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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 HISTÓRIA DA DRENAGEM URBANA........................................................ 4 3 O CONCEITO DRENAGEM URBANA ........................................................ 7 4 SISTEMA DE DRENAGEM ....................................................................... 12 4.1 Microdrenagem .................................................................................. 13 4.2 Macrodrenagem ................................................................................. 13 4.3 Diferença prática entre microdrenagem e macrodrenagem ............... 14 5 IMPACTOS DEVIDO AO ESCOAMENTO PLUVIAL ................................ 14 5.1 Inundações ribeirinhas ....................................................................... 14 5.2 Inundações devido a urbanização ...................................................... 16 6 DISPOSITIVOS DE MICRODRENAGEM URBANA ................................. 19 7 SISTEMA DE DRENAGEM SUSTENTÁVEL ............................................ 25 7.1 Pavimentos permeáveis ..................................................................... 26 7.2 Trincheiras de infiltração .................................................................... 27 7.3 Telhado verde .................................................................................... 28 7.4 Captação e utilização de águas pluviais para fins não potáveis ......... 29 7.5 Reservatórios de detenção ................................................................. 30 8 DRENAGEM SUBTERRÂNEA ................................................................. 31 8.1 Dispositivos de drenagem profunda ou subterrânea .......................... 32 9 PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA ......................................... 39 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ...................................................... 43 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 HISTÓRIA DA DRENAGEM URBANA A drenagem pluvial foi assim tratada como uma prática acessória até meados do século XIX, quando as capitais europeias já formavam grandes aglomerados humanos. As mudanças ocorridas no tratamento da drenagem pluvial na segunda metade do século XIX, tiveram, entretanto, seu germe no século XVIII, quando se constata na Itália que as águas de banhados e zonas alagadiças influenciavam na mortalidade pessoas e animais. Isto foi rapidamente levado em consideração na Inglaterra e na Alemanha e mais tarde na França, e desencadeia-se um processo de extinção de banhados como medida de saúde pública. Também se deu ordens para aterrar ou cobrir as fossas receptoras de esgoto cloacal, e substituí-las por canalizações enterradas (Desbordes, 1987). Assim as redes de esgotos deveriam evacuar as águas contaminadas, o mais rapidamente possível, e para mais longe dos locais de sua produção. Nascia a ideia de livrar-se da água nas cidades, seja ela de origem pluvial ou cloacal. Ou seja, nascia o conceito sanitarista-higienista. (SILVEIRA, 2002) Curiosamente então a drenagem pluvial como ação pública não evoluiu em decorrência da modernização de práticas de engenharia em busca do conforto, mas sim de uma recomendação de profilaxia médica. Evidentemente coube aos engenheiros e urbanistas a tarefa de materializá-la em obras e integrá-las ao espaço urbano, mas infelizmente isto só teve um impulso maior com a ocorrência de epidemias de cólera em grandes cidades do mundo no século XIX, destacando-se na Europa as dos anos 1832 e 1849. O fluxo de pessoas nas viagens marítimas de então, praticamente globalizaram a epidemia de cólera e muitas cidades brasileiras sofreram com ela em 1855 (Costa Franco, 1992, Apud SILVEIRA, 2002). Entre 1850 e o fim do século XIX muitas cidades importantes do mundo, principalmente as capitais europeias, foram dotadas de grandes redes subterrâneas unitárias de esgotos (esgotos pluviais e cloacais conduzidos pelos mesmos condutos). Sob o comando de seu famoso prefeito Haussmann, Paris torna-se emblemática e referência mundial por construir uma imponente rede de esgotos, ajudando a cristalizar o conceito higienista que passa a ser resumido pela expressão “tout à l’égout” no meio técnico francês da época. Apesar de hoje ser uma atração turística 5 de Paris, não foi a rede de esgotos que deu fama a Haussmann, mas sim a profunda reforma urbanística a qual ela estava associada dentro do conceito higienista. Haussmann buscava a higiene pública com a abertura de espaços abertos, como avenidas largas e parques, obras que facilitariam ainda a instalação da infraestrutura urbana, entre as quais as redes de esgotos (Souza e Damasio, 1993 Apud SILVEIRA, 2002). O conceito higienista não demorou a chegar ao Brasil como testemunham as primeiras redes enterradas de esgoto sanitário implantadas em 1864 no Rio de Janeiro, mas ele somente seria aplicado mais decididamente após a proclamação da República em 1889 (Melo Franco, 1968). Nesta época, havia no mundo um casamento bem-sucedido entre a filosofia higienista e o domínio da hidráulica de condutos e canais que permitia promover o saneamento junto com as reformas urbanísticas. Os sanitaristas da época estavam atentos a isso e, no fim do século XIX, o Brasil vê surgir entre eles a grande figura do engenheiro fluminense Saturnino de Brito (1864-1929), formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Adepto do positivismo, ele revoluciona o conceito higienista no Brasil ao trabalhar no saneamento da cidade de Santos (Obras, 1943). Em seu opúsculo Saneamento de Santos de 1898, apresenta argumentos sólidos em favor do sistema separador absoluto (redes de condutos separados para esgotos pluviais e cloacais) contra o sistema dominante da época que era o unitário. (Apud SILVEIRA, 2002) Em decorrência da atuação de Saturnino de Brito, já no início do século XX, o conceito higienista, usando uma rede de drenagem pluvial separada dos esgotos domésticos, ficou estabelecido como regra para as cidades brasileiras. Em 2000, cerca de 82% dos municípios brasileiros com redes subterrâneas tinham sistemas separadores. A intensidade das chuvas tropicais não favorece os sistemas unitários. Entretanto, muitas cidades ou muitos bairros de cidades acabaram adotando um arremedo de sistema unitário, destinando efluentes de fossas sépticas para a rede pluvial. O conceito higienista predominou neste século no mundo inteiro, mas o fim da sua história já foi decretada nos anos 60, nos países desenvolvidos, quando a consciência ecológica expôs suas limitações para levar em conta os conflitos ambientais entre as cidades e o ciclo hidrológico. Havia necessidade de reflexões 6 mais profundas sobre as ações antrópicas densas (urbanização) sobre o meio-ambiente, particularmente sobre a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos. Nascia o conceito ambiental aplicado à drenagem urbana que fez com que os ícones das soluções higienistas deixassem de reinar sozinhos, ou seja, o rol de obras tradicionais como condutos, sarjetas, bocas-de-lobo, arroios retificados, entre outras, teria de ser ampliado para admitir soluções alternativas e complementares à evacuação rápida dos excessos pluviais, dentro de um contexto de preservação ambiental (Tucci e Genz, 1995). Obras de retenção e amortecimento de escoamentos, como pavimentos permeáveis, superfícies e valas de infiltração, reservatórios e lagos de detenção e a preservação dos arroios naturais passaram a fazer parte do vocabulário da drenagem urbana. Além disso, o enfoque ambiental preconiza também o tratamento dos esgotos pluviais que podem ser tão poluidores quanto os esgotos cloacais. (Apud SILVEIRA, 2002) A maioria das obras de drenagem urbana no Brasil seguem, apesar disso ainda, o conceito higienista. A razão principal é que o conceito ambiental é muito mais difícil e caro de aplicar porque exige ações integradas sobre grandes áreas, com conhecimento técnico multidisciplinar, ao contrário das ações higienistas, voltadas a soluções locais, e concebidas unicamente por engenheiros civis. Além disso, o conceito higienista, embora ultrapassado, exerce ainda um atrativo muito grande pela sua simplicidade (toda água circulante deve ir rapidamente para o esgoto, evitando insalubridades e desconfortos, nas casas e nas ruas) e pelo fato das obras de infraestrutura por ele exigidas terem um comportamento dinamicamente restrito, portanto fáceis de dimensionar, pois só têm a função de transporte rápido. O livrar-se rapidamente da água tornou-se praticamente um dogma no meio técnico, convencendo inclusive à população que aplica a mesma ideia nas suas propriedades particulares urbanas. No Brasil, como parece ser em outros países em desenvolvimento, há o agravante ainda do conceito higienista ser mal aplicado, seja por falta de recursos, mau dimensionamento, má execução ou por manutenção deficiente. Adicionalmente, as pressões socioeconômicas exercidas pela sociedade brasileira como um todo agravam o quadro, estabelecendo um cenário difícil para a implantação de qualquer conceito de drenagem urbana, sobretudo a ambiental : urbanização acelerada e desordenada, criação de um mosaico de ocupações (favelas desassistidas vizinhas a bairros equipados) e nível de educação ambiental deficiente 7 (arroios e bocas-de-lobo vistos por grande parte da população como locais de destino de dejetos e lixo). A história da drenagem urbana no Brasil apesar dessas dificuldades parece estar hoje numa transição entre a abordagem higienista e a ambiental. Muitas capitais, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, estão promovendo ações no sentido de estabelecer planos diretores de drenagem urbana, seguindo os preceitos do conceito ambiental que passa pela conscientização de que a drenagem urbana deve se integrar ao planejamento ambiental das cidades, deixando de ser apenas um mero problema de engenharia. (SILVEIRA, 2002) A história da drenagem urbana que o Brasil quer redirecionar é uma história já em andamento nos países desenvolvidos. Agora o que importa é uma correta gestão dos impactos do meio urbano sobre o meio-ambiente hidrológico e isto transcende a um simples receituário de obras padrão e remete a uma abordagem mais complexa incluindo aspectos técnicos de engenharia, sanitários, ecológicos, legais e econômicos e que exige uma conexão muito mais estreita com a concepção e gestão dos espaços urbanos. O ciclo hidrológico é elemento chave na definição do saneamento urbano e da drenagem. 3 O CONCEITO DRENAGEM URBANA Fonte: aquafluxus.com.br 8 Ao se tratar de entender a condução e o exercício das atividades relacionadas à atenuação de enchentes em áreas urbanas, que a priori devem ser pensadas preventivamente, inicia-se por algumas questões elementares. Buscando respostas a estas questões poderemos fazer alguma aproximação aos temas. (POMPÊO, 2000) - Quais as causas das enchentes em áreas urbanas? - O que significam a drenagem e o controle de cheias em áreas urbanas? De uma forma geral, as enchentes são fenômenos naturais que ocorrem periodicamente nos cursos d’água devido a chuvas de magnitude elevada. As enchentes em áreas urbanas podem ser decorrentes destas chuvas intensas de largo período de retorno; ou devidas a transbordamentos de cursos d’água provocados por mudanças no equilíbrio no ciclo hidrológico em regiões a montante das áreas urbanas; ou ainda, devidas à própria urbanização. O estudo da ocorrência de chuvas intensas é útil na busca de soluções apropriadas aos problemas de enchentes, entretanto, é por intermédio do estudo dos processos hidrológicos que se definem as ações concretas. (POMPÊO, 2000) O desmatamento e a substituição da cobertura vegetal natural são fatores modificadores que, em muitas situações, resultam simultaneamente em redução de tempos de concentração e em aumento do volume de escoamento superficial, causando extravasamento de cursos d’água. Considerando a importância da inter- relação entre uso e ocupação do solo e os processos hidrológicos superficiais, devemos destacar inicialmente que a abordagem dos problemas precisa considerar a extensão superficial na qual estas relações se manifestam. A bacia hidrográfica é a unidade mínima para qualquer estudo hidrológico e assim têm sido historicamente realizados os trabalhos teóricos, experimentais e as ações de planejamento de recursos hídricos. Entretanto, esta unidade é ainda ignorada em muitos trabalhos de drenagem urbana. (POMPÊO, 2000) As enchentes provocadas pela urbanização devem-se a diversos fatores, dentre os quais destacamos o excessivo parcelamento do solo e a consequente impermeabilização das grandes superfícies, a ocupação de áreas ribeirinhas tais como várzeas, áreas de inundação frequente e zonas alagadiças, a obstrução de 9 canalizações por detritos e sedimentos e também as obras de drenagem inadequadas. Argumenta-se que a expansão urbana deve realizar-se de forma planejada. Não se pode ignorar, todavia, que a expansão e os fatores acima apontados são antes orientados por questões sociais que os antecedem. Quando existe, o planejamento que se apoia fortemente na execução de obras para atenuação de cheias, esquece que em algum momento as limitações financeiras irão impedir a implementação das obras previstas, como lembram Nascimento et al. (1997). Além disso, a dinâmica social reconfigura o espaço nestes momentos em que rareiam os recursos e as novas soluções exigidas a partir de então tornam-se mais complexas. (Apud POMPÊO, 2000) Este tipo de planejamento também se esquece que a histórica ausência de soluções integradas e harmônicas entre os sistemas urbanos e os sistemas naturais é também um fator significativo para a ocorrência de enchentes frequentes. Resumidamente estabelecidas as causas das enchentes em áreas urbanas, cabe a proposição de uma abordagem que seja coerente e sistemática para as ações de mitigação. É neste contexto que se situa a segunda questão levantada. Ela refere- se à forma de conceituar drenagem e controle de cheias em áreas urbanas e, consequentemente, refere-se à base conceitual dos princípios que orientam as ações. A partir da década de 60, passou-se, em alguns países, a questionar a drenagem urbana realizada de forma tradicional que, por intermédio de obras destinadas a retirar rapidamente as águas acumuladas em áreas importantes, transfere o problema para outras áreas ou para o futuro. Sob esta concepção abrigam- se o projeto de grandes sistemas de galerias pluviais e as ações destinadas à “melhoria do fluxo” em rios e canais, concretizadas atravésde cortes de meandros, retificações e mudanças de declividade de fundo. Esta visão que ainda predomina em alguns meios técnicos, focaliza o controle do escoamento na própria calha do curso d’água, dando pequena importância à geração do escoamento nas superfícies urbanizadas. (POMPÊO, 2000) Nos últimos trinta anos, foram introduzidas outras formas de abordar os problemas. As planícies de inundação passaram a ser objeto de planejamento, sofrendo restrições quanto à ocupação e ao tipo de obras, visando principalmente a 10 garantir a área da seção de escoamento e a minimizar as perdas de carga hidráulica em decorrência de edificações nestas áreas. Foram introduzidas as denominadas medidas compensatórias que buscam compensar os efeitos da urbanização, atuando sobre os processos hidrológicos e visando à redução de volumes ou vazões, em diferentes concepções quanto ao porte e localização das obras (Nascimento et al., 1997, Apud POMPÊO, 2000). Os reservatórios de grande porte destinados à acumulação e ao amortecimento de cheias, definidos a partir de zonas de acumulação naturais, são raramente encontrados em cidades brasileiras. Mais recentemente foram introduzidos reservatórios subterrâneos artificiais destinados a reduzir enchentes em áreas urbanas consolidadas; seu custo é, todavia, muito elevado. Recentemente vêm-se estudando a redução de vazões a partir de armazenamentos temporários difusos nos próprios lotes urbanos (Genz e Tucci, 1995). Há dois aspectos a considerar. O emprego deste tipo de técnica é delicado já que pressupõe instalações em todas as propriedades individuais e manutenção permanente pelo próprio morador. Em decorrência disto, é necessário o comprometimento responsável dos cidadãos. O outro aspecto a considerar é que mesmo com este tipo de medida, para não resultar no agravamento dos problemas, a rede de galerias, por sua vez, deverá possuir capacidade e estar preparada para atuar independentemente, ainda que em situações emergenciais. (Apud POMPÊO, 2000) A redução de volumes é baseada em técnicas de infiltração que devem operar a partir do instante em que a precipitação atinge as superfícies. Isto implica não somente na execução de obras difusas, mas, principalmente, na incorporação de uma nova postura tecnológica no desenvolvimento de materiais de pavimentação, normativa na sua utilização e metodológica na ocupação dos espaços públicos e privados. O termo drenagem urbana sustentável tem origem recente. Durante as últimas três décadas, a percepção da degradação ambiental generalizada e a crítica aos estilos de desenvolvimento apoiados em uma exploração irracional da natureza vêm motivando numerosas discussões e novas propostas que permitam a sobrevivência do ser humano. Aqueles muito otimistas não reconhecem a dimensão destas questões 11 e preferem esquecer os problemas, acreditando que alguma solução tecnológica poderá advir no futuro. Outros, mais realistas, avisando que a Terra é o único planeta habitado conhecido, preferem propor desde já. Sob este pensamento surgiu o desenvolvimento sustentável, um estilo de desenvolvimento voltado para a sustentabilidade, conceito que se estende a tudo, inclusive à drenagem urbana. Pronk e Haq (1992) afirmam que o desenvolvimento sustentável se relaciona com um processo de formulação de políticas que permitem um desenvolvimento que seja sustentável sob o ponto de vista econômico, social e ecológico. Prosseguem afirmando que “isto significa que o consumo atual não pode ser financiado de forma prolongada levando a uma dívida econômica que outros deverão pagar. Isto também significa que deve haver suficiente inversão na educação e saúde da população de hoje de maneira a não criar uma dívida social para as gerações futuras. E os recursos naturais devem ser utilizados de maneira a não criar dívidas ecológicas por sobreexplotação da capacidade de sustento e da capacidade produtiva da Terra”. Portanto, em uma aproximação geral se pode dizer então que a perspectiva da sustentabilidade deve contemplar simultaneamente os três aspectos mencionados. (Apud POMPÊO, 2000) A perspectiva da sustentabilidade associada à drenagem urbana introduz uma nova forma de direcionamento das ações, baseada no reconhecimento da complexidade das relações entre os ecossistemas naturais, o sistema urbano artificial e a sociedade. Esta postura exige que drenagem e controle de cheias em áreas urbanas sejam reconceitualizadas em termos técnicos e gerenciais. A água exerce um papel importante no meio urbano, havendo necessidades de atendimento a demandas diferenciadas, questões relativas à sua qualidade, disponibilidade e escoamento de águas de chuva. A gestão destas águas constitui grande parte do saneamento urbano. Explicar a relação do saneamento com a água é, como diz a sabedoria popular, chover no molhado. A gestão da água no meio urbano é um caso particular da gestão de recursos hídricos. Em consequência, a ação institucional deve integrar, por um lado, a gestão de recursos hídricos e, por outro, o saneamento ambiental. Além disso, o planejamento de atividades urbanas relacionadas à água deve estar integrado ao próprio planejamento urbano, incluindo- se aqui o desenho da malha urbana e sua expansão, o zoneamento de atividades, a 12 rede viária e de transportes, fluxos de informações, aspectos paisagísticos etc. Ellis (1995) relaciona os resultados como benefícios econômicos, estéticos, ecológicos, recreacionais e aprimoramento do potencial de uso da terra. Assim, a integração institucional deve ser reflexo de uma concepção ambiental sistêmica. (Apud POMPÊO, 2000) Apesar da distância que nos separa desta realidade, ao buscá-la, vamos em direção à melhoria da qualidade de vida. Igualmente importante, a participação da sociedade é tida como ingrediente essencial no traçado do caminho ao desenvolvimento sustentável, conforme exaustivamente mencionado na literatura ambiental recente. Com muita propriedade, Geldof (1995) coloca que se deve apostar menos na solução tecnológica e mais na participação direta dos cidadãos. (Apud POMPÊO, 2000) Ao buscar caminhos para o desenvolvimento Aguiar e Aguiar (1998) apontam a relação entre cultura e tecnologia e destacam a necessidade de uma contracultura. A tecnologia que deve acompanhá-la também deve ser socialmente sustentável, o que implica na participação democrática da sociedade para a tomada de decisão e na execução das ações, acrescentamos. Evidentemente esta postura é eminentemente política, todavia nunca é demais lembrar o papel central da educação ambiental na construção do desenvolvimento sustentável. (Apud POMPÊO, 2000) 4 SISTEMA DE DRENAGEM Fonte: www.geofoco.com.br 13 O sistema de drenagem deve ser entendido como o conjunto da infraestrutura existente em uma cidade para realizar a coleta, o transporte e o lançamento final das águas superficiais. Inclui ainda a hidrografia e os talvegues. É constituído por uma série de medidas que visam a minimizar os riscos a que estão expostas as populações, diminuindo os prejuízos causados pelas inundações e possibilitando o desenvolvimento urbano de forma harmônica, articulada e ambientalmente sustentável. Drenagem é o termo empregado na designação das instalações destinadas a escoar o excesso de água, seja em rodovias, na zona rural ou na malha urbana. A drenagem urbana não se restringe aos aspectos puramente técnicos impostos pelos limites restritos à engenharia, pois compreende o conjunto de todas as medidas a serem tomadas que visem à atenuação dos riscos e dos prejuízos decorrentes de inundações aos quais a sociedade está sujeita. O sistema pode ser dividido em: 4.1 Microdrenagem São estruturas que conduzem as águas do escoamento superficial para as galerias ou canais urbanos. É constituída pelas redes coletoras de águas pluviais,poços de visita, sarjetas, bocas-de-lobo e meios-fios. 4.2 Macrodrenagem São dispositivos responsáveis pelo escoamento final das águas pluviais provenientes do sistema de microdrenagem urbana. É constituída pelos principais talvegues, fundos de vales, cursos d’água, independente da execução de obras específicas e tampouco da localização de extensas áreas urbanizadas, por ser o escoadouro natural das águas pluviais. 14 4.3 Diferença prática entre microdrenagem e macrodrenagem Para uma correta gestão da drenagem urbana é preciso ter claro seus conceitos e um deles, dos mais básicos é a distinção entre microdrenagem e macrodrenagem. Bidone e Tucci (1995) definem a microdrenagem urbana como o sistema de condutos pluviais a nível de loteamento ou de rede primária urbana. A macrodrenagem abrange córregos, rios, canais e galerias de maior porte. (SILVEIRA, 2002) 5 IMPACTOS DEVIDO AO ESCOAMENTO PLUVIAL De acordo com Tucci (2002) o escoamento pluvial pode produzir inundações e impactos nas áreas urbanas devido a dois processos, que ocorrem isoladamente ou combinados: - Inundações de áreas ribeirinhas: os rios geralmente possuem dois leitos, o leito menor onde a água escoa na maioria do tempo e o leito maior, que é inundado com risco geralmente entre 1,5 e 2 anos. O impacto devido à inundação ocorre quando a população ocupa o leito maior do rio, ficando sujeita à inundação; - Inundações devido à urbanização: as enchentes aumentam a sua frequência e magnitude devido à impermeabilização, ocupação do solo e à construção da rede de condutos pluviais. O desenvolvimento urbano pode também produzir obstruções ao escoamento, como aterros e pontes, drenagens inadequadas e obstruções ao escoamento junto a condutos e assoreamento. 5.1 Inundações ribeirinhas Estas enchentes ocorrem, principalmente, pelo processo natural no qual o rio escoa pelo seu leito maior. Este tipo de enchente é decorrência de processo natural do ciclo hidrológico. Quando a população ocupa o leito maior, que são áreas de risco, 15 os impactos são frequentes. Essas condições ocorrem, em geral, devido às seguintes ações: (TUCCI, 2002) - No Plano Diretor Urbano da quase totalidade das cidades brasileiras, não existe nenhuma restrição quanto ao loteamento de áreas de risco de inundação, a sequência de anos sem enchentes é razão suficiente para que empresários loteiem áreas inadequadas; - Invasão de áreas ribeirinhas, que pertencem ao poder público, pela população de baixa renda; - Ocupação de áreas de médio risco, que são atingidas com frequência menor, mas que quando o são, sofrem prejuízos significativos. Os principais impactos sobre a população são: - Prejuízos de perdas materiais e humanas; - Interrupção da atividade econômica das áreas inundadas; - Contaminação por doenças de veiculação hídrica como leptospirose, cólera, entre outras; - Contaminação da água pela inundação de depósitos de material tóxico, estações de tratamentos entre outros. O gerenciamento atual não incentiva a prevenção destes problemas, já que à medida que ocorre a inundação o município declara calamidade pública e recebe recursos a fundo perdido e não necessita realizar concorrência pública para gastar. Como a maioria das soluções sustentáveis passam por medidas não-estruturais que envolvem restrições à população, dificilmente um prefeito buscará este tipo de solução porque geralmente a população espera por uma obra. Enquanto que, para implementar as medidas não-estruturais, ele teria que interferir em interesses de proprietários de áreas de risco, o que politicamente é complexo a nível local. (TUCCI, 2002) 16 Para buscar modificar este cenário é necessário um programa a nível estadual voltado à educação da população, além de atuação junto aos bancos que financiam obras em áreas de risco. 5.2 Inundações devido a urbanização A medida que a cidade se urbaniza, em geral, ocorrem os seguintes impactos (TUCCI, 2002): - Aumento das vazões máximas (em até 7 vezes) e da sua frequência devido ao aumento da capacidade de escoamento através de condutos e canais e impermeabilização das superfícies; - Aumento da produção de sedimentos devido à desproteção das superfícies e à produção de resíduos sólidos (lixo); - Deterioração da qualidade da água superficial e subterrânea, devido a lavagem das ruas, transporte de material sólido e às ligações clandestinas de esgoto cloacal e pluvial e contaminação de aquíferos; - Devido à forma desorganizada como a infraestrutura urbana é implantada, tais como: a) pontes e taludes de estradas que obstruem o escoamento; b) redução de seção do escoamento por aterros de pontes e para construções em geral; c) deposição e obstrução de rios, canais e condutos por lixos e sedimentos; d) projetos e obras de drenagem inadequadas, com diâmetros que diminuem para jusante, drenagem sem esgotamento, entre outros. Alguns dos principais impactos ambientais produzidos pela urbanização são destacados a seguir (TUCCI, 2002): Aumento da temperatura - As superfícies impermeáveis absorvem parte da energia solar aumentando a temperatura ambiente, produzindo ilhas de calor na parte central dos centros urbanos, onde predomina o concreto e o asfalto. O asfalto, devido a sua cor, absorve mais energia da radiação solar do que as superfícies naturais e o 17 concreto. A medida que as superfícies de concreto envelhecem tendem a escurecer e a aumentar a absorção de radiação solar. O aumento da absorção de radiação solar por parte da superfície aumenta a emissão de radiação térmica de volta para o ambiente, gerando o calor. O aumento de temperatura também cria condições de movimento de ar ascendente que pode gerar aumento de precipitação. Aumento de sedimentos e material sólido - As principais consequências ambientais da produção de sedimentos são as seguintes: - Assoreamento das seções de canalizações da drenagem, com redução da capacidade de escoamento de condutos, rios e lagos urbanos. A lagoa da Pampulha (em Belo Horizonte) é um exemplo de um lago urbano que tem sido assoreado. - Transporte de poluente agregado ao sedimento, que contaminam as águas pluviais. Qualidade da água pluvial - A quantidade de material suspenso na drenagem pluvial apresenta uma carga muito alta considerando a vazão envolvida. Esse volume é mais significativo no início das enchentes. Os primeiros 25 mm de escoamento superficial geralmente transportam grande parte da carga poluente de origem pluvial (Schueller, 1987). Schueller (1987) cita que a concentração média dos eventos não se altera em função do volume do evento e é característico de cada área. (Apud TUCCI, 2002) Os esgotos podem ser combinados (cloacal e pluvial num mesmo conduto) ou separados (rede pluvial e cloacal separadas). A legislação estabelece o sistema separador, mas na prática isto não ocorre devido às ligações clandestinas e à falta de rede cloacal. Devido à falta de capacidade financeira para ampliação da rede cloacal, algumas prefeituras têm permitido o uso da rede pluvial para transporte do cloacal, o que pode ser uma solução inadequada à medida que esse esgoto não é tratado. Quando o sistema cloacal é implementado a grande dificuldade envolve a retirada das ligações existentes da rede pluvial, o que na prática resulta em dois sistemas misturados com diferentes níveis de carga. (TUCCI, 2002) 18 As vantagens e desvantagens dos dois sistemas têm gerado longas discussões sobre o assunto em todo o mundo. Considerando a inter-relação com a drenagem, o sistema unitário geralmente amplia o custo do controle quantitativo da drenagem pluvial a medida que exige que as detenções sejam no subsolo. Este tipo de construção tem um custo unitário 7 vezes superior à detenção aberta (IPH, 2000). As outras desvantagenssão: na estiagem, nas áreas urbanas o odor pode ser significativo; durante as inundações, quando ocorre extravasamento, existe maior potencial de proliferação de doenças. Este cenário é mais grave quando os extravasamentos forem frequentes. (Apud TUCCI, 2002) As cidades, que de outro lado priorizaram a rede de esgotamento sanitário e não consideraram os pluviais sofrem frequentes inundações com o aumento da urbanização, como tem acontecido em Santiago e Montevideo. Não existem soluções únicas e milagrosas, mas soluções adequadas e racionais para cada realidade. O ideal é buscar conciliar a coleta e tratamento do esgotamento sanitário somado a retenção e tratamento do escoamento pluvial dentro de uma visão integrada de tal forma que tanto os aspectos higiênicos como ambientais sejam atendidos. (TUCCI, 2002) A qualidade da água da rede pluvial depende de vários fatores: da limpeza urbana e sua frequência, da intensidade da precipitação e sua distribuição temporal e espacial, da época do ano e do tipo de uso da área urbana. Os principais indicadores da qualidade da água são os parâmetros que caracterizam a poluição orgânica e a quantidade de metais. Contaminação de aquíferos - As principais condições de contaminação dos aquíferos urbanos são devidas ao seguinte (TUCCI, 2002): - Aterros sanitários contaminam as águas subterrâneas pelo processo natural de precipitação e infiltração. Deve-se evitar que sejam construídos aterros sanitários em áreas de recarga e deve-se procurar escolher as áreas com baixa permeabilidade. 19 Os efeitos da contaminação nas águas subterrâneas devem ser examinados quando da escolha do local do aterro; - Grande parte das cidades brasileiras utilizam fossas sépticas como destino final do esgoto. Esse conjunto tende a contaminar a parte superior do aquífero. Esta contaminação pode comprometer o abastecimento de água urbana quando existe comunicação entre diferentes camadas dos aquíferos através de percolação e de perfuração inadequada dos poços artesianos; - A rede de drenagem pluvial pode contaminar o solo através de perdas de volume no seu transporte e até por entupimento de trechos da rede que pressionam a água contaminada para fora do sistema de condutos. 6 DISPOSITIVOS DE MICRODRENAGEM URBANA Os elementos principais da microdrenagem são os meios-fios, as sarjetas, as bocas de lobo, os poços de visita, as galerias, os condutos forçados, as estações de bombeamento e os sarjetões. a) Meio-fio São constituídos de blocos de concreto ou de pedra, situados entre a via pública e o passeio, com sua face superior nivelada com o passeio, formando uma faixa paralela ao eixo da via pública. Têm a função de definir os limites do passeio e do leito carroçável (rua) (BOTELHO, 2006, Apud ALMEIDA et al., 2017). 20 b) Sarjetas e sarjetões Fonte: 3jpisos.com.br Sarjetas são canais na lateral da rua. Nelas, as águas pluviais são transportadas para as bocas de lobo e galerias pluviais. O espalhamento, ou invasão do pavimento, é a largura superior da água que escoa na rua, medida a partir da guia ou meio-fio (SHAMMAS et al., 2013, Apud ALMEIDA et al., 2017). Os sarjetões e os rasgos são dispositivos de encaminhamento de fluxo superficiais, assim como as sarjetas. São utilizados para interligar pontos baixos próximos e contínuos sem a necessidade de bocas de lobo e galerias subterrâneas. Os sarjetões são formados pela própria pavimentação nos cruzamentos das vias públicas, formando calhas, que servem para orientar o fluxo das águas que escoam pelas sarjetas (AZEVEDO NETTO, 2015, Apud ALMEIDA et al., 2017) As sarjetas e os sarjetões comportam-se como canais de seção triangular. Geralmente, são dimensionados por critérios que não consideram sua função hidráulica. Deve-se determinar sua capacidade hidráulica (máxima vazão de escoamento) para comparação com a vazão originada da chuva de projeto e decidir sobre as posições das bocas de lobo que retiram essas águas da superfície das ruas (AZEVEDO NETTO, 2015, Apud ALMEIDA et al., 2017). 21 c) Bocas-de-lobo Fonte: agronomos.ning.com São estruturas hidráulicas para captação das águas superficiais transportadas pelas sarjetas e sarjetões, em geral estão situadas sob o passeio ou sob a sarjeta. O objetivo principal desses dispositivos é minimizar o espalhamento de água pela rua, levando-a para as galerias (AZEVEDO NETTO, 2015; SHAMMAS et al., 2013, Apud ALMEIDA et al., 2017). De acordo com Yoshizane (2003) dependendo da estrutura, localização ou do funcionamento, as bocas coletoras podem ser classificadas da seguinte maneira: a) Quanto a estrutura da abertura ou entrada: - Simples ou lateral; - Gradeadas com barras longitudinais, transversais ou mistas (boca de leão); 22 - Combinada; - Múltipla. b) Quanto a localização ao longo das sarjetas: - Intermediárias; - De cruzamentos; - De pontos baixos. c) Quanto ao funcionamento: - Livre; - Afogada. A indicação do tipo de boca coletora é de essencial importância para a eficiência da drenagem das águas de superfície. Para que esta opção seja correta, deve-se analisar diversos fatores físicos e hidráulicos, tais como ponto de localização, vazão de projeto, declividade transversal e longitudinal da sarjeta e da rua, interferência no tráfego e possibilidades de obstruções. A seguir são citadas, para cada tipo de boca coletora, as situações em que melhor cada um a se adapta. (YOSHIZANE, 2003) a) Boca coletora lateral: - Pontos intermediários em sarjetas com pequena declividade longitudinal (1 a 5%); - Presença de materiais obstrutivos nas sarjetas; - Vias de tráfego intenso e rápido; - Montante dos cruzamentos. b) Boca coletor a com grelha: - Sarjetas com limitação de depressão; - Inexistência de materiais obstrutivos; 23 - Em pontos intermediários em ruas com alta declividade longitudinal (1 a 10%). c) Combinada: - Pontos baixos de ruas; - Pontos intermediários da sarjeta com declividade média entre 5 e 1 0%; - presença de detritos. c) Múltipla: - Pontos baixos; - Sarjetas com grandes vazões. d) Tubos de ligação (TL) São ligações entre as bocas de lobo e os poços de visita ou caixas de ligação. Fonte: aecweb.com.br 24 e) Poços de visita Fonte: totalpavsp.com.br São câmaras visitáveis com a função principal de permitir o acesso às galerias para inspeção e manutenção (desobstrução), além de receber ligações de bocas de lobo. Para otimizar esses objetivos, costumam ser alocados nos pontos de reunião dos condutos (cruzamento de ruas), mudanças de seção, de declividade e de direção (AZEVEDO NETTO, 2015; BOTELHO, 2006, Apud ALMEIDA et al., 2017). f) Galerias. São as canalizações públicas destinadas a escoar as águas pluviais oriundas das ligações privadas e das bocas-de-lobo. g) Condutos forçados e estações de bombeamento. Quando não há condições de escoamento por gravidade para a retirada da água de um canal de drenagem para um outro, recorre-se aos condutos forçados e às estações de bombeamento. 25 7 SISTEMA DE DRENAGEM SUSTENTÁVEL Fonte: www.novaeradrenagem.com.br Perante o cenário constante de inundações, surge a necessidade de projetar sistemas de drenagem com maior eficiência e mais sustentáveis, visto que aumentar a capacidade de escoamento dos sistemas existentes seria uma solução pouco econômica e em condições meteorológicas extremas não resolveria o problema na íntegra. Face ao exposto, surge o conceito de drenagem sustentável, cujo objetivo principal é regenerar o ciclo hidrológico natural, através da incorporação de novas técnicas coma finalidade de amortecer as vazões de pico e atenuar o nível de poluição presente nas águas das chuvas descarregadas nos meios receptores (LOURENÇO, 2014, Apud ONEDA, 2018). Ainda segundo Lourenço (2014), a drenagem sustentável visa o controle do escoamento superficial o mais próximo possível do local onde a precipitação atinge o solo – controle do escoamento na fonte. A redução do escoamento processa-se pela infiltração do excesso de água no subsolo, pela evaporação e evapotranspiração – que devolve parte da água à atmosfera – e pelo armazenamento temporário, possibilitando a reutilização da água ou a sua libertação lenta, após as chuvas. (Apud ONEDA, 2018) 26 As principais medidas de controle localizado no lote, estacionamento, parques e passeios são denominadas normalmente de controle na fonte e as principais medidas são as seguintes (TUCCI, 2007, Apud ONEDA, 2018): - Aumento de áreas de infiltração e percolação. - Armazenamento temporário em reservatórios residenciais ou telhados. A seguir são apresentadas algumas soluções em drenagem urbana sustentável que se caracterizam pelo controle na fonte. 7.1 Pavimentos permeáveis Fonte: forumdaconstrucao.com.br Os pavimentos permeáveis são uma técnica alternativa para a gestão das águas pluviais em meio urbano. Distinguem-se dos pavimentos tradicionais por permitirem a drenagem das águas pluviais através da superfície para as camadas subjacentes, onde a água é armazenada temporariamente até se infiltrar no solo, ser reutilizada ou ser encaminhada para outro componente de drenagem (LOURENÇO, 2014, Apud ONEDA, 2018). Segundo Araújo, Tucci e Goldenfum (2000), o pavimento permeável é um dispositivo de infiltração onde o escoamento superficial é desviado através de uma 27 superfície permeável para dentro de um reservatório de pedras localizado sob a superfície do terreno. Os pavimentos permeáveis são compostos por duas camadas de agregados (uma de agregado fino ou médio e outra de agregado graúdo) mais a camada do pavimento permeável propriamente dito. (Apud ONEDA, 2018) As vantagens desse tipo de controle são as seguintes: redução do escoamento superficial previsto em relação à superfície impermeável; redução dos condutos da drenagem pluvial; redução de custos do sistema de drenagem pluvial e da lâmina de água de estacionamento e passeios. As desvantagens são: a manutenção do sistema para evitar que fique colmatado com o tempo; maior custo direto de construção (sem considerar o benefício de redução dos condutos); contaminação dos aquíferos (TUCCI, 2007, Apud ONEDA, 2018). Estes pavimentos permitem uma redução de vazão da ordem de 20 a 50% e de volume de escoamento entre 15 e 30%. Do ponto de vista da qualidade da água, o efeito depurador aponta para eficiências de redução em termos de sólidos suspensos (entre 50 a 90%), de carga orgânica (entre 50 e 70%) e de metais pesados, especificamente de chumbo (entre 75 e 95 %). (ONEDA, 2018) 7.2 Trincheiras de infiltração Fonte: nucleodoconhecimento.com.br 28 As trincheiras de infiltração são dispositivos pouco profundos (profundidade em geral não superior a um metro), de desenvolvimento longitudinal, e que se destinam a recolher águas pluviais perpendicularmente ao seu desenvolvimento. A água recolhida é posteriormente infiltrada no solo, retida na trincheira ou transportada até um ponto de destino final (meio receptor ou coletor). Contribuem significativamente para a redução do escoamento superficial e o risco de inundação, por promoverem o armazenamento temporário das águas pluviais e favorecerem a infiltração (LOURENÇO, 2014). A geometria depende da infiltrabilidade do solo e da própria área disponível para que se proceda à infiltração. Dependendo das condições locais e do volume a infiltrar, o projeto pode priorizar a infiltração, o armazenamento ou ambos (SILVA, 2007, Apud ONEDA, 2018). A principal dificuldade encontrada no uso desse tipo de dispositivo é o entupimento dos vazios entre os elementos pelo material fino transportado, por isso é recomendado o uso de um filtro de material geotêxtil. A manutenção é necessária com limpeza da cobertura e verificação da capacidade de armazenamento de água (TUCCI, 2007, Apud ONEDA, 2018). 7.3 Telhado verde Fonte: weg.net Na busca por um desenvolvimento sustentável os telhados verdes juntamente com outros procedimentos podem ser incorporados nos centros urbanos com a 29 finalidade de minimizar as enchentes urbanas. Este tipo de cobertura contribui para a absorção das águas pluviais, pois, é capaz de escoar, em decorrência de uma precipitação, menos volume de água do que um telhado convencional. Consistem no desenvolvimento de um revestimento vegetal (plantas, flores, arbustos e/ou árvores) ao nível da cobertura, cultivado de forma intencional (LOURENÇO, 2014, Apud ONEDA, 2018). Segundo Baldessar e Tavares (2012), o telhado verde é composto, basicamente, por camadas que de cima para baixo incluem: a vegetação, substrato, filtro de tecido de drenagem e camadas de retenção de água, camada de proteção da raiz, isolamentos, impermeabilização e um terraço ou pavimento, sendo algumas delas opcionais. O armazenamento em telhados apresenta algumas dificuldades, que são a manutenção e o reforço das estruturas. Devido às características do clima brasileiro e do tipo de material usualmente utilizado nas coberturas, esse tipo de controle dificilmente seria aplicável à realidade brasileira (TUCCI, 2007, Apud ONEDA, 2018). 7.4 Captação e utilização de águas pluviais para fins não potáveis Fonte: eosconsultores.com.br 30 O aproveitamento de água de chuva é composto por um sistema relativamente simples que se caracteriza pela coleta de água das áreas impermeáveis, geralmente de coberturas, seu transporte e armazenamento. Este armazenamento pode ser feito através de uma cisterna no piso ou diretamente na caixa d`água elevada. Usualmente a cisterna é utilizada quando há a necessidade de armazenamento de um volume muito grande de água ou quando não há altura suficiente da cobertura para a coleta direta das calhas até o reservatório. Da cisterna a água pode ser conduzida até um reservatório superior através de bombeamento ou diretamente para os pontos de utilização empregando um pressurizador, geralmente quando a água é utilizada apenas para torneiras de jardim (OLIVEIRA, et. al.,2007, Apud ONEDA, 2018). O aproveitamento de águas pluviais, além de promover a redução de vazão de descarga para o sistema de drenagem urbana, promove a redução do consumo de água potável. O sistema possibilita que o usuário armazene a água de chuva precipitada sobre a área edificada para sua posterior utilização em atividades que não exijam água potável, tais como irrigação de áreas verdes, lavagem de pisos e descarga em bacias sanitárias. Ao se utilizar água não potável para estes fins, economiza-se a água que foi aduzida e tratada pelo sistema público de água potável, a qual pode atender a um número maior de usuários com a mesma infraestrutura de saneamento básico instalada (JOHN e PRADO, 2010, Apud ONEDA, 2018). 7.5 Reservatórios de detenção Fonte: solucoesparacidades.com.br 31 Essa solução exige a construção de reservatórios de detenção, que segundo Canholi (2014), a finalidade dessa solução é reduzir o pico das enchentes, por meio do amortecimento conveniente das ondas de cheia obtida pelo armazenamento de parte do volume escoado. Conforme Ros (2012), os reservatórios de detenção se caracterizam por ter volume de reservação inicial igual a zero. Desta forma, nas condições ideais e corretas de operação e manutenção, esses reservatórios estão sempre com volume zerado quando um evento de chuva se inicia. Esse reservatório permite o amortecimento dos picos de cheia de vazão através do armazenamento departe do hidrograma de cheia. Seu esvaziamento pode ser através de bombeamento ou por gravidade, ou ainda por sistema misto, porém em todos os casos de vem ser previstas estruturas de extravasamento de emergência. (Apud ONEDA, 2018) Essas soluções técnicas (retenção e aproveitamento) das águas pluviais são as soluções que exigem maior investimento na concepção e manutenção do sistema, mas muitas vezes são a solução contra enxurradas, enchentes e aproveitamento da água da chuva. 8 DRENAGEM SUBTERRÂNEA A finalidade dos sistemas de drenagem subterrânea é controlar o nível de água do solo, removendo o excesso. Manter o nível de água desejado é importante em muitas áreas, como agricultura, construção civil e engenharia. Por exemplo, eles aumentam o rendimento das culturas de plantio, mantendo o nível da água abaixo das raízes, além de ajudar na segurança dos motoristas, prevenindo o acúmulo de água nas estradas e rodovias. O tipo de drenagem indicada para uma área depende do tipo de solo e pluviosidade. Um projeto de drenagem profunda tem como finalidade dimensionar os dispositivos e a especificação dos materiais que mais se adequam, para promover a interceptação e/ou remoção, coleta e condução das águas que vem do lençol freático e da infiltração superficial nas camadas do pavimento (JABOR, 2007). Segundo Silva (2009), é conveniente saber também que os sistemas de drenagem devem ser considerados para pavimentos rígidos e flexíveis, sendo assim, sua colocação deve 32 ser feita relativamente a situações que estão perfeitamente sinalizadas. (Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) 8.1 Dispositivos de drenagem profunda ou subterrânea Dreno Profundo Fonte: brasilferroviario.com.br Segundo a especificação técnica do DER (2007, Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) os drenos profundos “são dispositivos utilizados para rebaixar o lençol freático, em cortes em solo ou rocha, evitando que as águas subterrâneas possam afetar a resistência do material do sub-leito ou pavimento.” Estes drenos são, preferivelmente, instalados com 1,50 a 2,00 m de profundidade, tendo como objetivo captar e amenizar o lençol freático e, por consequência, proteger a estrada em si (DNIT, 2006 Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016). 33 Ainda segundo o manual do DNIT (2006) é aconselhado que se instale os drenos profundos, naqueles terrenos planos que tenham o lençol freático próximo do subleito, nos trechos em corte da mesma maneira que em áreas que por ventura sejam saturadas próximas ao pé dos taludes. (Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) Quanto aos materiais utilizados nesse tipo de dreno, o Manual de Drenagem de Rodovias do DNIT afirma que eles se divergem de acordo com suas funções, sendo assim colocadas: - Materiais filtrantes: areia, agregados britados, geotextil, etc. - Materiais drenantes: britas, cascalho grosso lavado, etc. - Materiais condutores: tubos de concreto (porosos ou perfurados), cerâmicos (perfurados), de fibrocimento, de materiais plásticos (corrugados, flexíveis perfurados, ranhurados) e metálicos. Com relação a esses materiais, está descrito no Manual de Drenagem de Rodovias do DNIT (2006) que o material da vala pode ser drenante ou filtrante, sendo que a função do filtrante é permitir que a água escoe sem conduzir finos, consequentemente evitando a colmatação do dreno. Materiais naturais com granulometria apropriada ou geotêxteis também poderão ser utilizados. Já a função do material drenante é a captação e condução das águas para serem drenadas, apresentando então uma granulometria adequada à vazão escoada. (Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) Já os tubos devem ser constituídos de concreto, cerâmica, plástico rígido ou flexível corrugado, e metálicos podendo ainda ser perfurados, no canteiro de obras, com diâmetros maiores do que os comerciais, que têm variação de 10 a 15 cm. Quanto a localização dos drenos profundos, aponta-se que devem ser instalados nos locais que tenham a necessidade de interceptar e rebaixar o lençol freático, normalmente nas imediações dos acostamentos. Para que no futuro não ocorra problemas de instabilidade nos trechos de corte, é recomendado que seja instalado com, no mínimo, 1,50m de distância do pé dos taludes (DNIT, 2006 Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016). 34 No que diz respeito aos elementos de projeto, os drenos profundos são constituídos por vala, material drenante e filtrante, podendo apresentar tubos-dreno, juntas, caixas de inspeção e estruturas de deságue (DNIT, 2006). Além disso, o Manual do DNIT (2006) também especifica que no caso de drenos com tubos podem ser utilizados envoltórios drenantes ou filtrantes feitos de materiais sintéticos ou naturais. (Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) Com relação as valas, podem ser abertas manual ou mecanicamente, com o fundo tendo pelo menos 50 cm de largura e, na parte superior, um mínimo de 60 cm. Sua profundidade dependerá do quão profundo será o lençol freático, que deverá manter-se dentro dos limites já mencionados (SENÇO, 2001). Espinha de Peixe Fonte: principo.org Os drenos do tipo Espinha de Peixe são drenos destinados à drenagem de grandes áreas, pavimentadas ou não, normalmente usados em série, em sentido http://principo.org/ 35 oblíquo em relação ao eixo longitudinal da rodovia ou área a drenar (DNIT, 2006 Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016). Eles são construídos com uma linha principal, da qual saem drenos transversais, inclinados de ângulo geralmente diferentes de 90 graus. (SENÇO, 2001) Na maioria das vezes, de acordo com o Manual de Drenagem de Rodovias do DNIT (2006), eles possuem profundidade pequena, sendo assim não utilizam tubos, embora eventualmente ocorra o contrário e quando os drenos longitudinais não satisfizerem a drenagem da área, podem ser exigidos em cortes. Além disso, os drenos Espinha de Peixe poderão ser feitos em terrenos onde o lençol freático esteja próximo da superfície e que receberão aterros, também podendo ser necessários em aterros que não tenham o solo natural permeável. (Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) Colchão Drenante Fonte: diprotec.com.br 36 Os Colchões Drenantes são aplicados em diferentes situações, sendo elas: - Cortes em rocha; - Cortes em que o lençol freático estiver junto ao greide da terraplanagem; - Na base dos aterros onde existir água livre junto ao terreno natural; - Em aterros construídos em terrenos impermeáveis; Para remover as águas coletadas pelos colchões drenantes, o DNIT (2006) aconselha usar drenos longitudinais. (Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) Dreno Sub-Horizontal Fonte: solotrat.com.br Conforme descreve o DNIT (2006), os drenos sub-horizontais são usados no projeto de drenagem rodoviária com a finalidade de prevenir e corrigir os escorregamentos onde a causa principal da instabilidade é a elevação do lençol freático ou do nível piezométrico de lençóis confinados. Quando acontecem escorregamentos de grandes proporções, na maioria das vezes essa é a única solução econômica a se aplicar. (Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) 37 Quanto a sua constituição, o Manual de Drenagem de Rodovias do DNIT (2006 Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) descreve que: São constituídos por tubos providos de ranhuras ou orifícios na sua parte superior, introduzidos em perfurações executadas na parede do talude, com inclinação próxima à horizontal [...] estes tubos drenam a água do lençol ou lençóis, aliviando a pressão nos poros. Considera -se mais importante que o alívio da pressão a mudança da direção do fluxo d'água, orientando-se assim a percolação para uma direção que contribui para o aumento da estabilidade. Referindo-se a elementos de projeto, para se fazer o tipo de dreno em questão, é necessário que inicialmente se caracterize geotecnicamente, utilizando-se de sondagens adequadas,o maciço, para depois verificar em que caso se enquadra o material do talude. Para tal, existem três situações: - Rochas ou solos heterogêneos com relação à permeabilidade, onde a drenagem tem o objetivo de capturar a maior quantidade possível de veios ou bolsões permeáveis. Neste caso, se faz necessário que existam rochas sedimentares ou metamórficas fraturadas. É importante também que o sistema de fraturamento e as direções das fraturas sejam levantados, levando em consideração que a direção dos drenos deve interceptar cada família de fraturas, acumulando o maior número possível das mesmas interceptadas por dreno. Em alguns casos, pode ser que haja a necessidade de dispor os drenos em forma de leque, dispondo-os em apenas um ponto da superfície do talude, em um ou vários locais. - Materiais essencialmente homogêneos com relação à permeabilidade, podendo-se utilizar ábacos existentes para estimar inicialmente o número, espaçamento e comprimento dos drenos, para então atingir a redução almejada das poro-pressões. - Escorregamentos relativamente "impermeáveis" cobrindo formações mais permeáveis e saturadas, com nível piezométrico elevado, em que o comprimento dos drenos deve ser de forma que a camada saturada de alta permeabilidade se intercepte no decorrer de um trecho perfurado do tubo, com comprimento razoável. Deve-se ainda considerar a necessidade de utilizar o dreno que tenha o trecho perfurado 38 somente na camada mais profunda, a fim de não se irrigar camadas mais superficiais, não saturadas, com a água que passa pelo tubo sob pressão. Dreno Vertical Fonte: sites.google.com Entre o vasto conjunto de soluções do problema de execução de trechos rodoviários com aterros sobre depósitos de solo mole, que vão desde a remoção do solo por escavação ou deslocamento até as técnicas construtivas, estão os drenos verticais de areia, drenos cartão e os drenos fibro-químicos. Para que se tenha conhecimento de qual a solução mais favorável econômica e tecnicamente, deve-se primeiro fazer um amplo estudo de campo e laboratorial, além de comparar criteriosamente os custos envolvidos (DNIT, 2006 Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016). Levando em conta o ponto de vista técnico-econômico, de acordo com o DNIT (2006), a garantia da estabilidade dos aterros construídos em cima dos depósitos de argila mole saturada pode, na maioria das vezes, ser alcançada com pré- adensamento ou com o uso da velocidade de compressão controlada, utilizando, algumas vezes, uma sobrecarga que vai contribuir para o aumento da resistência ao cisalhamento e, consequentemente, atender ao equilíbrio do maciço, depois de reduzir os recalques pós-construtivos. (Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) 39 Apesar disso, existem situações em que os depósitos de solos compreensíveis, além de espessos, são de baixa condição de permeabilidade. Isso faz com que o adensamento se torne muito lento, o que torna recomendável o emprego de drenos verticais de areia ou drenos fibroquímicos, a fim de acelerar esse processo. O DNIT (2006) aponta que os drenos verticais de areia constituem basicamente na execução de furos verticais que penetram a camada de solo compressível, onde se é instalado cilindros com boa graduação e material granular. Com isso, a compressão consequente tira a água dos vazios do solo e junto ao fato de que a permeabilidade horizontal é, geralmente, menor que a vertical, reduz o tempo de drenagem. (Apud RODRIGUES; SUZUKI, 2016) 9 PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA Fonte: riachosurbanos.blogspot.com Os sistemas de drenagem urbana, abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos e controle da poluição e de vetores constituem a 32 infraestrutura de saneamento básico de uma cidade, prioritários em programas de saúde pública. Dessa forma, o grande desafio de um plano de águas pluviais, além de propor soluções para a redução dos riscos de inundação e de contaminação dos recursos hídricos, é se integrar aos serviços de saneamento, tanto no plano 40 institucional como no técnico, com a efetiva implantação das medidas propostas (ROCHA, 2014, Apud Oneda, 2018). Os Planos Diretores de Drenagem Urbana (PDDU) ou, mais recentemente, Planos de Manejo de Águas Pluviais (PMAP), surgem como elemento central da gestão drenagem urbana. Esses planos estabelecem as diretrizes para a gestão das águas pluviais em uma bacia hidrográfica e visam, fundamentalmente, reduzir o volume de escoamento, velocidade, taxas, frequência e duração dos alagamentos. Estas medidas são uma tentativa de minimização dos efeitos adversos ao meio ambiente, especialmente dos aspectos quali-quantitativos dos corpos d’água receptores, com consequente redução de perdas econômicas, melhoria das condições de saúde da população e meio ambiente da cidade (VILLANUEVA, et.al., 2011, Apud Oneda, 2018). O Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU) é o conjunto de diretrizes que determinam a gestão do sistema de drenagem, minimizando o impacto ambiental devido ao escoamento das águas pluviais. Na elaboração do PDDU deve ser mantida a sua coerência com as outras normas urbanísticas do município, com os instrumentos da Política Urbana e da Política Nacional de Recursos Hídricos (PARKINSON, et. al., 2003, Apud Oneda, 2018). O planejamento urbano (ou a falta dele) afeta diretamente a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos, pois pode propiciar a produção de poluição difusa, impermeabilização do solo, promover ações estruturais que causam enchentes, propiciar a ocorrência de erosão e assoreamento, dentre outros. O gerenciamento inadequado das águas no ambiente urbano e da urbanização pode levar a muitos problemas, colocando em risco vidas humanas, modos de vida e propriedades (ICLEI BRASIL, 2011). Neste contexto, os instrumentos de controle do uso e ocupação do solo são ferramentas fundamentais para o desenvolvimento urbano de forma sustentável e deveriam ser utilizados de forma a complementar os instrumentos previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos (ZAHED FILHO, MARTINS e PORTO, 2012, Apud Oneda, 2018). 41 Tucci (2003, Apud Oneda, 2018) afirma que para implementar medidas sustentáveis na cidade é necessário desenvolver o Plano Diretor de Drenagem Urbana. O Plano se baseia em princípios: (a) os novos desenvolvimentos não podem aumentar a vazão máxima de jusante; (b) o planejamento e controle dos impactos existentes devem ser elaborados considerando a bacia como um todo; (c) o horizonte de planejamento deve ser integrado ao Plano Diretor da cidade; (d) o controle dos efluentes deve ser avaliado de forma integrada com o esgotamento sanitário e os resíduos sólidos. O déficit na drenagem urbana está relacionado a vários aspectos técnicos, legais, sociais, financeiros e culturais, relacionados à realidade local, os quais dificultam a adoção de novos conceitos. Desta forma, o desenvolvimento de planos integrados (especialmente os de saneamento básico e desenvolvimento urbano) esbarra em problemas como o baixo nível de controle sobre a expansão urbana e a deficiência da informação da população (SOUZA, et.al., 2013, Apud Oneda, 2018). Segundo Canholi (2013), no Brasil, salvo exceções, o projeto dos sistemas de drenagem urbana ainda é realizado seguindo os conceitos clássicos, em muito já superados. Cidades como São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, buscam há alguns anos introduzir esses novos conceitos a partir da revisão de seus planos diretores e da atualização do corpo técnico das prefeituras e órgãos estatais. (Apud Oneda, 2018) Conforme Souza, Cruz e Tucci (2012), a abordagem atualmente adotada para o manejo de águas em meio urbano tem acarretado em prejuízos financeiros, ambientais, estéticos, à saúde e, sobretudo, à qualidade de vida da população. Em contrapartida, experiênciasrecentes em outros países têm apresentado soluções mais próximas à sustentabilidade, por meio de planejamento e de tecnologias que reconhecem ecossistemas como mecanismos de controle e tratamento de águas pluviais de forma difusa e integrada às demais atividades 42 urbanas. O crescimento urbano de cidades brasileiras encontra-se ainda alicerçada na impermeabilização massiva de áreas e canalizações artificiais, ampliando a escassez de água em função da baixa eficiência dos sistemas hídricos, contaminações e baixo grau de reaproveitamento de água. Na última década, no entanto, algumas poucas municipalidades começaram a alterar sua forma de gerir o sistema de drenagem para a utilização de estruturas de armazenamento, casos, por exemplo, de Porto Alegre, São Paulo, Curitiba e Santo André (SOUZA, CRUZ e TUCCI, 2012, Apud Oneda, 2018). 43 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA, Gustavo Henrique Tonelli Dutra de et al. Hidrologia e Drenagem. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. 200p. ISBN 978-85-8482- 863-0. DNIT. Brasil. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Diretoria de Planejamento e Pesquisa. Coordenação Geral de Estudos e Pesquisa. Instituto de Pesquisas Rodoviárias. 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