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INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS – IBET MÓDULO I: TRIBUTO E SEGURANÇA JURÍDICA SEMINÁRIO II – ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS TURMA 2021.01-TSJ-BSB FLÁVIO AUGUSTO MARINHO VIDIGAL Questões 1. Efetue, de forma fundamentada, proposta de classificação jurídica dos tributos, evidenciando os critérios classificatórios adotados. A destinação do produto da arrecadação tributária é relevante para a classificação jurídica dos tributos e consequente definição das espécies tributárias? Considerar, na análise da pergunta, o art. 167, inciso IV, da CF/88, e o art. 4º do CTN. (Vide anexo I). A legislação tributária pode proibir a compensação de tributos entre diferentes espécies sob a justificativa de que a destinação das receitas são diferentes? (Vide REsp 1.449.713) R: O objetivo da classificação jurídica dos tributos é a individualização e a identificação de suas diferentes naturezas jurídicas. Nesse sentido, os tributos podem ser juridicamente classificados em cinco espécies, quais sejam, impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições especiais e empréstimos compulsórios. Observa-se que essa classificação difere daquela preconizada pelo artigo 4º do CTN (classificação tripartite), pois não leva em consideração apenas o fato gerador como elemento determinante da natureza jurídica dos tributos. Na Constituição da República, além do fato gerador, é possível identificar outros critérios classificatórios, quais sejam, a destinação do produto e a restituição do valor arrecadado, muito embora o art. 145 estabeleça expressamente que os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria são os tributos que poderão ser instituídos pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios. É que em seu art. 149, a Constituição prevê as contribuições especiais e determina como qualificação a sua destinação, passando este a configurar como um dos critérios de classificação dos tributos. Já a restituição do tributo respalda o empréstimo compulsório, uma vez que se terá que pagar o tributo e a União é obrigada a devolver o valor pago. O Ministro Moreira Alves assim se manifestou sobre o tema no Recurso Extraordinário n°. 146.733/SP: “Sendo, pois, a contribuição instituída pela Lei 7.689/88 verdadeiramente contribuição social destinada ao financiamento da seguridade social, com base no inciso I do artigo 195 da Carta Magna, segue-se a questão de saber se essa contribuição tem, ou não, natureza tributária em face dos textos constitucionais em vigor. Perante a Constituição de 1988, não tenho dúvida em manifestar-me afirmativamente. De feito, a par das três modalidades de tributos (os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria) a que se refere o artigo 145 para declarar que são competentes para instituí-los a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, os artigos 148 e 149 aludem a duas outras modalidades tributárias, para cuja instituição só a União é competente: o empréstimo compulsório e as contribuições sociais, inclusive as de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas”.1 A destinação do produto para arrecadação tributária é relevante para classificar os tributos apenas no tocante às contribuições especiais, haja vista que a sua destinação configura verdadeiro critério de classificação da natureza jurídica dos tributos. Entretanto, no caso do imposto, a destinação do produto não é relevante, sendo vedada pelo artigo 167, inciso IV, da CF/88, sendo que para esses casos a classificação é feita com base no fato gerador. Com base no exposto acima, a legislação tributária pode sim proibir a compensação de tributos entre diferentes espécies sob a justificativa de que a destinação das receitas é diferente. 2. Que é taxa? Que se entende por o “serviço público” e “poder de polícia”? (Vide anexo II). Há necessidade de comprovação da efetiva fiscalização para cobrança da taxa de poder de polícia? (Vide anexos III, IV e V). R: Taxa é a modalidade de tributo que tem por fato gerador uma necessária atividade estatal diretamente relacionada ao sujeito passivo. É um tributo cobrado em razão de e vinculado a uma atividade estatal específica (serviço público ou exercício de poder de polícia), que tem como destinatário o sujeito passivo do tributo sendo, pois, um tributo contraprestacional, usado na remuneração dessa atividade estatal, sendo, pois, a ela vinculado. O serviço público é a atividade estatal destinada a promover alguma 1 CRIALES, Marly Moreira Couto. Teorias das classificações dos tributos, https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-tributario/teorias-das-classificacoes-dos- tributos/#_edn45, consulta realizada em 07 de abril de 2021. https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-tributario/teorias-das-classificacoes-dos-tributos/#_edn45 https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-tributario/teorias-das-classificacoes-dos-tributos/#_edn45 comodidade ou alguma utilidade em benefício dos administrados. Já o poder de polícia pode ser definido nos termos do art. 78 do CTN como “a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”. Isto é, poder de polícia é um poder da administração pública que limita direito, interesse ou liberdade, em razão do interesse público. Caracteriza-se por toda atividade de fiscalização, regulamentação e disciplina do exercício de um direito, ou seja, é uma atividade de fiscalização exercida pelo poder público. A cobrança da taxa do poder de polícia prescinde da efetiva comprovação de fiscalização, desde que a Administração Pública disponha da adequada estrutura que viabilize a fiscalização. O poder de polícia é uma prerrogativa do estado, que resta autorizado a restringir direitos, propriedades e liberdades em benefício do interesse da coletividade, ou seja, trata-se de uma prerrogativa presumida da Administração Pública. O fato de essa prerrogativa não ser efetivamente exercida não justifica a não incidência da respectiva taxa, de modo que a mera possibilidade de fiscalização já configura fato permissivo da cobrança desse tipo de taxa. 3. Que diferencia taxa de preço público? (Vide voto do Min. Carlos Velloso na ADI 447). Os serviços públicos de energia elétrica, água e esgoto, quando prestados diretamente pelas pessoas jurídicas de direito público, são remuneráveis por taxa? E no caso de concessão desses serviços? (Vide anexos VI e VII). E os serviços que, embora prestados pelo Poder Público, são suscetíveis de prestação pela iniciativa privada em regime concorrencial? (Vide anexo VIII). R: A principal diferença entre taxa e preço público reside no fato de a taxa constituir tributo e o preço público não. As taxas são compulsórias e somente podem ser instituídas por lei; já o preço público tem natureza contratual haja vista caracterizar-se como contraprestação de um serviço efetivamente prestado, não se sujeitando às regras e princípios do direito tributário e podem ser instituídos por decreto. O preço público pode ser exigido por pessoas jurídicas de direito privado, incluindo as não integrantes da Administração Pública, como as concessionárias, e por pessoas jurídicas de direito público, diferentemente das taxas, as quais somente são cobradas pelos entes da Administração Pública, eis que fundadas no “jus imperii” do ente público. Nos termos da Súmula 545 do STF, “Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionadaà prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu”. O serviço público de energia elétrica, água e esgoto é cobrado do usuário como sendo taxa sempre que houver compulsoriedade, independentemente de o serviço público ser prestado diretamente pelas pessoas jurídicas de direito público ou por entidades concessionárias (serviço público concedido). O que determina a natureza jurídica da remuneração (se taxa ou preço público) não é a natureza da relação estabelecida entre o consumidor ou usuário e a entidade prestadora ou fornecedora do bem ou do serviço, mas sim a essência da atividade realizadora. Portando, independentemente de o bem ou serviço ser fornecido ou prestado pelo Poder Público ou por concessionária, a remuneração auferida pelo fornecedor será sempre considerada taxa, quando esse bem ou serviço seja compulsório, e preço público, quando esse bem ou serviço não seja compulsório. 4. Há necessidade do valor exigido a título de taxa referir-se ao custo do serviço prestado? Caso essa referibilidade não seja verificada, é possível a restituição? No caso de excessiva dificuldade de mensurar o custo do serviço prestado, como fixar a base de cálculo da taxa? (considerar em sua resposta o exemplo das taxas judiciais – vide anexos IX, X e XI) R: Sim. O art. 77 do CTN prevê que “As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição”. Portanto, por ser a taxa um tributo diretamente vinculado à atuação do Estado, isto é, uma contraprestação a um serviço prestado, o seu valor deve equivaler, necessariamente, ao custo do serviço específico que a motiva, ou com a atividade de polícia desenvolvida, não podendo o Estado auferir lucro ou proveito por meio das taxas. Portanto, caso essa referibilidade não seja verificada, é dado ao contribuinte o direito de ver restituído o valor que sobejar. Nos termos da jurisprudência acerca do tema, em caso de excessiva dificuldade de mensurar o custo do serviço prestado, o Estado poderá fixar a base de cálculo da taxa por meio da fixação de determinados parâmetros ou critérios, desde que objetivos e que tenham relação entre a base de cálculo e a efetiva prestação do serviço público específico. 5. Sobre a contribuição de melhoria pergunta-se: (i) Quais os requisitos e limites à cobrança da contribuição de melhoria? (ii) A Lei que a institui deve ser produzida antes do início da obra ou pode ser posterior à sua conclusão e à valorização imobiliária? Se for apresentado laudo comprovando a perspectiva de gastos, poderia ser exigido o tributo antes da conclusão da obra e da valorização imobiliária? (Vide anexos XII e XIII). R: A contribuição de melhoria é o tributo arrecadado dos proprietários de imóveis circunvizinhos a obras públicas que venham a valorizar esses imóveis. São requisitos para a sua cobrança a existência de obras públicas e a valorização imobiliária dos imóveis detidos pelos contribuintes circunvizinhos, em razão dessas obras públicas. Nos termos do art. 81 do CTN, a contribuição de melhoria tem “como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado”. Em razão do princípio da irretroatividade, a lei que institui a contribuição de melhoria deve ser produzida antes do início da obra, pois a lei só pode regulamentar fatos futuros, não sendo legalmente possível a cobrança por fatos geradores pretéritos. Com isso, caso, após o término da obra verificar-se a valorização do imóvel sem, contudo, a instituição anterior do tributo, por lei, o contribuinte não poderá ser obrigado ao pagamento desse tributo. Além disso, o art. 82 do CTN estabelece que, entre os requisitos mínimos da lei relativa à contribuição de melhoria figuram, entre outros, a necessidade de publicação prévia do memorial descritivo do projeto, do orçamento do custo da obra, da determinação da parcela do custo da obra ser financiada pela contribuição, da delimitação da zona beneficiada, da determinação do fato de absorção do benefício da valorização para a toda a zona ou para cada uma das áreas diferencias nela contidas. Ainda que apresentado laudo comprovando a perspectiva de gastos, não poderia ser exigida a contribuição de melhoria antes de verificadas a conclusão da obra e a valorização imobiliária dela decorrente, haja vista que o fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização do imóvel do qual o contribuinte é proprietário, ou enfiteuta, desde que essa valorização seja decorrente de obra pública. A obrigação só passa a existir após a efetiva valorização decorrente necessariamente da conclusão obra pública. Com efeito, por mais que haja laudo que ateste a perspectiva dos gastos, continuariam ausentes os dois requisitos para a cobrança da contribuição de melhoria, quais sejam, a realização da obra pública e, uma vez concretizada, a valorização dos imóveis circunvizinhos. Se a efetivação da obra pública, por si só, não seria suficiente a legitimar a cobrança pela Administração Pública, quiçá a mera perspectiva dos gastos. 6. Os adicionais ao IPI, ICMS e ISS sobre supérfluos destinados ao Fundo de Combate a Erradicação da Pobreza, constantes do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (art. 79, introduzido pela EC n. 31/00), se enquadram em qual espécie? Pode o “adicional” de imposto ter destinação específica? E ser de natureza tributária diversa do tributo adicionado? (Vide anexos XV e XVI e XVII) R: Os adicionais referidos se enquadram na mesma espécie em que se enquadram o IPI, ICMS e o ISS, qual seja, imposto. Não poderia ser diferente, haja vista se tratar de um adicional ao imposto e que, portanto, imposto é. Muito embora o art. 167, IV da Constituição, vede a vinculação da receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, trata- se de exceção ao princípio geral tributário insculpido no referido artigo, inserida pelo próprio constituinte reformador por meio da Emenda Constitucional nº 31/2000, configurando verdadeira vinculação extraordinária.
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