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ESTUDO DE CASO – PSICODIAGNÓSTICO Resumo: Na busca de identificar fatores que influenciam diretamente no surgimento de conflitos e crise dentro de um ambiente familiar e no contexto pessoal, o que acaba gerando conflitos fora desses ambientes. O trabalho foi desenvolvido como um Estudo de Caso, analisando históricos da paciente indicada, além do histórico familiar. Palavras-chaves: psicologia; psicoterapia; adolescência. Abstract: In the search to identify factors that directly influence the emergence of conflicts and crises within a family environment and in the personal context, which ends up generating conflicts outside these environments. The work was developed as a Case Study, analyzing the indicated patient's histories, in addition to the family history. Keywords: psychology; psychotherapy; adolescence. INTRODUÇÃO O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de descrever alguns encontros psicológicos com uma paciente indicada pelo Estudo de Caso. Essa descrição, traz além de relatos da própria paciente, possíveis diagnósticos e instrumentos que possam ser úteis para tais. Os encontros foram realizados na Clínica Municipal da Cidade e inicialmente foram instigados pela própria mãe da paciente (que possui 15 anos). Guimarães (201?, site online) relata que o processo de levar um filho adolescente a uma consulta psicológica, requer por exemplo, um trabalho de psicoeducação, pois segundo a psicóloga, a psicologia atua em estratégias que possibilitam a condução de um diálogo entre pais e filhos, logo, a respeito disso ela expressa que: [...] trabalha-se o treino de habilidades relacionais entre eles. (...) observamos muitas vezes que a dificuldade está na expressão dos sentimentos, em que é preciso clarear o que é respeito, o que é controle, o que é cuidado, o que é limite. (GUIMARÃES, 201?, site online). Nesse sentido, visualiza-se uma interação de suma importância entre o diálogo com os filhos, a psicologia e o tipo de relação que os pais nutrem. Dessa forma, Brotto (2020) também traz afirmações acerca da terapia com adolescentes e a sua relação com os pais: [...] os questionamentos levantados pelos mais jovens normalmente geram conflitos familiares. Os dados adolescentes precisam de afirmação e querem comprovar que os valores aprendidos até agora fazem realmente sentido para a vida deles. Com isso, muitas vezes, entram em choque com os pais. (BROTTO, 2020, site online). Assim, a autora segue explicando que a psicoterapia com adolescentes, baseia-se na inserção do adolescente no mundo no qual ele ainda não estava inserido, o que desperta uma vontade de pertencimento a esse novo espaço. Nesse processo de terapia, "busca-se compreender as relações que foram estabelecidas ao longo de sua vida até chegar à fase da adolescência”. (BROTTO, 2020, site online). Diante disso e diante do caso apresentado, o presente texto busca investigar o histórico da paciente, a fim de encontrar possíveis problemas e prováveis soluções para esse processo. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DO CASO Objetivos O objetivo presente no desenvolvimento do trabalho diz respeito a análise psicológica da paciente, buscando possíveis motivações para os conflitos apresentados, além de indicar alguns instrumentos que podem atuar como resolução desses conflitos e de outros problemas que possam aparecer. Método Trabalho desenvolvido através da apresentação do histórico da paciente e de seus familiares. Assim, foi realizada uma pesquisa simples, no intuito de revisar a literatura e encontrar respaldos para os encontros relatados. Histórico Pessoal O desenvolver da vida da paciente foi dado em uma pequena cidade do nordeste brasileiro, a cerca de 100 (cem) km de Fortaleza, local este onde construiu a sua concepção de família, baseada na presença materna, pois com apenas 4 (quatro) anos de idade, o seu pai foi assassinado em São Paulo – BR, e tempos mais tarde as irmãs foram residir em outros locais. A paciente reside em um pequeno sítio zelado por sua mãe e próximo à cidade, o que viabiliza a sua escolarização. Quanto a isso, é possível visualizar um bom comportamento desde as séries iniciais, ou seja, desde os seus 6 (seis) anos de idade, período em que começou a sua alfabetização, e que deu sequência até o momento presente, o qual a garota se encontra com 15 (quinze) anos, cursando o 9° ano do ensino fundamental. O seu processo de escolarização foi marcado por constantes mudanças em relação aos professores, fato ressaltado com a alteração de 3 (três) professoras no período em que frequentava o 4° (quarto) ano. Posterior a isso, a paciente deu início ao 5° (quinto) ano da escola, fase em que estudou com colegas que já conhecia, porém, devido a algumas ocorrências, nesse mesmo ano a jovem, agora com 10 anos, mudou-se de escola. Nessa fase de mudança escolar, a paciente ainda era vista como boa aluna, no entanto, revela-se aqui um comportamento mais preguiçoso. Outro fato marcante a respeito dessa fase, diz respeito a realização do percurso escolar, pois a partir desse momento a jovem passou a realizar todo o caminho sozinha. Já no 6° (sexto) ano a história da paciente é marcada principalmente no período das férias escolares, pois nota-se aqui um mal-estar frequente, atribuído com muitas dores de cabeça. Fato que pode ser atrelado, futuramente, ao falecimento do pai, pois embora o relato seja de que não haja lembranças paternas, inconscientemente a garota pode associar o período de férias com a vinda do pai para a casa. Paralelo a isso, descreve-se uma ausência de amigos, fato propiciado principalmente em decorrência da sua moradia em um sítio, que restringia as possibilidades de criar laços com outras pessoas. No entanto, mesmo diante dessa realidade, ao frequentar o 8° (oitavo) ano do ensino fundamental, a jovem passa a ter um grupo constituído por 3 (três) amigas, pessoas estas que sempre a acompanhavam durante as aulas. Meses mais tarde, a garota com cerca de 15 anos de idade e cursando o 9° (nono) ano, dá início ao seu primeiro relacionamento com um colega de sua turma. A vivência desse relacionamento causou na paciente grandes intensidades quanto a paixão vivida (sic) “mas quando percebia que já não gostavam de mim ou arranjar outra namorada, ficava com ódio de morte, e um grande sentimento de vazio, tinha grandes ataques de choro” (sic). Histórico Familiar Quanto a família da jovem é possível identificar alguns fatores chaves para a sequência dos possíveis procedimentos a serem adotados. A começar por sua mãe, que atualmente possui 55 anos e está de baixa psiquiátrica, e diariamente toma antidepressivos. O seu pai já é falecido, no entanto a sua mãe está viva e cultiva uma relação de proximidade com a paciente anteriormente mencionada. Além disso, ela possui 8 (oito) irmãos. Em relação ao pai – já falecido – era filho único e durante o seu desenvolvimento, não pôde ter uma imagem concreta do pai, pois a sua mãe sempre evitava falar a respeito de sua morte. As irmãs seguem uma linha de idade com 28, 25, 20 e 19 anos. A mais velha é casada, formada e atualmente atua como professora na cidade em que mora. A de 25 anos também é casada, no entanto não trabalha. Mora em cidade distinta, a quilômetros da família. Já a de 20 anos trabalha no comércio da cidade, assim como a irmã de 19 anos. Ambas vão à casa da paciente durante alguns finais de semana. Queixas assinaladas pela mãe A mãe relata muitos episódios nos quais a filha apresentou e ainda apresenta, um comportamento irresponsável, desobediente e de muitas respostas – respondona –. Muitas vezes esses comportamentos estão associados ao seu namoro, fator que influencia diretamente (segundo a mãe) no desinteresse da filha para com o futuro. Ao chamar a atenção da filha, a mãe relata que a adolescente sempre expressa desejo de morte, insinuando que a vida não tem graça, o que desperta um sentimento de medo na mãe, pois a mesma teme que a filha também desenvolva quadro depressivo. Eladescreve ainda que a filha já não possui amigos, tampouco quer se casar, pois diz que não quer levar a mesma vida das irmãs. Clínica A mãe da paciente solicitou a sua ida até a Clínica Municipal da Cidade, no intuito de buscar auxílio psicológico. Diante disso, nota-se que a adolescente não possui consciência a respeito do que procura na Clínica. Assim, na busca de sanar os conflitos intra e interpessoais, e descobrir mais informações acerca da paciente de modo que ela possa receber o auxílio necessário, a clínica dispõe-se a traçar um processo com a paciente mencionada. FATORES EXISTENCIAIS ACERCA DA PACIENTE – COMPREENSÃO FENOMENOLÓGICA DO CASO O histórico da paciente demonstra um quadro de conflitos, tanto em relação a si mesma, quanto com as pessoas e situações externas. Vicentin (2009, p. 13) expressa que o fator “conflito” é visto como alarmante perante a população, além de ser alvo de muitos pesquisadores que desenvolvem estudos no intuito de encontrar respostas que possibilitem o desenvolvimento de instrumentos preventivos. Quanto a um provável diagnóstico, é importante ressaltar a afirmação realizada por Pavani, Wetzel e Olschowsky (2021, p. 119) que expressam a necessidade de uma dinâmica na “dimensão da clínica em saúde mental voltada à infância e adolescência” (PAVANI; WETZEL; OLSCHOWSKY, 2021, p. 119). Os autores expressam que nessa fase há diversas mudanças marcadas por processos rápidos, variados e singulares. Isto posto, a paciente declara queixas em relação a perspectiva de vida e consequentemente do futuro, demonstrando um sentimento de vazio perante esses dois fatores. Queixas essas que se atrelam com as da mãe, tendo em vista que uma de suas preocupações é a falta de comprometimento da filha. Assim, no 1° (primeiro) encontro através da Anamnese a mãe relatou que: Possui 55 anos, nasceu em 27 de junho de 1966 em uma pequena cidade do Nordeste. Anos mais tarde, quando se casou com o pai da paciente, se mudou para um sítio e desde então zela dele. Diz possuir cerca de 58 kg. Conta que atualmente possui o hábito de fumar, além de ter diagnóstico depressivo e fazer uso diário de antidepressivos. Ela (mãe) traz queixas relacionadas ao comportamento da filha. [...] Comportamentos irresponsáveis, deixando cada vez mais de se importar com questões futuras, ao mesmo tempo em que tem reservado a maior parte do seu tempo para namorar. [...] – desobediente e respondona – quando ela (mãe) chama a atenção da filha de alguma forma, ela (filha) reproduz várias falas relacionadas à morte, estampando sempre um descontentamento com a vida e com a sua perspectiva acerca do futuro. Nesse encontro inicial, foi possível visualizar ainda outras questões decorrentes da mãe, questões estas que foram identificadas através do Exame do Estado Mental – EEM – o qual apontou uma atitude regada de receios, tanto em relação as falas, quanto ao comportamento diante a psicóloga. Ao relatar suas queixas, demonstrou sentimentos de medo, preocupação e cansaço, além de demonstrar uma ausência de atenção em algumas partes do encontro. Além do mais, fatores como afetividade e humor mostram-se profundamente abalados. Ela (mãe) relata ter episódios prolongados de sono por conta do uso diário de antidepressivos. Com isso, foi possível notar uma presença expressiva de pensamentos e falas negativas advindas da mãe, tanto consigo mesma, quanto em relação a sua filha. Logo, é preciso investigar se o medo dela em relação a falta de perspectiva da filha, é uma preocupação que surge do comportamento dela (filha) ou que surge como um reflexo da sua própria falta de perspectiva perante as coisas. O 2° (segundo) encontro foi voltado para a paciente (filha), aqui citada somente como A. Na Anamnese a adolescente descreveu que: [...] nasceu em 15 de março de 2006, e hoje com 15 anos, pesa por volta de 55 kg. [...]. A adolescente encontra conforto no seu hábito de fumar. Possui queixas diversas, no entanto, sempre relata com mais frequência o seu desânimo com coisas da vida, sejam elas rotineiras ou não. A. diz encontrar no seu atual relacionamento um motivo para ocupar-se e se sentir um pouco mais viva. Além disso, a adolescente reclama frequentemente das falas proferidas pela mãe, dizendo que mãe espera que ela tenha uma vida como as irmãs teve, realidade que ela não deseja para si. O Exame do Estado Mental – EEM – apontou questões como falta de atenção, pouco interesse na consulta psicológica, assim como ausência de interesse na preocupação da mãe. Além disso, A. possui uma aparência que não se enquadra com a sua idade (aparenta ser mais nova), demonstrando uma postura receosa e tímida. A sua comunicação verbal mostra-se limitada, tal como a comunicação não verbal. A adolescente diz ter a vida sexual ativa, pouco sono e pouco apetite. Finalizado o 2° (segundo) encontro da família e o 1° (primeiro) encontro da paciente A., houve uma solicitação para outras consultas, de modo que elas sejam de forma quinzenal. 3° (terceiro) encontro No 3° encontro A. ainda manteve uma postura defensiva, mantendo-se calada com boa parte das perguntas realizadas, no entanto, ao ser questionada acerca da sua relação com as irmãs, a adolescente relatou: [...] péssima relação, elas (irmãs) não possuem consideração com A., tampouco com a mãe. Apesar da adolescente relatar que recebem ajuda financeira das irmãs, ela demonstra total descontentamento com elas. [...] ela (paciente) conta que em certa visita de algumas irmãs, as mesmas a trataram com descaso, além de insinuarem que ela teria o mesmo “fim” da mãe, dizendo que ela (paciente) possivelmente não iria sair do pequeno sítio. Dessa forma, foi questionado a respeito de como ela gostaria que fosse a relação entre elas, questionamento que resultou em uma expressão de chateação da paciente A., sem a obtenção de respostas verbais. Posterior a isso, foi abordado de forma cautelosa, questionamentos acerca do seu pai. Em um primeiro momento a adolescente manteve-se calada, no entanto, após algum tempo ela compartilhou alguns pensamentos, os quais podem ser visualizados através do relato extraído: A paciente contou que por vezes se questionava a respeito do falecimento do pai, tendo em vista que a sua mãe nunca lhe dera muitas informações. Além do mais, ela conta que pensa sobre como seria a sua casa e a sua vida, caso o pai fosse presente, diz ainda que sente de forma inexplicável, a vontade de possuir uma figura paterna em sua vida. A adolescente conta ainda que o seu namorado constantemente fala que irá protege-la como o pai a protegeria, com cuidados, zelos e atenção. Há aqui um provável motivo do seu apego e preocupação diante do namoro, tendo em vista que aparentemente o namorado tenta suprir a necessidade e a falta do pai dela (paciente). A respeito da ausência paterna, a literatura tem encontrado dificuldades para chegar a uma definição exata do termo, como explica Sganzela e Levandowski (2010, p. 298). O estudo explica ainda que essa ausência pode se tornar um fator de risco e repercutir negativamente na vida do adolescente e do seu desenvolvimento. Ainda a respeito disso os autores declaram que: [...] por exemplo, uma investigação com 647 adolescentes norte-americanos, de caráter longitudinal, indicou a ausência paterna duradoura como um fator de risco para a manifestação de comportamentos delinquentes, como porte de armas e embriaguez no contexto escola. (SGANZELA; LEVANDOWSKI, 2010, p. 301). Diante do exposto nos 3 encontros iniciais, foi possível detectar indícios de agravamentos dados através de uma família com problemas estruturais e de ausência, além de outros fatores. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Através da análise realizada e dos relatos expostos, foi solicitado um encaminhamento da adolescente para um psiquiatra, na busca de encontros maiores instrumentos que possam auxiliar nesse processo de resolução de conflitos e crises. Além disso, foi solicitado terapias quinzenais paraambas as residentes do pequeno sítio (mãe e filha), de modo que em uma dessas terapias haja ao menos uma com a presença de ambas. Esportes físicos também foram indicados para a adolescente, além de revisão psiquiátrica para a mãe. No mais, além dos conflitos identificados, é esperado que outros fatores surjam como motivadores para a crise no ambiente familiar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROTTO, T. Psicoterapia para adolescentes. Disponível em: https://www.psicologoeterapia.com.br/blog/psicoterapia-para-adolescentes/. Acesso em: 27 jun. 2021. GUIMARÃES, R. Terapia na adolescência: descubra aqui o quanto é benéfico. Disponível em: https://opsicologoonline.com.br/o-adolescente-em-terapia/. Acesso em: 27 jun. 2021. https://www.psicologoeterapia.com.br/blog/psicoterapia-para-adolescentes/ https://opsicologoonline.com.br/o-adolescente-em-terapia/ PAVANI, F.M; WETZEL, C; OLSCHOWSKY. A clínica no centro de atenção psicossocial infanto-juvenil: na adolescência, o diagnóstico se escreve com lápis. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2021.v45n128/118-129/pt. Acesso em: 27 jun. 2021. SGANZERLA, I.M.; LEVANDOWSKI, D.C. Ausência paterna e suas repercussões para o adolescente: análise da literatura. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/per/v16n2/v16n2a05.pdf. Acesso em: 27. Jun. 2021. VICENTIN, V.F. Condições de vida e estilos de resolução de conflitos entre adolescentes. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-11122009-154111/publico/Tese_Vic entin.pdf. Acesso em: 27 de jun. 2021. https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2021.v45n128/118-129/pt http://pepsic.bvsalud.org/pdf/per/v16n2/v16n2a05.pdf https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-11122009-154111/publico/Tese_Vicentin.pdf https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-11122009-154111/publico/Tese_Vicentin.pdf
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