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Crescimento e Desenvolvimento Humano Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Eric Leal Avigo Revisão Técnica: Prof. Me. Danilo Cândido Bulgo Revisão Textual: Prof.ª Dra. Selma Aparecida Cesarin Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento • Permitir ao aluno dominar os principais conceitos relacionados ao crescimento humano; • Conhecer os métodos comuns para se avaliar crescimento; • Compreender e relacionar idade cronológica à idade biológica; • Conhecer os principais aspectos do processo de crescimento e de desenvolvimento do ser humano, desde a concepção até o nascimento. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Idade Cronológica ou Idade Biológica? • Maturação Esquelética; • Maturação Sexual; • Maturação Dental; • Maturação Morfológica (Somática); • Avaliação do Crescimento Somático (Geral); • Avaliação Somatotipológica; • Pré-natal; • Idade Materna; • Ingestão de Drogas e Álcool; • Alimentação e Atividade Física; • Radiação, Infecções e Doenças. UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Contextualização O que fazer para que crianças de uma mesma idade tenham características tão diferentes? Figura 1 Fonte: Getty Images Crianças mais altas e mais baixas, mais altas e mais magras, acima do peso, com a cor dos olhos, cabelo, pele, umas aparentando mais idade, outras menos. Por que isso acontece? Diferenças como essas são observadas até mesmo entre irmãos (exceto em gêmeos idênticos). Como isso é possível: filhos de um mesmo pai e uma mesma mãe e, às vezes, apresentarem características tão distintas? Será que a quantidade de anos de idade de uma criança pode nos dar indicativos de quais mudanças em termos de crescimento e de desenvolvimento podem ocorrer? Se as crianças apresentam características tão singulares, como se basear na idade para estimar quais mudanças podem ou não a vir ocorrer? Afinal, não é isso que fazemos diariamente: perguntamos quantos anos tal criança tem, e já tiramos conclusões sobre o porquê de sua altura, tom de voz, estrutura física, se já está prestes a se tornar um “mocinho” ou uma “mocinha”, por características como pelos na face dos meninos, ou pelo desenvolvimento das mamas nas meninas? Por que conseguimos, pela idade, elencar mudanças que já podem ou não ter ocorrido? No início desta conversa, foi proposto que as crianças são tão diferentes e, agora, parece que queremos assumir que as mudanças que acontecem são iguais em todas elas. Essas perguntas são apenas para instigar você a buscar a resposta para todas elas enquanto estuda os conteúdos desta Unidade. 8 9 Idade Cronológica ou Idade Biológica? Você já aprendeu que crescimento e maturação são processos predominantemente biológicos, ao passo que desenvolvimento é um conceito mais amplo que envolve di- versos domínios comportamentais, por exemplo, a aquisição de comportamentos es- perados dentro do ambiente sociocultural em que o indivíduo se insere. Apesar disso, você também já sabe que o crescimento biológico e a maturação não ocorrem de forma isolada de outros aspectos comportamentais, ou seja, crescimento, maturação, desen- volvimento, estão em constante interação na formação do ser, podendo ocorrer ou não de acordo com o fator tempo. É possível medir ou observar crescimento, maturação e desenvolvimento em um dado ponto de tempo ou em diversos pontos, além do tempo, tendo como ponto de referência a idade cronológica da criança. Entretanto, idade (tempo) biológica não necessariamente coincide com o calendário. Trocando Ideias... Você pode até questionar: como assim, tempo biológico, tempo cronológico... tempo não é tudo a mesma coisa? Se você buscar a definição de tempo no Dicionário, uma das mais comuns a ser encontrada é que tempo é a duração relativa das coisas, que cria, no ser humano, a ideia de presente, passado e futuro; período contínuo no qual os eventos se sucedem. Sendo assim, tempo não se remete somente ao relógio ou a um calendário ou data específica, mas a uma sequência de eventos que nos permite perceber o que vem antes ou depois do que. A partir dessa breve introdução, podemos começar a distinguir idade biológica de idade cronológica, a partir do seguinte exemplo: uma criança nascida em 1 janeiro de 2011 completa cronologicamente 10 anos de idade em 1 de janeiro de 2021. No entanto, processos biológicos possuem sua própria tabela de tempo, não cele- bram aniversário. Uma criança possui uma real data de nascimento, e todos os seus aniversários são estabelecidos por um calendário. Assim, podemos definir a idade cronológica. Não será definida com base em um ca- lendário, sendo essa a razão de crianças da mesma idade cronológica, às vezes, diferirem consideravelmente, por até diversos anos, em níveis de maturidade biológica. Algumas meninas, aos 12 anos de idade, já se encontram sexualmente maduras, enquanto outras ainda iniciarão o processo de maturação sexual. Algo semelhante pode ser encontrado em meninos demesma idade cronológica, por exemplo, 14 anos, podendo estar ou não totalmente maduros, não só sexualmente, como também podendo se distinguir em níveis de maturação esquelética, morfológica, dental etc. Antes de discutirmos a respeito das formas de observar e de mensurar a idade bioló- gica, vamos definir a idade cronológica e apresentar algumas classificações pertinentes ao longo da vida. 9 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Idade Cronológica Importante! Idade cronológica é a idade do indivíduo em dias, em meses e/ou em anos, que são medidas universais e constantes, calculada a partir da data de nascimento. A idade cronológica fornece uma estimativa aproximada do nível de crescimento e de desenvolvimento de um indivíduo, já que existem períodos ou faixas de idade nas quais algumas mudanças são comuns e se espera que aconteçam. Pode-se dizer que, nos primeiros anos de vida, a idade cronológica é mais específica e pontual para apontar mudanças e comportamentos esperados, mas que, no decorrer da vida, torna-se algo mais generalizado, não sendo muito útil para inferir crescimento e desenvolvimento, principalmente, pelas especificidades biológicas e ambientais que condicionam esse ser ao longo de sua vida. Por exemplo, a maioria dos bebês com 12 meses de idade, que vivem em condições consideradas normais para sua subsistência, não diferem tanto em tamanho, peso, ou até mesmo nos movimentos possíveis de serem realizados, como sentar, engatinhar, ficar em pé ou até já dar os primeiros passos. Figura 2 – Crescimento humano Fonte: Getty Images Mas pense em indivíduos da mesma idade, só que um pouco mais velhos, como adoles- centes, geralmente apresentam diferenças razoáveis de peso, estatura, composição corpo- ral, bem como nos níveis de coordenação motora ao realizar determinados movimentos. Por que isso acontece? Lembre-se: você, como futuro Profissional de Saúde poderá ser questionado das razões de tais mudanças, e precisa entender claramente que mudanças não podem ser interpretadas exclusivamente por uma ótica biológica. Você precisa levar sempre em consideração que, além de uma carga genética espe- cífica que carregamos, herdada de “nossos pais”, existe um contexto e ou ambiente em que estamos inseridos que pode modular certas mudanças estruturais e, principalmente, comportamentais. 10 11 Sendo assim, nos primeiros anos de vida, fica fácil identificar mudanças somente a partir da idade cronológica da criança. Entretanto, à medida que ela cresce, isso vai ficando cada vez mais impreciso. Existem classificações e subclassificações etárias que agrupam os indivíduos de acor- do com sua idade cronológica, a partir de mudanças e de características comuns aos respectivos períodos de idade. Da concepção até o nascimento, atribui- se o nome de período ou de idade pré-natal, a qual será, posteriormente, abordada com mais detalhes em um tópicoespecífico desta Unidade. Após o nascimento, inicia-se a vida pós-natal, que é comumente dividida em pelo menos três, quatro e até cinco períodos ou mais, de acordo com o foco do referencial teórico de estudo. Em nosso caso, utilizaremos uma classificação adaptada de Gallahue e Ozmun (2003), bem aceita no meio acadêmico, que tem seis períodos de idades cronológicas aproximadas. Tabela 1 – Classifi cação da idade cronológica Período Idade Aproximada Vida pré-natal Concepção ao nascimento Primeira infância Nascimento aos 24 meses Infância 2-10 anos Adolescência 10-20 anos Idade adulta jovem 20-40 anos Meia-idade 40-60 anos Terceira idade Acima de 60 anos Fonte: Adaptada de de GALLAHUE; OZMUN, 2003 Figura 3 – Crescimento Humano: fase pré-natal Fonte: Getty Images É aceito universalmente, principalmente, no contexto da Saúde Pública mundial, que a primeira década de vida é o período da Infância. 11 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Comumente, encontram- se subclassificações de Primeira e Segunda Infância, sendo elas diferentes entre os países e os campos de estudo. Muitos lugares do mundo utilizam essas subclassificações em conjunto com as divisões de idade do Sistema Educacional. Por exemplo, no Brasil, pode ser considerada Primeira Infância os anos pré-escolares – até por volta dos 6 anos de idade, e Segunda Infância o período dno Ensino Fundamental I – por volta dos 6 aos 10 ou 11 anos de idade. O início da Infância também pode ser subdividido em período perinatal (em torno da hora de nascimento até a primeira semana), neonatal (o primeiro mês de vida) e pós-natal (o restante do primeiro ano). Apesar dessas diferentes subdivisões, nós nos ateremos à Primeira Infância como o período do nascimento até os 24 meses de vida (2 anos de idade) – que é considerado um período de rápido crescimento na maioria dos Sistemas e das dimensões corporais e de rápido desenvolvimento do Sistema Neuromuscular, e a Infância como do segundo ano de vida até por volta dos 10 anos de idade – considerado um período de progresso rela- tivamente estável em crescimento físico, maturação e desenvolvimento comportamental. A adolescência é um período difícil de definir em termos de idade cronológica, justa- mente porque o início e o término é definido pelo relógio biológico de cada ser. Apesar disso, a Organização Mundial da Saúde define, de maneira geral, a idade da adolescência entre 10 e 18 anos, mais especificamente as, faixas etárias entre 10 e 19 anos para meninas, e 10 e 22 anos para meninos, como limites para uma variação normal de início e de término da adolescência. Nesse período, os principais Sistemas Corporais se tornam adultos estrutural e fun- cionalmente, ou seja, é quando alcançam a maturidade. Estruturalmente, tem-se como início da adolescência a aceleração na taxa de crescimento em estatura que, após o pico, começa uma fase bem mais lenta, ou de desaceleração do crescimento, marcando o fim da adolescência e atingindo o que seria sua estatura adulta. Já funcionalmente, refere-se, principalmente, à maturidade sexual, que se inicia com al- terações neuroendócrinas que desencadeiam mudanças físicas notórias como o aumento no tamanho das mamas nas meninas e o aumento da quantidade de pelos nos meninos, dentre outras alterações perceptíveis, encerrando-se com o alcance da função reprodutiva madura. Figura 4 – Crescimento Humano: adolescência Fonte: Getty Images 12 13 Mais detalhes acerca das mudanças que ocorrem nos períodos etários serão apresen- tados ao longo dos estudos em Crescimento e Desenvolvimento Humano. Por agora, uma vez elucidados diversos aspectos referentes à idade cronológica, cabe aprofundarmos um pouco mais as discussões sobre o que se refere à idade biológica. Idade Biológica Importante! Idade biológica é o índice de progressão do indivíduo em direção à maturidade. Pode-se dizer que maturação é um processo e maturidade é um estado. Sendo assim, a maturação implica progresso em direção à maturidade, e quando buscasse medir, ain- da que indiretamente, esse progresso, atribuísse uma idade biológica que é baseada no potencial de maturidade total de um indivíduo. A maturação ocorre naturalmente, de acordo com o fator tempo, e a maturidade é eventualmente atingida em todos os tecidos, os órgãos e os Sistemas do corpo. Cada indivíduo tem um relógio biológico único, já definido desde sua concepção, que regula seu progresso para o estado maduro. Portanto, idade biológica é uma idade variável, que não corresponde necessariamente à idade cronológica. A duração do tempo de maturação biológica de uma criança não procede necessaria- mente em conjunto com o calendário ou com a idade cronológica da criança. Dentro de um grupo de crianças do mesmo sexo e da mesma idade cronológica, ha- verá variações na idade biológica, ou no nível de maturidade biológica atingido. Algumas crianças estão biologicamente avançadas em relação à sua idade cronológica, outras se atrasam biologicamente em relação à sua idade cronológica. Têm-se as definições de maturidade como operacionais, no sentido de que elas de- pendem do Sistema em particular, que estão sendo estudados. É um conceito operacional, porque o processo não pode ser observado ou mensurado diretamente. Indivíduos variam no nível de maturidade atingida em um determinado pe- ríodo da vida, na velocidade, na progressão das mudanças e na duração de tempo para cada Sistema específico. Por exemplo, a maturidade do Sistema Esquelético de um indivíduo pode ou não coincidir com a maturidade sexual dele. Pessoas de mesma idade cronológica podem apresentar um estágio de maturação mais avançado ou atrasado em determinados Sistemas, quando comparadas um ao outro ou em relação ao esperado para sua idade cronológica. Sendo assim, apesar de cada indi- víduo ter um relógio biológico, internalizado, que influencia o progresso para o estado maduro, pode-se relacionar tempo biológico ao tempo de vida advindo do calendário, a partir de faixas de idades ou de períodos comuns para que algumas mudanças aconteçam. 13 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Isso só é possível a partir de alguns indicadores, que nada mais são do que formas indiretas de se mensurar a idade biológica de um indivíduo. Os indicadores de idade biológica frequentemente utilizados por pesquisadores de cresci- mento são: maturação esquelética, maturação sexual e maturação somática ou morfológica. Esses três Sistemas quase sempre estão relacionados à sua idade de progressão. O apa- recimento e a calcificação dos dentes também são ocasionalmente usados como indicadores de maturidade. Vejamos alguns detalhes sobre a maturação de cada um desses Sistemas, bem como sua função como indicadores de maturidade. Maturação Esquelética A maturidade esquelética é considerada um dos melhores métodos para a avaliação de idade biológica. Uma pessoa inicia a vida com um esqueleto com várias partes constituídas de carti- lagem. Com o passar do tempo, ocorre o crescimento longitudinal (aumento do com- primento) e circunferencial (aumento do diâmetro) do osso, decorrente de processos específicos que desencadearão calcificação e ou mineralização do tecido ósseo. O esqueleto é composto por mineral, colágeno, substância intercelular, água, lipídio e vasos sanguíneos. Basicamente, com o processo de crescimento e de maturação óssea, o modelo cartilaginoso (rico em colágeno) é substituído gradualmente por um tecido ósseo calcificado, algo que se inicia ainda na vida pré-natal e continua até por volta da segunda década de vida para alguns ossos longos. Sendo assim, tanto o ponto inicial quanto o ponto final do processo de maturidade são conhecidos, pois a estrutura do esqueleto de todos os indivíduos progride de carti- lagem a osso. O esqueleto pode ser considerado um indicador de maturidade ideal porque seus períodos de maturidade ocorrem durante todo o processo de crescimento.A taxa com que os ossos progridem, a partir do modelo de cartilagem até a forma- ção óssea inicial, o formato dos ossos até a morfologia adulta, varia entre ossos de uma mesma pessoa e entre as pessoas. Importante! O progresso de maturação do esqueleto pode ser monitorado com o uso cuidadoso de radiografias. Observe exemplos de radiografias da estrutura da mão e do punho de crianças: 14 15 Figura 5 – Radiografi as da mão e do punho de pessoas com 8 meses, 30 meses, 4, 6, 7, 10, 15 e 18 anos de idade Fonte: Adaptada de GILSANZ; RATIB, 2005 Ao observar a estrutura óssea da mão e do punho de bebês, percebe-se pequenos es- paçamentos entre as falanges dos dedos e entre os ossos carpais e metacarpais do punho. As falanges fazem parte da categoria de ossos longos (de cuja categoria também fazem parte ossos como o úmero, o fêmur, a tíbia etc.) e os ossos carpais e metacarpais fazem par- te da categoria dos ossos curtos (como os ossos tarsais e metatarsais, localizados nos pés). Cada osso longo inclui uma diáfise (corpo do osso) e uma epífise (extremidade do osso), que são separadas por uma placa de crescimento, também chamadas de “epífises abertas”, que nada mais são do que esses espaçamentos entre as extremidades ósseas. Note, nas radiografias, como essas epífises abertas, que são preenchidas por cartila- gem, vão diminuindo consideravelmente ao longo da infância e da adolescência, estando quase que totalmente “fechadas” (calcificadas) por volta dos 18 anos de idade. Os espaços aparentemente vazios entre os ossos carpais e metacarpais também de- saparecerão com a calcificação das cartilagens. No caso desses ossos curtos e outros semelhantes no esqueleto, a ossificação começa a partir do centro, que é meio arre- dondado, expandindo-se, gradativamente, até que o osso atinja seu formato geométrico específico, encaixando-se quase que perfeitamente, agora totalmente calcificado. Observe, a seguir, uma radiografia da estrutura dos ossos ao redor do joelho de uma criança: Figura 6 – Radiografi a do joelho de uma criança com as placas epifi sárias do fêmur e da tíbia abertas (não calcifi cadas) Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons 15 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Perceba, nesse caso, a partir da radiografia do joelho de uma criança, que os ossos longos fêmur e tíbia têm, em sua extremidade medial, um pequeno espaçamento, que aparece como uma linha mais escura na imagem que, na verdade, não está vazia, mas preenchida por cartilagem. Essa linha epifisária, chamada de placa epifisária ou placa de crescimento, com o passar dos anos, diminuirá progressivamente, ou seja, ocorrerá a calcificação gradativa do tecido ósseo, de forma que, entre os 14 e 16 anos de idade, se novamente radiogra- fada, tende a nem mais aparecer. As alterações pelas quais cada osso passa, desde a ossificação inicial até atingir a morfologia adulta, são bastante uniformes e, por isso, fornecem uma base para a avalia- ção da maturidade esquelética. Essas alterações são chamadas de indicadores de maturidade. Como já exemplificado na mão e no punho, suas características específicas de mudanças podem ser notadas e comparadas por meio de radiografias, vez que tais alterações ocorrem regularmente, uma ordem definida e irreversível. Assim, torna-se possível, por exemplo, para os médicos pediatras, solicitarem aos seus pacientes, no caso crianças, que realizem esse exame, possibilitando comparar suas radiografias a um referencial do que se espera em cada idade específica, e assim aponte se a criança está ou não dentro de uma maturidade esquelética esperada para sua idade cronológica. Em alguns casos alarmantes, um exame mais sofisticado, como a Densitometria Ós- sea, pode ser solicitado. Densitometria óssea: quem deve fazer este exame? Para que serve? Disponível em: https://bit.ly/3mliPzE Densitometria Óssea. Disponível em: https://youtu.be/k0jY8SW5FsI Uma vez tendo sido identificado por meio desse e por meio de outros indicadores de maturidade, por exemplo, um atraso muito grande na calcificação das placas de cresci- mento, o médico poderá intervir, com indicação do popular hormônio do crescimento “GH”, entre outras ações. Veja mais sobre hormônio do crescimento: • Aula Hormônio do Crescimento. Disponível em: https://youtu.be/rUklxbru-Rw • Hormônio do Crescimento (GH): Influência do GH no crescimento dos ossos e mús- culos. Disponível em: https://youtu.be/jfUoA2uiC9I 16 17 Maturação Sexual Outro importante indicador de maturidade e que permite inferir idade biológica é a maturação sexual, pois se trata de um processo contínuo que se inicia já na diferenciação sexual no embrião, ou seja, ainda na vida pré-natal, passando pela puberdade até a matu- ridade sexual completa, tendo como consequência a fertilidade. De forma simplificada, a puberdade é o período de transição entre a pré-adolescência (fim da infância e início da adolescência) e a idade adulta, envolvendo, principalmente, a maturação do Sistema Reprodutivo e o crescimento adolescente acelerado. Importante! Sinais visíveis de maturação sexual aparecem em uma sequência ordenada, de forma que o estado de maturidade pode ser avaliado com base no aparecimento de algumas manifes- tações externas, que podem ser chamadas de características sexuais secundárias. Obviamente, a maturidade sexual é a capacidade de reproduzir. Nas meninas, envolve a capacidade de liberação de um óvulo maduro, bem como a possibilidade de sustentar uma gravidez produzindo um descendente saudável. Os sinais externos e ou características secundárias que antecedem essa capacidade reprodutora feminina aparecem, geralmente, na seguinte sequência: 1. Rápido aumento de peso e de estatura; 2. Mudanças nas mamas; 3. Certo arredondamento ou aparecimento das curvaturas femininas, como o au- mento da circunferência do quadril pelo alargamento da bacia; 4. Crescimento de pelos pubianos, seguido do aparecimento de pelos axilares; 5. Primeira menstruação ou menarca; 6. Encerra-se com uma diminuição abrupta do crescimento linear, ou seja, inter- rupção do crescimento perceptível. Nos meninos, a maturidade sexual envolve a capacidade produção de espermatozoi- de maduro, capaz de fertilizar um óvulo. As características que antecedem essa capaci- dade de reprodução costumam se manifestar na seguinte ordem: 1. Aumento de peso; 2. Aumento dos testículos; 3. Rápido aumento estatural; 4. Crescimento dos pelos pubianos, aparecimento dos pelos axilares, seguido pelo crescimento dos pelos faciais; 5. Mudanças na laringe, alteração perceptível no timbre de voz e crescimento do pênis; 6. Ejaculações noturnas, finalizando com uma brusca diminuição do crescimento linear. 17 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Perceba que, apesar de existir um relógio biológico ditando o aparecimento de tantas mudanças, justamente por existir um ritmo de aparecimento razoavelmente comum entre indivíduos, torna-se possível avaliar a maturidade sexual com base nas caracterís- ticas secundárias: desenvolvimento dos seios e menarca em meninas, desenvolvimento genital (pênis e testículos) em meninos e pelos pubianos em ambos os sexos. O uso dessas características como indicadores do progresso de maturidade é limitado à fase puberal (de puberdade) do crescimento e da maturidade, ou seja, possui aplica- bilidade limitada durante o estirão de crescimento, diferente da maturação esquelética possível de ser monitorada, desde a infância até a idade adulta. Você Sabia? No início da adolescência, acontece o estirão de crescimento, que é caracterizado pelo crescimento corporal muito rápido, com mudanças rápidas no peso corporal e na esta- tura, sendo algo que ocorre antes nas meninas em relação aos meninos. O progresso de maturidade avaliado a partir das características secundárias, se resume em uma escala dividida em 5 estágios de aparecimento dessas características. Os critérios utilizados para referenciaro progresso de maturação são os estágios de pelos pubianos, seios e órgãos genitais descritos por James Mourilyan Tanner, em 1962. O objetivo deles é facilitar o entendimento entre as variações que acontecem com os adolescentes em relação à duração e à época em que acontecem alterações nessas características físicas. Para mais informações, acesse o link a seguir e leia o Artigo de Revisão sobre avaliação de maturidade sexual. Disponível em: https://bit.ly/3AW0oWc A seguir, apresenta-se uma Tabela que resume esses estágios: Tabela 2 – Características do adolescente de acordo com o sexo e o estágio de maturação sexual de Tanner (1962) Sexo masculino Pelos pubianos (P) Genitália (G) Estágio 1 Nenhum Características infantis sem alteração Estágio 2 Presença de pelos finos e claros Aumento do pênis, pequeno ou ausente, aumento inicial do volume testicular Estágio 3 Púbis coberto Crescimento peniano em comprimento: maior crescimento dos testículos e do escroto Estágio 4 Tipo adulto: sem extensão para as coxas Crescimento peniano principalmente no diâmetro Estágio 5 Tipo adulto: com extensão para as coxas Desenvolvimento completo da genitália 18 19 Tabela 3 – Características do adolescente de acordo com o sexo e o estágio de maturação sexual de Tanner (1962) Sexo feminino Pelos pubianos (P) Mamas (M) Estágio 1 Ausentes Sem modificação da fase infantil Estágio 2 Pequenas quantidades: longos, finos e lisos Brotos mamários; elevação da aréola e distribuídos ao longo dos grandes lábios papilas formando uma pequena saliência Estágio 3 Aumento da quantidade e espessura, mais escuros e encaracolados Maior aumento da mama e da aréola, mas sem separação dos contornos Estágio 4 Pelos do tipo adulto: cobrindo mais densa-mente a região púbica, sem atingir as coxas Maior crescimento da mama e da aréola, havendo separação dos contornos Estágio 5 Pilosidade pubiana igual a do adulto, invadindo a parte interna das coxas Mamas com aspecto adulto, o contorno areolar é incorporado novamente ao contorno da mama Maturação Dental Na maturação dental, o principal e mais utilizado meio para identificação da maturi- dade é o momento de erupção dental e de calcificação dos dentes permanentes. A época ou a idade de surgimento dos dentes de leite (primeira dentição) – por volta dos 6 aos 24 meses de idade, e dos dentes permanentes – entre 6 a 13 ou 14 anos de idade, são importantes indicadores de maturidade. A calcificação dos dentes permanentes tem sido utilizada para estimar o estágio de maturidade dental de maneira semelhante à avaliação de maturidade esquelética. O procedimento mais comum para a avaliação da maturidade dental requer um raio-X dos sete dentes em um quadrante da boca (dois incisivos, o canino, dois pré-molares e o primeiro e o segundo molares). Os critérios utilizados para análise das radiografias são baseados nas características comuns a um dente. Cada dente possui uma coroa com cúspide e uma raiz. Existem critérios específicos descritos para cada dente, à medida que passa do início da calcificação das pontas (os primeiros indicadores de formação da coroa) para a for- mação da raiz, e consequente fechamento dela no ápice do dente. Uma análise desse quadro permite atribuir uma pontuação a cada estágio de ma- turação e a somatória dos pontos permite estimar uma idade dentária, num processo semelhante à análise de radiografias para estimar uma idade esquelética. 19 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Figura 7 – Substituição dos dentes de leite pelos dentes permanentes Fonte: Wikimedia Commons Maturação Morfológica (Somática) A maturação morfológica, também denominada, maturação somática, é outro exem- plo de indicador de maturidade, muito importante, e mais próxima à atuação do Profis- sional de Saúde se comparada a outros indicadores discutidos até então. Avaliar a maturação morfológica implica a tentativa de estimar o quanto um indivíduo evoluiu em seu potencial total de crescimento. Para tanto, utilizam-se medidas antropométricas, que nada mais são do que as dife- rentes possibilidades de medidas corporais de um ser, tais como estatura, massa corpo- ral, comprimento e circunferência dos segmentos, dobras cutâneas e diâmetros ósseos, dentre outras. Por meio dessas medidas, torna-se possível avaliar o crescimento geral e ou somático (soma das partes) de um ser em crescimento e até comparar com um referencial para indicar maturidade de crescimento. É importante destacar que não é possível avaliar a maturidade somente pela utilização de medições corporais. O tamanho do corpo de um indivíduo, como um todo ou em partes específicas, não corresponde necessariamente a um grau de maturidade comum atingido para pessoas do mesmo tamanho ou idade. Como já discutido, duas crianças podem ter a mesma estatura em certa idade, mas uma delas já ter atingido uma porcentagem maior de tamanho adulto do que a outra. Apesar de medidas corporais não serem suficientes para indicar maturidade, elas podem ser associadas a dados normativos ou referenciais de determinada população, possibilitando, assim, fazer considerações sobre o progresso de maturidade. 20 21 Dados normativos ou de referência podem ser entendidos, simplificadamente, como valores adquiridos de determinada quantidade de indivíduos que, estatisticamente, po- dem representar ou estimar um todo, como a população de uma cidade, região ou país. Importante! Peso (massa corporal) e estatura são as medidas mais comuns em estudos de crescimen- to. Ambas as grandezas são frequentemente medidas em crianças, seja em Hospitais, Escolas ou Clubes Esportivos, na busca de monitorar o status ou a progressão de cres- cimento ao longo do tempo, seja na comparação da criança com ela mesma ou com a média de seus pares de idade (dados normativos). Esse status de crescimento também é denominado evolução pôndero-estatural. Ao observar graficamente os padrões de alteração em estatura e em peso de dife- rentes pessoas, até por volta dos 18 anos de idade, percebe-se o desenho de curvas muito semelhantes. O padrão de alterações em cada idade é normalmente semelhante em todas as crian- ças e, apesar disso, o tamanho atingido em cada idade específica varia consideravelmen- te de criança para criança. Sabendo-se disso, tabelas pôndero-estaturais são baseadas em curvas de distância ou de crescimento (caminho percorrido para se atingir o potencial de maturidade para cada idade). Essas curvas representam os valores médios e as variações de um grande número de indivíduos em cada nível de idade, sendo ótimos indicadores do estado de crescimento de um indivíduo. Do nascimento até o início da vida adulta, tanto estatura quanto peso corporal se- guem um padrão de crescimento que pode ser agrupado em quatro fases: 1. Ganho rápido na infância e no início da pré-adolescência; 2. Ganho ligeiramente fixo (proporcional) durante o meio da pré-adolescência; 3. Rápido ganho durante o estirão de crescimento adolescente; 4. Aumento lento até cessar o crescimento com o alcance do potencial de estatura adulta (o peso permanece variável após isso, não por conta da maturação, mas sim por outras influências, sejam biológicas ou comportamentais, por exemplo, desequilíbrio hormonal, desnutrição, sedentarismo e obesidade, dentre outros). Meninos e meninas seguem essa mesma trajetória de crescimento. Apesar disso, existem pequenas (mas consistentes) diferenças entre os sexos antes do estirão de cres- cimento, sendo os meninos levemente mais altos e pesados que as meninas. Também se observam diferenças logo com o início do estirão: meninas são tempora- riamente mais altas e pesadas, por iniciarem essa fase de crescimento acelerado antes. Essa vantagem em tamanho acaba com o início do estirão de crescimento dos meni- nos, que logo ultrapassam as meninas, permanecendo, na maioria dos casos, mais altos e mais pesados. 21 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação como Crescimento A seguir, são apresentadas as Tabelas Pôndero-estaturais com as curvas de distância utilizadas mundialmente para avaliação de crescimento em meninos e meninas dos 2 aos 20 anos de idade, especificamente para peso (massa corporal) e estatura. Procure identificar todos os padrões de alterações descritos no crescimento, bem como as diferenças entre meninas e meninos, discutidas no parágrafo anterior. Idade (anos) Figura 8 – Percentual de peso por idade de meninos americanos dos 2 aos 20 anos de idade. Gráficos de Crescimento dos Centros para Controle de Doenças Fonte: Adaptada de CDC, 2000 Idade (anos) Figura 9 – Percentual de peso por idade de meninas americanas dos 2 aos 20 anos de idade. Gráficos de Crescimento dos Centros para Controle de Doenças Fonte: Adaptada de CDC, 2000 22 23 Idade (anos) Figura 10 – Percentual de estatura por idade de meninos americanos dos 2 aos 20 anos de idade. Gráfi cos de Crescimento dos Centros para Controle de Doenças Fonte: Adaptada de CDC, 2000 Idade (anos) Figura 11 – Percentual de estatura por idade de meninas americanas dos 2 aos 20 anos de idade – Gráfi cos de Crescimento dos Centros para Controle de Doenças Fonte: Adaptada de CDC, 2000 23 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Para a utilização correta das Tabelas Pôndero-estaturais, identifique com atenção: • Qual a idade da criança ou do adolescente a ser avaliada. Encontre-a no eixo X do gráfico (parte mais inferior na horizontal); • Qual a altura ou o peso corporal medido. Encontre, agora, no eixo Y do gráfico (linha vertical à esquerda), utilize a escala em centímetros (cm); • Cruze as linhas correspondentes à idade (eixo X) e à medida corporal (eixo Y), o ponto de intersecção refere-se ao percentil correspondente para a criança que está sendo avaliada. Percentil é um ponto específico em uma distribuição em que existe uma determinada porcentagem de casos acima e abaixo desses pontos, por exemplo, no percentil 50° identificamos que 50% da população está acima, e 50% está abaixo, ou seja, uma crian- ça que seja avaliada e identificada nesse valor de percentil encontra-se justamente na média (curva da média é identificada com uma linha mais escura nas Tabelas). As curvas de crescimento mais comuns incluem percentis nos valores de: 5°, 10°, 25°, 50°, 75°, 90° e 95°. Leia com atenção o exemplo a seguir, que ilustra a interpretação de um percentil qualquer encontrado na Tabela para uma criança em determinada idade. Suponha que um menino de 10 anos de idade tenha uma estatura de 131cm e uma massa corporal de 29kg. Ao olhar para as Tabelas e encontrar o ponto específico, onde os eixos X e Y se cruzam, de acordo com as informações coletadas da criança avaliada, você encontrará que esse menino tem uma estatura no percentil 10° e um peso corporal no percentil 25°. O que isso significa? Pode-se dizer que, para estatura, somente 10% dos meninos da mesma idade são mais baixos que a criança avaliada ou, ainda, que 90% dos meninos da mesma idade são mais altos que ele. Já no caso do peso corporal, pode-se assumir que 25% dos meninos de mesma idade são mais leves e 75% dos meninos de mesma idade são mais pesados do que ele. Independente da idade, percentis acima ou abaixo de 50° indicam que a criança está acima ou abaixo, respectivamente, da estatura e do peso corporal. Nesse caso, a criança avaliada estaria abaixo da média esperada para a sua idade. E o que implicam esses valores do exemplo citado Nesse caso específico, não há muito com o que se preocupar. Essa criança, provavel- mente, é um pouco mais baixa e mais leve que a maioria das crianças, e isso pode ser monitorado ao longo dos anos, verificando a progressão da maturidade de crescimento, se essa relação com seus pares de idade aumenta ou diminui, comparando a evolução desse menino com ele mesmo. Algo considerado muito importante para se monitorar, nesse caso, é se, ao longo da idade, esse menino venha a estar abaixo do menor percentil da tabela (3°). 24 25 Caso isso aconteça, algumas medidas podem ser tomadas, como, por exemplo, a realização de alguns exames que verifiquem os níveis do hormônio do crescimento (GH), a comparação com outros indicadores de maturidade, como o raio-x, para verificação da maturidade esquelética, investigação dos hábitos alimentares que possam ter ocasionado desnutrição e investigação de doenças, dentre outras medidas possíveis. O quadro oposto segue a mesma regra: crianças acima do percentil 97° carecem de certa atenção, cabendo também uma investigação mais aprofundada, podendo identi- ficar casos de sobrepeso, obesidade ou, ainda, doenças como o gigantismo, que é uma enfermidade hormonal causada pela excessiva secreção do hormônio do crescimento, que pode vir até a causar a morte. Sendo assim, podemos concluir, acerca de dados de referência: curvas de crescimento servem para comparação, classificação individual ou de grupos de crianças. Os valores indicados nas curvas não são necessariamente ideais, normais, desejá- veis ou padrão: eles apenas indicam as médias (valores esperados) dos indivíduos em diferentes idades, ou seja, mostram como estão em sua maturidade morfológica e não necessariamente como deveriam estar. Esses dados de referência podem ser usados para identificar os indivíduos como “anormais” se suas medidas estiverem fora dos valores de corte (abaixo dos percentis 3° e 5° ou acima dos percentis 95° e 97). Até então, foram predominantemente discutidas as principais formas de inferir ou até mesmo de classificar a idade biológica de um indivíduo em crescimento. A seguir, é apresentada uma Tabela que resume e classifica as 4 formas de indicar a maturidade. Tabela 4 – Classifi cação da idade biológica: indicadores de maturidade Classifi cação da Idade Biológica Maturação Descrição Exemplos Morfológica Medidas corporais comparadas a padrões normativos. Massa e estatura corporal comparadas às tabelas pôn- dero-estaturais. Esquelética Registro do esqueleto em desenvolvimento. Raio X dos ossos da mão e do punho. Tabela 5 – Classifi cação da idade biológica: indicadores de maturidade Classifi cação da Idade Biológica Maturação Descrição Exemplos Dental Calcificação dos dentes permanentes, idade de erupção, características específicas de cada dente. • Raio X e exames dentários de rotina. Sexual Baseado no desenvolvimento das características sexuais secundárias. • Desenvolvimento das mamas e menarca (meninas); • Desenvolvimento do pênis e dos testículos (meninos); • Aparecimento dos pelos pubianos (meninos e meninas); • Escala de Tanner; • Outros indicadores comuns: pelos axilares, mu- danças na voz e pelos faciais, entre outros. 25 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Avaliação do Crescimento Somático (Geral) Conforme discutido, peso e estatura são ótimos indicadores de crescimento somático (ge- ral). Dentre os aspectos facilitadores, encontra-se a obtenção dessas medidas, por exemplo, na Escola, pelo caráter não invasivo, e pela não necessidade de equipamentos sofisticados. Um outro aspecto facilitador em se trabalhar com essas medidas é a disponibilidade de dados normativos acessíveis, encontrados facilmente em livros da Área ou gratuita- mente na Internet. Sendo assim, pode-se considerar essas grandezas, massa corporal e estatura, ferra- mentas úteis para o professor acompanhar o crescimento, e por que não dizer, a matu- ração dos seus alunos. Apesar disso, em alguns casos, apenas essas medidas antropométricas não são sufi- cientes para fornecer as informações necessárias para entender de forma mais precisa o processo de crescimento somático. Uma forma de aumentar a quantidade de informações é a utilização de alguns índi- ces disponíveis na Literatura, que são decorrentes da combinação de algumas medidas antropométricas, a partir de cálculos matemáticos, referenciados e normatizados para diferentes populações. Importante!Simplificadamente, o IMC indica o grau de obesidade de uma pessoa. O Índice de Massa Corporal (IMC) e o Índice de Relação Cintura e Quadril (IRCQ) são exemplos de índices mundialmente utilizados e que serão brevemente abordados a partir de agora. Para tanto, o cálculo que precisa ser realizado envolve as medidas de peso corporal em Quilogramas (Kg) e a estatura em metros (m) do indivíduo, conforme na fórmula a seguir: 2( ) Peso IMC Altura altura altura = ´ Um indivíduo com um peso corporal de 66Kg e uma estatura de 1,65m apresentaria o seguinte valor de IMC: 2 66 24,2 1.65 1,65 kg IMC kg m m m = = ´ 26 27 Figura 12 – IMC e relação com o crescimento humano Fonte: Getty Images A partir do valor de IMC obtido, você deve, então, acessar os dados normativos equi- valentes à população e à idade avaliada para encontrar uma classificação. Deve-se ter cuidado, principalmente, com idade avaliada, pois crianças e adultos têm Tabelas de Classificação para IMC específicas, assim como a maioria das populações têm seus próprios dados normativos. No caso de crianças e de adolescentes, as Tabelas são separadas especificamente para meninos e meninas. SISVAN municipal – Estado Nutricional dos Usuários da Atenção Básica. Disponível em: https://bit.ly/2V5svDa Calculadora de IMC. Disponível em: https://bit.ly/3BsXiJl No exemplo calculado, para um brasileiro adulto, com um IMC de 24,2kg/m2, tem- -se a classificação de “Peso normal”, já que esse valor encontra-se na faixa de valores aceitáveis para normalidade (entre 18,5 e 24,9), conforme indicado na Tabela para adul- tos elaborada pela Associação Brasileira para Estudo da Obesidade: Tabela 5 – Classifi cação para IMC IMC Situação < 18,5 Abaixo do peso 18,5 – 24,9 Peso Normal 25 – 29,9 Sobrepeso 30 – 34,9 Obesidade Grau I 35 – 39,9 Obesidade Grau II 40 – acima Obesidade Grau III 27 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento O IRCQ permite inferir, de maneira simplificada, a quantidade de gordura depositada na região da cintura (barriga), possibilitando quantificar o risco à saúde de homens e de mulheres com relação ao depósito de gordura visceral. Para isso, o cálculo que precisa ser realizado envolve dividir o valor da medida da cir- cunferência da cintura (medição na altura do umbigo) pela medida da circunferência do quadril (medição na maior circunferência glútea), ambas expressas em centímetros (cm). Um homem de 30 anos de idade, com medida de circunferência da cintura de 88cm e do quadril de 97cm tem um valor calculado de IRCQ de 0,90 (faixa entre 0,84 e 0,91 para homens entre 30 e 39 anos de idade), o que indica risco moderado para desenvol- ver problemas de saúde decorrentes do excesso de gordura visceral, como, por exemplo, doenças cardiovasculares. Mais uma vez, deve haver cuidado na seleção da Tabela com valores normativos para classificação, no caso do IRCQ, existem Tabelas separadas para homens e mulheres. Existem algumas Tabelas para crianças também, mas o uso desse índice em crianças não é tão comum. O cálculo utilizado para o exemplo, bem como a Tabela de classificação para homens e mulheres, é apresentado a seguir: 88 0,90 97 cm RCQ cm = = Tabela 6 – Classificação do IRCQ para homens Classificação de Riscos para Homens Idade Baixo Moderado Alto Muito Alto 20 a 29 < 0,83 0,83 a 0,88 0,89 a 0,94 > 0,94 30 a 39 < 0,84 0,84 a 0,91 0,92 a 0,96 > 0,96 40 a 49 < 0,88 0,88 a 0,95 0,96 a 1,00 > 1,00 50 a 59 < 0,90 0,90 a 0,96 0,97 a 1,02 > 1,02 60 a 69 0,91 a 0,98 0,99 a 1,03 > 1,03 Tabela 7 – Classificação do IRCQ para mulheres Classificação de Riscos para Mulheres Idade Baixo Moderado Alto Muito Alto 20 a 29 < 0,71 0,71 a 0,77 0,78 a 0,82 > 0,82 30 a 39 < 0,72 0,72 a 0,78 0,79 a 0,84 > 0,84 40 a 49 < 0,73 0,73 a 0,79 0,80 a 0,87 > 0,87 50 a 59 < 0,74 0,74 a 0,81 0,82 a 0,88 > 0,88 60 a 69 < 0,76 0,76 a 0,83 0,84 a 0,90 > 0,90 Em avaliação morfológica, existem diferentes métodos, medidas, índices, dados e padrões normativos que possam ser utilizados. 28 29 Avaliações mais precisas requerem medidas mais precisas, o que pode envolver maio- res custos com equipamentos mais específicos. Por exemplo, para avaliações mais pre- cisas sobre a quantidade de gordura corporal, um método antropométrico que pode ser utilizado é o de dobras cutâneas, o que exige um aparelho específico chamado adipôme- tro, além de alguns cuidados para a avaliação, que é um pouco mais invasiva, complexa e demorada que uma simples medição de peso e de estatura. Apesar disso, as informações advindas desse método são mais precisas que o IMC, que pode, em alguns casos específicos, incorrer em erros de diagnóstico, como no caso da utilização desse índice em atletas ou em pessoas que possuam maior quantidade de massa muscular pela prática de atividade física. Nesses casos, não é indicado na utilização do IMC, já que ele não leva em conside- ração a composição corporal. Baterias com combinações de medidas antropométricas, tais como dobras cutâneas, comprimento e circunferência dos segmentos corporais e diâmetros ósseos são mais indicadas e mais sensíveis para um diagnóstico mais preciso na avaliação da composição corporal. Para mais informações sobre métodos de avaliação, índices, dados normativos, ou mais de- talhes para a realização das medidas aqui abordadas, acesse o link a seguir: Avaliação morfológica. Disponível em: https://bit.ly/3DpdIEK As medidas antropométricas são frequentemente utilizadas para a realização de infe- rências sobre a formação corporal como um todo. Por exemplo, ao se deparar com va- lores de uma avaliação morfológica de peso e de estatura a partir das Tabelas Pôndero- -estaturais, uma criança que está no percentil 50 de peso e no percentil 25 de estatura pode ser descrita como “baixa e robusta”. Já uma criança no percentil 75 de estatura e no percentil 25 de peso pode ser des- crita como “delgada” ou “linear” em sua estrutura corporal. Pessoas frequentemente descrevem umas às outras como tendo relativamente “per- nas curtas” ou ombros “largos”, braços finos e pescoço largo, entre outras. Essas são afirmações gerais costumeiras sobre o físico de um indivíduo, a partir de valores ou de impressões que nem sempre condizem exatamente com a realidade. Embora as proporções e os índices produzidos a partir de várias combinações de dimen- sões antropométricas forneçam significantes informações sobre o físico, elas têm limitações. Utilizadas isoladamente, não são adequadas nem exatas para indicar a estrutura física corporal. Uma criança com um elevado peso em relação à estatura não é necessaria- mente “baixa ou robusta”. A criança pode simplesmente ser obesa. Da mesma forma, uma criança com baixo peso para a estatura pode estar cronica- mente subnutrida, em vez de simplesmente ter uma estrutura corporal linear. 29 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Avaliação Somatotipológica Uma das formas de se classificar as mudanças na estrutura física do ser, que ocorre com os processos de crescimento e de maturação é a avaliação do Somatotipo. William Sheldon foi o precursor de um método de avaliação e de classificação da constituição física e ou biotipo de uma pessoa em três condições diferenciadas, a partir de características específicas comuns entre as pessoas. É bem verdade que esse método, criado ainda em 1940, já foi modificado e aperfei- çoado por outros pesquisadores. Entretanto, a base dessa técnica para avaliação estrutural se remete às primeiras ideias de Sheldon, classificando o tipo físico, a soma das características estruturais agru- padas em três classificações gerais: Ectomorfia, Mesomorfia e Endomorfia. Inicialmente, o método de avaliação do Somatotipo consistia basicamente na análise de três fotografias padronizadas das partes anteriores, laterais e posteriores de um indi- víduo em frente a uma grade calibrada. A partir de uma observação minuciosa dessas fotografias, e com o auxiliodas medi- das de massa e de estatura, o indivíduo avaliado poderia ser classificado como Ectomor- fo, Mesomorfo ou Endomoformo (de acordo com a predominância de outra condição). Não é nosso intuito de estudo entender, detalhadamente, o processo para análise do somatotipo, que foi aperfeiçoado por Heath e Carter, ainda na década de 1960, com a inclusão de uma análise antropométrica mais específica, método que passou a ser utili- zado e, inclusive, é usado até hoje. Para atender nossos objetivos de estudo acerca desse assunto na Unidade, trataremos apenas das diferenças entre essas três condições usadas para classificar indivíduos de acordo com a predominância de certas características. Figura 13 – Classificações de Somatipo Fonte: Reprodução Observe a Figura 13, que ilustra o que diferencia, principalmente, as três classifica- ções somatotipológicas. A Ectomorfia, identificada, principalmente, pela magreza de um indivíduo, refere-se a uma estrutura corporal frágil, delicada, com segmentos finos, nariz e pescoço finos, 30 31 tórax aplainado e longo, ombros arredondados, braços longos e finos, dentre outros aspectos, podem ser classificados também como indivíduos longilíneos, pois seus ossos longos costumam ser mais compridos. Como extremo da Ectomorfia, tem-se a Endomorfia, identificada, principalmente, pela maior presença de adiposidade (gordura corporal). A Endormofia refere-se a indivíduos com maior arredondamento das curvas corpo- rais, cabeça larga e arredondada, pescoço mais curto e grosso, tórax mais alargado e grosso, braços curtos, abdômen largo, cintura ampla, nádegas e pernas grossas e largas. Podem também ser classificados como indivíduos brevilíneos, pois seus ossos longos costumam ser menores, indivíduos baixos e obesos são exemplos de Endomorfismo. Entre o Ectomorfo e o Endomorfo, classifica-se o Mesomorfo, caracterizado, princi- palmente, pelo porte atlético e musculatura mais aparente. A Mesomorfia é caracterizada pelo baixo percentual de tecido adiposo, a presença de maior volume de massa muscular é aparente, geralmente com contornos mais pre- dominantes na região do trapézio, do deltoide e abdominal, com volume torácico mais acentuado do que o abdômen. É bem verdade que o ser humano possui tendência natural a ser mais baixo ou mais alto, mais robusto ou mais magro, com as pernas e os braços mais compridos ou mais curtos, justamente em decorrência da hereditariedade. Entretanto, sabe-se que o comportamento do ser, ao longo da vida, dentro de um am- biente que estimule mais ou menos um ou outro componente, pode alterar a dominância de uma ou outra característica. Por exemplo, pessoas obesas caminham para o endomor- fismo independente de sua genética para ectomorfismo, assim como o oposto, pessoas desnutridas com uma hereditariedade para endomorfismo caminham para o ectomorfismo. Na verdade, nem sempre as pessoas apresentam exclusivamente as características para uma ou outra classificação de somatotipo. O que ocorre é que podemos encontrar um Ectomorfo dominante, Mesomorfo dominante ou Endomorfo dominante. É por isso que, para avaliação do somatipo, utiliza-se uma classificação em uma escala de 1 a 7 para cada um dos três componentes especificamente, em que, quanto mais alto o valor atribuído a um determinado componente, maior predominância dele, assim como um valor baixo, a ausência ou um valor próximo de quatro como presença moderada. Para mais informações a respeito desse tipo de avaliação, leia o capítulo Do Crescimento à Ma- turação do livro MALINA, R. M. Atividade Física do Atleta Jovem: São Paulo: Roca, 2002. Até aqui, abordamos, essencialmente, aspectos relacionados à idade biológica, à ma- turidade, à avaliação do crescimento somático e à classificação somatotipológica. Depois de abordados esses temas, podemos retornar às classificações etárias que agrupam os indivíduos de acordo com sua idade cronológica, apresentadas no início desta Unidade. 31 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Cabe-nos discutir acerca de algumas mudanças em crescimento, maturação e desen- volvimento funcional que ocorrem, ainda, no primeiro período de classificação da idade cronológica, o período pré-natal. Os demais períodos serão abordados em outros momentos de estudo. Pré-natal O período pré-natal inicia-se na concepção da vida e termina no nascimento. Diz respeito a toda vida intrauterina (na barriga da mãe) que, na maioria das vezes, dura em torno de 40 semanas ou, mais popularmente, 9 meses em nosso calendário, em condi- ções normais de gestação. Como nasce uma vida? A ideia aqui será responder a essa pergunta, que engloba algo tão cheio de detalhes e espetacular, de forma sucinta e direta. Cerca de 500 milhões de espermatozoides produzidos pelo órgão reprodutor mascu- lino são liberados pelo pênis, no momento da ejaculação, no sistema reprodutor femini- no, através da vagina. Esses espermatozoides procuram o óvulo, já liberado anteriormente por um dos ová- rios, que, no período fértil, avança pelas Tubas Uterinas. Na maioria das vezes, um único espermatozoide alcança tal objetivo da fecundação em um óvulo, dando, assim, origem a uma vida. Gestação Semana a Semana. Disponível em: https://youtu.be/mY9OF98gJEI Algo um pouco mais raro, e ainda mais formidável, é a concepção de duas vidas, dando origem a gêmeos. Em casos ainda mais raros, mais de duas vidas são concebidas: trigêmeos, quadrigê- meos, quíntuplos, sêxtuplos... não faltam explicações para essas raridades, que não será possível abordar agora em nossos estudos. Há dois tipos de gêmeos: univitelinos ou idênticos (monozigóticos) e bivitelinos ou fraternos (dizigóticos), que não são idênticos. Gêmeos bivitelinos são formados quando dois gametas femininos (óvulos) são ferti- lizados por dois gametas masculinos (espermatozoides). A cada três casos de gêmeos, dois são desse tipo. Os dois óvulos ou os zigotos formados (por isso dizigóticos) podem ser ou não do mesmo sexo, têmcarga genética diferente e, por isso, são como irmãos que nascem em diferentes datas. Já os gêmeos univitelinos são produtos de um fenômeno mais complexo que, apesar de muito discutido, não pode ser totalmente explicado. 32 33 Imediatamente depois da fertilização, ocorre uma divisão celular, em que o óvulo se divide em dois zigotos idênticos (por isso, monozigóticos), sob a influência de fatores desconhecidos. Esse tipo de gêmeos ocorre em apenas um terço dos casos e, por terem a mesma carga genética, são cópias perfeitas um do outro. Vida no ventre: Gêmeos. Disponível em: https://bit.ly/3DoIBc4 O crescimento pré-natal pode ser dividido em três estágios distintos: zigótico, embrio- nário e fetal. O estágio zigótico ou germinativo perdura da fecundação até a segunda semana de vida. 24 horas depois da fecundação, o óvulo germinado se divide e os genes, nesse mo- mento, ficam determinados para o resto da vida, ou seja, o componente biológico do ser já é estabelecido. Essa fase é caracterizada por rápida divisão celular (entre 24 e 36 horas depois da fecundação). Ao fim da primeira semana, é formado o blastocisto que, durante a segunda semana, já começa a se implantar na parede do útero, com diversas camadas celulares se tornan- do diferenciadas. Ao final da segunda semana, o embrião é claramente diferenciado, a placenta é forma- da, encerrando-se esse estágio com o embrião implantado com sucesso na parede uterina. O estágio embrionário acontece entre a segunda e a oitava semana (segundo mês) de vida pré natal. Nesse período ocorre um rápido crescimento e diferenciação celular, com a organização de células em tecidos, órgãos e sistemas. No fim do primeiro mês, ocorre a formação de três camadas de células: • Ectoderme, que diz respeito à formação da pele, do cabelo, das unhas, do cérebro, dos nervos, dos olhos, dos ouvidos e dos dentes, dentre outros; • Mesoderme, responsável pela formação dos músculos e dos ossos; •Endoderme, que remete à formação dos órgãos como pulmões, vísceras, estômago, intestinos etc. Ao término desse período, as características estruturais e funcionais básicas do indi- víduo já estão estabelecidas: olhos, orelhas, boca que se abre e fecha, nariz, fígado que secreta bílis, coração que bate, braços com cotovelo e pernas com joelho, distinguem-se os dedos, a medula espinhal e a cartilagem que se tornará ossos, entre outras funções. De forma geral, as alterações subsequentes ocorrem, principalmente, nas dimensões e no refinamento gradativo das funções. No início do terceiro mês, já no estágio fetal, o embrião, que agora deve ser chamado de feto, tem entre 3 e 4cm. No fim do terceiro mês, esse tamanho dobra, chegando a cerca dos 8cm. Esse período compreende todo restante da gestação, entre a nona e a quadragésima semana, sendo 33 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento caracterizado pelo rápido crescimento em tamanho e em massa, por mudanças nas pro- porções e pelo desenvolvimento da função dos tecidos, dos órgãos e dos sistemas. Ainda no começo do terceiro mês, já ocorre a diferenciação sexual, os órgãos como estômago e rim já passam a funcionar e pés e mãos apresentam dedos. No quarto mês, o ritmo de crescimento fica ainda mais rápido (o feto mede entre 15 e 20cm), os ossos começam a se desenvolver rapidamente próximo-distalmente (do centro do corpo para as extremidades). Entre o quinto e o sexto mês, o feto que media entre 20 e 26cm e pesava cerca de 280g passa a medir cerca de 36cm e pesar em tono de 900g. Nesse intervalo, surgem alguns movimentos reflexivos, unhas, olhos, glândulas sudo- ríparas e papilas gustativas estão formadas. O corpo fica coberto com pelo fino (lanu- gem), ocorre crescimento dos cabelos e o aparecimento da vérnix caseosa, uma substân- cia branca e oleosa (como um sebo) que protege a pele, que é extremamente sensível, de micro-organismos contidos no líquido amniótico. No final do estágio fetal, entre o sétimo e nono mês de gestação, a lanugem e vérnix caem e as unhas crescem além dos dedos, forma-se uma camada de tecido adiposo sob a pele (formação de um depósito desse tecido), ocorrendo rápido ganho de peso. Existe um controle crescente sobre os sistemas corporais, do oitavo mês em diante, ocorrem frequentes mudanças de posição, chutes e alongamentos reflexos do feto. O nascimento de uma criança, geralmente, ocorre próximo a 40 semanas de gestação, variando normalmente entre 38 e 42 semanas (gestação a termo). No nascimento, o bebê mede de 48 a 53cm, pesando cerca de 3 a 4kg. A formação de um bebê. Disponível em: https://youtu.be/axh8G6ptd04 Algumas características individuais do bebê, tais como a cor dos olhos e do cabelo e a pigmentação da pele, entre outras características, são determinadas geneticamente, logo após a fecundação. Outras são atribuídas como tendências, ou seja, possuem pré-disposição para ocor- rer, mas podem não necessariamente vir a acontecer, como, por exemplo, a estatura e o peso corporal. O peso ao nascer está relacionado a uma variedade de fatores, alguns determinados ge- neticamente, como o sexo do bebê, outros decorrentes de uma variedade de características maternas, tais como: peso, altura e constituição corporal da mãe, ganho de peso durante a gestação, estado nutricional, hábitos de fumar, beber, praticar atividade física, estado socio- econômico etc. Os fatores que influenciam o desenvolvimento/crescimento do indivíduo, adquirido durante a vida intrauterina, mas não por meio dos genes, são denominados congênitos. 34 35 Já aqueles que o indivíduo recebe por meio dos genes (hereditário) são chamados de fatores genéticos. Por exemplo, Sífilis é uma doença congênita, pois pode ser adquirida durante a vida-uterina, mas não é transmitida pelos genes. Já a Síndrome de Down é um transtorno genético, pois decorre de uma divisão celu- lar irregular, que resulta em material genético extra no cromossomo 21. Síndrome de down. Disponível em: https://youtu.be/cZtI5pK-9Ho É denominado Agente Teratogênico qualquer substância, organismo, agente físico ou estado de deficiência que, estando presente durante a vida embrionária ou fetal, produz alteração na estrutura ou na função da descendência. De forma simplificada, agentes teratogênicos é qualquer coisa que provoque alguma alteração durante a gestação, sendo assim considerados fatores congênitos. Vários fatores podem influenciar o curso de crescimento e de desenvolvimento de uma vida na gestação. Alguns deles serão brevemente abordados a seguir. Idade Materna Sabe-se que o Aparelho Reprodutor feminino já não é o mesmo com o passar dos anos, comparado ao período de maior fertilidade, que tem seu pico na segunda década de vida. Com a idade, os ovários já não são tão eficientes na produção de óvulos férteis, o Sis- tema Reprodutor como um todo declina sutilmente até os 30 anos, algo que se intensifica depois dos 35 anos, idade considerada marco desse declínio na capacidade de reprodução. Gestantes com mais de 35 anos de idade precisam realizar planejamento diagnóstico pré-natal específico, já que, com o aumento da idade materna, aumenta a incidência de anomalias congênitas. Qual a Importância da Idade Materna? Disponível em: https://bit.ly/38ebFVF A Tabela a seguir ilustra as chances de incidência de problemas congênitos. Tabela 7 – Chances de incidência de problemas congênitos de acordo com a idade materna (válido para mulheres sem outros fatores de risco) Idade Incidência de Síndrome de Down Incidência de Qualquer Anomalia 20 1/1650 1/525 25 1/1250 1/475 30 1/900 1/385 Idade Incidência de Síndrome de Down Incidência de Qualquer Anomalia 35 1/375 1/212 40 1/100 1/65 45 1/20 1/21 35 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Ingestão de Drogas e Álcool Alguns medicamentos são proibidos durante a gravidez. Qualquer medicamento só pode ser utilizado sob prescrição médica, é totalmente contraindicado o uso de inibido- res de apetite, tranquilizantes e ansiolíticos. A ingestão de drogas como maconha e cocaína é altamente perigosa. A maconha provoca dificuldades no desenvolvimento fetal, aumenta a possibilidade de defeitos con- gênitos e de distúrbios de comportamento nos primeiros anos de vida da criança. A cocaína desencadeia os mesmos efeitos tóxicos causados à mãe, além de poder causar problemas cardíacos e de oxigenação. Fumar é contraindicado para gestantes. Um dos problemas mais sérios é o efeito da nicotina do cigarro, causando a diminuição do volume dos vasos sanguíneos no cordão umbilical, por onde o bebê se alimenta. Com as artérias e as veias do cordão umbilical diminuídas, há menos sangue, menos oxigênio e menos alimento para o bebê, o que, normalmente, ocasiona aos bebês nas- cerem com baixo peso, a partir de parto prematuro ou, ainda, não sobreviverem. Da mesma forma, qualquer bebida alcoólica é desaconselhável, em qualquer quanti- dade, durante a gestação. O álcool pode afetar o desenvolvimento físico e neurológico (mental) do bebê. Figura 14 – Proibição de uso de tabaco na gravidez Fonte: Getty Images Alimentação e Atividade Física Em gestações de risco, como no caso de mães de idade avançada, uma dieta super- visionada pode tanto contribuir para o desenvolvimento sadio do feto como afetá-lo ne- gativamente. Por exemplo, o ácido fólico, vitamina pertencente ao complexo B (presente 36 37 em alimentos como brócolis, couve e o feijão) é recomendado no início da gravidez para prevenir alguma má formação, podendo auxiliar na formação do Sistema Nervoso do feto. Já altas doses de vitamina A (presente em alimentos como fígado e gema do ovo) devem ser evitadas, pois podem ser prejudiciais. Quanto à cafeína, é aconselhável restringir a ingestão, mas quantidades pequenas parecem não apresentar nenhum risco. Os adoçantes, desde que consumidos de forma moderada, também parecem não causar nenhum efeito no bebê. Assim comona dieta, a prática de atividade física pela mãe pode trazer benefícios ou malefícios. As melhores atividades na gravidez incluem caminhada, hidroginástica, natação, ioga, bicicleta ergométrica e exercícios de alongamento, dentre outras. Atividades como essas trazem efeitos positivos tanto para mãe quanto para o bebê, sendo praticadas de forma relaxante, leve ou até moderada, desde que adequadas ao nível de condicionamento físico da mãe. Qualquer tipo de atividade física pode ser realizada, desde que seja bem orientada por um profissional competente em prescrever exercícios para gestantes, respeitando os limites da mulher, sendo que aquelas já praticantes antes de engravidar têm mais opções de práticas do que as sedentárias. Evidente que o contrário, como treinos intensos, devem ser evitados porque podem ser prejudiciais ao desenvolvimento fetal. Figura 15 – Atividade física durante a gravidez Fonte: Getty Images Radiação, Infecções e Doenças O cuidado com exames que envolvem radiação é importante. Exames como o raio-X devem ser evitados, apesar de a radiação em exames simples para diagnóstico ser peque- na e praticamente não apresentar riscos. 37 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Deve haver precaução. A gestante deve sempre informar sobre sua gravidez, e na necessidade de se expor a qualquer quantidade de radiação, usar avental de chumbo sobre a barriga. Doenças e infecções diversas devem ser tratadas como risco inerente ao feto em desenvolvimento. Diabetes mellitus é um exemplo na ocorrência de perdas fetais e má-formações. A Ru- béola congênita pode desencadear retardo de crescimento e encefalite, a Toxoplasmose congênita se não tratada, pode causar problemas graves, HIV, AIDS e Sífilis devem gerar atenção, pois todas essas doenças podem afetar a gestação. 38 39 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Factos Sobre a Gravidez | National Geographic Portugal https://youtu.be/elx7oQ5ezE0 Primeira série do Dr. Drauzio Varella no Fantástico foi ‘Viagem ao Corpo Humano’ https://bit.ly/2WrGLpY Filmes Tudo Sobre Gravidez O documentário apresentar o processo de fecundação de um óvulo humano até o momen- to do nascimento de uma criança, através da perspectiva de um feto, desvendando todos os mistérios da criação da vida. Leitura Avaliação Clínica da Maturação Sexual na Adolescência https://bit.ly/3AW0oWc Avaliação Nutricional da Criança e do adolescente: Manual de Orientação https://bit.ly/38vIkWV 39 UNIDADE Idade Cronológica e Biológica: Relação com o Crescimento Referências MALINA, R. M. Atividade Física do Atleta Jovem: Do Crescimento à Maturação. São Paulo: Roca, 2002. ________; BOUCHARD, C. Growth, Maturation, And Physical Activity. 2. ed. Champaign: Human Kinetics, 2004. 40
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