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Fichamento do prefácio e da Seção 1 do texto “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, de Immanuel Kant O conhecimento racional pode ser material, quando considera qualquer objeto; ou formal, quando não há distinção dos objetos, tratando apenas da forma do entendimento e da razão por si mesmos. A filosofia formal é chamada de Lógica, enquanto a filosofia material, caso se ocupe das leis da natureza é chamada de Física e caso se ocupe das leis da liberdade, chama-se Ética. Segundo Kant, a Lógica não pode abarcar a empiria, mas a Física e a Ética podem ter uma parte empírica. A filosofia pode ser pura, quando é baseada nos princípios da experiência, ou pode ser a metafísica, que lida com os objetos do entendimento. E a própria metafísica pode se subdividir em metafísica da natureza, ou seja, uma parte empírica, e metafísica dos costumes, que é a parte racional. Para Kant, há a necessidade de se extrair uma filosofia moral pura, despida de empirismo. Assim, uma lei que tenha que funcionar moralmente, como fundamento de obrigações, deve ter em si um caráter absoluto, ou seja, sem considerar a natureza do homem ou as circunstâncias do meio, mas exclusivamente a razão puramente considerada. Nesse sentido, qualquer lei que se baseie em princípios empíricos pode ser considerada uma regra prática, mas não uma lei moral. A metafísica dos costumes, segundo Kant, tenta compreender a fonte dos princípios práticos que guiam a razão humana, além dos costumes que a influenciam. Nesse sentido, ações, qualidades e talentos para serem considerados bons e morais devem ser realizados com base em uma boa vontade, não com o objetivo de alcançar uma finalidade específica, mas sim fundamentada pelo simples querer, a vontade considerada em si mesma. Uma ação, ao ser praticada tendo como base o dever, tem como cerne a razão e a moral, não o objetivo que ela quer atingir. Ou seja, não depende da realidade do objeto da ação, mas tão somente do querer do agente. Assim, uma vontade boa determina-se a si mesma, independentemente de qualquer causalidade empírica, sem preocupar-se com prazer ou dor que a ação possa provocar. Ou seja, para Kant, não cabe uma análise de utilidade ou inutilidade para acrescer valor à vontade do agente. Uma moral que se determina por causas empíricas cai no egoísmo, pois ações, mesmo que de acordo com uma lei moral, caso praticadas por tendências ou inclinações, e não tendo como base uma razão pura, são egoístas. As ações, para terem um valor moral, devem ser praticadas não por inclinação ou tendência, mas pelo puro dever. É nesse sentido que ele explica que a busca pela felicidade própria é uma tendência humana, relacionando-se com a faculdade de desejar e com as inclinações da sensibilidade, mas não com a razão, jamais podendo servir de fundamento a uma noção de certo e errado, pois é subjetiva. Kant aponta, assim, que é importante a separação das ações feitas de forma genuína, por conta de uma noção de dever, das ações realizadas por motivações egoístas. Inclusive, o autor indica que a conservação da vida seria um dever, sendo realizada pelos homens muitas vezes conforme a lei moral, mas por tendência, não pela noção de dever absolutamente considerado. Assim, quando os problemas e circunstâncias da vida surgem e incutem no ser humano a ideia de tirar a própria vida, a ação da pessoa que não se mata seria enquadrada dentro dos ditames morais caso ela não se matasse não por medo, mas pela noção de que manter a vida é um dever objetivamente considerado. Para Kant, a ideia de certo ou errado não se pauta no resultado obtido com a ação, se positivo ou negativo, e nem se liga a elementos circunstanciais. Somente as ações que puderem ser universalizadas podem ser consideradas boas, justas, corretas. Assim, quando uma pessoa está em dúvida sobre se algo é certo ou errado, deve raciocinar se essa vontade de atuar de certo modo poderia ser universalizada, ou seja, virar uma lei universal e valer para todos. Caso a resposta seja negativa, independente do resultado da ação ser positivo, esta não é moral, posto que não pode ser universalizada. Para ilustrar isso, Kant traz o exemplo das promessas mentirosas. Se uma pessoa está em uma situação de adversidade e existe a opção dela prometer algo com a intenção de não cumprir, deve-se analisar, para saber se a ação é correta, primeiramente se é prudente ou conforme o dever fazer uma falsa promessa. Também deve-se ponderar se da mentira não podem surgir posteriormente outros problemas maiores do que os que a pessoa se encontra. Depois, deve-se raciocinar se não é mais prudente agir em conformidade com uma máxima universal de não prometer nada que não tenha a intenção de cumprir. Isso porque, ao pensar em agir de tal maneira, a pessoa deve perguntar a si mesmo se estaria satisfeito caso essa atitude de prometer algo sem ter a intenção de cumprir poderia ser universalizada, tornando-se uma lei válida para todos. Nesse caso, a resposta seria negativa, visto que não se admitiria uma lei universal de mentir, pois acarretaria uma situação de não haver mais promessas ou confiança, visto que ninguém acreditaria na palavra de ninguém. Assim, ao ponderar se uma máxima pode se transformar em uma lei universal, caso a resposta seja negativa, ela deve ser rejeitada, não porque dela iria advir consequências imediatas boas ou ruins, mas porque ela não se encaixaria como princípio universal, não sendo possível valer para todos.
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