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Laicidade e diversidade religiosa APRESENTAÇÃO Estado laico é a separação entre Estado e Igreja, isso quer dizer que os interesses religiosos não podem interferir nas decisões governamentais. No entanto, isso não significa que o Estado seja contra as religiões, apenas garante a liberdade religiosa aos seus cidadãos. Liberdade religiosa, por sua vez, é o direito constitucional dos cidadãos de escolher o credo que mais condiz com seus valores. No Brasil, muitos desses credos sofrem com o preconceito e a intolerância religiosa, representada pelo conjunto de discursos de ódio e práticas ofensivas contra seguidores de determinado segmento religioso. O Brasil, sendo um país de grande diversidade cultural e, consequentemente religiosa, compreende-se como laico, tendo lei para identificar intolerância religiosa como crime. A Lei n.° 9.459/2007 pune com multa e até prisão de 1 a 3 anos quem zombar ou ofender outra pessoa devido ao credo que ela professa ou impedir e atrapalhar cerimônias religiosas. O Ensino Religioso sempre esteve presente na realidade escolar brasileira, não só de forma efetiva, mas também como modo de pensar o mundo, dificultando, assim, o projeto dos primeiros republicanos de construir uma escola laica no Brasil. No contexto atual, a laicidade nas instituições escolares é condição fundamental para a efetivação de uma educação emancipadora, que possibilite a implementação da democracia nesses espaços. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conceituará Estado laico e de liberdade religiosa, identificará diversidade e intolerância religiosa em um Ensino Religioso renovado e laico. Além disso, verificará a presença de Ensino Religioso nas escolas públicas em um Estado laico. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar Estado laico e de liberdade religiosa.• Discutir o pluralismo e a diversidade religiosa no contexto das religiões contemporâneas. • Explicar a presença de Ensino Religioso nas escolas públicas • em um Estado laico. DESAFIO O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH, 2018), tem em vista a construção de uma cultura de direitos humanos fundamentados no exercício da solidariedade e do respeito às diversidades. Fundamenta-se nos princípios da democracia, da cidadania e da justiça social, e estabelece concepções, princípios, objetivos, diretrizes e linhas de ação para os diversos níveis de educação brasileira. Com a criação do PNEDH, a escola tem o dever de propor um debate sobre os direitos humanos, a fim de desenvolver e promover no ambiente educacional a convivência, o respeito pelas diversidades, a formação de valores, atitudes e comportamentos que respeitem os direitos fundamentais de cada pessoa humana e, ainda, ações de promoção, defesa e reparação das violações aos direitos humanos. Tendo em vista os dados levantados pelo Ministério dos Direitos Humanos, entre os anos 2015 e 2017, que mostram que a cada 15 horas no Brasil houve uma denúncia de intolerância religiosa (VEJA, 2007). Acompanhe: Você é professor de História de uma turma de 6.° ano do Ensino Fundamental, em uma escola de interior de predominância cultural branca alemã. Para o mês de novembro, existe no planejamento a tarefa de refletir sobre o Dia Nacional da Consciência Negra (obrigatório desde 2003, pela Lei n.° 10.639). Seus estudantes estão animados com a proposta de aprofundar novos conhecimentos, mas os pais, quando souberam da atividade, não gostaram e encaminharam uma carta de recusa para a direção, justificando que, como na comunidade escolar não há presença de negros, não haveria necessidade dessa atividade. Você sendo o professor, como mediaria a situação? INFOGRÁFICO Em 1891, com a Instituição da República, o Estado brasileiro tornou-se laico e deixou de ser confessional, ou seja, não é permitido aos poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário), em todos os seus níveis, professar, influenciar, ser influenciado, favorecer, prejudicar e financiar qualquer vertente religiosa, já que não existe religião oficial no país. Isso significa que, independentemente da quantidade de fiéis, tempo de existência ou do patrimônio que uma religião tenha, todas as manifestações de religiosidade ou credo gozam nas questões de fé de igual proteção do Estado laico. Neste Infográfico, você vai ver como surgiu e como se estruturou o Estado laico brasileiro. CONTEÚDO DO LIVRO Laicidade e diversidade religiosa são duas expressões que levam a refletir sobre a função do Estado em relação à formação espiritual das pessoas. A lei brasileira garante liberdade de consciência e crença. Além disso, garante que o Estado não intervenha nos sistemas de fé, mas que desempenhe a tarefa de mediar a relação entre as tradições religiosas, especialmente quando há conflitos ou situações de intolerância religiosa. A função do Estado não é apoiar confessionalidades específicas, mas garantir a igualdade de tratamento a todas as religiões. A liberdade de consciência assegura, por sua vez, a legitimidade da diversidade religiosas e das diferentes visões de mundo. Assim, é no contexto do respeito da diversidade religiosa que é inserida a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de Ensino Religioso. A obrigatoriedade do Ensino Religioso não fere a laicidade do Estado, caso seja compreendida sua função de formação educacional e pública, e não simplesmente religiosa e subjetiva. No Capítulo Laicidade e diversidade religiosa, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai ler sobre o Estado laico, a liberdade religiosa e as suas implicações na atual sociedade brasileira. Além disso, vai acompanhar um breve histórico do Ensino Religioso, com foco na sua existência e permanência nas escolas públicas, considerando sua inserção em um Estado laico. Boa leitura. POLÍTICAS EDUCACIONAIS E BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR DE ENSINO RELIGIOSO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Conceituar Estado laico e liberdade religiosa. > Discutir o pluralismo e a diversidade religiosa no contexto das religiões contemporâneas. > Explicar a presença de ensino religioso nas escolas públicas em um Estado laico. Introdução A valorização da diversidade cultural religiosa brasileira, principalmente no co- tidiano escolar, requer uma série de mudanças e adaptações, como o desenvol- vimento de práticas pedagógicas subsidiadas pelo conhecimento coerente das diferentes culturas e religiosidades, assim como do ateísmo e do agnosticismo. A partir disso, a ideia é garantir o direito à liberdade de consciência, religião ou convicção, incluindo a liberdade de mudar de fé ou de não aderir à fé alguma. Para tanto, os currículos escolares precisam integrar, discutir e estudar o fenômeno religioso de modo científico e respeitoso, para que seja possível desconstruir e desnaturalizar estereótipos, preconceitos e silenciamentos presentes na escola e na sociedade. Neste capítulo, você estudará sobre o Estado laico, a liberdade religiosa e as suas implicações na atual sociedade brasileira. Além disso, verá um breve histórico do ensino religioso, com foco na sua existência e na sua permanência nas escolas públicas, considerando a sua inserção em um Estado laico. Laicidade e diversidade religiosa Luciane Marina Zimerman Affonso Estado laico e liberdade religiosa O Estado é o conjunto de instituições políticas e administrativas responsáveis por ordenar e regular o espaço de um povo ou nação. Para a existência do Estado, faz-se necessário que ele possua um território, seja dirigido por um governo próprio, tenha ação soberana e seja uma pessoa jurídica de direito público internacionalmente reconhecida. O Estado pode ser laico ou religioso. O Estado religioso é aquele em que a religião interfere na administração, na legislação e na gestão pública; ele também pode ser chamado de “Estado confessional”. Aqui, as instituições religiosas participam formalmentedo governo, com autoridade para aprovar ou rejeitar leis sobre assuntos religiosos. Em civilizações mais remotas, o Estado estava intimamente ligado à re- ligião. Conforme Adragão (2002, p. 31): Na Antiguidade, a religião costumava andar intimamente associada à vida do povo. Cada nação, tribo ou clã tinha os seus deuses próprios que se supunham a defender e proteger o povo. Cumpria venerá-los e evitar-lhes as iras, em especial provocadas pela infidelidade ou mau procedimento de alguns membros da comunidade, por meio de sacrifícios, preces e outros atos rituais. Não aceitar a religião nacional ou não a praticar equivalia de certa maneira a ser infiel ao próprio povo e a atrair sobre ele as iras da divindade; tal fato era geralmente considerado crime grave, punido, por vezes, até com a pena de morte. A Bíblia registra um incidente, no início da Era Cristã, em que os primeiros sinais da liberdade de religião podem ser percebidos. Esse episódio ocorreu quando os líderes judeus prenderam os apóstolos, levaram-nos à prisão pública e, depois, ao Sinédrio para serem interrogados. No livro dos Atos, é possível encontrar a narrativa desse fato: Eles, porém, ouvindo, se enfureceram e queriam matá-los. Mas, levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado Gamaliel, mestre da lei, acatado por todo o povo, mandou retirar os homens, por um pouco, e lhes disse: Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes homens. Porque, antes destes dias, se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se disper- saram e deram em nada. Depois desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos. Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele (ATOS..., 5, 1999, 33–39). Laicidade e diversidade religiosa2 Observe que o parecer do Gamaliel foi uma verdadeira defesa da liberdade religiosa. Após essa intervenção, os apóstolos foram soltos e continuaram a sua missão de pregar o evangelho de Jesus Cristo, fortificando a difusão do cristianismo, que rapidamente se disseminou e se fortaleceu diante das per- seguições dos governantes do Império Romano. Segundo Sabaini (2008, p. 34): Com isso os Cristãos passaram a ser perseguidos pelos Romanos até o século IV d.C. Relatos históricos mostram que o Imperador Nero, no ano 64 d.C., incendiou Roma e acusou os Cristãos como autores do incêndio, o que resultou em terrível perseguição. Foram quatro séculos em que muitas pessoas que afirmavam sua fé em Cristo foram crucificadas, decapitadas, mutiladas e/ou devoradas pelas feras nas arenas romanas. A situação se alterou a partir do século IV d.C., quando o imperador Constantino se converteu à religião cristã e passou a defender “[...] que o Cristianismo trouxesse unidade espiritual, capaz de dirimir a grave crise de desmoralização e eliminar a cisão religiosa pela qual passava o império [...]” (SORIANO, 2002, p. 45). Contudo, a ascensão do cristianismo não contribuiu para a liberdade de religião. Pelo contrário: A liberdade de crença foi taxativamente suprimida em 379, quando os imperadores Graciano e Valentiniano II, bem como Teodósio I, no Oriente, proclamaram o cristia- nismo como a única religião do Estado. Passou-se, assim, a aplicar aos hereges, às religiões pagãs e aos maniqueus, bem como aos próprios cristãos heterodoxos, con- siderados como não cristãos, medidas repressivas severas (FRAGOSO, 1989, p. 667). O cristianismo se fortaleceu por meio da Igreja Católica, até o século XV, a qual se tornou a Igreja Oficial do V Império. As mudanças começaram no século XVI, a partir da Reforma Protestante. Em 1517, o reformador Martin Lutero escreveu e fixou as suas 95 teses na Igreja do Castelo de Wittenberg, condenando a postura adotada pela Igreja Católica da Idade Média. A Reforma Protestante foi um movimento que ganhou força rapida- mente. Como consequência, a Igreja Católica reforçou a repressão e a perseguição àqueles que não eram seus adeptos. A luta de Lutero e o próprio movimento protestante foram muito importantes para garantir a liberdade religiosa. A luta consistiu “[...] nas primeiras reivindicações consistentes ao direito de liberdade religiosa, direito este que ainda demorou a ser implementado [...]” (SABAINI, 2008, p. 358). A expressão liberdade religiosa foi utilizada, pela primeira vez, por Tertu- liano, em sua obra intitulada Apologia, em 197 d.C., no segundo século da Era Laicidade e diversidade religiosa 3 Cristã, para defender os cristãos das grandes perseguições empreendidas pelo Império Romano. No Brasil colonial, a liberdade religiosa foi inexis- tente. Desde a chegada dos portugueses, em 1500, a fé cristã foi imposta, e os colonizados eram submetidos ao plano de catequização dos jesuítas. Índios e negros sofriam com a intolerância de seus algozes. O Estado, além de estabelecer a religião católica como a oficial, “[...] reprimiu as crenças e práticas religiosas de índios e escravos negros e impediu a entrada das religiões concorrentes, sobretudo a protestante, em seu livre exercício no país [...]” (MARIANO, 2001, p. 127–128). No século XIX, no período monárquico e republicano, a liberdade religiosa foi condicionada pelo Estado Lusitano, pois este mantinha o controle sobre a forma de culto e organização religiosa dos britânicos, apesar de não respeitar as suas crenças. A Constituição de 1824, além de instituir o poder moderado, no aspecto religioso, ratifica a sua cumplicidade com o catolicismo. O art. 5º dessa Constituição diz o seguinte: “A religião Católica apostólica romana continuará a ser a religião do império. Todas as outras Religiões serão permi- tidas com seu culto doméstico ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do Templo [...]” (BRASIL, 1824, documento on-line). Além de definir o catolicismo como religião oficial do Império, a Constitui- ção de 1824 gerou preconceitos e vigilância com outras formas de adoração e de cultos. Apesar de ter instituído o regime do padroado, com a obrigação de proteger a religião, ela detinha o poder de nomear bispos, fiscalizar a igreja em assuntos administrativos e econômicos, bem como aprovar bulas papais, mesmo aquelas dedicadas apenas a temas religiosos, o que não tornava a Igreja Católica menos influente. Em relação à perseguição religiosa, o art. 179, inciso 5, diz que: “Ninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a Moral Publica [...]” (BRASIL, 1824, documento on-line). Desse modo, a Constituição de 1824 não amputa a total liberdade religiosa do brasileiro e do estrangeiro, mas, na prática, invalida a sua eficácia, já que a liberdade de culto em locais públicos e de organização religiosa era restrita. Contudo, mesmo com as restrições de não poder externar as crenças distintas da oficial, a Constituição de 1824 possibilitou a difusão de novos grupos religiosos no Brasil, tais como os protestantes, e, com isso, a abertura para as primeiras fissuras no secular monopólio católico (MARIANO, 2001). Na década de 1870, o Brasil enfrentou a denominada “questão religiosa”. Trata-se de um grande conflito entre a Igreja Católica e a maçonaria, que acabou se tornando uma grave questão de Estado. Contudo, como veremos Laicidade e diversidade religiosa4 a seguir, com o advento da República, formalizou-se a separação entre os poderes religioso e secular. Com a Proclamação da República, em 1889, o Brasil entrou em uma nova fase: fim da Monarquia e início da República. A grande pergunta que pairava no ar era como a Igreja se encaixava no novo regime. Diante disso, a Igreja se mostravaperplexa e atemorizada. No início do governo provisório, apresentou- -se a problemática da religião de Estado, ou, como mais bem entendida, a separação de Igreja e Estado. Embora Dom Macedo Costa, o representante legal da Igreja no Brasil, defendesse que o melhor regime seria o da união Igreja-Estado, ele admitiu a separação dos dois poderes, resultando em uma secularização do Estado. No dia 7 de janeiro de 1890, o governo Rui Barbosa apresentou o Decreto 119-A, que serviu como documento para o poder civil tratar das questões religiosas. No documento, determinou-se [...] a separação total de Igreja e Estado, extinguindo o Padroado (Art. 4º). O mesmo documento abria espaço para a liberdade dos diversos cultos ou denominações (Art. 2º) e ao mesmo tempo reconhecia para todos eles a capacidade jurídica de possuírem bens, como sociedades ou associações legalmente constituídas (Art. 5º) [...] (MATOS, 2010, p. 255–256). Embora o texto seja discreto e preciso, permanece um ar de indiferença frente à Igreja e ao cristianismo em geral. Com isso, o espírito laicista pro- vocará muitos temores entre os bispos no Brasil. A República inaugurará o Estado secularizado, neutro em termos de religião. Os bispos reagiram com muitas reservas ao Decreto de Separação, pois temiam o desinteresse do regime publicano pela Igreja Católica e a adoção de um “ateísmo social” como princípio norteador dos republicanos. Com a intervenção da Santa Sé, o Decreto 119-A foi aceito pelos bispos no Brasil desde que se respeitasse a aliança entre os dois poderes. A Carta Pastoral Coletiva, de 19 de março de 1890, do Episcopado Nacional, representa “[...] um verdadeiro tratado no qual sintetiza a doutrina oficial da Igreja sobre a união dos dois poderes [...]” (MATOS, 2010, p. 259). Dessa maneira, na visão dos Bispos, a liberdade religiosa é garantida no Brasil. Na Constituição Federal de 1988, a liberdade de consciência e de crença é um direito e dever garantido pelo Art. 5º, inciso VI: “[...] é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line). Laicidade e diversidade religiosa 5 Pluralismo e diversidade religiosa Uma das características marcantes do campo religioso contemporâneo é o pluralismo religioso. Os monopólios religiosos que foram sendo constituídos no decorrer da história já não podem mais contar com a submissão dos seus adeptos, pois estes aderem de forma voluntária aos movimentos religiosos contemporâneos a partir de uma sua demanda pessoal. Esse fenômeno criou possibilidades de expressão religiosa sem o uso de rituais ou dogmas impostos pelas instituições religiosas. Para Rivera (2003, p. 438): Nas sociedades contemporâneas não há mais campo religioso estável, e os compro- missos de longa duração deixaram de ser norma. Diversos tipos de opções religiosas e múltiplos produtos religiosos são oferecidos dia a dia nos templos e nos meios de comunicação. Religião exclusiva é coisa do passado. O sagrado apresenta-se multiforme, pouco hegemônico e, sobretudo, em constante movimento. A convivência com outras denominações religiosas (cada vez mais diversas e numerosas) e o acolhimento das manifestações “populares” ocorreram no período de uma importante transformação na configuração do campo religioso brasileiro: o enfraquecimento da hegemonia católica. Esse aspecto motivou ainda mais a liberdade religiosa a se tornar uma experiência social de espectro mais amplo, e a tolerância com outros credos, uma prática es- tratégica (MONTERO; ALMEIDA, 2000). De fato, o campo religioso no Brasil vem sendo marcado por um grande pluralismo religioso. O Censo de 2010, pesquisa realizada pelo Instituto Bra- sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou o resultado geral sobre a religiosidade da população brasileira, no qual se percebe que o Brasil apresentou uma mudança significativa no campo religioso, no sentido de se comprovar a diminuição dos católicos e o aumento substancial de evangélicos, espíritas e sem religião. Assim, o pluralismo religioso no Brasil torna-se cada vez mais evidente. Portanto, faz-se necessário observar que, ao longo da história, a sociedade vem articulando diferentes concepções sobre a vida e o mundo. Sobretudo no âmbito da diversidade religiosa, a humanidade construiu e continua cons- truindo infinitas respostas para o dilema da criação e da própria existência. Nesse sentido, há algo em comum a todas as esferas de expressão religiosa (GUARESCHI; SILVA, 2008). A intolerância tem sido manifestada de forma contundente em relação a gênero, etnias, geração, orientação sexual, padrões físicos e estéticos e crença religiosa. A intolerância religiosa pode até causar espanto para a maioria das Laicidade e diversidade religiosa6 pessoas que vivem em um país como o Brasil, onde, notadamente, percebe- -se uma relativa equidade e tolerância religiosa, mas é sempre importante observar que inúmeros conflitos e incontáveis guerras foram e continuam sendo travadas em nome de uma determinada crença religiosa. Esse é um problema complexo, pois esses confrontos não são motivados de forma ex- clusiva por determinadas premissas religiosas, mas a estas se somam razões de ordem econômica, social, política, cultural, entre outras (WILGES, 1985). A diversidade religiosa é representada pela grande variedade de religiões presentes em todo o mundo. Embora seja complexo e desafiador, conviver com a diversidade cultural é um imperativo inseparável da promoção dos direitos humanos. Isso implica, entre outros pontos, o respeito e o reconhecimento das diferentes formas de religiosidades, tradições e movimentos religiosos, bem como daqueles que não professam religião alguma (CECCHETTI; OLIVEIRA, 2015). A diversidade revela valores ético-culturais, os quais precisam se so- brepor aos processos de exclusão e desigualdade. Uma forma de se fazer isso é construir perspectivas e práticas sociais que tomem como princípio a alteridade. Considere o seguinte: A História demonstra que a convivência com os diferentes e as diferenças constitui- -se em um processo complexo e desafiador. Inúmeros conflitos, colonialismos, imperialismos, genocídios, epistemicídios e culturicídios comprovam que a relação com o Outro representa uma das grandes problemáticas da humanidade (CECCHETTI; OLIVEIRA, 2015, p. 185). Um dos mais valiosos bens da humanidade é a diversidade cultural, que expressa a criatividade e a capacidade humana de construir elementos sim- bólicos que auxiliam na constituição das identidades pessoais e coletivas. A diversidade é uma das fontes do desenvolvimento humano, a qual amplia os horizontes e sentidos quando o indivíduo se depara com a possibilidade de aprender com outras culturas, entendendo que cada cultura é apenas parte de um mundo vasto (CECCHETTI, 2008). Quanto à diversidade cultural, é importante destacar que a Declaração Universal para a Diversidade Cultural de 2002 esclarece que a diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade (UNESCO, 2002, art. 1º). Dentro dessa perspectiva, as religiões fazem parte da cultura humana e, portanto, cada religião é peculiar, pois possui diferentes linguagem, formas de acreditar, de celebrar, de se relacionar com a alteridade e de simbolizar de formas diferentes os fenômenos religiosos vivenciados pelos membros de cada cultura. Desse modo, as diversidades cultural e religiosa constituem Laicidade e diversidade religiosa 7 grandes desafios para uma educação inclusiva. É nesse contexto que a es- cola é chamada a ajudar o educando a compreender a dinâmica cultural da humanidade, para, assim, exercer a sua cidadania como pessoa integrada, responsável e atuante no meio em que vive. Estado laico brasileiro O Brasil tem, na suamatriz formativa, um monopólio religioso instituído tanto pelo Estado quanto por grupos religiosos. Isso originou uma grande hostilidade religiosa, caracterizada por desrespeito e estímulos à violência. Essa situação fica mais evidente ao se considerar o período colonial: No período colonial, o dado mais expressivo dessa realidade está relacionado aos sequestros e escravizações dos povos africanos e à consequente imposição da fé e batismo católico, promotores de um novo nome, cristão, para aqueles. A associação da perseguição aos ritos sagrados, trazidos da África, com a proibição das suas manifestações de crença colaborava com a promoção da desestruturação dos sistemas religiosos e a imposição, como única saída, de um sincretismo religioso com o catolicismo (PATROCINO et al., 2013, documento on-line). As práticas ritualísticas de matriz africana eram muito diferentes das tradições religiosas existentes no Brasil, sobretudo do modelo dominante da Igreja Católica, o que as fez serem estereotipadas de forma negativa e supersticiosa. Ainda durante o Império do século XIX, “o regime do Padroado Régio” permanecia como suporte legal para relações entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro, o qual limitava a liberdade de culto (PATROCINO et al., 2013). As ações dos bispos eram limitadas pelo poder temporal, e sua atuação ou suas orientações eram dadas pelas cartas pastorais, que lhes possibili- tavam exercer “[...] o seu controle diante dos párocos e das freguesias [...] O Clero exercia grande influência no cotidiano das pessoas [...]” (SOUZA, 2005, p. 124). Na maioria das vezes, o bispo estava mais ligado aos “dogmas” da Universidade de Coimbra do que aos de Roma. Assim, é possível perceber que o poder exercido pela Igreja não estava embasado exclusivamente nas leis romanas. Ao longo da história, as leis foram se adaptando para a introdução de uma “Igreja Católica Apostólica Portuguesa” em paralelo ao Vaticano, e o uso da religião para a manipulação e a dominação da população foi uma forma de controle eficiente. Conforme Patrocino et al. (2013, documento on-line): Laicidade e diversidade religiosa8 Esse vínculo nacionalista da religião colonial também marcou a relação entre catolicismo e protestantismo na fase monarquista da nossa história. Os primeiros protestantes a pisar no país vindos da França e Holanda, com finalidades historica- mente tidas como comerciais, foram expulsos militarmente por sua nacionalidade. As relações comerciais internacionais determinaram e de certa forma adiaram o encontro das duas religiões em solo brasileiro. Apenas em 1808, com o tratado comercial feito entre Portugal e Inglaterra, em troca da escolta realizada para a caravana real que culminou na abertura dos portos da então colônia, foi que os protestantes puderam se estabelecer formalmente. As manifestações políticas e sociais por liberdade religiosa e respeito à diversidade de crença permaneceram no Brasil, e, em 1923, a negligência do País com relação à laicidade foi anunciada pelo Manifesto do Pioneiros da Educação Nova: A laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação são outros tantos princí- pios em que assenta a escola unificada e que decorrem tanto da subordinação à finalidade biológica da educação de todos os fins particulares e parciais (de classes, grupos ou crenças), como do reconhecimento do direito biológico que cada ser humano tem à educação. A laicidade, que coloca o ambiente escolar acima de crenças e disputas religiosas, alheio a todo o dogmatismo sectário, subtrai o educando, respeitando-lhe a integridade da personalidade em formação, à pressão perturbadora da escola quando utilizada como instrumento de propaganda de seitas e doutrinas (AZEVEDO et al., 1932, documento on-line). No cenário religioso brasileiro, há uma mistura de proselitismo, ausência de respeito e não exercício da alteridade. Infelizmente, no século XXI, ainda há manifestações públicas pautadas na discriminação racista e no fundamen- talismo religioso, que se faz presente na concorrência do mercado religioso e na disputa entre algumas igrejas pela conquista de fiéis. Ensino religioso nas escolas públicas Uma educação comprometida com a diversidade cultural requer um conjunto de reflexões e práticas que abordem as diferenças a partir das lentes da cul- tura do outro (BENEDICT, 1988). Essas práticas e reflexões devem assegurar o direito à liberdade e à diferença, com base na ética e nos direitos humanos, em consonância com o art. XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos: Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, iso- lada ou coletivamente, em público ou em particular (ONU, 1948, documento on-line). Laicidade e diversidade religiosa 9 Quando a socialização e o diálogo são promovidos com respeito às di- ferentes percepções e vivências do religioso (ingredientes fundamentais do substrato cultural da humanidade), a escola oportuniza que temas polêmicos relacionados à cultura, à religiosidade e à discriminação étnica sejam abor- dados como elementos de aprendizagem. Assim, ela garante os princípios da Declaração para Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e Discri- minação com Base em Religião ou Crença (ONU, 1981). Confira o que afirma o art. 2º dessa declaração: § 1. Ninguém será objeto de discriminação por motivos de religião ou convicções por parte de nenhum Estado, instituição, grupo de pessoas ou particulares. § 2. Aos efeitos da presente declaração, entende-se por “intolerância e discrimina- ção baseadas na religião ou nas convicções” toda a distinção, exclusão, restrição ou preferência fundada na religião ou nas convicções e cujo fim ou efeito seja a abolição ou o fim do reconhecimento, o gozo e o exercício em igualdade dos direitos humanos e das liberdades fundamentais (ONU, 1981, documento on-line). Para promover a liberdade religiosa e os direitos humanos, no entanto, faz-se necessário o desenvolvimento de práticas pedagógico-didáticas com- prometidas com o exercício da sensibilidade diante de qualquer discriminação religiosa no trato cotidiano. Nesse contexto, entram em cena o respeito à identidade, a alteridade e o encontro com as diferentes expressões religiosas. Essas práticas permitem, aos poucos, ampliar os conhecimentos; refletir sobre as diversas experiências religiosas; formular respostas fundamentadas cientificamente; analisar o papel dos movimentos e das tradições religiosas na estruturação e na manutenção das diferentes culturas; e, acima de tudo, eliminar e denunciar qualquer forma de discriminação e preconceito (CEC- CHETTI; OLIVEIRA, 2015). Essas são ações educativas embasadas no respeito e na sensibilidade diante da discriminação religiosa. A ideia é respeitar a identidade do outro e possibilitar afinidades entre os diferentes a partir da conscientização de que cada sujeito é único em um universo de diferentes (OLIVEIRA et al., 2007). É nesse contexto que se insere o ensino religioso, que, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), deve ser “[...] parte integrante da formação básica do cidadão, assegurando o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo [...]” (BRASIL, 1996, documento on-line). Dessa forma, a disciplina de ensino religioso deve observar os marcos de referência das diferentes sociedades, para, a partir deles, direcionar a atenção dos estudantes à sua interpretação, em uma tentativa de romper com o preconceito em relação ao que é diferente deles. Laicidade e diversidade religiosa10 Cabe ao ensino religioso dedicar-se e trabalhar com o pluralismo religioso, dando aos discentes a possibilidade de aceitar o valor do outro. Além de permitir que o outro viva ao seu lado, o estudante deve atribuir significadoe respeito à existência dele. Assim, os docentes da disciplina e as escolas como um todo precisam, com urgência, romper com o “conhecimento dos poderosos”, que não diz nada sobre o conhecimento em si. Para Young (2007, p. 1294), o conhecimento poderoso “[...] não se refere a quem tem mais acesso ao conhecimento ou quem o legitima, mas refere-se ao que o conhecimento pode fazer, como, por exemplo, fornecer explicações confiáveis ou novas formas de se pensar a respeito do mundo [...]”. O ensino religioso, quando baseado nos saberes históricos, geográficos, sociais e filosóficos, pode proporcionar aos discentes uma compreensão adequada do mundo à sua volta. Conforme Gaardner, Hellern e Notaker (2005), é difícil adquirir uma compreensão correta da política internacional e do mundo cada vez mais multicultural sem que se esteja consciente do fator religião. Para os autores, “O estudo das religiões pode ser importante para o desenvolvimento pessoal do indivíduo. As religiões do mundo podem responder a perguntas que o homem vem fazendo desde os tempos imemoriais [...]” (GAARDNER; HELLERN; NOTAKER, 2005, p. 16). Contudo, isso tudo só faz sentido se os direitos humanos básicos não forem transgredidos, o que implica respeitar a coexistência humana, a vida dos outros, as suas opiniões e os seus pontos de vista. O Estado, ao manter o ensino religioso como disciplina nas escolas, precisa preservar os direitos básicos e criar mecanismos para que a interconfessionalidade seja respeitada e, ao mesmo tempo, a laicidade seja preservada. Assim, como pontua Cury (2004, p. 187), “[...] dada a obrigatoriedade da oferta [do ensino religioso] nas escolas públicas e o caráter facultativo de sua frequência para o conjunto dos alunos, importa refletir um pouco sobre aspectos da religiosidade que podem ser úteis em favor da tese da importância da religião [...]”. O ensino religioso resulta de uma articulação das igrejas cristãs e, princi- palmente, da Igreja Católica (ação política que data de séculos anteriores), que conquistaram, na Constituição de 1988, esse espaço no sistema de educação formal brasileiro. Tal espaço serve a mais uma inserção científica na formação das crianças e dos adolescentes, tendo-se em vista que a proposta de diversos estados da Federação perpassa um caminho pedagógico com conhecimentos “[...] estudados a partir de uma perspectiva laica, aconfessional [...]” (HUTNER, 2006, p. 6). Essa articulação conseguiu garantir a presença do ensino religioso na Constituição de 1988. Em seu art. 210, inciso 1º, a Constituição afirma que: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos Laicidade e diversidade religiosa 11 horários normais das escolas públicas de ensino fundamental [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line). Contudo, o ensino religioso se fez mais intenso e mais abrangente durante o período de elaboração da LDB, promulgada em 1996, que ficou conhecida como “Lei Darcy Ribeiro”. Durante esse período, constituiu-se o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (Fonaper), uma organização voluntária, de âmbito nacional, composta por cristãos de diversas origens. Todavia, um ponto crucial defendido por essa organização não foi incorporado na LDB: a explicitação da responsabilidade financeira do Estado no pagamento dos professores de ensino religioso. Posteriormente, em 1997, por meio da Lei nº 9.475, de 22 de julho, o art. 33 da LBD foi alterado. Então, o ensino religioso passou a ser definido como disciplina normal do currículo das escolas públicas, e o Estado ficou responsável pela contratação de professores (BRASIL, 1997). Referências ADRAGÃO, P. P. A liberdade religiosa e o Estado. Coimbra: Almedina, 2002. ATOS dos Apóstolos. In: BÍBLIA de estudo de Genebra. 2. ed. 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No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Laicidade e diversidade religiosa 15 DICA DO PROFESSOR Como todo direito, a liberdade religiosa não é absoluta e compreende a liberdade de crença, de culto, de organização de liturgia e de consciência. Não é possível confundir, no entanto, liberdade de consciência com a liberdade de crença, uma vez que a consciência é livre para não seguir qualquer crença. Sendo assim, a liberdade religiosa tutela tanto os ateus quanto os agnósticos. A liberdade religiosa é, portanto, a liberdade para exercer ou não uma religião, e esse direito é garantido e assegurado pelo Estado. É possível que haja liberdades religiosas mesmo em um Estado Confessional. Nesta Dica do Professor, você vai conferir o vínculo entre laicidade, liberdade religiosa e de culto. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) "Assim, o caráter laico do Estado, que lhe permite separar-se e distinguir-se das religiões, oferece à esfera pública e à ordem social a possibilidade de convivência da diversidade e da pluralidade humana. Permite, também, a cada um dos seus, individualmente, a perspectiva da escolha de ser ou não crente, de associar-se ou não a uma ou outra instituição religiosa. E, decidindo por crer, ou tendo o apelo para tal, é a laicidade do Estado que garante, a cada um, a própria possibilidade da liberdade de escolher em que e como crer, enquanto é plenamente cidadão, em busca e no esforço de construção da igualdade" (FISCHMANN, 2012). O conceito de Estado laico muitas vezes é visto de maneira equivocada, sendo confundido com uma limitação estatal sobre as crenças e não crenças da população. O que é possível atestar sobre o Estado laico? A) O Estado laico, também conhecido como Estado secular, prevê a neutralidade em matéria confessional, mas não religiosa. B) No Estado laico, as religiões têm o direito de exercer as suas práticas, incluindo a participação do governo. C) A posição neutra do Estado laico busca incentivar o ateísmo e outras formas de “não crença” como forma de distanciar-se das religiões, mantendo a laicidade. D) O Estado laico não adota nenhuma religião como oficial e mantém equidistância entre os cultos. E) O Estado laico ou secular não é real porque o Estado denomina-se laico, mas a humanidade não. 2) A laicidade permite a convivência pacífica entre as religiões e o respeito às pessoas que optam por não professar nenhuma religião. A escola é o espaço em que esses universosculturais se encontram. Diante dessa alternativa, qual é o papel do Ensino Religioso na escola dentro de um Estado laico? Assinale a alternativa correta. A) Estado laico é aquele em que o direito do cidadão de ter ou não religião é respeitado, o que assegura a “liberdade de consciência”, por isso o papel do Ensino Religioso se esvazia na escola pública. B) O princípio da liberdade religiosa deverá garantir que o Ensino Religioso ministrado nas escolas públicas possa ser detido na formação religiosa específica para uma ou outra religião, dentro da premissa da confessionalidade. C) A laicidade não exclui, no entanto, as religiões e suas manifestações públicas, nem o Ensino Religioso, muito menos deve interferir nas convicções pessoais daqueles que optam por não professar nenhuma religião. D) Deve ser considerada a ausência ou não da fé, pois a apresentação das diversas religiões pode influenciar a formação da própria sociedade brasileira e mundial, nos seus aspectos históricos, sociológicos e políticos. E) O Estado não deve reconhecer nem ignorar nenhuma religião, sejam elas professadas no seu território ou não. No entanto, o fato da não presença de uma crença ou convicção religiosa no país dispensa a escola de discutir sobre esse assunto. 3) "Na Antiguidade, a religião costumava andar intimamente associada à vida do povo. Cada nação, tribo ou clã tinha os seus deuses próprios que se supunham defender e proteger o povo. Cumpria venerá-los e evitar-lhes as iras, em especial provocadas pela infidelidade ou mau procedimento de alguns membros da comunidade, por meio de sacrifícios, preces e outros rituais. Não aceitar a religião nacional ou não a praticar, equivalia, de certa maneira, a ser infiel ao próprio povo e a atrair sobre ele as iras da divindade; tal fato era geralmente considerado crime grave, punido, por vezes, até com a pena de morte" (SABAINI, 2008). O Estado religioso é um conceito oposto ao de Estado laico. Sobre a definição de Estado religioso, o que é possível afirmar? A) O Estado religioso pode ser manifestado como um quarto poder, o que lhe confere autoridade para aprovar ou rejeitar o credo institucionalizado. B) O Afeganistão, país que viveu sob o comando do Talibã, é um exemplo diferente de Estado religioso, pois atingiu uma pequena parcela da população. C) Ainda são encontrados Estados de caráter confessional, mas não religioso, especialmente no mundo islâmico. D) A influência religiosa ainda caracteriza muitos Estados, independentemente da laicidade ou da adoção de uma religião oficial. E) O Estado religioso é caracterizado pela liberdade de culto e independente de ter uma instituição religiosa dominante. 4) "Ele não é território, nem população, nem corpo de regras obrigatórias. É verdade que todos esses dados sensíveis não lhe são alheios, mas ele os transcende. Sua existência não pertence à fenomenologia tangível: é da ordem do espírito. O Estado é, no sentido pleno do termo, uma ideia. Não tendo outra realidade além da conceptual, ele só existe porque é pensado" (AMBRÓSIO, 2008). A respeito do conceito de Estado, o que é correto afirmar? A) Necessita do conjunto de instituições para sua existência, apenas para atender exigências sem que desempenhem papel fundamental. B) A soberania do Estado é efetivada pelas relações entre o governo e a população, independentemente do fato de ter um território. C) Um Estado necessita do reconhecimento de outros Estados e instituíções internacionais para ser reconhecido como tal. D) A ideologia religiosa de um Estado faz com que a heterogeneidade perca seu sentido. E) A laicidade de um Estado permite distinções no julgamento das crenças, o que acaba transformando esse Estado em ateu. 5) A diversidade religiosa é representada pela grande variedade de religiões presentes em todo o mundo. Esta foi constituída ao longo dos anos por interações, imposições e hibridismos. Sobre a diversidade religiosa brasileira, é correto afirmar que: A) é essa diversidade que marca uma riqueza nas diversas culturas do país, o que configura o Estado laico. B) é ignorada no Brasil, independentemente da laicidade. C) o ateísmo e gnosticismo não fazem parte da diversidade cultural. D) apesar de serem marcantes na cultura brasileira, as tradições de matriz africana não são reconhecidas como religião no país. E) alguns países optam pelo Estado religioso em função do desafio e das dificuldades implícitas no convívio com diversas religiões. NA PRÁTICA O Ensino Religioso como área de conhecimento sempre gerou muitas discussões e polêmicas no Brasil. Foram feitas muitas análises e elaborações de projetos dentro das escolas para que essa área pudesse ser assegurada dentro de um Estado laico. Muitas são as questões a serem debatidas, e uma delas é a formação docente para a disciplina, poucas instituições/escolas exigem formação na área para o docente que ministrará a disciplina. No âmbito de escolas confessionais, essa é uma questão ainda mais contundente. Com a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com base na legislação, o Ensino Religioso é assegurado como área de conhecimento e pode, legitimado pelo Estado, realizar trabalho de cunho confessional. Neste Na Prática, você vai ver uma análise das implicações dessa legitimação para a sala de aula. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O Ensino Religioso e a BNCC: possibilidades de se educar para a paz Neste artigo, você vai ver uma relação entre as competências estipuladas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o componente curricular Ensino Religioso e a Educação para a Paz, que está presente de forma intrínseca nos objetivos do Ensino Religioso por meio da construção de vida a partir de valores, princípios éticos e cidadania. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Diversidade e intolerância religiosa na sociedade brasileira contemporânea Confira, neste artigo, a busca pelo respeito à liberdade de religião e de culto, assim como o reconhecimento da diversidade religiosa a partir dos parâmetros dos direitos humanos. Confira. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O Ensino Religioso nas escolas públicas: debate sobre a inclusão das minorias e a representatividade de suas identidades Acesse e confira a proposta de um debate sobre representatividade e inclusão das minorias dentro das aulas de Ensino Religioso. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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