 4.2.2 ESTIMATIVA DE ETo POR MÉTODOS INDIRETOS 160 4.2.3 EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE CULTURA 170 4.3 FATORES QUE AFETAM A EVAPOTRANSPIRAÇÃO 189 4.3.1 FATORES CLIMÁTICOS 189 4.3.2 FATORES EDÁFICOS 191 4.3.3 FATORES BIOLÓGICOS 191 4.3.4 FATORES FITOTÉCNICOS 193 4.3.5 FATORES GEOGRÁFICOS 194 4.4 MANEJO DA IRRIGAÇÃO 195 4.4.1 MÉTODOS PARA MONITORAMENTO DA IRRIGAÇÃO 198 4.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 201 CAPÍTULO 5 FUNDAMENTOS PARA PROJETO DO SISTEMA 5.1 FUNDAMENTOS HIDRÁULICOS 207 5.1.1 VAZÃO OU DESCARGA 208 5.1.2 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE 208 5.1.3 EQUAÇÃO DA ENERGIA 209 5.1.4 PERDA DE CARGA NAS TUBULAÇÕES 215 5.1.5 ENERGIA NECESSÁRIA PARA O BOMBEAMENTO 234 5.2 CRITÉRIOS GERAIS PARA PROJETO 240 5.2.1 OBJETIVOS DO PROJETO 240 5.2.2 CONCEPÇÃO DO PROJETO 241 5.2.3 CONSIDERAÇÃO SOBRE OS EMISSORES E A CULTURA 244 5.2.4 O PROCESSO DE PROJETO 247 5.3 ESQUEMAS DE INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO 249 5.3.1 ESQUEMAS BÁSICOS 249 5.3.2 DIMENSÕES DAS SUBUNIDADES 253 5.4 REFERÊNCIAS BIBLLIOGRÁFICAS 255 CAPÍTULO 6 CRITÉRIOS PARA PROJETO DO SISTEMA 6.1 VARIAÇÕES DE VAZÃO E DE PRESSÃO 259 6.1.1 LIMITES PARA PROJETO 259 6.1.2 RELAÇÃO ENTRE VARIAÇÃO DE VAZÃO E COEFICIENTE DE VARIAÇÃO DE VAZÃO 261 6.1.3 RELAÇÃO ENTRE COEFICIENTE DE VARIAÇÃO DE VAZÃO E RAZÃO DE EMISSÃO 262 6.1.4 RELAÇÃO ENTRE VARIAÇÃO DE VAZÃO E RAZÃO DE EMISSÃO 262 6.2 UNIFORMIDADE DE EMISSÃO 263 6.2.1 UNIFORMIDADE DE EMISSÃO POR EFEITOS HIDRÁULICOS 263 6.2.2 UNIFORMIDADE DE EMISSÃO POR EFEITOS DE FABRICAÇÃO DOS EMISSORES 264 6.2.3 UNIFORMIDADE DE EMISSÃO POR EFEITOS COMBINADOS 265 6.2.4 EFEITOS COMBINADOS 270 6.3 ESTRATÉGIAS PARA PROJETO DO SISTEMA 272 6.3.1 TEMPO DIÁRIO DE IRRIGAÇÃO 272 6.3.2 CAPACIDADE DO SISTEMA 274 6.3.3 VARIAÇÃO PERMITIDA DE CARGA DE PRESSÃO NA SUBUNIDADE 275 6.4 DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS DE PROJETO 279 6.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 290 CAPÍTULO 7 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO DE SISTEMAS DE MICROIRRIGAÇÃO 7.1 LINHAS LATERAIS DE MICROIRRIGAÇÃO 292 7.2 HIDRÁULICA DAS LINHAS LATERAIS 294 7.2.1 PERDA DE CARGA TOTAL NA LATERAL 294 7.2.2 DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO NA LATERAL 295 7.2.3 PERDA DE CARGA MÉDIA NA LATERAL 297 7.2.4 PERFIS DE PRESSÃO AO LONGO DA LATERAL 298 7.3 COMPRIMENTO MÁXIMO DA LINHA LATERAL: APROXIMAÇÃO HIDRÁULICA 305 7.3.1 PERFIL DO TIPO I 305 7.3.2 PERFIL DO TIPO II (a) 307 7.3.3 PERFIL DO TIPO II (b) 308 7.3.4 PERFIL DO TIPO II (c) 309 7.3.5 PERFIL DO TIPO II (d) 309 7.4 COMPRIMENTO MÁXIMO DA LINHA LATERAL: APROXIMAÇÃO ESTATÍSTICA 311 7.4.1 APLICAÇÃO DO TEOREMA DE TAYLOR PARA FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS 311 7.4.2 ESTIMATIVA DA VAZÃO MÉDIA DOS EMISSORES AO LONGO DA LATERAL 312 7.4.3 ESTIMATIVA DA VARIÂNCIA DA VAZÃO DOS EMISSORES AO LONGO DA LATERAL 312 7.4.4 COEFICIENTE DE VARIAÇÃO DE VAZÃO DOS EMISSORES AO LONGO DA LATERAL 312 7.4.5 VARIÂNCIA DA CARGA DE PRESSÃO DOS EMISSORES AO LONGO DA LATERAL 313 7.5 DIMENSIONAMENTO DE LINHAS DE DERIVAÇÃO 315 7.6 DIMENSIONAMENTO DE LINHAS SECUNDÁRIAS E PRINCIPAL 324 7.7 SISTEMAS DE FILTRAÇÃO DE ÁGUA PARA MICROIRRIGAÇÃO 331 7.7.1 SEPARADORES CENTRÍFUGOS - HIDROCICLONES 333 7.7.2 FILTROS DE AREIA 335 7.7.3 FILTROS DE TELA E DISCOS 339 7.7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 343 CAPÍTULO 8 FERTIRRIGAÇÃO 8.1 INTRODUÇÃO 347 8.1.1 CONCEITOS 347 8.1.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES 347 8.1.3 ADAPTABILIDADE AOS DIFERENTES SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO 350 8.2 FERTILIZANTES UTILIZADOS EM FERTIRRIGAÇÃO 351 8.2.1 CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS 352 8.2.2 FERTILIZANTES UTILIZÁVEIS EM FERTIRRIGAÇÃO 353 8.2.3 FORMA DOS FERTILIZANTES 357 8.3 EQUIPAMENTOS PARA FERTIRRIGAÇÃO 357 8.3.1 BOMBAS DOSIFICADORAS 358 8.3.2 INJETOR VENTURI 359 8.3.3 TANQUES DE DERIVAÇÃO DE FLUXO 362 8.4 APLICAÇÕES A SISTEMAS DE MICROIRRIGAÇÃO 366 8.4.1 VARIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DA SOLUÇÃO FERTILIZANTE NO TANQUE DE DERIVAÇÃO DE FLUXO 366 8.4.2 CÁCULO DA QUANTIDADE DE FERTILIZANTE A SER COLOCADA NO TANQUE 367 8.4.3 NÚMERO DE TANQUES DE SOLUÇÃO FERTILIZANTE 370 8.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 370 CAPÍTULO 1 SISTEMAS DE MICROIRRIGAÇÃO E SEUS COMPONENTES 1.1 INTRODUÇÃO O termo microirrigação é um substituto do termo em inglês trickle por este não poder ser traduzido diretamente para outros idiomas como francês, espanhol e português. Em muitos países existe a preferência pelo uso do termo irrigação localizada, por enfatizar que somente uma fração do volume de solo é molhada, porém todos os termos alternativos possuem suas próprias limitações. A microirrigação caracteriza-se por aplicar água: (i) com baixa vazão; (ii) por tempo relativamente grande; (iii) com alta frequência; (iv) próximo ou dentro da zona radicular; (v) via sistemas de baixa pressão; (v) acima ou abaixo do níveldo solo, bem como utilizar a água como veículo de fertilizantes e outros produtos químicos. Essas características mantêm alto grau de umidade num pequeno volume de solo, onde geralmente está contido o sistema radicular das plantas. Mais comumente a água é aplicada na forma de gotas, na superfície ou na subsuperfície do solo (gotejamento), aspergida (microaspersão/difusão) ou em fluxo contínuo (bubbler), utilizando-se emissores instalados ao longo de uma tubulação paralela à linha de plantas. Na Figura 1.1 são mostrados os sistemas de gotejamento e microaspersão operando em cultivos perenes. Nos anos 60 o desenvolvimento do sistema de irrigação por gotejamento foi um marco na história da ciência e tecnologia da engenharia de irrigação. As tentativas iniciais se caracterizaram por muitas dificuldades técnicas e operacionais, no entanto, ao longo dos anos a maior parte dos problemas foi resolvida e muitos aspectos foram dominados e sofreram evolução, principalmente nas áreas de filtração , tratamento de água e tecnologia de emissores. Os sistemas de microirrigação são geralmente definidos pelo dispositivo de emissão de água. Esses dispositivos variam desde simples orifícios em tubos plásticos de paredes finas, emissores de fluxo laminar de longo percurso, microtubos e microaspersores até os mais elaborados e mais eficientes emissores de fluxo turbulento, compensadores de pressão 2 e autodrenantes. Alguns dispositivos de emissão são fabricados como parte integrante dos tubos de polietileno, enquanto outros são inseridos durante a instalação do sistema. Devido à flexibilidade do método de microirrigação este oferece grande potencial para irrigação de precisão, com elevado nível de manejo. Pode adaptar-se a diversas condições de cultivo, clima, topografia e solos, permitindo a expansão da produção vegetal em áreas irrigadas com restrições de solo (solos arenosos com altas taxas de infiltração ou solos argilosos com baixas taxas de infiltração) e de água (qualidade e disponibilidade), onde não poderiam ser usados outros métodos de irrigação. Este método possui poucas restrições de uso na maioria das culturas agrícolas, embora seja mais apropriado para culturas de alto valor econômico, como em horticultura e fruticultura, em plantas ornamentais, cultivos perenes e cultivos em ambiente protegido. (A) (B) Figura 1.1 – Cultivos agrícolas utilizando a microirrigação – microaspersão (A), gotejamento com linha simples (B). Em alguns casos, pode ser economicamente viável a utilização em cultivos de cereais, algodão e cana-de-açúcar. No entanto, os requisitos para projeto e manejo em áreas úmidas podem ser diferentes daqueles para zonas áridas e a tecnologia e as técnicas adequadas a uma área não são apropriadas para outra. Como todos os outros métodos de irrigação, a microirrigação não é o método mais adequado para todas as culturas, situações de terreno, objetivos do usuário e condições sociais e econômicas. O uso da microirrigação vem aumentando rapidamente em todo o mundo, principalmente pela ocupação de áreas anteriormente irrigadas por sistemas de irrigação por superfície. Com o aumento da demanda produtiva, competitividade dos setores de produção, limitação de recursos hídricos e a necessidade de minimizar os impactos ambientais da irrigação a tecnologia de microirrigação irá, sem dúvida, desempenhar um papel ainda mais importante no futuro. Além de fornecer benefícios agronômicos quanto à produção agrícola e à conservação de água e energia, subsidia positivamente muitos dos desafios da agricultura 3 irrigada, possibilitando a incorporação de novas tecnologias, como o reuso de efluentes agrícolas e industriais. Qualquer sistema de irrigação deve ser compatível com as operações culturais associadas a uma determinada cultura. A adoção da microirrigação pode exigir adaptações inovadoras de várias práticas culturais e até mesmo o desenvolvimento de novos equipamentos de cultivo e colheita. Por exemplo, as linhas laterais na superfície do solo (Figura 1.2A) podem dificultar as operações tradicionais de colheita, exigindo a remoção dos tubos antes da colheita ou o desenvolvimento de uma nova colhedora ou de novas técnicas de colheita. As linhas laterais podem ser enterradas (Figura 1.2B), requerendo para tanto técnicas de cultivo mínimo e plantio direto. (A) (B) Figura 1.2 – Vistas de posicionamento das linhas laterais em relação à superfície do solo – linha superficial (A), linha enterrada (B). 1.2 BENEFÍCIOS E LIMITAÇÕES Os benefícios e as limitações da microirrigação devem ser considerados e compreendidos antes da adoção desta tecnologia para solução definitiva dos problemas da irrigação. De modo geral, as vantagens incluem conservação da água e redução dos impactos nocivos ao uso da água devido ao grande potencial para alta eficiência de aplicação e para automação, melhoria da qualidade e da produtividade das culturas e facilidade de aplicações de agroquímicos. As principais limitações da microirrigação incluem elevados custos de aquisição do sistema, potencial de entupimento dos emissores, exigência de elevado nível de manejo e manutenção. Semelhante aos demais métodos de irrigação, a microirrigação não se adapta a todos os objetivos, condições econômicas, condições de solo, de planta e clima. O seu maior potencial de uso ocorre quando a água é restrita e cara, os solos são arenosos, 4 pedregosos e com topografia irregular, as culturas são de alto valor econômico e o agricultor tem bom nível técnico. 1.2.1 BENEFÍCIOS Relatam-se na literatura vários benefícios da microirrigação frente aos demais métodos. As potencialidades e limitações de cada método dependem de fatores técnicos, econômicos e agronômicos. Alguns importantes benefícios da microirrigação são apresentados a seguir: (a) Economia de água – A finalidade dos sistemas de microirrigação são as mesmas dos demais, ou seja, devem suprir o sistema solo-planta de modo a satisfazer a demanda de água consumida pelo processo de evapotranspiração da cultura ao longo de seu ciclo de desenvolvimento. Por ser este um método de elevada eficiência de aplicação de água é particularmente recomendado para áreas com escassez de recurso hídrico ou quando a cobrança pelo uso deste recurso onera muito o processo produtivo. Quando adequadamente projetados, instalados, mantidos e manejados, os sistemas de microirrigação podem eliminar os problemas advindos do escoamento superficial e a consequente erosão do solo e atingir elevados níveis de eficiência de aplicação e uniformidade de distribuição de água e produtos químicos. Por irrigar pequenos volumes de solo, permite a redução da percolação profunda na área e das perdas por evaporação, refletindo em economia de água e produtos químicos, devido ao aumento da eficiência, reduzindo os custos de controle de pragas e doenças. Logo, é unânime a concordância de que uma das maiores vantagens da microirrigação é a economia de água. Entretanto, o fato de que as culturas utilizam menor quantidade de água no processo de transpiração não parece ser verdadeiro, por alguns motivos: (i) a irrigação com alta freqüência mantém o volume de solo próximo às raízes sempre com alto regime de umidade e, em consequência, a planta transpira numa taxa potencial; (ii) pela menor proporção molhada da superfície do solo, sua fração seca se aquece mais que a úmida, emitindo mais radiação de ondas longas, que é proporcional à quarta potência da temperatura absoluta do corpo (solo). Parte dessa radiação é captada pela copa das plantas resultando em aumento da energia disponível para a transpiração. Além disso, tem-se o efeito do aquecimento do ar que, pelo processo de microadvecção, aporta mais energia à folhagem das plantas. Resumindo, o efeito da localização da água de irrigação é reduzir as perdas por evaporação e por percolaçãoe aumentar a transpiração. O balanço global resulta na redução do conjunto evaporação-transpiração, cuja magnitude depende de muitas características do dossel vegetativo. Especialmente para as plantas arbóreas cultivadas em linha, a evaporação direta da superfície do solo é reduzida, uma vez que apenas uma fração da área 5 é irrigada. Principalmente em solos arenosos, as perdas de água por percolação profunda podem ser mais facilmente controladas. Os sistemas de microirrigação podem aumentar a sustentabilidade de uma exploração agrícola de longo prazo em razão do seu potencial para maximizar a eficiência de aplicação de água e minimizar as necessidades de aplicações químicas. A limitada disponibilidade de água na propriedade, em quantidade e qualidade, pode ser administrada de forma mais eficiente para a produção agrícola, possibilitando maior disponibilidade para os usos competitivos, ou reduzir as retiradas das fontes de água. Além disso, por serem operados em baixa pressão, estes sistemas requerem menor gasto energético para funcionamento frente aos demais. (b) Favorece o desenvolvimento e produção das plantas – O conteúdo de água na fração do volume de solo que contém o sistema radicular permanece alto, com pequenas variações, pela característica de aplicação freqüente da irrigação. Isto mantém alto o potencial total da água no solo sem reduzir o nível de aeração, evitando a ocorrência de estresse hídrico na planta. Muitos trabalhos destacam a melhoria da resposta das culturas às irrigações freqüentes e em baixas quantidades. Assumindo que não há problemas de aeração do solo, doenças de plantas e restrição do desenvolvimento do sistema radicular, o melhor manejo de irrigação é utilizar alta frequência, repondo-se a quantidade de água consumida pela cultura no processo de evapotranspiração. Howell et al. (1981) revendo um grande número de publicações sobre a resposta das culturas à irrigação por gotejamento, comparando culturas irrigadas com não irrigadas, ou com outros métodos de irrigação, observaram que as produções obtidas com gotejamento foram maiores ou iguais em todos os casos e, em apenas dois casos, a quantidade de água aplicada foi maior que por outros métodos de irrigação. Embora seja importante a revisão realizada por Howell et al (1981), a Figura 1.3 ilustra a complexidade envolvida em fazer previsões simples de economia de água (na escala de campo) e aumento do rendimento. A figura mostra os resultados de um estudo em grande escala feito pelo Centro de Pesquisa e Treinamento em Irrigação (ITRC) em escala comercial em um ambiente moderno, com excelente sistema de medição de vazão, flexibilidade na oferta de água e disponibilidade de suporte técnico. O estudo examinou a água aplicada e os rendimentos do tomate industrial em 187 campos irrigados por sulcos e 164 campos irrigados por gotejamento, com áreas típicas de 50 ha, no estado da Califórnia. Resulta da comparação entre os rendimentos e as lâminas de água aplicadas que seria arriscado supor que há, em geral, maiores benefícios imediatos quando se utiliza a irrigação por gotejamento. Embora seja difícil comparar os diferentes métodos de irrigação e práticas de manejo, existe na microirrigação grande potencial para aumentar a produtividade das culturas, uma 6 vez que ela permite, com relativa facilidade, melhor controle da água e dos nutrientes na zona radicular. Culturas irrigadas por microirrigação geralmente tem uma elevada eficiência produtiva, seja expressa como produtividade por unidade de volume de água aplicada (produtividade física da água), produtividade por unidade de quantidade de nutriente aplicado, ou produtividade por unidade de área cultivada. Práticas culturais avançadas, como o uso de plásticos para reduzir o crescimento de plantas daninhas, controlar a temperatura do solo e reduzir a evaporação no solo são facilitadas pela irrigação por gotejamento. Figura 1.3. Comparação entre rendimento e água de irrigação aplicada por sulcos e por gotejamento em tomate industrial na Califórnia (adaptado de Burt e O’Neill, 2007). (c) Reduz o risco da salinidade para as plantas – O regime de sais no solo é afetado pela freqüência de irrigação e pela forma de aplicação de água. Depois da irrigação, os sais contidos na solução do solo mais aqueles oriundos da água de irrigação encontram-se dissolvidos na solução do solo. A partir desse momento, tanto a evaporação quanto a transpiração reduzem a umidade do solo, mas não eliminam os sais dissolvidos. Em conseqüência, a concentração salina aumenta até a irrigação seguinte. Quanto maior é o intervalo entre irrigações, maior será a concentração salina na solução do solo. O efeito dos sais dissolvidos é reduzir o potencial osmótico da solução do solo e, em conseqüência, dificultar a absorção de água pelas raízes. A dificuldade de absorção é agravada quando a umidade do solo é ainda mais reduzida. A alta frequência de irrigação facilita a absorção de duas formas: por manter alta a umidade do solo e por reduzir a concentração de sais. Existem consideráveis evidências mostrando que água de alto teor salino pode ser usada em microirrigação sem reduzir significativamente a produção das culturas. A redução do risco da 7 salinidade para as plantas pode ser atribuída a: (i) diluição da solução do solo, devido à alta frequência de irrigação e ao elevado conteúdo de água na zona radicular; (ii) eliminação dos danos causados às folhas pela irrigação por aspersão com água salina; e (iii) movimento dos sais para fora da região de maior atividade das raízes. Uma vez que os sistemas de microirrigação podem aplicar água em pequenas quantidades, que correspondem quase à evapotranspiração, e alta frequência, as propriedades do solo, como condutividade hidráulica e capacidade de armazenamento de água, geralmente não oferecem restrições. Menor quantidade de nutrientes pode ser aplicada com a água de irrigação porque a eficiência de aplicação desses sistemas é alta. O alto potencial mátrico da água no solo reduz o risco da salinidade, melhora a capacidade para manejar solos salinos ou sódicos e permite a utilização de água de baixa qualidade, normalmente limitante para outros métodos de irrigação. Devido ao seu potencial para ser altamente eficiente, a microirrigação é geralmente indicada como a melhor prática de manejo para reduzir a contaminação de águas subterrâneas pela irrigação. Por outro lado deve-se atentar para o fato de que a salinização de um solo utilizando a microirrigação pode acontecer em situações onde o manejo de irrigação não é adequado, a ocorrência de chuvas é reduzida, existem camadas impermeáveis no solo e solos deficientes em drenagem. Um exemplo desta condição é a exploração agrícola em ambiente protegido onde os custos de produção envolvidos são maiores, as culturas são de alto valor agregado e por sua vez as tecnologias são mais específicas. Em contrapartida todo o ambiente é propenso a salinização por estar sujeito à adubação intensiva e, principalmente, pela ausência de precipitação. (d) Facilita a aplicação de fertilizantes e outros produtos químicos – A microirrigação oferece flexibilidade na aplicação de fertilizantes (fertirrigação) e de defensivos (quimigação) via água de irrigação. Aplicações de fertilizantes junto com a água de irrigação, em alta frequência, são benéficas a muitas culturas, além de aumentar a eficiência de uso dos fertilizantes. Várias razões são destacadas para o aumento dessa eficiência: (i) reduz a quantidade de fertilizante aplicado, porque os nutrientes são localizados diretamente na zona das raízes; (ii) possibilita aplicações mais oportunas, porque aplicações mais freqüentes facilitam o suprimento de nutrientes de acordo com as necessidades das plantas nas diferentes fases do ciclo de desenvolvimento; e (iii) melhora a distribuição dos fertilizantes,minimizando a lixiviação. Da mesma forma que os fertilizantes, podem ser aplicados outros produtos químicos como herbicidas, inseticidas e fungicidas. O manejo dos sistemas de microirrigação deve visar à aplicação de água e nutrientes simultaneamente de forma a viabilizar economicamente o investimento. Fertilizantes, defensivos agrícolas solúveis (nematicidas, inseticidas sistêmicos, herbicidas), corretivos e 8 condicionantes de solo (ácidos, hidróxidos, polímeros) podem ser eficientemente aplicados via sistemas de microirrigação. Recomenda-se o sistema de gotejamento enterrado para aplicação de produtos com características fumigantes e demais químicos que requeiram fixação rápida às partículas de solo (alguns pesticidas e fertilizantes fosfatados). Para qualquer sistema de microirrigação, a compatibilidade química dos fertilizantes aplicados simultaneamente via água de irrigação deve ser observada, pois, pode afetar negativamente o processo de fertirrigação. (e) Limita o desenvolvimento de plantas daninhas – A infestação do terreno com plantas daninhas pode ser minimizada uma vez que a microirrigação aplica água em apenas uma fração da área cultivada, decorrendo redução de custos no controle das mesmas. Positivamente cita-se o pequeno risco de disseminação de novas espécies invasoras pela água de irrigação, por se realizar a filtragem da água antes da aplicação em campo. Por outro lado, muitos herbicidas têm sua ação reduzida em condições de alta umidade do solo, como ocorre próximo dos emissores; nestas condições se devem preferir herbicidas inertes. (f) Reduz a exigência de mão-de-obra para operação – Pela possibilidade de automação, parcial ou total, dos sistemas de microirrigação, há flexibilidade de operação onde a mão-de-obra é limitada e de alto custo. A automação pode consistir desde um simples conjunto de válvulas volumétricas e hidráulicas até válvulas solenóides que ativam válvulas hidráulicas em intervalos de tempo definidos. Tecnologias mais avançadas de automação utilizam sensores de umidade, interfaces de computador, controle remoto e sistemas de acionamento cada vez mais sofisticados. Além da economia de mão-de-obra resultante da automação, pode-se conseguir maior eficiência de irrigação e outras operações agrícolas podem ser realizadas enquanto se processa a irrigação. Os custos relativos à mão- de-obra para aplicação de produtos químicos podem ser minimizados quando a aplicação desses produtos é feita via fertirrigação, embora possam ocorrer aumentos nos custos operacionais devido a necessidade de manutenções mais freqüentes e substituição de peças do sistema, por desgastes ocasionados pelos produtos aplicados. (g) Reduz o consumo de energia – A microirrigação apresenta grande potencial para redução dos custos de energia utilizada no bombeamento, uma vez que as pressões de operação e vazões bombeadas são menores frente aos demais sistemas pressurizados. A conservação de energia na microirrigação é uma conseqüência, principalmente, da pequena vazão de água bombeada. A localização do recurso hídrico, relativamente à área irrigada, tem grande influência no esquema de distribuição, manejo e custo do sistema de irrigação. Quando possível, a escolha do local de captação deve ser procedida de maneira a minimizar as distâncias de condução e distribuição da água a toda área, procurando utilizar ao máximo 9 o fluxo por gravidade. A altura de elevação da água, desde o manancial até a área irrigada, constitui um dos principais fatores envolvidos no consumo de energia para irrigação. À medida que aumenta essa altura, em relação à altura manométrica total, maior deverá ser o nível de eficiência de aplicação de água dos sistemas de irrigação, para reduzir o consumo energético. A potência absorvida pelo motor em um sistema de bombeamento para irrigação pode ser calculada pela equação (1.1). h = - (1.1) sendo: Pot - Potência absorvida pelo motor elétrico, kW; A - área irrigada, ha; ETc - evapotranspiração do cultivo, mm d-1; TR - turno de rega, dias; PI - período de irrigação, dias; NH - número de horas que o sistema funcionará por dia, h d-1; Hman - altura manométrica total, m; EA - eficiência de aplicação de água pelo sistema de irrigação, em décimos; e h - eficiência global da unidade de bombeamento, incluindo a bomba hidráulica, a unidade motora e o mecanismo de transmissão entre o motor e a bomba. O consumo de energia no bombeamento (CE, em kWh), para irrigar uma área (A), pode ser calculado pela equação (1.2), derivada da equação (1.1): h = - (1.2) Da equação (1.2) pode-se inferir que para economizar energia ao irrigar uma determinada área (A) é necessário alguma, ou várias, das seguintes alternativas: (a) reduzir a lâmina líquida de irrigação (ETc); (b) reduzir a altura manométrica, Hman; (c) aumentar a eficiência de aplicação de água, EA; (d) aumentar a eficiência de bombeamento, h . Para avaliar o efeito combinado de ETc, Hman, EA e h , Gilley e Watts (1977) utilizaram a seguinte expressão, derivada da aplicação da equação (1.2): ÷÷ ø ö çç è æ h h -= - = (1.3) sendo PEE a porcentagem de energia economizada ao se passar da condição operacional 1 para a condição operacional 2. 10 Como exemplo, considere que em uma condição operacional (1) se tem: ETc1 = 4 mm d-1, EA1 = 90 %, 1h = 0,61 e Hman1 = 60 m. Qual a porcentagem de energia economizada ao se passar da condição de operação (1) para a condição de operação (2), sabendo-se que: ETc2 = 3,2 mm d -1, EA2 = 90 %, h = 0,70 e Hman2 = 51 m? Aplicando-se a equação (1.3) para ETc2/ETc1= 0,8, EA1/EA2 = 1; 21 / hh = 0,87 e Hman2/Hman1 = 0,85, encontram-se reduções de consumo de energia da ordem de 41%. Sem redução da altura manométrica (Hman2/Hman1 = 1) pode-se economizar 32% de energia. É importante observar que grandes reduções da altura manométrica não são possíveis onde ocorrem grandes alturas de elevação. A evapotranspiração do cultivo (ETc) pode ser reduzida em sistemas de microirrigação, uma vez que a localização da água proporciona redução da área molhada e, por conseqüência, da evaporação direta do solo. Também, em microirrigação a eficiência de aplicação da água é aumentada por se reduzirem as perdas por percolação, escoamento superficial, evaporação da água no ar e deriva pelo vento e, portanto, reduz a razão ETc/EA que representa a lâmina bruta de irrigação, significando um potencial para economia de energia. A irrigação por gotejamento tem um grande potencial para economizar água mediante o aumento da eficiência de aplicação. Já na irrigação por microaspersão a evaporação da água aspergida no ar e o arraste pelo vento podem representar entre 5% e 10% do total de água aplicada e, em condições de clima mais severo, essas perdas podem ser maiores. Para evitar essas perdas os sistemas de irrigação deveriam ser desligados automaticamente quando a velocidade do vento fosse elevada. Esse tipo de automatismo já existe, mas não é comumente empregado. Os sistemas de microirrigação, com elevado nível de automação, ainda são de alto custo inicial, porém os constantes aumentos nos preços da energia podem justificar o investimento. (h) Facilita as práticas culturais – as operações de pulverização, desbaste, poda, controle de plantas daninhas e colheita são possíveis sem interrupção da irrigação. Em cultivos com maiores espaçamentos, o solo nas entrelinhas permanece seco, facilitando a movimentação de máquinas e trabalhadores. Ressalta-se a necessidade de um maior cuidado quando são realizadas essas operações na linha de plantio, principalmente em se tratando das capinas, pois as tubulações de polietileno estarão sobre a superfície do solo, geralmente encobertas pela vegetação rasteira, o que dificulta a visualização das mesmas com conseqüência de danos físicos por cortes e amassamentos. (i) Justificao uso de terras marginais na agricultura – A terra é considerada o meio para a interação entre os insumos (sementes, fertilizantes e água), tendo como resultado a 11 produção da cultura. Comparando-se com as tecnologias tradicionais de irrigação, a microirrigação possibilita maior benefício quando utilizada em terras de baixa qualidade, potencializando a exploração das mesmas. A Figura 1.4 mostra esquematicamente, como o lucro do agricultor, com um determinado sistema de irrigação, depende da qualidade da terra. Observa-se, que antes da introdução de uma tecnologia moderna de irrigação, é vantajoso irrigar terras com qualidades superiores a B utilizando sistemas de irrigação por sulcos. Com a adoção de sistemas de microirrigação, podem-se incorporar à base agrícola as terras com qualidades entre A e B. Para qualidades de terra entre B e C, a irrigação por sulcos pode ser convertida para microirrigação e, terras com qualidade maior que C, podem continuar sendo irrigadas por sulcos. Estando o valor da terra, no seu uso agrícola, diretamente relacionado à sua lucratividade, seu preço dependerá, além da sua qualidade, do tipo de sistema de irrigação utilizado. Marginal A B C Excelente Irrigação por sulcos Microirrigação Qualidade da terra Lu cr o p or h ec ta re Figura 1.4 - Influência da qualidade da terra na seleção de um sistema de irrigação (adaptado de Caswell et al. 1984). (j) Redução de impactos ambientais – Sendo adequadamente projetados e manejados, os sistemas de microirrigação têm maior potencial para reduzir os impactos ambientais, dentro e fora da área irrigada, sobre o habitat de animais selvagens e de ecossistemas aquáticos, em comparação com outros sistemas de irrigação. A utilização de pesticidas é, muitas vezes, reduzida porque a eficácia de pesticidas sistêmicos é aumentada. Em regiões de clima seco, as despesas com herbicidas são normalmente menores, porque somente uma fração da área é molhada, e assim a germinação das sementes de plantas daninhas é dificultada. Nas áreas irrigadas por microirrigação, frequentemente, há pequena infestação de ocorrência de doenças fúngicas e o uso de fungicidas é menor (Scherm e Van Bruggen, 1995). Filmes plásticos (biodegradáveis e não biodegradáveis) e outras coberturas do solo, em geral funcionam muito bem em culturas irrigadas por gotejamento para controlar ervas 12 daninha sem a utilização de herbicidas e reduzir perdas por evaporação do solo. As perdas de água e nutrientes por percolação na parcela são reduzidas em decorrência da elevada eficiência de aplicação e uniformidade de distribuição de água. A contaminação de águas subterrâneas também pode ser reduzida com o uso de microirrigação, uma vez que a percolação profunda pode ser reduzida, minimizando o carreamento de nutrientes e resíduos contaminantes ao longo do perfil do solo. Esta situação somente é possível com sistema operado com alta eficiência de aplicação e uniformidade de distribuição de água. 1.2.2 LIMITAÇÕES Mesmo com a grande quantidade de benefícios apresentados pelos sistemas de microirrigação, muitos problemas têm sido encontrados para alguns tipos de solo, qualidade de água e condições ambientais. Tem-se observado que a maioria dessas limitações e os efeitos resultantes destas são decorrência do uso inadequado dos sistemas de microirrigação em campo. A seguir são discutidas algumas das principais limitações destes sistemas. (a) Permanente necessidade de manutenção – Pelo tamanho relativamente pequeno dos orifícios, os emissores de microirrigação podem ser facilmente obstruídos por processos físicos, químicos e biológicos. A obstrução afeta negativamente a uniformidade de distribuição de água e pode anular os benefícios da microirrigação, constituindo a grande preocupação no manejo desses sistemas (Nakayama e Bucks, 1991). Em situações onde não são adotadas medidas preventivas, a obstrução dos emissores é considerada como o mais sério problema em microirrigação, podendo comprometer todo o processo produtivo, por afetar a taxa de aplicação e a uniformidade de distribuição de água, aumentando os custos de manutenção, de reposição de peças, de recuperação e com inspeções. Três alternativas têm sido apresentadas para minimizar o problema: (i) desenvolvimento de emissores menos sensíveis à obstrução; (ii) melhoria da qualidade da água utilizada na irrigação; (iii) adoção de medidas preventivas. A primeira é mais dependente da indústria, do processo de fabricação, da qualidade do produto e de testes prévios, antes da comercialização. A segunda, embora muitas vezes utilizada, dependendo da sua complexidade pode inviabilizar o uso da microirrigação por representar alto custo para o tratamento da água. Por fim, a terceira, a mais viável economicamente no campo e a mais utilizada, compreendendo a filtragem da água, tratamento químico, lavagem das linhas laterais e frequentes inspeções de campo. Outros problemas que podem ocorrer são rompimento de tubulações, falhas em acessórios e em equipamentos. Filtros e injetores químicos, controladores de tempo, reguladores de pressão, válvulas hidráulicas, volumétricas, pilotos, medidores de água, 13 chaves de comando para acionamento elétrico, sensores de fluxo, de nível ou de pressão e conjunto motobomba também estão sujeitos a defeitos e falhas durante a operação. Descuidos humanos podem ocasionar danos físicos a todo sistema, principalmente nas tubulações de polietileno localizadas na superfície do solo. Estas ainda podem sofrer a ação de roedores e outros animais, geralmente em busca de água. Nos emissores os danos são similares aos ocorridos na tubulação de polietileno, sendo relatadas ações danosas de pequenos animais (insetos, aranhas, formigas, etc.) entupindo e alargando os orifícios dos emissores. Plantas daninhas altas, teias de aranha e grandes insetos podem impedir a rotação dos microaspersores. A ação de insetos também se estende até os equipamentos de controle, onde são comuns a construção de casulos, caixas de marimbondos, abelhas e etc. Estes locais são preferidos como abrigos, por estarem geralmente livres de umidade, protegidos, aquecidos e não abertos com frequência. Kahlown e Kemper (1997) apresentam um estudo onde relatam os fatores que afetam o sucesso e as falhas de sistemas de microirrigação instalados em Balochistan (Pakistan). Foram analisados 106 sistemas instalados em diferentes épocas e locais. Destes, 76 (72%) encontravam-se abandonados e 30 (28%) estavam operando total ou parcialmente. Quatro sistemas (4,0%) foram abandonados durante primeiro ano e 42 (40%) durante o segundo e o terceiro anos após a instalação. Outros 18 sistemas (17%) foram revertidos para a irrigação por superfície durante o quarto e o quinto anos após a instalação. Outros 12 sistemas (11%) permaneceram operando durante 6 a 9 anos antes de serem abandonados. Apenas 6 sistemas permaneceram em opração por mais de 9 anos. O sucesso dos seis sistemas de microirrigação foi atribuído à qualidade dos materiais importados, a disponibilidade de componentes de reposição e acessórios para substituições, mão de obra qualificada e experiente. Os emissores, linhas laterais, motobombas, medidores de pressão e tanques de fertilizantes foram devidamente mantidos e substituídos quando necessário. Já as razões para o abandono dos sistemas foram várias, mas a pouca formação dos irrigantes para os processos de operação e manutenção do sistema foi uma das principais causas, representando 25% dos irrigantes intrevistados. Mesmo dentro do grupo dos 30 irrigantes que utilizavam com sucesso microirrigação, 43% relataram que enfrentam diversos problemas com manutenção, seja por falta de um programa específico de manutenção ou por indisponibilidade de componentes e acessórios no mercado. (b) Acumulação de sais próximo às plantas - Quando a água de irrigaçãotem alta concentração salina, o sal tende a se acumular na superfície do solo e na periferia do volume de solo molhado. A precipitação pluvial pode levar certa quantidade desses sais para dentro da zona radicular e causar estresse às plantas pela redução do potencial osmótico. Elevadas 14 concentrações de sais na superfície do solo podem se constituir em grande problema para a germinação das sementes em cultivos posteriores. Nesses casos, freqüentemente é necessária a aplicação de grande quantidade de água por aspersão antes da semeadura para mover os sais para baixo do leito de plantio. Dessa forma, a possibilidade de acumulação de sais próximo às plantas afetará o projeto e o manejo do sistema de microirrigação. Irrigações deficitárias podem elevar a salinidade no perfil do solo a níveis indesejáveis, exigindo periódicas aplicações de água em excesso para a lixiviação dos sais em profundidade. O uso de filmes plásticos para reduzir a evaporação do solo também tem sido recomendado para reduzir a salinidade na superfície do solo. A injeção de ácidos (por exemplo, sulfúrico) às vezes pode ser necessária para aumentar a solubilidade dos sais e facilitar a lixiviação. A máxima lixiviação de sais ocorrerá nas proximidades dos emissores, com a eficácia reduzida conforme aumenta a distância em relação aos emissores e, em áreas de baixa pluviosidade, pode ser necessária a aplicação periódica de uma lâmina de irrigação em área total (via aspersão), chamada de “lâmina de lixiviação”. Outra técnica de controle da salinidade é irrigar durante o período de chuvas, deslocando os sais para o exterior do volume molhado. A formação de um leito de semeadura mais elevado também tem sido utilizada para reduzir o efeito da salinidade. Nesse caso, o sistema de gotejamento é operado de forma a acumular os sais na superfície do solo. Estes sais da superfície são deslocados para o lado das fileiras das plantas de forma que o cultivo se dá nas regiões do leito de cultivo com menor salinidade. (c) Limitação do desenvolvimento do sistema radicular – A interação entre os fatores relativos ao solo (textura, velocidade de infiltração, heterogeneidade), a planta (capacidade de absorção, evapotranspiração), ao manejo da irrigação (quantidade e frequência de aplicação) e ao projeto do sistema (número de emissores por planta, localização e vazão dos emissores) afeta a distribuição da água no solo e o desenvolvimento radicular. Esta interação complexa associada ao pequeno volume de água disponível no solo, decorrente do menor volume de solo irrigado pelos sistemas de microirrigação, pode afetar negativamente o desenvolvimento e distribuição do sistema radicular da planta. O pequeno volume de solo molhado pode reduzir a área explorada pelas raízes por limitar a disponibilidade água e de nutrientes no solo tornando as plantas mais suscetíveis ao estresse hídrico e menos estáveis fisicamente. Além disso, pode aumentar a dificuldade de manter um ótimo equilíbrio do estado nutricional, porque o acesso das raízes aos nutrientes armazenados no solo adjacente não irrigado é limitado. (d) Exigência de elevado nível de manejo para operação e manutenção - Um elevado nível de manejo é necessário para operar e manter um sistema de microirrigação. Pela exigência de mão-de-obra mais qualificada os salários dos operadores do sistema devem ser 15 maiores e a mão-de-obra é, normalmente, empregada durante todo o ano, devido à necessidade de conservar as suas competências. Entretanto, um operador pode cuidar de uma área irrigada três a quatro vezes àquela irrigada por métodos convencionais, principalmente devido à automação. O nível mais elevado de manejo exige também adoção de tecnologias auxiliares com os seus custos associados, tais como calendários de irrigação, monitoramento da água do solo e frequentes análises de teores de nutrientes em solo, plantas e tecidos vegetais para programar a fertirrigação. (e) Geração de resíduos não biodegradáveis - Após o término da vida útil das linhas laterais, que em geral são feitas em polietileno, há a necessidade de troca por novas linhas. Essa rotina é muito comum em culturas rápidas como melão e morango que a cada certa quantidade de safras, retiram-se os tubogotejadores da área e os substitui por material novo. Esse procedimento ainda não dispõe de coleta específica, como no caso das embalagens de agrotóxicos, gerando grande volume de plástico na fazenda. A situação se agrava em projetos onde o tubo está instalado em subsuperfície, pois ainda é inviável economicamente seu recolhimento. 1.3 CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS, ECONÔMICAS E AMBIENTAIS Os sistemas de microirrigação são fixos, possuem grande quantidade de tubulações e acessórios e apresentam alto custo de investimento e manutenção, semelhantes aos custos para a maioria dos sistemas permanentes e mecanizados de irrigação por aspersão de alta tecnologia. Para maiores áreas irrigadas (por exemplo, maior que 10 ha), com espaçamento de plantas relativamente pequeno, o custo é comparável ao sistema permanente de aspersão, cobrindo a mesma área, embora os sistemas de filtragem e de tratamento químico representem grandes despesas que podem variar muito dependendo das condições e tamanho do sistema. Cultivos de alta densidade exigem grandes quantidades de tubulação, podendo não ser econômico o uso da microirrigação. Os custos operacionais poderão ser elevados devido à necessidade de tratamento químico, filtragem da água e mão-de-obra para as manutenções rotineiras do sistema, embora esses custos possam ser compensados, em parte, pelo menor gasto energético e economia de água. Podem também existir alguns custos significativos associados com a recuperação, substituição e remoção de fitas ou tubos gotejadores não biodegradáveis. Os custos dos sistemas de microirrigação são variáveis e podem ser calculados em função da cultura, das condições topográficas, da qualidade da água disponível, da quantidade de tubulações necessária, do sistema de filtragem, da injeção de produtos químicos, do nível de automação e da qualidade e disponibilidade da mão-de-obra. Geralmente esses sistemas são mais econômicos quando utilizados em culturas de maiores 16 espaçamentos. No Brasil, os custos iniciais desses sistemas podem variar de US$ 1000 a US$ 4000 por hectare, dependendo da cultura. Um sistema de irrigação por gotejamento, para 1 ha de hortaliças, pode ter um custo inicial até três vezes maior do que um sistema para 1 ha de citros. Dentro do custo total de um sistema de microirrigação, os tubos e conexões podem representar entre 25% e 30%, dos quais 50% podem ser atribuídos às as linhas laterais e 20% a 25% à estação de controle com automação. A manutenção pode custar anualmente até US$500 por hectare. Nakayama (1986) relata um estudo econômico no nordeste dos Estados Unidos, com a cultura do algodão irrigado por gotejamento e por sulcos, em que os custos operacionais diferiram em apenas 5%, mas os custos fixos anuais, por unidade de área, foram 2,3 vezes superiores em irrigação por gotejamento. Nessas condições, o autor afirma que a irrigação do algodoeiro por gotejamento só seria econômica se a produção aumentasse em 108% em relação à obtida com irrigação por sulcos. Há necessidade de constantes aperfeiçoamentos técnicos no projeto de emissores, sistemas de filtragem e de controle. O desenvolvimento de técnicas para prevenir ou corrigir os problemas de obstrução dos emissores e falhas de equipamentos nem sempre tem alcançado sucesso. Outras dificuldades são encontradas no desenvolvimento de métodos para injeção de fertilizantes e outros produtos químicos. Além disso, são necessários melhores programas de manejo e de manutenção e melhores projetos. Como esses sistemas operam a baixa pressão, pequenas variações na pressão dos emissores podem causar grandes variações de vazãoe, como consequência, a uniformidade de distribuição de água pode ser reduzida a níveis indesejáveis. Como regra geral, os sistemas de microirrigação são menos tolerantes ao projeto e ao manejo deficientes do que os demais métodos de irrigação. Os problemas causados por sistemas inadequadamente projetados e manejados vão desde o excesso de água e lixiviação de substâncias químicas até grandes estresses hídricos e de nutrientes, salinidade e contaminação ambiental. Distribuição pouco uniforme de água, de nutrientes e de raízes em um campo pode criar problemas específicos para a microirrigação. Os problemas com pragas e doenças podem ser diferentes daqueles que comumente ocorrem em áreas irrigadas por outros métodos (por exemplo, ácaros que são favorecidos por condições secas e por poeira). Irrigações frequentes também poderão criar condições ótimas para o desenvolvimento de algumas doenças de plantas que exigem um manejo especial (por ex., fumigações antes ou após a estação de crescimento para minimizar o desenvolvimento de inóculos). A salinização e as alterações no pH do solo podem acontecer por causa da qualidade da água ou como resultado de vários tratamentos químicos da água e de programas de fertirrigação. O pH do solo pode ter grande efeito sobre a disponibilidade de nutrientes do 17 solo para as plantas e, em alguns casos, pode causar toxicidade. Correções do solo (por exemplo, uso de gesso e calcário) devem ser realizadas antes do plantio para corrigir os problemas atuais ou prevenir os futuros, embora alguma suplementação pode-se fazer com produtos especiais através do sistema de microirrigação. Os produtores devem monitorar anualmente as características químicas do solo no volume que contém as raízes, durante a vida do sistema de irrigação. O potencial hídrico da propriedade agrícola deve ser avaliado em função da vazão, do volume total disponível e da qualidade da água. Deve-se considerar a necessidade de construção de um reservatório para suprir a vazão descontínua ou insuficiente. Para determinar a confiabilidade dos sistemas de abastecimento de água em longo prazo empregam-se critérios probabilísticos utilizando-se registros históricos. O nível de segurança a ser adotado depende do valor econômico das culturas irrigadas. Culturas de elevado valor econômico justificam um fornecimento adequado de água com menor risco de déficit. As necessidades sazonais de irrigação para muitas culturas podem variar de 100 mm a 2000 mm ou mais. Em alguns casos o sistema de distribuição de água foi projetado para atender a demanda de irrigação por superfície ou por aspersão (por exemplo, 1,0 L s-1 ha-1 com base na área total irrigada), ou para atender a distribuição de água com base em calendários com turno de rega fixo (por exemplo, a cada 7 dias) que são inadequados para os projetos de microirrigação. Em alguns períodos a demanda de água por evapotranspiração poderá ser maior com microirrigação pela manutenção de um reduzido estresse hídrico, embora, na maior parte do tempo, seja menor do que com outros métodos de irrigação, devido à reduzida taxa de perda por evaporação do solo. Na microirrigação o balanço entre água aplicada e evapotranspirada é mantido, geralmente, em períodos compreendidos entre 24 h e 72 h. A limitada capacidade dos sistemas requer cuidado especial na estimativa da necessidade de água da cultura e no controle da irrigação. Ao reduzir o volume de solo molhado e, portanto, o volume de água armazenado, deve-se operar com a freqüência necessária para manter no solo um alto grau de umidade. A uniformidade de distribuição de água depende basicamente da uniformidade de vazão dos emissores. Assim, a estratégia de dimensionamento do sistema deve focar a obtenção de uma elevada uniformidade de distribuição. Embora se possa conseguir alta uniformidade de distribuição de água por sistemas de microirrigação, nunca se pode conseguir uma irrigação perfeitamente uniforme. Como resultado, algumas parcelas do terreno serão irrigadas em excesso e outras em déficit de água. O uso de águas residuais em irrigações excessivas causará perda por percolação profunda e poderá contaminar águas subterrâneas. Perdas por percolação podem ocorrer pela superestimativa da evapotranspiração, pela baixa uniformidade de distribuição, pelo 18 excesso de irrigação devido a um inadequado calendário de irrigação ou por falta de automatização. Também podem ocorrer pela necessidade de manejar a irrigação para lixiviar sais do perfil de solo. Irrigações deficitárias resultarão em redução da produtividade e podem causar acumulação indesejável de sais no solo. Um sistema de microirrigação deve ser projetado e manejado de acordo com o tipo de solo em que será utilizado. Solos arenosos proporcionam pequena movimentação lateral de água no perfil e grande movimentação vertical, exigindo várias irrigações de pequeno volume em cada dia ou emissores do tipo microaspersores para molhar um maior volume de solo e permitir a expansão do sistema radicular. Uma inadequada programação da irrigação, devido a um projeto deficiente do sistema ou a um manejo inadequado da irrigação, pode resultar em excessiva percolação profunda e lixiviação de nutrientes. Quando a taxa de aplicação de água excede a capacidade de infiltração, o solo se torna saturado e o desenvolvimento de ervas daninha e outros problemas fitossanitários podem ser potencializados pelo aumento da área molhada, podendo ocorrer escoamento superficial em áreas com declives excessivos. A saturação do solo pode resultar no aumento das doenças de plantas e induzir distúrbios fisiológicos e nutricionais. Vantagens ambientais importantes são resultantes de sistemas de microirrigação bem projetados, mantidos e operados. Essas vantagens decorrem dos pequenos volumes de água derivados, reduzido uso de produtos químicos e reduzida contaminação de águas subterrâneas por percolação de sais e outros produtos químicos. Entretanto, aplicações inadequadas de alguns pesticidas e fumigantes podem afetar negativamente a biota benéfica do solo, incluindo minhocas, bactérias, fungos e insetos. O escoamento da água de lavagem de filtros e de linhas laterais às vezes pode constituir um problema, especialmente se o efluente contém fertilizantes ou defensivos agrícolas. 1.4 COMPOSIÇÃO DO SISTEMA Sistema de microirrigação refere-se ao conjunto dos componentes físicos necessários para aplicar água ao solo em baixo volume e alta freqüência. Este conjunto de componentes é instalado no campo seguindo uma distribuição previamente definida em projeto, baseada nas informações de topografia da área, cultura a ser explorada e suas variações, sistema de cultivo agrícola adotado, posição do ponto de captação de água e energia, dentre outros. Os componentes mais comuns dos sistemas são: fonte de água; estação de bombeamento; estação de controle podendo conter sistema de tratamento da água, sistema de filtragem, sistema de injeção de fertilizantes, válvulas hidráulicas, volumétricas, elétricas, ventosas, válvulas de alívio, hidrômetros; linha principal; linha de derivação; linhas 19 secundárias; linhas laterais e coletoras; cavaletes de subunidades ou de unidades de irrigação; emissores e outros itens. Resumidamente, em ordem seqüencial, após a estação de controle a água é conduzida pela linha principal até as linhas secundárias, estas conduzem até as linhas de derivação e destas até as laterais, onde estão contidos os emissores responsáveis pela aplicação da água. 1.4.1 ESQUEMA DE INSTALAÇÃO DO SISTEMA NO CAMPO A área a ser irrigada por sistemas de microirrigação deve ser dividida em subunidades de irrigação, abastecidas por uma rede hidráulica, a partir de uma estação de controle. A divisão da área irrigada em subunidades de irrigação traz aspectos vantajosos como: (i) permite irrigar partes da área aolongo do tempo, o que confere maior flexibilidade à irrigação, posto que nem sempre se dispõe de água suficiente para suprir todo o projeto simultaneamente; (ii) maior uniformidade de distribuição de água, uma vez que as diferenças de nível são menores dentro de cada subunidade de irrigação; (iii) permite o uso de tubos de menor diâmetro, reduzindo o custo inicial do sistema. Porém, como problemas, têm-se a conciliação de solos de mesma textura, áreas com o mesmo número de plantas e, principalmente, a dificuldade em selecionar as dimensões ótimas na divisão da área a ser irrigada em subunidades de irrigação. Para uma abordagem didática, mostra-se na Figura 1.5 um esquema geral de distribuição dos componentes de um sistema de microirrigação em campo. Os principais componentes do sistema são: ponto de captação de água; estação de bombeamento; tubulação de recalque (adutora) onde estão instaladas válvulas ventosas; reservatório de água (opcional); estação de pressurização completa (sucção e recalque); estação de controle; linha principal; cavalete com válvulas de controle de irrigação (válvulas que controlam a pressão na entrada da linha de derivação e válvulas que controlam a quantidade de água aplicada na unidade de irrigação, com base em tempo ou em volume); linha secundária; linha de derivação; linhas laterais com emissores. Subunidade ou setor de irrigação – é a superfície irrigada em que a pressão de funcionamento do sistema é controlada por uma válvula reguladora de pressão. Esta superfície é irrigada simultaneamente a partir do ponto onde se regula a pressão de entrada de água, ou seja, por uma válvula instalada no início da linha de derivação ou em um cavalete localizado na entrada da subunidade ou unidade de irrigação. No caso limite em que cada lateral tem um regulador de pressão, a subunidade de irrigação estaria formada por uma única lateral. Constitui a base de dimensionamento das linhas laterais, de derivação e coletoras (tubulações usadas no final das laterais para lavagem das mesmas – são 20 opcionais). Há casos em que não há necessidade de instalação de reguladores de pressão na entrada da linha de derivação. Na figura 1.5 são utilizadas oito subunidades de irrigação. Figura 1.5 - Esquema de instalação mostrando oito subunidades de irrigação, quatro unidades e duas unidades operacionais, de forma que operam simultaneamente quatro subunidades: (1+2+3+4) e (5+6+7+8). A LP1 conduz 100% da vazão e a LP2 50%. CC: estação de controle; LP 1: linha principal 1; LP2: linha principal 2; LD: linha de derivação; LL: linha lateral; RP: regulador de pressão; Ñ : válvula controladora de vazão ou de tempo. Em função da organização operacional do sistema esquematizado na Figura 1.5 podem ser dadas as seguintes definições: Unidade ou bloco de irrigação – é a superfície irrigada formada pelo conjunto de subunidades de irrigação operando simultaneamente a partir de um mesmo ponto, onde se controla a quantidade de água aplicada, por tempo ou por volume. Em geral se usa uma válvula hidráulica controlada por comandos elétricos, hidráulicos ou pneumáticos. Constitui a base de dimensionamento da linha secundária. Na figura 1.5 são consideradas quatro unidades de irrigação, supondo que cada uma é formada por duas subunidades. Unidade operacional de irrigação, ou estação operacional – é a superfície formada pelas unidades de irrigação que operam simultaneamente desde a mesma estação de controle. Constitui a base de dimensionamento da linha principal e adutora, dos elementos da estação de controle e do conjunto motobomba. A aplicação de água na unidade operacional de irrigação é controlada por controladores de tempo de irrigação situados na estação de controle. Muitos sistemas de irrigação são dimensionados para ter duas, três ou quatro unidades operacionais. Um sistema com duas unidades operacionais é operado com a metade dos emissores funcionando simultaneamente e a outra metade parada. Nos sistemas 21 com três unidades operacionais opera-se simultaneamente apenas 1/3 dos emissores e com quatro unidades opera-se simultaneamente 1/4 dos emissores e, durante o tempo de aplicação, 3/4 estarão parados. Diferentes níveis de automação podem ser usados para controlar os ciclos de abertura e fechamento das válvulas que controlam o tempo de aplicação ou o volume de água aplicado nas unidades operacionais. É importante salientar que o sincronismo de abertura e fechamento sequencial das unidades operacionais obedece a critérios técnicos que envolvem além do dimensionamento hidráulico o agronômico, que aborda quesitos necessários para o bom desenvolvimento da cultura como, por exemplo, o turno de rega mais adequado. Essa divisão permite manter a irrigação dentro do turno de rega requerido pela cultura e com menor necessidade de vazão instantânea, já que as unidades operacionais de irrigação operam de forma escalonada. Estação de controle – local onde são reunidos os equipamentos para filtragem da água, injetores de fertilizantes e de outros produtos químicos, controladores eletrônicos e hidráulicos, reguladores de pressão no início da linha principal, válvulas de alívio, dispositivos de medição de água e, em alguns casos, abriga uma estação de bombeamento de água (Figura 1.6). Uma situação particular quanto à localização da estação de controle é quando ela é montada fora da área irrigada e distante da estação de bombeamento, mas na maioria dos sistemas essa estrutura está localizada próximo à estação de bombeamento. Figura 1.6 – Vista de estações de controle completas. A partir da estação de controle a água é derivada para a área de irrigação e a linha de recalque passa a ser chamada de linha principal. Esta é responsável por conduzir a água de irrigação até as linhas secundárias. Nos cavaletes das subunidades de irrigação (Figura 1.7) existem as válvulas de controle do sistema, cada uma com sua finalidade. Estas válvulas podem ser manuais ou automáticas. Das linhas secundárias a água segue para as linhas de derivação e para as linhas laterais, de onde é aplicada pelos emissores. 22 Figura 1.7 – Vista dos cavaletes de unidades de irrigação. Em algumas situações não existem linhas secundárias e as linhas de derivação partem diretamente da linha principal. Em uma mesma área podem existir as diferentes configurações. As linhas secundárias, de derivação e principal podem ser compostas por diferentes diâmetros, podendo haver em uma mesma linha até três diâmetros distintos. As linhas laterais e de derivação são dimensionadas com critérios de uniformidade de irrigação e as demais com critérios econômicos. Sempre que possível as linhas laterais devem estar em nível e as linhas de derivação em declive. As linhas laterais podem ser instaladas em apenas um lado da linha de derivação ou em ambos os lados. Em algumas condições topográficas desfavoráveis e em subunidades grandes, podem ser necessárias linhas de derivação auxiliares, que são conectadas às linhas de derivação e operam paralelas a elas. As linhas principal, secundárias e de derivação podem estar dispostas sobre a superfície do terreno ou enterradas. Em terrenos planos e com linhas laterais dos dois lados de uma linha de derivação, a conexão das laterais à derivação é feita de forma que se tenha o mesmo número de emissores de cada lado. Onde a declividade é significativa, a energia de posição pode ser balanceada pelo deslocamento do ponto de conexão de forma que na parte em aclive da linha lateral opere um menor número de emissores, ou seja, menor vazão, do que na parte em declive. A mesma estratégia pode ser utilizada para a conexão da linha principal com as linhas secundárias ou de derivação. Os cavaletes com válvulas que controlam a irrigação podem estar próximos entre si e distantes das unidades. Este tipo de disposição facilita a operacionalidade do sistema,principalmente quando este é operado manualmente, uma vez que evita perda de tempo na irrigação pela necessidade de deslocamento até as válvulas. 1.4.2 DISPONIBILIDADE DE ÁGUA PARA O SISTEMA O potencial hídrico da propriedade agrícola deve ser avaliado em função da vazão, do volume total disponível e da qualidade da água. Deve-se considerar a necessidade de construção de um reservatório para suprir a vazão descontínua ou insuficiente. 23 Aspectos relativos à outorga e à concessão do uso da água devem ser observados e quando necessário deve-se buscar auxílio profissional específico para tal finalidade. Muitas informações podem ser obtidas no site www.ana.gov.br ou junto ao órgão de competência ambiental responsável pela administração dos recursos hídricos no estado. Não se deve iniciar qualquer etapa do projeto sem antes efetuar uma análise prévia da qualidade da água, avaliando principalmente os teores de ferro, bicarbonatos e matéria orgânica em suspensão, visto serem estes os principais responsáveis pela ocorrência de entupimentos e danos ao sistema. A qualidade da água define a necessidade de tratamento, a capacidade do sistema de filtragem, sua complexidade e custo. Os métodos de medidas de vazão disponíveis são os mais variados, sendo os mais comuns o vertedouro, o flutuador e o molinete. Podem-se utilizar vazões regionalizadas obtidas em seqüência de dados disponíveis no órgão regulamentador de águas da região em que se encontra a propriedade. Na configuração do sistema esquematizado na Figura 1.5 tem-se uma estação de bombeamento responsável por elevar a água do ponto de captação, geralmente um rio ou um reservatório natural, até a estação de controle ou até um reservatório artificial, escavado ou superficial (Figura 1.8). A fonte de água pode ser também um poço artesiano. A B Figura 1.8 – vista de reservatórios: escavado e revestido com geomembrana (A) e superficial construído em chapas metálicas (B). A utilização de um reservatório artificial depende das necessidades do projeto, sendo recomendado naqueles em que se exige algum tratamento especial da água de irrigação como, por exemplo, a oxidação do ferro em suspensão, através de processos de aeração (Figura 1.9) ou químicos. Pode também ser usado quando as distâncias ou elevações de recalque são muito grandes superando as especificações técnicas de bombas disponíveis comercialmente. O problema deste tipo de disposição é que os custos incidirão sobre duas estações de bombeamento, nas obras civis, peças, manutenção e consumo de energia. Portanto deve ser utilizado somente em casos de necessidade. 24 Figura 1.9 – Estrutura em cascata para aeração da água e precipitação do ferro. 1.4.3 DISPONIBILIDADE DE ENERGIA PARA O SISTEMA Primeiramente, a fonte de energia a ser utilizada deve ser avaliada e, em função do projeto, deve-se preferir a menos poluidora, como a energia elétrica. Além dos menores custos operacionais e de manutenção, em relação à energia fornecida por motores à diesel, essa fonte contrasta menos com os impactos ambientais ocasionados pela microirrigação. É importante observar a voltagem que a energia é distribuída e a qualidade da rede fornecedora, bem como a potência disponível e a potencial. Redes com voltagens acima de 220 V são preferenciais já que a maioria dos motores elétricos utilizados na irrigação é de potência maior que 12,5 CV, e estes não são fabricados em voltagens inferiores (110 V – monofásico). Esta característica confere aos motores trifásicos mais potência, maior eficiência do conjunto e menor energia residual. Atenta-se para o fato da existência de diversas opções de cobrança da energia elétrica utilizada na irrigação para produtores rurais no Brasil. A tarifação da energia elétrica é feita em função do horário do dia, da época de utilização no ano e da disponibilidade de fornecimento. Os descontos podem chegar a 80% e os horários, normalmente abrangentes, são das 6:00 às 17:00 horas e das 21:00 às 6:00 horas, e devem ser contratados junto a concessionária de energia elétrica do estado. 1.4.4 ESTAÇÃO DE CONTROLE A estação de controle é definida como o conjunto de todas as motobombas, válvulas, filtros, injetores de produtos químicos, controladores de volume e de tempo, equipamentos de monitoramento, bem como outras instalações necessárias para fornecer água em quantidade e pressão suficientes e qualidade adequada para o sistema de microirrigação. Deve estar localizado de modo a propiciar fácil acesso para realização de manutenção e 25 operação. O seu posicionamento em relação a área pode variar de um projeto para outro. A quantidade e os tipos de componentes podem variar muito de acordo com as necessidades do projeto, podendo este ser mais simples, com funcionamento manual, semi ou totalmente automatizado. A preparação do local para instalar a estação de controle deve garantir a drenagem do excesso de água de chuvas, bem como proporcionar o acesso confiável sob condições climáticas adversas. Deve ser construída uma base de concreto, nivelada, com tamanho e resistência suficientes para permitir a montagem das bombas, filtros, fixação dos controladores de fluxo e painéis de controle elétricos. Também ficam na estação de controle as válvulas, injetores de produtos químicos, medidores de fertilizantes, controladores de retrolavagem e outros equipamentos. A fundação deve ser estável permitindo que os equipamentos possam ser parafusados para reduzir as vibrações, evitar estresses estruturais e facilitar a manutenção. Blocos de ancoragem podem ser necessários para fixar as tubulações de entrada e saída. Estruturas de apoio adequadas devem ser previstas para os componentes pesados como medidores de vazão, válvulas de comando e filtros. As motobombas são instaladas sobre blocos de concreto armado, com brocas de sustentação, com parafusos para fixação na distância determinada na base do conjunto motobomba e devem seguir as recomendações de instalação do catalogo do fabricante. Devem ser previstas estruturas de drenagem e instalações de contenção de enxurradas em torno de qualquer tanque de produtos químicos para evitar contaminação de águas superficiais por derramamento. Fontes de águas subterrâneas devem ser protegidas para evitar a contaminação por produtos químicos ou por bactérias. A água proveniente da retrolavagem dos filtros que não contenha resíduos de fertilizantes ou outros produtos químicos pode ser canalizada para o curso d’água mais próximo. Caso a água seja contaminada, deve ser descartada em local determinado no projeto, podendo ser distribuída através de tubos janelados, por espalhamento sobre o solo ou encaminhamento para uma fossa que serve como sumidouro. Pode também ser reaproveitada para pulverização agrícola ou para supressão de poeiras, não devendo ser permitido a eliminação dessas águas através de sistemas de drenagem até os cursos d’água. É necessário adotar medidas para proteger a instalação de danos mecânicos acidentais causados por implementos agrícolas, veículos e tratores. O centro de controle, o reservatório de sedimentação e os tanques de produtos químicos devem ser protegidos e mantidos fora do alcance de crianças, de pessoas não autorizadas, ou de animais, evitando- se acidentes e danos físicos aos componentes da estação de controle. Para projetar uma estação de controle, algumas recomendações gerais devem ser observadas, conforme resumidas a seguir (Evans et al., 2007): 26 (a) Projetar a altura da estação de controle mais conveniente para a montagem e desmontagem, substituição, reparos e limpeza dos diferentes componentes e, ao mesmo tempo, de forma a minimizar a entrada de detritos ou outros contaminantes no local. Preferencialmente, os componentes devem ser instalados a uma altura mínima de 0,40 m acima da superfície concretada para que se possa ter espaçoadequado para o trabalho. (b) Manter distâncias adequadas entre os diversos componentes para garantir acesso e funcionalidade dos medidores e controladores e facilitar a operação, manutenção e limpeza de filtros, desmontagem e substituição de peças defeituosas. Certificar-se de que as setas indicando o sentido do fluxo em componentes como medidores de vazão e válvulas de retenção estejam corretos. (c) Assegurar que os componentes da estação de controle possam ser isolados por válvulas para trabalhos de reparação e manutenção e que existem uniões, acoplamentos ou flanges instalados para facilitar a desmontagem e reparação de componentes. (d) Selecionar materiais resistentes para todos os tubos e componentes que possam entrar em contacto com substâncias químicas concentradas, incluindo fertilizantes. Revestimentos especiais podem ser necessários para proteger os componentes hidráulicos que operam diretamente em contato com produtos químicos. (e) Os manômetros ou as tomadas de pressão devem ser instalados imediatamente a montante e a jusante de todos os principais componentes que possam modificar a pressão (por ex., reguladores de pressão, dispositivos de filtração, bomba injetora de fertilizantes, válvulas controladoras de pressão). (f) Acessórios elétricos e hidráulicos são necessários ao equipamento de injeção de fertilizantes para evitar retorno de solução química e contaminação das fontes de abastecimento de água quando a bomba principal de abastecimento não está em funcionamento. Os produtos químicos (exceto biocidas, tais como cloro) não devem ser injetados durante o processo de retrolavagem dos filtros. (g) As válvulas solenóides devem oferecer flexibilidade para operação manual ou hidráulica e possibilitar a abertura e o fechamento em até 5 segundos para evitar golpe de aríete. (h) Utilizar dispositivos de proteção e aterramento para evitar choques elétricos. (i) O conjunto motobomba deve ser protegido por relê térmico e estar localizado sob cobertura para evitar a luz solar direta com o objetivo de prolongar a vida útil dos seus componentes e reduzir o superaquecimento. 27 (j) Os equipamentos devem respeitar uma distância mínima de um metro até as paredes da casa de proteção para permitir livre caminhamento. Na medida do possível, a tubulação deve ser instalada de modo a não interceptar diretamente uma parede (a não ser a sucção), o que impediria o livre trânsito. Tratando-se especificamente do motor, o ventilador de arrefecimento deve estar a uma distância mínima da parece oposta a ele, o eixo e o acoplamento devem estar protegidos com anteparos, os parafusos e chumbadores devem ser de aço inox evitando fissuras e ferrugem. Para outros cuidados, deve-se ler e atender com rigor todas as recomendações listadas no catalogo do fabricante do equipamento. (k) Caso a estação de controle tenha dimensões que impeçam a retirada das motobombas ou outros equipamentos de grande porte por braços hidráulicos acoplados a tratores, deve ser instalada nessa estação uma talha para retirada manual dos equipamentos. (l) A Altura do piso da motobomba e do ponto de entrada da tubulação de sucção na estação de controle devem respeitar a altura máxima de sucção, evitando a cavitação, e o nível máximo de elevação da água, evitando a inundação. (m) Uma junta mecânica deve ser usada na tubulação de sucção em estações de controle que contenham motobombas abaixo do nível da água, para não permitir qualquer desalinhamento entre as partes e para não transmitir vibração à parede. Também neste caso deve ser criado um poço de sucção dentro da estação de controle contendo motobomba acionada por sensor de nível, para retirar toda água que possa entrar nessa estação e que possa danificar os componentes elétricos por inundação. (n) Todas as tubulações, com exceção da sucção, devem estar alinhadas com a estrutura de alvenaria, aprumadas e niveladas horizontalmente. Os métodos para conexão mais utilizados são (i) flange - exige alinhamento axial e longitudinal. Recomenda-se o uso de arruelas de pressão na tubulação de sucção e recalque da bomba para evitar possível entrada de ar ou vazamento de água; (ii) rosca - sistema que necessita de peças denominadas “união”, para facilitar a posterior retirada de peças conectadas; (iii) vitáulica - são acoplamentos que permitem certo desalinhamento e distanciamento e que apresentam maior facilidade de acoplamento e desacoplamento para manutenção, contudo são mais sujeitos a vazamentos. (o) O conjunto motobomba não deve sofrer tensão mecânica nos seus flanges ou roscas, pois, como sua estrutura é em ferro fundido, a chance de aparecimento de trincas torna-se grande. A instalação sempre deve começar pelo conjunto motobomba, suportado por estruturas em alvenaria ou em metal. Entre a base da motobomba e a base de concreto podem-se instalar peças em borracha para absorver a vibração. 28 (p) O conjunto motobomba e as tubulações devem ficar separados por uma parede dos controladores de irrigação e do painel de comando elétrico-eletrônico, para evitar qualquer contato acidental e que entre água nos comandos energizados. (q) Todas as tubulações auxiliares, como as que conduzem soluções fertilizantes, conduites para cabos e fios, drenos, cabos para conexão do controlador, devem ser acomodados em canaletas construídas com o fundo em alvenaria ou brita, com espaço para manutenção e cobertas com grelhas metálicas ou placas de concreto posicionadas no mesmo nível do piso. (r) As tubulações de sucção em uma estação de controle devem seguir normas de distância mínima entre si, entre elas e as paredes da casa de proteção e em relação ao fundo do reservatório. A distância recomendada entre o ponto de sucção e qualquer superfície, inclusive do nível da água é 2,5 vezes o diâmetro da sucção. Também se deve instalar um dispositivo que separa uma sucção da outra para diminuir a turbulência na água. 1.4.5 SISTEMA DE FILTRAGEM Existem três tipos básicos de filtragem: cinética, de profundidade e de superfície. Na filtragem cinética utilizam-se os separadores centrífugos, como os hidrociclones (Figura 1.10A), para separar partículas sólidas de maiores diâmetros e maior massa específica. Para a filtragem de profundidade utilizam-se os filtros de areia (Figura 1.10B), que são eficientes para reter material orgânico, areia fina e para águas ferrosas que sofreram tratamento oxidante. Para a filtragem de superfície utilizam-se filtros de tela (Figura 1.10D) com a finalidade de reter partículas inorgânicas e orgânicas indeformáveis não filamentosas. Os filtros de discos combinam a filtragem de superfície e de profundidade, possuindo o tamanho compacto dos filtros de superfície e a capacidade de bloquear a passagem de partículas dos filtros de profundidade. Existem filtros que combinam a filtragem cinética com a de superfície. Dependendo da fonte de água para a irrigação, o sistema de filtragem pode incluir um simples filtro ou combinação de filtros como: separadores centrífugos, filtros de areia, filtros de tela, filtros de discos. Os tipos de lavagem dos filtros podem ser por (i) arraste, onde somente uma torrente de água em alta velocidade passa pelo elemento filtrante e (ii) retrolavagem, onde um fluxo reverso combinado com movimentação (filtragem em profundidade) ou não (filtragem por superfície) do elemento filtrante realizam uma eficiente limpeza. Em relação aos métodos de limpeza do elemento filtrante, existem (i) ativo, quando um agente ativo, como jato de água, combinado com um diferencial de pressão fazem a limpeza do elemento, e (ii) passivo, quando somente o processo de diferencial de pressão realiza a limpeza do elemento (Figura 1.11). O filtro ideal é aquele em que, após o processo 29 de autolavagem, as condições hidráulicas de pressão antes e depois do mesmo, voltam ao valor normal do filtro limpo.
Compartilhar