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NYE, Guerra Fria

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JOStil,lt s. NYli, JR.
COMPREENDER
OS CONFLITOS
Uma Introdução à Teoria e à Históría
INTERNACIONAIS
TRADUçÀO
TIAGO ARAÚJO
REVrsÀo ctENÍÍFICA
HENRIQUE LACES RIBEIRO
l.
gradiva
,,14
t92(.,
t92tr
1930
t93l
r932
1933
1934
1935
t936
t936-t939
1917
1938
1939
1940
194t
( ( tMlrkllllNlrllk {)s (ÌrNl,l ll(ìì lN tfilNA('l(lN^ll{
Âletttitnhl ir(lrììili(ll nl l,igir rlls Nlçr'tls
Assiniulo o Prclo lìriiuì(l- Kcllogg
Conlêrência Naval de Lonrlrcs
Invasão.japonesa da Manchúri : íulôncrl rlo ('rc(lil-^nstalt ilustrir(,r
Banco de Inglaterra forçado a abandonar o ptdÍÍo-ouro
Conferência de desarmamento; ConÍerência de l,ausana sobrc its lepil
rações alemãs
Adolf Hirler torna-se chanceler da Alemanhâ; incêndio do Rcichsrrrl'.
apÍovada Lei de Plenos Poderes que estabelece a ditadura nazi; Alr
manha retira se da conferência de desaÍmamento e da Liga das Nuçor.r
Uniâo Soviética ingressa na Liga das Nações
Alemanha renuncìa às cláusulas de desarmamento do Tratado r[.
VersaÌhesi formada a aliança franco-Íussai alcançado o acordo nilvrl
anglo-germânico; invasão italiana da Etiópiâi Pacto Hoare-Laval
Alemanha renuncia aos Pactos de Locarno e reocupa a Renânia; Itliliir
vence a guerra na Etiópia; Liga das Nações desacreditada enqulnt()
instrumento político; formado eixo Roma-Berlim; formado Pacto Anti
Comintern
Guerra Civil de Espanha
Japâo lança ataque a Nanquim e a outÍas cidades chinesas
Invasão e ânexação da Áustria pela Alemanha; Chamberlain encontÍir
-se com HitleÍ em Berchtesgaden, Codesberg e Munique para resolvcr'
a crise germano-checa; assinado Pacto de Muniqu€
Crise na Checoslováquia; Alemanha ocupà toda a Checoslováqui :
promessas brìlânicas e francesas à Polónia e garantias à Grécia e ìr
Roméniai ltália invade a Albânia; Pàcto germano-soviético (Ribben-
trop-Molotov); Alemanha invade a Polónìa; Grã-Bretanha e França
declaram guerra à Alemanha
Hitler invade a França; Batalha de Inglaterra; Japão ocupa a Indochina
Francesa
Hitler invade a União Soviética; Japão ataca Pearl Harbor
Vy'inston Churchill, FÍanklin Roosevelt e .losef Eslaline em laÌta' 1945
A Guerra Fria
Dada a sua violenta prim€ira metade, uma caracterÍstica extraordinária da
segunda metade do século xx foi a não ocorrência da Terceira Guerra Mun-
dial. Em vez disso. houve rma guerra fría, um peÍíodo de intensa hostilida-
de sem guerra efecliva. A hostilidade era tão intensa que muilos esperavam
um conflito aÍmado enlre as superpotências. Ocorreram combates, mas nas
periferias e não directamente entre os Estados Unidos e a União Sovíética.
A Guerra Fria durou quatro décadas, de 1947 a l989. O auge da Guerra Fria
foi entre 1947 e 1963, quando se realizaram poucas negociações sérias entre
os Estados Unidos e a União Soviética. Não se realizou mesmo qualquer
cimeira entre 1945 e 1955. Em 1952, George Kennan, o embaixâdor dos
Estados Unidos em Moscovo. comparou o seu isolamento na embaixada
americana com a sua experiência de internamento num campo de prisionei-
r Ì )Ill,l(l I Nl,l lr r r\ r ONI I llr r\ lN ll,llN^l'll)N^lX
ros cm Bcrlinì durarìlc l Scgttndir (ìucrrlr Mrrrrtliirl, Âs llscs lxrstctiorcs rlrr
Guerra Fria. nas tlcícadas clc 1970 c l9lì0. lirrrrrrr hirsliuìtc (lilcrcnlcs. Anr('
ricanos e Soviéticos linham muilos r()rìlirr:t()\ r' rrcgoeiirlirrtt rcgÌrlirnr('nl('
trata<los de controÌo de armamentos. O fint da Cìucrra l'ria ocorrcu blsliurl('
rapidamente, com a alteração das políticas soviéticas apírs Mikhail (ìorhuclrt'r
ter chegado ao poder em 1985. A hegemonia soviética sobre a Europir ri'
Leste nriu em 1989 e â própria União Soviética desintegrou-sc em l9()1.
Dissuasão e contenção
O que torna â Guerra Fria excepcional é ter sido um período de tensiro
prolongada que não terminou numa guerrâ entre os dois estados rivais. Existe
uma variedade de explicações para isso ter acontecido, que irão ser debati
das. Devido à sua trajectóÍia invulgar, a Guerra Fria oferece uma perspeeri\l
única sobre as relações internacionais e escìarece a dinâmica de duas opçircs
de política externa que os estados podem assumir: a opção de dissuctdir c ;r
opçÃo de conler.
Dissuadir é desencorajar através do medo e não é original da Guerra Fria.
Ao longo da história, os países construíram exércitos, formaram alianças c
ìançaram ameaças para dissuadir outros países de os alacarem. DuÌiìDle iì
Guerra Fria, e cÒm o advento das armas nucleates, âs superpotências con
fiaram mais no desencorajamento pela anìeaça do que na oposição pclrr
defesa após um ataque ter ocorrido. A dìssuasão da Guerra Fria estava ligada
à questão globaì da dissuasão nuclear, mas eÍa igualmente uma extensõo da
ìógica do equiìíbrio de poder A dissuasão pela ameaça nucle:ìr era unra
forma pela qual cada superpotência procurava impedir a outra de alcançar
uma vantagem e consequentemente perturbar o equilíbrio de poder entre
elas. Como iremos ver, a dissuasão frequentemente agrâvava a tensào entrc
os Estados Unidos e a União Soviética e não era necessariamente fácil
demonstrar que ela resultava. Existe sempre o perigo da causalidade espúriâ.
Se uma professora afirmasse que as suas lições mantinham os elefantes fora
da sala de aula, seria difícil refutar a sua afirmação caso nenhum elefante
alguma vez fosse à aula. Podemos testaÍ tâis afirmações usando condicionais
contrafactuais: qual é a probabilidade de elefantes irem assistir à aula?
O conceito de dissuasâo estava ligâdo com a política d.e contenÇão.
Durante a Guerra Fria, a contenção referia-se a uma política específica
americana de contenção do conrunismo soviético, de modo a promover uma
ordem mundial polí1ica e económica liberal. Mas como a dissuasào, a con-
tenção não teve origem com a Guerra Fria. mesmo que o termo o tenha tido.
A contenção tenì sido, há séculos, um instrumento fundamental de política
externa. No século xvttr, os conservadores estados monárquicos europeus
A í ll'NtRA I'Rt^
tantlrrurr eorìlcl it itlcologitt rlrt lihcrtlatlc c tla igualdadc lbritçadu l)clu Rc-
voluçrìo Iil rìccslr c, llìcsrìro antcs, a lgrcja ('at(ilica lcntou, na Contra-Re-
fornrr. contcr l dilusào da Rclìrrnra e dos itleais de Martinho Lutero. Exis-
tam dilbrcntcs litrnras de contenção. Esta pode ser ofensiva ou defensiva.
Pode scr nrilitar, na forma de guerra ou alianças, e pode ser económica, na
Íorma de bloqueios comerciais ou sanções. Durante a Guerra Fria, os Esta-
dos Unidos hesitaram entre uma política expansionista de contenção do comu-
ni$mo e uma política mais limitada de contenção da União Soviética.
Tlês abordagens ò Guerra Fria
Quem ou o que originou a Guerra Fria? Quase desde o seu início, estas
questões têm sido sujeitas a intenso debate entre académicos e políticos.
Existem três principais escolas de opinlão:. trudicionalistas, revisionisns e
pós-revisionistus.
Os tradicìonalistas (também conhecidos como ortodoxos) defendem que
â resposta à questão de quem começou a Guerra Friâ é bastante simples:
Estaline e a União Soviética. No final da Segunda Guerra Mundial, a diplo-
macia americana era defensiva, enquanto os Soviéticos eram agressivos e
cxpansionistas. Os Americanos apenas lentamente despeíaram para a natu-
tcz^ da ameaça sovÍética.
Que provas apresentam os tradicionalistas? Imediatamente a seguir à
guerra, os Estados Unidos propunham umâ ordem mundial universal e segurança
colectiva através da Nações Unidas. A União Soviética não levava muito a
sério as Nações Unidas porque prelendia expandir-se e dominar a sua própria
esfera de influência na Europa de Leste. Após a guerra, os Estados Unidos
desmobilizaram as suas tropas, enquanto a União Soviética deixou ficar
vastos exércítos na Europa de Leste. Os Estados Unidos reconheceram os
interesses soviéticos; por exemplo, quando Roosevelt, Estaline e Churchill se
reunirâm em Fevereiro de 1945 em Ialta, os Americanos saíram do caminho
para acomodar os interesses soviéticos. Porém Estaline não manteve o acor-
dado, particularmente ao não permitir eleições livres na Polónia.
O expansionismo soviético foi ainda mâis confirmado quando a União
Soviéticafoi lenta a retirar as suas tropas do norte do lrão após a gueÍra.
Elas foram eventualmente retiradas, mas apenas sob pressão. Em 1948, os
comunistas assumiram o governo checoslovaco. A União Soviética bloqueou
Berlim em 1948 e 1949, tentando expulsar os governos ocidentais. Em 1950,
os exércitos da Coreia do Norte comunista atravessaÍam a fronteira com a
Coreìa do Sul- Segundo os tradicionalistâs, estes âcontecimenlos desPerla-
ram gradualmente os Estados Unidos para a ameaça do expansionismo so-
viético e iniciaram a Guerra Fria.
,.ìl
Lttl ( ílMl'lìl,llNlrl l( (ì\ I ( )Nl I Il(ls lN I I'NN^( lllN^ll{
Os l(,r'i,riírÌi.rftr.r. quc dcscl|volvcÍiÜìt (ì \eu l)c su tctìlo lìltì(l tììcttlitltÌìctìlr'
na déciÌda dc l9ó0 c no início da tlúcrrtlrr tlc l()70. lcrctliluttt quc r (irrt'r'rr
Fria fbi originadu pelo cxpansionistttrl lnrcrieurto c rlìrr soviçilicrt. Â ptov;r r'
a de que, no final da Segunda Guerra Mundial, O rÌundo niio cra vcrtlatlei
ramente bipolar-os Soviéticos eram muito mais fracos rftr que os Anrui
canos! que se tinham fortalecido com a guerra e detinham armas nuclclrcs.
que os Soviéticos não possuíam. A União Soviética perdeu cerca dc .ìo
nrilhões de pessoas e a sua produção industÍial erl apenâs metade d() scrr
nível em 1939. Em Outubro de 1945. EstaÌine disse ao Embaixador arncli
cano Averell Harriman que os Soviéticos se iriam voÌtâr para o dentro plrrir
reparar os danos internos. Ainda para mais. afirmam os levisionistas. o conr
portanìento extemo de Estaìine no início do período do pós-guerra foi bas-
tante moderâdo: na China. Estaline tentou impedir os comunistas de Milo
'I sé-Tung de tomarem o poder; na guerra civil grega, tentou refrear os comu-
nistas gregos; e permitiu que existissem governos não comunistas na Hungria.
na Checoslováquia e na Finlândia.
ExisteÌn dois tipos de revisionistas: <moderados), e <<duros)). Os revisirr
nistas moderados enfatizant a importância dos indivíduos e sustentam quc
a morte de Roosevelt, em Abril de 1945, foi um acontecimento decisivo.
já que a política americana se tornou mais dura após o Presidente Harry S.
Truman assumir o cargo. Enì Maio de 1945, os Estados Unidos conaram o
programa lentl-lease, de auxÍlio em tempo de guerra, tão precipitadamente
que alguns navios com destino a portos soviéticos tiveram de dar meia volta
em pÌeno oceano. Na Conferência de Potsdam, perto de Berlim, em Julho de
1945. Truman tentou intimidar Estaline fazendo alusão à bomba atómica.
Nos Estados Unidos, o PâÍtido Democrático deslocou-se gradualmente da
esquerda e do centro para a direita. Em l948, Truman demitiu Henry Wallace,
o seu secretário da agricultura, que exortava a melhores relaçòes com os
Soviéticos. Ao mesmo tempo, James Forrestal, o novo secretário da defesa
de Truman, era um firme anticomunista. Os revisionistas moderados afir-
manì que estas mudanças no pessoal ajudam a expììcar por que razi(ì os
Estados Unidos se tornaranÌ tão anti-soviéticos.
Os revisionistas duros têm uma resposta diferente. Eles vêem o problema
não em indivíduos, mas na natureza do câpitalismo americano. Gabriel e
Joyce Kolko e William A. WiÌliams, por exemplo, defendem que a economia
americana exigia expansionismo e qüe os Estados Unidos planeavam tornar
o mundo seguro, não para a democracia, mas para o capitalismo. A hegemonia
económica americana não podia tolerar qualquer país que viesse a tentar
organizar uma área económica autónoma. Os líderes americanos Íeceavam
unìa repetição dos anos da década de 1930, porque sem comércio cxterno
haveria outra Crande Depressâo. O Plano Marshall de auxílio ì Europa era
simplesmente uma forma de expandir a economia americana. Os Soviéticos
^ 
(itrt.ltR^ t;t{ t^
CfililvillÌt (eIl()s it(l tt'ifili .(' t tÌ0 Ir)tÌì() u ì4 atttcaça ìt strir csli,ta tlc inlluôrtcitr
tttt l.lLrlrlrir tle l,cslr. Nas llrlirvr.as rlc Williarrrs. os Alrcrieanos scÍnpre l)vo_
rcccritÍu untit lxrlítica rlc pot.lt lher(il rra ccorìornia internacional porquc, a
tcttcittttavatn ittritvcssal
Os 1nís-rcvi.sittrtitlcs do fìnaì da década de 1970 e da de 19g0, de que é
cxemplo John Lewis Gaddis, têm ainda outra explicação. Sustentam que os
tradicionalistas e os revisionisras estão ambos eiraOoi, ja que ninguém foi
culpado pelo início da Guerra Fria. Ela era inevitável, óu quur., por causa
da estrutura bipolar do equilíbrio de poder do pós-guerra. Èm 1939, havia
um mundo multipolar com sete principais potências, mas após a destruição
infligida pela Segunda Guerra Mundial, apenas restaram duas superpotên_
cias: os Estados Unidos e a União Soviética. A bipoÌaridade, aliada à fra-
queza dos estados europeus no pós-guerra, criou um vazio de poder para
dentro do qual foram atraídos os Estados Unidos e a União Soviética. Era
inevitável que eles entrassem em conflito e, portanto, afirmam os pós-revi_
sionistas. é inútil procurar responsabilidades.
Os Soviéticos e os Americanos tinham diferentes objectivos no final da
glerra. Os Soviéticos pretendianÌ possessões tangíveis, território. Os Ame_
ricanos tinham objectivos intangíveis ou societais; eles estavam interessados
no conÌexto geral da política mundial. Os objectivos societais colodiram corr
os objectivos de possessão, quando os Estâdos Unidos promoveram o sis_
tema global das Nações Unidâs enquanto os Soviéticos se esfbrçavarn por
consolidar a sua esfera de influência na Europa de Leste. Mas estas diÍèren_
ças de estilo não fazem com que os Americanos se pudessem sentir como
santos, afirmam os pós-revisionistas, já que os Estados Unidos retirarâm
benefícios das Nações Unidas e, com uma maioria de votação de aliados,
não eram muito constrangidos por ela. Os Soviéticos podem ter tido uma
esÍèra de influência na Europa tle Leste, mas os Estaàos Unidos tiveram
igualmente uma esfera de influência no Hemisfério Ocidental.
Os Estados Unidos e a tJnião Soviética tinharr tendência a expandir_se,
defendem os pós-revisionistas, não devido ao deterntinismo económico que
os revisionistas enfatizam, mas devido ao intemporal dilema de segurança de
estados num sistema anárquico. Nem os Americanos nem os Soviéticos
podiam permitir que o outro dominasse a Europa, assim como Atenas nâo
podia permitir que os Coríntios assumissem o controlo da armada de Córcira.
Como prova, os pós-revisionistas citam o comentário de Estaline a urn Iíder
jugoslavo, Milovan Djilas, em 1945: <Esta guena não é como as do passado;
quem quer que ocupe um território impõe igualmente sobre ele o seu próprio
sistema social. Todos impõem o seu próprio sistema social tão longe quanro
o seu exército consiga alcançarr.' Por outras palavras, num nrundo ideolo_
gicamente bipolar. um estado utiliza as suas forças militares para impor
sociedades semelhantes à sua, como forma de assegurar a sua scgurança.
( r)Mt't{UÌNt)trR os (Ì)Ntrt.Ífi )s lNllllNAaÌ(lÌlAlt
Roosevcll tinha dito algo parccitlo a ljstalinc ttrt Ottlttno (lc 1944: (Ncslrr
guerra gÌobal não existc literalmcntc rtcnhuttta qucslrlr. prlíliclt ou milililr.
na qual os Estados Unidos não estejam intercssadosr." Ihdo csta cstrululir
bipolar, sustentam os pós-revisionistas, instalou-se uma espiral de hostilr
dade: linhas duras num país geram linhas duras no outro. Ambos comcçattr
a conceber o inimigo como análogo a Hitler na década de 1930. A merlitl;r
que as ideias se tomaram mais ígidas, a Guerra Fria intensificou-se.
Desde o finaì da Guerra Fria, um fluxo modesto de documentos. drrs
outrora inacessíveis arquivos soviéticos, conferiram mais vigor ao debale
acerca do lado que iniciou a confrontação. John Lewis Gaddis, por exemplo.
ficou cada vez mais convencido de que a URSS foi fundamentalmente rcs'
ponsável pelo inícío e pela naturezâ do conflito de superpotências. Menciona
a rigidez ideológica de Estaline e de outros líderes sovìéticos, assim como
o igualmente rígido empenho do Kremlin em manter um impérìo formal na
sua esfera de influência. O recuo de Gaddis para um ponto de vista rradi-
cionalista tem recolhido uma recepção céptica em alguns círculos académicos,
garantindo que o debate irá continuar numfuturo previsível.
As políticas de Roosevelt
Franklin Roosevelt desejava evitar os erros da Primeira Guena Mundial,
pelo que em vez de uma paz semelhante à de Versalhes, exigiu da Alemanha
uma rendição incondicional. Desejava um sistema comercial liberal para
evitar o proteccionismo que tinha destroçado a economia mundiaÌ na década
de 1930 e contribuído para o começo da guerra. Os Estados Unidos evita-
riam a sua tendência isolacionista, que tinhâ sido tão prejudicial na década
de 1930. Adeririam a umâ renovada e fortalecida Liga das Nações, na forma
de umas Nações Unidas com um conselho de segurança poderoso. Cordell
HulÌ, secretário de estado durante a maior pane da guerra, era um wilsoniano
empenhado e a opinião pública nos Estados Unidos eÍa fortemente a favor
das Nações Unidas.
O Presidsnte agiu como sc uma genuína cooperação, tal coÍlo 08 Amcíca-
Dos entendism o tormo, fosse possívcl, tânto duÍantè como após a gporra.
Rôosevelt âpaÍentcrrente tiDhâ-se esquecido, se é que na verdade alguma vez
o chegou a sabcr, que aos olhos dc Estaline êl€ não €ra asôim tilo difçÍentê d€
Hiúer, ambos sendo líderes de poderosos ôstados capitâlistas cujas mblções
de longo prazo colidiam com as do Kremlin.
WnrÌAM TAIBMÁN, Sulin's Amcricon Poli$
^ 
( lt [1Rta^ trtt^
l'irtit lllrtlovl'r crlc gtirrtrle tlcrÍgttio, lì(x,scvcll prccisitvit (lc lìiltìtcr. utìì
l;trrirr irrtcrrro l)il)itrli(liirio l)itrit it suil lxrsiçiur irrtcrrlrcit)t).t1. ljxlclìiuììentc,
prceisrrva tlc lsscgunrr a listalilrc quc ls suas rrcccssidadcs de scgurança
scliiulì sirlisli'itits caso sc .jultassc às Nações [lnidas. Roosevelt tem sido
ucrrsltlo tlc lcr tido unta abordagem ingénua ao planeamento do pós-guerra.
O scu ricsígnio não era ingénuo, mas eram-no algunras das suas tácticas.
Depositava demasiada confiança nas Nações Uni<ìas, sobrestimou a probabi-
lidudc tlo isoÌacionismo americano e, mais importante, subestimou Estaline.
Rrxrsevelt julgava que poderia tratar Estaline da nresma fornta como trataria
um qualquer companheiro político americano, colocando o braço à sua volta,
criando laços político a político.
Roosevelt não percebeu que Estaìine, juntamenÌe com os seus homens,
era um totalitário <que em nome do povo, assassinoü milhões dos seus; que
para se defender de Hitler assina um pacto com ele, divide os despojos de
gDeÍïa com eJe e, conto ele, expulsa, extermina ou escraviza povos vizinhos;
que se pôe de parte e invectiva contra as democracias €nquanto Hitler se
desloca para ocidente e depois as recrimina por não ajudarem o suficiente
quando Hitìer se desÌoca para leste>r.
RooseveÌt interpretou mal EstaÌine, mas não prejudicou os interesses
americanos na Conferência de Ialta em 19.15, como alguns afirmaram mais
tarde. Roosevelt não era ingénuo em todos os aspectos da sua diplomacia.
Tentou ìigâr a ajuda económica a concessões políticas por parte dos Sovié-
ticos e recusou-se a partilhar os segredos da bomba atómica cont eles. Foi
meramente realista acerca de quem terìa tropas na Europa de Leste no final
da guerra e, consequentemente. quem teria influência nessa região. Os equí-
vocos de Roosevelt tbram os de pensar que Estaline via o mundo da rnesma
forma que ele, que eìe compreendia a política interna nos Estados Unidos e
que as mesmas habilidades políticas americanas, com as quais um líder
esbatia as divergêncías e apelava à amizade, resultariam com Estaline.
As políticas de Estaline
Os planos imediatos do pós-guerra de Estaline eram os de apertar o
controlo inlerno. A Segunda Guerra Mundial infligiu danos tremendos à
União Soviética, não apenas as terríveis perdas de vidas e industriais, ante-
riormente descritas, mas igualmente na ideologia do comunismo. Muitos na
União Soviética colaboraram com os Alemães devido ao seu profundo res-
sentimento contra a severidade da governação comunista. A invasão alemã
enfraqueceu seriamente o controlo de Estaline. De facto. Estaline teve de
âumentar os seus apelos ao nacionalisnto russo durante a guerra, já que a
entiaquecida ideologia comunista era insuficiente para motìvar o seu povo.
,1,
,a2 ( r )Mt,Rt,t,Nt)t,t( os {r)Nt'l.tt(ls tN I llltN^('lí tN^l!{
A polílica isolaciottista rlc lrslitlinc no littll rlrr gttcttrr tlt'slittitvit- sc l eortiu
as inlluôncias externas tla [Ìuropa c tftrs l,islltlos Ilrritkrs. ljslulinc usotr rrs
Estados Unidos como um alvo inimigo, instantlo o povo soviélico a rclrirrr
-se, fechar-se, a desconfiar dos estrangeiros. Mas isto não signilìca tlrrc
Estaline desejasse a GuerÍa Fria que acabou por acontcccr
Estaline preferia que existisse alguma cooperação, especialmcnte sc rs\(r
o ajudasse a prosseguir os seus fins na Europa de Leste e lhe trouxcss('
alguma assistência económicâ dos Estados Unidos. Como bom comuni\lir.
acreditava que os Estados Unidos teriam de lhe fornecer assistênci
económica, porque o sistemâ capitalista precisava de exportar capital devi(lo
à insuficiência da procura no interior do país. Estaline acreditava igualmcrrtr.
que em l0 ou 15 anos, a próxima crise do sistema capitalista irromperia c.
nessa altura, a União Soviética teria recuperado e estaria pronta plrl suil
vencedora do conflito inevitável com os capitalistas.
Em termos de política externa, Estaline queria proteger-se internamente.
assim como manter os ganhos que a União Soviética tinha conseguido nir
Europa de Leste com o pacto de 1939 com Hitler. Estaline pretendia aindir
sondar pontos fracos, algo que se faz melhor quando não existe uma crisc.
Em 1941, Estaline disse ao ministro dos negócios estrangeiros britânico
Antbony Eden que preferia a aritmética à álgebra; por outras palavras, pre
feria uma abordagem prática e não teórica. Quando Winston Churchill pro-
pôs a fórmula da divisão das esferas de influência do pós-guerra nos Balcãs,
isto é, uns países sob controlo britâníco, uns sob controlo soviético e outros
por ambos em partes iguais, Estaline estava bastante receptivo à ideia. AI-
guma da cautela inicial de Estaline em apoiar de imediato governos comu-
nistas na China, Checoslováquia e Hungria ajustam-se bastante bem a esta
abordagem âritmética e não algébrica de atingir os seus objectivos. Estaline
era um comunista empenhado que, apesar de ver o mundo dentro do
enquadramento do comunismo, usava muitas vezes tácticas pragmáticas.
As fases do conJlito
As etapas iniciais da Guerra Fria podcm scr divididas em três fases: 1945
a 1947 -o início gradual; 1947 a 1949 a declaração da Guerra Fria: el95O a 1962 - o auge da Guerra Fria.Nem Estaline nem Truman desejavam uma guerra fria. No final da Se-
gunda Guerra Mundial, Truman enviou o antigo adido de Roosevelt, Harry
Hopkins, a Moscovo para se inteirar se poderiam ser estabelecidas algumas
combinações. Mesmo após a Conferência de Potsdam, Truman continuou a
considerar Estaline como um moderado. De facto, tão tarde como 1949,
comparou Estaline ao seu velho amigo Boss Pendergast de Kansas City. Em
A íl,trtl^ l,lfl^
194(r, (icrrrge Kctttttttt. cscrcvt'lttltt tlc Mttscttvtt cotìÍ) ( r/,.1r3.; 'ullìtitt's t|r
Bnthitixarla tkrs lillÂ. lcnlirvll lvisll rts tlccisorcs ittttcricuttos itcclca da
vcÍd{ldcira rì lurczir c intcrrçriÒ' dc llstaline c Winston Churchill proleriu
um discurso célcbrc cnt l'ulton, no Missouri, avisando quc umü.cortina
dc ícrro" estava a cair sobre a Europa. Enquanto o Secretário de Estado
Jlmcs Byrncs tentâvâ âinda negociar um tratado de pós-guerra com os
Soviéticos, Truman pediu ao seu adido, Clark Clifford, para preparar um
rclatório acerca do que os Soviéticos estavam na realidade a planear. Clifford
falou com uma multiplicidade de pessoas e chegou à conclusão de que
Kennan estava certo: os Soviéticos iriam expandir-se sempre que encontras-
tcm uma oportunidade com poucos custos. Contudo, quando Truman rece-
beu o relatório, em Dezembro de 1946, disse a Clifford que não queria que
os seus resultados fossem divulgados, isto porque ele ainda estava a tentar
prosseguir o grande desígnio de Roosevelt e não tinha ainda desenvolvido
uma nova estratégia.
Seis questões contribuíram eventualmentepara alterar a estratégia ame-
dcana e para o início da Guerra Fria. Uma foi a Polónia e a Europa de Leste.
A Polónia, claro, tinha sido uma das causas precipitantes da Segunda Guerra
Mundial e os Americanos acreditavam que Estaline tinha quebrado um com-
promisso claro de realizar eleições livres na Polónia após a guerra. No
cntanto, não era claro o que Estaline tinha concordado fazer Quando Estaline
c Roosevelt se encontraram em Teerão, em 1943, Roosevelt levantou a ques-
tão polaca, mas apelou a Estaline no contexto das eleições americanas de
1944: ele tinha uma eleição a aproximar-se, existiam muitos votantes polaco-
-americanos e ele precisava de lhes transmitir que se iriam realizar eleições
na Polónia após a guerra. Estaline, que nunca se preocupou com eleições na
União Soviética, não levou a sério as inquietações de Roosevelt. O acordo
de lalta de Fevereiro de 1945 era também algo ambíguo e Estaline estendeu
o seu sentido tanto quanto conseguiu, estabelecendo um governo-fantoche
em Varsóvia após as tropas soviétícas terem expulsado os Alemães. Os
Americanos sentiram-se enganados, mas Estaline pressentiu que os Ameri-
cânos se iriam ajustar à realidade de que tinham sido tropas soviéticas a
libertar a Polónia.
Em Maio de 1945, o programa de ajuda lendJease foi abruptamente inter-
rompido e a relação económica entre os Estados Unidos e a União Soviética
ressentiu-se. A conclusão precipitâda do lend-lease foi em paÌte um erro buro-
crático, mas a situação global não melhorou quando, em Fevereiro de 1946, os
Estados Unidos recusaram pedidos de empréstimo soviéticos. Os Soviéticos
interpretaram esses actos como pressão económica com intenções hostis.
A Alemanha era um terceiro problema. Na reunião de Ialta, os America-
nos e os Soviéticos acordaram que a Alemanha deveria pagar 20 biliões de
dólares em reparações, metade dos quais seriam entregues à União Soviética.
(ïrMl'Rl l,Nlrl l( os ( ítNl,l lltl\ lNlt'lNAl'l(lN^lr
Os pottttcttorcs lccrcl tlir tÌtitttcirt crttttrt r'rlttitnrkr ìctilttt r'li'elttil(los o\
paganÌsÍìt()s rtio lìrrarrr cst bclccidos cttt lulllt. lrltesirt tlt' iulll)irs its l)llÌl('s
terem acordado quc scriarn negociados tttitis lattlc. Nlr tcttniiìrt tlc l)tttstlitttt.
em Julho de 1945, os Soviéticos exigirarn os scus l0 biliircs tlc dtilatcsl itlt'ttt
disso, pretendianr que eles viessem das zonas ttcidcntais da Alcmanhl tlttc
os Americanos, os Britânicos e os Franceses tinharl ocupado. Harry T'ruttlttt.
preocupadô com a reconstrução da Alemanha, aÍìrmou que se os Soviéticos
queriam tirar l0 biliões de dólares à Alemanha, deveriam tirá-los da zotrr
oriental que ocupavan: caso sobrasse alguma coisa após a reconstrução rlir
área ocidental da Alernanha, ele avisaria os Soviéticos. Assint começou uttrr
série de divergências entre os Americanos e os Soviéticos acerca da tìrrttrr
de reconstruir a Alemanha. Os Americanos, juntamente com os Britânicos e
os Franceses. criaram uma moeda única nas zonas ocidentais. iniciando o
processo de integração da Alemanha Ocidental. o que levou, por seu lado.
os Soviéticos a apertarem o controlo sobre a zona leste da Alemanha.
A Asia Oriental tanìbém constituía um problema. Os Soviéticos foram ncu'
trais no Pacífico até à última semana da guerra. Nessa altura declararam guertir
ao Japão, apossando-se da Manchúria e de quatro ilhas do norte do Japão. Ent
Potsdam, os Soviéticos solicitaram uma zona de ocupação no Japão, semelhanlc
à zona de ocupação americana na Aìemaúa. A resposLl de Truman foi, nl
realidade, a de que os Soviéticos tinham chegado tarde à festa, por isso nr'i,'
teriam zona de ocupação. De um ponto de vista amcrÍcano, isro parecia
perfeitânìente razoável, mas a situação relembrava aos Soviéticos a situaç:ìtr
da Europa de [-este, onde os Americanos pretendiam eleições livres e in-
fluência, mas onde os exércitos soviéticos tinlìâtrr chegado primeiro. Por isso
os Soviéticos consideravam a situação do Extremo Oriente análoga à da
Europa de Leste, enquanto os Americanos a consideravam como um exem-
plo adicional da pressão soviética com vista à sua própria expansào.
Uma quinta questão era a da bomba atómica. Roosevelt tinha decidido
não partilhar o segrcdo da bomba atómica com â União Soviética. A maioria
dos historiadores actualmente concordam que Truman lançou a bomba em
Hiroshima e Nagasáqui com o propósìto principal de terminar rapìdamente
a guerrâ com o Japão e não para intìmidar a União Soviética, como alguns
revisionistas têm dcfcndido. Mas ele esperava. na verdade, que a bombt
tivesse âlgumas consequências políticâs. Na reunião de Potsdam, quandtt
Truman comunicou a Estaline que a América tinha uma bomba atómica.
Estaline pernìaneceu impávido e aparentemente pouco impressionado. Claro
que Estaline já o sabia pelos seus próprios espiões, mas a sua serenidade
causou surpresa aos Americanos. Em 1946, quando os Americanos apresen-
taram o Planô Baruch de controlo de armas nucleares pelas Nações Unidas,
EstaÌine rejeitou-o porque pretendia construiÌ a sua própria bomba. Na sua
perspectiva, uma bomba sob controlo internacional continuaria a ser uma
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Figura 5.1
(1rMl,l{t I NTI R tl\ (ltNt I I t(l\ tNll(tNA('l(lN^lr
hotttbl arrrctieall..iii (luc lpclirs ()s Atìteri(ilÌrr\ rrtbirul r,orro il eotÌslrrl
Era tttuito rttclhor plll l scSurlrìçir tlir (lrtiiìo Sovitilieir (luc csll livc\sc ir \u.r
prtipria bornbu (que detoniìriìrn. tìnalnlcntc, crrr l().lt)).
A sexta questão estava relücioniÌdir corn príscs do McditcrrÍìnco ()rit'rrtrrl
e do Médio Oriente. onde os Britânicos tinhirm sido inllu!'ntcs itnlcs (lir
Segunda Guerra Mundial. Aprls a guerra, várias coisas aconluecriìrÌì. lrll
primeiro lugar, os Soviéticos recusaram retirrr as suas tropls do norle tIr
Irão, em Março de 1946. Os Estados Unidos apoiaram o Irão nurn dcbatc r,'
interior das Nações Unidas. Os Soviéticos acabaram por se re(irar. mas rÌirrl
sem uma boa dose de ressentimento acerca do sucedido. Então t Llrriiìo
Soviética coÍì'ìeçou a pressionar a Turquia, seu vizinho a sul, e os comunistir\
gregos pareciam estar a ganhar a guerra civil na Grécia. Mais uma vcz. r,
Ocidente acreditava que os Soviéticos se estavam a expandir.
Estas seis questões foram reais, apesar de teÍem existido alguns erros rlt'
apreciação envolvidos em quase todas. Poderianì ter sido solucionadas alrir
vés de negociaçâo e apaziguamento'Ì O apazÌguamento teria resultado'l Pro
vâvelmente não. Kennan defendeu que Estaline estava decidido a sontlar
pontos fracos. O apaziguamento teria sido interpretado como un] ponto Íìac()
e convidado a uma exploração mais funda. Em Junho de 1946, Maxinr
Litvinov, o antigo ministro dos negócios estrangeiros soviético, pôs de so-
breaviso a parte americana contra quaisquer concessões, já que a causa
prirnordial da tensão era <a concepçio ideológica aqui prevalecente de quc
o conflito entÍe os mundos comunista e capitalista é inevitável>. As conces
sões conduziriam apenas <<a o Ocidente ver-se confrontado, após um períockr
de tempo mais ou menos curto, com a próxima série de exigências"'.
O apaziguamento provavelmente não teria resultado, mas negociaçòes mair
duras poderiam ter limitado alguns dos âcontecimentos que conduziram ao
início da Guerra Fria. Um apelo táctico ao pragmatismo de Estaline a paÍtir
de uma posição americana nrais firme, juntamenle com uma disposição enr
negociar, poderìa ter resultado melhor nesse período inicial de 1945 a 1941.
A segunda fase, a declaração da Guerra Fria, de 1947 a 1949, resultou
dos problemas na Grécia e na Turquia. A Grã-Bretanha, severamente
enfraquecida pela Segunda Guerra Mundial, sentiu que não conseguilia con
tinuar a garantiÍ â seguÍança no Medirerrâneo oriental. Os Estados Unidos
tinham de decidir se deixavam que se desenvolvesse um vazio ou se subs-
tituiriam o poder britânico fornecendo assistênciaà Grécia e à Turquia. Isso
envolvia uma ruptura considerável na tradicional política externa americana.
Truman não estava certo de que a opinião pública americana apoiasse essu
medida. Ainda havia receio de que o isolacionismo viesse a ser a linha
centraÌ da política externa americanâ do pós-guerra Truman perguntou ao
Senador Arthur Vandenberg, o líder republicano de Michigan, se o Senado
alinharia com o auxílio à Grécia e à Turquia. Vandenberg disse que Truman
^ 
ullllÀ l'lll A 11,
lCrilì tlc . ssrrslri l(r\, l)ut.|| coltrcgttit itPrti0 cr tttgtcss itttlit I pata Csta qucbtit nit
ìlílifn irndiciontrl irrrrcricarr . Âssitn. tlttantl0 Trurrri|n.iuslilìc0Ll cslit itllcÌit-
ç[o rlc políica, nilo Í:llotl accrca tlit ncccssidadc dc rnan(cr um cquilÍbrio tlc
iotlcr n., Mctlitctrâttco ()ricntxl atriìvds tlo lbrnecimento de auxílio 
à Grécia
c À Turquia. Em vez disso, lulou acerca da necessidade de proteger os povos
llvrcs cnr toda a parte. Esta explicação n'ìoraìista e ideológica para a assis-
lência rnrericana tornou-se conhecida por Doutrina Truman'
(ìeorge Kennan, por essa altura de voìta ao Departamento de Estado'
opôs-se à tbrma ideológica de formulação da política externiì, argumentando
que era demnsiado vaga e iria meter o pâís em sarilhos. De facto. existiranÌ
inormes ambiguidades na política de contenção que fluiu da Doutrina
Truman. Os Estados Unidos estavam interessados em conter o poder sovié-
tico ou a ideologia comunista? No início' conter o poder soviético e conter
I ideologia comunista parecia ser a mesma coisa. mas com o decorrer dâ
Guerra Fria. quando o movimento comunista se dividiu' as ambiguidades
toÍnaram-se importantes.
Truman estava errado ao exagerar o sentimento de anleaça e a base ideo-
lógica para a alteração da política? AÌguns observadores acham que é mais
diiícit ãtterar a opinião pública nas democracias do que alterar as políticas
nos países totalitários. Eles sustentam que o exagero acelera o processo de
alteração nas democracias. É necessário puxâr com mais força as rédeas ao
tentaÌ viÍar uma parelha de cavalos fogosos. Independentemente do facto do
exageÍo seÍ ou não necessário, ele ajudou a alterar a natureza da Guerra F ia'
Èm Junho de 1947, o Secretário de Estado George Marshall anunciou unr
plano de ajuda económica à Europa. A proposta inicial do Plano Marshall
ionvidaua a União Soviética e os Europeus de Leste a juntarem-se, se cr
desejassem. mas Estaline colocou enorme pressão sobÍe os Europeus de
Leste para que o não fizessem Estaìine encarava o Plano Marshàlì não comÒ
generósidade americana. mas como um aríete económico Para destruir a suâ
úarreira de segurança na Europa de Leste Quando a ChecosÌováquia indicou
que desejaria receber a ajuda dos EUA, Iìstaline aumentou a pressão sobre
á Europo de Leste e os comunistas assumiram o poder total na Checoslo-
váquia em Fevereiro de 1948.
Trunran ouviu ecos tla tlécada de l9-10 nestes acontecirìentos Conleçou
a recear que Estaline se lornasse outro Hitler. Os Estados Unidos avançaraDl
planos pàrâ uma reforma monetáriâ da Alemanha Ocidental; Estaline respon-
à"u "o* o bloqueio 
de Berlim. Os Estados Unidos responderam com uma
ponte aérea e iniciaram planos para a Organização do Tratâdo do Atlântico
ito.t" (NetO). ,q nostilidade começou a âun'ìel'ìtar num padrão olho-por-olho'
A fase mais austerir da Guerra Fria ocorreu após dois abalos em 1949: a
União Soviética detonou uma bomba atómica' muito mais cedo do que al-
guns líderes americanos julgavam que conseguiria' e o Partido Comunista
tat ( r )MpRtitlNt )t1R ()s (1)Nt't.tIrìs tN llllNA('l(lNAli
Chinôs assurtriu o ptxlcr nl ('hirìir (cxcspto rru illru rlc'lìrrwun), O alunrre r'rrr
Washington Íbi cxenrplilìcado por urn tftrcrrrrcnlo A()vcrnlntcntll sccÍul(), o
Documento 68 do Conselho Nacional de Scgurança (NSC-ó[ì). quc prcvrr
um âtaque soviético dentro de quatro â cinco ânos, como paíc de um plirrrrr
de dominação global. O NSC-68 recomendava um vasto aumento nos giÌstos
de defesa dos EUA. Afligido por problemas orçamentais, o Presidente Trurnirrr
resistiu ao NSC-68 até Junho de 1950, quando as tropas da Coreia do Norlc
atrâvessaram â fronteiÍa com a Coreia do Sul.
O efeito da Guerra da Coreìa foi o de derramar gasolina sobre unr pe
queno lume. Confirmava todas as piores suspeitâs ocidentâis acerca tlas
ambições expansionistas de Estaline e conduziu a um enorme aumento rì(l
orçamento de defesa americano, do tipo â que Truman se tinha oposto al(l
essa altura. Por que razão Estaline permitiu que a Coreia do Norte invadissc
a Coreia do Sul? Khrushchev dá uma explicação nas suas memórias: Kim ll
Sung, o líder norte-coreâno. pressionou Estaline pela oponunidade de uni
hcar a península. Os Estados Unidos tinham ahrmado que a Coreia cstavu
fora do seu perímetro de defesa; o Secretário de Estado Dean Acheson tinha
enunciado esta posição e o Estado-Maior tinha feito planos em conformidadc
com ela. Para Estaline, a Coreia surgia como um ponto fraco. Mas quando
a Coreia do NoÍe entrou realmente na Coreia do Sul, Truman respondeu dc
uma forma axiomática e não calculada: Truman recordou-se da movimenta-
ção de Hitler para a Renânia e do axioma de que a agressão deve ter resis
tência em toda a parte. Planos calculados acerca de perímeros de defesa
foram obscurecidos pelas analogias históricas despertadas pela invasão norte
-coreana. Os Estados Unidos conseguiram mobilizar o Conselho de Segu-
rança para a adopção da segurança colecliva (possível porque a União Sovié
tica estava nessa altura em boicote ao Conselho de Segurança) e enviou
tropas para a Coreia, sob a bandeira da ONU, para empuÍrar os comunistas
de volta para cima do Pàralelo 38, que dividia a península coreana.
A princípio, os exércitos da Coreia do Norte varreram a península quase
até à sua extremidade. Em Setembro, porém, um desembarque anfíbio ame-
ricano em Inchon, a meio da península, pôs os Norte-Coreanos em dehân-
dada. Tivessem os Estados Unidos parado nessa altura e poderiam ter recla-
O objectivo do NSC-68 ers assustadoÍ prìÍâ â massâ cinz€nta dos <funcio-
náÍios de topo>, p,oiE o PÍesidente úo só podia tomaÍ ums decisão como essa
de.cisão podia ser levada a cabo- Mesmo assim, é duvidoso que algo como o
que âconteceu nos anos seguintes pudesse ter sido rcalizado, caso os Russos
nâo tivesscm sido estúpidos ao ponto de terem instigâdo o ataque contra a
Coreia do Sul e iniciado a campanha de <ódio à Américo.
SBcRBTÁpJo DE EsTADo DleN Acurson, Present at the Creationí
^ 
I rtltt^ I'll^
mll(l(l vilrirìil. tt'sllttttlttttIr il siltt;tçitrt iìlìlt'llr)l iì il)llls;trr' tttits lllllllillì sll(!llll
bltt it;ttess0ts illlerllil\ l)lllil 1x'tscllttir lls lI(llìlls ellì rcliliì(l;l l)illit n()Ill 
do
iun,t"i,,.fg. A ttrctlitllr tlLtc tts Atttcticltttos sc a1'ttttxitttitrattl do rio Yalu' 
quc
lcpuru u <',,r"i" da ('hiria. os cotlìt'tttislrts chittcscs itltcrvicraltt' cnrpurrandtl
l8 lropas tla ONU ató ntcio da pcnítrsula Aí a batalha permâneceu num
Ítfurr" lirngr"n,o por três anos, até uma trégua ser assinada em I953 Os
EsiLrdos Unitlos envolveram-se numa contenda com a China e 
o comunismo
pui".i" t"t' ntonoìÍtico. Nos Estatlos Unidos' a gueÍÍÀ frustrante conduziu à
liui.ãu in,"rno e à ascensão do McCarthismo, assim denominado devido 
às
ãu*, " pou.o fundamentadas 
acusações de subversão interna, feitas pelo
óenoao, ìo..pn McCarthy do Wisconsin Os blocos da Guerra Fria endure-
ccram e a comunicação praticamente cessou'
Inevitabilidade?
O início da Guerra Fria era inevitável? Os pós-revisionishs estão correctos
Ee interpretarnìos inevitível como <altamente provável>' A estrutura bipolar
ioanou p.otau.t que os tiois lados fossenl sugados para um vazio de 
poder
io fu.opu e lhes iosse difícil ìibertarem-se O clima ideológico.intenso obs-
truiu o funcionamento das Nações Unidas, restringìu uma comunicação 
aberta
e contribuiu paÌà o Processo imotleratlo do sistema internacional 
Sob tais
condições ,iriémi"u., os conflilos teriam surgido por causa das seis 
questõeshá pouco identificadas, ou outras, e provado serem de difícil resolução'
õs pós-revisionistas. contudo, confiam demasiaclo na explicação sistémica'
Talvez algutna Guerra Fria fosse inevitável' mas não a sua intensidade 
AfinaÌ'
existirarn"diferentes fases de hostilidade e, já que a bipolaridade do sistema
não ," ult".ou até 1989, as explicaçòes estruturais são incapazes de explicar
essâs dìfeÍentes fases e a variação da intensidade da hostilidade' É aí 
que
"n,.ut 
o, indivíduos e a políticâ interna - Rooseveìt 
e Truman' Estaline e
Kruchtchev. A política interna tem de ser tomada em consideração de modo
a.omp.".nderrnos totalmente a s.mplitude da Guerra Fria Os revisionistas
têm razão em cenlraÍem-se em questões internas' mas estão errados 
em se
centraremtãofortementenodeterminismoeconómico.Maisimportantefoi
o pup.t Ao exagero e da ideologia na política interna Estaline utilizou a
iaáot,ogio devidõ aos problemas internos soviéticos após a guerra 
e Truman
"*ug"rãu 
de forma a ieunir apoio para alterar a política exte-rna americana'
À uïitiruçao de analogias com a década de 1930 ajudou a relbrçar a rigidez
de ambos os lados.
lronicanìente, eslÍatégias aìternativas em ditèÍentes alturas poderiam ter
aìiviado a intensidade dà hostiÌidade Por exemplo' se os Estados Unidos
tivessem seguido o conselho de Kennan e responclido de tòrma mais firme
('l,M}RllllNl)lrlt ()S (ItNt/t Itt)S lNlI'tNAt,lttN^lS
Os atontecincnto:t na Á:iia
otiental, 1915-19J9
I r'i\\ \,,r,
Forças da ONU
na Coreií
nrÍa r Corcir do SuÌ.m
l95lr 195 ì. Os pôÌ.i0
LU.\
Tailirìd;a
B!tlrìca
.t.- Êr&(ito L Rtr, Ìir!
A Eueffa na Corcia,
Outubro de 195$1953
Cì 'clnirho,i". Nlic."
i:: A Gucri E(tirr(n. t95i t95l
Al À|.ìtu irüìçô dls rrepÀ
orÌun! r\ chincsa\.
Gue a na Corci.t
até oütubto 1950
U ÁÈi dr conu,l. sut
connrìi{a\ dm l9s0
Figura 5.2
de 1945 a 1947 e tivessem tentado negociações e comunicação maìs prag_
málicas de 1947 a 1950. a Guerra Fria poder.ia não ter atingido a intensidade
do início da década de 1950.
^ 
I [1ttA t/LlA
N(wir lt: ttrrúlix'
As otigctrs tla (iuctta liil porlcltt scr rlcscritus clìl tcrlììos tlc rlilcrcntcs
lmugcns, ttu Irívcis dc anítlise, cottro cxcmplilìcado na Íigura 5-3.
No século xtx, Alexis dc Trrcqueville previu que a Rússia e os Estados
Unidos cstitvant rlcstinados a tonìiìr-se em dois grandes gigantes de escala
.Contincntal Ììo nìundo. Os reaìistas Poderiam logo prever que estes dois se
lriam envolver em alguma forma de cont'lito. E' claro' em 1917, a Revoluçãtr
Bolchevique udicionou um estrato ideológico ao conflìto. Quando Woodrow
lrVilson soube da Revolução Russa, felicitou o povo russo pelo seu espírito
dcmocrático. Mas não demorou muito para que os Americanos acusassem os
bolcheviques de regicídio, de expropriação e de cooperação com a Alemanha
na Primeira Guerra Mundial. Os Estados Unidos adicionaram um reduz-ido
contingente de tropas a uma inteÍvenção aliada, alegadanlente para mânter os
Russos na guerra contra a AÌemanha, rlas os Soviéticos encararam-no colÌìo
uma tentativa para estrangulâr o comunismo no seu berço. Apesar destas
divergências, os Estados Unidos e a União Soviética evitaram conflitos sé-
rios no período entreguerras e tornaram-se aliados no princípio da década de
l9zl0. A bipolaridade que se seguiu ao colâpso de todas as outras grandes
,1,
IMAGEM 2
Socicdâdê ìnterna
IMAGEM I
Individual
Receio de TÍuman
de isoìacionismo
dos EUA
MAS| oo
conló o da
1914, nenhumo
cenlelho
de gueíoMenos alterâçoes de
âlianças e nìenos
Figura 5.3
trl ( 'oMt'H t,t,NDt.t{ os r 'oNt I í \ tN ,NNÀ('loNAlr
l)otôlìciirs rìir ScgIrì(llt (itrcIIrr Mrrrrrlirrl. c (r !itlio tlt lxxlt,r'rcsUllillìtc. lrllç
rafttÍÌì o rclac iorìilntcn l( ). Alllc[ir)ÍtìtcIlc linlìir lrirr,ithr rl,,stoltliir çir c lt( o\
dois paíscs, rnls tìcsconlìavartì urÌ d() oulr'o ir rlistlìrrcitr. Antcs tlir Scgrrrrrllr
Guerra Mundial eles podiam evitar-sc unr l() ()ulro. rrras tlcpois rlc l(){5
encontravam-se frente a frente, a Europa estava dividida c unr conÍlilo itìtcrÌso
começou depois de 1947. Algumas pcss(ìas questi()nam se estruturil hiprr
lar teve de ter esta consequência. Afinal, a União Soviética erâ ulÌìa potôrìe iir
terrestre enquanto que os Estados Unidos eram uma polênciü m ritirÌìir:
porque não poderia ter havido uma divisão de trabalho entre o urso c iì
baleia. cada quâl permanecendo no seu próprio domínio?
A resposta é a de que as peças centrâis da polítìca mundiaì, os paísr'\ qLrc
podiam inclin a balança de podeq estavam localizadas nas periferias tlrr
União Soviética. em especial a Europa e o Japão. Como George Kennarr
descreveu a situâção depois da guerrâ, existiam quatro grandes áreas tlc
criatividade tecnológica e industrial, as quais, dependendo da forma corno sc
aÌiassem, poderiam incìinar o equilíbrio global de poder. Elas eram os Es
tados Unidos, a União Soviética, a Europa e o Japão. O facto da Europa c
do Japão se terem âliado aos Estados Unidos contra a União Soviética firi
de uma importância extÍeÌDa.
As explicações sistémicas previam o conflito, não a intensidade que atin-
giria. Para tal precisamos de ultrapassar as explicações sistérnicas para exa-
minarmos os níveis de análise societal e individual. A nível societal. os dois
países eram muito diÍèrentes um do outro. Um esboço rápido da cuìtura
política da União Soviética e da sua expressão na política externa revelava
duas raízes: russas e comunistas. Os construtivistâs chamam â atenção para
o facto da cultura política Íussà acentDàr o absolutismo enr vez da denocra-
cia, o desejo por um líder forte, receio da anarquia (a Rússia tinha sido um
império vasto e difícil de controlar e o receio de que a anarquia e a dissensão
pudessem conduzir à desintegração era bastante reaÌ), receio de invasâo (a
Rússia era uma potência terrestÍe. geograficamente vulneráveÌ, que tinha
invadido os seus vizinhos e tinha por eles sido invadida ao Ìongo dos sécu-
Ìos), preocupação ou vergonha acerca do atraso (desde Pedro o Grande que
os Russos tentavam provaÍ a sua vitalidade na competição internacional), e
secretismo (um desejo de esconder as amarguras da vida russa). Para mais,
o sislôma comunista tratava os direitos de classe, e não os direitos indivi-
duais. como a base da justiça. O papel adequado a uma pessoa ou a uma
sociedade era o de conduzir o proletariado ou a classe trabalhadora rumo à
domjnância, porque era esse o suposlo curso da hìstória.
O estrato ideológico coÍÌferia um íÌÌìpeto extrínseco ao tradicional imperia-
lismo russo e resultou num processo de política extema reservado e conduzido
de forma firme. É interessante obseryar os pontos fones e fracos desse processo.
Os pontos foíes eram evidentes em 1939, quando Estaline conseguìu asrinar
A lll tllLl^ I'LlA
rnpi(l rÌrcrìlc (r l)tt(l() rolll llillcr' Nìrr li)i etnìslrltngi(l(ì pclir oPittilìo pLiblieit c
nrìo tcvc tlc ìc lne([lllìlll c(llÌl tllll:t bttroclacia quc () rctitrdilssc lira livrc tlc
uvitnçar rapitlatttclìlc Para o pitcto solìì Hitlcr. clquant0 BlitÂnictls c Frâncescs
ainda hcsiiavam cntrr: neg()ciar ou não com ele O oütro lado da mesma moeda
toínou-se cvidente em lt4l, contudo, quando Hitler atacou a União Soviética'
Estaline tbi incapaz de acreditar <1ue Hitler tivesse feito tal coisa e entÍou em
depressão profunda por mais de uma semana O resultado foi desastroso para
as deÍesas soviéticas nas fases iniciais da guerra'
Em contraste, a cuìtura política americana enfatizava a democracia libe-
ral, o pluralismo e a fragmentaçãcì do ptrder' Em vez de vergonha pelo
atrâso, os Esfados Unidos tinham orgulho na sua tecnologia e na sua econo-
mia em expansão. Em vez de receio de invasão, durante a maior parte da sua
história, os Estados Unidos tinham sido capazes de se isolarem entre dois
oceanos (e a marinha britânica) enquanto invadiam os seus vizinhos mais
fracos. Em termos de secretismo, os Estados Unidos eram tão abertos' que
documentos governamentais chegavam frequentemente à imprensa passados
alguns dias ãu ."-unua- Em vezde concepções de justiça com base na
clãsse, existia umà fo e ênfase na justiça indivídual A política externa que
resultou destà cultura política era moralista, pública e rcndia a oscilar entre
orientações voltadas para dentro e voltadâs para o exterior' O resultado era
o de que o p.o""r.o àu política externa americana era muitas vezes incon-
sistente e ìncoerente em muitos dos seus esPectos superltciais Mas também
havia o outro Ìado desta moeda. Os pontos foíes da abertura e do pluralismo
pÍotegeram muitas vezes os Estados Unidos contra erros mais profundos'' 
Não é assìm surpreendente que estâs duas sociedades' construídas de tbrma
tão diferente e com processos de política extema tão diferentes, se confundis-
sem uma à ouüa. Vemos exemplos disso na forma como Truman e Roosevelt
lidaram com Estaline na década de 1940. Foi difícil para os Americanos com-
preenderem a União Soviética durante a Guena Fria porque a União Soviética
era como uma cai^a negra. Os Ìíderes amerícanos conseguiam ver o qrìe entrava
e o que saía da caixa, mas não o que aconlecia lá dentro Os Anericanos
confundiam ìgualmente os Soviéticos. Os Americanos eram como um aparelho
multifrequências, que.produzia tantÒ barulho de fundo que era difícil ouvir
claramente os uerdadeiros sinais. Havia detlasiadas pessDas a dizerem dema-
siadas coisas. Os Soviéticos ficavam assim frequentemente confusos acerca do
que os Americanos realmente pretendiam.
Objectivos americanos e soviéticos na Guerra Fria
Os Soviéticos foÍa$ frequenterÌìente acusados de serem explnsionis-
las, de serem um porìer revolucionário em vez de um poder de stotus quo'
(1tÀ ,t{t t.Ntìt,t{ Irs (.oNt I 0t tN ,ta N^t,lt )N^lÍ
A [/nìiìo ,Soviti(ica [crrtlia lirrrrhtirrr tr rlt.stj;rr rltit,r,tìyrtt r/r,/rrrrr,,r.rrirr orr liurgívcis, tais c(nìì(ì tetÍil(iri(), !,tìquitlìto quc 0s Âttrcrieirrror lctì(lii tì it (llt(.r.(.1.hjcrirrt.t sor i.rrir.r ou inrangívt:is _ r.r..ras .l":.;;;;1".;ì :;;rrquatrrarrre rrrrrgeral du política internacional. podcmos 
"t.,r"ru,,, i""u-nuli cxigôlcia, t1u,lEstaline, Churchill e Rooseveìt levaram iì ,.rr'ár. ,ì.g,ïirça)cs crìr lrltirEstaline tinha objecrivos basranre claros em Ialra: u Ai;;";;, c a potrirriirChurchìll pretendia a reconsrrução da França, pu.u u.;uãì. ,'.untrabítlançiuo poder soviético no caso dos.Am".i.ono, ,.g...rui;;;;"rr. Roosevetrqueria as Naçôes unidas e um sisrema econó.i;l;,;;;;;;;l aberro. Esrcsobjectivos eram bastante diferentes na sua tangibilidade. De certa Í-ornra, orobjectivos do pós-guerra de Estaline 
"r,,n-' 
oËjà"ì'i"*"ií'".ì,u,ir,o, ,rr.,,.,clássicos; pretendia manter os ganhos que tinf,o .onr.grìão com o triìtiÌ(l(lcom Hitler. A sua lista de deselos reria sido rr.iii"r"" i.*" o Grancrc.Alguns americanos consideravam que os Soviéticos eram tão expansionistas como HìtÌer no seu desejo pera dìrninaçâo ,n""ãi"iõr,.", susrentíìrÌìque basicamente eÌes eram orientlrtos poro u ,"gr.unçì, o Jü.*ponrao .r,,defensiva. O expansionismo soviérico era dif";*; ã; l" ïi,t"r" .n, p"t,,
::T*ï: f",rna1 Em. primeiro lugar, não "." b;Ìi";;", ;, .Soviéticos nãoquenam a guerra. Quando Hitler invacriu a polónia. receava qre rh" ofer.""r,sem outro Munique, em vez da guerra que desejava para a glciria do fascismo.
l:ï. jll"l.::::,.,11 1 d.. q". u un iao'so, ieiiiu #;;"ì.ï;;"",e (,po. u.ttrstii, nAo tmpulstvâmente aventureira. O aventureirìsmo é consideraclo untpecado conrra o comunismo, já que pode i""rr".f". . ì"iiinuoo .u.ro auhistória Ao tongo da Segundì Guerra VunAiur. l'üniaoïiuieti"u nao foinunca tào belicirta ou tào impulsiva quanto Hirler.
Não obstante, existem problemas ao retratar o comportamento sovjéticoconìo püramente defensivo. Como sabenros pela Guerra Jo fetopon..o, emuito difrcil num mundo bipolar distinguir o "ì"q"J" J.f.*. 
'freterminadas
acções podem ter molivos defensivos, ,nu. por".".., Jirãri,.'onr.oçudo.uspâra o outro lado. para mais, existe uma longa troaiçao J" .*punsão defen_siva, ou ìmperialismo. No século xr.r, po, ex-emplo, a Gra_Brãanha a prin_cípi. avançou para o Egipto para proteger as rotas marítimas para a Índia.Após ter ocupado o Egipto. achou que,era necessário ocupar o Sudão paraproteger o Egipto e depois de ocupar,o Uganda para p.ot"g'"r-o SuOan. apO.teÍ ocupado o uganda, a Grã_Bretanha rÀ," d. ;.up;r;-õ;éiio pu.o con.-
:ï1t ".^. linha férrea para proreger o Ugânda. O apetire ì,rn.,l,, a rn"alaoque se vai comendo, assim que o dilemaãe ,.gu.uniu t'u.uoo lara.iustificaruma expansão cada vez maior O comunismo úvigtico 
^di.úln;; um morivoideológico, de Iíbertação das classes trabalhadoras 
"rn,odor; 
as regiOes ,iomundo, que legitimava ainda mais r expansio. R;;i";;, ; ïniao Sovié_
ji::J:;,.ï*r.'.nìsrâ duranre a Guera ero. ,no. luut-"iàrl ". oponuni._
^ 
([[itlA ti RtA
Cutlanç'rit t
l.) quantrr aos objcctivos nrÌìcriclnos ? Âo longo da (iuerra lìria, o govcrnu
dos HIJA prctcnr.lia conter a União Soviética. Poróm, a política de contenção
lnvolvcu duas grandes anrbiguidades. Uma Íbi a questão dos fins: conter â
União Soviética ou conteÍ o comunismo. A segunda foi uma questão de
meios: despcnder recursos para prevenir qualquer expansão do poder sovié-
lico ou apenas em determinadas áreas-chave que se afigurassem cruciais para
o equilíbrio de poder. Essas duas ambiguidades, nos fins e nos meios de
contenção, foram acaÌoradamente debatidas no período anterior à Guerra da
Coreia. George Kennan opunha-se à versão bastante extensa da contenção
que Truman apregoava. A concepção de contenção de Kennan era similar à
diplomacia clássica. Envolvia meios militâres mais reduzidos e era
selectiva. Um bom exemplo foi a Jugoslávia. que tinha unì governo coìnu-
nista totalitário liderado por Josef Tito. Em 1948, Tito rompeu com Estaline
por causa das tentativas sovìéticas dc controlar a política externa da
Jugoslávia, incluindo o seu apoio aos comunistas gregos. Numa concepçào
ideológica de contenção, os Estados Unidos não deveriam auxiliar a
Jugoslávia, por esta ser comunisla. Numa concepção de equilíbrio de poder
da contenção, os Estados Unidos deveriam auxiliar a Jugoslávia como forma
de enfraquecer o poder soviético. Isso. na realidade. foi o que os Estados
Unidos fizeram. Fomeceram ajuda milÍtar a um governo comunista totalitá-
rio, apesar do facto da Doutrina Truman proclamar o objectivo de defender
os povos livres em toda a parte. Os Estados Unidos fizeram-no por razões
de equilíbrio de poder e essa política causou uma grande mossa no poder
soviético na Europa.
Após a Guerra da Coreia, no entanto, a abordagem de Kennan à conten-
ção perdeu terreno. Parecia então que as previsões do NSC-68 acerca do
expansionismo soviético tínham sido jústificadas. O comunismo parecia ser
monolítico após os Chineses terem entrado na Guerra da Coreia e a retórica
da contenção acentuava o objectivo ideológico de evitar o alastramenlo do
Seria um exagero afirmar que a actuação americana, sozinha e sem ajuda,
seja capaz de exercer um poder de vida ou de rnode sobre o movimento comu-
nista e provocar a queda prcmatura do poder sovíéúco na Rússia, Mas os Esta-
dos Unidos podem aumentar enormemente as tênsões sobre as quais a diploma-
ciâ soviética tem de âctuaÍ, de modo â forçar o Kremlin a um grau de moderaçÃo
e circunspecção muito maior do que o que tem tido d€ observar nos últimos
anos e desta forma promoveÍ tendências que encontrarão eventualmenteo scu
escoadouro no colapso ou no aprodrecimento gradual do poder soviético.
,JI
mals
Grorce KrxNlx, <The Sourçes of Soviet Conduct>7
( ( )Ml,l{tlllNt )t1R (ls (t)Nt't r)r tNt,htNAt.lítNAll
(1rÌl nistìÌ(). lr(|i ncstc c('nlcxl() quc os llslir(llts tlttirkrs eotttclc r t (t rt.tlt
gravuso tlc sc urvolvcrcrrr nt g,ucrra civil t|r Viclrtlrlc, l)unltÌlc t;trtsc tluirs
dúcadas, os Eslad()s L,nidos lentarat'Ìì cviÌlr o eorrlrolo colnutristu rltr
Vietnamc, à custa de 58 000 vidas anrericanas. rrrais dc urn rlilhâo dc vidirs
vietnamitas,600 biliões de dólares e uma agitaçÌ() internu que acabou cont
o apoio à própria política de contenção. Juntamente com acontenção (kr
comunismo no Vietname do Sul, os Estados Unidos receavam que uma derrotir
pudesse enfraquecer a credibiÌidade dos seus compromissos e, dessa ÍbÍnìit.
da contenção em outras partes do mundo. Ironicamente, após a derrota dos
EUA e a retirada em 1975, as rivalidades nacionalistas entre os países co-
munistas na Ásia provaram ser uma força eficaz de manutenção do equilíbritr
de poder na região.
O resto da Guerra Fria
Em 1952, Dwight Eisenhower foi eleito presidente com a promessa elei-
toral de terminar a Guerra da Coreia e de fazer recuar (roll back) o comu-
nismo. O Partido Republicano defendeu que a contenção era uma acomoda-
ção cobarde ao comunismo. A abordagem coÍrecta era a de o fazer recuar.
Em seis meses, porém, tornou-se claro que fazer recuar o comunismo era
denrasiado arriscado em termos de precipitação de uma guera nuclear. Após
a morte de Estaline em 1953, as relações congeladas da Guerra Fria der-
reteram-se ligeiramente. Em 1955, houve uma cimeira em Genebra e um
acordo para o estabelecimento da Áustria como um estado neutral. Ern 195ó,
Kruchtchev proferiu um discurso secreto expondo os crimes de Estaline
perante o xx Congresso do Panido da União Soviética. O segredo Íanspirou
e contribuiu para um período de confusão na esfera soviética na Europa de
Leste. A Hungria tentou revoltar-se, mas os Soviéticos intervieram militar-
mente para a manterem no interior do campo comunista.
Kruchtchev decidiu que precisava de expulsar os Americanos parâ fora
de Berlìm e chegar a um acordo definitivo sobre a Segunda Guerra Mundial,
de modo a poder consolidar a inÍìuência soviética na Europa de Leste e
começar a aproveitar-se da descolonização a ocorrer no Terceiro Mundo.
Mas o estilo e os esforços de negociação de Kruchtchev com os Estados
Unidos lembravam o estilo do Kaiser ao tentar forçar a Grã-Bretanha a
negociar antes de 1914, cheio de truques e de ameaças. Os esforços para
ìevar os Estados Unidos a aceitarem as condições tiveram o elèito contrário.
Kruchtchev fracassou na crise de Berlim de 1958-1961 e novamente na crise
cubana dos mísseis.
Como veremos adiante, a União Soviética e os Estados Unidos chegaram
lão perto do precipício nuclear durante a crise cubana dos mísseis. que o
^ 
( [ [1tíA I'll^
iusl() rttti(uo os,.olltltlzitt il lllllll lì(lvit lltsc tttr sctt rclll(l()llltlllclll(t lle l()ítì
tt l97l.l. ltorrvc (lcsi tttviil lcttl() gr.ittltr l 0tt irlroÌtxilltìclìl() tlits lcrrsòcs. Ntr
ttCgttitnCttl0 tlit r.r'isC errltirDil rkrs tttíssCis, nCgociitçirCs tlC cttnttoltt tlc arlttit-
nrcnlo ptotluzirattr tt lÌ.ittrtdtt tlc l'roihiçlo t-irnitatla dc Testcs crn 1963, o
qual lirnitava os lcslcs nuclcarcs atÌ'Ìlostéricos. e um Tratado de Não-Proli-
l'cftrçio crn lt)68. O cOrnércio começou â aumentar gradualmente e o
dcsanuvianrento pârecia estar a expandir-se. A Guerra do Vietname desviou
u alenção dos EUA mais para a ameaça do comunismo chinês'
De l9ó9 a 1974, a atlministração Nixon usou o desanuviamento como
meio para prosseguir os objectÌvos dâ contenção. Após a crise cubana dos
mísseis. os Soviéticos iniciaram um grande desenvolvimento mílitar e atin-
giram a paridade em armas nucleares. A Guerra do Vietname conduziu a
uma decepção na opinião pública americana em relação às intervenções na
Guerra piii. A estratégia de Nixon era a de (l) negociar um tratâdo de
controlo das armas estratégicas para equilibrar o Íelacionamento militar em
relativa paridade: (2) estabelecer relações diplomáticas com a China, criando
assim um equilíbrio de poder tripartido na Ásia (em vez de pressionar sirnul-
taneamente Soviéticos e Chineses); (3) aumentar o comércio, de Íbrma a
existirenr cenouras e não apenas varas no relacionamento americano-sovié-
tico; e (4) utilizar um..sistema de ligação> para unir as váriâs componentes
da diplomacia. O ponto alto do desanuviamento ocolreu em 1972 e'1973,
mas não durou rnuito tempo.
A Guerra do Médio Oriente de 1973 e o auxílio soviético a movimentos
antiocidentais eÌn Áf.ì.u levou a que se começassem a interrogar acerca de
quem é que estava a enganar quem. A política intema americana contribuiu
para o definhamento do desanuviamento quando legisladores americanos'
corno o Senador Henry Jacksorr, tenlèram ligar o comércio com a União
Soviética a questões de direitos humanos, tais como o tratamento dos judeus
soviéticos. e não em termos de comportamento de equilíbrio de poder' Em
1975, quando Portugal descolonizou Angola e Moçambique, a lJnião Sovié-
tica transportou tropas cubanas para aí ajudar a manter governos comunistas
no poder. Durante a campanha presidencial de 1976' o Presidente Gerald
Forà ,runca usou a pâlavra desanuviamento. O seu sucessor. Jimmy Carter,
tentou prosseguir o desanuviamento com a União Soviética durante os seus
dois primeiros anos de mandato, mas a União Soviética (e Cuba) envolve-
ram-;e na guerra civil etíope, os Soviéticos continuaram com o seu desen-
volvimento de defesa e. em Dezembro de 1919, a União Soviética desferiu
o coup de grace rJo desanuviamento ao invadir o Afeganistão
Por que razão regressou a hostilidade? Um argumento é o de que o
desanuviamento foi sernpre sobrevalorizado e que se espeÍava demasiado
dele. Mais relevante é que existiram três orientações. na década de 1970' que
o minaram. Um foi o desenvolvimento da defesa soviética, com a qual os
( {)Mt,t{trl,Ntìt t{ (ts ('í}Nl't t1tts lNII t{N^( l(tN^ts
Sovidlicos iturìrcrì{lrfilrìì (ì stu (n{ilttìcntrr rlc rlt'lcslr r'lt) ecrt.it tlc.ltZ ao irtto.
acrescentando rrov0s rnísscis pcsarlos rlrc llrcoclrl) Í [ì l)iltlicIlilnrìcrìl('"\
decisotes de delesa an'rcricanos. A scgrrntll liri lr intcrvcnçiìo soviélicir crrr
Angola, na Etiópia e no AÍeganistão. Os Soviólicos consi(lc'riìviìnì-nir iU\lr
ficáveì peìo que chamavam de aÌteração da "correlação dc lìrrças" na lrislrr
ria, a sua crença de que a história se estâva a deslocar nas dirccçircs t1trc,,
Marxismo-Leninismo havia predito. A terceira lbram as altcraçr-res nl polr
tica interna americana, uma orientação de direita que rompeu a coligl(r('
que apoiava o Partido Democrata. O rèsultado da interacção entre os ilct(ì\
soviéticos e as orientações políticas americanas confirmou a ideia de que ir
Guerra Fria persistia, de que o desanuviamento não poderia durar. No crr
tanto. a renovada hostilidade da década de l98O não foi um retorno à Gucllrr
Fria da década de 1950. Houve um retorno à retórica da década de 195o.
mâs as acções foram bastante diferentes. Mesmo enquanto o PresÌdentr
Ronald Reagan se referia à União Soviética como um <Império do Mal..
planeava o contÍolo dos armamentos. Haviâ um aumenÌo do comércio, cspc
cialmente de cereais, e existiam contactos frequentes entre Americanos c
Soviéticos. As superpotências estabeleceram mesmo certas regras de prudên-
cia no seu comportamento uma em relação à outra: nenhuma guerra direct .
nenhuma utilização de armas nucleares e coDversações sobre armâmenlos c
sobre controlo de armas nucleares. A Guerra Fria da década de 1980 foi dc
natureza dìferente da da década de 1950.
O fim da Guerra Fria
Quando é que teÌminou a Guerra Fria? Como as origens da Guerra Fria
estiveram fortemente reÌacionadas com a divisão da Europa pelos Estados
Unidos e pela Uniâo Soviética, o fim da Guena Fria pode ser fixado pelo
fim dessa divisão. isto é, 1989. Quando a União Soviética não utilizou â
força para apoiar o governo comunista na Alemanha OÍientàl e o Muro de
Berlim foi trespassado por multidões jubilantes em Novembro de 1989,
podemos afilmar que a Guerra Fria tinha chegado ao fim.
Mas por que razão terminou? UÌn argumento é o de que a contenção
, resultou. George Kennan argumenlou, logo após a Segunda Guerra Mundial,
\- história não estava do seu lado. Numa perspectiva mais alargada. Kennan
tinha razão. Mas o enigma dessa explicação é o momento: porquê 1989'Ì Por
que razão dìJrou quatro décadas? Por que razão demorou tanto tempo a
I .;lique se os Estados Unidos conseguissem impedir a União Soviética de se
fuÈ,1ykxpandir. nào existirianr triunfos para alimenrara ideologia e o comunismo
1.,Ì' \oviético suavizar-se-ia gradualmente. Surgiriam novas ideias, as pessoas
"' 
' aperceber-se-iam de que o comunismo não era â vaga do futuro, que a
tti
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lvirlìr-$Jl Alttrlllllivillllflìte. P(!l (l(lc rrtziìtr ttiìtt tlttlrtt. tttiús 
lO llttlrsl
a,,ui.i,rça,, rcstrlr.rr, rrras isstt ttiltt tt.s lìrrnccc ttllìil cxplicilçiìo colììplcla
ii,irr, 
"*pfi.nçi,t 
Ú iì (lc "sobrctxpunsão irnpcriitl' O hiskrriador 
Paul
in".fu .f"it".f." que os intpérios se expandem excessivamente at: tt"1 , ' " :,r;;;;; força intcrna d' irnpérió Com mais de um quarto da sua') " ;'
ia crirrrsagracla á d.ft., " aos 
assuntos externos (comparado com os 'i' , )
ól'J,,, e.,oOurlnidos na década de 1980)' a União Soviétìca "ttt.",1::l]^t: I .,
Ir"""aio, Mas Kennedy afirmou ainda que nenhum dos imperros '.. 
,
;í;i;;;';",;* rnur.-.*prnãidot na história tinham "tg'"^.*' it:Ï11t-lÏi
l'*u" ptOp.i" base étnica até terem sido derrotados ou enfraquecidos 
numa
luaïo'a.' *rona". potências. A União Soviética' contudo' não. foi derrotâda
il;;ì;;"ïtd; nu,nu gu...u de grandes potências . Uma tït:1 ^t:41t-ïi: ì
á. O" qr. o desenvolvimento militar dos EUA na década de 1980 
l-orj:l::: 
'
õ;úiË". à rendição na Guerra Fria Há algo de verdade nisso' na medrda' '
; ;;" ;; fotlticas ao Presidente Ronald Reagan dramatizarama aTl]:tï-o,t ].
àa aóbte-"ipunaao imperial dos Soviéticos' mas isso 
não responde veroaqct-
i"t"ti" e qir""u" principal. Afinal, períodos anteriores-de deserivolvimento
tiiiir"i u-"ri.""" não produziram tal efeito Porquê 1989? Temos de 
procu-
ir, 
"uu.u. 
mais profundas. Porque pensar que a retórica "..' dill"T::1 .'.,
;";i.; ou aecuou de 1980 fo;am a causa principal do declínio 1^ u1:1 ' . ì,:i:
õovigti", pode assemelhar-se ao galo que juìgava que era o seu 
cantar antes \\J\
Bush. Reagan e Gorbachev em Nova lorque' 1987
( ()Ml'lll,lrNl)l,l,l IlS (\)Nl I Il()li lNII'llN^l lllN^lS
d0 alv0rcccI 11ttc lcvitvlr o sol it lcvillllill-s(. oUlfo (,xctÌìl)1il (lit lirlrtr'irr rl,r
caustlidadc cspúriir.
Podemos conìprúcndcr rÌìclhor o lìnal tla Cìttcrr;r lÌ ia lttalisirrtrlo lltìs lipr'.,
dc causas; precipitantes. intermédias c prolundas. A rtìli\ irììlÌ(ìr'lruÌtc (iru\l
precipitante do fim da Guerra Fria Í'oi urn indivítluo. Miklrail Golb chcv. L[.
. \ queria reformar o comunismo, não substituí-lo- Contudo. lr rclì)r'rìrir lìr('
,3 ,.\, cipitou-ré prra umr revolução impulsionarla pela basc crn vcz tlc eorrtro
' .' -,\*ada pelo topo. Tanto na política interna como na externa. Gorbachcv lurrçr'rr
1.. -ü'- ,ma série de acçòes que aceleraram o existente tlecÌínio soviéticr) c irl)r'(\t, .aru- o fim da Guerra Fria. Quando chegou ao poder en 1985. Gorbaclru
tentou disciplinar o povo soviético, como foma de superar u cÀi\tcrìt(
estagnação económica. Quando a discipÌina não foi suficiente para rcsolvc'r
o problema, lançou a \deía da perestoito. ou (reÒstÌÌrturâção>, rìriìs lììr
incapaz de reestruturar a partir do topo porque os burocratas contrrlilr
vam permanentemente as suas ordens. Para coÌocar os burocratas debaixrr
de fogo, usou a estratégia da glusnost, ou discussão aberta e democliÌli
zâção. Ao exibir o descontentâmento das pessoas com a Íbrma corno o
sistema estava a funcionar colocaria pressão sobre os burocratas e aju(lit
rià a perestroikq a funcionar. Mas assim que a g1.ljlro.r/ e a democriìtizu
ção permitiram que as pessoas expressassem o que pensavam. e votâsscnÌ
sobre isso, muitas pessoas disseram: <.,Queremos sair. Nâo existe uma esp!í
cie nova de homem soviético. lsto é uÌììa dinastia irrperiaÌ e nós não perteì-
cemos a este império." Gorbachev soltou a desintegração da União Sovier
ticâ, que se tornou cada vez mais evidente âpós o golpe falhado da veìhir
guarda em Agosto de l99l . Em Dezqmbro de 1991. a União Soviética dei
xou de existir. \\ r.,,r^ 
_ 1..\r\ 'n' ,., \r ,,.{A política externa de Gorbachev, r que chamou <<Èovo pensamento".
contribuiu iguâlmente para o firn da Guerra Fria. Esta política tinha dois
. elementos muito importantes. Um era o da alteração das ideìas, que os
\ ('' contrutivistas enfatizam, como o conceito de segurança comum. com o qual
. ; . . h dilema de segurança clássico é evitado. juntaúo-se oì estados puru guiun-'' ..'Írem a segurânça. Gorbachev, e aqueles que o rodeavam, afirmaram que
num mundo de crescente interdependência, a seguÍança não era um jogo de
soma zero e que todos poderiam beneficiar com a cooperação. A existência
da ameaça nuclear significava que podiam perecer lodos juntos caso a conr-
petição saísse fora de controlo. Em vez de tentar construir o maior número
possível de armas nucleaÍes, Gorbachev proclamou a dourina da <suliciên-
cia>, a detenção de uma quantidade mínima para protecção. A outra dimen-
r\ . ;$tò da mudança de política externa de Gorbachev foi a sua visão de que o' \ /expansionismo e, quando ponderado, mais prejudicial que benéfico. O con-
,/ trolo soviético sobre um império na Europa de Leste estava a custar dema-
n I siado e a prestar poucos benefícios e a jnvasão do Afeganistão tinha sido um
l''\' \"t' 'i
^ 
l,lixl{^ l/Ll^
Itc rlispctlrlioso. NÌo crir iti ttcecsriititt itttlxrr rtltt sislcttlit.srteiitl 
etttttrt-
corttr,'lìrrrtra tlc girtattlir il scgtlrilnçil ttlts lirttttcit.itr' sovidlicas'
úÃ,r lì,r,ttu, lt,r V.'tiì,r tlc l9!19. lìri conccclido aos F)uropcus 9: i:::::l:
lì*'r'r" iirt"rr'r".r". A Hungria pcrnlitiu tluc os Alemães de 
Leste es-
iur o,rouU, rJa Hurtgria paã a Áustria O êxodo dos Alemães 
de Leste
;fi;';il;;".." pt"ïtat., sobre o governo da Alemanha de Leste' os
iãì"'*''-4" uì'.f, a" t't" la"ao tinham *.'?c'lr,fï:-,1ï':::ïï:']
;;;;;;;; manirèstaçòer' Em Novembro.' .l Yl:" ,0:^lï]'T,caiu - 
uma
ãonclurau tiramática para um crescendo de acontecimeÍìr^o^s-l^ïïïtil,JïÏ,a -,-
eurfr período de tempo' Podemos afirmar 
que estes aconteclmel'::-- 
- -^;^ i i .,,,,',
ãrigarn nos erros de cílculo de Gorbachev Pensava 
que o comunrsrno poqc- \ " -
iï"..;., ,.orrua. mas. na realidade' ao tenlar repará-lo'-abriu 
ut 
:oTbo "1: ' .. I ''õoto u*u fenda numa barragem, assim que as pressões acumuladas come- ' 
'
;;; ;ìú;;.e, rapidamente aìargaram a abertura e deitaram 
abaíxo 
,3. ,
tlstema.
Mas ainda permangce a questão, porquê 1989? Porquê 
com este líder? i ì"
Em certa medida, Gorbach"u roi ut^u"ià"nte histórico 
Nos príncipios 1u - t l" 
I
ã;;.d"'ãe iôgo' tut""..u,rr três líderes soviéticos idosos' um 
Ìogo a seguir
lo, ouoo.. Foi só em 1985 que a geraçào mais nova' u: !:ïolt que tinham
;;;gtd" ;;. Kruchtchev, a-oenúinida geraçào de 1956' .tiveram a sua\ 
( '.
ônonunidade. Mas caso "t t;;;;;; 
l" ïotiiuuto do Panido comunista , ". .
;iï".** ã;a; Jil do"o"'p"tioores de linha dura dc corbacheu ll ,, ,
i9ÀS, é burtun," plausÍvel que o império soviético em declinro 
se lrvesse
"ái."guiOo 
*on,o .* pé por mais outra década- Não tinha de se desmoro-
"ã, 
,áã ."pia"t".te. A personalidade de Gorbachev-e*pltj? qllndg putt" 
ao
ttttóÍà",o 
às causas intermédias. liennan è-Kennedy estáo ambo; 
ìo bom
caminho. Duas importantes causas intermédias foram 
as lggr -!üSr1iì\ Jr .
"ni^tlruOur 
nas explicações conslrutivistas, È a sobreexpansão tTpt-tl1|r^,'*
;i;il; p"il.. ."utl.,ut. As ideias de abeÍura' de democracia,e dl,Ï^Ï o
o"ì.u,nanto, urilizadas por Gorbachev. cram noçòes ocidentais 
que lrnharp., 
- ,.
lü" uà.p,"aot pela geràçào de 1956 o desenvolvimento das comunrcaçoes
transnacionaìs e dos contactos ui'ãou ã oi"tntinar ideia: liberais 
e o efeito "''' '''t
demonstralivo do sucesso ecoúmico ocidental conferiu-lhes 
ut "n:1n1:,.., .;
uãi.ionuf. Quanto à sobreexpansão imperial' o gigantesco orçamenio 
oe ì I
defesa soviético começou u uie"i"t outàs aspectà da sociedade 
sovietica "' '-i
Os cuidados de saúde a.t.tioiutut-tt t u á*u de mortalidade na União 
'" '' ''r' r
Soviética aumentou (o únlcÓ país dé-senvolvido em 
que tal ocorreu)' Mesmo i'1"';
os .rilitares acabaram p".." t;;;;;;;;ttiente' do ittmendo fardo causado
.r.lu.obr""^pun.àoimperiaìEm1984'oMarechalOgarkov'ochelèdo:;;;-;;;';";iético, percebeu que a união Soviética precisava de uma
-.tt o. Uura económica òivil e um maior acesso ao 
comércio e à tecnologia
( 1)Ml'RllliNl )l1R oS (l)Nl4.l lI)S lNlIlllN^(ÌllNAlS
ocidcnlais rììiìs, du[i.lntc o pcrÍ(xlo dc cslltgtÌitçiìo, r)s vclltos lÍtlcrcs rriìo cs
tâvanì dispostos a ouvir c Ogarkov lìri lìslit(lo d() scu l)osl('. ('i.,,. .i .
Assim, as causas intcrmédias das idcias lihcrais c da sohrccxpansrìrl
imperial são importantes mas, no final, temos dc lidar com as causas prolurr
das, que foram o declínio da ideologia comunista (uma explicação conslru
. r : tivista) e a falência da economia soviética (uma explicação realista). A pcrrlir
. "., " 
** legitimidade do comunismo ao longo do períoão do pós-guerra Íbi bls' ' -',lante dramática. No período inicial, imediatamente a seguir a 1945, o comu
, ,,-" '- "( ìismo era vastamente atractivo. Muitos comunistas tinham liderado a resisÌ. tência contra o fascismo na Europa e muitas pessoas acrcditavam quc ()
l;\;, '-.;ornunrtrno era a vaga do futuro. A União Soviética ganhou um poder suavc
, considerável através da sua ideologia comunista. Mas ele foi sendo progres- sivamente minado peìa destalinização em 1956, que expôs os seus crimcs.
pelas repressões na Hungria em 1956, na Checoslováquia em 1968 e na
Polónia em 1981, e pela crescente disseminação transnacional de ideias
liberais. Apesar de, em teoria, o comunismo almejar instilar um sistemâ dc
justiça de classe, os herdeiros de Lenine preservaram o poder interno através
de um brutal sistema de segurança de estado, envolvendo campos de
corïecção, grlags, censura generalizada e a utilização de informadores.
, . O efeiro prático destas medidas repressivas sobre o povo russo foi o da perda
.\','" L ,de confiança generalizada no sistema, como expressa na literatura clandes-
. ,, i {ina de protesto e na onda crescente de dissensão promovida por activistas' .',,, dos direitos humanos.
,-, reflectia a reduzida capacidade do sistema de planeamento centÍal soviético
Em contraste com a forma como a maior parte dâ história é escrita, os
historiadores da Guerra Fria, para o final da década de 1980, estavam a tÍaba-
lhar sobre e não após o âcontecimento que tentavam descreveÍ. Não úúamos
forma de conhecer o Íesultado firal e éramos capazes de determinax as moti-
vações de âpenâs alguns - de modo algum todos - dos intervenientes maisimportantes. [...] Sabemoìo agora, para usar uma frase feitâ. Ou, pelo menos,
satremos bastante mâis do que âlguma vez soubemos. Nunca iremos ter a
história completa: não a temos para qualquer acontecimento históÍico, não
importa quão distante no passado. Os historiadores podem reconstruiÌ o que
aconteceu na realidade tanto como os mapas podem Íepresentü o que existe
realmente. Mas podemos represent& o passado, assim como os cartógÍafos
representam o tereno. E o fim da Guerra Fria e a abertura, pelo menos parcial,
de documentos da antiga Uúão Soviéúca, Europa de l,€ste e China, o ajusta-
mento entre as nossas repÍesentaçõ€s e a realidade que elas descrevem tomou-
-se bastante mais próximo do que anteriormente.
JoHN L. CADDrs8
^ 
t,tl|[^ t,H t^
llttrit tr'slxrntlet rr ttttttllnçrrs trrr r'eortorttiir rtrurrdill. l'islalinc lirrha eliluhr rrrrt
sislcrtta tle tlilecç;io ceorrtirrricl ccnlralizarla quc cnlalillvl as indúsllias
nrctlltirgicirs 1'rcsltlas c rlc basc. Era nruito inllexívcl c pcsado. 'l'endia a
lcLrttulat a rrtiìo-tlc-obra cnr vez tlc a translèrir para as indústrias de serviços
cm dcscnvolvimcnto. Como sâlientou o economista Joseph Schumpeter, o
capitalismo é â destruição criativa, uma forma de responder com flexìbilida-
dc a grandcs vagas de mudança tecnológica. No final do século xx, a grande
mudança tecnológica da terceira revolucão jqdustrial era a impoÍância cres-
ccnte da informação. como o recurso mals escasso numa econdfiã. O sis-
lâ.1
te ma soviético era parÌÈuììÌfrënÌé jrre-pto ãTúãr*Fom-a ffiormaçâo. O pro-
íundo secretismo do seu sii-em-a poììtúì ifficava que õÍixo-dê inlbrmação
era lento e pesado.
Os bens e serviços soviéticos não conseguiam manter-se a par com os
padrões mundiais. Havia uma agitação considerável na economia mundial no
final do século xx. mas as economias ocidentais. com sistemas de mercado.
foram capazcs dc transfcrír mão-dc-obra para os scrviços, de rcorganizar as
suas indústrias pesadas e de mudar para os computadores. A União Soviética,,; , ..'
não conseguia acompanhar as mudanças. Por exemplo, quando Gorbachev t ,
ascendeu ao poder em ] ?-85, =a1]tar.rr 50000 computadores pessoais na'ft
União Soviética; nõs Èstaaõ.s Unla-os eÏióiiãm 30 Èìilhões. Quatro anos mais ]i '
tarde, existÍãffi'õêrcã ae +0úõO .otnpriiãõ.ã. na União Soviética e 40.1
milhões nos Estados Unidos. As economias de mercado e as democracias '
provaram ser mais flexíveis a Íesponder à mudança tecnológica do que o
sistema centralizado soviético, que Estaline criou para a era das indústrias de
base da década de 1930. Segundo um economista soviético, nos finais da
década de 1980, apenas 8olo da indústria soviética era competitivâ à Ìuz dos ,
padrões mundiais. É Olticit continuar a ser uma superpotência quando gZEa
da indústria é obsoleta.
O final da Guerra Fria foi um dos grandes acontecimentos transformado-
res deste século. Foi equivalente à Segunda Guerra Mundial nos seus efeitos
sobre a estrutura do sistema internacional, mas ocorreu sem guerra. Nos
capítulos seguintes, voltamo-nos para o seu signiÍìcado na política interna-
cional no futuro.
A Guerra Fria terminou em 1989, mas alguns académicos realistas, tais
como John Mearsheimer, defendem que a paz europeia pode não ser tão
duradoura como a maioria dos observadores supõe actualmente. A Rússia
pode não voltar nunca a ocupar todos os seus vizinhos da Europa de Leste,
mas o nacionalismo russo combinado com uma democracia Íiaca pode, no
futuro, conduzir a um expansionismo renovado. Uma vez que a Rússia ul-
trapasse este período de agitação interna, pode voltar a sua atenção outra vez
para os estados bálticos, para a Ucrânia e para a Europa de Leste. Se isso
acontecer, 1989 será encarado como uma acalmia temporária a meio de uma
l(r1 ( { rMl,RtitiNt)tiR í}s ('(}Ntrt t1r)s tN llrlN^t'lt )N^t!i
longa tcnr;rstldc. Qualquu quc sr'jir ir pluusihilirlrrrlc th.slc cr.rrÍr'io, trnr cslrrrhr
meticuloso drr política intcrnacional dilit (luc cslc rriìo potlc scl trlìrsltuhr.
Após o colapso da União Soviética, iì Rússiiì lcrìì sollido unrl tlirnslirr
mação significativa. Renunciando à econonria planeatlu tkr cstado sovidlico,
a Rússia do pós-Guerra Fria embarcou por tentativas nunr carninho dc tlcrrro
cratização e de liberalização económica. O caminho, porem. tem sido pcli
goso. Seguindo o consãttro-<tì Fundo Monetário lnternacional, o govclrìr)
russo a início aceitou a <<terapia de choquer> económica, como forma de lazcl
a transição da autocracia económica para a democracia liberal. Poróm.;r
terapia de choque fraccionou tanto a sociedade russa que foi rapidamentc
posta de lado a favor de uma abordagem mais gradualista. À medida que a
situação económica se deteriorou, o nacionalismo russo rejuvenesceu.
Teóricos como Mich3g!_pq,le, defendendo a hipótese de que as democra-
cias liberais não trafih-guerras entre elas, concluiu que se a Rússia sobre
viver à transição para a democÍacia, isso será um bom presságio paÍa a pa/.
internacional. Permanece a dúvida de saber se a política externa russa sc
ajustará ao modelo da paz democrática ou se haverá um ressurgimento do
nacionalisrno russo, que desafie os Estados Unidos e a Europa Ocidental.
, Independentemente do que o futuro nos reserva, um grande enigma per-
I manece: por que razào durou tanto tempo a Guerra Fria sem que tenha
I inompido umâ cguerra quente>> entre as duas superpotências? Por que razão
I nào se lornou na Terceira Guerra Mundial?. ..1
\, r \-ìr L' ...."' { L.o Á' t.'' \ç,r.1; Ì- r.-,- r,,, {*r.i,.. /p papel das armas nqcleores ^ \'- . C -,. * " --'i í," 
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