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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA BOM DESPACHO RELATÓRIO DE ESTÁGIO ESPECÍFICO BOM DESPACHO 2020 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA BOM DESPACHO RELATÓRIO DE ESTÁGIO ESPECÍFICO Supervisor: Prof. Felipe Viegas Tameirão Acadêmico(a): Camila Angélica Faustina Couto BOM DESPACHO 2020 Sumário 1. PROJETO DE ESTÁGIO........................................................................................ 4 2. INTRODUÇÃO.........................................................................................................5 3. RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA.............................................................................6 3.1 Teoria psicanalítica................................................................................................6 3.2 Estruturas clínicas e seus mecanismos de defesa................................................8 3.3 Estudo de caso.....................................................................................................10 3.3.1 Caso clínico I......................................................................................................10 3.3.2 Caso clínico II.....................................................................................................12 4. CONCLUSÃO.........................................................................................................15 5. REFERÊNCIAS......................................................................................................16 1. PROJETO DE ESTÁGIO Estagiária: Camila Angélica Faustina Couto Estágio realizado: Atendimento clínico com referencial teórico psicanalítico, efetuado em formato on-line durante o período de Pandemia do Covid-19. Início: 04/08/2020 Termino: 12/11/2020 Supervisor Acadêmico: Felipe Viegas Tameirão - CRP 04/22919 5 2. INTRODUÇÂO O seguinte relatório faz-se referência a um estágio obrigatório e específico, realizado através de atendimento clínico on-line, referenciado pela Psicanalise. Diante da pandemia do Covid-19, foi necessário a reformulação de várias atividades, com isso, o atendimento psicológico onde sua realização de modo on-line já era autorizado pelo Conselho Federal de Psicologia através da resolução nº 11 de 11 de maio de 2018, tomou uma adesão maior por parte dos profissionais e também do público. Tendo em vista esse novo cenário, surge a possibilidade de realizar de modo on-line, o estágio especifico clínico, onde fazemos os atendimento em formato de psicoterapia on-line através de encaminhamentos feitos pelo CREAS, pelo ambulatório de saúde mental e pela UBS da cidade de Bom Despacho. O estágio teve duração de pouco mais de três meses, eu atendi três mulheres, uma de 24 anos, outra de 30 e outra com 33 anos. Foram realizados em média treze atendimentos com cada paciente. As supervisões com o orientador Felipe Tameirão foram realizadas em torno de uma hora e meia semanalmente em um grupo de três a seis estagiários. No presente relatório faço um breve histórico da psicanalise, introduzo conceitos importantes e em seguida relato dois dos casos atendidos por mim. 6 3. RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA 3.1 Teoria psicanalítica A Psicanalise é uma abordagem da Psicologia elaborada por Sigmund Freud, os estudos dessa teoria foi iniciado por ele ainda dentro da medicina, mas foi com a publicação da obra A Interpretação dos Sonhos, no início de 1900, que a psicanalise obtém um marco histórico, esta obra trouxe a noção de inconsciente, contrapondo as teorias de interpretações do comportamento humano da psicologia empirista que se focava em dados quantificados e mensuráveis, desprezando aspectos inconscientes. Conforme mencionado por Paula e Mendonça (2009), Freud postula como técnica de investigação, a associação livre, onde o paciente fala o que vem à mente durante o processo terapêutico e seu discurso é analisado em contexto, e também produções intelectuais como transferência, resistência e desejo. Assim, os processos psíquicos inconscientes e conceitos como sexualidade, complexo de Édipo e recalque são os fundamentos da teoria psicanalítica. A psicanalise também busca compreender o indivíduo nas expressões não ditas, nos sonhos, delírios e atos falhos. É notório a importância do estudo do inconsciente para essa teoria, “os processos psíquicos inconscientes representam os conteúdos que não estão presentes na consciência e são reprimidos e recalcados. Ou seja, são aqueles aspectos que os indivíduos não conseguem revelar.” Paula e Mendonça (2009, p. 95). Freud propôs uma teoria estrutural do aparelho psíquico, a princípio nomeada de primeira tópica de Freud, sendo disposto do consciente, pré-consciente e inconsciente, e posteriormente de segunda tópica de Freud, substituindo os conceitos anteriores consecutivamente por superego (representa a moral), ego (princípio da realidade) e id (princípio do prazer), essas estruturas interagem constantemente para que ocorra o funcionamento do aparelho psíquico. Outro marco da psicanalise se deu perante a compreensão de Freud sobre a sexualidade humana, antes entendia que a sexualidade começava a ser desfrutada a partir da adolescência, entretanto Freud comprova através de exames analíticos em adultos e observação em crianças, que as funções sexuais se dá no início da vida extrauterina. Ressalva que Freud afirmava que a sexualidade não estava relacionada apenas aos órgãos genitais, para ele a sexualidade se ramificava a diversas partes do corpo, nomeadas de zonas erógenas, a partir disso, ele distende as fases do 7 desenvolvimento psicossexual do começo da vida até a adolescência, são elas: fase oral, fase anal, fase fálica, fase de latência e fase genital. Freud afirma que a energia sexual, a libido, é a propulsão das ações dos indivíduos, não necessariamente dos desejos sexuais, mas energia presente nas atividades cotidianas, como no trabalho por exemplo, um indivíduo pode realizar bem seu trabalho movido pelo amor a ele, assim como pode não querer se envolver com muitas atividades e pessoas devido a uma baixa libido, ou seja libido é energia de vida, e ele chega a essa conclusão após estudos sobre os instintos e pulsões na vida humana. Os instintos são fatores que promovem e impulsionam a dinâmica da personalidade dos homens. São forças biológicas que liberam a energia mental. Freud considerava que existem instintos de vida, as pulsões de vida (eros), e os instintos ou pulsões de morte (thanatos), que são uma força destrutiva. As pessoas são regidas por esses dois instintos e pulsões. (PAULA E MENDONÇA, 2009, p.99). Tendo isso em vista, Silva (2007, p. 117 apud Marcuse 1966, p.33), ao dizer que “os instintos têm que ser desviados de seus objetivos, inibidos em seus anseios. A civilização começa quando o objetivo primário – isto é, a satisfação integral de necessidades – é abandonado”. Ou seja, os instintos precisam ser domesticados pela impossibilidade de serem realizados em sociedade. Esse processo se inicia no decorrer da fase anal e propriamente na fase fálica, pela castração do falo, o complexo de Édipo, a imposição do nome do pai, a inauguração do não na vida do indivíduo. O complexo de Édipo é um importante processo de estruturação da personalidade, da identificação com os pais e aquisição de valores. Alguns autores dizem que ocorre entre os dois e cinco anos de idade, quando a figura materna é objeto de desejo do menino e a figura paterna seu rival, que impede o acesso ao objeto desejado. Nesse período o menino anseia pelo amor da mãe e compete com o pai, se coloca à disposição da mãe, sente ciúmes dela,e tenta imitar, se assemelhar com o pai em busca de ter a mãe, e assim a criança passa a internalizar as regras e normas sociais imposta pela autoridade do pai, posteriormente, por medo do pai, manifestado pela angustia da castração e temor que o pai retire seus órgãos sexuais, desenvolve o sentimento de culpa e então desiste da mãe em troca de poder participar 8 do mundo social. Com as meninas esse processo ocorre com a inversão das figuras de desejo e de identificação, o chamado complexo de Electra. Assim a criança é barrada, limitada e investe sua energia sexual, a libido em outros objetos, para além do próprio corpo ou das figuras parentais, pela sublimação torna-se um ser social e ocorre o processo da produção das neuroses. 3.2 Estruturas clínicas e seus mecanismos de defesa A personalidade dentro da psicanalise clássica é entendida por três estruturas, psicose, perversão e neurose. Freud desenvolveu a psicanálise em alguns pilares, sendo o complexo de Édipo um dos fundamentadores das estruturas clinicas. Como já mencionado dentro da família, pai, mãe e filho(a) ocorre uma dinâmica de castração, a figura materna é o objeto de amor, a figura paterna, o representante da lei, e a criança que transita entre um e outro, atravessando diversas fases em seu desenvolvimento até que possa, ou não, constituir-se como sujeito de desejo e de linguagem, inserido na civilização. As estruturas são decorrentes da resolutividade do complexo de Édipo, da conduta das figuras parentais. A definição da estrutura pode estar associada a fatores genéticos, hereditários, porém como o sujeito desempenha, apreende e interpreta sua história diante das funções materna e paterna é predominante nesse desenrolar. Segundo Freud, cada estrutura possui um mecanismos de defesa especifico. Os mecanismos de defesa são importantes para o funcionamento psíquico, exteriorizada por uma série de operações realizadas pelo ego frente aos perigos que procedem do id, do superego e da realidade externa, Gomes et. al (2008 p.110 apud FADIMAN, 1980) ao dizer que “os mecanismos de defesa são um conjunto de operações que permitem reduzir ou suprimir estímulos que possam causar desprazer, tentando, assim, manter o equilíbrio do aparelho psíquico.” A psicose, designa uma reconstituição delirante ou alucinatória, por parte do sujeito que não consegue chegar à simbolização e linguagem. Há estudos que elencam como uma simbiose mãe-filho. O mecanismo de defesa dessa estrutura é conhecido como forclusão ou foraclusão, termo desenvolvido por Lacan. O psicótico encontraria fora de si tudo que exclui de dentro. O problema para o psicótico está sempre no outro, no externo, mas nunca em si. A perversão, é uma negação da castração, com fixação na sexualidade infantil. O sujeito aceita a realidade da castração paterna, que, para ele, é inegável, mas, ainda 9 assim, diferente do neurótico, tenta desmenti-la e negá-la, é o desmentido. Seu mecanismo de defesa específico é a denegação, recusa em reconhecer um fato, um problema, um sintoma, uma dor. Já a neurose para Freud, se dá na fixação da libido ao longo do desenvolvimento, apresenta como mecanismo de defesa o recalque ou repressão, o conteúdo problemático é mantido em segredo, tanto dos outros quanto de si próprio, para que alguns conteúdos fiquem recalcados ou reprimidos, a neurose provoca no indivíduo uma cisão da psique. Tudo o que é doloroso é recalcado e permanece obscuro, causando sofrimentos que o indivíduo tem dificuldade de identificar a causa, apenas os sente e como sintoma passa a reclamar de outras coisas, ele goza do seu sintoma ao querer uma coisa e fazer outra. A neurose se divide em obsessiva e histérica. Costa e Ferreira (2019, p. 255), as descreve como manifestações no corpo e pensamento: Partindo da definição básica de histeria como conversão, podemos afirmar que, no caso específico da histeria, os sintomas se inscrevem, fundamentalmente, no corpo. Isso equivale dizer que o sujeito histérico fala com o corpo, mesmo que não saiba, de fato, o texto ou o sentido deste texto. Não o sabe pois essa escrita advém do inconsciente. Na neurose obsessiva, por sua vez, tomando-a como uma neurose do pensamento, tais manifestações se inscrevem na conduta e no pensamento e, de modo semelhante, esta também desconhece o texto que o atormenta. Na neurose obsessiva, o sujeito tenta direcionar a libido para fora do corpo, nesses sujeitos é comum sintomas como racionalização, dúvida, hesitações, restrições, controle, ambivalência afetiva, entre outros que perpassam pelo campo das ideias, seu desejo é posto como impossível. Já o sujeito histérico se apresenta na sedução do Outro, ou como objeto de desejo do Outro, a histérica não quer gozar do seu desejo, somente quer desejar o desejo insatisfeito. Enquanto o histérico se questiona sobre o corpo e a sexualidade de maneira ruidosa direcionando ao Outro, por meio de seu próprio corpo, sua demanda de amor, o sujeito obsessivo se esforça para direcionar toda sua libido para fora do corpo, na tentativa de silenciar, inibir e mortificar tudo que se faça sexual, com a intenção de fazer do seu corpo uma fortaleza impenetrável (COSTA E FERREIRA, 2019, p. 255 apud BASTOS; COPPUS, 2012, p. 117). A clínica psicanalítica considera o sujeito da história, o sujeito do desejo e o sujeito do direito. Identifica-se as estruturas dos sujeitos para se ter uma direção do tratamento, classificar as estruturas é iniciar a compreensão do sujeito e seus 10 sintomas, tornando mais assertivo o processo e intervenções necessárias e contextualizadas. 3.3 Estudo de caso Através do estágio on-line, foram atendidas três mulheres na faixa etária de 25 a 33 anos, entre agosto e novembro de 2020, a partir dos atendimentos e discussões feitas em supervisão, torna-se possível estabelecer um diálogo entre cada paciente, estrutura clínica e mecanismos de defesa dentro da relação terapêutica, para isso usarei nomes fictícios em prol de preservar a confidencialidade ética. Segundo Gomes et. al 2008, aliança terapêutica (AT), primeiramente delineada por Freud em 1912 como transferência positiva, parece ter papel central de um bom prognostico. Define-se AT como uma relação positiva e estável entre terapeuta e paciente, que permite o desenvolvimento de uma psicoterapia. A aliança terapêutica é estabelecida a partir do vínculo, como cada paciente é único, a maneira de se vincular também é. “Uma das tarefas do terapeuta é estar atento aos seus sinais de vinculação e aos sinais do cliente, que vai transmitir suas experiências de vida a cada instante, na forma específica com que eles desempenham seus papéis no contexto psicoterápico”. Dias, 2013. “Um dos aspectos frequentemente mencionado como determinante da qualidade da aliança terapêutica é a personalidade do paciente, que, dentre outros aspectos, manifesta-se através do padrão defensivo do mesmo”. Gomes, 2008, p. 110. 3.3.1 Caso clínico I Paciente Jade, 25 anos, solteira, sem filhos, paulista, está morando em Bom Despacho (BD) há 7 anos, tem 3 irmãos por parte de mãe e 11 por parte de pai. Mora atualmente com a mãe, padrasto e irmão de 15 anos. Está trabalhando com a mãe em confeitaria, relata não ter bom convívio com a família, diz que seus pensamentos, valores são totalmente diferentes dos deles, apresentou ser bem impulsiva e tem baixa capacidade de lidar com frustações, ao longo de sua adolescência ela veio morar em BD com 12 anos, não se adaptou bem, voltou para casa da avó no estado de São Paulo, retornou a moradia em BD aos 17 anos, no mesmo ano retornou para casa da avó, aos 18 anos volta a residir em BD e inicia faculdade de direito, na metade do curso opta por desistir, começa técnico em enfermagem e na reta final opta novamente por desistir pois, não se identificava com a atuação profissional, noinício dos atendimentos menciona estar cursando técnico em administração. 11 Mencionou ter tido uma crise de ansiedade no início do ano devido a uma briga com sua melhor amiga, quando trabalhavam juntas no programa de combate a dengue, devido a isso pediu demissão do emprego de forma impulsiva, “sem pensar nas consequências”. Ela caracteriza seus relacionamentos como ela sendo muito solicita, se doando demais ao outro e não recebendo o devido investimento de volta. Assumiu sua homossexualidade aos 15 anos desde então vem tendo relacionamentos bem conturbados, ela relata ter fortes sentimentos e esperanças de reatar um antigo namoro, o qual teve seu termino há mais de um ano, entretanto ainda mantém contato frequentemente, possuem o mesmo grupo de amizades, ambas estão sempre se relacionando com outras pessoas nesse período. Diante disso, começamos a pensar o caso com contribuições da neurose histérica, o que se evidencia cada vez mais ao longo dos atendimentos. Jade traz relatos que mostra seu papel de objeto de desejo do Outro, enfatizando esse padrão de repetição em suas relações, e mostrando sempre sua busca por algo inalcançado, uma demanda de amor não correspondida. O gozo seria então, a manutenção da tensão, a permanência do desejo insatisfeito, o que de certa forma, se opõe ao prazer. Seguindo este raciocínio, podemos perceber a estratégia da histérica que, em geral, não quer aquele que a quer, mas sim alguém inacessível, mantendo assim seu desejo sempre insatisfeito. Essa é a relação da histérica com o amor e com o desejo. Assim se pontua na insatisfação: sempre há algo melhor para encontrar. (Simões, 2007, p. s/n). Durante o período de atendimento ela conta vários episódios de encontros e desencontros com a ex namorada, atribui a ela e ao antigo relacionamento delas uma certa idealização. A histérica fica na obstinação de querer reparar a própria falta e a do outro, ela se engaja no objetivo de tornar o outro perfeito e ela também, e aí ela encontra seu limite. A histérica tem uma demanda fálica, um desejo de reconhecimento, por isso ela sempre está numa relação amorosa sem estar, como se ela deixasse uma "saída". Quanto mais difícil o parceiro mais ela se assegura de que aquele parceiro é o ideal. (Simões, 2007, p. s/n). Menciona também, tentativas frustradas em outros relacionamentos amorosos, com uma latência insatisfação, além de desentendimentos com vários membros da família, abandono do curso profissionalizante em administração, inicia em um novo trabalho e desiste precocemente, sem motivo aparente, assim como outra tentativa 12 de morar com a avó em São Paulo, após se frustrar com a ex namorada e brigar com a mãe, lá repete seu padrão relacional, retorna para BD em menos de um mês, devido a conflito com a tia na casa da avó, ao intervir sobre sua repetição, Jade usa do mecanismo de defesa herdeiro do recalque, a negação. “Negação é um mecanismo de defesa no qual os indivíduos recordam de fatos de forma incorreta, de maneira diferente da qual foram realizados. Ou seja, esses indivíduos negam suas ações.” Paula e Mendonça (2009, p. 110 apud Fadiman e Fagner 1986). Outra característica marcante deste caso, foi as constantes faltas e quebra no contrato terapêutico por parte de Jade, em supervisão essa conduta é entendida com uma resistência ao processo. “Na ocasião da estruturação da psicanálise como método de tratamento, a arte de clinicar nada mais era do que enfrentar os aguilhões da resistência evidenciados pelos quadros de histeria.” Canavêz e Herzog 2012, p.330. Visto que, Jade apresentou compulsão em repetir experiências, mesmo sendo produtoras de desprazer, entende-se segundo Canavêz e Herzog 2012, p.330, que: Tratava-se da exigência de superar as formas de resistência sob a égide do eu, quais sejam: a que concorre para a manutenção dos conteúdos ocultados pelo recalque, a proveniente do ganho secundário da enfermidade neurótica que concede ao eu benefícios e, finalmente, a decorrente do vínculo transferencial estabelecido com o analista, o qual, embora viabilize a confiança indispensável ao tratamento, não deixa de se erigir enquanto obstáculo devido à compulsão para repetir de que se faz partidário. Entretanto, não foi possível pontuar com ela sobre isso, devido sua falta nos últimos atendimentos. Em casos que a resistência compromete o processo é aconselhado que o psicólogo traga sua interpretação para o campo da consciência do paciente, visando a continuidade e êxito do atendimento analítico. Os mecanismos de defesa são um conjunto de operações que permitem reduzir ou suprimir estímulos que possam causar desprazer, tentando, assim, manter o equilíbrio do aparelho psíquico. O uso de mecanismos de defesa está presente em todas as pessoas e é vital para o funcionamento psíquico. O que define uma melhor ou pior capacidade adaptativa é a natureza, a intensidade e a frequência do uso de mecanismos de defesa mais, ou menos, maduros. (GOMES et. al. 2008, p.110 apud FADIMAN). 3.3.2 Caso clínico II 13 O segundo caso, também trata de um quadro histérico. Paciente Tatiana, 33 anos, casada, mãe de uma bebê de um ano e meio, ocupa um cargo de liderança no trabalho, apresenta ansiedade, temperamento explosivo e agressivo, demanda querer mudar sua maneira de relacionar com as pessoas, culpa a criação que obteve dos pais por ter esse “problema” assim definido por ela. Relata que sua família de origem tem histórico de “doenças mentais”, diz que a mãe tem episódios depressivos e usa psicofármacos no tratamento, descreve seu pai como figura de autoridade e respeito sendo muito bravo com todos. É filha do meio, tendo uma irmã mais nova e um irmão mais velho. Menciona já ter sido abusada na infância mas não dá detalhes mesmo ao longo dos atendimentos. Já iniciou psicoterapia outras vezes, entretanto não foi dado continuidade. Neste primeiro atendimento, houve um fato bem característico tanto do ponto de vista de ser uma das nuances desse novo modelo de atendimento, o formato on- line, quanto no que diz respeito ao culpar os pais por seu temperamento explosivo e postura agressiva nas relações interpessoais. Tatiane estava realizado o atendimento com as devidas orientações de estar em um local privado e com uso de fones, se localizava em um quarto da sua casa, ela ouviu o pai chegar para buscar sua filha, seu marido o recebeu, mas mesmo assim, ela pediu licença e foi até o pai carregando o celular, o cumprimentou e fez questão de dizer que estava em atendimento psicológico. Este fato foi considerado posteriormente ao confirmar um possível posicionamento vitimista da paciente. Durante todo o processo, Tatiana se apresenta de maneira exacerbadamente queixosa, em relação ao trabalho, ao marido, a rotina, aos pais e irmãos e a si própria. Mosso e Martins (2012, p.63 apud Quinet, 2000) ao afirmar que: É necessário que a queixa se transforme em demanda, endereçada àquele analista, e que o sintoma saia da posição de resposta para a de uma questão para o sujeito. Assim, esse mesmo sujeito será incitado a decifrá-la. O analista entra como um questionador deste sintoma. Todavia, todas as intervenções feitas com objetivo de auxiliar na transformação da queixa em demanda não obtiveram o resultado esperado, quando dava a entender que ela estava se posicionando de maneira mais ativa no processo, logo regredia ao ponto de queixa e sintoma. Majoritariamente ela assumia um papel de vítima durante os atendimentos e em contextos da sua vida. A histérica não corre atrás de seu desejo, mas visa um ideal, e por isso está sempre se queixando, tecendo justificativas para continuar 14 naquele lugar de manter o outro idealizado - seu gozo continua como sempre em busca de reconhecimento, e na sua procura excessiva e contraditória. (SIMÕES, 2007). Em seus discursossempre se sobressaia a ideia de uma vida faltosa, manifestando sua insatisfação, mesmo reconhecendo suas conquistas, a concretização de sua própria família e o emprego almejado, em muitos momentos vislumbrava uma vida mágica e inalcançável. “Faz-se necessária, por uma questão de sobrevivência psíquica, a crença de que alguém pode ter o falo, completude, forma máxima do tudo: essa é a busca da histérica, o tudo por terror ao nada”. Simões, 2007. Ao fim do processo, relata ter notado uma melhora em seu comportamento, entendendo como útil os atendimentos, paradoxalmente, grande parte do seu discurso é marcado por insatisfação “comunicar que o desejo continua insatisfeito é a melhor forma de provar que esse desejo existe”. Simões, 2007. 15 4. CONCLUSÃO O estágio é de fundamental importância na preparação do estudante, é onde torna-se possível associar a teoria com a pratica, o momento que surge dúvidas e temos o auxílio dos professores e orientador do estágio. Este tempo dedicado aos atendimentos clínicos, das trocas na supervisão e posicionamento sobre a atuação que o profissional psicólogo necessita ter, me proporcionou muitos insights necessários para meu amadurecimento pessoal e profissional. Agradeço por essa grande oportunidade de aprender e explorar mais sobre a psicanálise, sobre a prática on-line, além de aprender com os pacientes e aprofundar nos conhecimentos da psicologia as orientações do Felipe e as contribuições dos colegas foram engrandecedoras. A prática de forma on-line mais do que nunca, se faz necessária, visto que estamos nos adaptando a um novo modelo de atendimento. Essa nova atuação foi nos imposta de forma repentina com diversos desafios para enfrentar no aqui e agora, e por meio desse estágio foi possível me familiarizar com a relação terapêutica de maneira virtual, além de propiciar termos uma visão crítica acerca dos limitadores e facilitadores dessa perspectiva que tende a ser muito utilizada nessa contexto de pandemia e pós pandemia também. Visto que, a psicologia acompanha as mudanças psicossociais ao longo de sua história, não deve ser diferente agora, como classe profissional não podemos resistir a inovação, temos que compreender, não ser contra ou a favor, afim de melhorar a prática cada vez mais, a pandemia possibilitou a abertura de mudanças, tornou os atendimentos on-line mais aderidos, forçou a quebra de resistências desnecessárias, ampliou o acesso de modo geral, que cada vez mais possamos vivenciar e especializar em atendimentos psicológicos on-line. 16 4. REFERÊNCIAS CANAVÊZ, Fernanda; HERZOG, Regina, A linguagem das resistências: considerações sobre o trauma na clínica psicanalítica. Ágora, Rio de Janeiro, Vol 15, 2012, p. 330. DIAS, Débora, A Importância da Relação Terapêutica na Pratica Clínica. Comporte- se Psicologia e análise do comportamento. 2013. Disponível em: https://www.comportese.com/2013/06/a-importancia-da-relacao-terapeutica-na- pratica-clinica . Acesso em 19 de novembro de 2020. GOMES, Fernando Grilo; CEITLIN, Lucia Helena; HAUCK, Simone; TERRA, Luciana. Relação entre os mecanismos de defesa e a qualidade da aliança terapêutica em psicoterapia de orientação analítica. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Vol 30, 2008, p. 110. MARIA, Luiza Fernandes Costa; FERREIRA, Renata Wirthmann G. Não há neurose sem corpo: um estudo sobre o lugar do corpo na histeria e na neurose obsessiva. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica. 2019, p. 255, 258. MOSSO, Carla Ribeiro, MARTINS, Geraldo Majela. A importância das entrevistas preliminares na clínica psicanalítica. Revista de psicologia, 2012, p. 63. Disponível em https://psicologianpa.wordpress.com/2012/05/29/e3-19-a-importancia-das- entrevistas-preliminares-na-clinica-psicanalitica/. Acesso 18 de novembro de 2020. PAULA, Ercília Maria, MENDONÇA, Fernando Woff. Psicologia do desenvolvimento. IESDE Brasil S.A, Curitiba, 2009, p.95, 99, 110. SILVA, Lenildes Ribeiro. Educação, repressão e princípio do prazer. Revista da Faculdade de Educação da UFG. 2007, p.117. SIMÕES, Regina Barbosa Fernandes. A recusa histérica à satisfação do desejo. Psicologia das Américas. Rio de Janeiro. 2007. Disponivel em: https://www.comportese.com/2013/06/a-importancia-da-relacao-terapeutica-na-pratica-clinica https://www.comportese.com/2013/06/a-importancia-da-relacao-terapeutica-na-pratica-clinica https://psicologianpa.wordpress.com/2012/05/29/e3-19-a-importancia-das-entrevistas-preliminares-na-clinica-psicanalitica/ https://psicologianpa.wordpress.com/2012/05/29/e3-19-a-importancia-das-entrevistas-preliminares-na-clinica-psicanalitica/ 17 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870- 350X2007000300010 . Acesso 19 de novembro de 2020. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2007000300010 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2007000300010
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