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Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo APRESENTAÇÃO Uma cidade não será sustentável se a forma como as pessoas se deslocam também não for. Os deslocamentos para estudo, trabalho ou lazer fazem parte do dia a dia urbano e cada vez mais eles são realizados pelos veículos particulares. Alargamento de faixas de tráfego, destinação de espaço público para estacionamentos e redução dos impostos para aquisição de veículos faz nossas ruas e avenidas estarem cada vez mais cheias de automóveis. Junto com eles, chega a poluição urbana que afeta a saúde das pessoas e a saúde do planeta. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre transporte sustentável e exemplos de sucesso no Brasil e no mundo. O que pode ser feito para tornar a mobilidade urbana sustentável? Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar os efeitos dos transportes sobre o meio ambiente.• Identificar práticas sustentáveis em transportes.• Descrever experiências exitosas de transporte sustentável.• DESAFIO Ruídos excessivos podem prejudicar a saúde causando estresse, irritabilidade e até taquicardia. Nas cidades, o trânsito é o principal causador de ruído e deve ser controlado próximo a áreas residenciais, hospitalares e educacionais. Imagine que você trabalha na prefeitura municipal de uma grande cidade. Há três meses sua equipe inaugurou uma grande avenida perimetral que prometeu resolver os problemas de mobilidade da cidade. Com a abertura para o tráfego, a via atraiu muitos veículos comerciais pesados que antes diluíam-se por avenidas menores no interior da cidade. Junto com a avenida e os veículos pesados, chegaram também as reclamações de ruído dos moradores próximos a uma das interseções semaforizadas, que relataram não conseguir dormir com o barulho durante a noite. Sua tarefa, portanto, é propor no mínimo três soluções de curto e médio prazos em resposta à queixa dos moradores sobre o excesso de ruído. INFOGRÁFICO Acidentes viários, congestionamentos e poluição do ar e sonora são algumas das externalidades dos transportes. Quanto à poluição do ar, o tipo e a quantidade de emissões dependem do combustível e do tipo de veículo utilizado. O que é comum a todos é seu impacto na saúde e no meio ambiente. O Infográfico apresenta os principais poluentes emitidos pelos transportes urbanos, sua amplitude de impacto e as consequências. Confira. CONTEÚDO DO LIVRO Os transportes urbanos afetam o meio ambiente e consequentemente a saúde e o bem-estar dos cidadãos. No entanto, um planejamento para o desenvolvimento sustentável pode minimizar as externalidades ambientais causadas pelos transportes. No capítulo Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo, da obra Planejamento de transportes urbanos, você vai entender o que algumas cidades já estão fazendo para minimizar os impactos por meio do desenvolvimento de transporte sustentável. Boa leitura. Planejamento de Transportes Urbanos Shanna Lucchesi Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar os efeitos dos transportes sobre o meio ambiente. Identificar práticas sustentáveis em transportes. Descrever experiências exitosas de transporte sustentável. Introdução Os transportes são conhecidos como uma desutilidade, ou seja, as pessoas os utilizam somente porque é necessário e, em geral, desejam passar o menor tempo possível nos seus deslocamentos. Os transportes também são maléficos para o ambiente, especialmente nas cidades. No entanto, esse “mal necessário” pode ser realizado de forma mais limpa e sustentável. Neste capítulo, você vai estudar os principais impactos ambientais dos transportes urbanos e também as principais ações para tornar o transporte mais sustentável. Por fim, você vai conferir quatro exemplos de cidades que buscaram implementar ações para incentivar o transporte coletivo e os modos ativos e utilizar energias mais limpas. Transporte e o meio ambiente Todas as atividades humanas impactam o ambiente, em maior ou menor grau. Sendo o transporte uma atividade humana massiva e concentrada no tempo e no espaço, o ato de se deslocar pode impactar signifi cativamente a vida das pessoas que vivem na região desses deslocamentos e o ambiente como um todo, visto que os impactos podem ser locais ou globais. Quanto à poluição ambiental, os principais impactos provenientes do transporte se referem à poluição do ar, por meio da emissão de gases poluentes, e à poluição sonora, por meio dos ruídos dos motores. Poluição do ar Um dos principais impactos ambientais dos sistemas de transporte é a poluição do ar. Os meios de transporte são os principais responsáveis pela redução da qualidade do ar nas cidades, devido à emissão de gases de efeitos estufa e materiais particulados. A seguir, são apresentados os principais poluentes emitidos pelos veículos urbanos. CO: o monóxido de carbono é o resultado da queima incorreta dos combustíveis tóxicos. Possui impacto local e é prejudicial à saúde, visto que se adere às moléculas de hemoglobina, podendo causar problemas de oxigenação no corpo, intoxicação e até a morte, conforme leciona Peres (2005). CO2: o dióxido de carbono é um gás esperado como resultado da queima normal do combustível fóssil. No entanto, o perigo está na emissão excessiva desse gás na atmosfera. O CO2 é um gás de efeito estufa, que pode ter impacto regional, conforme lecionam Nunes, Marques Júnior e Ramos (2003). HC: o hidrocarboneto também é um produto da queima incompleta dos combustíveis fósseis. Os hidrocarbonetos têm impacto global, contri- buindo para o efeito estufa e para a formação de nevoeiro fotoquímico, conforme leciona Ribeiro (2010). NOX: o óxido de nitrogênio é emitido durante a combustão em alta temperatura do combustível em motores. O efeito das emissões de NOX são, entre outros, poluição atmosférica e acidificação (chuva ácida), apresentando impacto regional e global, conforme Engelmoer (2012). SOX: os óxidos de enxofre podem ser liberados no formato de SO2, SO3 ou SO4. Decorrem da queima de combustíveis que contenham enxofre. Têm ação local e regional, podendo causar doenças cardiorrespiratórias, corrosão de metais e chuva ácida. MP: material particulado ou poeira fina, é causado pela queima de combustíveis e uso de pneus, sendo liberado a partir do atrito com a superfície da estrada e pelo uso dos freios. Existem três tipos de emissões de MP, medidas em micrômetros: PM 10, PM 2,5 e PM 0,1 — respectivamente 10, 2,5 e 0,1 micrômetro. Quanto menor o tamanho das partículas, maiores as consequências para a saúde humana. As Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo2 partículas podem facilmente entrar na corrente sanguínea e causar doenças cardíacas e respiratórias, como bronquite e asma, segundo Engelmoer (2012). O tipo e a quantidade de poluentes emitidos dependem do tipo de veículo e do combustível utilizado na viagem. Veículos de grande porte apresentam maiores fatores de emissão, por necessitarem de mais combustível para com- pletar um quilômetro e por utilizarem diesel como combustível principal. O material particulado, por exemplo, não é emitido por veículos que utilizam etanol hidratado; em compensação, esses veículos emitem aldeídos Ao considerar o impacto ambiental de cada modo de transporte, especialmente quanto a emissões, usualmente se avalia a energia gasta no deslocamento. No entanto, a construção da infraestrutura necessária e a produção do veículo também causam impacto no ambiente. Ao avaliar a emissão, devemos considerar o ciclo de vida da energia, ou seja, considerar as emissões da produção até o consumo final. Ruído Os transportes são a maior fonte de poluição sonora urbana, seja pelo modal rodoviário, ferroviário ou aeroviário.No transporte rodoviário, as principais fontes de ruído são os motores e a fricção entre os pneus e a pista. O barulho pode ser maior próximo a interseções, em subidas e em vias com intensa presença de veículos de grande porte (ônibus e caminhões). No transporte ferroviário, as principais fontes de barulho são os motores e a fricção das rodas com os trilhos. O barulho pode aumentar próximo a túneis, em vales ou quando a superfície provocar muita vibração. No caso do transporte aéreo, os principais problemas estão relacionados às decolagens, sendo as principais fontes de ruído as turbinas e os reversores, segundo a World Health Organi- zation (WHO, 1999). Para o transporte rodoviário, estima-se que motocicletas gerem de 75 a 80 decibéis (dB) de ruído, automóveis, 74 dB, e veículos pesados, de 77 a 80 dB (PORTUGAL, 2004). A exposição ao ruído ainda pode ser maior em terminais 3Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo e pontos de embarque e desembarque, onde a presença de veículos é maior, conforme apontam Rodrigues et al. (2006). O ruído pode ser prejudicial à saúde humana, apesar de ser possível identi- ficar efeitos de adaptação ao ruído pelo ser humano. Em alta exposição, pode provocar efeitos físicos, fisiológicos e psicológicos. Como efeitos físicos, destacam-se as perdas auditivas, que podem ser temporárias ou permanentes. Já como efeitos fisiológicos, percebe-se a presença de tensões musculares e alterações do ritmo cardíaco e da pressão sanguínea. Dentre os efeitos psicoló- gicos mais comuns, observam-se irritabilidade, estresse, fadiga e diminuição da capacidade de concentração (PORTUGAL, 2004). No Brasil, a norma NBR 10151, da Associação Brasileira de Normas Téc- nicas (ABNT, 2019), estabelece os limites de ruído para ambientes externos e suas proximidades. A norma define que, para áreas estritamente residenciais ou próximas de hospitais e escolas, o máximo de ruído permitido é de 50 dB durante o dia e 40 dB durante a noite. Para áreas mistas com vocação comercial, os ruídos podem chegar a 60 dB e 55 dB para dia e noite, respectivamente. Algumas alternativas para reduzir o nível de ruído provocado pelos modos de transporte são: afastamento dos aeroportos dos grandes centros urbanos; utilização de sistemas de transporte coletivo subterrâneo; incentivo a modos coletivos em detrimento dos modos individuais; restrição da circulação de veículos pesados em locais e horários específicos; redução do limite de velocidade; coordenação semafórica, para evitar paradas desnecessárias em interseções; alterações no ambiente, para utilização de materiais que absorvem ruído e de vegetação. A redução do limite de velocidade pode diminuir o nível de ruído emitido pelos veículos rodoviários. A 120 km/h, a pressão sonora emitida é de 78 dB(A), enquanto, a 60 km/h, essa pressão cai para 70 dB(A). Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo4 Outros impactos Os transportes ainda causam outros impactos ao ambiente e aos seres humanos. A construção de infraestruturas altera, por exemplo, o uso do solo. Em muitos casos, a construção de infraestruturas de transporte torna o solo impermeável e, ainda, origina barreiras de movimentação de pessoas e animais, além de alterar a vegetação. As infraestruturas ainda modifi cam ou interrompem a condição do escoamento natural da água e dos ventos. No caso do transporte aéreo, destacam-se os efeitos nas ondas migratórias de aves. Por fi m, destaca- -se o consumo de recursos naturais para combustíveis, produção de veículos e construção da infraestrutura. Como o transporte pode ser sustentável? Muitos estudos vêm sendo conduzidos buscando reduzir os impactos do transporte urbano no ambiente. Nesta seção, vamos apresentar alguns dos pontos-chave que devem nortear as escolhas de transportes dos cidadãos e estar presentes nas políticas públicas de mobilidade urbana. Energias “limpas” Conforme visto, o uso de combustíveis fósseis é um dos principais fatores contribuintes para o aumento da poluição do ar. Alternativas de transportes que utilizem energias consideradas limpas e renováveis podem servir para reduzir o impacto ambiental dos transportes. A partir do incentivo e do ganho de escala da produção, já existe no mercado uma gama de opções de veículos movidos a energia elétrica (Figura 1). O processo de criação desses veículos se deu com o aparecimento de veículos híbridos, com motores elétricos e a combustão, evoluindo para os veículos puramente elétricos. A evolução dos motores andou junto com a evolução das células de armazenamento de bateria e dos sistemas de carre- gamento, conforme lecionam Eberle e Von Helmolt (2010). Apesar de serem considerados zero emissão, os veículos elétricos não podem ser considerados totalmente limpos, visto que existe poluição na produção de energia, na pro- dução do veículo e no descarte. 5Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo Figura 1. Veículos elétricos sendo carregados. Fonte: Scharfsinn/Shutterstock.com. Tudo pelo coletivo As cidades não podem suportar que todos os deslocamentos urbanos sejam realizados por transporte individual. O modo de deslocamento privado, es- pecialmente por automóvel, tem um custo grande para a sociedade, que é o custo da ocupação do espaço, conforme destaca Barbosa (2013). Sendo assim, as políticas públicas de abertura de vias e de destinação de espaço para estacionamento em via pública nada mais são do que subsídios ao automóvel privado, conforme apontam Vasconcellos, Carvalho e Pereira (2011). Comparando o transporte coletivo, especialmente o transporte coletivo por ônibus, com o transporte individual, especialmente por automóvel, é possível dizer que os transportes individuais são mais ineficientes, visto que a relação de energia despendida por passageiro é maior do que no caso do transporte co- letivo. Além disso, os veículos individuais ocupam mais espaço viário e não são acessíveis a todas as parcelas da população. Sendo assim, a busca pelo transporte sustentável deve priorizar os modos coletivos, em detrimento dos individuais. Priorizando os modos ativos São considerados modos ativos aqueles que se utilizam da propulsão humana para seu deslocamento, como o deslocamento a pé e por bicicleta, skate, patins, patinetes, entre outros. Além de melhorar a sustentabilidade da cidade, pessoas Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo6 que se deslocam a pé ou por bicicleta são mais saudáveis, pois reduzem seu nível de sedentarismo (TANSHEIT, 2019). Apesar de qualquer pessoa com condições físicas para caminhar poder se deslocar de forma ativa, muitas vezes, as pessoas são desencorajadas a caminhar, devido à condição das calçadas, à insegurança pública, à falta de atratividade do percurso, ao risco de acidentes, entre outros fatores. Dessa forma, ações que requalifiquem o espaço urbano, criando redes conectadas de infraestrutura cicloviária e melhorando a qualidade dos passeios, promovendo acessibilidade, atratividade e segurança nos deslocamentos, podem incentivar deslocamentos por esses modos (SANTOS et al., [201-]). Os modos ativos, portanto, devem estar no topo das pirâmides do transporte (Figura 2), sendo prioridade nos investimentos e nas ações da gestão urbana. Figura 2. Pirâmide invertida dos transportes: priorizando os usuários nos projetos viários. Fonte: Adaptada de Global Designing Cities Initiative ([2019]). 7Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo Evitando viagens Outra forma de trazer sustentabilidade aos transportes urbanos é realizar somente as viagens necessárias. Atualmente, as viagens a trabalho representam quase metade das viagens realizadas diariamente (OPPERMAN, 2014). No entanto, com as tecnologias de ensino a distância e a possibilidade de realizar reuniões por videoconferência e de acessar dados em uma nuvem on-line, a presença física nas universidades e no trabalhose tornou menos necessária, sendo o deslocamento até os locais também dispensado. Além da promoção do teletrabalho, a redução das viagens também pode ocorrer com a migração para o transporte coletivo, a promoção de caronas e o estabelecimento de jornadas flexíveis, a fim de evitar que as viagens ocorram na hora de pico. No entanto, a busca por evitar viagens e reduzir a necessidade de transporte inicia no próprio planejamento urbano, com a criação e promo- ção de zonas de uso misto, com alta densificação e orientadas ao transporte, conforme apontam Bongardt et al. (2014). Experiências no Brasil e no mundo A solução para a mobilidade urbana não é aumentar o número de faixas de tráfego, dando mais fl uidez aos veículos de transporte individual — mais especifi camente, aos automóveis. Muitas cidades já perceberam e revisaram suas ações de mobilidade urbana, buscando priorizar os modos ativos, coletivos e compartilhados e alterar sua matriz energética dos transportes, para usar energias renováveis e menos poluentes. Frota de ônibus 100% elétrica A primeira cidade do mundo com uma frota de ônibus 100% elétrica se localiza na China. A frota de 17 mil ônibus e 12,6 mil táxis que circulam na cidade de Shenzhen é toda movida à eletricidade. A cidade, que fi ca próxima a Hong Kong, trocou toda a sua frota em menos de 10 anos. Os responsáveis pela mudança apontam que a nova frota elétrica ajuda na diminuição da formação de ilhas de calor e na redução da poluição sonora, devido à emissão local zero dos veículos e à ausência de barulhos provocados pelos motores, já que os motores elétricos fazem muito menos ruído. Para viabilizar a operação, a cidade precisou criar uma infraestrutura logística que permite o carregamento de até 5 mil ônibus. Ressalta-se que a ação de Shenzhen culminou na queda Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo8 do preço dos veículos elétricos, proporcionando a chance de outras cidades do entorno seguirem o mesmo caminho, conforme aponta Zmoginski (2018). Desenvolvimento orientado ao transporte na prática O maior exemplo brasileiro de desenvolvimento orientado ao transporte é a cidade de Curitiba. Conhecida como a mãe do sistema BRT (bus rapid transit), desde 1964 a cidade busca a integração do transporte com o uso do solo, para reduzir a dependência do automóvel. A principal inovação no seu planejamento foi a densifi cação no entorno dos eixos urbanos de transporte, cujos corredores são as principais artérias de transporte da cidade. Para que essa densifi cação fosse possível, a cidade implementou regulamentos de zoneamento e uso do solo, para promover a criação de bairros de uso misto de alta densidade ao longo dos principais corredores de transporte público (MARTINS, 2011). A Figura 3 apresenta uma vista aérea da cidade, em que é possível visualizar as diferentes densifi cações reguladas pela lei de uso e ocupação do solo. Figura 3. Vista aérea de Curitiba. Fonte: Diego Grandi/Shutterstock.com. 9Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo A cidade mais ciclável do Brasil Fortaleza tem a meta de ser a cidade mais ciclável do Brasil. Com uma to- pografi a plana, bom tempo e uma população disposta a pedalar, a cidade investiu na criação de infraestruturas dedicadas ao modo, contando, em 2018, com 227 km de ciclovias ou ciclofaixas. Mas os investimentos da cidade vão além da infraestrutura. Fortaleza conta com quatro diferentes sistemas de compartilhamento de bicicletas, com variações no tempo de uso e no perfi l de usuário. Um dos sistemas é dedicado às crianças (Mini Bicicletar), enquanto outro é dedicado aos trabalhadores (Bicicletar Corporativo). No outro sistema, a pessoa pode utilizar a bicicleta por uma hora (Bicicletar), enquanto o sistema integrado com o transporte coletivo metropolitano permite que o usuário permaneça com a bicicleta por 14 horas (Bicicleta Integrada). A cidade aponta as seguintes razões para o sucesso do sistema de compartilhamento, que já conta com mais de 2 milhões de viagens realizadas (FORTALEZA, [2018]): planejamento do sistema para ser usado como meio de transporte; estações próximas a zonas de alta densidade; pequena distância entre estações; ampliação da infraestrutura cicloviária; monitoramento do sistema pelos técnicos da prefeitura; e utilização gratuita com o passe do transporte coletivo. Uma ilha de sustentabilidade Em meio a um país planejado e desenvolvido para o uso do automóvel, a cidade de Portland, no estado norte-americano de Oregon, é uma ilha de sus- tentabilidade. A cidade possui o pacote completo de uma cidade sustentável: bairros de uso misto e com alta caminhabilidade; 510 quilômetros de ciclovias; redes de transporte público eficientes; possui o maior número de parques urbanos per capita nos EUA; metade de sua energia vem de fontes renováveis; um quarto da força de trabalho viaja de bicicleta, carona ou transporte público; 35 edifícios são certificados como edifícios verdes; 67% de todos os resíduos são compostados; mais de 200 telhados verdes cobrem edifícios. Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo10 No que tange especifi camente aos transportes, Portland dobrou o tamanho de sua rede de ônibus, todos movidos a biocombustível e fi nanciados pelas empresas locais. A cidade oferece viagens gratuitas de transporte coletivo no centro, onde o acesso por automóvel é limitado. Graças a todas essas ações e a um planejamento que busca o crescimento sustentável, os cidadãos de Portland já dirigem 20% menos de carro do que em cidades de tamanho comparável (D’ERSU, [201-]). ABNT. NBR 10151: Acústica - avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade - procedimento. Rio de Janeiro, 2019. BARBOSA, R. S. Migração do transporte coletivo para o individual: como reverter esta tendência? 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) - Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/96303/000915001. pdf?sequence=1. Acesso em: 21 out. 2019. BONGARDT, D. et al. Sustainable urban transport: avoid-shift-improve (A-S-I). Bonn: Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit, 2014. Disponível em: https:// sutp.org/files/contents/documents/resources/L_iNUA/ASI_TUMI_SUTP_iNUA_April%20 2019.pdf. Acesso em: 21 out. 2019. BRASIL. Inventário nacional de emissões atmosféricas por veículos automotores rodoviários 2013: ano-base 2012. Brasília, 2013. Relatório final. Disponível em: http://www.mma.gov. br/images/arquivo/80060/Inventario_de_Emissoes_por_Veiculos_Rodoviarios_2013. pdf. Acesso em: 21 out. 2019. D’ERSU, M. Portland, Oregon, Us. Urban Green-Blue Grids, [201-]. Disponível em: https:// www.urbangreenbluegrids.com/projects/portland-oregon-us/. Acesso em: 21 out. 2019. EBERLE, U.; VON HELMOLT, R. Sustainable transportation based on electric vehicle con- cepts: a brief overview. Energy & Environmental Science, v. 3, n. 6, p. 689-699, 2010. Disponí- vel em: https://pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2010/ee/c001674h#!divAbstract. Acesso em: 21 out. 2019. ENGELMOER, W. The E-bike: opportunities for commuter traffic. 2012. Dissertação (Mes- trado em Ciências Ambientais e Energéticas) - University of Groningen, Groningen, 2012. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/6ad4/38bf33241dbf392ea9edf3 72aa9b93453346.pdf?_ga=2.100342555.467909341.1571661597-962878884.1571661597. Acesso em: 21 out. 2019. FORTALEZA. Sistemas de bicicletas compartilhadas de Fortaleza. [2018]. Disponível em: http://www.ta.org.br/ELABC/D1_8%20Bianca%20Fortaleza.pdf. Acesso em: 21 out. 2019. 11Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo GLOBAL DESIGNING CITIES INITIATIVE. Prioritizing people in street design. In: GLOBAL DESIGNING CITIES INITIATIVE. Global street design guide. New York: Island Press, [2019]. Disponívelem: https://globaldesigningcities.org/publication/global-street-design- -guide/introduction/prioritizing-people-in-street-design/. Acesso em: 21 out. 2019. MARTINS, R. D. A. Curitiba, Brazil. In: COHEN, N.; ROBBINS, P. (ed.). Green cities: an A-to-Z guide. Thousand Oaks: SAGE Publications, 2011. NUNES, B. T. S.; MARQUES JÚNIOR, S.; RAMOS, R. E. B. Gestão ambiental no setor de transportes: uma avaliação dos impactos ambientais do uso de combustíveis no trans- porte urbano da cidade de Natal (RN). In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 23., 2003, Ouro Preto. Anais [...]. Minas Gerais, 2003. Disponível em: http:// www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2003_tr1001_1542.pdf. Acesso em: 21 out. 2019. OPPERMAN, N. Passo a passo para a construção de um plano de mobilidade urbana. WRI Brasil, 2014. Disponível em: https://wricidades.org/research/publication/passo- -passo-para-constru%C3%A7%C3%A3o-de-um-plano-de-mobilidade-urbana. Acesso em: 21 out. 2019. PERES, F. D. E. F. Meio ambiente e saúde: os efeitos fisiológicos da poluição do ar no desempenho físico - o caso do monóxido de carbono (CO). Arquivos e Movimento, v. 1, n. 1, p. 55-63, 2005. PORTUGAL. O ruído e a cidade. Lisboa: Instituto do Ambiente, 2004. Disponível em: https://apambiente.pt/_zdata/DAR/Ruido/o_rudo_e_a_cidade.pdf. Acesso em: 21 out. 2019. RIBEIRO, J. A. M. Propostas de mitigação para as emissões poluentes das aeronaves: aplicação ao aeroporto de Lisboa. 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2010. Disponível em: https:// fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/395141423751/Tese_JoanaRibeiro.pdf. Acesso em: 21 out. 2019. RODRIGUES, F. et al. Ruído em terminais de transporte coletivo urbano: um estudo de caso. In: ANPET, 10., 2006, Brasília. Anais [...]. Brasília, 2006. SANTOS, P. et al. 20 ações para impulsionar o transporte ativo no Brasil. WRI Brasil, [201-]. Disponível em: https://wribrasil.atavist.com/20-acoes-para-fomentar-o-transporte- -ativo-no-brasil. Acesso em: 21 out. 2019. TANSCHEIT, P. O transporte ativo combate a falta de atividade física e melhora o bem-estar nas cidades. WRI Brasil, 2019. Disponível em: https://wribrasil.org.br/pt/ blog/2019/07/o-transporte-ativo-como-meio-de-combate-a-falta-de-atividade-fisica. Acesso em: 21 out. 2019. VASCONCELLOS, E. A.; CARVALHO, C. H. R.; PEREIRA, R. H. M. Transporte e mobilidade urbana. Brasília: CEPAL, Ipea, 2011. Textos para discussão. Disponível em: https://pdfs. semanticscholar.org/9726/4b54d4527594ed52732b5e1ee1949f7ae578.pdf. Acesso em: 21 out. 2019. WHO. Guidelines for community noise. Genebra, 1999. Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo12 ZMOGINSKI, F. 2018. Shenzhen, na China, a 1ª cidade a ter 100% dos ônibus e táxis elé- tricos. Mobilize Brasil, 2018. Disponível em: https://www.mobilize.org.br/noticias/11368/ shenzhen-na-china-a-1a-cidade-a-ter-100-dos-onibus-e-taxis-eletricos.html. Acesso em: 21 out. 2019. 13Transporte sustentável e experiências exitosas pelo mundo DICA DO PROFESSOR Apesar de ser consenso entre especialistas que é preciso buscar formas de deslocamentos mais limpas e sustentáveis, a mobilidade urbana nas cidades vem há anos sendo planejada com foco nas viagens individuais motorizadas. A Lei Nacional da Mobilidade Urbana busca alterar esse status quo, indicando a abordagem desses novos temas do transporte sustentável nos planos de mobilidade. Veja a Dica do Professor para entender melhor essa mudança de paradigmas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Os veículos movidos a combustíveis fósseis liberaram uma série de poluentes na atmosfera. Esses poluentes prejudicam a saúde da população e causam danos ao meio ambiente que podem ter impacto local, regional ou global. Qual das alternativas a seguir apresenta poluentes que têm impacto global? A) CO e CO2. B) CO2 e CH4. C) NOX e SOX. D) CO2, NOX e SOX. E) CH4 e HC. 2) A principal fonte de ruído dos veículos são os motores e a fricção das rodas com a rodovia. O barulho pode ser mais intenso em locais onde o motorista necessita usar os freios ou parar e arrancar muitas vezes. Sabendo que o limite de ruído recomendado pela NBR 10.151 é de 50 dB para áreas residenciais. Quais dos veículos a seguir poderá circular sem causar poluição sonora em um via com muitas moradias? A) Ônibus. B) Motocicleta. C) Automóvel. D) Bicicleta. E) Caminhão. 3) As cidades vêm trocando seus veículos movidos a combustíveis fósseis, como a gasolina e o diesel e dando incentivos a compras de veículos que usem energias limpas. No contexto da mobilidade urbana, o que significa energia limpa? A) Que é proveniente de fontes renováveis. B) Que possibilita a reciclagem do combustível. C) Que passa por processos de purificação. D) Que tem um melhor aproveitamento energético. E) Que não emite poluentes. 4) Viagens por modos ativos são mais suscetíveis a condição do espaço público, pois passam mais tempo na via e são mais expostas às mensagens do ambiente. Qual das alternativas a seguir apresenta uma solução para tornar o ambiente mais atrativo às viagens a pé? A) Uso do solo misto, com diversas opções de comércio e serviços. B) Construção de passeios próximos a áreas de belezas naturais. C) Padronização da arquitetura. D) Presença de muros e poucos espaços vazios. E) Presença de parques e praças. 5) A gestão de demanda por viagens (GDV) é uma ferramenta para tornar a mobilidade urbana das cidades mais sustentável, visto que busca-se que as viagens sejam realizadas somente quando necessárias e por modos mais sustentáveis de transporte. É possível aplicar técnicas de GDV em grandes corporações e alterar o padrão de deslocamentos das viagens a trabalho. Qual das alternativas a seguir apresenta uma ação corriqueira em prol da sustentabilidade na GDV? A) Vale combustível. B) Vagas de estacionamento. C) Carros da empresa para ida às reuniões. D) Promoção de carona entre funcionários. E) Contas corporativas em aplicativos de táxi. NA PRÁTICA As cidades têm espaço físico limitado e a forma como os gestores urbanos distribuem esse espaço entre os modos de transportes deve seguir princípios de sustentabilidade. Muitas vezes, a redução do espaço do carro não culmina em congestionamentos, visto que promove a migração para outros modos de transportes e dilui o fluxo em outras vias. Acompanhe o que Juliana descobriu sobre as superquadras de Barcelona. Um projeto que visa a priorizar as pessoas no espaço viário. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Educação Ambiental - Transporte Sustentável Você sabe como contribuir para a mobilidade sustentável? Neste vídeo, Vinicius Thees dá dicas sobre o tema e explica que os meios de transporte afetam diretamente o meio ambiente e a qualidade de vida da população. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Revista Transporte Sustentável Esta revista traz várias matérias interessantes e aborda de forma bem completa os caminhos para o desenvolvimento do transporte sustentável no Brasil. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Plano Diretor de Transportes Ativos As cidades tem repensado a mobilidade, seja por necessidade ou por uma consciência sustentável. Conheça o Plano Diretor Municipal da cidade de Joinville/SC dedicado aos modos ativos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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