Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Design by Freepik E-book 1 Franceli Guaraldo TEORIA E HISTÓRIA DO DESIGN GRÁFICO Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 DESIGN GRÁFICO E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL �������������������������������������������������4 WILLIAM MORRIS E O MOVIMENTO ARTS AND CRAFTS �����������������������������������������������������16 DE ARTS AND CRAFTS AO ART NOVEAU ������������ 22 ART NOVEAU E ART DECO ����������������������������������� 43 RELAÇÃO ENTRE ARTE, INDÚSTRIA E DESIGN: DEUTSCHER WERKBUND ���������������������46 CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������� 52 SÍNTESE ������������������������������������������������������� 55 2 INTRODUÇÃO Neste e-book, vamos conhecer a trajetória e o desen- volvimento do design gráfico na cultura ocidental a partir do final do século 19. Em seguida, vamos entrar em contato com as bases e os principais conceitos norteadores do desenvolvimento do design moderno ao longo do século 20. Abordaremos as temáticas que envolvem a indus- trialização e as grandes transformações sociais, culturais e econômicas que trouxeram uma nova organização do trabalho e consolidaram a atuação profissional do designer gráfico. Nesse sentido, estudaremos os movimentos refor- mistas e a crítica à indústria por meio de William Morris e os movimentos Arts and Crafts e Art Noveau, bem como suas manifestações em diversos pa- íses europeus, como as que caracterizam o Pré- Modernismo em Chicago (EUA), Glasgow (Escócia) e Viena (Áustria). Por fim, estudaremos a Werkbund Alemã (Deutscher Werkbund ou Liga Alemã do Trabalho) e as rela- ções por ela estabelecidas com a arte, o design e a indústria� 3 DESIGN GRÁFICO E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Hollis (2001) informa que, embora a comunica- ção visual tenha uma longa história que remonta à Antiguidade, a profissão de designer gráfico passou a existir a partir de meados do século 20 na socie- dade ocidental, relacionada a três funções básicas da comunicação, a saber: 1. Identificar algo ou alguém, o que tem ocorrido ao longo de sua história por meio de brasões, marcas, símbolos, logotipos ou rótulos de embalagens. 2. Informar e instruir, estabelecendo relações entre coisas por meio de elementos direcionais, de posição e escala, como mapas, diagramas e sinais de direção� 3. Apresentar e promover, cujo objetivo é prender a atenção do espectador por meio de mensagens memoráveis, como as confeccionadas em pôsteres e anúncios publicitários. De acordo com os historiadores Adrian Forty (2007) e Rafael Cardoso (2008), a consolidação da atuação profissional em design está relacionada a um pro- cesso de organização industrial e industrialização entre o final do século 18 e durante todo o século 19, com profundas transformações nos valores sociais e 4 culturais e, consequentemente, na realidade material da Europa e dos Estados Unidos. Tais transformações ocorreram em função do empre- go de máquinas a vapor, bem como da introdução de máquinas–ferramenta, o que caracteriza o processo da Revolução Industrial. A Revolução intensifica enormemente a produção em larga escala a partir de padrões que garantem artefatos com grande uniformidade e, principalmen- te em decorrência da divisão crescente de tarefas e funções cada vez mais especializadas, com uma separação entre a concepção e/ou o projeto do ar- tefato e sua produção ou execução. Surgem, nesse contexto, os primeiros designers, con- tratados pelas fábricas para conceber os projetos, além de gerentes para supervisionar a produção e um grande número de operários sem qualificação, com baixa remuneração, para executar as tarefas produti- vas, que tomam o lugar, progressivamente, ao longo do século 19, e em diversos países europeus, das corporações de ofícios (guildas) e dos artesãos livres. Antes do processo de industrialização, o livro era o principal veículo de divulgação das informações escritas. Na sociedade industrializada, as demandas por informação e comunicação crescem vertigino- samente e, com a invenção de novas tecnologias gráficas (máquinas de impressão a vapor, compo- sitoras mecanizadas e máquinas de produção de papel), a comunicação passa a ocorrer por cartazes publicitários e jornais. 5 Isso faz com que surjam novos desenhos de tipos, com caracteres grandes e ricos em contraste (tipos display) para o uso em placas publicitárias, impressas com tipos de madeira (Figura 1 e Figura 2)� Dessa forma, os impressores tipográficos passam a enfrentar crescente pressão competitiva por parte dos impressores litográficos, que produzem lâminas com imagens de uma infinidade de letras diretamente a par- tir dos esboços dos artistas (MEGGS; PURVIS, 2009). Figura 1: Panfleto de um trem de excursões (1876). Fonte: Timetoast. 6 https://www.timetoast.com/timelines/the-history-of-graphic-design-44a77e73-69a8-417a-bb91-891203d26898 Figura 2: Cartaz para o Cirque d’hiver (1871). Fonte: Having a look at History of Graphic Design. Podcast 1 A partir da década de 1860, cresce a demanda por peças gráficas publicitárias devido ao surgimento de lojas de departamentos, de espetáculos ou entreteni- mentos públicos: circos, teatros, festas populares de todos os tipos que se multiplicam; de exposições de produtos industriais que passam a ser frequentadas como entretenimento; da realização de exposições mundiais que evidenciam a concorrência econômi- ca entre as nações, dentre as quais se destacam a Exposição Mundial de 1851, A Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria das Nações do Mundo, no Palácio de Cristal, e a Exposição Universal de 1889, no Champ de Mars, em Paris, que tem como arco de en- trada e peça central a Torre Eiffel (Figura 3 e Figura 4)� 7 http://havingalookathistoryofgraphicdesign.blogspot.com/2012/04/design-language-of-chromolithography.html http://havingalookathistoryofgraphicdesign.blogspot.com/2012/04/design-language-of-chromolithography.html https://famonline.instructure.com/files/168873/download?download_frd=1 Figura 3: Palácio de Cristal: inauguração da Grande Exposição pela Rainha Vitória. Fonte: Wikipedia. Figura 4: Pôster para a Exposição Mundial em Paris (1889). Fonte: Wikicommons. 8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Crystal_Palace_-_Queen_Victoria_opens_the_Great_Exhibition.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paris_1889_plakat.jpg Com o advento da fotografia, desenvolve-se a foto- gravura, ampliando as possibilidades de ilustração, apesar de as imagens não poderem ser reproduzidas em tamanho ampliado ou em grandes tiragens. Nesse contexto, a litografia (do grego, “impressão por pedra”) é aperfeiçoada, gerando um novo campo para as ilustrações coloridas por meio da cromolitografia em 1837. Tal fato permitiu a reprodução de toda uma gama de cores existentes nas pinturas a óleo, uma vez que seu processo implica a separação das cores em uma série de lâminas de impressão, impressas uma a uma após o estabelecimento da imagem atra- vés de uma lâmina de impressão preta, o que gera grandes consequências sociais e econômicas. Além de cartazes, surgem rótulos e embalagens impressas, o que caracteriza a comunicação global pelas pala- vras e imagens, dando início à era da “comunicação de massa” (Figura 5 e Figura 6)� Figura 5: Coleção Prang and Company impressa por cromolitografia (1880). Fonte: Tumblr. 9 https://66.media.tumblr.com/8ba8e93b4037f53ebd7b118b9c918831/tumblr_inline_pgigzoumzh1r7tn77_400.png Figura 6: Anúncio impresso da A&F Pearls Ltd. (1886) em cromolito- grafia em papel. Fonte: Collections VAM. Antes envolvido na criação de objetos de uso des- de os tempos da Idade da Pedra, o design passa a ser utilizado para configurar esteticamente os obje- tos produzidos, como mercadorias em massa que desempenhavam o papel de estimular a compra (SCHNEIDER, 2010). Isso gera a necessidade de se buscar incessante- mente o “novo”, as “novas formas” de produtos a partir de uma velha estética, ou seja, da utilização de formas provenientes de estiloshistóricos e da imitação das formas de objetos artesanais, que am- pliavam a possibilidade de venda dos novos produtos projetados, apesar das possibilidades formais pas- síveis de serem exploradas pelas inovações tecno- lógicas e pelo advento dos novos materiais� 10 https://collections.vam.ac.uk/item/O727113/bubbles-print-john-everett-millais/ Em conformidade com Meggs e Purvis (2009), esse contexto diz respeito à Era Vitoriana, período em que arquitetura, design de produtos fabricados, prataria, mobiliário e design gráfico são caracterizados por adornos extravagantes em molduras e letras (Figura 4), e buscam capturar e transmitir valores tradicionais de lar, religião e patriotismo por meio do sentimen- talismo e da nostalgia, utilizando-se de um padrão de beleza idealizado, veiculado em impressos nas imagens de crianças, donzelas, cachorrinhos e flores. Na Era Vitoriana, a tipografia é fortemente influencia- da pelos ornamentos. Dada a evolução tecnológica das fundições de tipos de metal, bem como a grande competição existente no ramo das artes gráficas no período em questão, os tipos passaram a conter dis- torções fantasiosas nas formas básicas, inspiradas nas inscrições descontraídas existentes nas peças gráficas produzidas a partir da cromolitografia. Entre os designers de tipos da época, destacam-se Hermann Ihlenburg e John F. Cumming. Entre 1866 e o início do século 20, Hermann Ilhenburg atuou na fundição MacKellar, Smith & Jordan na Filadélfia (EUA), onde desempenhou um importante papel em projeto e produção de tipos vitorianos (Figura 7, Figura 8 e Figura 9), produzindo mais de 80 tipos de display, abrindo punções para mais de 32 mil carac- teres tipográficos. 11 Figura 7: Anúncio impresso no qual prevalece a ilustração Fonte: Meggs e Purvis (2009, p. 212). Figura 8: Pequeno anúncio tipográfic. Fonte: Wikimedia. 12 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/56/The_Pope_and_Bovril.jpg Figura 9: Projetos de tipos de Hermann Ihlenburg (1880-1890). Fonte: Slubne Suknie. Nesse cenário, surgiu ainda uma nova visão crítica sobre a sociedade industrializada, a industrialização e o “industrialismo”, considerado uma ameaça ao bem-estar dessa sociedade, condições em que tem origem o movimento reformista liderado pelo arqui- 13 https://slubne-suknie.info/?n=victorian+era+typefaces teto Augustus Welby Northmore Pugin (1812-1852), quem defende a recuperação dos princípios de “pu- reza e honestidade”, como a construção limitada aos elementos estritamente necessários e a utilização do ornamento para o “enriquecimento” dos elementos construtivos, o que pode ser encontrado nas formas da arquitetura e do design do período medieval: o revivalismo gótico (Gothic Revival)� Inspirado nas ideias de Augustus Pugin, no final da década de 1840, um grupo londrino de reformistas constituído pelo arquiteto, designer e especialista em cores Owen Jones, pelo pintor Richard Redgrave e pelo burocrata Henry Cole realizou uma série de ações para “educar” o público consumidor. Entre essas ações, destacam-se a Revista de Design e Manufaturas (Journal of Design and Manufactures) — uma das primeiras revistas de design — e o livro intitulado Gramática do Ornamento (The Grammar of Ornament), de 1856, cuja autoria é de Owen Jones (Figura 10 e Figura 11)� Considerado um dos tratados mais importantes de design de todos os tempos, o livro apresenta 37 pro- posições que buscam definir as regras de aplicação da forma e cor no design, pautando-se por princípios geométricos básicos provenientes de formas natu- rais, extraídos a partir da análise de ornamentos ao longo da história, da Antiguidade ao Renascimento. 14 Figura 10: Capa The Pencil of Nature (primeiro livro ilustrado com fotografia, 1844). Fonte: Wikipedia. Figura 11: Lâmina colorida do livro The Grammar of Ornament, de Owen Jones (1856). Fonte: MeisterDrucke. 15 https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Pencil_of_Nature#/media/%20Ficheiro:The_Pencil_of_Nature.jpg https://www.meisterdrucke.it/stampe-d-arte/Owen-Jones/221747/Numero-6-egiziano,-tavola-IX,-tratto-da-%22La-grammatica-dell'ornamento%22-di-Owen-Jones-(1809-1868).html WILLIAM MORRIS E O MOVIMENTO ARTS AND CRAFTS Influenciado pelas ideias de John Ruskin (1819- 1900), o designer, pintor, escritor e socialista mili- tante William Morris (1834-1896) defende a união entre artes e ofícios (Arts and Crafts) para todos os objetos do cotidiano; retoma o conceito das guildas medievais, valorizando o trabalho artesanal, as téc- nicas tradicionais, a simplicidade e a funcionalidade dos objetos, em contraposição à homogeneidade e a baixa qualidade da produção industrial. Em 1861, o artista funda a Morris, Marshall, Faulkner & Co, uma empresa especializada em mobiliário e decoração, como papéis de parede, pratarias, tape- çarias, vitrais, azulejos etc. (Figura 12 e Figura 13)� A empresa se alicerçou no design como princípio organizador de sua existência comercial, envolvendo- -se não só no projeto, mas também na fabricação, na distribuição e na publicidade dos produtos. Em 1877, abriu-se uma loja própria no Oxford Street de Londres; em 1881, implantou uma pequena fábrica em Merton Abbey. Mantendo uma relação flexível entre design e produção, a Morris & Co. produziu artefatos com diversos preços, desde os mais po- pulares até os artefatos de luxo, sendo que alguns objetos são produzidos artesanalmente; outros, com mecanização nas oficinas de Merton Abbey, e outros ainda são projetados por Morris e colaboradores, mas fabricados por terceiros� 16 Figura 12: Estampa floral para impressão em tecido de algodão (1876). Fonte: Wikipedia. Figura 13: Design da identidade visual da Kelmscott (1891). Fonte: Wikipedia. 17 https://en.wikipedia.org/wiki/William_Morris#/media/File:Morris_Snakeshead_%20printed_textile_1876_v_2.jpg https://en.wikipedia.org/wiki/William_Morris#/media/File:%20KelmscottPress%20Colophone.jpg Ao final do século 19, a qualidade dos livros impres- sos por meios mecanizados perde a qualidade, o que faz com que William Morris se envolva ativamente com o trabalho de projetar fontes, páginas e volumes, além de pesquisar papéis, tintas e tipos para o design de livros, bem como experiências com novas fontes tipográficas. Morris fundou a editora de livros Kelmscott Press em 1891, produzindo livros artesanalmente que são requintados, utilizam os melhores materiais e são inspirados na cultura do livro medieval (Figura 14)� William Morris influenciou uma significativa atuali- zação do design de livros e da tipografia em toda a Europa Ocidental. Com isso, inspirou um renascimento das artes e ofícios, tornando-se o modelo a partir do qual surgem várias guildas de artistas que constituem o movimento Arts and Crafts (Artes e Ofícios)� Esse movimento reúne diversas organizações e ofi- cinas, como Century Guild, Art Worker’s Guild, a Guild and School of Handcraft, Arts and Crafts Exibition Society, dirigidas por Arthur H. Mackmurdo, W. R. Lethaby, C� R Ashbee e Walter Crane, em parceria com William Morris� Os artistas e designers ligados ao Arts and Crafts produziram artefatos com alta qualidade em termos de materiais e acabamentos (craftsmanship), em escala artesanal ou semiartesanal, praticando uma maior integração entre o projeto e sua execução, ao estabelecer uma relação mais igualitária entre os trabalhadores envolvidos na produção. 18 Figura 14: Páginas ilustrada e com texto de The Works of Geoffrey Chaucer (1896). Fonte: Wikimedia. Criada pelo arquiteto Arthur H. Mackmurdo, cujos membros eram o designer e ilustrador Selwyn Image e o designer e escritor Herbert Horne, a Century Guild defendia a valorização das “artes do design”, as quais deveriam ter seu lugar de direito ao lado da pintura e da escultura; desse modo, desenvolveu uma nova estética que incorporasse características relaciona- das ao Renascimento e às artes visuais japonesas. Segundo Meggs e Purvis (2009), o trabalho dessegrupo de designers/artistas constitui-se em um elo entre o movimento Arts and Crafts e a estilização floral do Art Noveau. Entre os trabalhos realizados nessa guilda, desta- ca-se o periódico The Century Guild Hobby Horse (Figura 15, Figura 16 e Figura 17), publicado entre 19 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:William_Morris_-_The_Works_of_Geoffrey_Chaucer_(The_Kelmscott_Chaucer)_-_Google_Art_Project.jpg 1884 e 1888, que se constitui na primeira revista com impressão de qualidade e dedicada à área de artes visuais. Considera-se nesse periódico o modo como se trata a impressão enquanto uma forma séria de design, com considerações a respeito do projeto gráfico, proporções e margens, espacejamento de letras e en- trelinhas, escolha de papel e tipos, contendo páginas bem elaboradas, margens generosas, amplo entreli- nhamento e meticulosa impressão repleta de ilustra- ções xilográficas feitas à mão, cabeçalhos e vinhetas decorativas, além de capitulares ornamentadas. Figura 15: Folha de rosto para Wren’s City Churches (1883). Fonte: Wikipedia. 20 https://en.wikipedia.org/wiki/Arthur_Heygate_Mackmurdo#/media/File:MackmurdoWren1883.gif Figura 16: Xilogravura da Hobby Horse (1886). Fonte: Wikimedia. Figura 17: Marca para a Century Guild (1884). Fonte: Adaptado de Wikimedia "The HobbyHorse", Wikimedia. 21 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/2/2c/HobbyHorsebird.jpg https://en.wikipedia.org/wiki/The_Hobby_Horse DE ARTS AND CRAFTS AO ART NOVEAU O Arts and Crafts influenciou o surgimento de outros movimentos artísticos voltados à inserção da arte e à criação de novas formas para o cotidiano, dentre os quais se destacam o Art Noveau, na França, dissemi- nado em diversos países da Europa, como Alemanha com o Jugendstil, Inglaterra com o Modern Style, Bégica com o Les Vingt, Aústria com o Sezessionstil, Itália com o Liberty e Espanha com o Modernismo� O Art Noveau é considerado a fase inicial do movi- mento moderno, divulgado em escala maciça, por- tanto, internacional, que ocorreu entre 1890 e 1910. Tal qual o Arts and Crafts, dá ênfase à qualidade dos objetos, imagens e ambientes do cotidiano em contraposição à mercadoria industrializada e mas- sificada; rejeita o historicismo e o conceito de “belas artes”, considerando a integração entre todas as ar- tes e uma inter-relação entre arte e artesanato. O termo art nouveau tem origem em uma galeria de Paris, administrada pelo marchand Samuel Bing, aberta em 1895 como Salon de l’Art Noveau, tor- nando-se um ponto de encontro internacional, pois o local exibia e vendia a “nova arte” proveniente de diversos artistas europeus e norte-americanos, além da japonesa� Podcast 2 22 https://famonline.instructure.com/files/168874/download?download_frd=1 Como seu ponto de partida foi a “obra de arte inte- gral”, o movimento Art Noveau unificou decoração, estrutura e planejamento funcional; o ornamento é utilizado como um elemento de ligação, ou seja, está integrado à estrutura do objeto e articula-se à sua utilidade. O movimento fez uso de novos materiais do mundo moderno, como vidro, ferro e cimento, envol- vendo o uso de ornamentos lineares e assimétricos, com formas orgânicas inspiradas na natureza. O Art Noveau estendeu-se a todas as artes, manifes- tando-se na produção artística de pequenas dimen- sões (como cerâmicas e objetos de vidro de Émile Gallé, a joalheria de René Jules Lalique), no mobiliário e design de interiores das residências burguesas (como o mobiliário e design de interiores de Hector Guimard, Victor Horta, Louis Comfort Tiffany); por fim, na arqui- tetura e no meio urbano (como a Casa Tassel de Victor Horta, o Castel Béranger e as estações de metrô de Hector Guimard, a Catedral Sagrada Família, Parque Güell, a Casa Milá e a Casa Batlló de Antoni Gaudí). No design gráfico, o Art Noveau envolve a predominân- cia de movimentos lineares orgânicos que dominam a área espacial e outros elementos visuais, tais quais cor e textura, manifestando-se nos cartazes e ilustrações de Jules Chéret, Eugène Grasset, Henri de Toulouse- Lautrec, Alphonse Mucha, Will H. Bradley, Aubrey Beardsley, dentre outros (MEGGS; PURVIS, 2009). De acordo com Hollis (2001), considera-se o artista, ilustrador e litógrafo Jules Chéret o pai do cartaz publicitário moderno, pois possui uma trajetória que 23 integra a produção artística e industrial. Aos 13 anos, forma-se como litógrafo e vai a Londres estudar téc- nicas atualizadas de litografia. De volta a Paris, na década de 1860, desenvolveu um sistema de impressão em três ou quatro cores, no qual o desenho era realizado em preto sobre um fundo com cores esmaecidas e degradê, utilizando o azul no alto, vermelho vivo e amarelo suave (Figura 18, Figura 19 e Figura 20)� Figura 18: Cartaz publicitário L’auréole du midi (1893). Fonte: WikiArt. 24 https://www.wikiart.org/en/jules-cheret/l-aureole-du-midi-p-trole-de-suret-1900 Figura 19: Pôster Jane Avril (1893) Fonte: WikiArt. Figura 20: Cartaz La Goulue au Moulin Ruge (1891). Fonte: WikiArt. 25 https://www.wikiart.org/en/henri-de-toulouse-lautrec/jane-avril-1893-1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_de_Toulouse-Lautrec#/%20media/Ficheiro:Lautrec_moulin_rouge,_la_goulue_(poster)_1891.jpg A partir de 1866, Chéret passou a se dedicar à repro- dução e à impressão dos seus próprios trabalhos que, às vezes, chegavam a ter dimensões de 2,5 me- tros de altura, sendo necessária mais de uma folha de papel. De modo geral, o design dos seus pôsteres consiste de figuras em tamanho natural, que flutuam na superfície do pôster, sem se submeterem às leis da perspectiva� Chéret realizou projetos de anúncios para eventos musicais e teatrais, rótulos e embalagens para di- versos produtos (sabonetes, licores e perfumes), utilizando-se do texto mínimo e, na maioria das vezes, de imagens de figuras solitárias, de fácil entendimen- to do público, combinação que constituiu a base para o design de pôsteres no final do século 19, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. O trabalho de Chéret influenciou outros artistas, como Henri de Toulouse-Lautrec que utilizava o de- senho em traços-chave, ou seja, o desenho é trans- ferido para pedras litográficas como uma espécie de guia para a aplicação de cores, sem luz, sombra ou profundidade. Os contornos firmes e as cores uniformes indicam a influências das xilogravuras japonesas sobre a obra de Toulouse-Lautrec. Essas xilogravuras, exibidas nas feiras mundiais de Paris (1867 e 1878) exerceram forte influência sobre vários artistas e designers no período em questão, assim como a fotografia, que estimula o uso do espaço na orientação vertical (re- trato), incomum naquela época. 26 No cartaz La Goulue au Moulin Rouge, de 1891, Toulouse-Lautrec inaugura um caminho para o de- sign de cartazes com a inserção de formas simbó- licas simplificadas e relações espaciais dinâmicas provenientes de planos chapados com silhuetas de espectadores em preto, formas ovais amarelas para luminárias, além do branco das roupas de baixo da dançarina do cancã. Tal composição resulta em ima- gens expressivas e comunicativas. O trabalho do ilustrador e designer franco-suíço Eugéne Grasset é o primeiro a competir com o tra- balho de Chéret em termos de popularidade (MEGGS; PURVIS, 2009). Influenciado pela arte medieval e a arte oriental exótica, E. Grasset elabora diversos projetos de mobiliário, vitrais, tecidos e livros� Um de seus trabalhos pioneiros nas áreas de de- sign gráfico e de tecnologia de impressão é o livro Histoire des quatre fils Aymon (1883), que integra formato, ilustração e tipografia, com a existência de molduras decorativas que enquadram o conteúdo, segmentação espacial nos leiautes de página e a parte tipográfica impressa sobre as imagens dos céus e outras áreas (Figura 21, Figura 22 e Figura 23)� 27 Figura 21: Folhas de rosto e capítulo de Histoire des quatre fils Aymon (1883). Fonte: Wikipedia. Figura 22: Folhas de rosto ecapítulo de Histoire des quatre fils Aymon (1883). Fonte: Wikipedia. 28 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a5/Histoire_des_Quatre_Fils_Aymon_-_Eug%C3%A8ne_Grasset.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/92/Histoire_des_Quatre_Fils_Aymon_-_Eug%C3%A8ne_Grasset_-_p.75.jpg Figura 23: Folhas de rosto e capítulo de Histoire des quatre fils Aymon (1883). Fonte: Wikipedia. A impressão do livro também envolve um processo inovador, pois era composto de impressão em relevo e combinava o grão da água-tinta com a fotografia colorida a partir de lâminas produzidas por Charles F. Gillot, quem transformou os desenhos a traço e aquarelas de Grasset em ilustrações delicadas. A partir de 1886, Grasset começou a projetar cartazes (Figura 24 e Figura 25), caracterizados pela existência de motivos florais e pelo desenho de formas com contornos pretos, no interior das quais existem áreas uniformes de cores suaves que contrastam com as cores intensas utilizadas por Chéret, sendo simila- res às janelas de vitrais medievais. As mulheres dos cartazes de Grasset são representadas por formas esbeltas, vestem robes longos e soltos, assumindo poses estáticas para anunciar tintas, chocolates e cerveja� 29 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c3/Histoire_des_Quatre_Fils_Aymon_-_Eug%C3%A8ne_Grasset_-_p.90.jpg Figura 24: Cartaz de exposição (1894). Fonte: Wikipedia. Figura 25: Pôster dos papéis para cigarro Job (1896). Fonte: Wikipedia. 30 https://en.wikipedia.org/wiki/Salon_des_Cent#/media/File:Exposition_Eug%C3%A8ne_Grasset_au_Salon_des_Cent.jpg https://en.wikipedia.org/wiki/Salon_des_Cent#/media/File:Exposition_Eug%C3%A8ne_Grasset_au_Salon_des_Cent.jpg O trabalho do artista gráfico tcheco Alphonse Mucha apresenta a fase floral do Art Noveau, na qual toda a área do pôster torna-se uma superfície texturizada. Segundo Meggs e Purvis (2009), nos pôsteres de A. Mucha, o tema dominante é uma figura central femi- nina que pode estar cercada de linhas orgânicas e sinuosas, motivos florais, mosaicos bizantinos, arte popular morávia e até de magia e ocultismo; as mu- lheres são exóticas e sensuais, sem nenhuma nacio- nalidade ou idade, projetam um sentido arquetípico de irrealidade e a representação estilizada dos seus cabelos torna-se uma marca registrada da época. SAIBA MAIS O Art Noveau é um dos movimentos mais impor- tantes para o desenvolvimento não só do design gráfico, mas também do design como um todo. Saiba mais sobre esse movimento, visitando os trabalhos do pintor, ilustrador e designer gráfico Alphonse Maria Mucha, um dos principais expo- entes do movimento Art Nouveau na França� A galeria virtual dos seus trabalhos está disponível aqui. Acesso em: 20 nov. 2019. Na Inglaterra, destaca-se o ilustrador e escritor Aubrey Beardsley com seu trabalho em preto e bran- co vibrante a traço de caneta e imagens exóticas. Beardsley tornou-se conhecido a partir da publicação de seu trabalho na capa e 11 ilustrações suas na parte interna da edição inaugural revista The Studio, em 1893, uma das mais importantes revistas euro- 31 https://pt.wikipedia.org/wiki/Art_Nouveau peias de artes da década de 1890 (Figura 26, Figura 27 e Figura 28). Mas fica famoso mesmo quando suas ilustrações para Le Morte d’Arthur, de Thomas Mallory, começam a ser publicadas em fascículos mensais� Figura 26: Capa edição inaugural da The Studio (1893).Fonte: WikiArt. 32 https://uploads1.wikiart.org/images/aubrey-beardsley/the-cover-of-the-studio-volume-1.jpg!HD.jpg Figura 27: Ilustração de Le morte d’Arthur (1893-1894). Fonte: WikiArt. Figura 28: Ilustração de Salomé, de Oscar Wilde (1894). Fonte: Wikipedia. 33 https://www.wikiart.org/pt/aubrey-beardsley/how-queen-guenever-made-her-a-nun-1894 https://en.wikipedia.org/wiki/Aubrey_Beardsley#/media/%20File:John+Salome.jpg Para Meggs e Purvis (2009), as composições de Beardsley são denominadas a mancha negra (The black spot), pois se baseiam em uma forma negra dominante, constituindo-se em uma nova linguagem que sintetiza as existentes nas gravuras japonesas e no trabalho de William Morris� A linha característica das ilustrações de A. Beardsley era reproduzida pelo processo de fotogravação que, de modo diverso ao bloco de madeira aberto à mão, preservava a fideli- dade total da arte original� Nos Estados Unidos, destaca-se o trabalho do ilus- trador e artista americano Will Bradley, que se nota- bilizou pelos trabalhos desenvolvidos para a revista Chap-Book (Figura 29, Figura 30 e Figura 31) e pe- los seus trabalhos em bico de pena para as capas da Inland Printer, inspirado no movimento Arts and Crafts� Seu trabalho, de acordo com Hollis (2001), também se inspirou em modelos medievais e renascentis- tas, influenciado pelo Art Noveau francês, pela lin- guagem das gravuras japonesas, bem como pela Inglaterra, particularmente pelos trabalhos de Aubrey Beardsley� 34 Figura 29: Capa para The Inland Printer (1894). Figura 30: Pôster para The Chap-book (1894). Fonte: Wikipedia. 35 https://en.wikipedia.org/wiki/Will_H._Bradley#/media/%20File:William_Henry_Bradley_-_The_Blue_Lady,_poster_for_The_Chap-Book_Google_Art_Project.jpg Figura 31: Pôster para The Chap-book (1895). Fonte: Wikipedia. Em conformidade com Meggs e Purvis (2009), Will Bradley utilizou o trabalho de A. Beardsley para a criação de uma técnica gráfica inovadora que fazia uso de técnicas fotomecânicas para produzir ima- gens sobrepostas, invertidas e repetidas. Unificou textos e imagens, transcendendo a mera imitação. Criativo em sua abordagem do design tipográfico, Will Bradley ignora todas as regras e convenções vigentes: comprime tipos em uma coluna estreita ou espaceja-os para que as linhas com muitas e poucas letras tivessem comprimento similar, formando um retângulo. Inspirado pela Kelmscott Press, fundou a Wayside Press quando se mudou de Chicago para Springfield, Massachusetts (EUA) em 1894. 36 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a1/The_Chap-Book%2C_Thanksgiving_number%2C_advertising_poster%2C_1895.jpg Nos cafés de Viena do período em questão, frequen- tados por pessoas das mais diversas áreas artísticas, ideias novas são discutidas e disseminadas. Com isso, jornais como The Studio circulam com diversas matérias sobre os desenhos de Aubrey Beardsley e o movimento Arts and Crafts, bem como sobre a Escola de Arte de Glasgow, representada por Charles Rennie Mackintosh, Herbert MacNair e as irmãs Margaret e Frances MacDonald (o grupo dos quatro), o que despertou bastante interesse na Alemanha e Áustria. Bastante influenciada pelo The Studio e pelos tra- balhos de Audrey Beardsley, a Escola de Arte de Glasgow caracterizou-se pelo uso de formas geo- métricas e construções amplas no design de interio- res e na arquitetura, com a predominância de linhas horizontais e verticais� No mobiliário, as formas eram austeras, ornamentos e símbolos foram usados com parcimônia, e as cores mais frequentes eram preto e branco� No design gráfico, desenvolveram-se trabalhos de grande originalidade cuja composição se baseia em linhas geométricas, com elementos florais e curvilí- neos com forte estrutura retilínea, com grande com- plexidade simbólica, ideias simbolistas e místicas (Figura 32, Figura 33 e Figura 34)� 37 Figura 32: Projeto ex-libris (1896); cartaz para o Glasgow Institute of Fine Arts (1895). Fonte: Carolynvee Blogspot. 38 Figura 33: Cartaz para The Scottish Musical review (1896). Fonte: Wikipedia. Figura 34: Cartaz para The Scottish Musical review (1896). Fonte: MoMA. 39 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/ba/Frances_MacDonald_-_Glasgow_Institute_Of_The_Fine_Arts.jpg https://www.moma.org/collection/works/4870?classifications=34&include_uncataloged_works=1&locale=it&page=122 As exposições e publicações da Escola de Arte de Glasgow exercem grande influência sobre o grupo de artistas vienenses que formou o Sezessionstil, que, inspirado nas propostas de WilliamMorris, buscava integrar utilidade com qualidade dentro do conceito de “obra de arte integral”. Do Sezessionstil, destacam-se o artista e designer Gustav Klimt, bem como o arquiteto, urbanista e de- signer de móveis Otto Koloman Wagner, que desen- volveu uma arquitetura determinada pela função, material e construção (Nutzstil ou estilo utilitário). A partir do Sezessionstil, surgem os Seminários de Viena (Wiener Werkstatte), os quais buscavam uma estreita união entre as belas artes e as artes aplica- das no design de tecidos e objetos de uso cotidiano, em que se incluem livros, cartões comemorativos e outros impressos, e se caracterizam por uma lingua- gem formal baseada em ângulos retos, tendo o qua- drado se transformado no elemento predominante no design gráfico, no design de joias e de mobiliário. Dentre os seus expoentes, destacam-se: Koloman Moser, com o design de mobiliário e o design gráfico de cartazes (Figura 35, Figura 36 e Figura 37), e o ar- quiteto e designer Josef Hoffmann, com o design de cartazes e a arquitetura do conhecido Palais Stoclet, construído entre 1906 e 1911 em Bruxelas (Bélgica). 40 Figura 35: Cartaz para a primeira exposição da Secessão Vienense (1898). Fonte: Wikipedia. Figura 36: Cartaz para a 13ª exposição da Secessão Vienense (1902). Fonte: MoMA. 41 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/08/Gustav_Klimt_072.png https://www.moma.org/collection/works/133907?classifications=34&include_uncataloged_works=1&locale=it&page=121 Figura 37: Cartaz de exposição dos Wiener Werkstätte (1905). Fonte: Vienna Secession. Tanto Escola de Glasgow quanto Sezessionstil são considerados vertentes mais racionalistas do movi- mento Art Noveau, ou seja, movimentos pré-moder- nistas ou precursores do movimento modernista, jun- tamente com a Escola de Chicago (EUA), considerada um dos centros da primeira fase do Modernismo e da qual faz parte Frank Lloyd Wright, um arquiteto, escritor e educador que considerava o espaço como a essência do design� Além da arquitetura, os interesses de Wright abran- giam o mobiliário, as artes gráficas, estamparia, pa- péis de parede e vitrais, estando na vanguarda do movimento moderno na virada do século 19 para o século 20. 42 https://www.theviennasecession.com/wp-content/uploads/2012/07/wiener_werkstc5a1tte_exhibition_poster.jpg FIQUE ATENTO O Art Noveau é um estilo internacional que en- globa diversas áreas projetuais: design gráfico, design de mobiliário e de produto, arquitetura e moda, além de diversos artefatos produzidos no período de 1890 a 1910. Embora o movimento contenha a qualidade visual característica da linha orgânica, inspirada em mo- tivos vegetais e florais que modulam e definem o espaço fluída e dinamicamente, ele não deve ser confundido como uma simples decoração. O Art Noveau é um estilo transitório que desem- penhou um papel central no desenvolvimento do design, sendo uma ponte entre a profusão de formas, a desordem da Era Vitoriana e o Modernismo� ART NOVEAU E ART DECO É importante considerarmos a existência de um movi- mento que surgiu a partir da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas em Paris, em 1925, denominado Art Déco. A Art Déco consiste de uma mistura eclética de muitos compo- nentes diferentes entre si, nutrindo-se de elementos estilísticos diversos, dentre os quais se destacam aqueles provenientes da Art Noveau, da Werkbund alemã, das vanguardas artísticas e da Bauhaus, uma 43 escola pioneira de arte, design e arquitetura, que in- fluenciou o desenvolvimento do design ao longo do século 20. O estilo Art Déco foi empregado em diversas áreas do design, como o de interiores, de mobiliário, gráfico e de moda, voltando-se inicialmente à produção de peças únicas e exclusivas, feitas de materiais raros e preciosos. Em Paris, aparece nos cartazes e nos figurinos de Leon S. Bakst para os Ballets Russes, nos catálogos de moda do estilista Paul Poiré (Figura 38, Figura 39 e Figura 40), nas ilustrações de Georges Barbier, no design de cartazes de Charles Geismar etc� Revistas de moda americanas, como a Vogue, Vanity Fair e Harper’s Bazaar adotaram a linguagem gráfica do Art Deco, popularizando-o nos Estados Unidos da América. Figura 38: Ilustração dos trajes projetados por Poiré (1908). Fonte: Wikipedia. 44 https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Poiret#/media/Ficheiro:Iribe_%20Les_Robes_de_Paul_Poiret_p.17.jpg Figura 39: Cartaz de Moulin Rouge (1925). Fonte: Wikipedia. Figura 40: Capa da Harper’s Bazaar (1922). Fonte: Wikimedia. 45 https://pt.wikipedia.org/wiki/Art_d%C3%A9co#/media/Ficheiro:%20Moulin_Rouge_Music-Hall.jpg https://en.wikipedia.org/wiki/Ert%C3%A9#/media/File:%20Ert%C3%A9_Harpers_Bazar_cover_Feb_1922.jpg RELAÇÃO ENTRE ARTE, INDÚSTRIA E DESIGN: DEUTSCHER WERKBUND É importante mencionar aqui a Werkbund Alemã (Deutscher Werkbund) ou Associação de Artes e Ofícios, fundada em Munique, em 1907, por Peter Behrens, Hermann Muthesius, Henry Van Del Velde, Joseph Olbrich, Josef Hoffmann etc., como uma associação de empresários alemães, arquitetos, ar- tistas, designers, ligados ao movimento Jugendstil (Figura 41 e Figura 42), que buscavam elevar os pa- drões de qualidade na indústria por meio da coope- ração entre arte, indústria e ofícios artesanais, um aumento do valor de uso dos produtos e a satisfação dos interesses dos usuários, a disseminação do “bom gosto” por um “bom design para todos”. Figura 41: Cartaz para o concentrado alimentar Tropon (1899); The Kiss (1898). Fonte: Wikimedia. 46 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6e/Poster%2C_Tropon_est_l%27aliment_le_plus_concentr%C3%A9_%28Tropon%2C_the_most_concentrated_food_supplement%29%2C_1898_%28CH_18707967%29.jpg Figura 42: The Kiss (1989). Fonte: Wikimedia. Inspirada pelo conceito de qualidade do movimento Arts and Crafts, a Werkbund Alemã se diferencia des- se movimento por aceitar as condições da produção industrial. Seus principais expoentes foram Henry van del Velde, Peter Behrens, Walter Gropius e Mies van der Rohe� Henry van del Velde foi arquiteto, pintor, designer e um dos principais expoentes do movimento Art Noveau belga, integrando influências como a gravura japonesa, o Art Nouveau francês, o movimento Arts and Crafts inglês e, mais tarde, a Escola de Glasgow no seu trabalho. Influenciado por Morris, criou livros para editoras privadas e se empenhou em convencer a grande indústria a permitir que o artista determi- nasse o design de seus produtos. 47 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/20/Print%2C_Der_K%C3%BCss._%28The_Kiss%29%2C_from_Pan%2C_vol._4%2C_no._2%2C_1898%2C_1898_%28CH_18701989%29.jpg Peter Behrens foi um pintor, arquiteto e designer ale- mão, que atuou em 1907 na Allgemeine Elektricitäts Gesellschaft (AEG), projetando vários de seus pro- dutos, a imagem gráfica e arquitetônica da empre- sa (Figura 43 e Figura 44), sendo considerado um designer pioneiro pelo seu projeto do sistema de identidade visual para a AEG (Figura 45 e Figura 46)� Figura 43: Cartaz de lâmpada elétrica da AEG (1910). Fonte: Color Grammar. 48 https://colorgrammar.files.wordpress.com/2013/12/aeg.jpg https://colorgrammar.files.wordpress.com/2013/12/aeg.jpg Figura 44: Página de catálogo para as chaleiras AEG (1908). Fonte: Blografik. Peter Behrens constrói pela primeira vez uma ima- gem corporativa coerente da AEG, pois unifica sua identidade visual na mídia publicitária (catálogos, listas de preços etc.) na fachada dos seus edifícios, bem como nos seus produtos. Figura 45: Evolução da marca da AEG (1908). Logos AEG. 49 https://www.robertomaiolino.it/blografik/2017/11/20/corporate-identity-immagine-coordinata/ https://1000logos.net/wp-content/uploads/2018/02/AEG-logo-history.jpg Figura 46: Capas para o manual de orientação do pavilhão da AEG na Exposição da Indústria Naval Alemã (1908). Fonte: Adaptada de Research Gate (primeira imagem), Research Gate (segunda imagem). Meggs e Purvis(2009) afirmam que a marca da AEG (em forma de favo de mel contendo as suas iniciais — Figura 19) está relacionada ao conceito de uma ordem matemática, além de ser uma metáfora visual da complexidade e organização de uma empresa no século 20, isto é, uma colmeia. Com o objetivo de diferenciar e unificar as comuni- cações da AEG em relação aos demais materiais impressos existentes na época, Behrens projetou um tipo exclusivo para a identidade visual da Empresa: a Behrens Antiqua, com um desenho de letras em estilo romano inspiradas em inscrições clássicas, as quais continham um caráter mais universal e monumental, o que podia evocar um sentido positivo de qualidade e desempenho� 50 https://www.researchgate.net/profile/Cyril_Tjahja2/publication/321225192/figure/fig2/AS:563508213280768@1511362235735/AEGs-logo-and-covers-of-printed-materials-designed-by-Peter-Behrens.png https://www.researchgate.net/profile/Cyril_Tjahja2/publication/321225192/figure/fig2/AS:563508213280768@1511362235735/AEGs-logo-and-covers-of-printed-materials-designed-by-Peter-Behrens.png A primeira aplicação da marca e dos tipos da empre- sa constam no folheto de orientação, elaborado por Peter Behrens, para o pavilhão da AEG na Exposição da Indústria Naval Alemã de 1908. O programa de identidade visual da AEG fez uso de três elemen- tos centrais: uma marca, uma família tipográfica e um leiaute consistente com elementos de formatos padronizados� REFLITA Marcada pelo processo de industrialização, a con- temporaneidade e a relação entre arte, design, ar- tesanato, indústria e suas possíveis integrações e/ou diálogos têm sido discutidos por diversos movimentos artísticos. Essas discussões ainda estão presentes no nosso dia a dia, em objetos e imagens que consumimos e criamos. Tomando por base a compreensão dos concei- tos explicitados no conteúdo desta unidade, re- flita sobre isso, identificando sua existência em imagens e peças de design gráfico contemporâ- neo do seu cotidiano. 51 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste e-book, foi possível percebermos o intrincado processo de consolidação da atuação profissional do designer gráfico, com relação ao de- senvolvimento de uma sociedade de consumo cada vez mais urbana e industrializada, mas também com relação ao desenvolvimento de novas tecnologias gráficas que possibilitaram aos artistas/designers desenvolver novos desenhos para os caracteres utili- zados nos textos, bem como a exploração de possi- bilidades de integração entre o texto e a imagem em diversas peças gráficas, como cartazes e anúncios, além dos livros. Quando se comprometeram com a concepção do projeto, responsabilizando-se por todos os elementos que deveriam ser reproduzidos por uma máquina, os designers estavam começando a praticar o que mais tarde ficou conhecido como design gráfico. O período em que tais transformações econômi- cas, sociais e tecnológicas aconteceram foi a Era Vitoriana, que se caracterizou pela profusão de for- mas e ornamentos resgatados de diversos momen- tos históricos� Nesse contexto, surgiu uma crítica à industrialização e ao industrialismo em função da baixa qualidade dos artefatos produzidos em processos industrializados, 52 e também pelas condições precárias de vida dos trabalhadores na indústria� Essa crítica, liderada por William Morris, propicia o surgimento do movimento Arts and Crafts, o qual defende uma arte para o povo e aplicada a todos os objetos do cotidiano, valori- zando o trabalho artesanal, as técnicas tradicionais, a simplicidade e a funcionalidade dos objetos em contraposição à homogeneidade e baixa qualidade da produção industrial. As ideias de William Morris e o movimento Arts and Crafts influenciaram, por sua vez, o surgimento de outros movimentos que se voltaram à criação de novas formas para o cotidiano, dentre os quais se destacam o Art Noveau, em suas diversas manifesta- ções no continente europeu, e a Deutscher Werkbund ou Associação de Artes e Ofícios, na Alemanha. O movimento Art Noveau iniciou-se na França, mas se expandiu por toda a Europa, tornando-se um movi- mento internacional. Orientou-se principalmente por modelos da natureza, e não rejeitava o historicismo da Era Vitoriana, mas tinha como ponto de partida a obra de arte integral, e buscava unificar decoração, estrutura e planejamento funcional. Nesse sentido, o ornamento passou a ser utilizado como um elemento de ligação, estando integrado à estrutura do objeto, articulando utilidade e ornamento. A Werkbund alemã retoma também o conceito de qualidade do movimento Arts and Crafts, mas se diferenciava dele, uma vez que buscava elevar os padrões de qualidade na indústria por meio da co- 53 operação entre arte, indústria e ofícios artesanais� Esses movimentos e a questão da relação entre arte, design, indústria e produção artesanal nortearam o desenvolvimento do design moderno ao longo do século 20. 54 SÍNTESE WILLIAM MORRIS E O MOVIMENTO ARTS AND CRAFTS • William Morris se envolveu ativamente com a produção de livros artesanais, com o trabalho de projetar fontes, páginas e volumes, e de pesquisar papéis-tintas e tipos para o design de livros, também em experiências com novas fontes tipográficas, fundando a Kelmscott Press, em 1891; • Movimento Arts and Crafts. DO ARTS AND CRAFTS AO ART NOVEAU • O movimento Art Noveau, influenciado por William Morris e o Arts and Crafts, foi o primeiro movimento de caráter internacional, tendo se manifestado em diversos países, além da França, como: na Alemanha como Jugendstil, na Inglaterra como Modern Style, na Bégica como Les Vingt, na Áustria como Sezessionstil, na Itália como Liberty, e na Espanha como Modernismo; • O Art Noveau se caracteriza pelo uso de ornamentos lineares e assimétricos, com formas orgânicas inspiradas na natureza. Existem vertentes desse movimento que são mais estruturalistas e racionais, e buscam a linha simples e a austeridade das formas geométricas, criando objetos de uso com ênfase em seus aspectos funcionais: Escola de Glasgow e a Secession de Viena. ART DÉCO • O Art Déco é um movimento que surge com Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, em Paris (1925). Esse movimento não se relaciona a conceitos uniformes como o de funcionalidade, mas consiste de uma mistura eclética de muitos componentes diferentes entre si, nutrindo-se de elementos estilísticos provenientes do Art Nouveau, da Werkbund alemã, da Bauhaus, do Cubismo, do Futurismo, do De Stijl e de culturas diversas, como a africana, egípcia ou chinesa, asteca, hindu, entre outros; • O estilo Art Déco foi empregado em diversas áreas do design, entre as décadas de 1920 e 1930, como no design de interiores, de mobiliário, design gráfico e de moda, voltando-se, inicialmente, para a produção de peças únicas e exclusivas, feitas de materiais raros e preciosos. RELAÇÃO ENTRE ARTE, INDÚSTRIA E DESIGN: DEUSTCHER WERKBUND • A Werkbund Alemã ou Associação de Artes e Ofícios, fundada em Munique (1907), por empresários alemães, arquitetos, artistas, designers, ligados ao movimento Jugendstil, busca elevar os padrões de qualidade na indústria através da cooperação entre arte, indústria e ofícios artesanais, um aumento do valor de uso dos produtos e a satisfação dos interesses dos usuários, a disseminação do “bom gosto” através de um “bom design para todos”. DESIGN GRÁFICO E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL • A organização industrial e a industrialização que ocorreu entre os séculos 18 e 19, que culminou com a Revolução Industrial, gerou grandes transformações econômicas e sócio-culturais na Europa e nos Estados Unidos. Surgem os cartazes publicitários e jornais, rótulos e embalagens impressas, além dos livros e os novos desenhos de tipos. Além da tipografia, os impressos são produzidos através da litografia, a fotogravura e a cromolitografia. TEORIA E HISTÓRIA DO DESIGN GRÁFICO DESIGN GRÁFICO E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Referências Bibliográficas &Consultadas BURDEK, B. E. História, Teoria e Prática do Design de Produtos. 2. ed. São Paulo: Blücher, 2010 [Minha Biblioteca]� CARDOSO, R� Uma introdução à história do de- sign. São Paulo: Edgard Blücher, 2008 [Minha Biblioteca]� CONSOLO, C� (Org�)� Tipografía em Latinoamérica: Orígenes y Identidad. São Paulo: Edgard Blücher, 2013 [Minha Biblioteca]. FORTY, A� Objetos de Desejo: design e sociedade desde 1750. São Paulo: Cosac Naify, 2007. HOLLIS, R� Design Gráfico: uma história concisa� São Paulo: Martins Fontes, 2001. MEGGS, P. B.; PURVIS, A. W. História do Design Gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009. PATROCÍNIO, G.; NUNES, J. M. (Orgs.). Design e Desenvolvimento: 40 anos depois. São Paulo: Edgard Blücher, 2015 [Minha Biblioteca]. SANTOS, J. C. C. História da arte e do design� Porto Alegre: Sagah, 2018 [Minha Biblioteca]. SCHNEIDER, B� Design: uma introdução: o design no contexto social, cultural e econômico� São Paulo: Edgard Blücher, 2010. _GoBack INTRODUÇÃO DESIGN GRÁFICO E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL WILLIAM MORRIS E O MOVIMENTO ARTS AND CRAFTS DE ARTS AND CRAFTS AO ART NOVEAU ART NOVEAU E ART DECO RELAÇÃO ENTRE ARTE, INDÚSTRIA E DESIGN: DEUTSCHER WERKBUND CONSIDERAÇÕES FINAIS Síntese
Compartilhar