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Psicologia Juridica

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Psicologia Jurídica
Aula 1
- Ementa.
Aula 2
Um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos de atuação
-Delimitar o início da Psicologia Jurídica no Brasil é uma tarefa complexa, em razão de não existir um único marco histórico que defina esse momento
-Primeiros trabalhos voluntários
-Área criminal
-Adultos criminosos e adolescentes infratores da lei 
-Psicodiagnósticos - forneciam dados e orientação aos operadores do Direito.
-Psicólogo X Testes Psicológicos
-Atualmente, o psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica, com objetivos bem definidos, para encontrar respostas para solução de problemas. 
-A testagem pode ser um passo importante do processo, mas constitui apenas um dos recursos de avaliação
-Importância dada à avaliação psicológica e a aproximação da Psicologia com o Direito
-A entrada oficial se deu em 1985, quando ocorreu o primeiro concurso público para admissão de psicólogos (SP)
-Com a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil 1990), o Juizado de Menores passou a ser denominado Juizado da -Infância e Juventude.
-O trabalho do psicólogo foi ampliado, envolvendo atividades na área pericial, acompanhamentos e aplicação das medidas de proteção ou medidas socioeducativas
Psicólogo jurídico e o direito de família
-Destaca- se a participação dos psicólogos nos processos de separação e divórcio, disputa de guarda e regulamentação de visitas.
-Separação e divórcio: os processos de separação e divórcio que envolvem a participação do psicólogo são na sua maioria litigiosos, ou seja, são processos em que as partes não conseguiram acordar em relação às questões que um processo desse cunho envolve. 
-Não são muito comuns os casos em que os cônjuges conseguem, de maneira racional, atingir o consenso para a separação. 
-Isso implica resolver o conflito que está ou que ficou nas entrelinhas, nos meandros dos relacionamentos humanos, ou seja, romper com o vínculo afetivo- emocional
* CASAL PARIENTAL: Quando pensamos no pai e mãe, ou seja, não se desfaz, mesmo se separando.
CASAL CONJUNGAL: Marido e mulher. * Relacionado ao divórcio 
Regulamentação de visitas
-O direito à visitação é uma das questões a ser definida a partir do processo de separação ou divórcio. 
-Contudo, após a decisão judicial podem surgir questões de ordem prática ou até mesmo novos conflitos que tornem necessário recorrer mais uma vez ao Judiciário, solicitando uma revisão nos dias e horários ou forma de visitação.
-Nesses casos, o psicólogo jurídico contribui por meio de avaliações com a família, objetivando esclarecer os conflitos e informar ao juiz a dinâmica presente nesta família, com sugestões de medidas que poderiam ser tomadas. 
Disputa de guarda
-Nos processos de separação ou divórcio é preciso definir qual dos ex-cônjuges deterá a guarda dos filhos. 
-Em casos mais graves, podem ocorrer disputas judiciais pela guarda.
-Nesses casos, o juiz pode solicitar uma perícia psicológica para que se avalie qual dos genitores tem melhores condições de exercer esse direito. 
-Pais que colocam os interesses e vaidade pessoal acima do sofrimento que uma disputa judicial pode acarretar aos filhos, na tentativa de atingir ou magoar o ex-companheiro, revelam-se com problemas para exercer a parentalidade de forma madura e responsável.
Adoção
-Os psicólogos participam do processo de adoção por meio de uma assessoria constante para as famílias pretendentes a adoção, tanto antes quanto depois da colocação da criança neste novo lar. 
-A equipe técnica dos Juizados da Infância e da Juventude deve saber recrutar candidatos para as crianças que precisam de uma família e ajudar os postulantes a se tornarem pais capazes de satisfazer às necessidades de um filho adotivo.
-A primeira tarefa de uma equipe de adoção é garantir que os candidatos estejam dentro dos limites das disposições legais e a segunda é iniciar um programa de trabalho com os postulantes aceitos, elaborado especialmente para assessorar, informar e avaliar os interessados, e não apenas “selecionar” os mais aptos.
-Como a adoção é um vínculo irrevogável, o estudo psicossocial torna-se primordial para garantir o cumprimento da lei, prevenindo assim a negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução.
-Além do trabalho desenvolvido junto aos Juizados da Infância e Juventude, existe também o dos psicólogos que trabalham nas Fundações de Proteção Especial. 
-Essas instituições têm como objetivo oferecer um cuidado especial capaz de minorar os efeitos do acolhimento por tempo muito prolongado, proporcionando às crianças e aos adolescentes acolhidos uma vivência que se aproxima à realidade familiar. 
-Os vínculos estabelecidos com os monitores que cuidam delas são facilitadores do vínculo posterior na adoção, uma vez que se estabelece e se mantém nos mesmos a capacidade de vincular-se afetivamente. 
-As relações substitutas provisórias, representadas pelo acolhimento institucional que abriga os que aguardam uma possibilidade de inclusão em família substituta, são decisivas para o desenlace do processo de adoção.
Destituição do poder familiar
-O poder familiar é um direito concedido a ambos os pais, sem nenhuma distinção ou preferência, para que eles determinem a assistência, criação e educação dos filhos.
- Esse direito é assistido aos genitores, ainda que separados e a guarda conferida a apenas um dos dois. Porém, a legislação brasileira prevê casos em que esse direito pode ser suspenso, ou até mesmo destituído, de forma irrevogável. 
-A partir desta determinação judicial, os pais perdem todos os direitos sobre o filho, que poderá ficar sob a tutela de uma família até a maioridade civil. O papel do psicólogo nesses casos é fundamental. 
-É preciso considerar que a decisão de separar uma criança de sua família é muito séria, pois desencadeia uma série de acontecimentos que afetarão, em maior ou menor grau, toda a sua vida futura. Independentemente da causa da remoção - doença, negligência, abandono, maus-tratos, abuso sexual, ineficiência ou morte dos pais - a transferência da responsabilidade para estranhos jamais deve ser feita sem muita reflexão 
Adolescentes autores de atos infracionais
-O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê medidas socioeducativas que comportam aspectos de natureza coercitiva. 
-São medidas punitivas no sentido de que responsabilizam socialmente os infratores, e possuem aspectos eminentemente educativos, no sentido da proteção integral, com oportunidade de acesso à formação e à informação. 
-Os psicólogos que desenvolvem seu trabalho junto aos adolescentes infratores devem lhes propiciar a superação de sua condição de exclusão, bem como a formação de valores positivos de participação na vida social. 
-Sua operacionalização deve, prioritariamente, envolver a família e a comunidade com atividades que respeitem o princípio da não discriminação e não estigmatização, evitando rótulos que marquem os adolescentes e os exponham a situações vexatórias, além de impedi-los de superar as dificuldades na inclusão social.
Psicólogo jurídico e o direito civil
-Psicólogo atua nos processos em que são requeridas indenizações em virtude de danos psíquicos e também nos casos de interdição judicial.
-Dano psíquico: o dano psíquico pode ser definido como a sequela, na esfera emocional ou psicológica, de um fato particular traumatizante. Pode-se dizer que o dano está presente quando são gerados efeitos traumáticos na organização psíquica e/ou no repertório comportamental da vítima. Cabe ao psicólogo, de posse de seu referencial teórico e instrumental técnico, avaliar a real presença desse dano
Psicólogo jurídico e o direito penal
-O psicólogo pode ser solicitado a atuar como perito para averiguação de periculosidade, das condições de discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento. 
-Portanto, destaca-se o papel dos psicólogos junto ao Sistema Penitenciário e aos Institutos Psiquiátricos Forenses.
Psicólogo jurídico e o direito do trabalho
-O psicólogo pode atuar como perito em processos trabalhistas. 
-A períciaa ser realizada nesses casos serve como uma vistoria para avaliar o nexo entre as condições de trabalho e a repercussão na saúde mental do indivíduo. 
-Na maioria das vezes, são solicitadas verificações de possíveis danos psicológicos supostamente causados por acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, casos de afastamento e aposentadoria por sofrimento psicológico. 
-Cabe ao psicólogo a elaboração de um laudo, no qual irá traduzir, com suas habilidades e conhecimento, a natureza dos processos psicológicos sob investigação 
Vitimologia
-Objetiva a avaliação do comportamento e da personalidade da vítima. 
-Cabe ao psicólogo atuante nessa área traçar o perfil e compreender as reações das vítimas perante a infração penal. 
-A intenção é averiguar se a prática do crime foi estimulada pela atitude da vítima, o que pode denotar uma cumplicidade passiva ou ativa para com o criminoso. Para tanto, a análise é feita desde a ocorrência até as consequências do crime.
-Além disso, a vitimologia dedica-se também à aplicação de medidas preventivas e à prestação de assistência às vítimas, visando, assim, à reparação de danos causados pelo delito
Psicologia do testemunho
-Os psicólogos podem ser solicitados a avaliar a veracidade dos depoimentos de testemunhas e suspeitos, de forma a colaborar com os operadores da justiça. 
-O chamado fenômeno das falsas memórias tem assumido um papel muito importante na área da Psicologia do Testemunho. 
-Hoje, sabe-se que o ser humano é capaz de armazenar e recordar informações que não ocorreram. As falsas memórias podem resultar da repetição de informações consistentes e inconsistentes no depoimento de testemunhas sobre o mesmo evento. 
Aula 3
A Constituição do Perito Psicólogo em Varas de Família.
*O perito/ perícia deve ser distinta da área de psico, é alguém da confiança do juiz, pode ser concursada ou pode se inscrever também. A perícia é ligada ao poder judiciário, ele faz a avaliação da situação/queixa. *
* Assistente técnico: O psico com a expertise na área jurídica, ele assessoria os pais, cada um pode ter o seu, mesma experiencia do perito, mas ele auxilia os pais e não o juiz. *
· A forma pela qual se dá a constituição do psicólogo na função de perito no contexto de processos de Varas de Família merece uma reflexão acurada. 
· De modo geral, ela se dá no entrecruzamento de pelo menos três ordens distintas de conflito: a primeira diz respeito à dissensão (discordância) familiar que deu origem ao processo; 
· a segunda se refere ao encontro nem sempre pacífico entre duas disciplinas distintas: a Psicologia e o Direito;
· a terceira, finalmente, é aquela que envolve a complexidade inerente ao exercício de nossa profissão como psicólogos em qualquer lugar que ele aconteça.
· A relevância de se discutir a constituição do perito psicólogo em Varas de Família e Sucessões se faz notar quando constatamos as tensões que se traduzem em uma crescente preocupação, por parte dos Conselhos Federal e Regionais de Psicologia, em promover debates e regulamentar as práticas psicológicas na instituição judiciária.
· Em suas considerações iniciais, a Resolução nº 08/2010 menciona a necessidade de o psicólogo levar em conta as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios do Código de Ética Profissional, conforme disposto no princípio fundamental VII, do Código de Ética Profissional
· O Direito, com seus códigos formais, organiza certas formas de pacificação de conflitos nas relações sociais, constituindo um gênero discursivo característico do processo judicial. 
· Não podemos desconhecer, portanto, que é nessas e por essas relações que nos constituímos como peritos e é a partir delas que construímos o nosso fazer na cena processual. Isso não significa dizer que o psicólogo deva abrir mão do instrumental teórico e metodológico próprio à sua disciplina, mas que, de alguma forma, tal instrumental é colocado forçosamente a serviço de uma ordem que o extrapola.
· A nós, psicólogos, as formas que demandas singulares adquirem no discurso jurídico podem causar certo estranhamento, parecendo muitas vezes um tanto bizarras e exageradas. Todavia, não podemos negar os efeitos retóricos desse discurso, por vezes aliciadores de nossa simpatia, por vezes causa de aversão. 
· São efeitos que fazem lembrar Foucault, em A Vida dos Homens Infames (1977), ao analisar o discurso das petições escritas que pessoas do povo dirigiam ao Rei, no Estado Absolutista, para solicitar ordens de prisão.
· A inserção do psicólogo em processos nas Varas de Família e Sucessões do Brasil obedece a certas disposições do nosso Código de Processo Civil, ou Lei nº 5869/73 (Brasil,2005). A partir delas, define-se o lugar do perito como o de um auxiliar da Justiça que, assim como o escrivão, o oficial de Justiça, o depositário, o administrador e o intérprete, tem suas atribuições determinadas pelas normas de organização judiciária (CPC, art. 139). O perito é um profissional de nível universitário, devidamente inscrito em seu Conselho de classe.
· Os juízes de Varas de Família, em geral, determinam a realização de perícia psicológica para instruir suas decisões em processos (ou ações) judiciais que envolvem a guarda e/ou visitação de “menores” – crianças e adolescentes. 
· Não são todos os processos dessa natureza, porém, que demandam a perícia psicológica, mas principalmente aqueles em que há uma demanda específica nesse sentido por parte de pelo menos um dos litigantes, ou nos quais as provas documentais e testemunhais não oferecem elementos suficientes para a formulação da sentença.
· A leitura dos autos, que são preservados segundo o princípio de segredo de Justiça,é autorizada a um determinado perito quando há neles um ofício da autoridade judicial nesse sentido. 
· Os autos configuram a cena processual e não devemos deixar de reconhecer que é essa mesma cena a que constitui os litigantes como partes, os advogados como seus representantes, e também o psicólogo como perito, permitindo a sua entrada em cena.
· A partir da leitura dos autos, podemos decidir se responderemos ou não a essa demanda e, em caso positivo, de que lugar o faremos, entre os lugares possíveis para isso.
· Decidimos ainda como, quando e onde serão os encontros que teremos com os litigantes. Escolhemos quais serão as ferramentas teóricas e técnicas que, de acordo com a nossa formação e abordagem, serão as mais potentes para que se alcancem as finalidades próprias da Psicologia, ou seja, produzir os efeitos desejáveis tanto na amenização do sofrimento presente como na prevenção de danos maiores decorrentes do conflito judicial.
· A entrevista coloca-nos em relação com uma parte do processo, seja qual for o estabelecimento ou espaço físico no qual aconteça: consultório – no caso do perito extrajudicial – ou o próprio fórum. Não é de admirar, portanto, que a pessoa se apresente a nós como a uma audiência. Ao invés da demanda que seria própria a um sujeito em busca de um atendimento psicológico, há uma demanda judicial na qual todos, inclusive o perito, estão enredados.
· Nas relações que as partes estabelecem com o perito, atualizam-se os conflitos familiares que chegaram ao ponto limite de recorrer a uma ação judicial. Lidar com a transferência significa propor uma análise dos lugares que cada um dos entrevistados atribui a si mesmo e aos demais – ex-cônjuges, filhos e outros – envolvidos na lide, assim como das expectativas e dos afetos em jogo, quanto à medida judicial pleiteada ou refutada. 
· Na medida em que procedemos às entrevistas, podemos melhor compreender a demanda de cada um dos envolvidos em relação ao Poder Judiciário e nos ressituar em relação à leitura inicial do processo.
· O laudo é a palavra do perito no jogo processual. É o momento em que ele assume a voz ativa perante todos os atores da cena jurídica. Esse momento é precedido por uma espécie de silêncio no compasso processual, que foi descrito porCaffé.
· Por seu alinhamento com a autoridade do juiz, e também por ser representativo da ciência psicológica, o discurso do perito deve ser impessoal, ou eivado de uma suposta neutralidade (vide artigo 138 do CPC). 
· Qualquer venalidade no discurso do perito é coibida nesse contexto, a ponto de advogados – e assistentes técnicos – o escarafuncharem até o limite, em busca de qualquer indício de parcialidade ou falha, seja ela teórica, técnica,ética, ou até mesmo retórica.
· Entretanto, pode-se também problematizar a real finalidade do laudo a partir do modo como ele é lido, especialmente por advogados mais interessados em ganhar suas causas do que na pacificação do litígio e na diminuição do sofrimento das pessoas neles envolvidas.
· Quando analisamos a prática da perícia psicológica no nível dos discursos que a constituem e também daqueles que ela produz, nós nos damos conta de um tensionamento que não se restringe ao lugar atribuído ao perito na gestão dos conflitos familiares pelos meios jurídicos, ou à triangulação instaurada pelo processo judicial, mas também do encontro, nem sempre pacífico, entre saberes tão distintos quanto a Psicologia e o Direito.
Aula 4
Litígios intermináveis: uma perpetuação do vínculo conjugal?
· Nos sujeitos que protagonizam litígios familiares de longa duração, observam-se alguns aspectos comuns: alto grau de agressividade, postura refratária às intervenções, discurso baseado na lógica adversarial. E, frequentemente, esses sujeitos têm como objeto do pedido judicial, o filho. Ocorre que, no desenrolar do processo, emerge a conjugalidade conflituosa para a qual não há respostas no referencial normativo. 
· Dias e Souza (2000) realçam que cada parte luta para comprovar a sua versão, atribuindo ao outro a culpa pelo fim do relacionamento, e busca a sua absolvição, esperando que o juiz proclame sua inocência.
· No campo da psicologia, pesquisadores se debruçam sobre o problema, motivados pelo incremento da psicologia jurídica nas duas últimas décadas. Ramos e Shine (1999) pontuam que cada genitor está obstinado com a ideia de ganhar do outro a ‘posse' do filho.
· Psicodinâmica da conjugalidade
· Ao estudar o funcionamento familiar, Eiguer (1985) afirma que o encontro amoroso entre duas pessoas não seria determinado pelo acaso, mas haveria uma escolha baseada em critérios não identificáveis no nível consciente. 
· Freud (1914/1996) postula dois tipos possíveis de escolha objetal, a ligação com o objeto poderia seguir o modelo anaclítico (de ligação) ou o modelo narcísico. A escolha anaclítica recairia na busca de um objeto que completasse o sujeito, em contraposição ao que ocorreria na escolha narcísica, na qual o sujeito elegeria um objeto que se assemelhasse a ele próprio. 
· Magalhães e Féres-Carneiro (2003) nomeiam de ‘trama identificatória conjugal' o entrelaçamento dos "eus" que se processa na conjugalidade e apontam que a saúde do vínculo conjugal dependeria do tipo de identificação objetal realizada entre os parceiros na constituição da conjugalidade, por meio da introjeção ou da incorporação.
· No primeiro, haveria a possibilidade de assimilar e transformar o parceiro por meio de um processo criativo que preserva e até enaltece a alteridade; já no segundo, por meio da incorporação, o componente alteritário seria desconsiderado, o que poderia levar a conjugalidade a um movimento de devorar-se /aniquilar-se.
· Tipos de conjugalidade
· Anteriormente, Willi (1975) abordara a psicodinâmica conjugal enfatizando a noção de complementaridade entre os parceiros, tendo cunhado o termo colusão para denominar o jogo inconsciente do casal. O processo colusivo teria início na escolha dos parceiros mediante a identificação de conflitos fundamentais não superados e a conexão estabelecida a partir deste encontro promoveria um jogo conjunto, oculto reciprocamente. Willi propôs quatro tipos fundamentais de arranjos colusivos: a colusão narcisista, baseada no tema do "amor como ser um"; a colusão oral, girando em torno do tema "amor como preocupar-se um com o outro"; a colusão anal-sádica, embasada no tema "amor como pertencer-se um ao outro"; e a colusão fálico-edípica, sustentada no tema "amor como afirmação masculina". Vainer (1999) e Silva (2003) basearam-se nessa tipologia para analisar longos litígios familiares.
· Separação conjugal
· A complementação ou a semelhança, vislumbradas no ato de escolha amorosa, advém de traços identificados reciprocamente que, pela força do desejo, são tomados pelo todo num processo ilusório. No entanto, "a ilusão dura pouco tempo, a desilusão logo invade os amantes e põe à prova a solidez do vínculo sentimental" (Eiguer, 1985, p. 46). Logo, o objeto amoroso com quem se identificou ou que foi idealizado, apresentará sua alteridade, promovendo um abalo na ilusão de completude do casal, pois as diversas solicitações proporcionadas pelo cotidiano desencadeiam defasagens entre expectativa e realidade, entre o que é desejado e o que o outro pode atender. 
· Diversas reações podem ser desencadeadas por este tipo de frustração, dependendo da estrutura psíquica dos sujeitos envolvidos e da qualidade do vínculo formado na conjugalidade. Mas, o que se pretende aqui ressaltar, sobre o processo de desilusão amorosa, é que ele pode ser descrito como um desdobramento da ilusão de completude ocorrida na escolha dos parceiros, ou seja, como uma consequência da convivência amorosa. E, ainda, que dele tanto pode resultar um crescimento mútuo com a discriminação dos ‘eus', produzido pelo manejo das sucessivas frustrações das expectativas idealizadas de cada ego e, sequencialmente, o reconhecimento da alteridade, como podem também ser desencadeados estados patológicos da conjugalidade.
· Para que ocorra a dissolução do vínculo, o desejo de ruptura deve-se sobrepor ao desejo de complementaridade, caso contrário, os sujeitos se manterão numa eterna tentativa de separação. Mesmo que ocorra o afastamento físico, os sucessivos encontros do ex-casal, muitas vezes promovidos pelo vínculo da parentalidade que não se desfaz, em razão da educação e do cuidado dos filhos (Féres-Carneiro, 2007), os conflitos voltam a se expressar com a mesma intensidade e constância do período anterior à separação conjugal. Nestes casos, seriam evidenciados o jogo compulsivo e a repetição, indicando que o corte vincular não teria se produzido.
· Muitos casais legalizam o fim do casamento quando estão começando a serem superadas as tristezas e novos investimentos estão começando a ocorrer, evidenciando a possível superação do luto, ou, como propõe Caruso (1981), usando o recurso de dirigir a libido para outro objeto, a fim de fugir da vivência catastrófica provocada pela separação. Nesses casos, o processo legal da separação ou do divórcio seria mais uma etapa necessária para corporificar o ato da separação, seria a cena representativa do corte (Andino, 1996). 
· Pereira (2003) parte da premissa de que, na linguagem jurídica, os ritos sociais se traduzem por meio dos processos judiciais e que a função do rito judicial seria de por fim a uma demanda (intra e interpsíquica) e marcar a entrada em outra etapa da vida. O autor sustenta que o processo judicial é um ritual sob o comando de um juiz, representante legal e simbólico da lei, com a função de por fim a uma demanda e instalar uma nova fase na vida das pessoas.
· Shine (2002) sustenta que a escolha de lidar com os conflitos por meio do processo judicial, "responde a uma necessidade anterior de ataque e defesa que precisa, de certa forma, do reconhecimento público que é alcançado em um procedimento legal" (p. 69).
· A observação dos tipos de conjugalidade apresentados pode servir de parâmetro norteador na identificação das dinâmicas dos conflitos conjugais que se apresentam no judiciário. No entanto, é importante apontar que os funcionamentos, quando descritos na teoria, são apresentados como mecanismos distintos e separados.
· Mas, quando se observam as dinâmicas de funcionamento dos casais, podem ser detectados funcionamentos que se entrelaçamno decorrer da história da conjugalidade. 
· O trabalho do psicólogo jurídico requer um olhar transdisciplinar, atento ao contexto social que influencia a formação das subjetividades (Altoé, 2003), ao conjunto normativo onde sua práxis está inserida, à representação da lei para os sujeitos que recorrem a ela e, tudo isso, sem perder de vista o funcionamento singular de cada célula desse organismo – o sujeito.
Aula 4
Princípio do melhor interesse da criança: como definir a guarda dos filhos?
· Segundo Gonçalves, 2011, O princípio em comento não possui previsão expressa na Constituição Federal ou no Estatuto da Criança e do Adolescente. ‘’Os especialistas do tema lecionam que este princípio decorre de uma interpretação hermenêutica, está implícito e inserido nos direitos fundamentais previstos pela Constituição no que se refere às crianças e adolescentes”. 
· O melhor interesse da criança ou o best interest of the child, recepcionado pela Convenção Internacional de Haia, que trata da proteção dos interesses das crianças e no Código Civil, em seus artigos 1.583 e 1.584 reconhece tal princípio, por exemplo, quando trata-se sobre a guarda do menor. É mister ressaltar, este instituto tem força de princípio pois está previsto na Constituição Federal de 1988, em seu art. 227, caput, aduz sobre os deveres que a família tem para com o menor e adolescente. 
· O princípio em comento, como exposto, está inserido no ordenamento jurídico baseando a grande maioria das decisões do judiciário, especialmente quando se trata sobre a guarda dos menores e adolescentes. No entanto, no que concerne ao decidir sobre a vida e guarda de um menor, ainda se observa bastante a falta de interpretação social que melhor interesse carrega em sua essência.
· A guarda dos filhos é direito e dever dos pais. Usa-se o termo “guarda” para caracterizar a vigilância, proteção e cuidado. Assim, a guarda dos filhos é o direito e o dever que os pais têm de vigiar, proteger e cuidar das crianças.
· A guarda é marcada no momento em que um casal se separa ou quando estes nunca moraram juntos e é preciso definir com quem a criança vai morar. No ordenamento brasileiro, a guarda compartilhada é a regra. Porém, há outros tipos de guarda.
· Na guarda compartilhada os pais possuem deveres e direitos iguais para com o menor, tomando decisões em conjunto sobre a vida em todos os âmbitos da criança, seja em qual o melhor colégio, os melhores esportes, línguas estrangeiras, etc. Segundo Ana Maria Milano Silva (2015, p. 61) “a noção da guarda compartilhada surgiu do desequilíbrio dos direitos parentais e de uma cultura que desloca o centro de seu interesse para privilegiar a criança, no meio de uma sociedade que agora mostra tendência igualitária”. 
· Desse modo, os pais participam efetivamente da criação, diferente da guarda unilateral, em que apenas um dos pais se responsabiliza e o outro “supervisiona” de longe.
· É comum que na guarda compartilhada haja dúvidas à respeito sobre onde será a residência da criança, há especialistas que defendem a tese de que na guarda compartilhada seja confuso para o menor, pois este estaria vivendo em dois lares, sobre duas criações, com opiniões diversas, crenças religiosas diferentes e portanto, não seria benéfico para a criança, portanto, nessa modalidade de guarda o melhor interesse da criança é efetivamente vislumbrado. 
· No caso em comento, no que tange os deveres quanto aos alimentos, a responsabilidade será de ambos os genitores.
· No entanto, a guarda compartilhada não significa que a criança passará quinze dias na casa de um e quinze dias na casa de outro, se caso essa forma fosse inviável. A guarda compartilhada possui como maior finalidade a divisão de decisão, responsabilidade e maior participação de ambos na vida do menor, não pretendendo de forma alguma gerar na criança confusões de identidade e pertencimento
· O ordenamento jurídico define a guarda unilateral prevista no Código Civil em seu art. 1.583 §º, é atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua. 
· Esta guarda exclusiva para apenas um dos genitores resulta da vontade de ambos ou quando um deles declara ao juiz que não se interessa em ter a guarda compartilhada visto ser esse o tipo de guarda que é segundo os especialistas a mais benéfica à criança.
· A guarda unilateral pode ser fixada além da vontade de um dos genitores em não querer a guarda compartilhada bem como também na verificação de inaptidão, evidenciada, dentre outros, na falta de zelo e cuidado com o filho, por meio de abuso de autoridade ou descumprimento de deveres paternos ou maternos, caso comprovado por investigação detalhada, haverá a manutenção da guarda unilateral quando houver pedido para conversão para compartilhada ou a reversão da compartilhada para unilateral, quanto a isto, existe jurisprudência a respeito.
· A respeito da guarda alternada, esta caracteriza-se pela troca de períodos entre os genitores. A exemplo é de que a criança passaria uma semana sob a responsabilidade e autoridade exclusiva de um e na semana seguinte, sob a responsabilidade do outro genitor. 
· Para alguns especialistas, essa guarda não é recomendada visto que a criança, especialmente, nos seus primeiros anos de vida precisa de um lar que seja referência, tem necessidade de pertencimento.
· Por isso, a guarda alternada poderia vir a confundir e abalar o psicológico da criança, trazendo em alguns casos o pensamento de escolha entre um dos pais e má formação de base de afeto. Quanto aos adolescentes, a mudança contínua de casa e de poder exercido entre os pais, podem resultar em um escape desse adolescente para evitar conflitos e responsabilidades atribuídas por um dos genitores.
· Segundo recomendações de Paulo Lôbo 2019, “nem o interesse dos pais, nem o do Estado pode ser considerado o único interesse relevante para a satisfação dos direitos da criança”. A criança deve ser a protagonista do processo, sendo os seus interesses os mais importantes, que devem ser assegurados pelo judiciário.
AULA 5
ALIENAÇÃO PARENTAL.
 
SINDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL
· Atualmente a Alienação Parental é uma forma de maltrato ou abuso; é um transtorno psicológico que se caracteriza por um conjunto de sintomas pelos quais um genitor, denominado cônjuge alienador, transforma a consciência de seus filhos, mediante diferentes formas e estratégias de atuação, com o objetivo de impedir, obstaculizar ou destruir seus vínculos com o outro genitor, denominado cônjuge alienado, sem que existam motivos reais que justifiquem essa condição (SERAFIM, 2012, p. 93).
· A Síndrome da Alienação Parental é descrita por Gardner (1985 apud LEITE, 2015) como um distúrbio que surge excepcionalmente no contexto de disputas de custódia de filhos. É um distúrbio em que as crianças são programadas através da campanha de um dos genitores, a agir com descrédito em relação ao genitor odiado. 
· Os filhos exibem pouco ou nenhuma ambivalência sobre seu aborrecimento que, na maioria das vezes, se alastram para a família do pai supostamente abandonado.
· O PAPEL DAS FIGURAS PARENTAIS NO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DA CRIANÇA
· O relacionamento inicial entre os pais e a criança deve ser entendido, de acordo com Bee (2003) a partir da observação dos dois lados do contexto, do desenvolvimento do vínculo dos pais com a criança e do afeto da criança para com seus pais. As condutas de apego são incitadas a partir de quando a pessoa necessita de cuidados, acolhimento ou consolação. Para Papalia e Olds(2000) o apego é um relacionamento ligado, carinhoso, mútuo entre duas pessoas cuja influência mútua fortalece ainda mais a ligação destas.
· Em seus estudos, Bee (2003) ressalta que a criança possivelmente só exibirá uma conduta de apego quando estiver assombrada, chateada ou sob algum estresse. E será o conteúdo demonstrado através desses comportamentos que nos falará algo sobre a característica do vínculo afetivo entre os envolvidos.
· Por sua vez, em relação à presença da figura materna, Bowlby (1989 apud BORSA, 2007) relata que estudos confirmamque crianças que alcançaram um apego confiável com suas mães tendem a se tornar, sujeitos autoconfiantes, cooperativos e sociáveis. Contudo, esses mesmos estudos admitem que as crianças que não constituíram uma ligação de apego suficiente, tendem a virem a ser emocionalmente agressivas, afastadas ou antissociais. 
· Para Winnicott (1998; 2001apud BORSA, 2007) só na presença de uma mãe suficientemente boa que a criança pode iniciar o processo de desenvolvimento pessoal e real. A mãe suficientemente boa é flexível o suficiente para poder acompanhar o filho em suas necessidades, as quais oscilam e evoluem no percurso para a maturidade e a autonomia.
· DIFERENÇA ENTRE ALIENAÇÃO PARENTAL (AP) E SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL (SAP)
· A Síndrome da Alienação Parental (SAP) não se confunde com a Alienação Parental (AP).
· O termo síndrome constitui um distúrbio, um agrupamento de sintomas que se alojam em decorrência da extrema reação emocional que os pais submetem seus filhos. 
· Já a alienação parental são as ações que proporcionam verdadeira campanha de desrespeito de um genitor em relação ao outro. (SOUZA, 2014).
· A SAP geralmente decorre da AP, ou seja, enquanto a AP tem como objetivo o afastamento da criança de um genitor através de procedimentos desonestos da titular da guarda, a Síndrome,por sua vez, diz respeito às questões emocionais, aos prejuízos e consequências que o filho alienado vem a sofrer Pinho (2007, apud SOUZA, 2014).
· De acordo com Silva (2011) a alienação parental define o ato de levar a criança a abandonar o pai/mãe alvo de críticas, através de comportamentos de menosprezo até a odiosidade ou acusações de abuso sexual, influenciados pelo outro componente do par parental. Já a Síndrome da Alienação Parental engloba os sintomas que a vítima pode vir ou não a exibir, resultante dos atos de alienação parental.
· É necessário relatar que a expressão Síndrome da Alienação Parental (SAP) é arduamente recriminada, segundo Souza (2014), por não estar prevista nem na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento encontrados na Classificação Internacional de Doenças (CID – 10), nem no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV – TR), ou seja, não é conhecida como uma categoria diagnosticada e também não é considerada uma síndrome médica.
· SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL (SAP).
· De acordo com Silva (2011) a Síndrome da Alienação Parental (SAP) ocorre através deuma emoção doentia oriunda das emoções do genitor alienador. Esse, por sua vez, tem dificuldade em ver o filho distanciado e elabora modos de conservar essa criança numa relação doentia, em que, oprime, superprotege e mantém a criança subordinada à suas recomendações, ideias e ações. “[...] o genitor alienador é tomado pelos excessos de seus sentimentos, como a raiva, os ciúmes em relação ao ex-parceiro, agindo de forma intempestiva, deixando-se levar por seus impulsos”. (SOUSA, 2010, p.110).
· ELEMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL E DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL
· De acordo com Annibelli (2011) embora seja um distúrbio atual nos presentes casos de disputas de guarda, a Síndrome da Alienação Parental é de difícil identificação, porque, às vezes, não há certeza das argumentações a respeito do genitor alienado. Entretanto, quanto antes for detectada, maiores serão as oportunidades de diminuir os prejuízos ocasionados e voltar à condição anterior a existência da SAP. Porém, não há forma de reconhecer a síndrome sem que exista conhecimento precedente a esta.
· I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;
· II - dificultar o exercício da autoridade parental;
· III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
· IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
· V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
· VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
· VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. 
· O psiquiatra norte-americano elaborou um quadro de sintomas que, de acordo com ele, aparecem juntos, definindo-os por síndrome. Esses sintomas aparecem, na maioria das vezes, em crianças que os pais estão em litígio conjugal. Gardner afirma que, mesmo sendo sintomas visivelmente diferentes, estes terão a mesma etiologia. Os sintomas por ele apresentados são:
· Campanha de difamação’; ‘racionalizações pouco consistentes’; ‘absurdas ou frívolas para a difamação’; ‘falta de coerência’; ‘pensamento independente’; ‘suporte ao genitor alienador no litígio’; ‘ausência de culpa sobre a crueldade e/ou exploração do genitor alienado’; ‘a presença de argumentos emprestados’; ‘animosidade em relação aos amigos e/ou família do genitor alienado (GARDNER
· Para Silva (2011) o alienador não é essencialmente a genitora ou o genitor, mas também primos, avós, tios, atuais cônjuges ou companheiros da genitora ou do genitor.
· PAPEL DA PSICOLOGIA EM RELAÇÃO À SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL
· De acordo com Buosi (2012) o profissional psicólogo diante a Síndrome da Alienação Parental age em sentido contrário ao que estabelece as diretrizes nacionais do Conselho Federal de Psicologia a respeito do trabalho do mesmo. O processo terapêutico das partes abrange uma penalidade que o profissional dirige ao alienador quando diagnosticada a síndrome. 
· Essa concepção é oposta ao que é proposto nas diretrizes do CFP que defende que o trabalho do psicólogo tem seu alicerce no compromisso social e no progresso da qualidade de vida das pessoas. Nos casos envolvendo a SAP, uma das diretrizes estabelecidas pela justiça é o acompanhamento regular para a terapêutica psicológica dos membros da família que foram alcançados pela situação.
· Os juízes podem determinar a realização da terapia compulsória aos genitores para que tratem os distúrbios e os comportamentos motivadores da conduta alienadora cometida por um ou os dois. Essa atitude jurídica tem o objetivo de tornar os genitores, na medida do possível, sujeitos que busquem soluções para a construção de um novo arranjo familiar que seja, mas benéfico aos integrantes da família. 
· Dessa forma, o acompanhamento psicológico almeja que os genitores compreendam que, apesar de não estarem mais em uma relação conjugal, não deixam de serem genitores, e, devido a isso, é importante que respondam com as funções inerentes a tal papel (FREITAS, 2015).
AULA 6
ABANDONO AFETIVO
· O pai que se omite em cuidar do filho, abandonando-o, ofende a integridade psicossomática deste, acarretando ilícito ensejador de reparação moral. O sofrimento do filho abandonado pelo pai gera à figura materna daqueles danos morais, principalmente quando a consequência desse sofrer é decisiva na formação da personalidade como um todo unitário. 
· Inicialmente, sustenta-se a importância do convívio familiar como um direito da criança e do adolescente, estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Brasil, 1990), salientando a necessidade da dupla parental. 
· Outrossim, o ECA, regulamentando o supramencionado dispositivo, prevê, dentre os direitos fundamentais da criança e do adolescente, o direito ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento (art. 15, ECA), bem como o de serem criados e educados no seio de sua família (art. 19, ECA). O direito à convivência familiar expressa, dentre outros desdobramentos, o direito dos filhos de serem acompanhados em seu desenvolvimento tanto pelo pai, como pela mãe 
· O convívio familiar passa a ser descrito, não apenas pela coabitação, mas pela determinação de práticas afetivas. A definição desse direito da criança não se restringe à satisfação das necessidades dos filhos, mas,sustentada pelo saberpsi, avança para a prescrição de relações cotidianas suficientemente adequadas do ponto de vista psíquico. 
· A grande evolução das ciências que estudam o psiquismo humano veio a escancarar a decisiva influência do contexto familiar para o desenvolvimento sadio de pessoas em formação. Não mais se podendo ignorar essa realidade, passou-se a falar em paternidade responsável... O distanciamento entre pais e filhos produz sequelas de ordem emocional e reflexos no seu sadio desenvolvimento. O sentimento de dor e de abandono pode deixar reflexos permanentes em sua vida 
· Podemos pensar que uma das condições que torna possível acionar um membro da família por abandono afetivo é um movimento nos próprios modos de compreender a(s) família(s). Pensando em imagens de família em algumas épocas históricas, Roudinesco (2003) analisa as demandas políticas lançadas à família. Numa imagem de família “tradicional”, o objetivo principal estava em assegurar a transmissão de um patrimônio, subordinada à lógica patriarcal e assentada numa ordem do mundo imutável. 
· Já a família “moderna” (final do século XVIII) funda-se no amor romântico e obedece à lógica afetiva, atribuindo autoridade ora dividida entre Estado e pais, ora dividida entre pais e mães, semelhante ao jogo de forças presente nas enunciações em análise nesse acórdão. Na família “contemporânea”, surgida a partir de 1960, os indivíduos buscam relações íntimas ou realização sexual e a transmissão de autoridade vai se configurando numa problemática por conta das recomposições conjugais. 
· A categoria “pai” está sendo construída, potencializada e/ou regulada pelas mesmas estruturas de poder através das quais busca legitimação ou através das quais é solicitada a prestar contas. Além disso, nas importantes ressalvas de Butler (2003a) aos pressupostos presentes na discussão da produção e ocultação de sujeitos políticos, há a invocação de um “antes” – premissa de um sujeito anterior a ser representado e a invocação de uma identidade comum acionada pela nomeação dessa categoria. 
· Ambos os pressupostos retiram o caráter histórico das categorias identitárias, assim como invisibilizam as diferenças e “intersecções com modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais e regionais de identidades discursivamente constituídas” (p. 20). A interferência das transformações sociais aparece como um processo que deturparia a função “natural” e “a-histórica” do pai, no exercício da autoridade e também a função da mãe. 
· A ausência das funções paternas já se apresenta hoje, inclusive, como um fenômeno social alarmante e provavelmente é o que tem gerado as péssimas consequências conhecidas por todos nós, como o aumento da delinquência juvenil, menores de rua e na rua, etc. E isto não é um fenômeno de determinada classe social. Certamente, nas classes menos favorecidas economicamente, o abandono material é maior, pois se mistura também com a questão política de abandono de Estado, que também exerce em muitos casos, uma função paterna e de o ‘Grande Outro’.
· Esta ausência paterna e o declínio do pater-viril está acima da questão da estratificação social. É um fenômeno e consequência das transformações sociais iniciadas com a revolução feminista, a partir da redivisão sexual do trabalho e a consequente queda do patriarcalismo (solicitado autor livro Groreninga e Pereira, 2003, p. 225) 
· A definição da paternidade como categoria explicativa é possível no acionamento de sua diferenciação em relação à maternidade. Caso contrário, estaria falando de parentalidade8, ou de forma mais ampla, do papel da família. Investigando a “categoria” jurídica nomeada de “abandono afetivo”, há prevalência de processos acionando o pai por abandono afetivo.
· Em menor número estão processos de abandono afetivo em que a mãe é acionada. Nos casos da mãe, confirmado o abandono afetivo, a mesma perde o poder familiar. 
· Os casos de abandono por parte da mãe geralmente referiam-se à avaliação dos modos de vida dessa mãe (várias eram usuárias de álcool e/ou drogas), culminando com a extinção do poder familiar. Nesse sentido, configura-se o abandono afetivo materno quando, através de uma avaliação moral, entende-se que esta mãe “não possui condições psicológicas e morais para proporcionar uma formação saudável e digna a seus filhos” (Tasch, 2010, p. 13). 
· Já no caso dos homens pais – geralmente ações ajuizadas pelas mães juntamente com seus filhos – o processo não busca a retirada do poder familiar. Pelo contrário, expressamente, busca manter esse vínculo e pleiteia a responsabilização através da determinação de uma indenização por danos morais. Nesse caso, a permanência do poder familiar e o pagamento da indenização são pensados ambos como uma punição. Segundo Dias (2010), num caso assim, a perda do poder familiar, isoladamente, poderia “constituir-se não em uma pena, mas uma bonificação por abandono” 
· O afeto é construído como autoridade no âmbito do Direito em geral, “vai além do sentimento, e está diretamente relacionado à responsabilidade e ao cuidado... por isso pode se tornar uma obrigação jurídica e ser fonte de responsabilidade civil” (Pereira, 2012, p. 8). 
· É com base nessa construção técnica – que estabelece a afetividade como cuidado – que é possível atribuir responsabilidade aos pais para além da obrigação alimentar e exigir sanções ao seu exercício, quando considerado inadequado. 
· Seguindo o rastro dessa categoria jurídica – “Abandono Afetivo”, chego à decisão mais recente do STJ14. A decisão de abril de 201215 avalia se o abandono afetivo “constitui elemento suficiente para caracterizar dano moral compensável” (STJ 1159242). 
· A enunciação da ministra relatora busca legitimar o cuidado como um valor jurídico. “O cuidado dentro do contexto da convivência familiar leva à releitura de toda a proposta constitucional e legal relativa à prioridade constitucional para a convivência familiar” (STJ 1159242). Para tanto, o texto do relatório resgata a teoria de Winnicott para mostrar a importância do cuidado na constituição infantil. 
· [...] do lado psicológico, um bebê privado de algumas coisas correntes, mas necessárias, como um contato afetivo, está voltado, até certo ponto, a perturbações no seu desenvolvimento emocional que se revelarão através de dificuldades pessoais, à medida que crescer. 
· Por outras palavras: a medida que a criança cresce e transita de fase para fase do complexo de desenvolvimento interno, até seguir finalmente uma capacidade de relacionação, os pais poderão verificar que a sua boa assistência constitui um ingrediente essencial. (Winnicott, 2008) (STJ 1159242). 
· A enunciação legitima o cuidado como uma conduta a ser avaliada, prescrita e cobrada nas instâncias competentes. “Não se discute mais a mensuração do intangível – o amor – mas, sim, a verificação do cumprimento, descumprimento, ou parcial cumprimento, de uma obrigação legal: cuidar” (STJ 1159242, p. 10). Esse movimento responde à crítica feita a esses processos pela impossibilidade de obrigar um pai ou uma mãe a amar seus filhos.
· Através da diferenciação entre amor e cuidado, “o amor é faculdade, cuidar é dever” (STJ 1159242, p. 11), normatizam-se modos de cuidar e, por consequência, se possibilita a mensuração do cuidado. 
· A medida do cuidado se verifica em diferentes ações: “presença; contatos, mesmo que não presenciais; ações voluntárias em favor da prole; comparações entre o tratamento dado aos demais filhos – quando existirem –, entre outras fórmulas possíveis que serão trazidas à apreciação do julgador, pelas partes” (STJ 1159242, p. 11). Se o afeto fosse somente uma expressão de amor, a reivindicação por responsabilidade civil não encontraria legitimidade
AULA 7
Acolhimento: crianças e adolescentes 
(Medidas Protetivas)
PEQUENO HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO
· O abandono e o afastamento de crianças e adolescentes de suas famílias, não é um fenômeno contemporâneo, muitas vezes atribuído à modernidade, a desestrutura familiar, aos novos modelos familiares,à pobreza, às drogas, enfim, aos problemas de ordem social dos tempos atuais.
· Orfanatos, educandários, santas casas, casas de misericórdia, abrigos, unidades de acolhimento, casas-lares etc., são denominações comuns que, ao longo do tempo, foram sendo utilizadas para designar as instituições que recebem essas crianças e adolescentes e que, por qualquer razão, são afastados da convivência com seus familiares ou responsáveis.
· Porém, tentativas vêm sendo realizadas no intuito de ajudar essas crianças e adolescentes, criando oportunidades para que essas crianças e adolescentes possam desfrutar do convívio familiar. Muitas dessas crianças desde tenra idade se encontram vivendo em instituições de acolhimento, esquecidas pelas famílias, pela sociedade e pelo Estado.
· Mesmo com tanto descaso da sociedade e do Estado, alguns aparatos vem sendo implantados visando sanar essas questões, procurando priorizar a vida em família dessas crianças e adolescentes. O mais recente é a chamada “Nova Lei de Adoção” ou “Lei da Convivência Familiar”, assim denominada porque foi elaborada com base no Plano Nacional da Convivência Familiar.]
Lares desestruturados/ Lares disfuncionais 
Tirar a criança do lar é a última coisa que o juiz faz. 
FAMÍLIA E AS CAUSAS DO PROCESSO DE ACOLHIMENTO.
· Definir o conceito de família é uma tarefa difícil, por se tratar de um tema muito amplo e que muda na linha do tempo de longa duração, em função das características sociais, econômicas, culturais, educacionais e legais; por isso mesmo, continua incompleto e, frequentemente, já está ultrapassado. De qualquer forma, é preciso concordar que a família constitui um valor fundamental à vida social.
· A família contemporânea está muito mais diversificada, se apresentando de forma pluralista, pelos diversos tipos e modelos de convivência.
· Outrora os acolhimentos de crianças normalmente se davam em razão do abandono, que, no caso dos escravos, era, muitas vezes, estimulado. 
· Antes das rodas dos expostos, as crianças eram deixadas nas naves das igrejas, próximo às casas de particulares, nas ruas, onde o crescimento sem planejamento das grandes cidades, a falta de habitações dignas, levou a negligência, a mendicância, a exploração no trabalho tornaram comum, crianças e adolescentes nas ruas.
· Além disso, cada vez mais crianças e adolescentes estavam envolvidos na prática de crimes, o que justificava o acolhimento como forma de punição ou como meio de disciplinar essa criança ou adolescente (GUARÀ, 2010).
· A nova realidade social impôs ao Estado novos desafios. A solução encontrada foi à criação de orfanatos, com função recuperadora e depois estas crianças eram devolvidas ao convívio social, o que na maioria das vezes não acontecia. As crianças acabavam vivendo até adultas nessas instituições e depois lançadas à sociedade, sem nenhum tipo de suporte que as permitisse uma vida autônoma e feliz.
· Tem-se observado que, em grande parte dos acolhimentos, não há uma única causa. A pobreza, muitas vezes, vem acompanhada da negligência, dos maus-tratos, do alcoolismo. O certo é que, nos últimos tempos, vem aumentando significativamente o acolhimento.
· O que se observa é que os motivos para que criança e o adolescente se encontre em instituições de colhimento são os mais variados, vão desde lares desestruturados a rejeição materna, ou seja, o abandono é parte desse processo.
· Apesar da existência de aparatos legais, o acolhimento é uma realidade na sociedade brasileira e cada vez mais essas crianças estão se distanciando de suas famílias e perdendo os vínculos afetivos. O que se observa que as instituições de acolhimento representam uma segurança para essas crianças e adolescentes para que possam preservar suas vidas e integridade. 
· A violência que a maioria é submetida impede que continuem vivendo nos seus lares (LIMA, 2015, p. 35).
· A legislação por sua reconhece o direito da criança e do adolescente de viverem em ambiente familiar, bem como, de que eventual acolhimento deve ser excepcional, provisório, pelo menor tempo possível, exige a implantação de programas que possam de alguma forma, contribuir para, inicialmente, se possível, evitar o acolhimento ou, quando este se mostre absolutamente necessário, minorar as consequências do abandono ou da institucionalização, principalmente quando prolongada.
· A maior parte das crianças privadas do convívio familiar advém desta parcela significativa da população brasileira, aliado a outras causas (violência, negligência, maus tratos, desestruturação familiar, baixa escolaridade dos pais, desemprego e subemprego, drogadição etc.) impõem enormes dificuldades de reabilitação e de reestruturação.
· Para isso, a política de atendimento deve ser estruturada, principalmente na esfera municipal, em face da municipalização do atendimento (art. 88, I, do ECA), de modo que, tão logo se constate a necessidade de intervenção na família, para proteger a criança ou adolescente, esta seja possível.
· É fundamental, pois, que cada Município estruture a sua política de garantia do direito à convivência familiar. (CUNEO, 2016)
· É preciso que se tenha claro que o acolhimento institucional não pode ser visto como algo para vida toda, mais sim, temporário. 
· Por isso o psicólogo deve atuar com sensibilidade frente a estas crianças, fazendo com que compreendam que o espaço que estão provisoriamente frequentando precisam respeitar as individualidades e diferenças individuais, de forma que preserve a vida comunitária dessa criança e adolescente.
· Indispensável que a política municipal de garantia do direito à convivência familiar tenha a efetiva participação de técnicos, preferencialmente equipes multidisciplinares, cuja atribuição é a de apoiar as equipes técnicas das varas da infância e da juventude, bem como das unidades de acolhimento, no sentido de manter a criança ou adolescente na família, promover a reintegração familiar de crianças e adolescentes acolhidos, bem como contribuir para a preparação de famílias substitutas, buscando alternativas para que o acolhimento institucional seja o mais breve possível(MARQUES; CZERMAC, 2015).
· Os limites da intervenção no âmbito das relações familiares têm sido objeto de constante debate doutrinário. 
· No plano da convivência familiar, especificamente, o Estado pode proporcionar condições para que os pais ou familiares exerçam suas responsabilidades, mas não pode obrigar o cidadão, por exemplo, a desenvolver relações de afeto para com os filhos, embora a afetividade seja um direito da criança. Não se pode, igualmente, obrigar a família extensa a assistir os filhos de outros familiares.
· A prevenção ao abandono passa necessariamente pela articulação das redes de atendimento dos Municípios, que devem estar preparadas para interferir e agir prontamente toda vez que se verifique encontrar-se uma criança em situação de risco.
· Caberá ao psicólogo conhecer a realidade desta criança e adolescente, assim como os motivos que o levaram a institucionalização, para que possa através deste conhecimento da realidade intervir com mais segurança.
· É preciso também que a equipe que atende essas crianças tenha competência técnica, pois dessa forma contribuirá para que a criança e o adolescente tenha a menor quantidade de traumas e marcas possíveis. É preciso que as instituições de acolhimento tenham ações que não excluam a criança de sua vida social, pois o que mais se vê nas instituições que conhecemos é o isolamento que essas crianças e adolescentes se submetem.
AULA 8 
Adoção / Núcleos Familiares
A prática da adoção no cenário nacional
· A história da adoção tem um percurso extenso no Brasil e se faz presente desde a época da colonização. A princípio esteve relacionada com caridade, em que os mais ricos prestavam assistência aos mais pobres. Era comum haver no interior da casa das pessoas abastadas filhos de terceiros, chamados “filhos de criação”. 
· A situação deste no interior da família não era formalizada, servindo sua permanência como oportunidade de se possuir mão-de-obra gratuita(PAIVA,2004) e, ao mesmo tempo, prestar auxílio aos mais necessitados, conforme pregava a Igreja.
· Hoje em dia, embora a lei proíba tal prática, ainda encontramos casos de pessoas que realizaram uma adoção à brasileira e justificam que o fizeram por não saber que era ilegal e porque na época em que o avô, o pai, ou algum conhecido realizou uma adoção, era assim que se fazia. 
· Em uma pesquisa realizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros, em 2008, apenas 35% dos respondentes afirmaram que, caso desejassem adotar, buscariam uma criança através das Varas de Infância e Juventude, enquanto 66,1% recorreriam aos hospitais/maternidades ou abrigos, confirmando que a maioria dos brasileiros não sabe por onde se inicia um processo de adoção legal.
· Mudanças legais foram ocorrendo desde então, até culminar com o Estatuto da Criança e do Adolescente (E.C.A), Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que há quase 20 anos regulamentou a prática da adoção no Brasil (mas que sofreu algumas mudanças a partir de novembro de 2009, com a lei 12.010/09, também chamada de Nova lei da Adoção), e que coloca como prioridade a garantia, às crianças e adolescentes, dos seus direitos, dentre os quais a convivência familiar.
· Foi somente com a legislação de 1988 que a lei passou a tratar de maneira igualitária todos os filhos, havidos ou não do casamento, ou por adoção. E é este pressuposto legal que alicerça o E.C.A, que aboliu a adoção simples, ampliando os benefícios da adoção plena a todos os menores de 18 anos de idade, garantindo a permanência irrevogável no seio da família adotivo, sob a condição de filho, assegurando-lhes os mesmos direitos dos filhos biológicos, rompendo os vínculos de parentesco com a família de origem.
· Observa-se que todas as leis referentes a adoção, e que foram anteriores ao E.C.A, há sempre uma prioridade à família biológica, seja considerando a adoção possível somente quando as pessoas não pudessem gerar filhos; ou considerando o filho adotivo inferior ao biológico (que poderia perder seu espaço dentro da família, para as adoções revogáveis), ou, ainda, negando-lhe o direito à herança deixada pelos pais quando havia filhos biológicos.
· Tal fato também justifica a característica, ainda bastante presente nas família adotivas, que é o desejo de que a adoção seja um assunto sigiloso e que, muitas vezes, é de conhecimento apenas dos membros da família, não sendo divulgado, nem entre os parentes, muito menos para as pessoas conhecidas, uma espécie de segredo de família.
· Uma pesquisa realizada por Berthoud (1997) também traz resultados similares, concluindo aquela autora que o preconceito mais grave da população em geral sobre a adoção está relacionado ao desconhecimento sobre a herança genética. Para os participantes de sua pesquisa, adotar poderia ser um risco, já que haveria a possibilidade de adotar alguém com ‘sangue ruim’, ou seja, com traços negativos de comportamento e personalidade.
· O sangue do outro me é desconhecido e, consequentemente, as características que esse outro possui. E o que é desconhecido fomenta fantasias, muitas vezes ameaçadoras.
· A questão genética assegura aos pais biológicos a certeza de que são pais. Gerar um filho significa, além da perpetuação biológica, uma espécie de apropriação desse filho. “Os pais biológicos sabem desde o início que a criança é incondicionalmente sua” afirma Levinzon (2004, p. 26). Os pais adotivos, por outro lado, precisam que a sociedade, na figura da justiça, lhes garanta essa posse.
· É comum entre as pessoas que adotam, a preferência por crianças de pouca idade e com características físicas próximas às suas (MALDONADO, 1997; WEBER, 1999). De acordo com Vieira (2004) essa preferência seria uma clara tentativa de reproduzir da maneira mais fiel possível a experiência que teriam aquelas pessoas caso tivessem elas mesmas concebido o filho, além de diminuir os riscos de se defrontar com a curiosidade indiscreta das pessoas que, encontrando pouca semelhança física entre pais e filho, poderiam questionar a filiação daquele, mostrando quão forte é a influência cultural, que privilegia os vínculos genéticos. 
· E isso causa impacto negativo em algumas famílias adotivas, que acabam por se sentirem menores, como uma subcategoria. Assim, num efeito bola de neve, a adoção permanece sendo um dos segredos das famílias e estas, por mais que valorizem os laços de afeto, buscam, incessantemente, a imitação da biologia.
· Os pais, cujo filho é adotivo, muitas vezes se sentem inseguros sobre os vínculos afetivos desenvolvidos entre eles, fantasiando que um dia o filho deseje conhecer os pais biológicos e, caso esse encontro venha a acontecer, o ‘sangue’ fale mais alto e ele opte por ficar com a família “de sangue”. Para Schetinni Filho (1998a), tal insegurança decorre da interpretação que os pais adotivos fazem da adoção como uma espécie de interferência no fluxo natural da vida daquele filho, algo como se seu lugar fosse ao lado dos pais biológicos.
· FAMILIAS ACOLHEDORAS
· Nessa modalidade de acolhimento, crianças e adolescentes são encaminhados para famílias devidamente cadastradas, selecionadas e formadas para esta função. As famílias acolhedoras recebem em suas casas as crianças que precisam de acolhimento temporário e provisório, até que possam retornar para suas famílias de origem ou, quando isso não é possível, sejam encaminhadas para adoção.
· Adoção por homossexuais – uma nova configuração familiar sob os olhares da psicologia e do direito.
· No que diz respeito a Constituição Federal Brasileira, o capítulo dos direitos e deveres individuais e coletivos traz no caput do artigo 5° que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
· Isso deveria ser refletido na prática com a indiferenciação das pessoas por suas orientações sexuais em casos de adoção, embora nem sempre esta seja a realidade encontrada. Apresenta-se como necessária uma mudança na visão da sociedade e da própria ciência que vem buscando aprimorar esta questão.
· No apego, o outro é visto como uma base segura a partir da qual o indivíduo pode explorar o mundo e experimentar outras relações. O emprego desta ótica, do apego e da formação dos laços afetivos baseados na convivência, trouxe a noção de que o ambiente familiar deve ser acolhedor e propenso a favorecer o bem-estar daqueles que nele coexistem.
· A homoafetividade não é apontada nem pelas teorias jurídicas da paternidade sócio-afetiva, nem pelas teorias psicológicas do apego, como um fator impeditivo para o estabelecimento do afeto com uma criança.
· O foco do julgamento da adoção volta-se, então, para o ambiente familiar como um todo – não determinado pela sexualidade.
· Dolto (1998) afirma que no processo de adoção devem ser levadas em conta as afinidades da família com a criança, no sentido de que essa propicie um ambiente adequado para o seu desenvolvimento mental e emocional.
· Embora os trabalhos a respeito da criança criada por pai ou casal homoafetivo sejam recentes, dentre eles encontram-se pesquisas empíricas como a de González (2005) e Tarnovski (2002) com estas famílias, cujos resultados apresentam semelhanças no que diz respeito ao desenvolvimento criadas por heterossexuais.
· A Associação Americana de Psicólogos, a Academia Americana de Pediatras, a Associação Psicanalítica Americana e a Associação Americana de Psiquiatras já se pronunciaram a respeito do tema, afirmando que pais homossexuais são capazes de proporcionar ambientes saudáveis e protetores aos seus filhos – cujo desenvolvimento é similar ao de crianças criadas por heterossexuais nos âmbitos emocional, cognitivo, social e sexual (Fernández & Vilar, 2004).
· Um dos argumentos utilizados para o indeferimento da adoção por homossexuais relaciona-se ao estabelecimento de papéis, ou seja, a importância do modelo pai/mãe no desenvolvimento da criança – como tendo a mãe a função cuidadora e o pai a normatizadora. 
· Isto é um equívoco, visto que as atribuições de gênero em nossa sociedade são socialmente construídas. Fernándeze Vilar (2004) levantam questões acerca deste modelo referencial comparando monoparentalidade à homoparentalidade– se é necessário um casal heterossexual para a construção da identidade sexual dos filhos pode-se dizer que um filho do sexo masculino criado apenas por sua mãe necessariamente apresentaria dificuldades com sua sexualidade.
· González (2005) e Tarnovski (2002) pesquisaram famílias compostas por pais homossexuais respectivamente na Espanha e no Brasil, e ambos apontam que pais homossexuais são tão capazes de proporcionar um desenvolvimento saudável quanto pais heterossexuais. 
· Os autores também indicam como facilitador na criação e adequação da criança à sociedade: a vasta rede social e de apoio com a qual mantém relações de parentesco e amizade frequentes tanto com hétero quanto homossexuais –alguns deles também com filhos.
· Os códigos brasileiros não distinguem hetero de homoafetividade no que diz respeito à adoção. Diante da inexistência de vedação legal, os aspectos morais e educacionais da criação das crianças são os pontos-chave da argumentação contrária à adoção dentro do que os juízes consideram o melhor para o desenvolvimento psicológico e social do adotado. Resta-nos questionar as competências de alguns juízes e peritos envolvidos nestas avaliações.
AULA 9
A ATUAÇÃO DE PSICÓLOGOS EM CONSELHOS TUTELARES
· A imprecisão quanto ao papel do psicólogo no CT pode se relacionar com a história da inserção técnica em instituições de políticas públicas no Brasil. Há relatos assistemáticos e pontuais sobre a atuação de psicólogos em diversos setores públicos desde meados do século passado. 
· Todavia, foi somente com os movimentos democráticos da década de 1980 que essas alocações se tornaram oficiais em todo o país, a partir das promulgações de leis embasadas nos princípios da Constituição Federativa da República do Brasil, de 1988 (Yamamoto & Oliveira, 2010). 
· A atuação de psicólogos em CTs pode ocorrer com irregularidades se não compreendidas as diferenças entre órgãos judiciais, legislativos e administrativos. 
· Os órgãos judiciais são aqueles ligados ao Poder Judiciário e possuem, portanto, função jurisdicional, isto é, julgam conflitos de interesse por meio do processo. Os órgãos legislativos estão ligados ao Poder Legislativo e têm a função de legislar, ou seja, criar leis e fiscalizar o Poder Executivo. 
· Os órgãos administrativos estão vinculados ao Poder Executivo e têm a função de executar função pública administrativa, bem como elaborar políticas que forneçam diretrizes para a administração pública (Alexandrino & Paulo, 2013). 
· As primeiras legislações específicas sobre infância e adolescência datam, na Europa, do início da década de 20 do século passado, o que influenciou, no Brasil, a promulgação do Código de Menores, em 1927, editado posteriormente em 1979. Em seu artigo 2º, o Código de Menores (Presidência da República, 1979) reconhecia como “em situação irregular” crianças e adolescentes vítimas de negligência, maus tratos e violência por ação, omissão, impossibilidade ou falta do exercício parental, bem como autores de ato infracional e/ou “com desvio de conduta”. 
· Ainda que trouxesse inovações acerca dos direitos de tais sujeitos, a lei legitimava práticas higienistas que se preocupavam muito mais com a limpeza da cidade que com o bem-estar de seus atendidos (Rizzini & Pilotti, 2011). 
· Com a promulgação da Constituição Federativa da República do Brasil, de 1988, e o ECA, em 1990, a Doutrina da Situação Irregular é então substituída pela Doutrina da Proteção Integral. A Doutrina da Situação Regular era a base jurídica do Código de Menores, caracterizada majoritariamente por pressupostos e implicações de forte caráter higienista. 
· A Doutrina da Proteção Integral, todavia, trouxe uma visão garantista de direitos, de modo a conceber crianças e adolescentes como seres de direitos e deveres e em situação peculiar do desenvolvimento. Com ela, tornou-se constitucional, por meio do artigo 227, a prioridade absoluta aos direitos das crianças e adolescentes: 
· “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” (Presidência da República, 1988, Art. n. 227) 
· A fim de promover essas medidas protetivas, seja às crianças e adolescentes ou a seus pais e responsáveis, o CT pode realizar encaminhamentos a órgãos de atendimento, podendo representar ao Ministério Público os casos em que suas deliberações foram descumpridas sem justificativa (Presidência da República, 1990, Art. 136, III). É por meio do trabalho em rede que as famílias acessam seus direitos, o que reforça a necessidade de que haja uma comunicação e articulação institucional efetiva (Deslandes & Campos, 2015). 
· São atribuições dos conselheiros tutelares ainda o encaminhamento de casos específicos a órgãos jurídicos. Ao Ministério Público, os casos em que se verifiquem crime ou infração administrativa contra os direitos das crianças ou adolescentes (Presidência da República, 1990, Art. n. 136, Inciso IV), como, por exemplo, situações em que se verifique a prática de violência doméstica, sexual, etc. contra crianças e adolescentes. 
· “A Psicologia pode e deve se inserir nessa instituição [o CT], de forma a contribuir para a promoção de saúde da população, buscando a garantia do desenvolvimento pleno da criança e do adolescente” (p. 865). 
· O que se defende aqui, no entanto, é que essa promoção de direitos deve se dar para além da prestação de serviços precários ou ausentes no município. Em casos como esses, o corpo técnico perpetua as irregularidades do município na prestação de serviços a crianças e adolescentes. 
· A atuação dos psicólogos deve funcionar no sentido de desvelar as demandas técnicas que são solicitadas à psicologia no campo jurídico, com o devido olhar atento que evita a reprodução da violência estrutural presente na sociedade contemporânea. Isso significa que, ao atender as demandas de ordem jurídica, os psicólogos devem ter um olhar crítico, atentando-se para que, por meio de seu discurso, não sejam alastradas verdades que estigmatizem seus atendidos, mas um olhar de complexidade sobre sua existência e realidade social (Arantes, 2011). 
· A atuação dos psicólogos em CTs deve ter como base ações de promoção à saúde, desenvolvendo a autonomia e potencialidades da população. Nessa perspectiva, os atendidos pelo órgão adotam a postura de sujeitos propriamente ditos, tornando-se mais críticos (Sequeira et al., 2010). Ademais, sua atuação deve ser instrumentalizada pelo ECA, munindo-se da concepção de infância e adolescência apresentada pela lei, qual seja: a de sujeitos de direitos e responsabilidade em situação peculiar do desenvolvimento (Brambilla & Avoglia, 2010). 
· Devido à complexidade que envolve as ações do CT, múltiplas demandas de atendimento podem emergir para os psicólogos, sempre no sentido de subsidiar as ações dos conselheiros tutelares. O presente trabalho apresenta três possíveis atribuições a psicólogos que se insiram em tais equipes técnicas de apoio. 
· Elevado índice de pais busca o CT por orientação com relação aos filhos, frequentemente inseridos em contextos de evasão escolar, práticas de atos infracionais e consumo de substâncias psicotrópicas (Sequeira et al., 2010). Como já citado, esse tipo de demanda pode advir também de encaminhamentos de dirigentes de estabelecimentos de ensino (Presidência da República, 1990, Art. n. 56, II). 
· Os responsáveis, em tais situações, comumente se eximem da implicação direta de sua postura com a conduta dos adolescentes, atribuindo a responsabilidade pelos problemas apresentados às “más companhias” com quem convivem (Sequeira et al., 2010). 
· Pedidos de internações, agressões físicase outros procedimentos coercitivos são recorrentemente defendidos pelos responsáveis como formas eficazes de lidar com o problema (Espíndula, Trindade, & Santos, 2009). 
· Para além dos encontros entre psicólogos e conselheiros tutelares, essas supervisões técnicas podem se dar também a partir de encontros entre psicólogos e os núcleos familiares em atendimento no CT. Tais ações devem ocorrer, contudo, somente de forma pontual, tendo em vista o caráter do CT de fomentar na sociedade civil a postura de reivindicação de direitos. 
· Os conselheiros tutelares, nesse sentido, tornam-se representantes locais desse objetivo constitucional, de modo que o saber técnico não deve se sobrepor ao fazer popular. 
· No que se refere às atividades de fiscalização, o CT pode e deve desenvolver visitas institucionais a programas de atendimento socioeducativos, casas de acolhimento institucional e demais entidades de atendimento a crianças e adolescentes, verificando possíveis infrações administrativas, ameaças e violações dos direitos das crianças e adolescentes (Presidência da República, 1990, Art. n. 95). 
· Os psicólogos, em tal contexto, podem apoiar essas ações, auxiliando os conselheiros tutelares em seu planejamento e os acompanhando nas idas aos locais. 
· A presença dos psicólogos nessas visitas, seguidas de supervisão técnica posterior, podem subsidiar as medidas protetivas delegadas às crianças e adolescentes em atendimento nos locais, bem como os encaminhamentos posteriores ao MP, caso verificadas irregularidades (Presidência da República, 1990, Art. n. 191). 
· A pedido dos conselheiros tutelares, os psicólogos podem também participar de estudos de caso realizados com as equipes técnicas desses locais, seja para o tratamento de questões relacionadas às instituições, seja a seus atendidos. 
· A assessoria ao Poder Executivo na formulação de proposta orçamentária referente aos atendimentos a crianças e adolescentes, por meio da qual o CT atinge sua atribuição de cobrança (Presidência da República, 1990, Art. n. 136, IX), pode também ser subsidiada por psicólogos inseridos no CT. 
· Dado o caráter intersetorial da prática psicológica no contexto das entidades de atendimento às crianças e adolescentes, o conhecimento em psicologia pode munir a proposição de propostas de políticas públicas a diversos setores. 
· Tendo por base o conhecimento sobre as diversas possibilidades de atenção às crianças e adolescentes em diferentes contextos (Educação, Saúde, Assistência Social, etc.), os psicólogos podem auxiliar os conselheiros tutelares no mapeamento de serviços ausentes e precários no município. 
· Dentre as atribuições dos conselheiros tutelares (Presidência da República, 1990, Art. n. 136), destaca-se a delegação de medidas protetivas a crianças e adolescentes que tenham seus direitos ameaçados ou violados, bem como a crianças de até 12 anos incompletos autoras de ato infracional (Inciso I). Cabe ao CT também providenciar as medidas protetivas determinadas pelas autoridades judiciais a adolescentes e jovens de 12 a 21 anos incompletos autores de ato infracional (Inciso VI). 
· As medidas protetivas mencionadas estão descritas nos sete primeiros incisos do artigo 101 do ECA e referem-se a encaminhamento aos pais (Inciso I), orientação, apoio e acompanhamento temporários (Inciso II) e acesso a outros serviços e programas como forma de garantia de seus direitos (Inciso III ao VII). 
AULA 10
Violência contra crianças e adolescentes: questão social, questão de saúde
· A violência contra a criança e o adolescente é todo ato ou omissão cometidos por pais, parentes, outras pessoas e instituições, capazes de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima.
· Implica, de um lado, numa transgressão no poder/dever de proteção do adulto e da sociedade em geral; e de outro, numa coisificação da infância. Isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes têm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condições especiais de crescimento e desenvolvimento.
· A violência contra esses grupos etários, conforme mostra Assis, acompanha a trajetória humana desde os acontecimentos mais primitivos de que se têm registro. E são também inumeráveis as modalidades pelas quais se expressa, dentro das diferentes culturas. 
· A violência contra criança e adolescente, no transcorrer da civilização, além do caráter arbitrário dos pais de decidirem sobre sua vida, sempre esteve muito vinculada ao processo educativo. Ela tem sido considerada, em todos os tempos, como um instrumento de socialização e portanto, como resposta automática a desobediências e rebeldias. 
· Embora muito se tenha caminhado na sociedade ocidental, do ponto de vista ideológico, há estudiosos que divergem da ideia de que sejamos hoje mais respeitosos com as crianças do que nos séculos passados. 
· Em seu belo e extenso trabalho, Guerra comenta que, se no transcurso da história, as sociedades praticavam o infanticídio, os espancamentos, e os incestos, se muitos estados, no passado, sacrificaram e mutilaram suas crianças para aliviar a culpa dos adultos; em nossa época, tão ciosa de sua própria racionalidade, continuamos matando e mutilando crianças e as submetendo à fome. 
· Violência estrutural
· Entendemos por violência estrutural, aquela que incide sobre a condição de vida das crianças e adolescentes, a partir de decisões histórico-econômicas e sociais, tornando vulnerável o seu crescimento e desenvolvimento.
· Por ter um caráter de perenidade e se apresentar sem a intervenção imediata dos indivíduos, essa forma de violência aparece "naturalizada “como se não houvesse nela a ação de sujeitos políticos.
· Portanto é necessário desvendá-la e suas formas de reprodução através de instrumentos institucionais, relacionais e culturais.
· Em suas expressões, a violência estrutural tem várias formas-limite de manifestação. Três maiores expressões de vulnerabilidade são comentadas a seguir: os chamados "meninos e meninas de rua"; os "meninos e meninas trabalhadores" e as "crianças e adolescentes institucionalizados".
· Em relação aos meninos e meninas de rua, muitos estudos têm sido feitos no país e nós mesmos buscamos, através da literatura existente e de trabalho de campo por amostragem em todas as regiões do país, traçar o seu perfil.
· Nas ruas, eles convivem com ameaças a sua vida, indução ao crime, maus tratos praticados por policiais ou por outros, sendo explorados por comerciantes, seguranças, além de serem estigmatizados como "futuros bandidos".
· O caso do trabalho infantil no Brasil vem sendo fortemente acompanhado e desestimulado pelas Organizações Não-Governamentais (ONGs) de defesa de direitos e pela Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Igualmente o próprio governo, através do Ministério da Justiça, está monitorando o problema e criando políticas compensatórias que incentivem os pais a colocarem seus filhos e os manterem na escola.
· Uma terceira forma de expressão da violência estrutural é a institucionalização de crianças e adolescentes, seja como meio de se contrapor ao abandono, seja por motivos considerados ressocializadores. 
· Toda a história revela não só a ineficácia, mas a total incompetência dessas instituições, asilos, reformatórios, serviços de assistência e de "bem estar"
· Violência intra-familiar
· A violência intra-familiar é aquela exercida contra a criança e o adolescente na esfera privada. Geralmente se usa dividir em quatro tipos suas expressões mais visíveis.
· A violência física que é o uso da força física contra a criança e o adolescente, causando-lhes desde uma leve dor, passando por danos e ferimentos de média gravidade até a tentativa ou execução do homicídio. Em geral, as justificativas para tais ações vão desde a preocupação com a segurança, a educação, até a hostilidade intensa. 
· O lar aparece como o local privilegiado para tal prática, embora as crianças que vivem nas ruas ou as institucionalizadas sejam também vítimas frequentes.
· A violência sexual que se configura como todo ato ou jogo sexual, relação

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