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Popper e o Falseacionismo

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Prévia do material em texto

Filosofia e Ciências
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Américo Soares da Silva
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Popper e o Falseacionismo
• Falseando Teorias
• Indução vs Dedução
• O Falseacionismo
• O problema da demarcação
• Caminhos para além do falseacionismo
• Material Complementar
 · Apresentar uma síntese do pensamento de Karl Popper acerca da 
pesquisa científica, suas divergências em relação ao círculo de Viena 
e sua defesa de uma posição antidogmática na construção da ciência.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Nesta unidade, você conhecerá um pouco do pensamento do filósofo Karl 
Popper, conhecedor de diferentes áreas que acabou se voltando mais para 
a ciência e a filosofia. Suas reflexões o conduziram a questionar o próprio 
método científico de uma maneira distinta do que fizeram os pensadores 
do neopositivismo.
A recomendação a você, estudante, é dividir seus estudos em etapas: 
primeiro, faça uma leitura atenta do texto. Nesse momento, não é tão 
importante fazer marcações; busque uma compreensão de conjunto. Em um 
segundo momento, retorne ao texto, mas dessa vez você já conhece o final 
da história, não é mesmo? Então, ao retornar, você o fará com um olhar de 
investigador(a); busque pelos pontos principais: quem são os personagens 
mais relevantes dessa “história”? Que ideias cada um deles defendia? Por 
quê? Outras questões são colocadas ao longo do texto para sua reflexão? 
Quais são elas?
Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais interativo 
possível, na pasta de atividades, você também encontrará as atividades de 
Avaliação e uma Atividade Reflexiva. Cada material disponibilizado é mais 
um elemento para seu aprendizado; por favor, estude todos com atenção.
ORIENTAÇÕES
Popper e o Falseacionismo
UNIDADE Popper e o Falseacionismo
Contextualização
Leia a reportagem de Gustavo Xavier acerca do – agora benéfico – consumo de café:
Café sem culpa
Novas pesquisas garantem: o café sai do papel de vilão para encarar um mocinho 
aliado da sua saúde. Mas antes de brindar a notícia, encontre a medida que pode 
beneficiar o seu organismo.
Apreciado, amplamente consumido, saboreado de várias maneiras, o café faz 
parte da alimentação brasileira. Mesmo quem não toma costuma apreciar seu 
cheirinho agradável. E quem toma normalmente o faz diariamente. Puro, com 
leite, de manhã, de tarde, de noite, com sorvete, quente, morno, frio. O café está 
no topo dos alimentos mais consumidos. No mundo todo, só as plantas para fazer 
refrigerantes de cola e o chá ficam no mesmo patamar do café em termos de 
vegetais campeões de consumo.
Assim, nada mais útil do que entender um pouco aquelas xícaras esfumaçadas 
e saber quais são suas propriedades e efeitos para a saúde. “Café não é remédio, 
mas a comunidade médico-científica já considera a planta como funcional — que 
previne doenças — ou mesmo nutracêutica — nutricional e farmacêutica. Isso 
porque o café não possui apenas cafeína, mas também outros componentes”, 
atesta a nutricionista Priscila Maximino, da Nutrociência, em São Paulo.
Além da cafeína
Potássio, zinco, ferro, magnésio e diversos outros minerais estão presentes no 
grão, embora em pequenas quantidades. Aminoácidos, proteínas, lipídios, além de 
açúcares e polissacarídeos também o compõem. Mas nem todas essas substâncias 
permanecem nas mesmas quantidades quando o café passa pelo processo de 
torrefação. Alguns deles chegam até mesmo a ser destruídos por completo se os 
grãos são torrados excessivamente. [...]
[...] Geralmente, os grãos do café tipo Arábica, que é o mais usado para fazer o 
pó, passam por uma torrefação a 220ºC entre 12 e 15 minutos. No Brasil, os grãos 
passam, em média, por uma torrefação a 180ºC, durante cerca de 20 minutos. É 
considerado um tempo excessivo. Por isso, aqui o café costuma apresentar menor 
grau de qualidade, tanto nas propriedades nutritivas quanto no aroma, cor e sabor.
Por um lado, a torrefação é a responsável pelo fato de o café ser pouco calórico. 
Afinal, parte dos lipídios, aminoácidos e açúcares são eliminados no processo. Por 
outro, aumenta a concentração de cafeína, que não se perde.
6
7
Combate à depressão
Embora seja o componente mais conhecido do café, a cafeína constitui apenas 
uma parte de sua composição total. E é menos do que muita gente pensa, pois 
um grão normal tem de 0,8% a 2,5% de cafeína. Nem por isso deixa de ser 
parte importante desse alimento, com sua devida participação sobre os efeitos no 
metabolismo e nas reações orgânicas.
Uma das ações da cafeína se dá sobre os quadros de depressão. E, nesse sentido, 
o café parece ser um aliado importante no combate à doença. “A cafeína é um 
estimulante do sistema nervoso central e, em pequenas doses, pode trazer uma 
sensação de bem-estar, disposição e ânimo”, pondera Ricardo Borges, nutrólogo e 
coordenador do Centro de Nutrologia e Nutrição Clínica de Ribeirão Preto.
Quando a bebida vicia
A estudante Mariana Monteiro, de 20 anos, que o diga. Ela não consome café 
com exagero. Apenas uma xícara de manhã e outra no fim da tarde. Mas faz 
questão de ter sua dose de ânimo diariamente. “É um prazer indescritível. Eu me 
sinto mais disposta e até mais bem humorada”, conta.
No entanto, quando Mariana não tem à disposição sua costumeira xícara, 
que é bem quente, forte e com pouquíssimo açúcar, os efeitos são totalmente 
adversos. “Quando fico sem tomar café, a primeira coisa que sinto é uma dor de 
cabeça relativamente fraca, mas chata. Fico muito mal humorada, sem paciência e 
inquieta”, revela a estudante.
É comum que as pessoas habituadas a tomar doses diárias de café relatem 
dor de cabeça quando não o consomem. Segundo Borges, “a cafeína causa 
dependência física. O corpo precisa dela e, se não a ingere, a pessoa passa por 
um período de abstinência”.
Tratando-se ainda do sistema nervoso, também há indícios de que a cafeína 
possa reduzir a incidência da doença de Alzheimer. Porém, estudos nessa direção 
ainda são experimentais, feitos com animais, e não é possível especular sobre os 
mesmos efeitos em seres humanos.
(XAVIER, Gustavo. Café sem culpa. Disponível em: https://goo.gl/avjfg3 - Acesso em: 05 mai. 2016.)
7
UNIDADE Popper e o Falseacionismo
Falseando Teorias
Não é novidade na história do pensamento filosófico, seja sob qual enfoque for, 
que teorias levam a outras teorias. Posições teóricas levam mais cedo ou mais tarde 
à formação tanto de convergências como de divergências.
Esse movimento do pensamento também se fez fortemente presente nas 
discussões filosóficas sobre as ciências. Estavam em jogo questões sobre o que 
é ou não ciência e, em consequência, o que significa quando uma teoria recebe, 
por exemplo, o reconhecimento como “científica”. Como esse processo ocorre? 
“Quem” faz esse reconhecimento? Qual o impacto que isso tem sobre o valor 
intelectual da teoria? Ela se torna mais confiável, mais verdadeira? Pode ser mais 
preditiva? É a sua condição de “prever” acontecimentos futuros que a reveste de 
confiabilidade, de veracidade?
Essas e outras perguntas permearam, e ainda premeiam, o debate entre a 
filosofia e a ciência.
Na estrada aberta pelo pensamento do círculo de Viena e seu positivismo 
lógico, estava a discussão sobre qual deveria ser a metodologia da ciência ou, pelo 
menos, quais critérios um saber e/ou teoria deveria atender para ser reconhecida 
como científica.
Encontramos nessa mesma época um pensador que também se debruçaria sobre 
o problema do método e dos procedimentos de pesquisa da ciência, mas ele logo 
se posicionaria como um adversário intelectual das propostas do círculo.
Figura 1 - Karl R. Popper
Fonte: Wikimedia/Commons
Em 28 de julho de 1902, nasce Karl R. Popper, 
em Viena, na Áustria; cresceu em um lar com muitos 
livros, dados os estudos de seu pai e seus irmãos no 
campo das leis. O período de sua infância coincide 
com o advento da Primeira Grande Guerra. Cedo 
deixou o lar paterno para viver em uma repúblicaestudantil, e na universidade transitou por disciplinas 
diversas, como História, Psicologia, Filosofia, Física 
e Matemática.
Para compreender melhor as objeções 
popperianas, vamos retomar o problema da indução 
e da dedução.
8
9
Indução vs Dedução
O movimento usual do pensamento teórico e da sua aplicação, seja para o 
entendimento do acontecimento, seja para a sua previsibilidade – que direciona a 
ação – segue o seguinte trajeto:
Usualmente parte-se de situações particulares; depois de identificado um padrão 
de repetição, propõe-se uma explicação dessa mesma regularidade, que assume 
a forma de lei: “sempre que ocorre o fenômeno A, temos como consequência o 
fenômeno B”. Ou ainda, em sua forma lógica: “sempre que A, então B”. Uma 
vez de posse de um conhecimento que “prevê” o efeito que temos presente após 
determinada causa, é possível, então, aplicar o raciocínio dedutivo.
Fonte: iStock / Getty Images
Já que temos a lei: “Sempre que A, então B” empiricamente comprovada, ou 
pelo menos aceita, o usuário desse conhecimento diante do acontecimento A em 
seu cotidiano – seja qual for – já irá esperar o acontecimento-efeito. Por exemplo:
(Lei) “O mês de março em determinada localidade é um período extremamente chuvoso”.
“Nesta mesma localidade, quando há chuvas fortes ocorrem alagamentos”.
(Conclusão/ Previsão) “Quando chegar o mês de março aquela localidade sofrerá 
com alagamentos”.
Obviamente, a meteorologia ainda não apresenta uma precisão tão grande na 
previsão de ciclo de chuvas quanto gostariam agricultores e os agentes da defesa 
civil nas grandes cidades. Mas esse exemplo atende aos fins didáticos para explicar 
um raciocínio dedutivo.
Nele se parte de um enunciado geral (assumido como correto), passa-se para 
uma situação correlacionada e, por fim, chega-se a uma conclusão (dedução) sobre 
um acontecimento particular que “faz parte”, ou melhor, é explicado/ previsto pela 
lei geral. Porém, como se chega à lei geral?
Partindo do exemplo dado, os estudiosos observaram que ao logo da história 
(utilizam-se registros históricos para tal) sempre aquele determinado período do 
ano naquela localidade foi extremamente chuvoso; mesmo havendo variações 
9
UNIDADE Popper e o Falseacionismo
(mensuráveis), os resultados eram fortes chuvas. Poderia em um ano chover um 
pouco mais no início do mês pesquisado e no outro a chuva forte só chegar na 
segunda quinzena, porém sempre aconteceram. Quanto mais longa a linha histórica 
anterior é – quanto mais antigos os registros – confirmando o mesmo caso, mais 
verossímil se torna o enunciado geral (e preditivo), maiores são as evidências de 
sua correção.
Essa forma de pensar é indutiva – não estamos usando aqui o termo como 
muitas vezes aparece no senso comum, como “fulano induziu beltrano a fazer X 
coisa”, ou seja, não se trata de alguém manipulando alguém.
Fonte: iStock / Getty Images
O pensamento indutivo parte de enunciados particulares (mesmo que recorrentes) 
e identifica uma “regra”, um padrão universal para os acontecimentos.
Em suma: começa-se observando/ analisando o particular e cria-se uma regra 
geral (indução). Depois, de posse da regra geral se extrai dela conclusões (dedução) 
que são aplicações/ previsões com base na regra geral (teoria). Ou seja, para formar 
lei se faz indução; a partir disso, para aplicá-la utiliza-se dedução.
Todo processo de elaboração científica, até os dias atuais, sofre influência da 
abordagem indutiva. O sucesso da mesma em diferentes áreas do conhecimento 
(inclusive com a criação de tecnologias) tem servido de argumento para sua manutenção.
No entanto, como destaca Araújo (2012), Popper percebeu um problema nesse 
tipo de abordagem e retomou uma objeção que já havia sido postulada pelo filósofo 
inglês David Hume: “Não é possível saber com certeza acerca de acontecimentos 
no futuro com base nas repetições do passado”. (ARAÚJO, 2012, p. 152).
Ou seja, uma coisa é considerar que dado o acontecimento A, então B; e outra 
diferente – embora pareça uma diferença menor, ela é importante – que dado 
que tem acontecido A algumas (ou mesmo muitas) vezes, então B. A segunda 
construção não apenas não se sustenta do ponto de vista da lógica como também 
não garante elementos para uma certeza – diga-se de passagem, quase metafísica 
10
11
– na regularidade dos fenômenos. O que temos, na realidade, e é esse o ponto que 
Popper pega emprestado de Hume para a sua crítica, é uma certeza psicológica, 
uma expectativa de que se aconteceu antes aconteça novamente.
Apesar da extraordinária taxa de sucesso das teorias científicas produzidas 
via indução, filosoficamente, e por que não do ponto de vista de uma maior e 
importante prudência científica, deveríamos ser mais contidos quanto a algumas 
certezas. Nas palavras do próprio Popper:
Alguns dos que acreditam na Lógica Indutiva apressam-se a assinar, 
acompanhado Reichenbach, que “o princípio de indução é aceito 
sem reservas pela totalidade da Ciência e homem algum pode colocar 
seriamente em dúvida a aplicação desse princípio também na vida 
cotidiana”. Contudo, ainda admitindo que assim fosse – pois, afinal, “a 
totalidade da Ciência” poderia estar errada -, eu continuaria a sustentar 
que um princípio de indução é supérfluo e deve conduzir a incoerências 
lógicas. (POPPER, 1993, p. 29)
Por isso, Popper separa o que seria da psicologia do conhecimento da lógica 
do conhecimento ou da pesquisa científica. Para o pensador vienense, não cabe 
à lógica da ciência ficar enredada com questões das expectativas psicológicas sobre 
um acontecimento ou de uma nova ideia, por exemplo. Em seu livro mais célebre, 
A lógica da pesquisa científica, ele sinaliza:
Quanto à tarefa que toca à lógica do conhecimento – em oposição à 
psicologia do conhecimento –, partirei da suposição de que ela consiste 
apenas em investigar os métodos empregados nas provas sistemáticas 
a que toda ideia nova deve ser submetida para que possa ser levada 
em consideração [grifo nosso]. (POPPER, 1993, p. 32)
É importante destacar a mudança de enfoque do pensamento de Popper em 
relação aos seus contemporâneos do círculo de Viena. A discussão deixa de ser em 
torno de uma antimetafísica e passa a ser sobre a quais critérios uma ideia nova ou 
uma teoria devem ser submetidas para serem aceitas.
O Falseacionismo
Falseacionismo é como ficou conhecido o critério popperiano para a lógica da 
pesquisa científica em oposição ao verificacionismo dos neopositivistas.
Pelo método indutivista – que o círculo de Viena procurou aprimorar depurando 
a linguagem e imunizando-o da metafísica – o trabalho do cientista começa (como 
já dissemos) com a observação criteriosa dos fenômenos; dali, mensuração (de 
regularidades, intensidades, etc.), e finalmente a proposição geral na forma de 
teoria científica e com ela a de lei científica.
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UNIDADE Popper e o Falseacionismo
A proposta de Karl Popper é a de se buscar uma prova dedutiva das teorias. Em 
sua A lógica da pesquisa científica, ele discorre sobre quatro caminhos para por 
uma teoria à prova.
1. Para averiguar a coerência interna do sistema: a comparação lógica 
entre as conclusões.
2. Para checar se é uma teoria empírica (ou científica), ou se é uma teoria 
tautológica: analisar a forma lógica da teoria.
3. Para averiguar se a teoria será um avanço científico, caso venha a ser 
aceita: compará-la com outras teorias.
4. Por fim, a comprovação da teoria através das aplicações empíricas da 
mesma. ( Conf. POPPER, 1993, p. 33).
Fonte: iStock / Getty Images
Todo o processo, particularmente a última etapa, orienta-se por constatar se 
a teoria atende às exigências práticas, seja por experimentações científicas, seja 
por aplicações tecnológicas (conf. idem). O movimento dedutivo começa com 
por “assumir”, aceitar certos enunciados/predições deduzidos do corpo da teoria 
e ao lado outros enunciados que contradigam a teoria. Submetem-se ambos a 
experimentos e se confrontam os resultados. Em caso positivo, prevalecendo 
osenunciados/predições derivados da teoria, então esta foi provisoriamente 
comprovada. Por outro lado, se os enunciados/previsões que são conclusões 
oriundas da aceitação da teoria tiverem falhado nos teste, então a própria teoria da 
qual foram deduzidos também foi falseada.
Importa acentuar que uma decisão positiva só pode proporcionar 
alicerce temporário à teoria, pois subsequentes decisões negativas 
sempre poderão constituir-se em motivo para rejeitá-la. Na medida 
em que a teoria resista a provas pormenorizadas e severas, e não seja 
suplantada por outra, no curso do progresso científico, poderemos dizer 
que ela “comprovou qualidade” ou foi “corroborada” pela experiência 
passada. (POPPER, 1993, p. 34).
12
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Esse trecho transmite muito da essência da proposta falseacionista de Popper. 
Uma leitura desatenta e apressada levaria à conclusão de que “tudo é uma coisa 
só” e somente trocaram os nomes. No verificacionismo se “verifica” a teoria por 
meio de experimentos, no falseacionismo se “falseia” as teorias por meio de 
experimentos. Não. Muito cuidado, apesar da sutileza, a diferença é importante!
Ao propor uma sequência de passos e procedimentos a serem obedecidos pelos 
cientistas em suas pesquisas e ao propor que os resultados tidos como “positivos” 
– a teoria não ser falseada – são provisórios, Popper está deslocando, de uma 
perspectiva filosófica, a própria relação que a ciência tenta o tempo todo estabelecer 
com a Verdade.
Não se assume nada como Verdade no sentido absoluto. Uma conclusão 
“verificada” hoje por um experimento – e segundo o verificacionismo neopositivista 
seria aceita como verdadeira – pode perfeitamente ser desmentida num futuro, às 
vezes, nem tão distante, em que novos experimentos contradigam as informações 
apuradas no período anterior. Estabelecer-se-ia assim novas relações de causa e 
efeito, pela qual: “Não mais A então B, e sim X então B”.
Isso sequer está tão distante do nosso cotidiano como imaginamos à primeira 
vista, basta pensarmos em quantas “novidades” surgem a todo instante sobre 
pesquisas ligadas à área da saúde, em particular à área da nutrição.
O que defende Popper é uma posição mais cautelosa e rigorosa da ciência na 
elaboração das suas teorias, mas, principalmente, na aceitação das mesmas. A 
presunção de verdade pode sinalizar a ciência e a comunidade em geral que não 
há muito mais a se pesquisar sobre aquele determinado tema, isso pode engessar 
o desenvolvimento de novos conhecimentos, pois se passa a direcionar as energias 
intelectuais (cientistas) e estruturas (instituições de pesquisa) para outros temas. 
Voltar sobre passos anteriores com um novo olhar, às vezes acompanhado de novos 
conhecimentos correlatos, pode “derrubar” uma teoria, o que torna necessária uma 
nova explicação, outra teoria que articule e ultrapasse as inconsistências da anterior. 
Essa nova explicação pode perfeitamente gerar novas aplicações tecnológicas, uma 
vacina ou um novo tratamento médico, por exemplo.
O Problema da Demarcação
Enquanto o círculo de Viena fez uma “guerra contra a metafísica”, Popper 
assume uma postura bem menos beligerante.
Também para ele era importante ter clareza de quando uma teoria é ou deixa 
de ser uma teoria científica. Ele claramente anuncia que não tem como objetivo a 
“derrocada da Metafísica” (conf. POPPER, 1993, p. 38).
13
UNIDADE Popper e o Falseacionismo
Mesmo porque, segundo Popper:
Encarando a matéria do ponto de vista psicológico, inclino-me a pensar 
que as descobertas científicas não poderiam ser feitas sem fé em ideias de 
cunho puramente especulativo e, por vezes, assaz nebulosas, fé que, sob 
o ponto de vista científico, é completamente destituída de base, e em tal 
medida, é metafísica. (POPPER, 1993, p. 40)
Ao falar em “fé em ideias de cunho puramente especulativos”, sem dúvida 
deixou adeptos de neopositivismo bastante incomodados. O ponto, bem assinalado 
pelo autor, está na postura da ciência, ou melhor, do cientista. Evitar a todo custo 
o dogmatismo deveria ser uma das tarefas básicas da ciência, não apenas em 
relação a enunciados de outros domínios que não o científico, mas em relação aos 
enunciados produzidos pela própria ciência.
No “momento” da descoberta (pode-se dizer quando começam a surgir as 
primeiras pistas), o cientista pode perfeitamente ter sido arrebatado por uma 
intuição1 , a qual o leva a crer que um determinado fenômeno pode ser explicado 
a partir de certos enunciados. Essa fé não deve ser posta de lado; ao contrário, a 
convicção pode ser estimulada, desde que o cientista submeta suas especulações a 
rigorosas provas de maneira a corroborar a sua hipótese.
1 É sabido o quão complexo pode ser o conceito de intuição na filosofia. Utilizamos aqui 
o conceito em uma das suas múltiplas interpretações que entendemos ser mais próxima 
do uso cotidiano, a saber: “Todo conhecimento dado de uma só vez e sem conceitos” 
(LALANDE, 1993, p. 594).
Ex
pl
or
Quando as energias intelectuais são mobilizadas dessa forma, e seguindo critérios 
rigorosos, tendem a fazer o conhecimento se aprimorar cada vez mais.
O critério de demarcação de Popper busca delimitar sob quais critérios uma 
proposta de conhecimento pode ou não ser admitida como científica.
No entanto, isso não desqualifica outras formas de conhecimento que não 
estejam de acordo com essa classificação. Trata-se menos de conceder status de 
conhecimento melhor, como ficou insinuado entre os antigos positivistas (como 
Auguste Comte), e mais em estabelecer um acordo sobre os parâmetros que 
determinam o conhecimento como sendo científico. O próprio Popper reconhece: 
“Admito, com sinceridade, que, ao formular minhas propostas, fui guiado por juízos 
de valor e por algumas predileções de ordem pessoal” (POPPER, 1993, p. 30). O 
que o coloca fora do escopo dos autores que buscam na ciência um conhecimento 
neutro e irrefutável. As propostas popperianas se direcionam mais na busca de um 
acordo ou como ele mesmo diz: “uma convenção” (idem, p. 38). Convenção essa 
a ser atingida por interlocutores com o mesmo objetivo.
14
15
Fonte: iStock / Getty Images
Portanto, o critério de demarcação de Popper – com o qual ele separa o 
conhecimento científico dos demais – é um critério intersubjetivo.
A objetividade de uma teoria será dada pelo conflito de opiniões, opiniões 
também alicerçadas em dados e em experimentos e não apenas em simpatias 
particulares. É a comparação de resultados, o compartilhamento de informações 
e, principalmente, a permanente discussão e reexame de hipóteses que dá a 
determinado conhecimento a condição de aceitável até o momento. Não é o caso 
de um ceticismo paralisante, mas sim de uma permanente abertura para o “novo”, 
para o ainda não descoberto.
Do ponto de vista de uma abordagem à la Popper, fazer guerra contra a metafísica 
seria uma perda de tempo.
Caminhos para além do Falseacionismo
Sempre houve críticos que insistiam no pouco ganho filosófico da abordagem 
falseacionista, alguns chegaram o objetar para Popper o problema das construções 
ad hoc – termo que pode ser traduzido como: “para isto” – algo que explicaria um 
caso/ situação específico.
Tratar-se-ia de um cenário em que os cientistas produziriam hipóteses ad 
hoc quando um determinado experimento viesse a falsear uma teoria. Seria 
algo equivalente à fórmula: “A então, B” e após um experimento que colocasse 
determinado aspecto do “então B” como falso, a comunidade científica simplesmente 
rearranjariam os enunciados da teoria de maneira que: “A então, B, exceto (ad hoc) 
para X”. Ou melhor, mantém-se a regra, preserva-se a teoria, apenas adicionando 
no enunciado uma exceção para aquilo que antes era regra universal.
15
UNIDADE Popper e o Falseacionismo
Se você, estudante, achou essa “solução” um tanto quanto insuficiente, não 
foi o único. Popper também entendia que havia o risco de soluções ad hoc, 
mas nem por isso abria mão de sua posição. Há no pensamento de Popper um 
sentido ético, de dever para com a honestidadeintelectual, e os cientistas deveriam 
evitar esse “apego” exagerado às teorias estabelecidas; ao invés de fabricar mais 
exceções à regra, deveriam redobrar os esforços para aperfeiçoar cada vez mais os 
experimentos, pois deles poderia vir à luz uma nova teoria.
Como bem nos lembra Feijó:
O debate em filosofia da ciência após Popper deslocou-se do plano lógico 
para o histórico, e o próprio Popper impulsionou esse deslocamento, 
pois, ao enfatizar a convenção, destacou o papel da comunidade científica 
e os processos de comunicação entre os cientistas. (FEIJÓ, 2003, p. 56).
Esse deslocamento abriria o caminho de uma nova frente de discussão entre a 
filosofia e a ciência, a saber: “há mesmo um método racional para as ciências?”. 
“Até que ponto as condições externas à racionalidade científica interferem nas 
mudanças científicas?”.
Essas proposições ajudaram a trazer para o palco do debate historiadores da 
ciência, como Thomas Kuhn, que tentaram circunscrever a dinâmica que leva às 
transformações científicas. Mas isso é relato para outra unidade.
16
17
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Filosofia da Ciência: Introdução ao Jogo e a suas Regras
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e a suas regras. 
São Paulo: Edições Loyola, 2000.
Ciência: Conceito-Chave em Filosofia
FRENCH, Steven. Ciência: conceito-chave em Filosofia. Trad. André Klaudat. Porto 
Alegre: Artmed, 2009.
O Método das Ciências Naturais
GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método das ciências naturais. 1ed. São Paulo: 
Ática, 2010.
A Filosofia no Século XX
LACOSTE, Jean. A filosofia no século XX. Tradução de Marina Appenzeller; revisão 
técnica Constança Marcondes Cesar. Campinas: Papirus, 1992.
Filosofia da Ciência e da Tecnologia
MORAIS, Regis de. Filosofia da ciência e da tecnologia. Introdução metodológica 
e crítica [livro eletrônico]. Campinas: Papirus 2013
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UNIDADE Popper e o Falseacionismo
Referências
ARAÚJO, Inês Lacerda. Curso de teoria do conhecimento e epistemologia. 
Barueri: Minha Editora, 2012.
FEIJÓ, Ricardo. Metodologia e filosofia da ciência: aplicação na teoria social e 
estudo de caso. São Paulo: Atlas, 2003.
LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. Tradução de 
Fátima Sá Correia [et al.]. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
POPPER, Karl R. A lógica da pesquisa científica. Tradução de Leonidas 
Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. São Paulo: Editora Cultrix, 1993.
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