Buscar

Das Politicas Educacionais a Economia da Educação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS À ECONOMIA DA EDUCAÇÃO 
 
BATISTELA. Airton Carlos1 – FESC / UNILAGOS / UNIVEST 
 
Grupo de Trabalho - Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação 
Agência Financiadora: não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
A Teoria do Capital humano de Theodore Schultz tem em sua essência a ideia de que o 
indivíduo gasta em si mesmo de formas diversas, não apenas buscando desfrutar o presente, 
mas procurando rendimentos futuros, pecuniários ou não. Os seguidores desta teoria 
defendem que o sucesso das organizações modernas em um ambiente instável, dinâmico e 
competitivo de negócios - tal como ocorre hoje - está sendo uma decorrência cada vez maior 
de uma administração realmente eficaz de recursos humanos. Assim, dizem eles, o fator que 
realmente constitui o elemento dinâmico e empreendedor das organizações - sejam elas 
privadas ou públicas, industriais ou prestadoras de serviços, lucrativas ou não lucrativas, 
grandes ou pequenas - são as pessoas. A qualidade inerente as pessoas de uma organização, 
seus conhecimentos, habilidades e competências, seu entusiasmo e satisfação com suas 
atividades, seu senso de iniciativa para gerar valor e riqueza, tudo isso tem forte impacto na 
produtividade e lucratividade da organização, no nível de serviços oferecidos ao cliente, na 
reputação, imagem e na competitividade. Schultz destaca a importância da educação como 
investimento e reflete sobre a importância do processo educacional na preparação do ser 
humano para enfrentar os constantes ajustamentos a que é submetido, como resultado dos 
desequilíbrios econômicos e sociais tão frequentes na sociedade moderna. Embora a 
educação não assuma publicamente que é pensada a partir da teoria do capital humano, isto 
fica patente nas posturas oficiais das políticas educacionais, principalmente no ensino superior 
e na pesquisa. Este artigo pretende estruturar o arcabouço da teoria do capital humano, a partir 
de alguns conceitos básicos de sua construção, olhando para a forma como é encaminhada 
para o campo da educação e da pesquisa, objetivando fornecer subsídios de reflexão aos 
docentes e discentes de todas as áreas. 
 
Palavras-chave: Capital Humano. Educação. Economia da Educação. 
 
 
11 Mestre em Educação/PURS , Doutor em Educação/PUCPR e docente da FESC/UNILAGOS/FACVEST 
Atua nos Grupos de Estudos e Pesquisas em História, Sociedade e Educação, HISTEDBR e Núcleo de Estudos e 
Pesquisas sobre Ensino de Filosofia e Educação Filosófica - Regional Planalto Catarinense ,. Participa das 
seguintes Linhas de Pesquisa: Ensino de Filosofia, História e Políticas da Educação e Políticas e Processos 
Formativos em Educação. E-mail: batistela.airton@gmail.com 
828 
 
Introdução 
Esta pesquisa faz parte de um corpo maior de estudo que vai desde a busca das origens 
da Teoria do Capital Humano, até este ramo, mais recente, da aplicação deste modelo à 
educação, na sua versão, que aqui designamos de Economia da Educação. A pesquisa é de 
matriz teórica, construída reflexivamente. 
Desde que foi formulado, no final dos anos 1950, o conceito de Capital Humano 
passou a exercer influência sobre as políticas educacionais de muitos países, por diversos 
meios, a partir dos ideais de Schultz2. 
Entre os meios utilizados pela Teoria do Capital Humano, um se destaca na atualidade: 
a tomada da educação como investimento econômico em capital humano. Sheehan (1973, p. 
98-100), diz, em termos próximos, que os ideais da Economia da Educação foram 
viabilizados pelo esforço da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento 
Econômico, antiga Organização para a Cooperação Econômica Europeia) para introduzir o 
planejamento educacional nos países europeus, nos anos 1960. Além do fomento de estudos e 
pesquisas, a OCDE promoveu o chamado “Projeto Regional Mediterrâneo”, que visava “[...] 
traduzir as previsões de crescimento econômico em previsões de demanda de mão-de-obra e, 
a seguir, traduzir estas em previsões da demanda de várias qualificações e níveis de 
aproveitamento educacionais”, envolvendo países de renda per capita consideradas muito 
baixas para o continente (Grécia, Itália, Portugal, Espanha, Turquia e Iugoslávia). 
No âmbito desse projeto e sob o incentivo dado por ele, vários estudos3 e tentativas de 
avaliação de realidades nacionais se desenvolveram contribuindo para o robustecimento de 
um corpo teórico e de um conjunto de técnicas analíticas que deram importante impulso ao 
que viria a ser a Economia da Educação. 
Os teóricos da Economia da Educação entendem que 
 
2 As determinações da Teoria do Capital Humano não são só encontradas na educação, aparece na economia, na 
administração, na sociologia, etc. Estamos frisando esta influência na educação por tratar-se de estudo 
especificamente direcionado à este campo. 
3Para aprofundar o estudo, é fundamental consultar as obras de Theodore Schultz, O valor econômico da 
educação (1963) e O capital humano – investimentos em educação e pesquisa (1971); Frederick H. Harbison 
e Charles A. Myers, Educação, mão-de-obra e crescimento econômico (1965); Cláudio de Moura Castro, 
Investimento em educação no Brasil: comparação de três estudos (1971) e Educação, educabilidade e 
desenvolvimento econômico (1976); Mário Henrique Simonsen, Brasil 2001 (1969). 
Sobre as influências dessa disciplina no pensamento educacional brasileiro, é fundamental consultar as obras de: 
José Oliveira Arapiraca, A USAID e a educação brasileira (1982); Gaudêncio Frigotto, Educação e crise do 
capitalismo real (1995); José Willington Germano, Estado militar e educação no Brasil (2000); Wagner 
Rossi, Capitalismo e educação: contribuição ao estudo crítico da economia da educação capitalista (1978); 
829 
 
O sistema educacional, tal como qualquer outra atividade econômica, usa uma certa 
proporção dos recursos escassos da sociedade. Esses recursos poderiam ser usados 
em outras coisas: a despesa em edifícios escolares significa renunciar a edifícios 
residenciais e comerciais; a despesa em salários de professores representa 
oportunidades de emprego perdidas em outro ramo da economia. (SHEEHAN, 1973, 
p. 10). 
Como as raízes da concepção de economia da educação estão na teoria do capital 
humana, faremos a seguir uma abordagem de sua principal tese e sua estrutura, como fonte 
seminal da economia da educação. 
Desenvolvimento 
A Teoria do Capital humano4 de Theodore Schultz5 (1973) e seus seguidores defende 
que o sucesso das organizações modernas em um ambiente instável, dinâmico e competitivo 
de negócios é decorrência de uma administração realmente eficaz de recursos humanos. 
Afinal, estrutura organizacional, tecnologia, recursos financeiros e materiais ajudam muito na 
lucratividade e sustentabilidade das organizações, porém constituem apenas aspectos físicos e 
inertes que precisam ser administrados inteligentemente através de pessoas que constituem a 
inteligência que vivifica e norteia qualquer organização. 
A área empresarial brasileira vem entendendo, nas afirmações de Chiavenato (2009), 
que o fator que realmente constitui o elemento dinâmico e empreendedor das organizações - 
sejam elas privadas ou públicas, industriais ou prestadoras de serviços, lucrativas ou não 
lucrativas, grandes ou pequenas - são as pessoas. A qualidade dos funcionários de uma 
organização, seus conhecimentos, habilidades e competências, seu entusiasmo e satisfação 
com suas atividades, seu senso de iniciativa para gerar valor e riqueza, tudo isso tem forte 
impacto na produtividade e lucratividade da organização, no nível de serviços oferecidos ao 
cliente, na reputação, imagem e na competitividade. É que as pessoas fazem a diferença em 
um ambiente competitivo de negócios, defende aquele autor. 
 
4 A essência desta teoria consiste na ideia de que o indivíduo gastaem si mesmo de formas diversas, não apenas 
buscando desfrutar o presente, mas procurando rendimentos futuros, pecuniários ou não. A teoria foi anunciada 
por Theodore Schultz, em 1960, e seu “nascimento efetivo” teria ocorrido em 1962 em suplemento da revista 
científica americana Journal of Political Economy, dedicado ao tema do investimento em seres humanos. 
5 Theodore William Schultz (1902-1988), economista norte-americano, obteve o Prêmio Nobel de Economia em 
1979, compartilhado com Arthur Lewis, por sua pesquisa pioneira no desenvolvimento econômico com atenção 
particular aos problemas dos países em desenvolvimento. Nascido em Arlington, estudou na Universidade de 
Wisconsin. Foi professor de economia agrária nas Universidades de Lowa e Chicago. Além de sua 
especialização em economia agrária, trabalhou em economia do trabalho, campo no qual realizou contribuições 
importantes relativas à análise do capital humano. 
830 
 
No centro da teoria de Theodore Schultz está a importância da educação como 
investimento. Ele reflete sobre a centralidade do processo educacional na preparação do ser 
humano para enfrentar os constantes ajustamentos a que é submetido na sociedade moderna. 
Baseando-se em grande medida na ideia proposta por Irving Fisher (2007) em uma obra que 
trata dos princípios elementares de economia de 1918, que defendia que se o capital é uma 
fonte de rendimento, ao produzir fluxos de rendimentos e serviços, o homem também poderia 
ser um capital, ainda que de natureza diferente, Schultz elabora, em 1961, um artigo de grande 
repercussão acadêmica, intitulado “Investment in Human Capital”, onde construiu o conceito 
de capital humano, procurando estabelecendo sua essência e as condições da sua formação. 
A partir disto Schultz passa a entender o trabalho como uma forma de capital, 
contrariando a ideia tradicional que tomava o trabalho e os trabalhadores como uma entidade 
homogênea, com capacidades apenas para realizar trabalho manual que exigia pouco 
conhecimento e especialização. Em Schultz (1973) a ideia de homem é tomada como um bem 
similar a outras formas de “capital”. 
O ideário do capital humano defende ser ele, algo produzido enquanto fruto de 
decisões deliberadas de investimento em educação ou em formação. Para completar esta 
premissa, Schultz abarca a ideia de que os indivíduos são detentores de certas características 
pessoais (umas parcialmente inatas, como as aptidões intelectuais, e outras que vão sendo 
adquiridas ao longo da vida, tais como a educação formal e informal, a formação profissional 
e a experiência), que contribuem para o aumento da sua produtividade e, consequentemente, 
dos salários auferidos ao longo do ciclo de vida. 
Visto desta forma, há uma nítida analogia entre a produtividade física do capital e a 
educação, justificando-se o tratamento dado à educação como capital, isto é, como capital 
humano, posto que se torna parte da pessoa que a recebe. A principal hipótese que está 
subjacente a este tratamento da educação é a de que alguns aumentos importantes no 
rendimento nacional são uma consequência de investimento nesta forma de capital. Além 
disso, a educação, enquanto investimento, obedece a uma opção racional entre custos atuais e 
rendimentos futuros, no contexto mais amplo da maximização dos retornos individuais ou 
sociais. Logo, a distribuição da educação corresponde à distribuição das preferências, que é 
considerada uma variável determinada a partir de fora, por vezes influenciada pelo 
progressivo melhoramento do padrão de vida. 
831 
 
O raciocínio não para aí, a Teoria do Capital Humano se encaixa perfeitamente na 
inventiva da priorização do ensino voltado e organizado para o trabalho, ou seja, para a 
produção e formação de trabalhadores e/ou de novas medidas transplantadas no trabalho 
produtivo da sociedade capitalista. A meta é o desenvolvimento da capacidade profissional na 
busca do desenvolvimento da economia globalizada e da integração da sociedade mediante as 
atribuições que seriam de responsabilidade do Estado. 
Respondendo às reorganizações e reformas econômicas, tem-se a educação propalada 
pela égide da Teoria do Capital humano sendo vista como alavanca para o desenvolvimento 
(sustentável ?) da economia. Nessa consonância, a Teoria do Capital Humano vai permear as 
diretrizes educacionais do país, negando os paradigmas do conhecimento e impondo as 
políticas educacionais de modo tecnocrático, visualizando somente o desenvolvimento 
econômico. 
Ao se referir a Teoria do Capital Humano, Cattani (2002, p. 51) destaca que: 
A Teoria do Capital Humano apresenta-se sob duas perspectivas articuladas. Na 
primeira, a melhor capacitação do trabalhador aparece como fator de aumento de 
produtividade. (...) Na segunda perspectiva, a Teoria do Capital Humano destaca as 
estratégias individuais com relação aos meios e fins. Cada trabalhador aplicaria um 
cálculo custo benefício no que diz respeito à constituição do seu “capital pessoal”, 
avaliando se o investimento e o esforço empregado na formação seriam 
compensados em termos de melhor remuneração pelo mercado. [...] é uma derivação 
da teoria econômica neoclássica e, ao mesmo tempo, uma atualização do axioma 
liberal do indivíduo livre, soberano e racional. 
Observe-se que a educação é vista como formadora de força de trabalho, de uma 
maneira que o investimento educacional possa trazer retorno financeiro para o país, 
colaborando com seu desenvolvimento. 
Schultz (1973, p. 58) entende que a educação é uma das fontes principais do 
crescimento econômico depois de ajustar-se as diferenças nas capacidades inatas e 
características associadas que afetam os rendimentos, independentemente da educação. 
Ainda sobre a educação, este autor defende que educar é um processo de revelar ou 
extrair de uma pessoa algo potencial e latente; significa aperfeiçoar uma pessoa, moral e 
mentalmente, de maneira a torná-la suscetível de escolhas individuais e sociais, e capaz de 
agir em consonância; significa prepará-la para uma profissão, por meio de instrução 
sistemática. 
Expõe que são diversos os fatores que contribuem para a criação do capital humano, 
especialmente os seguintes: 
832 
 
a) A educação formal, a diferentes níveis (educação pré-primária, escolaridade 
obrigatória, educação secundária ou profissional, educação superior, educação de 
adultos, etc.) constitui sem dúvida a principal fonte de capital humano; 
b) A formação informal no contexto da empresa e a formação no mercado de 
trabalho; 
c) A experiência adquirida ao longo da vida profissional, em diferentes tipos de 
organizações e contextos laborais, entendendo que o nível de qualificação usada 
no trabalho pode ser uma das mais fortes influências na criação de capital 
humano; 
Além destas três, também as aprendizagens que ocorrem em ambientes mais formais 
como, por exemplo, em redes de amigos, no ambiente familiar e no contato com as 
comunidades. 
Outro aspecto importante é que sua construção é individual e, além dos fatores 
fundamentais anteriormente expostos, há também espaços característicos de cada país (sua 
estrutura econômica, política, cultural e educacional) para a construção de seu arcabouço. 
Schultz (1973) propõe alguns critérios para medir o capital humano na população em 
idade ativa: o primeiro mede o nível mais elevado de escolaridade completo, por adulto que 
agrega o capital humano (o indicador é, por exemplo, a porcentagem da população que 
terminou determinado nível de educação). O segundo mede diretamente nos adultos, se eles 
têm certos atributos relevantes para a atividade econômica (flexibilidade, capacidade de 
aprendizagem, conhecimentos gerais, competências). O terceiro centra-se em olhar para as 
diferenças de vencimentos entre os adultos, com o objetivo de estimar o valor de mercado 
desses atributos e por sua vez o valor agregado do acúmulo de capital humano. 
Quanto aos principaisretornos que o investimento em capital humano pode propiciar, 
considerados a partir do equilíbrio entre os custos do investimento e o valor dos benefícios 
consequentes, destaca-se: 
a) Custos privados aceitáveis para os indivíduos (incluindo ganhos não mesuráveis 
como melhor saúde ou maior satisfação pessoal) e ganhos econômicos calculados 
após o pagamento de todos os impostos. Ou seja, os retornos privados influenciam 
a decisão dos indivíduos em investir ou não na educação/formação; 
b) Os ganhos “sociais” da educação incluem tanto os custos privados como públicos: 
ao olharmos para os rendimentos individuais, vemos que o cálculo inclui um 
833 
 
elemento de benéfico público que é o ganho vindo dos elevados impostos pagos 
pelas pessoas com elevados rendimentos em resultado da sua escolaridade. 
c) Benefícios sociais do investimento em educação (ex. pagamento taxa mais 
elevada de impostos, menor criminalidade ou maior coesão social) também 
influenciam a tomada de decisão acerca do maior ou menor investimento 
financeiro na educação, por parte das instituições públicas, na medida em que 
esses retornos indicarão se a despesa pública dedicada à educação será 
recuperada, a longo prazo, em benefícios públicos. 
d) Os efeitos internos restringem-se normalmente ao indivíduo que detém o capital 
humano, refletindo-se, por exemplo, no impacto do nível de escolaridade, da 
formação ou da experiência profissional, na saúde das pessoas, nos rendimentos 
salariais do indivíduo (no caso dos trabalhadores por conta de outrem) ou nos 
rendimentos decorrentes da atividade empresarial (no caso de emprego por conta 
própria); por outro lado, os efeitos externos envolvem grupos de indivíduos, a 
sociedade e mesmo conjunto de países, podendo ser empiricamente observáveis 
através, por exemplo, da relação entre o nível de escolaridade médio da população 
de um determinado país ou região e a performance de crescimento da mesma, na 
redução das taxas de crime ou nos níveis de coesão social. 
Portanto, a Educação pode gerar efeitos de três formas: mudando as preferências 
individuais; mudando os obstáculos e constrangimentos que os indivíduos enfrentam; ou 
aumentando o conhecimento e informação em que os indivíduos baseiam o seu 
comportamento e as suas atividades. 
Do ponto de vista econômico, tradicionalmente, três razões básicas justificavam a 
utilização da teoria do capital humano: o custo de educar um ser humano é um custo real, o 
produto do trabalho de um ser humano faz parte da renda nacional, dessa forma, dispêndios 
em seres humanos poderiam contribuir para o incremento de sua renda individual e, assim, da 
renda nacional, já que se defende que as habilidades incorporadas aos seres humanos 
presumivelmente incrementam sua qualidade enquanto unidade de produção. 
A posição de Schultz (1973, p.15) é de que “o pensamento econômico tem 
negligenciado examinar duas classes de investimento que são de capital importância nas 
modernas circunstâncias. São elas o investimento no homem e na pesquisa, tanto no plano 
privado quanto no plano público”. O investimento no homem, segundo o autor, é responsável 
834 
 
pela maior parte do crescimento dos rendimentos reais por trabalhador. Por isso então a 
necessidade de que este investimento se estruture sobre uma possibilidade de ampliação, na 
medida em que as demandas do mercado exigirem. O autor afirma que “Ao investirem em si 
mesmas, as pessoas podem ampliar o raio de escolha posto a sua disposição. Esta é uma das 
maneiras por que os homens livres podem aumentar seu bem-estar” (SCHULTZ, 1973, p. 15). 
O autor apresenta três métodos alternativos de medição do estoque de educação. O 
primeiro método é o dos anos de escolaridade completados. Pode-se agregar à educação de 
uma população simplesmente contando o número total de anos de escola completados, ao qual 
corresponde um número médio por pessoa. O segundo método é o dos anos equivalentes de 
escolaridade completados. O terceiro método é o do custo como medida da escolaridade. 
Schultz (1973), por fim, arremata as ideias do capital humano construído pela 
educação, dizendo que como as instituições de ensino podem ter múltiplas finalidades, devem 
ser excluídos os gastos com pesquisas, competições esportivas, cuidados médicos, etc, no 
cálculo deste capital. Por outro lado, enquanto um estudante geralmente tem interesse apenas 
nos efeitos da educação sobre seus rendimentos, a sociedade precisa conhecer os efeitos da 
educação sobre a renda nacional. 
Há uma preocupação central em Schultz (1973): a de determinar a contribuição da 
educação no desenvolvimento econômico. Para tanto, parte da definição do conceito de 
educação, que apresenta significados: 
a) revelar ou extrair de uma pessoa algo potencial e latente; 
b) aperfeiçoar uma pessoas, moral e mentalmente de maneira a torná-la suscetível de 
escolhas individuais e sociais, e capaz de agir em consonância; 
c) prepará-la para uma profissão, por meio de instrução sistemática; e 
d) exercitar, disciplinar e formar habilidades, como, por exemplo, aperfeiçoar o gosto 
de uma pessoa (p. 18). 
Numa visão marcada pelo raciocínio econômico, Schultz (1973, p. 19) afirma que 
"[...] as escolas podem ser consideradas empresas especializadas em 'produzir" instrução. A 
instituição educação, que congrega todas as escolas, pode ser encarada como uma indústria". 
Portanto, a hipótese central da formulação de Schultz (1973) é a atribuição de um 
valor econômico à educação. É desta forma que a educação pode influenciar concretamente a 
produção nacional e o desenvolvimento econômico. Por conseguinte, na definição de 
educação, o único significado utilizado pelo autor é o que forma uma profissão via instrução. 
835 
 
É desta forma que poder considerar a educação como investimento. As outras definições da 
educação são, do ponto de vista econômico, consideradas como um bem de consumo durável 
pela pessoa que faz este gasto, não detendo relevância analítica no modelo desenvolvido por 
ele. 
Dirige-se Schultz (1973, p 25) a educação afirmando: "[...] sempre que a instrução 
elevar as futuras rendas dos estudantes, teremos um investimento. É um investimento no 
Capital Humano, sob forma de habilidades adquiridas nas escolas"6. 
A inovação da formalização feita Schultz (1973) está no fato de considerar um 
determinado tipo de gasto em mão-de-obra como um investimento. É uma posição conceitual 
impar na Ciência Econômica, visto que a variável investimento sempre esteve associada ao 
capital fixo, ou seja, maquinarias, equipamento e edificações. 
Na sua essência a Teoria do Capital Humano entende à educação como um 
instrumento de mobilidade ocupacional e social. Esta conclusão assenta-se em três hipóteses: 
a) existência de uma relação direta entre habilidade cognitiva e produtividade; b) o mercado 
de trabalho é contínuo, não havendo barreiras à mobilidade; c) qualquer acréscimo no nível 
educacional irá resultar em aumentos salariais (TEDESCO, 1984). 
A Teoria do Capital Humano segue, neste sentido, postura de não considerar a 
existência de conflitos entre o capital e trabalho, estabelecida pela Escola Neoclássica. Nesta 
direção, corrobora este princípio fazendo com que na sua formulação conceitual a educação 
tenha uma função de ascensão social. As causas dos baixos salários são atribuídos ao próprio 
trabalhador na medida em que ele não "investiu" na sua qualificação. 
Considerações Finais 
Para finalizar, cabe um olhar crítico sobre estas questões, que também serve de 
perspectiva para discussões futuras, como por exemplo: 
a) Adotar o conceito de capital humano e ver a educação como investimento, coloca-
a na posição de ter que defender seu valor em forma de identidade pecuniária; 
b) Se o trabalho não é uma mercadoria, porque não pode ser separado da pessoa, ou 
mais precisamente, se não é apenas uma mercadoria, tampouco é um bem de 
capital, pela mesma razão;6 - Em outra parte do livro de Schultz, encontramos uma aplicação da Teoria da Utilidade: "[...] caso a educação 
fosse gratuita, as pessoas, provavelmente a "consumiriam" até sentirem-se saciadas, e nela "investiriam" até 
que seu rendimento fosse nulo" (p. 36). 
836 
 
c) Encarando os trabalhadores não apenas como fornecedores de serviços, mas 
também como uma forma de capital, os investimentos nesse tipo de capital 
poderiam ser comparados diretamente com outros investimentos; 
d) Gastos em educação poderiam ser comparados com gastos em irrigação, 
habitação, estradas, etc. Nesse caso, a escolha social seria governada pelo 
princípio da maximização, em sua forma mais simples. 
e) A educação passa a ser um princípio de busca individual, como forma de agregar, 
em torno de si mesmo, recursos capazes de responder às necessidades de mercado 
e de consolidar o crescimento econômico, pessoal e social; 
f) A pesquisa passa a ser vista como uma forma direta de atendimento às demandas 
de mercado, ou como recurso de qualificação profissional; 
g) As formas cotidianas de vida (cultura, costumes, o conhecimento popular, etc) 
perdem espaço e importância à existência de cada pessoa; 
h) O ensino tecnicista, formalista e mercadológico encontra guarida nos espaços da 
teoria do capital humano, assim como a ênfase utilitarista da pesquisa. 
A Teoria do Capital Humano não está isenta de críticas, embora pareça que estas não 
ameaçam a viabilidade nem atingem o cerne do modelo, ele não pode se furtar daquelas que 
afirmam que a implementação do capital humano danifica a dignidade humana, comparando 
as pessoas a contentores de conhecimentos e competências, muito similares aos componentes 
mecânicos, mesmo quando se afirma a pertinência do conceito de capital humano, 
entendendo-o como sujeito que realça a crescente importância das pessoas no contexto das 
atuais economias e sociedades baseadas no conhecimento e nas competências individuais. 
REFERÊNCIAS 
CATTANI, A. (org.). Dicionário crítico sobre trabalho e tecnologia. 4ª. Ed. Petrópolis: 
Editora Vozes, 2002. 
CHIAVENATTO, Idalberto. Recursos Humanos: o capital humano das organizações. 9 
ed. Editora Elsevier, Campus, 2009. 
FISHER, Irvin. Elementary principles of economics. Nova York, bookstores, 2007. 
SHEEHAN, John. A economia da educação. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. 
SCHULTZ, T. W. O valor econômico da educação. Rio de Janeiro. Editora: Zahar, 1973. 
837 
 
_________. Investiment in human capital. The American Economic Review, v. 51, n. 1, 
mar.1961, p. 1-17. 
TEDESCO, Juan Carlos. Os paradigmas da Pesquisa Educacional na América Latina. Em 
Aberto. Brasília, 3(20), abr. 1984,

Continue navegando