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Estabilidade/Artigo 1.pdf ESTUDO DE ESTABILIDADE DE MEDICAMENTOS MIRCO, Jessica ; ROCHA, Marcia Santos da jmirco@gmail.com Centro de Pós Graduação Oswaldo Cruz Resumo : O Estudo de Estabilidade é um importante parâmetro para avaliar a segurança, qualidade e eficácia do produto. A importância desse estudo ser realizado corretamente, despertou meu interesse no tema, já que é através dele que determinamos o prazo de validade. Sem este prazo não saberíamos até quando o medicamento estaria agindo em nosso organismo de forma segura e eficaz. Visando também a importância na parte econômica, a comercialização de um medicamento instável agride a reputação do fornecedor e a reformulação gera custos elevados, por isso os testes de estabilidades são realizados com cuidado e seus resultados avaliados criteriosamente para não causar prejuízos ao longo de todo processo. Os tipo de estabilidade são: física, química , microbiológica , terapêutica e toxicológica. E os ensaios podem ser acelerados, de acompanhamento ou de longa duração. Ao longo deste trabalho abordaremos cada conceito e discutiremos a importância da avaliação do estudo de estabilidade de medicamentos. Palavras-chave : Estudo de estabilidade ; Medicamentos, Fármacos. Abstract : The Study Stability is an important parameter to evaluate the safety, quality and efficacy of the product. The importance of this study be performed correctly, in the subject piqued my interresse, since it is through him that we determine the expiration date. Without this term would not know until when the drug was acting on our body safely and effectively. Aiming the importance in the economic, marketing a drug unstable harms the reputation of the supplier and the reformulation generates high costs, so the stability tests are performed and their results carefully evaluated carefully to not cause damage throughout the process. The type of stability are: physical, chemical, microbiological, therapeutic and toxicological. And the tests can be accelerated, monitoring or long term. Throughout this paper we discuss each concept and discuss the importance of assessing the stability study of drugs. Keys Word : Stability study; Medicines, Pharmaceuticals. 1 INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde (OMS) define estabilidade farmacêutica como a capacidade do produto farmacêutico manter a suas propriedades químicas, físicas, microbiológicas e biofarmacêuticas dentro dos limites especificados durante todo o seu prazo de validade (1) . A perda da estabilidade de um medicamento pode estar diretamente relacionada com a perda do efeito terapêutico ou com a formação de produtos de degradação tóxicos (2). mailto:jmirco@gmail.com A estabilidade dos produtos farmacêuticos depende de fatores ambientais como temperatura, umidade, luz e de outros fatores relacionados ao próprio produto como propriedades físicas e químicas, de substâncias ativas e excipientes farmacêuticos, forma farmacêutica e sua composição, processo de fabricação, tipo e propriedades dos materiais de embalagens (3) . Com a finalidade de garantir a integridade química, física, microbiológica, terapêutica e toxicológica do fármaco e da forma farmacêutica dentro dos limites especificados, sob influência dos fatores ambientais em função do tempo, são preconizados estudos de estabilidade (4; 5; 6; ) . A estabilidade divide-se em física, química, microbiológica, terapêutica e toxicológica. E os ensaios de estabilidade dividem-se em estudo acelerado, de acompanhamento e de longa duração. O presente trabalho tem como objetivo evidenciar a importância da realização do estudo de estabilidade de medicamentos e os danos causados pelo não cumprimento dessa exigência da RDC 01. 2 HISTÓRICO O começo do século XX foi marcado pela descoberta de novos medicamentos, como as sulfamidas e a penicilina, e já se tinha ciência da possibilidade dos medicamentos produzirem reações adversas. No entanto, após alguns acidentes graves, surgiram medidas regulatórias para registro e acompanhamento dos medicamentos comercializados (7) . Podemos citar o famoso acidente da Talidomida, em 1957, um medicamento que evitava náuseas em mulheres grávidas, considerado um sedativo confiável, na época, além do que o fabricante não relatava nenhum efeito adverso. Em pouco tempo o medicamento se espalhou entre os países e, infelizmente, o que estava sendo uma revelação, virou uma catástrofe, já que ele formava focomelia em grávidas. Como conseqüência, os bebês nasciam com braços e pernas curtas. Em 1963, a 16ª Assembleia Mundial em Saúde reafirmou a necessidade de ação imediata perante as reações adversas a medicamentos, com o objetivo de promover rápida disseminação da informação, o que levou à criação do projeto piloto de pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde) para monitorização internacional de medicamentos em 1968. Iniciou-se assim a prática eficiência da farmacovigilância (8) . A OMS define a Farmacovigilância como “ciência relativa à identificação, avaliação e prevenção dos efeitos adversos ou quaisquer problemas relacionados a medicamentos” (8) . Na década de 50, concomitante com os acidentes que incentivaram a farmacovigilância, estabeleceram-se as primeiras alternativas para previsão do prazo de validade de medicamentos. Até a década de 80 as metodologias de avaliação da estabilidade seguiam princípios técnicos e científicos sem interferências de atos regulatórios de autoridades sanitárias. Com o comércio internacional, iniciou-se a especialização das unidades produtivas, racionalização da produção e reconhecimento das zonas climáticas dos países importadores. Foram adotados então por diferentes países regulamentos para previsão do prazo de validade de fármacos e medicamentos. No entanto, a multiplicidade de documentos gerava divergências entre os profissionais da área (9) . Na década de 90, Japão, EUA e União Européia reuniram esforços para harmonização da legislação, realizando a ICH (Conferência Internacional de Harmonização vide Quadro 1). No Brasil, os princípios da Farmacovigilância e de estabilidade foram mencionados na Lei n.o 6.360, de 23 de setembro de 1976 (10) .No entanto, não há regulação específica para farmacovigilância e, apenas em abril de 2002, foi publicado o Guia para a Realização de Estudos de Estabilidade. Em 2004, a resolução RE n.º 398 (11) instituiu novo guia, em vigor, com a mesma finalidade, que tem como referência os guias de qualidade editados pelo ICH relativo à requerimentos técnicos para registro de medicamentos para uso humano. Quadro 1 – Guias de Estabilidade Internacionais. PAIS GUIDELINE ANO DE INTRODUÇÃO JAPÃO Standards for Stability Testing of New Drugs 1980 (1984) REINO UNIDO Guidance Notes on Applications for Products Licenses 1984 EUA Submitting Documentation for the Stability of Human Drugs and Biologicals 1987 UNIÃO EUROPÉIA Stability Testing on Active Ingredients and Finished Products 1988 Fonte: (12) . Como cada país possui sua propriedade e característica climática própria, esses guias apresentam diferenças nas recomendações, conceitos e estudos, o que é totalmente correto, pois há de se realizar testes dedicados levando em conta o fator mais impactante do local e as diferenças entre eles. 3 TIPOS DE ESTABILIDADE A Farmacopéia Americana (USP 29) define estabilidade como o período no qual um produto retém, dentro de limites especificados, e por todo o seu período de armazenamento e uso, as propriedades e características que o produto possuía na hora de sua produção (13) . Segundo os autores Garcia, Junior (14) e Veiga (15) estabilidade difere-se em: estabilidade física, química, microbiológica, terapêutica e toxicológic. As definições estão descritas a seguir : 3.1 ESTABILIDADE FÍSICA A estabilidade física aborda essencialmente a integridade da substância ativa e os seus produtos de degradação. Determina as características físicas dos medicamentos, principalmente a solubilidade e biodisponibilidade (eficácia e segurança). Os principais fatores são : vibrações e impactos, flutuações de temperatura e umidade. 3.2 ESTABILIDADE QUÍMICA A estabilidade química refere-se à capacidade do fármaco em manter a identidade molecular e conformação espacial, é a mais importante e de mais fácil avaliação. Os principais fatores são : temperatura, umidade, luz e pH. 3.3 ESTABILIDADE MICROBIOLÓGICA A estabilidade microbiológica refere-se apenas para preparações aquosas e a estabilidade toxicológica traduz por uma decomposição, de substância ativa ou excipiente, capaz de gerar maior toxicidade. 3.4 ESTABILIDADE TERAPÊUTICA A estabilidade terapêutica impede que as alterações provocadas por modificações físicas, químicas, microbiológicas ou tecnológicas incidam sobre a ação farmacológica do produto. 3.5 ESTABILIDADE TOXICOLÓGICA A estabilidade toxicológica traduz-se por uma decomposição capaz de originar produtos possuindo maior toxicidade. Podem torna-se tóxicos tanto derivados da substância ativa, como do excipiente 4 FATORES QUE AFETAM A ESTABILIDADE A estabilidade dos medicamentos é afetada por fatores extrínsecos e intrínsecos, dentro eles destacam-se: temperatura, umidade, luz, hidrólise, e oxidação, sendo os dois últimos classificados como fatores intrínsecos. 4.1 FATORES EXTRÍNSECOS 4.1.1 Temperatura A temperatura é o fator mais importante envolvido na degradação dos produtos farmacêuticos, com o aumento da temperatura, aumenta a degradação química (2) . Essa influência pode ser diminuída com o correto armazenamento: congelamento, refrigeração, controle da temperatura em todo processo. 4.1.2 Umidade A umidade pode estar relacionada aos efeitos da temperatura, ela é outro grande fator que afeta na estabilidade dos produtos. A aderência da água na superfície do produto farmacêutico pode alterar o seu estado físico e afetar sua reatividade, gerando uma degradação indireta (16) . Essa influência pode ser diminuída com a adição de produtos dessecantes ao acondicionamento e também embalagens hipermeáveis. 4.1.3 Luz A interferência da luz pode desencadear reações de degradações como: redução e oxidação. O efeito da luz (intensidade e comprimento de onda) sobre os produtos farmacêuticos podem afetar a velocidade da reação (16) . Utilizar recipiente âmbar e acondicionar em locais correto pode ajudar a diminuir a influencia deste fator. 4.2 FATORES INTRÍNSECOS 4.2.1 Hidrólise A hidrólise é um dos fatores intrínsecos mais comuns, ele se caracteriza pela quebra de uma molécula por causa da água. Pode-se diminuir este efeito trocando o solvente por glicerina, método que nem sempre é possível e utilizar dessecantes nas embalagens ou materiais impermeáveis. 4.2.2 Oxidação A reação de oxidação são catalisadas tanto pela luz como pela temperatura, gerando a degradação de fármacos. Evitando contato com a luz, com o oxigênio e usando oxidantes podemos diminuir este efeito. 5 MÉTODOS INDICATIVOS DE ESTABILIDADE FARMACÊUTICA 5.1 MÉTODO DE ARRHENIUS Conhecido também como Garret, um método que usa os dados da temperatura e da velocidade da reação em uma equação quantitativa. Este método consiste em usar no mínimo três diferentes condições de temperaturas superiores ao normal do medicamento, e avaliar o decréscimo da substância ativa (17) . 5.2 MÉTODO EMPÍRICO É um método simplista, mais utilizado na fase de desenvolvimento de um medicamento por não ser preciso ao determinar o prazo de validade do medicamento. Este método declara que a cada aumento de 10°C , duplica o valor da velocidade da reação (12) . 5.3 COEFICIENTE DE TEMPERATURA O método baseia-se na equação entre a velocidade de reação em uma certa temperatura e a velocidade de reação a 10 °C inferior. Este método fundamenta-se em um coeficiente de temperatura constante, porém sabemos que a temperatura altera-se rapidamente em pouco tempo (17;18) . 5.4 ANÁLISE TÉRMICA A análise térmica é muito utilizada no desenvolvimento de produtos . Neste método a amostra está sujeita a um programa de temperatura controlada, dinâmica ou constante, nele pode-se avaliar as propriedades físicas ou químicas medidas como funções de temperatura ou tempo. 6 ESTUDO DE ESTABILIDADE DE MEDICAMENTOS Embora todos esses métodos clássicos ou simplificados para prever a estabilidade dos medicamentos sejam úteis para o desenvolvimento de produtos, para fins de registro sanitário, existem diretrizes a serem seguidas. De acordo com a RDC 01/05 publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA (3) , os ensaios dos estudos de estabilidade diferem-se em: 6.1 ESTUDO DE ESTABILIDADE ACELERADO Estudo projetado para acelerar a degradação química e/ou mudanças físicas de um produto farmacêutico em condições forçadas de armazenamento. Os dados assim obtidos, juntamente com aqueles derivados dos estudos de longa duração, podem ser usados para avaliar efeitos químicos e físicos prolongados em condições não aceleradas e para avaliar o impacto de curtas exposições a condições fora daquelas estabelecidas no rótulo do produto, que podem ocorrer durante o transporte. 6.2 ESTUDO DE ESTABILIDADE ACOMPANHAMENTO Estudo realizado para verificar que o produto farmacêutico mantém suas características físicas, químicas, biológicas, e microbiológicas conforme os resultados obtidos nos estudos de estabilidade de longa duração. 6.3 ESTUDO DE ESTABILIDADE DE LONGA DURAÇÃO Estudo projetado para verificação das características físicas, químicas, biológicas e microbiológicas de um produto farmacêutico durante e, opcionalmente, depois do prazo de validade esperado. Resumindo, os principais objetivos e finalidades estão apresentados no Quadro 2 abaixo: Quadro 2 – Tipos de estudo de estabilidade Tipos de Estudos (Diretriz) Principais Objetivos Principais Finalidades Condição de Armaze- namento Acelerado (ANVISA/ ICH/ MERCOSUL ) Determinar prazo de validade provisório e condições de armazenamento Desenvolvimento do produto; documentação de registro Forçada Longa Duração (ANVISA / ICH/ MERCOSUL) Comprovar o prazo de validade e as condições de armazenamento estabelecida pelo estudo acelerado. Documentação de registro. Ambiente Acompanha-mento (ANVISA/ MERCOSUL) Verificar se não foi introduzida nenhuma mudança na formulação ou no processo de fabricação que possa afetar adversamente a estabilidade do produto. Garantia de Qualidade / Controle de qualidade Ambiente Fonte: (19) . O termo “Forçada”, na coluna de condição de armazenamento, indica que a amostra foi submetida a condições elevadas de temperatura, umidade, luz e outros fatores que podem comprometer a estabilidade do produto. Mesmo que no estudo de estabilidade acelerado se possa determinar o prazo de validade provisório, o estudo de longa duração se faz necessário para comprovação. 7 ZONAS, CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E DE ARMAZNAMENTO NO BRASIL De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil pertence à zona climática IV, classificada para os países quentes e úmidos, por esta zona ser a mais estressante, os estudos de estabilidades mundialmente são avaliados nessas condições (6) . No Quadro 3, abaixo, estão descritas as zonas climáticas e a comparação em dois momentos. Quadro 3 – Zonas climáticas e condições para estudo de estabilidade farmacêutica Zona Climática Definição Condições de Armazenamento em 1996 Condições de Armazenamento em 2001 I Temperada 21°C /45 % UR 21°C /45 % UR II Mediterrâ-nea 25°C /60 % UR 25°C /60 % UR III Quente e Seco 30°C /35 % UR 30°C /35 % UR IV Quente e úmido 30°C /70 % UR 30°C /65 % UR Fonte: (19) . A condição climática da zona IV foi definida pela temperatura e umidade de 23 cidades, dentre elas três são brasileiras : Recife; Belém e Rio de Janeiro (1) . 7.1 CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO PELA ANVISA Na RE 01/05 consta as condições de armazenamento para realização de estudo de estabilidade estabelecida pela ANVISA atualmente. Para comparação, o Quadro 4 , abaixo, mostra as condições em determinados tempos distintos. Quadro 4 – Condições de armazenamento definidas pela ANVISA. Resolução / Ano Condição de Armazenamento RE 560/02 (revogada) 30°C ± 2°C / 70 % ± 5% UR RE 398/04 (revogada) 30°C ± 2°C / 65 % ± 5% UR RE 01/05 (em vigor) 30°C ± 2°C / 75 % ± 5% UR 8 DIRETRIZES PARA REALIZAÇÃO DO ESTUDO DE ESTABILIDADE Os estudos de estabilidade devem ser realizados com os 3 primeiros lotes fabricados ou lote piloto (onde o processo simule o industrial) e executado com o produto em sua embalagem primária. Para produtos com diferentes concentrações, pode ser utilizado para os testes aquele que tiver o maior número de lotes fabricados ao ano. 8.1 ESTUDO DE ESTABILIDADE DE LONGA DURAÇÃO Devem ser realizados teste a cada 3 meses no primeiro ano, a cada seis meses no segundo ano e uma vez ao ano durante o período que deseja avaliar, conforme descrito no quadro abaixo. Quadro 5 – Estudo de estabilidade de longa duração deve ser conduzido em ambiente com condições de umidade e temperatura controladas. Con- dição Tempe- ratura (°C) Umidade Relati-va (% UR) Frequência de amostragem para análise Tempo Mínimo Com- dição de arma- zena- mento 1 5 ± 3°C - 0, 3, 6, 9, 12, 18 e 24 meses 24 meses ou o prazo de validade proposto 2 - 8°C 2 30 ± 2°C 75 ± 5% UR 0, 3, 6, 9, 12, 18 e 24 meses 24 meses ou o prazo de validade proposto 15 - 30°C Fonte: (19) . 8.2 –ESTUDO DE ESTABILIDADE ACELERADA Devem ser realizados os testes em tempo zero, 3 e 6 meses, conforme descrito no quadro 6 abaixo: Quadro 6 – Estudo de estabilidade acelerada deve ser conduzido em ambiente com condições de umidade e temperatura controladas. Con- Dição Tempe- ratura (°C) Umidade Relati-va (% UR) Frequência de amostragem para análise Tempo Mínimo Com- dição de arma- zena- mento 1 25 ± 2°C 60 ± 5% UR 0, 3, 6, meses 6 meses 2 - 8°C 2 40 ± 2°C 75 ± 5% UR 0, 3, 6, meses 6 meses 15 - 30°C 3 50 ± 2°C 90 ± 5% UR 0, 3, 6, meses 3 meses - Fonte: (19) . O estudo de estabilidade acelerado na condição 3 é opcional e pode ser aplicado para avaliação de formulações em desenvolvimento. 8.2 ESTUDO DE ESTABILIDADE ACOMPANHAMENTO A cada 12 meses todos os testes deverão ser realizados para comprovar a estabilidade até o seu prazo de validade, conforme descrito no quadro 7 abaixo: Quadro 7 : Estudo de Estabilidade de acompanhamento deve ser conduzido em ambiente com condições de umidade e temperatura controladas. Con- dição Tempe- ratura (°C) Umidade Relati-va (% UR) Frequência de amostragem para análise Tempo Mínimo Condi- ção de armaze- namen-to do produto 1 5 ± 3°C - a cada 12 meses prazo de validade proposto 2 - 8°C 2 30 ± 2°C 75 ± 5% UR a cada 12 meses prazo de validade proposto 15 - 30°C Fonte: (19) . 9 ESPECIFICAÇÕES DA RDC 01/05 – ANVISA Os produtos importados podem realizar seus estudos de estabilidade no exterior. No caso a granel, o prazo de validade deve levar em consideração o tempo máximo de armazenamento até a execução da embalagem primária. Produtos que precisam de estudos adicionais, como fotoestabilidade, para garantir a estabilidade em questão, deverão ser executadas para comprovação. Caso o produto não sofra degradação em presença de luz ou a embalagem primária não permita a passagem de luz, deverá ter uma justificativa técnica com evidência científica. Para qualquer forma farmacêutica as informações obrigatórias que devem constar no relatório de estabilidade são: • Descrição do produto com respectiva especificação da embalagem primária • Número do lote para cada lote envolvido no estudo • Descrição do fabricante dos princípios ativos utilizados • Nome e endereço do fabricante dos princípios ativos • Aparência • Plano de estudo: material, métodos (desenho) e cronograma. • Data de início do estudo •Teor do princípio ativo e método analítico correspondente •Quantificação de produtos de degradação e método analítico correspondente • Limites microbianos - Para a forma farmacêutica sólida deve acrescentar as seguintes informações ou justificativa técnica de ausência: • Dissolução • Dureza Para as formas farmacêuticas líquidas e semi-sólidas acrescentar as seguintes informações ou justificativa técnica de ausência: • pH • Sedimentação pós agitação em suspensões • Claridade em soluções • Separação de fase em emulsões e cremes • Perda de peso em produtos de base aquosa 10 CONCLUSÃO O presente trabalho foi realizado com o intuito de evidenciar a importância da realização do estudo de estabilidade de medicamentos e os danos causados pelo não cumprimento dessa exigência da RDC 01/05. Os estudos de estabilidade acelerado quando realizados em paralelo com os estudos de longa duração mostram as influencias causadas pela temperatura e umidade, permitindo uma avaliação metódica da estabilidade., já a estabilidade acompanhada é útil para avaliar o perfil de estabilidade por longo tempo. Esses estudos em si, demonstram mais que um resultado para determinar o prazo de validade do medicamento, mas também podemos verificar o quanto esses produtos são influenciados por agente externos e internos e por quanto tempo eles ainda serão seguros, eficaz e de qualidade para o uso. REFERÊNCIAS (1) WHO. Internacional Stability Testing: guidelines for stability testing of pharmaceutical products containing well established drug substances in conventional dosage forms. Anex 5, WHO Techinical Report Series. 863, 1996. (2) KOMMANABOYINA, B. e RHODES C.T. Trends in stability testing, with Emphasis on stability during distribution and storage. 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DOU de 24 de setembro de 1976. Disponível em: http://e- legis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=178&word Acesso em 23/02/13. (11) BRASIL. Ministério da Saúde. Anvisa. Resolução RE nº 398, de 12 de novembro de 2004. Determina a publicação do Guia para a Realização de Estudos de Estabilidade. DOU 16 de novembro de 2004. Disponível em: http://elegis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=13227&word. Acesso em 23/02/13. (12) RUSSEL, J. B. Química geral. 2.ed. São Paulo: Makron Books, 1994. v. II. 1268p. (13) UNITED States Fharmacopoeia, 29 ed. Rev., Rockville. United States Fharmacopeial Convention, Easton, Mack 2006. (14) GARCIA, P. L.; JUNIOR, E. B. .Estudo de Estabilidade de Medicamentos. Curso realizado em 16 de Maio de 2012. São Paulo /SP. (15) VEIGA, F. Estabilidade de Medicamentos. Disponível em: http://www.infarmed.pt/pt/noticias_eventos/eventos/2005/impacto_qualidade/ESTABILIDA DEINFARMED.pdf. Acessado dia 24/02/13 (16) YOSHIOKA, S. e STELLA, V. S. 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E a todos que contribuíram direta ou indiretamente para esta nova etapa que se conclui. http://e-legis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=178&word http://e-legis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=178&word http://elegis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=13227&word http://www.infarmed.pt/pt/noticias_eventos/eventos/2005/impacto_qualidade/ESTABILIDADEINFARMED.pdf http://www.infarmed.pt/pt/noticias_eventos/eventos/2005/impacto_qualidade/ESTABILIDADEINFARMED.pdf Estabilidade/Artigo 2.pdf Modelos de Avaliação da Estabilidade de Fármacos e Medicamentos para a Indústria Farmacêutica Silva, K.E.R.1; Alves, L.D.S.1; Soares, M.F.R.1; Passos, R.C.S.2; Faria, A.R.2; Rolim Neto, P.J.1* 1 Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife, PE, Brasil. 2 Laboratório de Síntese Orgânica Aplicada a Fármacos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife, PE, Brasil. Autor correspondente: Pedro José Rolim Neto - Laboratório de Tecnologia Farmacêutica - Departamento de Ciências Farmacêuticas – Universidade Federal de Pernambuco, - UFPE - Av. Prof. Arthur de Sá, s/n - Cidade Universitária - CEP. 50740-521- Recife – PE -Brasil -Telefone:(81)3272-1383 email:prolim@ufpe.br RESUMO O estudo de estabilidade de fármacos e medicamentos, descrito pela resolução RE nº1/05 ANVISA determina a quantificação dos produtos de degradação, assim como o método analítico utilizado correspondente. Como consequência, gerou-se a publicação do Informe Técnico nº 1/2008, com o objetivo de esclarecer procedimentos a serem realizados, nos casos em que a impureza ou padrões dos produtos de degradação não estão disponíveis. Diante das novas exigências, o delineamento do estudo torna-se uma das grandes dificuldades de sua realização, desafiando profissionais da área de desenvolvimento de produtos farmacêuticos. Palavras-Chave: Estabilidade. Fármacos. Medicamentos. Produtos de degradação. Teste de Estresse. INTRODUÇÃO A estabilidade é definida como o tempo durante o qual a especialidade farmacêutica ou mesmo a matéria- prima considerada isoladamente, mantém dentro dos limites especificados e durante todo o período de estocagem e uso, as mesmas condições e características que possuía quando da época de sua fabricação. Pode também ser definida como o período de tempo compreendido entre o momento no qual o produto está sendo fabricado àquela que sua potência está reduzida a não mais do que 10 %, desde que os produtos de alteração estejam todos seguramente identificados e previamente reconhecidos seus efeitos (Taborianski, 2003; Vehabovic et al., 2003; Stulzer & Silva, 2006). A estabilidade dos produtos farmacêuticos depende de fatores ambientais como temperatura, umidade, luz e de outros fatores relacionados ao próprio produto como propriedades físicas e químicas, de substâncias ativas e excipientes farmacêuticos, forma farmacêutica e sua composição, processo de fabricação, tipo e propriedades dos materiais de embalagens (Brasil, 2005). Com a finalidade de garantir a integridade química, física, microbiológica, terapêutica e toxicológica do fármaco e da forma farmacêutica dentro dos limites especificados, sob influência dos fatores ambientais em função do tempo, são preconizados estudos de estabilidade (Matthews, 1999; Lucas et al., 2004; Ansel et al., 2007). O estudo de estabilidade descrito pela RE nº1/2005 (Brasil, 2005) possui como principal aplicabilidade a determinação do prazo de validade do produto farmacêutico. Porém, também determina a quantificação dos produtos de degradação e o método analítico correspondente, que resultou na publicação de um Informe Técnico nº 1/2008, com o objetivo de esclarecer procedimentos nos casos em que a impureza ou o padrão do produto de degradação não estão disponíveis. Estes procedimentos envolvem a realização de testes de estresse sob condições variadas (Brasil, 2008). A realização do teste de estresse, assim como o desenvolvimento do método analítico para a identificação e quantificação dos produtos de degradação é de extrema importância para as indústrias farmacêuticas, pois no momento do registro, pós-registro e renovação, o estudo de estresse, acompanhado de sua análise crítica deverá ser contemplada. Diante do exposto, esse trabalho tem por objetivo trazer uma revisão atualizada sobre estabilidade de medicamentos e fármacos, proporcionando atualização aos profissionais da área, para as adequações que deverão ser estabelecidas a partir da legislação vigente. Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2009;30(2):1-8 ISSN 1808-4532 Recebido 15/07/2009 / Aceito 21/09/2009 Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada Journal of Basic and Applied Pharmaceutical Sciences Estudo de Estabilidade e a Legislação Farmacêutica A monitorização da estabilidade dos medicamentos é um dos métodos mais eficazes para avaliação, previsão e prevenção de problemas relacionados à qualidade do produto durante a validade. A segurança e a eficácia 2 Estabilidade de Fármacos e Medicamentos Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2009;30(2):1-8 também podem ser avaliadas, através do monitoramento da formação de produtos de degradação, que podem gerar perda de atividade terapêutica ou toxicidade conforme dados de Carvalho et al. (2005) e de nosso grupo (Nóbrega et al., 2006). Os estudos na fase de pré-formulação incluem a estabilidade no estado sólido do fármaco isolado e a estabilidade na presença dos excipientes. Estas etapas são realizadas para reduzir ou prevenir a ocorrência de deterioração devido à hidrólise, oxidação, entre outros processos. Por sua vez, o estudo da estabilidade da formulação tem por finalidade avaliar o comportamento dos medicamentos em função do tempo e a influência de uma variedade de condições e fatores, sendo levado em consideração tanto o fármaco, quanto a mistura de excipientes ou veículos utilizados, assim como a interação entre ambos, face às condições as quais estão submetidos (Brasil, 2005; Mamede et al., 2006). Para a realização desse estudo, as zonas climáticas constituem um dos importantes fatores a serem considerados. Devido à grande variabilidade climática, o mundo foi subdividido em zonas com diferentes especificações de temperatura e umidade, para possibilitar a comercialização dos produtos em outras zonas climáticas (Carvalho et al., 2005; Bott & Oliveira, 2007). Para o procedimento dos ensaios de estabilidade realizados no Brasil, de zona climática IV, as indústrias farmacêuticas seguem a RE nº 1/2005 da ANVISA que define três estudos: Estudo de Estabilidade Acelerada: estudo projetado para acelerar a degradação química e/ou mudanças físicas de um produto farmacêutico em condições forçadas de armazenamento. Os dados obtidos, juntamente com aqueles derivados dos estudos de longa duração, são usados para avaliar efeitos químicos e físicos prolongados em condições não aceleradas e para avaliar o impacto de curtas exposições a condições fora daquelas estabelecidas no rótulo do produto, que podem ocorrer durante o transporte. Estudo de Estabilidade de Longa Duração: estudo projetado para verificação das características físicas, químicas, biológicas e microbiológicas de um produto farmacêutico durante e, opcionalmente, depois do prazo de validade esperado. Os resultados são usados para estabelecer ou confirmar o prazo de validade e recomendar as condições de armazenamento. Estudo de Estabilidade de Acompanhamento: estudo realizado para verificar se o produto farmacêutico mantém suas características físicas, químicas, biológicas, e microbiológicas conforme os resultados obtidos nos estudos de estabilidade de longa duração. Esses estudos são realizados em câmaras climáticas qualificadas de acordo com normas internacionais, que proporcionam o controle de temperatura e umidade em seu interior, projetados para serem utilizados continuamente, sem preocupação com falhas nos instrumentos de controle conforme mostram nossos estudos (Nunes et al., 2007). Para a avaliação dos estudos, as amostras são retiradas nos tempos determinados pelo guia. São determinadas as seguintes análises: doseamento, quantificação de produtos de degradação, dissolução e pH (quando aplicáveis) (Brasil, 2005). O uso de métodos indicadores de estabilidade, seletivos aos princípios ativos e seus produtos de degradação, são altamente recomendados pela ANVISA para acompanhamento de resultados provenientes de estudos de estabilidade de medicamentos (Brasil, 2003; Brasil, 2005). No entanto, poucas monografias existentes em farmacopeias incluem metodologias para análise de produtos de degradação, e poucos fabricantes conhecem e desenvolvem metodologias validadas para detecção e quantificação desses produtos. Para o desenvolvimento e validação de metodologias indicativas de estabilidade, preconiza-se a realização de testes de estresse, para obtenção de padrões, para fim de análise (Bakshi & Singh, 2002; Boudreau et al., 2004; Carvalho et al., 2005). Teste de Estresse O teste de estresse é definido como um teste de estabilidade para fármacos e medicamentos sob condições extremas. Este teste mostra-se como uma tendência dentro do planejamento para o desenvolvimento de uma forma farmacêutica, pois a investigação da estabilidade intrínseca do fármaco fornece abordagens de formulação e indica tipos de adjuvantes, aditivos de proteção específicos e de acondicionamento, que provavelmente melhorarão a integridade do fármaco e do produto. Demonstrando-se assim, que o conhecimento do comportamento químico pode ser usado para garantir a estabilidade da forma farmacêutica desejada (Reynolds et al., 2002; Aulton, 2005). Um dos principais objetivos a serem atingidos através desse teste é demonstrar a especificidade ao desenvolver um método indicativo de estabilidade, sobretudo quando poucas informações estão disponíveis sobre os possíveis produtos de degradação. Estes também fornecem informações sobre as rotas de degradação e dos produtos formados, que poderiam ser produzidos durante o período de armazenamento (Reynolds et al., 2002). A natureza do teste de estresse utilizado para o fármaco depende de suas características intrínsecas e da forma farmacêutica a ser desenvolvida. Para o medicamento, o planejamento do estudo deve ser baseado nas propriedades do fármaco e dos excipientes utilizados na formulação, assim como nas condições de armazenamento. Neste caso, são utilizadas condições mais severas do que as condições do estudo de estabilidade acelerado, como estratégia para a fase de desenvolvimento da forma farmacêutica (Klick et al., 2005). No entanto, tais exames podem não ser necessários, se for demonstrado que os produtos de degradação não são formados sob condições de estudo de estabilidade acelerado ou de longa duração (ICH, 2003). Embora o conceito do estudo de degradação forçada não seja novo para a indústria farmacêutica, o procedimento para sua realização não foi claramente definido pelo guia de estabilidade do International Conference on Harmonisation (ICH), assim como por outros órgãos regulatórios. Devido à falta dessas informações detalhadas, a realização do teste sofre variações extremas nos procedimentos utilizados pelas companhias farmacêuticas para a obtenção dos resultados, sendo observada a condução dos estudos sem respaldo científico, levando a resultados muitas vezes duvidosos, principalmente quando são aplicadas condições estremas 3 Estabilidade de Fármacos e Medicamentos Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2009;30(2):1-8 em um curto intervalo de tempo (ICH, 2003; Alsante et al., 2003; Klick et al., 2005). No Brasil, a ANVISA, através do Informe Técnico nº1, esclarece procedimentos a serem seguidos, uma vez que a identificação e quantificação dos produtos de degradação já eram exigidas no item 2.2.6 da RE nº 560/2002 e no item 2.8 da RE nº 398/2004 – regulamentações específicas sobre estudos de estabilidade, vigentes à época, além dos estudos de fotoestabilidade exigidos no item 2.6 da Resolução RE nº 398/2004, assim como as recomendações para a sua realização no Anexo II da mesma. Já no item 2.9 do anexo da RE n° 1, de 29/07/2005 - Guia para Realização dos Estudos de Estabilidade, já era preconizada a realização do ensaio de identificação e quantificação de produtos de degradação e método analítico correspondente no estudo de estabilidade, para todos os produtos a serem registrados (Brasil, 2005). O item 2.1.2 da RE N°899 de 29/05/2003 – Guia de Validação de Métodos Analíticos preconiza que “quando a impureza ou o padrão do produto de degradação não estiverem disponíveis, pode-se comparar os resultados do teste das amostras contendo impurezas ou produtos de degradação com os resultados de um segundo procedimento bem caracterizado” (por exemplo, metodologia farmacopéica ou outro procedimento validado) (Brasil, 2003). Este procedimento inclui a realização de testes sob condições de estresse especificadas pela ANVISA (Tabela 1), que resultaram na apresentação da análise dos produtos de degradação nos estudos de estabilidade acelerada e de longa duração com a forma farmacêutica final. Tabela 1 - Condições de estresse para a realização do estudo de degradação forçada Aquecimento 60°C Umidade 75% UR ou > Solução Ácida 0,1 M HCl Solução Básica 0,1 M NaOH Solução Oxidativa 3% H2O2 Fotolítica UV-B fluorescente Íons metálicos (opcional) 0,05M Fe2+ ou Cu2+ O objetivo dos testes realizados através deste procedimento, não é degradar totalmente o composto, mas promover uma degradação de pequena extensão (10-30%), evitando-se a formação de compostos secundários. Sendo observada a ausência total de degradação do composto após 10 dias, o fármaco deve ser considerado estável. Se esta for inferior a 10%, devem-se aumentar as condições de estresse. Contudo, a legislação vigente permite a utilização de publicações de literatura científica, que possam vir a corroborar com os dados experimentais enviados, mas não com a finalidade de substituir os dados referentes aos ensaios exigidos (Reynolds et al., 2002; Brasil, 2008). Um importante fator referente à identificação dos produtos de degradação está relacionada à segurança dos medicamentos, pois pode ocorrer a formação de produtos tóxicos e/ou a perda parcial ou total da atividade terapêutica do fármaco, sendo necessários o isolamento e a caracterização das suas propriedades física e química, assegurando a segurança biológica a partir da determinação dos níveis de segurança aceitáveis e de seus limites de quantificação, com relação à posologia diária (Moriwaki et al., 2001). Delineamento dos Testes de Estresse com Fármacos O estudo de degradação forçada inclui os efeitos causados pela variação da temperatura, umidade quando apropriado, oxidação, fotólise e suscetibilidade à hidrólise por extensa variação dos valores de pH, que são condições típicas de degradação de fármacos. Vários estudos vêm sendo realizados para a obtenção de produtos de degradação de muitos fármacos utilizados na terapêutica, utilizando diferentes métodos de obtenção e identificação (Kapoor et al., 2006; Kumar et al., 2008; Bedse et al., 2009). Contudo, não existe um padrão na realização desses estudos. Na ausência de procedimentos, dificuldades são enfrentadas pelos profissionais, ao decidir sobre as condições de estresse a serem utilizadas para um novo fármaco. Alguns estudos, como o realizado por Singh & Bakshi (2000), propõem um sistema para a classificação de fármacos, tomando como base o comportamento da estabilidade de fármaco diante de variações nas condições submetidas (Aulton, 2005). Hidrólise A água é considerada como um dos principais catalisadores em reações de degradação. Muitos fármacos são considerados como instáveis nesse meio e necessitam de intervenções durante a formulação e armazenamento, para que a eficácia e sua estabilidade e da forma farmacêutica final não sejam comprometidas. Para a avaliação da instabilidade sob a condição de hidrólise, também deve ser levado em consideração o pH do meio, pois íons hidrogênio e hidroxila podem acelerar ou retardar o processo de degradação (Ansel et al., 2007). Para realizar o estudo de estresse em condição de hidrólise ácida, utiliza-se principalmente ácido clorídrico e para a hidrólise básica utiliza-se hidróxido de sódio, sendo que, muitas variações são observadas no tempo e na temperatura de exposição de fármacos para essa condição (Figura 1). Existem poucos relatos na literatura sobre a hidrólise realizada em pH neutro, onde geralmente se utiliza água como agente de hidrólise. Nessa condição, a taxa de decomposição é lenta, o que é compreensível, porque reações em pH neutro são não-catalíticas e por isso podem ser necessários períodos muito longos sob condições de temperatura extremas, para conseguir quantidades suficientes de produtos de degradação (Singh & Bakshi, 2000). As condições de estresse iniciais são realizadas, assumindo que o fármaco seja instável, portanto, sujeito a receber condições mais amenas. Dependendo dos resultados obtidos, aumenta-se ou diminui-se a concentração das condições de reação utilizada (Singh & Bakshi, 2000). 4 Estabilidade de Fármacos e Medicamentos Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2009;30(2):1-8 Figura 1: Fluxograma do estudo de estresse: Hidrólise sob condições ácidas e básicas (Fonte: Adaptado de: Singh & Bakshi, 2000). Oxidação A degradação oxidativa é uma das principais causas de instabilidade de fármacos, dentre os mais conhecidos e estudados têm-se os esteróides, antibióticos, vitaminas, óleos e gorduras. A oxidação envolve a remoção de um átomo eletropositivo, radical ou elétron, ou a adição de um átomo eletronegativo ou radical. Muitas oxidações são reações em cadeia, que procedem lentamente sob a influência do oxigênio molecular. Tal processo de reação é referido como uma auto-oxidação (Florence & Attwood, 2003). O peróxido de hidrogênio é utilizado para criar as condições de estresse empregadas para o estudo de oxidação. Esse parece ser muito mais popular para o propósito que qualquer outro agente oxidante. A concentração de peróxido utilizada varia entre 1% a 30% (Figura 2). A estabilização de fármacos frente a condições oxidativas envolve a observação de um número de precauções durante a manufatura e estocagem. O oxigênio em recipientes farmacêuticos deve ser substituído por nitrogênio ou dióxido de carbono; assim como o contato com íons de metais pesados, que catalisam a oxidação, devem ser evitados e a estocagem deve ser a temperaturas reduzidas (Florence & Attwood, 2003). Figura 2: Fluxograma do estudo de estresse: Oxidação (Fonte: Adaptado de: Singh & Bakshi, 2000) Fotólise A reação de fotólise é iniciada após absorção de radiação eletromagnética. A maioria dos princípios ativos empregados na preparação de medicamentos apresenta máximos de absorção na região do ultravioleta do espectro eletromagnético. A radiação ultravioleta é muito energética e pode propiciar a clivagem de muitas ligações químicas, ocorrendo a degradação da molécula. Desta forma, é importante conhecer a fotoestabilidade das drogas utilizadas como medicamentos e os produtos formados devido à fotólise, além de avaliar a toxicidade destes últimos (Moriwaki et al., 2001). Figura 3: Fluxograma do estudo de estresse: Fotólise (Fonte: Adaptado de: Singh & Bakshi, 2000) O estudo de fotoestabilidade é atualmente uma importante ferramenta para a indicação de estabilidade de fármacos e formas farmacêuticas dentro da indústria. Existe muita variação da maneira na qual o estresse de fotoestabilidade é realizado. Os fármacos podem sofrer exposição a comprimentos de onda curtas ou longas dentro da faixa de UV, ou luz fluorescente de iluminação que varia na faixa de 400-1580 foot candles, sob temperatura ambiente (Figura 3). O período de exposição varia de algumas horas a vários meses, dependendo da intensidade da fonte luminosa. Para saber se um fármaco é sensível à fotólise ou não, depende da variação do comportamento de decomposição observado. Os estudos de fotoestabilidade são feitos em fármacos na forma sólida ou em solução (Singh & Bakshi, 2000). Produtos farmacêuticos podem ser adequadamente protegidos da decomposição induzida pela luz com o uso de recipientes de vidro colorido e estocagem no escuro. Vidros de cor âmbar filtram luzes de comprimento de onda menores do que 470nm e oferecem considerável proteção aos compostos sensíveis à luz ultravioleta. O revestimento de comprimidos com um filme polimérico contendo 5 Estabilidade de Fármacos e Medicamentos Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2009;30(2):1-8 absorventes de radiação ultravioleta tem sido sugerido como um método adicional para proteção contra a luz (ICH, 1996; Florence & Attwood, 2003). Estabilidade Térmica Dados de nosso laboratório (Grangeiro Junior et al, 2006) mostram que as técnicas termoanalíticas adquiriram importância crescente em todas as áreas de conhecimento na química básica e aplicada. A utilização dessa metodologia foi favorecida pela disponibilidade de instrumentos controlados por microprocessadores, capazes de fornecer informações quanto ao comportamento térmico dos materiais de forma precisa e num tempo relativamente curto dados similares foram mostrados por Wesolowski & Erecinska (1998) e Viana et al. (2008). A análise térmica possibilita uma ampla faixa de aplicação para medidas de propriedades físicas, como: estudo de reações químicas, avaliação da estabilidade térmica, determinação da composição de materiais e desenvolvimento de metodologia analítica (Faria et al., 2002). Essas análises têm sido utilizadas na área farmacêutica como ferramenta útil para avaliar rapidamente uma possível interação entre os componentes ativos e os excipientes em estudos de compatibilidade na pré- formulação, além de avaliar a existência de polimorfismo, compostos de inclusão e dispersões sólidas, determinação de pureza química, estudos de reações no estado sólido, análise de formas farmacêuticas sólidas e controle de qualidade conforme descrito pelo nosso grupo (Alencar et al., 2006; Silva et al., 2009) e de outros pesquisadores (Tomassetti et al., 2005; Mamede et al., 2006). Nossos dados mostram que a caracterização físico- química do princípio ativo do medicamento é importante, pois dessa forma, estabelece-se a carta de identidade do produto, possibilitando sua padronização e avaliação de pureza, tornando-o adequado para a realização do estudo de pré-formulação (Alves et al., 2008). Um dos principais fatores que devem ser avaliados no desenvolvimento de formulações é o estudo da estabilidade. Estes estudos são realizados rotineiramente pela indústria farmacêutica, porém, requerem longos períodos de armazenamento das amostras, sob condições controladas de temperatura e umidade (Rodante et al., 2002). Embora não substituam os estudos convencionais, as técnicas termoanalíticas mostram-se extremamente úteis em estudos de estabilidade, possibilitando a escolha das formulações mais estáveis com extrema rapidez, fator desejável especialmente para a indústria farmacêutica (Bazzo & Silva, 2005). Considerações Finais A Comunidade Europeia e também os Estados Unidos contemplam formalmente a pesquisa dos produtos de degradação desde a década de 80. Avaliando a evolução do tema no Brasil, pode-se observar um traçado paralelo entre as três resoluções referentes à estabilidade da ANVISA. Diante das novas exigências com relação ao desenvolvimento e validação do método indicativo de estabilidade, as indústrias farmacêuticas e Centros de Pesquisa & Desenvolvimento necessitam realizar testes de estresse, com o objetivo de isolar, identificar e caracterizar os produtos de degradação obtidos através de condições adversas variáveis. Contudo, devido à peculiaridade de cada fármaco e medicamento, o delineamento do estudo torna-se uma das grandes dificuldades de sua realização, ao mesmo tempo em que se coloca como desafio necessário aos profissionais da área de desenvolvimento de produtos farmacêuticos. Nosso grupo vem, há alguns anos, desenvolvendo parcerias com laboratórios farmacêuticos para aplicação de metodologias para estudo de estabilidade e ativos de origem natural e sintética, produtos isolados, misturas de fármacos, bem como, produto acabado em diferentes formas farmacêuticas em doenças negligenciadas e de alto custo, em monoterapia e em dose-fixa-combinada. ABSTRACT Stability Models Assessing of Drugs and Drug Products for Pharmaceutical Industry The stability testing of drugs and medicines, as described in ANVISA resolution RE 1 / 05, specifies the quantitation of degradation products, as well as the analytical method concerned. As a consequence, Technical Report 1/2008 was published, with the aim of clarifying the procedures to be followed in cases where the impurity or patterns of degradation products are not available. In light of the new requirements, the study design constitutes one of the hardest problems for their implementation, facing professionals with new challenges in the area of pharmaceutical product development. Keywords: Degradation products. Drugs. Medicines. Stability. Stress Test. REFERÊNCIAS Alencar JRB, Bedor DCG, Medeiros FPM, Alencar JRB, Leite ACL, Brondani DJ, Galembeck A, Macêdo R, Albuquerque MM, Rolim Neto PJ. Caracterização e propriedades térmicas do Ritonavir para qualidade de fornecedores. Acta Farm Bonaer. 2006; 25(2):170-6. Alves GMC, Rolim LA, Rolim Neto PJ, Leite AC, Brondani DJ, Medeiros FPM, Bieber LW, Mendonça Júnior FJB. Purificação e caracterização da β-Lapachona e estudo de estabilidade dos cristais em diferentes condições de armazenamento. Quim Nova. 2008; 31(2):413-16. Alsante K, Martin L, Baertschi SW. A stress testing benchmarking study. Pharm Technol. 2003; 27(2):60–72. Ansel HC, Popovich NG, Allen-Jr LV. 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Informe Técnico nº 01, de 15 de julho de 2008 - Esclarecimento sobre o item 2.9 do anexo da Resolução RE nº1 de 29/07/2005, que trata do Guia para realização dos estudos de estabilidade [Internet]. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Poder Executivo, Brasília, DF, Diário Oficial da União, 15 jul. 2008. [citado jun 2009] Disponível em: http://www.sindusfarma.org.br/informativos/ BBPAF03808.doc. Carvalho JP, Santos AS, Sá AS, Teixeira CS, Nogueira MS. Estabilidade de medicamentos no âmbito farmacológico. Rev Farm Med. 2005; 34(6):22-7. Faria EA, Leles MIG, Ionashiro M, Zuppa TO. Estudo da estabilidade térmica de óleos e gorduras vegetais. Eclet Quim. 2002; 27:111-9. Florence AT, Attwood D. Princípios físico-químicos em farmácia. 3.ed. São Paulo: Edusp; 2003. p. 711. Grangeiro Júnior S, Strattmann RR, Albuquerque MM, Araújo AAS, Matos JR, Rolim Neto, PJ. In vitro evaluation of dissolution profiles and thermal properties of some commercial formulations of nevirapine tablets. 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Despite the extensive relevance, until the 1980’s the stability assessment methods complied with technical and scientific principles without the intervention of regulatory acts by health authorities. The International Council for Harmonisation of Technical Requirements for Pharmaceuticals for Human Use (ICH) establishment in the 1990’s boosted the regulation on this issue, not only in the attended countries, but worldwide. In the Brazilian context, the first regulatory norm for stability studies was published in 2002 and it implied the requirement of the submission of a stability report for the sanitary registration of medicines. The development of the Brazilian legislation resulted, among other factors, from the progress of the analytical methods that have become increasingly efficient, sensitive and selective, which allows the achievements of results with greater accuracy and speed; and the use of modern techniques of solid form characterization, which provide important information about the stability of active ingredients and pharmaceutical products. Keywords: legislation; drug stability; analytical methods; pharmaceutical products; stability studies. INTRODUÇÃO A Farmacopeia Brasileira 6ª edição1 define medicamento como “produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, que contém um ou mais fármacos e outras substâncias, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico”. Já a estabilidade de produtos farmacêuticos é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a capacidade destes manterem as suas características químicas, físicas, microbiológicas e biofarma- cêuticas especificadas durante todo o prazo de validade.2 Portanto, a avaliação da estabilidade constitui um importante parâmetro para assegurar a qualidade e, consequentemente, a segurança e eficácia dos insumos farmacêuticos ativos (IFAs) e dos produtos farmacêu- ticos. Neste sentido, os estudos de estabilidade consistem em um conjunto de testes sistematizados que visam não apenas determinar a capacidade de uma formulação manter as suas características, mas também estabelecer o prazo de validade, as condições adequadas de armazenamento e transporte do medicamento e prever a data de reteste dos IFAs.2,3 A data de reteste é uma data estabelecida pelo fabricante do IFA com base nos estudos de estabilidade e que, ao ser atingida, deve ser realizada a retestagem do IFA para assegurar que o mesmo se mantém adequado para utilização.3 Diversos fatores estão relacionados à estabilidade dos medica- mentos, como aqueles relativos à formulação, os fatores intrínsecos e extrínsecos, o processo de fabricação, bem como o material de emba- lagem e o transporte. Os fatores intrínsecos consistem em interações entre fármacos, interação entre fármaco e excipientes ou solventes, tamanho das partículas, pH do meio, qualidade da embalagem e condições nas quais o fármaco pode sofrer oxidação, hidrólise ou fotólise.4 Por outro lado, os extrínsecos abrangem as condições de estocagem e transporte, nas quais o fármaco pode sofrer alterações devido à temperatura, luz, ar e umidade.4 Ainda que os excipientes sejam caracterizados como substâncias inertes, eles são capazes de interagir com outras substâncias, tanto no estado sólido como em solução.5 Além disto, a degradação em produtos farmacêuticos frequentemente ocorre em decorrência da reação dos princípios ativos com os excipientes utilizados na formu- lação.5,6 Assim, muitas das reações de incompatibilidade reportadas envolvem hidrólise, oxidação ou interação específica dos princípios ativos com impurezas reativas presentes nos excipientes.5,6 Portanto, a presença de traços de impurezas nos excipientes pode afetar a qua- lidade, segurança e eficácia dos medicamentos, devido à formação de produtos de degradação ativos ou tóxicos, ou à redução da potência do insumo ativo.6 Por conseguinte, os estudos de estabilidade são fundamentais para a garantia da saúde dos pacientes, uma vez que a perda de estabilidade dos medicamentos relaciona-se à perda do efeito terapêutico ou à formação de produtos de degradação tóxicos.7 A despeito de tamanha relevância, até a década de 1980 os méto- dos de avaliação da estabilidade seguiam princípios científicos e téc- nicos sem interferência de atos regulatórios de autoridades sanitárias. Diante disto, tornou-se evidente a necessidade da regulamentação dos parâmetros e métodos para a avaliação da estabilidade. Com a criação, na década de 1990, do comitê denominado The International Council for Harmonisation of Technical Requirements for Pharmaceuticals for Human Use (ICH), por meio da reunião das agências regulatórias do Japão, Estados Unidos e União Europeia, buscou-se regulamentar e harmonizar os atos normativos relacionados à produção e controle de qualidade de medicamentos, incluindo os estudos de estabilidade.8 De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os estudos de estabilidade são classificados em acelerado, longa duração, acompanhamento, degradação forçada e, mais recen- temente, estabilidade pós-reconstituição ou diluição e estabilidade em uso.9 O estudo acelerado requer a utilização de condições forçadas de armazenamento, de modo a acelerar a degradação do produto far- macêutico para avaliar o impacto de exposições rápidas a condições fora do estabelecido, o que pode acontecer durante o transporte, por EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO E DAS TÉCNICAS ANALÍTICAS APLICADAS A ESTUDOS DE ESTABILIDADE DE INSUMOS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS Julia Faccia, Luan F. Diniza, Naialy F. A. Reisa e Christian Fernandesa,*, aDepartamento de Produtos Farmacêuticos, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de Minas Gerais, 31270-901 Belo Horizonte – MG,Brasil Re vi sã o https://orcid.org/0000-0002-3905-3674 Facci et al.960 Quim. Nova exemplo.10,11 O estudo de longa duração é utilizado para determinar o prazo de validade e as condições de armazenamento adequadas.9,10 O estudo de acompanhamento, por sua vez, é realizado após a comer- cialização do produto, cujo objetivo é verificar se as características previstas nos estudos de estabilidade de longa duração são manti- das.9-11 O estudo de degradação forçada visa promover degradação suficiente que permita a avaliação dos produtos de degradação; para tanto, as condições utilizadas devem ser mais drásticas do que aque- las empregadas no estudo acelerado.10 Já o estudo de estabilidade pós-reconstituição ou diluição destina-se a comprovar o período no qual o medicamento mantém estabilidade após a reconstituição, enquanto o estudo de estabilidade em uso é projetado para medica- mentos acondicionados em embalagens multidose, cuja finalidade é comprovar que a estabilidade do produto é mantida após a abertura e subsequentes reaberturas da embalagem primária.9 A evolução das exigências normativas acerca da estabilidade de insumos e produtos farmacêuticos adveio, dentre outros fatores, do progresso dos métodos analíticos que vêm se tornando cada vez mais eficientes, seletivos e com elevada detectabilidade, permitindo a obtenção de resultados com maior exatidão e rapidez; e do emprego das técnicas de caracterização no estado sólido, que fornecem valiosas informações sobre a estabilidade dos fármacos e dos excipientes em formulações farmacêuticas. Diante disto, o objetivo deste trabalho é apresentar e discutir a evolução dos aspectos legais aplicados à avaliação da estabilidade de IFAs e medicamentos no Brasil e no mundo, bem como traçar um panorama da evolução dos métodos analíticos e das técnicas de caracterização empregadas nessa área. MÉTODOS A pesquisa acerca das legislações foi realizada nos sites da ANVISA, ICH e da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO). Os principais guias relacionados à estabilidade de medicamentos e impurezas, presentes nos sites dessas agências, foram utilizados nessa revisão. A revisão da literatura, para busca de artigos que tratavam de métodos analíticos e de caracterização aplica- dos aos estudos de estabilidade, foi realizada em bases de dados que fazem parte do portal Periódicos Capes (Web of Science, SciELO, PubMed e SciFinder) utilizando as palavras-chave (em português e em inglês): estudos de estabilidade, insumos farmacêuticos, medica- mentos, legislação, espectrofotometria, espectrofotometria derivativa, cromatografia em camada delgada, cromatografia em camada delgada de alta eficiência, cromatografia líquida de alta eficiência, croma- tografia líquida de ultra eficiência, cromatografia gasosa, detector ultravioleta, detector de fluorescência, detector por espalhamento de luz evaporativo, detector de aerossol carregado, espectrômetro de massas, difração de raios X, termogravimetria, calorimetria explora- tória diferencial, termomicroscopia ótica, espectroscopia vibracional na região do infravermelho, espectroscopia Raman e ressonância magnética nuclear. Nesse momento, não foi objetivo dos autores fazer uma busca exaustiva de todos os artigos que tratassem dessas técnicas, quando aplicadas aos estudos de estabilidade, mas buscar exemplos de técnicas usadas em diferentes períodos, para evidenciar a evolução dessas técnicas como ferramentas para o desenvolvimento de estudos de estabilidade. HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO Os primeiros guias de estabilidade foram publicados na década de 1980, sendo o Japão, Reino Unido, Estados Unidos e a União Europeia os pioneiros. Entretanto, os principais guias acerca deste tema no mundo, os quais são referências para agências regulatórias de diversos países, incluindo o Brasil, são aqueles elaborados pela WHO e pelo ICH, motivo pelo qual serão abordados neste trabalho. No Brasil, a trajetória da legislação sobre estabilidade de insumos e produtos farmacêuticos foi iniciada em 2002, com a publicação de um guia elementar.12 Todavia, nos anos seguintes, novos documentos foram publicados, de modo a tornar a legislação brasileira mais abran- gente e similar à internacional. Atualmente, um maior alinhamento da legislação brasileira à legislação internacional será viabilizado devido à conquista da ANVISA de uma vaga no comitê gestor do ICH. A decisão foi tomada pela assembleia do ICH em reunião realizada no dia 19 de novembro de 2019.13 Legislação internacional Logo após a sua criação em 1990, o ICH publicou a primeira ver- são do documento intitulado “Stability testing of new drug substances and products”.14 Este guia passou por revisões e a que está em vigor foi publicada em 2003. O objetivo deste guia é definir os dados dos estudos de estabilidade que são requeridos para que novos IFAs e medicamentos sejam registrados na União Europeia, Japão e Estados Unidos. A importância dos testes de estabilidade consiste em fornecer informações sobre como a qualidade de um IFA ou medicamento se mantém diante da influência de fatores ambientais como tempera- tura, luz e umidade, além de fornecer informações sobre o prazo de validade, as recomendações das condições de armazenamento e o estabelecimento do período de reteste para os IFAs.14 O mundo é dividido em quatro (I-IV) zonas climáticas, isto é, zonas geograficamente delimitadas segundo critérios de umidade e temperatura.15 As condições definidas para os testes deste guia são baseadas nas condições climáticas da União Europeia, Japão e Estados Unidos, os quais abrangem zonas climáticas I e II.14,15 Com isso, as informações sobre estabilidade geradas em cada um desses países, se consistentes com este guia, são mutualmente aceitas entre eles. 14 O documento aborda os IFAs e os medicamentos separadamente, entretanto, ambos requerem os mesmos tipos de estudos de estabilida- de, o acelerado, de longa duração e intermediário, quando apropria- do.14 O estudo intermediário consiste na utilização de condições mais brandas do que aquelas utilizadas no estudo acelerado, com duração inferior àquela do estudo de longa duração.14 Além disso, este guia aborda também o estudo de estresse ou estudo de degradação forçada (termo adotado pela legislação brasileira). Este estudo é conduzido sob condições severas, a fim de avaliar a estabilidade intrínseca do IFA e os efeitos causados no medicamento.14 Ademais, este guia prevê a possibilidade da condução de estu- dos de estabilidade reduzidos, válidos apenas para medicamentos,14 além de abordar o teste de fotoestabilidade, o qual deve ser incluído no estudo de degradação forçada tanto para os IFAs quanto para os medicamentos. Diante da necessidade de maiores informações acerca destes temas, o ICH publicou guias sobre cada um deles nos anos 199516 e 2000.17 O teste de fotoestabilidade foi melhor descrito no guia “Photostability testing of new drug substances and products”,16 em 1995, cuja versão em vigor é de 1996. A fotoestabilidade de novos IFAs e medicamentos deve ser avaliada para demonstrar que a expo- sição à luz não provoca alterações significativas nestes materiais.16 O estudo deve ser conduzido em um sistema actinométrico validado e as fontes de luz a serem utilizadas devem atender às exigências de distribuição espectral, sendo sugeridas a lâmpada D65 ou uma lâm- pada fluorescente branca e outra que emita radiação no ultravioleta próximo.16 Deve ser realizado um controle de temperatura ou utilizada uma amostra controle, envolvida em folha de alumínio, de modo a protegê-la da incidência da luz, para assegurar que qualquer alteração observada não seja induzida pela temperatura.16 Os resultados obtidos deverão ser analisados para determinar se as alterações observadas https://buscador-periodicos-capes-gov-br.ez27.periodicos.capes.gov.br/V/QRY6JHUDK5DE4L2ATCEU5XQ6772NACR596XK1X9SNKUEEYYN69-01076?func=native-link&resource=CAP04243 https://buscador-periodicos-capes-gov-br.ez27.periodicos.capes.gov.br/V/QRY6JHUDK5DE4L2ATCEU5XQ6772NACR596XK1X9SNKUEEYYN69-03649?func=native-link&resource=CAP02795 https://buscador-periodicos-capes-gov-br.ez27.periodicos.capes.gov.br/V/QRY6JHUDK5DE4L2ATCEU5XQ6772NACR596XK1X9SNKUEEYYN69-05291?func=native-link&resource=CAP02808 Evolução da legislação e das técnicas analíticas 961Vol. 43, No. 7 no produto são aceitáveis e para o desenvolvimento de embalagens que o protejam da incidência da luz, quando necessário.16 Por outro lado, os estudos de estabildade reduzidos foram con- templados no guia publicado no ano 2000, intitulado “Bracketing and matrixing”,17 termos referidos na legislação brasileira como agrupa- mento e matrização,11 respectivamente. Este tipo de estudo possibilita uma redução na quantidade total de testes a serem realizados devido à combinação de determinados fatores ou por testar apenas os extremos dos fatores.17 Consistem em um alternativa para quando há múltiplas variáveis envolvidas, como por exemplo, diferentes dosagens ou tamanhos dos recipientes de um mesmo produto.17 Entretanto, a sua utilização deve ser justificada, para tanto deve ser capaz de prever o período de reteste e o prazo de validade.17 O agrupamento consiste na realização dos testes na mesma frequência utilizada no estudo de estabilidade completo, utilizando apenas as amostras dos extremos de determinados fatores como a dosagem, por exemplo.17 Entretanto, sua aplicação, neste caso, se restringe à situação em que existam múltiplas dosagens e as formulações mantenham-se idênticas ou muito semelhantes.17 Este modelo assume que todos os níveis inter- mediários são representados pelos extremos testados.17 A matrização consiste na divisão das amostras em subgrupos para todos os fatores de combinação e na testagem em uma determinada frequência, sen- do que nos intervalos subsequentes outro subgrupo da amostragem deverá ser testado.17 Este modelo assume que a estabilidade de cada subgrupo de amostras testado representa a estabilidade de todas as amostras em um determinado intervalo de tempo.17 A sua aplicação se estende a produtos que possuam dosagens diferentes com formulações idênticas ou similares.17 Além dos documentos abordados, foram publicados pelo ICH guias para a determinação de impurezas, tais como solventes resi- duais18 e impurezas elementares,19 em IFAs20 e em medicamentos.21 As impurezas farmacêuticas são substâncias químicas indesejadas, que podem ser formadas durante a síntese do fármaco e do processo de formulação, devido às possíveis interações entre os componentes da fórmula, ou durante o armazenamento. Também podem ser oriun- das da embalagem que contém o medicamento.22 A presença destas substâncias, mesmo em quantidades reduzidas pode afetar a eficácia e a segurança dos produtos farmacêuticos. Os limites para impurezas são classificados em limite de notificação, no qual a impureza deverá ser reportada para a agência de vigilância sanitária; de identificação, no qual a impureza deve ser identificada por métodos apropriados; e de qualificação, em que deverá ser qualificada.20,21 A qualificação consiste no processo que estabelecerá a segurança biológica de um produto de degradação ou de um determinado perfil de impurezas especificado.22 No caso dos IFAs, o fabricante deve primeiramente elencar todas as impurezas, tanto reais quanto potenciais, que poderão surgir durante a síntese, purificação e armazenamento do IFA.22 Este resumo pode contribuir para a elucidação do perfil de degradação da substância e de possíveis produtos de degradação.22 O fabricante deve elaborar um resumo contendo todos os pro- dutos de degradação observados durante a produção e/ou estudos de estabilidade do novo medicamento e deve resumir, também, todos os estudos conduzidos com a finalidade de detectar os produtos de degradação.20,21 Além disso, deve apresentar evidências documentadas de que os métodos analíticos utilizados foram validados e se adequam para a detecção e quantificação das impurezas analisadas.20,21 O conhecimento das rotas de degradação e os estudos para o desen- volvimento do produto devem ser utilizados para caracterizar o seu perfil de degradação.20,21 Paralelamente ao ICH, a WHO publicou em 1994 o documento “Guidelines on stability testing of pharmaceutical products con- taining well-established drug substances in conventional dosage forms”,2 cujo objetivo é estabelecer os princípios gerais da garantia da estabilidade de medicamentos. Para tanto, define que produtos que contenham substâncias conhecidas e relativamente estáveis podem requerer um plano de estudo de estabilidade menos rigoroso do que as novas substâncias ativas e medicamentos.2 Desta forma, afirma que os estudos para medicamentos genéricos diferem daqueles destinados aos medicamentos que
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