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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6606-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 0 6 3 Código Logístico 59274 A ludicidade como linguagem socializadora pode ser um elo entre os estudantes e a construção do conhecimento corporal e cultural, uma vez que os jogos, os brinquedos e as brinca-deiras possibilitam a interação social, o reconhecimento e o respeito às diferentes características e individualidades. Esta obra apresenta aos estudantes e profissionais de Educa-ção Física o conhecimento teórico e prático sobre a ludicidade na prática pedagógica, abordando as concepções sobre os jo-gos, os brinquedos e as brincadeiras na escola. Traz também reflexões sobre a importância da ludicidade na Educação Fí-sica escolar, com sugestões e exemplos de propostas lúdicas para a atuação docente. JOG OS, BRINQ UEDOS E BRINCADEIRAS na Educação Física M ARIA CRISTINA TROIS DORNELES RAU Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física Maria Cristina Trois Dorneles Rau IESDE BRASIL 2020 © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ R187j Rau, Maria Cristina Trois Dorneles Jogos, brinquedos e brincadeiras na educação física / Maria Cristina Trois Dorneles Rau. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 134 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6606-3 1. Educação física - Estudo e ensino. 2. Jogos educativos. 3. Brincadeiras. I. Título. 20-62527 CDD: 613.7 CDU: 613.71 Maria Cristina Trois Dorneles Rau Doutoranda e mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Psicopedagogia: clínica e institucional, em Educação Especial, em Magistério da Educação Básica e em Magistério Superior pelo Centro Universitário Uninter. Licenciada em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Coordenadora do projeto de extensão universitária BrinquePedagogiaConsciente – Formação lúdica dos professores pedagogos. Atua como professora no ensino superior, ministrando disciplinas relacionadas ao ensino e aprendizagem, nos cursos de graduação em Pedagogia e em cursos de pós-graduação em Educação Infantil, Alfabetização e Letramento, Psicomotricidade, Educação Especial, Neuropsicologia, Psicopedagogia, Educação Especial e Educação Física nas modalidades presencial e a distância. É também consultora na área da educação em prefeituras municipais, professora brinquedista e pesquisadora sobre ludicidade na educação. Desenvolve projetos de estudos, pesquisa e implantação de brinquedotecas para formação de docentes e brinquedotecas escolares. SUMÁRIO Agora é possível acessar nossas videoaulas por meio dos QR codes inseridos no livro. Note que existe, ao lado do início de cada seção de capítulo, um QR code (código de barras) para acessar a videoaula. Para acessá-la automaticamente, basta direcionar a câmera fotográfica de seu smartphone, tablet ou notebook para o QR code. Em algumas versões de smartphone, é necessário ter instalado um aplicativo para ler QR code, disponível gratuitamente na App Store e na Google Play, Videoaula em QR code! SUMÁRIO Agora é possível acessar nossas videoaulas por meio dos QR codes inseridos no livro. Note que existe, ao lado do início de cada seção de capítulo, um QR code (código de barras) para acessar a videoaula. Para acessá-la automaticamente, basta direcionar a câmera fotográfica de seu smartphone, tablet ou notebook para o QR code. Em algumas versões de smartphone, é necessário ter instalado um aplicativo para ler QR code, disponível gratuitamente na App Store e na Google Play, Videoaula em QR code! 1 Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 9 1.1 Educação Física escolar: histórico 9 1.2 Educação Física escolar: currículo 13 1.3 O brincar na prática pedagógica 17 1.4 A prática pedagógica com o brincar na Educação Física 22 1.5 O lúdico e a avaliação na Educação Física escolar 29 2 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física 34 2.1 O significado do brincar para a educação 34 2.2 O significado de brinquedo e brincadeira para a educação 37 2.3 O significado do jogo para a educação 39 2.4 A função lúdica e educativa dos jogos 41 2.5 Classificações de jogos, brinquedos e brincadeiras 46 2.6 Brinquedos e brincadeiras para bebês e crianças pequenas 49 3 Jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais 54 3.1 Jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais 54 3.2 Brincadeiras tradicionais 57 3.3 Jogos tradicionais 60 3.4 Brinquedos tradicionais 65 3.5 O resgate da cultura lúdica na Educação Física escolar 69 4 Jogos cooperativos 74 4.1 Competir ou cooperar? 74 4.2 Jogos competitivos ou jogos cooperativos? 77 4.3 Concepção de jogos cooperativos na Educação Física escolar 79 4.4 Jogos cooperativos 83 4.5 Transformando jogos tradicionais em jogos cooperativos 84 5 Psicomotricidade e práticas inclusivas 93 5.1 O brincar e a psicomotricidade 94 5.2 Brincadeiras psicomotoras para bebês e crianças pequenas 97 5.3 Jogos psicomotores para a pré-escola 101 5.4 Jogos e brincadeiras psicomotoras para os anos iniciais do ensino fundamental 104 5.5 Considerações sobre o corpo, o movimento e a inclusão na Educação Física 110 6 A brinquedoteca na Educação Física 116 6.1 A brinquedoteca na escola 116 6.2 A brinquedoteca como espaço de prática lúdica 120 6.3 Os brinquedos e as brincadeiras 126 6.4 Imaginação e criatividade na brinquedoteca 129 É com imenso entusiasmo que apresentamos aos estudantes e profissionais de Educação Física o conhecimento teórico e prático sobre a ludicidade na prática pedagógica, abordando as concepções sobre os jogos, os brinquedos e as brincadeiras na escola. A escola, para a maioria das crianças e jovens, é o primeiro espaço de convivência e, dessa forma, além de ser um ambiente educativo, concede aos estudantes a oportunidade de socialização. O profissional de Educação Física é um grande mediador de todo esse processo. Assim, reconhecemos a importância da ação educativa da Educação Física para a formação humana e, consequentemente, para a construção de uma sociedade mais igualitária. A ludicidade como linguagem socializadora pode ser um elo entre os estudantes e a construção do conhecimento corporal e cultural, uma vez que os jogos, os brinquedos e as brincadeiras possibilitam a interação social, o reconhecimento e o respeito às diferentes características e individualidades. Como prática inclusiva, a ludicidade vai além das regras dos jogos, incluindo a cooperação e a empatia. Assim, juntos, os professores e os estudantes podem participar da escolha dos jogos e descobrir como participar de atividades coletivas de maneira divertida e prazerosa. Este livro está organizado em seis capítulos que abordam os pressupostos teóricos e a prática lúdica, buscando incentivar a atuação pedagógica dos professores e das professoras na educação infantil e no ensino fundamental. No primeiro capítulo, tratamos da Educação Física escolar, do papel dos professores na prática pedagógica com o brincar, da organização do espaço lúdico, dos recursos lúdicos e da avaliação com o intuito de propiciar o conhecimento teórico e prático sobre a cultura corporal. No segundo capítulo, abordamos os jogos, os brinquedos e as brincadeiras na Educação Física e suas concepções, bem como a sua classificação. O objetivo é propiciar a distinção entre as concepções de jogo, brinquedo e brincadeira e possibilitar reflexões sobre a ação do educador na prática lúdica, identificando alternativas e a escolha adequada de práticasque atendam às funções lúdica e educativa. O terceiro capítulo traz exemplos de jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais e sua prática na escola com a finalidade de resgatar a cultura lúdica nas aulas de Educação Física. APRESENTAÇÃO No quarto capítulo, apresentamos os jogos cooperativos e sua importância no contexto social atual com o intuito de refletir sobre o papel da cooperação no desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes no contexto escolar. Discorremos sobre como poderá ser a mediação dos educadores na transformação dos jogos tradicionais em jogos cooperativos, revisando suas regras e maneira de jogar. A vivência de jogos cooperativos fortalece a construção do senso de equipe, pois cada um contribui com suas capacidades e potencialidades para o sucesso de todos. No quinto capítulo, destacamos a psicomotricidade, uma área de intersecção entre corpo e mente, sendo fundamental para o processo de desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes. Abordamos também a organização de espaços, práticas e recursos para o estímulo ao desenvolvimento psicomotor dos estudantes. No sexto capítulo, explicamos como uma brinquedoteca pode ser organizada e utilizada nas aulas de Educação Física como um espaço para o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, o que contribui significativamente para a autonomia e a aprendizagem dos estudantes. Em resumo, vamos discutir aspectos reflexivos sobre a ludicidade na Educação Física escolar, sugerindo e exemplificando propostas lúdicas para a atuação docente na escola. Os leitores se depararão cotidianamente com diferentes desafios e questionamentos que inquietarão a sua mente. Acreditamos que as respostas a esses questionamentos poderão constituir indicadores para que novas teorias sejam elaboradas, correspondendo à realidade educacional brasileira. Bons estudos! Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 9 A abordagem teórica deste capítulo objetiva descrever aspectos sobre o conhecimento teórico e prático da Educação Física escolar com enfoque na ludicidade. Objetivamos, ainda, que a leitura pro- picie a construção do conhecimento sobre a prática pedagógica da Educação Física e as relações com o processo de desenvolvimento e a aprendizagem do educando, despertando o interesse sobre o brincar no processo de ensino e aprendizagem. Um sistema organizado de conceitos sobre o brincar e o mo- vimento humano consciente possibilita aos estudantes se desen- volverem e aprenderem habilidades motoras de modo eficaz. Com efeito, a Educação Física escolar pode proporcionar ao estudante a construção de um sistema conceitual sobre o corpo e a motrici- dade e sua utilização como linguagem e expressão de seu tempo. Assim, convidamos você a emergir de corpo e mente nas con- cepções, conceitos e práticas do brincar na Educação Física. Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 1 1.1 Educação Física escolar: histórico Videoaula A Educação Física passou por diferentes abordagens ao longo da história e o movimento fez parte desse processo. No Brasil, a constituição da sociedade do trabalho se desenvolveu por meio da transição do trabalho escravo para o trabalho livre, surgin- do então uma sociedade controlada pelo tempo. Dessa forma, o corpo do homem trabalhador deveria ser moralizado, disciplinado e higieni- zado. Essa visão foi absorvida pela Educação Física como disciplina pe- dagógica e, com base em estudos sobre as ciências biológicas, foram 10 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física implantados programas disciplinares e de exercitação corporal nas es- colas para desenvolver hábitos físicos e morais. As aulas de Educação Física separavam os meninos das meninas. Como futuros defensores da pátria, os meninos eram preparados para serem fortes, futuros mi- litares, e para as meninas ficavam as atividades domésticas e os cuida- dos dos filhos. Consequentemente, como forma de eugenia 1 , aqueles que não correspondessem aos padrões estabelecidos eram excluídos. Assim, a Educação Física preocupava-se em formar a raça brasileira para a defesa da pátria dos perigos internos. Essa concepção de aulas para meninos e meninas foi uma prática que ocorreu nas escolas até a década de 1990. As atividades físicas para as classes dominantes eram vistas como formas de proporcionar o lazer e a diversão, por isso, não deveriam fazer parte dos currículos escolares, pois significavam ócio. Em 1907, surgiu a primeira escola de formação de instrutores de Educação Física – Escola de Educação Física da Força Policial do Esta- do de São Paulo – e, em 1922, o Centro Militar de Educação Física do Rio de Janeiro. Os militares foram contratados nas escolas para serem professores e instrutores de ginástica. A Educação Física tornou-se mi- litarista, preparando os estudantes para cumprir seus deveres com a pátria. Nesse momento, surgiram diferentes abordagens de ginásticas no Brasil, como o método francês em substituição ao método alemão (1860) que, conforme nos esclarece Gallardo (1998, p. 17), considerava “o corpo humano como uma máquina composta por eixos de movi- mentos (articulações) e alavancas a serem movimentadas”. O condicionamento físico passa a ser uma das preocupações com as pessoas, porém, visando ao progresso econômico do país somado às funções eugênicas, higienistas, militares, disciplinares e moralis- tas. Assim, grandes aparelhos para ampliar a condição física são uti- lizados pela ginástica denominada artística e os pequenos aparelhos pela ginástica rítmica e esportiva. “Ambas as concepções, higienista e militarista, da Educação Física consideravam-na como disciplina essen- cialmente prática, não necessitando, portanto, de uma fundamentação teórica que a desse suporte” (DARIDO; RANGEL, 2011, p. 2). A psicomotricidade foi trazida para o Brasil na década de 1970 com a perspectiva de integrar homem e espaço, corpo e alma. A educação do movimento passou a ser vista como educação pelo movimento e o O termo eugenia no texto significa que havia uma forma de controle social ao valorizar as pessoas com maior capacidade física. 1 Atividade 1 Como surgiu a primeira escola de formação para a prática da Educação Física e qual era a concepção de movimento? Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 11 desenvolvimento psicomotor foi considerado pré-requisito para a aqui- sição de saberes que envolviam a cognição. Essa abordagem questiona a concepção tradicional da perspectiva desenvolvimentista por consi- derá-la elitista e seguir estágios de desenvolvimento motor, cognitivo e social de acordo com a idade, o que na prática pode ser diferente entre as crianças, dependendo de seu contexto. Assim, conforme Gallardo (1998), as abordagens pedagógicas da Educação Física, a partir do final da década de 1980, baseiam-se no estudo das influências que o meio físico e social têm sobre o desen- volvimento humano. Além dos conhecimentos trazidos pelas ciências biológicas, da compreensão do funcionamento do corpo humano e de como aprende as habilidades motoras, busca-se o conhecimento de antropologia, filosofia, psicologia, sociologia e história por fornecerem uma visão crítica da realidade, permitindo ao aluno entender o seu pa- pel na sociedade. Ainda de acordo com o autor, nos anos 1990, com o enfoque desen- volvimentista, a aquisição de habilidades motoras para a especialização esportiva evidenciou que a abordagem pedagógica se preocupava com as mudanças ocorridas no comportamento humano durante o ciclo de vida de uma pessoa. Atualmente, a Educação Física desenvolvida nas escolas conside- ra as diferentes concepções, todas elas buscando romper com o mo- delo mecanicista, esportivista e tradicional de prática corporal. Entre essas concepções estão a humanista, a fenomenológica, a psicomotri- cidade, a cultural, a desenvolvimentista, a interacionista-construtivista, a crítico-superadora, a sistêmica, a crítico-emancipatória, a saúde-renovadae a baseada nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Contudo, as diferentes áreas das ciências sociais demonstram a necessidade de que os professores de Educação Física tenham com- preensão sobre a evolução do movimento humano e como isso se re- flete no processo de humanização. Para Gallardo (1998, p. 24), há a preocupação com o processo e a forma de produção cultural nas diferentes regiões e culturas, o que poderia explicar as dife- renças inter e intragrupos. Com efeito, a relação entre a cultura motora e a ludicidade fazem parte da história e envolvem o pro- cesso de organização social, a forma de exploração dos recursos alimentares, as manifestações religiosas e a forma de expressar essas manifestações. 12 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física Nas aulas de Educação Física, isso acontece por meio dos jogos e brincadeiras, da dança e da música. As novas abordagens da Educação Física destacam o estudo do corpo em movimento e objetivam, por meio da prática lúdica, atin- gir a consciência e o domínio corporal, que devem ser trabalhados por meio dos pressupostos do movimento expressos na ginástica, no jogo, na dança e nos esportes. A obra Coletivo de Autores: a cul- tura corporal em questão, uma referência importante para a área da Educação Física, esclarece que “o homem se apropria da cultu- ra corporal dispondo sua intencionalidade para o lúdico, o artístico, o agonístico, o estético ou outros, que são representações, ideias, conceitos produzidos pela consciência social” (SOUZA JÚNIOR et al., 1992. p. 62). A cultura corporal engloba as interações sociais. Desse modo, os conteúdos são organizados para desenvolver a autonomia e a criticidade dos estudantes, como protagonistas do seu processo de aprendizagem. Na atualidade, a Educação Física segue pressupostos teóricos que percebem os estudantes como sujeitos que compartilham espaço e tempo historicamente elaborados. A prática de atividades corporais leva os estudantes a elaborar e reelaborar seus saberes e suas atua- ções na sociedade. Nessa perspectiva, as práticas pedagógicas na Edu- cação Física possibilitam aos estudantes desenvolver a criticidade e a reflexão, o que favorece a sua participação ativa como sujeito capaz de situar-se no mundo. O ser humano significa representações, ideias e conceitos e as rela- ciona com a sua própria realidade. Considera-se, assim, que ao se abor- dar os conteúdos da Educação Física na escola deve-se proporcionar ao aluno uma relação dialética entre a sua intencionalidade/objetivos e as intenções/objetivos na sociedade. Com efeito, ao considerar os estu- dantes sujeitos ativos no processo de construção do conhecimento, as aulas de Educação Física no ambiente escolar propiciam a reflexão dos problemas sociopolíticos atuais e o entendimento da realidade social, interpretando-a e explicando-a com base em seus interesses de classe social. Cabe à escola promover a apreensão da prática social, e os con- teúdos devem ser buscados a partir dos interesses dela. A leitura do livro Edu- cação Física na escola: implicações para a prática pedagógica irá propor- cionar o conhecimento e aprofundamento sobre a Educação Física para a construção da cultura corporal nas aulas. O estudo irá compor os saberes sobre como planejar uma aula com os conteúdos estruturantes da área abordados no decorrer deste capítulo. DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. Livro Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 13 1.2 Educação Física escolar: currículo Videoaula Agora que conhecemos um pouco da história dessa área de rele- vância para o processo de ensino e aprendizagem, vamos pensar como deverá ser o currículo. O currículo da Educação Física escolar enfatiza a socialização do co- nhecimento. Os conteúdos estruturantes são abordados de maneira contextualizada, estabelecendo entre si relações interdisciplinares. A ri- gidez com que a Educação Física era trabalhada quanto ao movimento não atende mais à realidade cultural e social dos estudantes na escola. Dessa perspectiva, propõe-se que esses conhecimentos “contribuam para a crítica às contradições sociais, políticas e econômicas presentes nas estruturas da sociedade contemporânea e propiciem compreender a produção científica, a reflexão filosófica, a criação artística, nos con- textos em que elas se constituem” (PARANÁ, 2008, p. 14). Os currículos da Educação Física seguem os pressupostos das Di- retrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, que definem a educação infantil como primeira etapa da educação básica, conforme o texto da Resolução CNE/CEB n. 4, de 13 de julho de 2010: CAPÍTULO I ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes momentos constitutivos do desenvolvimento educacional: I – a Educação Infantil, que compreende: a Creche, englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com duração de 2 (dois) anos. (BRASIL, 2013, p. 69) No artigo 22 dessa resolução verificamos que a educação infantil objetiva o desenvolvimento integral das crianças considerando seus “aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual, social, complementan- do a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 2013, p. 69). Desse modo, a Educação Física na educação infantil tem como objetivo abor- dar práticas corporais que propiciem às crianças conhecer-se e domi- nar suas estruturas corporais. Os conteúdos da Educação Física nessa etapa abordam o jogo, a ginástica, a dança e a arte circense. O movimento é visto como par- 14 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física te integrante dos saberes e como conhecimento de mundo. Assim, a Educação Física na educação infantil não objetiva preparar a criança para as aprendizagens específicas das áreas de conhecimento, mas sim desenvolver suas potencialidades de forma integral com base em suas experiências. De acordo com Amorin (1994, p. 7): A criança não conseguirá se localizar em um espaço geográfico, como é solicitado pela Geografia, não poderá se situar na con- temporaneidade e dialogar com o passado, como necessita a His- tória, terá dificuldade em exercer a sua necessária participação histórico-cultural nas Ciências, na Matemática, na Língua Portu- guesa, se for um corpo fragmentado, reprimido historicamente. Com efeito, para a criança na educação infantil, o espaço é o corpo vivido, descoberto e conquistado com suas próprias vivências, sendo essas a referência básica para que ela primeiro se localize e depois aos outros. Segundo o Parecer CNE/CEB n. 20, de 11 de novembro de 2009, a Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), regulamentando esse ordenamento, introduziu uma série de ino- vações em relação à Educação Básica, dentre as quais, a integra- ção das creches nos sistemas de ensino compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da Educação Básica. (BRASIL, 2009) Essa lei traz maior autonomia das escolas quanto à organização dos currículos e métodos pedagógicos. Por isso, os currículos da educação infantil precisam considerar o desenvolvimento da motricidade por meio de práticas pedagógicas que abordem as relações sociais e cul- turais em que as crianças estão inseridas, o que rompe com a ideia de que a prática enfoca o rendimento em determinadas habilidades. Con- siderando o corpo, o modo de ação sobre o meio e as relações que o cercam, a função da escola aponta para a atuação crítica da criança na sociedade, que como sujeito da história deverá ser resultado da ação pedagógica na Educação Física escolar. Ainda de acordo com o Parecer CNE/CEB n. 20, “a redução das de- sigualdades sociais e regionais e a promoção do bem de todos (art. 3º, incisos II e IV da Constituição Federal) são compromissos a serem perseguidos pelos sistemas de ensino e pelos professores também na Educação Infantil” (BRASIL, 2009). Cumprir essa função sociopolítica e pedagógica quer dizer queas creches e pré-escolas têm no brincar a possibilidade de desenvolver Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 15 novas formas de sociabilidade e de subjetividades comprome- tidas com a democracia e a cidadania, com a dignidade da pes- soa humana, com o reconhecimento da necessidade de defesa do meio ambiente e com o rompimento de relações de domi- nação etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regio- nal, linguística e religiosa que ainda marcam nossa sociedade. (BRASIL, 2009) No ensino fundamental, a Educação Física escolar justifica-se pela necessidade que existe de valorizar a riqueza do aprendizado propi- ciado pelas atividades motoras da cultura corporal. Gallardo (1998) destaca a perspectiva atual para a Educação Física dentro do contexto pedagógico escolar. Para o autor: cabe à escola como um todo ensinar valores, costumes e formas harmônicas de convivência social (formação humana); ao mesmo tempo, é seu papel organizar e hierarquizar os conhecimentos produzidos possibilitando sua apropriação pelos alunos (capaci- tação). Assim, do ponto de vista do desenvolvimento motor, seria desejável que todas as crianças, pré-adolescentes e adolescentes que frequentam a escola, refletissem e executassem de forma madura os movimentos fundamentais ou as habilidades especí- ficas do ser humano, o que também implicaria uma combinação e refinamento desses movimentos em atividades ligadas a seu cotidiano (formação humana). (GALLARDO, 1998, p. 78) Os conteúdos da Educação Física nessa etapa abordam o jogo, a ginástica, a dança, a arte circense e as lutas. Contudo, esses conteúdos são abordados por meio de atividades lúdicas que articulem “as expe- riências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio artístico, cultural, científico e tecnológico” (BRASIL, 2009). As lutas fazem parte desses conteúdos, pois trazem em sua his- toricidade a simbologia que possibilita que sua prática identifique os valores culturais na escola. Uma das possibilidades de se trabalhar com as lutas na escola é a partir dos jogos de oposição, cuja característica é o ato de confrontação que pode ocorrer em duplas, trios ou até mesmo em grupos. O objetivo é vencer o companheiro de maneira lúdi- ca, impondo-se fisicamente ao outro. Além disso, deve haver o respeito às regras e, acima de tudo, à integridade física do colega durante a atividade. (PARANÁ, 2008, p. 69-70) Logo, o movimento, as diferentes formas de linguagem, o pen- samento, o afeto e a sociabilidade são elementos indissociáveis e se Atividade 2 Como se justifica a presença da Educação Física no ensino fundamental? 16 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física desenvolvem por meio das interações que os bebês e as crianças pe- quenas estabelecem nas situações das quais participam. Nessa conti- nuação, o brincar propicia às crianças oportunidades para recriar sua realidade com ações que envolvem a fantasia e o faz de conta. Caberá aos professores, nas vivências lúdicas com as crianças, conhecerem a realidade social e cultural, o que favorece o desenvol- vimento pessoal e profissional docente. Isso tudo amplia as possibi- lidades de compreender e retribuir as iniciativas infantis. “Por meio da ginástica, o professor poderá organizar a aula de maneira que os alunos se movimentem, descubram e reconheçam as possibilidades e limites do próprio corpo” (PARANÁ, 2008, p. 68). Com efeito, a prática de movimentos na ginástica de forma lúdica possibilita a interação e a significação do corpo. A organização curricular para a educação infantil requer planeja- mento das atividades educativas que facilitem a formação de habili- dades para a criança aprender a cuidar de si. “Educar cuidando inclui acolher, garantir a segurança, mas também alimentar a curiosidade, a ludicidade e a expressividade infantis” (BRASIL, 2009, p. 5). As atividades lúdicas com o movimento contribuem para que os be- bês e as crianças adquiram os conhecimentos de sua realidade cultural e da humanidade. Contudo, as atividades deverão ser articuladas ao cotidiano. “O combate ao racismo e às discriminações de gênero, so- cioeconômicas, étnico-raciais e religiosas deve ser objeto de constante reflexão e intervenção no cotidiano da Educação Infantil” (BRASIL, 2009). A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi aprovada em dezem- bro de 2017 e deverá ser colocada em prática na educação infantil e no ensino fundamental a partir de 2020. Na BNCC são definidas as especi- ficidades para essa etapa da educação básica, estabelecendo os obje- tivos de aprendizagem e desenvolvimento primordiais das crianças de 0 a 5 anos e 11 meses. O primeiro capítulo desse documento explica o que a BNCC “propõe como concepção de criança, eixos estruturantes da prática pedagógica, direitos de aprendizagem e desenvolvimento e organização curricular por Campos de Experiências” (BRASIL, 2017). Assim como nas Diretrizes Curriculares Nacionais, a BNCC define como eixos para a prática pedagógica na educação infantil as interações e as brincadeiras. A BNCC (BRASIL, 2017) destaca que as interações com crianças e adultos em diferentes espaços e vivências propiciam a Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 17 construção de um repertório cultural, o que favorece as aprendizagens e o desenvolvimento. As brincadeiras fantasiam as relações imitando, transformando e ampliando suas experiências. A BNCC define seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento – conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se – e in- dica como organização curricular para bebês (de 0 a 1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas (de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (de 4 anos a 5 anos e 11 meses) os Campos de Ex- periências, que são: “Eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; e Espaços, tempos, quantidades e transformações” (BRASIL, 2017, p. 40). Os Campos de Experiências são trabalhados de forma integrada, mas nesta obra trataremos com mais ênfase o campo “Corpo, gestos e movimentos”, que aborda experiências destacando que: a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, en- gatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.). (BRASIL, 2017, p. 40-41) Esse campo encontra na prática lúdica diversas atividades que pro- põem o desenvolvimento integral das crianças na educação infantil. 1.3 O brincar na prática pedagógica Videoaula Os professores de Educação Física também são parceiros das brin- cadeiras para as crianças na escola. A prática pedagógica lúdica inicia quando se observam as brincadeiras e os jogos em espaços e tempos que não apenas os delimitados pelas aulas. Quando brincam, as crian- ças expressam sentimentos, ações, preferências e, também, aquilo de que não gostam. Dessa maneira, é importante que tudo isso seja con- siderado no momento do planejamento. Com base nessa observação, poderá ocorrer a escolha dos jogos que venham ao encontro de poten- cialidades de desenvolvimento dos estudantes. 18 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física Rau (2011a) destaca que os jogos e brincadeiras poderão ser utiliza- dos como recurso pedagógico no processo de ensino e aprendizagem. Contudo, vamos refletir sobre o ensino por meio da prática lúdica. Será que a vivência de jogos e brincadeiras propicia aprendizagens específi- cas? O processo de aprendizagem ocorre também pela representação das informações, assim, a metodologia desenvolvida pelos professores poderá tornar o ensino mais significativoe, então, as atividades lúdicas são um meio que favorece esse processo, pois abordam diferentes ti- pos de linguagens, como a corporal e a oral. Quando as crianças começam a jogar, logo estabelecem metas. Elas elaboram objetivos, criam estratégias, imaginam e colocam em ação as capacidades cognitivas de raciocínio e atenção. Jogar é uma experiên- cia que existe pelo tempo em que ocorrem as ações, daí seu caráter lúdico. Com efeito, ao vivenciar as interações, as crianças expressam emoções e sentimentos. Mesmo realizando todo esse processo, por ve- zes o resultado não é vencer e, assim, ela compreende que ganhar ou perder faz parte do jogo. Como em diversos processos de aprendizagem, o brincar provoca de- safios e a busca pela superação. No brincar, a relação entre professores e estudantes ocorre entre companheiros que contextualizam os jogos, mesmo que em posições diferentes, mas que se encontram, partilham e compartilham experiências. “O brincar – atividade lúdica não produtiva – proporciona o desenvolvimento da imaginação, da percepção, do pen- samento, do controle da vontade dentre outras funções psíquicas que só se manifestam externamente porque ocorreram mudanças na perso- nalidade e na consciência da criança” (MAGALHÃES et al., 2017, p. 225). A mediação do adulto na brincadeira ocorre por meio do olhar, da orientação e da responsabilidade de suas ações em situações lúdicas com os educandos. Porém, lembre-se de que os professores são adul- tos e, por isso, brincam como adultos. Se os jogos forem muito difíceis para as crianças e o adulto vencer sempre, tornará a atividade lúdica frustrante e cansativa; ao contrário, se o jogo for muito fácil e o profes- sor deixar a criança vencer todas as vezes, tornará a vivência desinte- ressante. Assim, não há regras sobre deixar a criança ganhar ou perder. Observar, tornar o jogo desafiador, mediar o raciocínio e problematizar os movimentos poderá ser uma ótima ideia. O site da Britannica® Escola, uma plataforma de aprendiza- gem online para os alunos do Ensino Fundamental I, traz uma variedade de jogos e brinquedos tradicionais e descreve sua ori- gem e história. O conhecimento abordado ajudará a compor a relação teoria e prática para a atuação crítica com os jogos e brincadeiras nas aulas de Educação Física. Disponível em: http://escola. britannica.com.br/article/483458/ peteca. Acesso em: 27 jan. 2020. Site Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 19 Outras dicas são importantes para que a prática lúdica se torne sig- nificativa no processo de ensino e aprendizagem da Educação Física na escola. Para as crianças pequenas, na educação infantil e no ensino fundamental, o brincar é a forma de ensino para todos os professores, assim, o professor de Educação Física será um importante elo entre a prática pedagógica com o brincar, o movimento, a arte, a música, a dança e outras formas lúdicas. O brincar com as crianças nas aulas de Educação Física começa ainda na sala de aula, quando o professor con- vida para irem à quadra, ao pátio ou ao parque da escola. Começar a aula com músicas que trabalhem com partes do corpo poderá ser divertido e fará com que os estudantes já se mobilizem para a prática corporal. Como exemplo, podemos pensar na brincadeira da Boneca de lata, com uma turma de pré-escola. Veja a letra de uma cantiga po- pular e de como brincar. Boneca de lata Minha boneca de lata Bateu a cabeça no chão Levou quase uma hora Pra fazer a arrumação Desamassa aqui Pra ficar boa Minha boneca de lata Bateu o nariz no chão Levou mais de duas horas Pra fazer a arrumação Desamassa aqui Desamassa ali Pra ficar boa Minha boneca de lata Bateu o outro ombro no chão Levou mais de três horas Pra fazer a arrumação Desamassa aqui Desamassa ali Desamassa aqui Pra ficar boa Como brincar Tudo começa por ensinar a letra da música para as crianças. O professor poderá fazer uso de uma lousa interativa ou mesmo escrever a letra da música no quadro de giz. Também poderá fazer um cartaz. Mes- mo que as crianças ainda não saibam ler é importante que já tenham contato com a leitura e a escrita. Assim que as crianças aprenderem a cantar a música, o professor irá propor os gestos, tocando nas par- tes do corpo conforme são ditas na música. Pura diversão! Em seguida, junto com as crianças, o professor sairá da sala, cantando e divertindo-se. Na prática Outra dica é desenvolver uma rotina com os estudantes desde o início da aula, quando estiverem fora da sala. Na educação infantil a rotina é im- portante, pois traz segurança para as crianças e fortalece a percepção de que a sucessão de acontecimentos na escola é diferente de casa. “A rotina deve prever momentos em que a criança tenha experiências de interação 20 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física social que promovam a sua relação com o meio, envolvendo suas atitudes em relação a si, aos objetos e ao outro” (RAU, 2011b, p. 38-39). Logo no início do ano letivo ou trabalho inicial com as crianças na es- cola, os professores farão alguns combinados. Na Figura 1 temos alguns exemplos de combinados. Você poderá criar outros, mas lembre-se de que os estudantes são críticos e criativos, faça-os junto com eles. Figura 1 Contrato didático para as aulas de Educação Física Aguardar o professor em sala ou em local pré-definido. Fazer perguntas para esclarecer as dúvidas e/ou falar sobre o que sabe dos conteúdos falando em voz baixa. Sair da sala junto com os colegas e não dispersar até chegar ao espaço da aula. O mesmo combinado vale para voltar para a sala. Estar atento às orientações e explicações do professor. Ao chegar no espaço da aula, ocupar o espaço solicitado pelo professor e esperar as orientações. Fonte: Elaborada pela autora. Para ensinar os jogos, você poderá explicar oralmente as vivências por etapas. Primeiro explique as regras, como jogar e o espaço em que será vivenciado o jogo. A explicação dos jogos poderá ter como apoio um recurso visual. Um pequeno quadro de giz ou um desenho na lousa interativa são ótimos recursos para facilitar a compreensão das crian- ças de como se desenvolve a prática lúdica. Durante a prática dos jogos, interaja com os estudantes, faça per- guntas sobre as estratégias que estão propondo. Algumas vezes as crianças são mais tímidas e não expressam o que estão pensando. Se necessário, mude as regras para que o jogo seja mais interessante e prazeroso. Converse com os estudantes para que digam o que estão aprendendo e sentindo. Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 21 A alegria é uma característica fundamental para o educador que se propõe a desenvolver a prática lúdica, assim, você também poderá se divertir com os estudantes. Não se esqueça de que brincar é coisa séria! Se for necessário ser mais firme para lidar com as regras e as atitudes dos estudantes, faça isso. Porém, fale de maneira calma, em tom de voz baixo, evitando palavras ásperas; a serenidade faz parte do adulto brincante. Dicas para a prática lúdica • Brincar desde o primeiro contato com os estudantes. • Fazer combinados para que eles compreendam o que você espera deles e o que desenvolverá nas aulas de Educação Física. • Fazer a mediação da prática lúdica com questionamentos e recursos que tornem as atividades com o movimento e as interações mais desafiadoras e divertidas. • As regras fazem parte das relações humanas, podem ser seguidas ou podem ser refletidas e transformadas. O diálogo é importante. • A alegria e a diversão são partes importantes para todos os participantes dos jogos e brincadeiras. Você percebeu os aspectos da prática pedagógica com os jogos e brincadeiras nas aulas? Eles não acabam aqui. O planejamento das aulas é fundamental para que a prática seja coerente com a concepção de ludicidade nas aulas de Educação Física. Essa é uma ideia que será tratada em todo o livro. O planejamento das aulas de Educação Física tem alguns elementosespecíficos: os conteúdos que serão abordados, os objetivos, a meto- dologia e a avaliação. Geralmente, escolhemos entre um a três jogos ou brincadeiras, atividades lúdicas, para uma aula. No entanto, o planeja- mento é flexível. Não fique preocupado em realizar todas as atividades. Algumas vezes uma atividade se torna tão interessante para os estudan- tes que eles não querem parar de praticar. Outras vezes a atividade não é significativa. Portanto, as interações dos estudantes serão os ponteiros de sua bússola para a prática pedagógica com os jogos e brincadeiras. Tão importante quanto o planejamento é a organização do espaço nessa prática. Um espaço bem organizado propicia as interações entre os estu- dantes, entre eles e os objetos e com os professores. 22 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física 1.4 A prática pedagógica com o brincar na Educação Física Videoaula Você sabe como pensamos a metodologia lúdica? Vamos responder: na prática! Assim, você irá conhecer ainda mais os estudos e as pesqui- sas dos autores da área. Para isso, pretendemos compartilhar esse co- nhecimento com você, contudo não objetivamos esgotar o tema, pois para cada prática lúdica é preciso organizar um planejamento, o que se constitui em pensar estratégias e seleção de recursos e brinquedos conforme o grupo de estudantes. A metodologia lúdica, assim como outras formas de trabalho peda- gógico, poderá ser desenvolvida em etapas. Entre estas, as interações entre os estudantes precisam ser pensadas para o início da aula. Atual- mente, muitas crianças e adolescentes têm dificuldades em se expres- sar corporalmente e até interagir com os colegas por diversos motivos, que envolvem relações sociais e familiares. Entre esses motivos está a família que dedica muito tempo ao trabalho e pouco ao lazer e às atividades corporais com seus filhos. Em virtude disso, as crianças e os jovens procuram distração nos eletrônicos e redes sociais. Por isso, várias vezes observamos que quando as crianças e jovens têm a oportunidade de participar de jogos e brincadeiras em grupo na escola, se sentem desconfortáveis. Isso geralmente ocorre no início das aulas, pois logo que experimentam o prazer e a diversão que a prática lú- dica lhes proporciona, passam a gostar das aulas. Nesse ponto de vista: propõe-se que a Educação Física seja fundamentada nas refle- xões sobre as necessidades atuais de ensino perante os alunos, na superação de contradições e na valorização da educação. Por isso, é de fundamental importância considerar os contextos e ex- periências de diferentes regiões, escolas, professores, alunos e da comunidade. (PARANÁ, 2008, p. 50) As emoções intervêm no aprendizado dos estudantes e isso poderá trazer alguns bloqueios corporais em relação ao movimento. Com efei- to, vivenciando jogos e brincadeiras, os estudantes ampliam a expres- são corporal, a comunicação, a socialização e a aprendizagem. Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 23 1.4.1 O planejamento para a prática lúdica nas aulas de Educação Física O planejamento das aulas é fundamental para a qualidade do tra- balho pedagógico na Educação Física. O plano de aula é organizado da seguinte forma: pesquisa do conteúdo, definição dos objetivos, seleção das atividades, organização do espaço e dos recursos, descrição da me- todologia e dos instrumentos de avaliação. Ao planejar as aulas, faça a seleção do conteúdo. Para isso é im- portante que você conheça alguns documentos, como as Diretrizes Curriculares Nacionais e a BNCC. Você também precisará consultar os referenciais curriculares do seu município ou estado. Neles estarão elencados os conteúdos estruturantes da Educação Física na educação infantil e no ensino fundamental. Tendo definido o conteúdo, elabore os objetivos das aulas. Lembre-se de que os jogos e brincadeiras possibilitam desenvol- ver,demonstrar, capacitar, contribuir, mostrar, colaborar, conhecer, identificar e várias outras ações que possam levar os estudantes ao conhecimento e à consciência corporal. Assim, você poderá pensar em para quem e por que os conteúdos serão relevantes no processo de ensino e aprendizagem. As aulas de Educação Física contribuem para esse processo, desen- volvendo a criticidade e a criatividade dos estudantes, pois contam com conteúdos que também são abordados em outras disciplinas escola- res, promovendo a reflexão sobre as experiências vividas em diferen- tes contextos. A prática de jogos e brincadeiras estimula a interação social, propicia a reflexão sobre os papéis vivenciados, a competição e a cooperação, o desenvolvimento das habilidades psicomotoras, entre outros objetivos fundamentais para os estudantes. O planejamento também poderá ser organizado junto à coordena- ção pedagógica e aos professores de outras disciplinas na escola, dessa forma, o corpo e o movimento terão outras abordagens, com textos e reflexões sociais e culturais, além das práticas corporais. Logo que os conteúdos e os objetivos sejam definidos, faça uma pesquisa sobre as atividades lúdicas que serão encaminhadas. Não se esqueça de que essas têm em sua trajetória uma história e, portanto, é importante abordar as informações sobre sua origem e pressupostos. Atividade 3 Como elaborar um planejamen- to para a prática lúdica nas aulas de Educação Física? A prática corporal precisa de um espaço adequado que incite as intera- ções entre os estudantes, bem como as expressões verbais e corporais. O ideal é que as aulas sejam desenvolvidas em espaços abertos, po- rém as próprias salas de aula também servirão para que os jogos e as brincadeiras possam ser trabalhados com os estudantes. Você poderá convidá-los para participar da organização do espaço, reorganizando ca- deiras e mesas para que atendam às necessidades das atividades. Lem- bre-se de deixar o espaço organizado no final da aula para que outros professores também possam utilizá-lo. Isso levará os estudantes a de- senvolverem a responsabilidade sobre a utilização do espaço comum. Na sequência, descreva a metodologia da aula e faça a seleção dos recursos didáticos para a realização das práticas lúdicas. Os materiais básicos da Educação Física são bolas de borracha, arcos, colchonetes, bastões, bancos de madeira, traves de futebol removíveis, tatames, bo- las para a prática esportiva, cordas individuais e coletivas, cones para demarcar espaços, jogos de tabuleiro, jogos de ação, quebra-cabeças, pega-varetas, jogos de adivinhação, raquetes, tacos de madeira, saqui- nhos de areia para o trabalho com ações de carregar, recursos audio- visuais, como pôsteres, atlas sobre o corpo humano, entre outros. A Figura 2 apresenta exemplos desses materiais. Os recursos comumente usados nas aulas de Arte também poderão compor os materiais da Educação Física: tintas, pincéis, argila, massinha David Shankbone/Wikimedia Commons 24 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física Figura 2 Recursos didáticos para as aulas de Edu- cação Física Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 25 de modelar, fantasias, músicas, textos, poesias, material escolar e uma infinidade de outros recursos de acordo com os conteúdos abordados. As sucatas e os recursos da natureza são muito bem-vindos. To- dos esses materiais são utilizados na prática com jogos e brincadeiras, contudo, o principal recurso é o corpo. Assim, se a escola tiver poucos recursos, pesquise atividades que não necessitam de materiais para a prática. Existem muitos jogos e brincadeiras que são realizados com materiais alternativos e mobiliários comuns, como cadeiras e cartei- ras, muretas, pequenos degraus, gramados; alguns até não utilizam nenhum material. Consideramos que os recursos e materiais, bem como espaços ade- quados para a prática lúdica, são importantes para a qualidade das au- las, porém, a falta desses não poderá ser um empecilho para que os estudantes joguem, brinquem, aprendam e se divirtam. A mediação do professor é tão, ou mais,importante do que os recursos materiais. Se a turma tiver alunos com deficiências auditiva ou visual, lembre-se de verificar a adequação dos materiais e recursos, a presença de um in- térprete para os estudantes que dominem a língua de sinais e recursos visuais adaptados, como os utensílios para escrever em braile, soroban (ábaco japonês, utilizado para o ensino da Matemática), audiolivros, sinalizações, pranchas ou presilhas para prender o papel na mesa, suportes para lápis e canetas. A acessibilidade do espaço também é fundamental. Assim, as portas de acesso precisam ser largas, ter ba- nheiros próximos, rampas e barras de apoio para facilitar a mobilidade dos estudantes com deficiências. Os jogos, as brincadeiras e os brinquedos poderão tratar de diferen- tes assuntos: a socialização; a psicomotricidade para o desenvolvimen- to da consciência corporal; as estratégias cognitivas, como a memória, a atenção, a concentração e o raciocínio lógico; a competição; a coope- ração; e as diferentes culturas regionais. Contextualize os assuntos citados nas atividades, tornando-os mais significativos para os estudantes. Ao final das aulas de Educação Física, faça uma reflexão com os estudantes sobre o encaminhamento de- senvolvido, evidenciando pontos importantes sobre a prática lúdica. A seguir trataremos do encerramento das práticas lúdicas com jogos e brincadeiras referindo-se ao processo de avaliação com o brincar e as interações com os estudantes nas aulas de Educação Física. 26 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física 1.4.2 Organização do espaço Quais são os espaços propícios para as aulas de Educação Física? A resposta a essa pergunta não é simples. A escolha do espaço deverá seguir o planejamento da atividade e atender às necessidades dos mo- vimentos e das interações. Atividades que envolvam corridas poderão ser desenvolvidas na quadra esportiva, como exemplifica a Figura 3. Os jogos e brincadei- ras que envolvem os movimentos corporais, como andar, correr, sal- tar, arremessar e pegar, também necessitam de espaços amplos. Os jogos e brincadeiras sensoriais poderão ser feitos em salas ou salões fechados, pois algumas práticas necessitam que os estudantes dis- criminem sons, cores, formas, sabores e aromas. A Figura 4 mostra um exem- plo desse tipo de prática. Mic roO ne/ Shu tter sto ck Figura 3 Quadra esportiva Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 27 O le si aB ilk ei /S hu tt er st oc k Figura 4 Painel sensorial As práticas lúdicas com música também seguem essa regra. Po- rém, nesse caso, bosques e parques são espaços convidativos para o desenvolvimento dos sentidos. Os jogos de tabuleiro precisam de espaços onde as crianças pos- sam sentar-se; se a escola tiver algumas mesas e bancos em espaços coletivos, serão interessantes para que a prática desses jogos ocorra além das aulas de Educação Física. Espaços com areia, água e árvores são propícios aos desafios mo- tores, porém, há de se cuidar com a segurança das crianças. O olhar atento dos professores às vezes é insuficiente para que elas não se machuquem. Bebês e crianças pequenas não têm total noção do que possa ser um risco e, desse modo, correm e pulam sobre objetos sem planejar seus movimentos. Assim, sempre que for realizar práticas lúdicas em espaços abertos, com árvores, balanços, escorregadores e outros implementos e brinquedos, busque auxílio de outros profissio- nais da escola para que possam ajudar nos cuidados. 28 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física Os estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental (AIEF) já têm melhor controle motor, porém é necessário que se tome cuidado com os objetos que são deixados nas quadras e salas de aula. Em espaços abertos é comum que brinquem de corrida e joguem bola, assim, o piso deverá estar sempre seco para que as crianças não escorreguem. Eles tentarão fazer com que você, professor ou professora, deixe que pratiquem esse tipo de atividade mesmo que o espaço esteja molhado, como nos dias de chuva em pátios e quadras abertas, porém não dei- xe que brinquem dessa forma, pois com certeza haverá escorregões e quedas, o que poderá causar lesões graves nas crianças. O espaço e o ambiente são dois elementos interligados. Quando falamos sobre o espaço estamos falando sobre a dimensão física, por exemplo: a sala de aula, o ginásio da escola e o auditório. Estes envolvem o piso, as paredes e o teto, assim, dificilmente é possível modificar a dimensão física, pois são concretos. No entanto, o am- biente se refere à maneira como organizamos o espaço, ou seja, o mobiliário, a decoração e os recursos. O ambiente precisa ser agra- dável, principalmente quando se refere à prática lúdica nas aulas de Educação Física. É importante que você converse com os estudan- tes sobre a higiene do local. O espaço da prática lúdica e corporal não deverá ser utilizado para alimentação, pois sobras de alimentos trazem insetos, roedores e bactérias e tudo isso poderá provocar doenças e infecções. Para sistematizar a apresentação sobre o planejamento com jogos e brincadeiras faremos a sugestão de um plano de ação do- cente de Educação Física para que você reflita sobre como poderá ser elaborada a relação entre a teoria e a prática com a ludicidade na escola. Observe que não serão citados os nomes dos jogos para que você possa utilizar essa sugestão e adaptar para a prática com os conteúdos da Educação Física. O plano do Quadro 1 poderá ser desenvolvido com estudantes do 5º ano do ensino fundamental, to- davia poderá ser adaptado para outras séries. Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 29 Quadro 1 Plano de aula para a prática lúdica nas aulas de Educação Física Conteúdo Objetivos Metodologia Recursos didáticos Avaliação Jogos e brincadeiras populares Pesquisar sobre a origem e o histórico dos jogos, brinquedos e brincadeiras. Vivenciar jogos e brin- cadeiras popularmente conhecidos. Conhecer a origem dos jogos e brincadeiras para a reflexão sobre o brincar na atualidade. Refletir sobre as regras e suas possibilidades de transformações de acordo com as relações sociais e culturais do seu grupo. Conversa com os estu- dantes sobre os jogos e brincadeiras que conhecem. Pesquisa sobre a origem dos jogos co- nhecidos. Debate sobre a origem e o histórico dos jogos, brinquedos e brinca- deiras. Vivência de jogos e brincadeiras e adequa- ção das regras para os interesses do grupo. Quadras esporti- vas, sala de infor- mática, pendrive, multimídia, bolas de borracha, som, cordas. Instrumentos: criação de um jogo que envolva os conteúdos abordados e as regras. Apresentação do jogo e vivência com os colegas. Critérios: participação consciente nos jogos. Vivência re- flexiva sobre as regras. Reflexão sobre a origem dos jogos e a relação com o brincar na atualidade. Fonte: Elaborado pela autora. Na escola, especificamente nas aulas de Educação Física, a prática lúdica é uma ocasião em que os estudantes e você estarão no coleti- vo, participando de vivências lúdicas. Esses momentos possibilitarão descobertas e criação de aprendizagens pessoais muito significativas. A prática lúdica propicia a sensibilização e a criatividade, já que aborda os jogos, as brincadeiras corporais e as interações entre todos os en- volvidos no processo. 1.5 O lúdico e a avaliação na Educação Física escolar Videoaula Os professores continuamente observam seus educandos em suas características de comportamento e expressões orais que darão margem a diferentes propostas pedagógicas. Existe no mercado até literatura específica realizada por professores atentos ao processo de desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes na escola. Isso é re- levante quando se propõem práticas corporais para o desenvolvimen- to integral das crianças e jovens na escola. Nessa lógica, é importante 30 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física refletir a respeito da valorizaçãoextensiva da aprendizagem cognitiva sobre a corporal. O trabalho pedagógico dos professores de Educação Física na educação infantil e nos AIEF é essencial para o desenvolvi- mento das interações no processo de ensino e aprendizagem. Nessa acepção, o educando aprende por meio da expressão corporal, oral e da escrita conjuntamente. Os jogos como recursos pedagógicos ampliam o processo de ensi- no e aprendizagem justamente por propiciar a prática da expressão em diferentes linguagens e abordar diversas estratégias, tentativas e maior aceitação do erro. Por esse ângulo, de acordo com Almeida (2004), quando participa de um jogo, a criança elabora e reelabora suas atitudes, organiza estratégias e pensamentos, utiliza o raciocí- nio e a memória. Os professores de Educação Física encontram nas expressões cor- porais dos estudantes elementos importantes para conhecerem sua realidade social e cultural. Dessa maneira, a metodologia das aulas poderá ser pensada para atender aos interesses dos estudantes, pro- piciando condições qualitativas para o processo de desenvolvimento e aprendizagem. Nesta perspectiva, Rau (2011a, p. 44) destaca que: é da reflexão sobre as abordagens acerca da ludicidade na edu- cação que resulta a teoria como expressão da prática, sendo então necessário que ocorra um movimento no sentido de vin- cular as concepções sobre o lúdico à sua utilização como recurso pedagógico. É quando a brincadeira fica séria, faz sentido e orde- na os múltiplos significados do imaginário da criança. A autora revela aspectos da intencionalidade educativa do brincar na educação. Com efeito, os termos reflexão, educação, recurso peda- gógico, sentido e significado são fundamentais na compreensão sobre a avaliação no processo de ensino e aprendizagem com o brincar na Educação Física. Traremos como fundamento aspectos das Diretrizes Curriculares para a Educação Física do Estado do Paraná. “Um dos primeiros as- pectos que precisa ser garantido é a não exclusão, isto é, a avaliação deve estar a serviço da aprendizagem de todos os alunos, de modo que Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 31 permeie o conjunto das ações pedagógicas e não seja um elemento ex- terno a esse processo” (PARANÁ, 2008, p. 77). Assim sendo, a avaliação deverá ocorrer durante o processo de ensino e aprendizagem. A avaliação deve se caracterizar como um processo contínuo, per- manente e cumulativo, tal qual preconiza a LDB nº 9394/96, em que o professor organizará e reorganizará o seu trabalho, susten- tado nas diversas práticas corporais, como a ginástica, o esporte, os jogos e brincadeiras, a dança e a luta. (PARANÁ, 2008, p. 77) As escolas de ensino fundamental têm o período letivo organizado em bimestres ou trimestres. Assim, a avaliação considera os aspectos formativos dos estudantes. Os instrumentos de avaliação poderão ser compostos de provas escritas individuais sobre os conteúdos, caso seja uma exigência da escola, mas também de apresentações orais e práti- cas, como recriação de jogos e brincadeiras, coreografias quando a ativi- dade lúdica for a dança e a expressão corporal, elaboração de cartazes e textos coletivos que descreverão pesquisas sobre a ludicidade, folders com imagens e representações de ginástica, envolvendo os alongamen- tos, atividades importantes para o desenvolvimento corporal. Atividades sobre alimentação saudável poderão fazer parte dos ins- trumentos de avaliação. É muito proveitoso e divertido organizar uma feira de produtos orgânicos e fazer uma salada de frutas como resul- tado de pesquisas sobre o assunto, que poderá ser oferecida aos co- legas da escola nos horários do intervalo ou projetos coletivos em que os estudantes farão as explicações sobre a alimentação e a prática de atividades corporais. A avaliação deve, ainda, estar relacionada aos encaminhamen- tos metodológicos, constituindo-se na forma de resgatar as ex- periências e sistematizações realizadas durante o processo de aprendizagem. Isto é, tanto o professor quanto os alunos pode- rão revisitar o trabalho realizado, identificando avanços e dificul- dades no processo pedagógico, com o objetivo de (re)planejar e propor encaminhamentos que reconheçam os acertos e, ainda, superem as dificuldades constatadas. (PARANÁ, 2008, p. 78) Esperamos que você tenha compreendido que a avaliação não de- verá ser classificatória como em outros momentos históricos em que existia a comparação entre o rendimento dos estudantes. Atualmente, 32 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física a Educação Física na escola não trata de competição, mas sim de for- mação humana por meio de atividades relacionadas à cultura corporal. Assim, o objetivo da avaliação será identificar o significado que os es- tudantes deram ao conteúdo trabalhado. Com efeito, ao final da aula com a ludicidade, o professor possibilitará que os estudantes façam uma reflexão crítica sobre as vivências lúdicas nas aulas e isso poderá ser desenvolvido por meio de desenhos, debates e expressões corpo- rais. O reconhecimento dos seus limites e possibilidades para os estu- dantes é fundamental para que sejam protagonistas do seu processo de aprendizagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desse capítulo foi ressaltar a relação do brincar com a Educação Física escolar no processo de ensino e aprendizagem. Atual- mente, há uma grande preocupação com o tempo e a qualidade des- tinados ao brincar e ao movimento das crianças e dos jovens. Logo, a Educação Física escolar tem nos jogos e nas brincadeiras um meio de transformar a visão que os estudantes têm sobre o movimento, o lazer, a aprendizagem e seu desenvolvimento, praticando e participando de ati- vidades que construam a consciência corporal, garantindo a autonomia e a liberdade de expressão. As atividades corporais desenvolvidas nas aulas de Educação Física são de extrema relevância para o crescimento e desenvolvimento das crian- ças e dos jovens. Desse modo, para que isso aconteça, é fundamental que os professores conheçam as transformações sociais e culturais que permearam o movimento e como chegamos à prática pedagógica que en- volve a ludicidade na educação. Com efeito, os professores poderão refletir e compreender a essência do movimento e a individualidade de cada estudante, com seus desejos, limites e potencialidades, em que a consciência corporal é fortemente in- fluenciada pelo momento histórico da sociedade em que vivem. Os bene- fícios das vivências lúdicas nas aulas de Educação Física serão notados ao longo da vida dos estudantes. Seja nos esportes, na família ou na escola, teremos pessoas autônomas sabendo lidar melhor com o seu corpo, suas emoções, seus desejos e suas frustrações. Educação Física e ludicidade: práticas pedagógicas 33 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. T. P. de. Jogos divertidos e brinquedos criativos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. AMORIN, M. Atirei o pau no gato: a pré-escola em serviço. São Paulo: Brasiliense, 1994. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer CNE/CEB 20/2009. Brasília, DF: Ministério da Educação, 11 nov. 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/pceb020_09.pdf. Acesso em: 27 jan. 2020 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Brasília, DF: MEC, SEB, DICEI, 2013. 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O plano de aula é organizado inicialmente pela pesquisa do conteúdo, seguindo a defi- nição dos objetivos, a seleção das atividades, a organização do espaço e dos recursos, a descrição da metodologia e dos instrumentos de avaliação. 34 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física Este capítulo visa mostrar as concepções lúdica e educativa dos jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física, apresentan- do os objetivos, a organização do espaço e a escolha de práticas lúdicas. Reforçamos que cada escola tem sua realidade, assim, as sugestões de atividades poderão ser adaptadas para as potencia- lidades e características de desenvolvimento dos estudantes no contexto inclusivo. Sugerimos que você reflita sobre o assunto e elabore suas próprias conclusões sobre o jogo na Educação Física. Divirta-se com o estudo! Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física 2 2.1 O significado do brincar para a educação Videoaula A abordagem sobre o brincar na educação será apresentada segun- do o entendimento de Brougère (1995), professor de Ciências da Edu- cação na Universidade Paris XIII, que nos esclarece sobre o universo infantil e a ludicidade. O autor descreve o jogo como atividade lúdica, ao enfocar o sentimento dos jogadores e seus objetivos, como um sis- tema de regras e, também, como material ou objeto, associado comu- mente ao brinquedo. O brincar está associado a um sistema social e, dessa forma, quan- do a criança brinca, dá sentido aos objetos e/ou brinquedos de acordo com a sua representação do real. “Para que existam brinquedos é pre- ciso que certos membros da sociedade deem sentido ao fato de que se produza, distribua e se consuma brinquedos” (BROUGÈRE, 1995, p. 7). Para ilustrar a dimensão social do brinquedo, vamos descrever uma prática lúdica. Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física 35 Manoel é um estudante da pré-escola em uma cidade do nordeste. A profes- sora de Educação Física da turma com 17 crianças se chama Francisca. Ela propôs uma atividade para trabalhar com a percepção das partes do corpo e o cuidado com a higiene. Essa atividade desenvolve a autonomia e a consciência corporal. A Figura 1 mostra como a criança identifica as partes do corpo e poderá ser usada na prática descrita. Yu m m yB uu m /S hu tt er st oc k Figura 1 Partes do corpo humano Leia a descrição da brincadeira desenvolvida pela professora Francisca e reflita sobre a prática. Banho de papel Convide as crianças para ir ao pátio da escola. Dê preferência a espaços que contenham árvores, gramados ou folhagens. Estimule a percepção dos movimentos respiratórios, a inspiração e a expiração. Peça que descontraiam os músculos enquanto respiram atentamente. Faça exercícios de alongamento com as crianças, levantando os braços suavemente, realizando movimentos circulares com o pescoço, girando a parte superior do tronco para os lados. A Figura 2 poderá facilitar a prática. Figura 2 Exercícios de alongamento V ec to rS ho w /S hu tte rs to ck (Continua) Na prática 36 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física Em seguida, distribua uma folha de revista para cada criança. Peça que amassem a folha com as duas mãos até formar uma bola e logo desamassem novamente. Essas ações desenvolverão a coordenação motora fina, fundamental para a aprendizagem da escrita, o desenho e a manipulação de objetos. Explique que irão imaginar que as folhas de papel são os materiais de higiene que utilizam no banho. Assim, inicialmente todos farão de conta que estão no momento do banho no banheiro de sua casa. Você também está se imaginando nessa prática? Estabeleça um diálogo entre a fantasia e a realidade por meio da imaginação. Você pode narrar a brincadeira. Comece dizendo “Agora vamos abrir o chuveiro! Hum, que água gostosa... Ela cai suave- mente sobre a nossa cabeça. Vamos pegar essa folha e fazer um xampu?”. As crianças e você amassarão a folha como se fosse um frasco de xampu. Incentive as crianças dizendo “Bom! Vamos abrir e colocar um pouco na mão. Fechem o frasco e deixem no chão. Vamos lavar nosso cabelo?”. Ensine as crianças como lavar o cabelo. Em seguida, pegue a folha novamente e peça para desamassarem com as duas mãos. Faça uma bola para que as crianças observem e façam também. Continue a narração dizendo “Agora vamos fazer o sabonete. Muito bom! Vamos lavar o rosto, os braços, o pescoço, o tronco, as costas...”. Chame a atenção para todas as partes do corpo. Não se esqueça de explicar a importância de mantermos nosso corpo higienizado para evitar doenças. Aproveite para falar que, além do banho, é necessário lavar as mãos sempre antes das refeições e após o uso do banheiro. Ao final da brincadeira, proponha às crianças transformarem a folha de papel em uma toalha para secar o corpo, pedindo que a pendurem no varal. Você pode criar um varal com um barbante preso aos galhos das árvores. Convide as crianças para organizar um círculo e questione como foi a percepção e o entendimento sobre a brincadeira. Finalize perguntando “A brincadeira fez vocês se lembrarem de algum acontecimento do dia? Quando o conteúdo higie- ne está presente no seu cotidiano?”. Você pode perguntar também como fariam a brincadeira de outra forma e se identificam a presença de regras. A brincadeira Banho de papel é uma atividade simples, porém o que a tornará significativa para os estudantes será a mediação do professor quanto à imaginação. Brougère (1995) nos explica que a criança pro- cura compreender o significado do brinquedo. Assim, é justo que você esteja pensando “Qual brinquedo? A atividade utilizou uma folha de papel. Não havia nenhum objeto ou brinquedo!”. É por isso que escolhemos a brincadeira desenvolvida pela pro- fessora Francisca para explanar a abordagem do autor. Por meio do brincar ocorre a expressão do sentimento dos jogadores e seus objeti- vos. Ao utilizar um objeto qualquer para evocar as ações lúdicas, o que Atividade 1 Qual é a característica da brinca- deira que está em pauta quando a criança cria uma ação com um brinquedo ou objeto? Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física 37 está em pauta é a imaginação. Dessa forma, qualquer objeto poderá se transformar em um brinquedo desde que a criança possa, além de interagir com o material, representar as vivências do seu cotidiano e recriá-las ao seu modo. “A criança que manipula um brinquedo possui entre as mãos uma imagem a decodificar” (BROUGÈRE, 1995, p. 8). Com efeito, a brincadeira é a representação dos significados que fazem par- te de um objeto ou brinquedo. Ao amassar e desamassar a folha do papel, criando e recriando for- mas, a criança representa as imagens e experiênciasdo seu cotidiano. E quando interpreta corporalmente as ações do banho, decodifica a representação das relações sociais e culturais em que está inserida. “A criança deve conferir significados ao brinquedo, durante sua brincadei- ra” (BROUGÈRE, 1995, p. 9). 2.2 O significado de brinquedo e brincadeira para a educação Videoaula O brinquedo é o material ou objeto que a criança explora livre- mente, sem a presença de regras. Também é um objeto ligado à in- fância, com efeito, não dizemos que um adulto está brincando sem delegar à brincadeira o caráter não sério, de passatempo ou até, como aponta Brougère (1995), ligado à futilidade. Por ser uma ativi- dade livre, a brincadeira é associada à relação entre a ação e a fanta- sia. O brinquedo propicia a brincadeira, uma vez que possibilita ações ligadas à representação. Assim, como nos esclarece o autor, “no brin- quedo, o valor simbólico é a função” (BROUGÈRE, 1995, p. 14). Isso revela que o objeto está associado ao brinquedo e à brincadeira pelo poder do simbólico sobre o funcional. Para esclarecer melhor a função do brinquedo, apontamos o seu valor social, afetivo e simbólico. O brinquedo tem a imagem em um objeto e um volume, assim, tem característica tridimensional. Quan- do a criança transforma uma folha de papel por meio da imaginação em um frasco de xampu ou sabonete, resgata o seu valor social e afetivo. Pense nas vivências do cotidiano da criança em que o banho está presente. As imagens do xampu e do sabonete remetem aos va- lores simbólicos do brinquedo, no caso a folha de papel amassada, e conferem uma significação social e afetiva para a brincadeira. 38 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física Logo, a função simbólica presente no brinquedo entrega à brin- cadeira um conjunto de representações sociais e culturais ricas. Na brincadeira ocorre a interação lúdica, a criança se apropria dos assun- tos que lhe são disponibilizados por meio de suas próprias vivências ou de outros no cotidiano e os recria. Desse modo, na brincadeira, “a criança interioriza as formas imaginárias, o próprio processo da pro- dução imaginária, apoiando suas próprias invenções em esquemas preexistentes” (BROUGÈRE, 1995, p. 70). Logo, na brincadeira a crian- ça elabora uma transposição imaginária, utiliza valores, brinca com o medo, construindo conteúdos socializadores. Brincando a criança se apropria de elementos culturais. Contudo, nesse processo, a brincadeira surge como uma sucessão de acontecimentos e decisões compartilhadas entre seus pares. No ato de brincar surgem as interações, as vivências de papéis e emerge um sistema de regras. “Uma regra da brincadeira só tem valor se for aceita por aqueles que brincam” (BROUGÈRE, 1995, p. 101). Na atividade descrita anteriormente, o Banho de papel, as regras esta- vam implícitas. Para participar da atividade, as crianças precisariam ocupar um determinado espaço e seguir uma sequência de atos que, embora fossem resultados de suas interpretações e criações indivi- duais, aconteciam em um ambiente coletivo. Contudo, não se perdeu o caráter simbólico da brincadeira, e quando as crianças transforma- vam a folha de papel em outro objeto utilizado no banho, de maneira imaginária, transpunham o concreto e a imagem para a ação. A regra permitia, neste sentido, criar outros objetos e situações que liberam os limites do real. A brincadeira surge do desejo de expressar as relações observa- das, vivenciadas e, consequentemente, possibilita à criança experi- mentar o novo, recriar o que já existe, porém, pela sua maneira de ver o mundo. Brincar predispõe a criança à experimentação de novos comportamentos e isso é indispensável para a descoberta de suas potencialidades. As regras na brincadeira ensejam um mundo ima- ginário por meio do qual a criança poderá reinventar e reelaborar as ações sem correr riscos. Dessa forma, a brincadeira é um meio de educação da criança, pois como espaço de socialização possibilita o domínio na relação com o outro. Atividade 2 Como a brincadeira desenvolve a sociabilidade da criança? Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física 39 2.3 O significado do jogo para a educação Videoaula Os jogos têm um importante significado para a educação. Podem ser utilizados como recursos pedagógicos para o ensino de conteúdos, como instrumento de avaliação da aprendizagem e para a diversão dos estudantes. Contudo, o jogo tem características que o diferem da brin- cadeira e do brinquedo. O quadro a seguir apresenta as características do jogo, do brinquedo e da brincadeira. Quadro 1 Características do jogo, do brinquedo e da brincadeira Jogo Brinquedo Brincadeira Regras Objeto Imaginação Imaginação Regras Fonte: Elaborado pela autora. Já conhecemos as características que definem a brincadeira: a imagi- nação da criança que dá vida a um objeto tornando-o um brinquedo. As- sim, quando brinca, a criança representa papéis. Ao brincar com outras crianças ou adultos, a imaginação cede espaço para os desafios e, assim, as regras surgem como elementos que possibilitam a continuidade da brincadeira. Dessa forma, a brincadeira começa como uma relação en- tre pares ou mesmo individual, sem intencionalidade, mas que pelo uso da imaginação e para a sua continuidade evoca conflitos emocionais e funcionais. Assim, surge a necessidade da criação das regras. O jogo, ao contrário da brincadeira, parte do conhecimento sobre suas regras e busca na imaginação das crianças estratégias para pos- sibilitar maiores e melhores interações. Na Educação Física, a ludicidade pode ser considerada uma aborda- gem teórico-prática que possibilita a construção da consciência corpo- ral de bebês, crianças e jovens na escola. Por meio de práticas lúdicas, os estudantes se apropriam da cultura corporal, conhecendo a história do movimento, das brincadeiras, dos esportes, da ginástica e da dança. Como o tema central deste livro aborda os jogos, brinquedos e brin- cadeiras na Educação Física, apresentaremos as suas classificações se- guidas pelas concepções de autores da área. A abordagem de Darido e Souza Júnior (2007) destaca que os jogos têm regras definidas e por isso se diferenciam das brincadeiras. A sua 40 Jogos, brinquedos e brincadeiras na Educação Física prática possibilita a reflexão sobre as regras, tornando-as flexíveis e aqui encontramos mais uma diferença, desta vez com os esportes que têm sua regulamentação rígida. Os autores esclarecem algumas classi- ficações dos jogos: de salão, tabuleiro, grandes jogos, de construção, de faz de conta e de imitação. Em outra obra, Darido e Rangel (2011) atentam para as variações das brincadeiras e jogos explicando que as primeiras variam conforme a região, contudo mantêm sua essência e maneira de jogar. Isso é rele- vante quando se fala de cultura dos jogos para os estudantes na escola. Não são raras as vezes em que uma turma de estudantes é formada por crianças de várias regiões do país e até de outras nacionalidades. Ensinar jogos também passa por deixar que os estudantes descrevam suas práticas lúdicas e ensinem uns aos outros, aprendendo, assim, pela diversidade cultural de cada região. Como exemplo, citamos a Amarelinha. Trata-se de um jogo de atirar (FRIEDMANN, 1996), que desenvolve a coordenação motora, o equilí- brio e pode ensinar a contar. É uma prática divertida, o que denota a função lúdica do jogo. Amarelinha é o nome mais conhecido em todo o Brasil, no entanto, no nordeste o mesmo jogo pode ser conhecido como Pula Macaco e no sul do país como Sapata. Darido e Rangel (2011) também justificam a prática de jogos e brin- cadeiras na perspectiva do lazer e da qualidade de vida. Para as autoras, é preciso favorecer a reflexão dos alunos sobre as mudan- ças que vêm ocorrendo na sociedade, ou seja, é preciso que eles entendam que se por um lado, o avanço tecnológico tem contribuído para disponibilizar um maior número de informações e para oferecer maior conforto à população, através de
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