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LAÉDIO JOSÉ MARTINS ANÁLISE ATIVA: UMA ABORDAGEM DO MÉTODO DAS AÇÕES FÍSICAS NA PERSPECTIVA DO CURSO DE DIREÇÃO TEATRAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA/RS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Teatro como requisito para a obtenção do título de Mestre em Teatro. Orientador: Professor Dr. José Ronaldo Faleiro FLORIANÓPOLIS,SC 2011 Ficha elaborada pela Biblioteca Central da UDESC M379a Martins, Laédio José Análise ativa: uma abordagem do método das ações físicas na perspectiva do curso de direção teatral da Universidade Federal de Santa Maria/RS / Laédio José Martins, 2011. 159 p. : il. ; 30 cm Bibliografia: p. 135-142 Orientador: Dr. José Ronaldo Faleiro Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Artes, Mestrado em Teatro, Florianópolis, 2011. 1. Teatro – produção e direção. I. Faleiro, José Ronaldo. II. Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestrado em Teatro. – III Título. CDD: 792.0233 97 finalizar a tarefa física. Já a mulher tinha por objeto a coleira de seu animal de estimação morto, que por vezes era usado como chicote, ilustrando o domínio da hierarquia social exercido pela mulher. 3. 3 TOMANDO CONHECIMENTO DO MÉTODO NA ÍNTEGRA A análise da obra por meio dos fatos e acontecimentos atinge a essência do método, pois possibilita a concretização da ação, que se dá através da determinação dos acontecimentos seqüenciais. Os acontecimentos são o sustentáculo da ação e através deles, de forma sucessiva, vivenciamos tudo o que acontece na obra. O conhecimento da obra, possibilitado pelo processo de valorização dos fatos, transformados em acontecimentos pelo diretor, constitui a matéria da arte teatral. (DAGOSTINI, 2007, p. 43) No terceiro semestre da Disciplina Encenação tomamos conhecimento do Método da Análise Ativa. Embora já viéssemos trabalhando em acordo com seus procedimentos há dois semestres, não tínhamos ciência disso. A ementa da Disciplina foi elaborada pela Profª. Drª. Nair Dagostini, que foi a „titular da cadeira‟ até o ano de 1999199, e propunha desenvolver a capacidade de interpretar e analisar a obra dramática em seus elementos estruturais e ativos e proporcionar ao aluno diretor/ator o exercício da criação cênica. Foi ministrada na forma de seminários com exposição oral nos quais realizou-se a análise teórica200 de Romeu e Julieta, de William Shakespeare (1564-1616), e do conto A Feiticeira, de Anton Tchekov (1860-1904). Tive o privilégio de assistir por duas vezes o seminário de aproximação téorica ao método, no ano 2000, quando cursei Encenação III e como ouvinte no ano 199 A transmissão do conhecimento do método para a análise do material textual continuou na forma de seminário ministrado por Dagostini até o ano de 2003, com orientação prática da Profª. Ms. Rozane Silva Cardoso. Participei como ator de um dos exercícios cênicos da turma de 1999, último ano em que a parte prática da disciplina foi orientada por Dagostini. Naquele ano, o texto analisado e distribuído entre os alunos para o exercício de encenação foi O Nariz, de Nikolai Vassílievitch Gógol (1809-1852). 200 Situacional e não psicológica nem literária. 98 de 2001, anos nos quais a parte prática da Disciplina foi orientada pelas Professoras Mestres Adriane Maciel Gomes e Rozane Silva Cardoso, respectivamente. Posteriormente, nos anos de 2004 e 2005, como professor colaborador pude aprimorar meu conhecimento do método orientando a Disciplina Encenação III, por indicação da Profª. Ms. Rozane, que havia sido minha orientadora no processo de graduação em Direção. Trabalhei praticamente repetindo os estudos teóricos conforme recebidos da Profª Nair. Procedi inicialmente com a análise dos textos para a transmissão do conhecimento teórico do método e, posteriormente, com a orientação prática dos ensaios de cada orientando, que foi responsável por montar um acontecimento da obra Romeu e Julieta. Os acontecimentos foram apresentados publicamente, seguindo sua ordem para o público poder acompanhar o desenrolar da história sequenciadamente. A experiência pode ser conferida em vídeo, no acervo da Videoteca do Curso de Artes Cênicas da UFSM. Como a disciplina compunha os currículos de Interpretação e Direção, era ministrada tanto para alunos/atores como para alunos/diretores, com o conteúdo dividido em 4 unidades – para uma melhor compreensão do mesmo – mas trata-se de etapas de um processo único, ou que faz referência à unidade da obra analisada. A abordagem nas 3 primeiras unidades debatidas em aula era teórica, diz respeito ao Diretor/Encenador e sua aproximação à obra dramatúrgica e ao embasamento de sua concepção em relação à ideia do autor da obra. Do ponto de vista do diretor, a análise é sempre ativa, mesmo teórica, pois é a partir dela que se estabelecem as relações entre a obra dramatúrgica ou proposta de montagem e a montagem em si. Para a análise do texto implicam os conceitos de Circunstância Dada (Inicial e Principal) e de Linha Transversal de Ação; a divisão da obra em seus acontecimentos principais – Inicial, Fundamental, Central e Final – e sua nomeação, o esclarecimento do Tema e da Idéia da obra em acordo com a teoria proposta por Stanislávski, a determinação dos objetivos e conflitos e os reconhecimentos e mudanças nas relações dos personagens; a constituição do “romance de vida” da obra e dos personagens, a narração e descrição de suas ações motivacionais, o subtexto. Subsequentemente na quarta e última unidade, a esfera prática, que trata da relação Ator/Diretor, a da concretização cênica do texto dramático, era orientada 99 individualmente com cada aluno e seu grupo de atores201. Os diretores procediam com seus atores a experimentação psicofísica dos acontecimentos do texto. 3. 3. 1 A ANÁLISE ATIVA E SEUS PROCEDIMENTOS O método da Análise Ativa foi desenvolvido por Stanislávski ao final de sua vida. É a síntese de árduo trabalho como ator, diretor e pedagogo e de seu pensamento artístico legado e desenvolvido por alguns de seus discípulos na Rússia, principalmente por Maria Osípovna Knébel, em Moscou202, e, posteriormente, por Gueórgui Tovstonógov, seu aluno, em Leningrado203 (hoje São Petersburgo). O trabalho de ambos é o mais significativo no que tange à Análise Ativa e a partir de suas abordagens é que surgem as possíveis variantes. O Método da Análise Ativa é um mecanismo destinado ao diretor ou, mais exatamente, para o diretor e o ator trabalharem em cooperação. Conforme exposto por Dagostini (2000), a Análise Ativa é “(...) a estrutura do texto através da ação. Nos leva a descobrir a situação que está por trás das palavras”204. O Método compreende duas instâncias específicas, a prática e a teórica; pode-se dizer que com ela é possível atingir a totalidade da obra dramatúrgica, seu „corpo‟ e „alma‟ personificados no espetáculo teatral. Os dois pedagogos do teatro citados acima são os representantes destas duas instâncias do método, como se pode inferir a partir de seus escritos e práticas individuais, um de um ponto de vista mais teórico (Tovstonógov), que orientava diretores, e outra do ponto de vista mais prático (Knébel) 205, pedagoga de atores. De qualquer forma, faces da mesma moeda. A divisão da peça ou texto em partes é o primeiro procedimento do diretor no método de Análise Ativa. O procedimento de separação dos acontecimentos é descrito no romance de Stanislávski (1980, p. 165-180), numa analogia com a 201 Todos precisavam apresentar cenicamente uma situação dramática completaao final do semestre, dirigindo sua própria montagem e atuando na montagem de algum colega. 202 GITIS – Instituto Estatal de Arte Teatral de Moscou A. V. Lunatchrski. Em 1991 passou a ser chamada RATI – Academia Russa de Arte Teatral. 203 LGITMiK - Instituto Estatal de Teatro, Música e Cinema de Leningrado N. K. Cherkacov. Em 1993 passou a ser denominada Academia Estatal de Arte Teatral de São Petersburgo – SPGATI. 204 D‟AGOSTINI, Seminário “Teoria do Espetáculo e Estética Aplicada”, março de 2000. 205 Refiro-me ao modo de transmissão do conhecimento teórico do método segundo a ênfase de Tovstonógov na direção e da importância atribuída por Knébel (1991, 1996) enquanto pedagoga de atores aos études, que nada mais são senão as improvisações sugeridas pelo diretor a partir da análise. Ambos pedagogos tem amplo espectro prático em seus trabalhos. 100 divisão de um peru assado durante um almoço. Na divisão da obra, o método da Análise Ativa contempla a estrutura dramatúrgica clássica ao reproduzir sua estrutura: São quatro os acontecimentos considerados essenciais no universo da obra e que devem ser identificados para que se possa ter uma visão geral da mesma: o acontecimento inicial, que nos situa no contexto onde vai eclodir o problema, e que inicia a principal circunstância dada; o acontecimento fundamental, determinado pela principal circunstância dada que deslancha a história; o tema, em que inicia a linha transversal da ação, que carrega e une em um único fio todas as ações dos acontecimentos sequenciais que compõem a história; o acontecimento central, que deve constituir o ápice do conflito, o clímax, o fim da linha transversal da ação; o acontecimento final, também chamado de principal, pois ele abrange a solução ou não do conflito. Nele deve desembocar a ideia graças à qual o autor escreveu a obra, consciente ou inconscientemente, junto com o superobjetivo do diretor. 206 (DAGOSTINI, 2007, P. 50) Stanislávski (1989, p. 206) fala também da importância da “arte de revelar com nitidez o enredo da peça, a sua ação externa”, e lembra que não raras vezes assistimos peças sem entender com clareza “a sequência dos acontecimentos e sua interdependência básica. E isso é o primeiro que deve ser destacado na peça, senão fica difícil falar do seu aspecto interno.” Isso, dito em relação ao público e, se parece difícil ao público a falta de sequência nos acontecimentos, imagine a falta de lógica e coerência para o ator em cena. Ao discorrer sobre a importância da análise da obra pelo diretor, Dagostini (2007, p. 49) fala ser fundamental o conhecimento da estrutura dramatúrgica da obra, pois é isso que possibilita ao diretor “antever” e “intuir” o superobjetivo e a ação transversal. Nair D‟Agostini (2007, p. 26), fiel ao mestre russo, ao discorrer sobre o superobjetivo diz que “é ele que movimenta todas as forças psíquicas, elementos, ações e atitudes dos atores em suas personagens. é um dos elementos fundamentais do “sistema” para a atitude do diretor diante da análise da obra, para a concretização do espetáculo e para o ator na criação do papel”. É o superobjetivo que deverá orientar todo o trabalho do diretor e do ator na concretização do espetáculo e ele não está de forma alguma determinado ou preso a padrões estéticos. Nas palavras de Stanislávski (1980, p.320): Assim como da semente nasce uma planta, de uma ideia ou sentimento próprio do escritor brota sua obra. Suas ideias, sentimentos e sonhos 206 Grifos meus. 101 percorrem como uma linha vermelha toda sua vida e o guiam durante a criação. Servem-lhe de base, e desse gérmen brota sua produção literária; juntamente com suas dores e alegrias, constituem o motivo pelo qual empunha a caneta. Transmitir todo esse material espiritual é o principal objetivo do espetáculo. De agora em diante convencionaremos chamar a esse fim essencial, que mobiliza todas as forças psíquicas e elementos das atitudes do ator em seu personagem de o superobjetivo da obra. (STANISLAVSKI, 1980, p. 320) 207 Como vimos, em O Trabalho do Ator Sobre Si Mesmo no Processo das Vivências, Stanislávski (1980, p. 320), assinala que o principal objetivo do diretor e do ator através do espetáculo é transmitir o material espiritual que o autor imprime a sua obra, sua motivação ao escrevê-la, o que ele denomina o “superobjetivo”. Em O Trabalho do Ator Sobre Si Mesmo no Processo da Encarnação, Stanislávski (1983, p. 257-258) amplia a responsabilidade da aproximação ao superobjetivo para todas as pessoas envolvidas no processo de trabalho e reitera o objetivo do artista (ator/diretor/equipe técnica) estendendo-o para a arte teatral, praticamente nos mesmos termos usados no livro sobre as Vivências, reforçando a importância deste conceito em sua teoria: O objetivo do teatro é criar a vida interior da obra e do personagem e a plasmação cênica do núcleo fundamental e da ideia que fizeram nascer a criação do poeta e do compositor. Cada trabalhador do teatro, começando pelo porteiro, o encarregado do guarda-roupa, o bilheteiro, o caixa, com os quais se encontra primeiro o espectador que vem para nos ver, e terminando pela administração, a inspeção, a direção e finalmente, os artistas, que são co-criadores do poeta e do compositor, por cuja obra se reuniu o público, todos servem ao fim fundamental da arte e estão integralmente subordinados a ele. Todos, sem exceções, são participantes do espetáculo. (STANISLAVSKI, 1983, p. 257)208 Em nota, o tradutor Salomón Merener chama a atenção para uma variante posterior desta mesma passagem, que consta dos arquivos de Stanislávski em 207 Así como del grano nace la planta, de una idea o sentimiento particular del escritor brota su obra. Sus ideas, sentimientos y sueños recorren como un hilo rojo toda su vida y lo guían durante la creación. Le sirven de base, y de esse germen brota su producción literaria; juntamente com sus penas y alegrias, constituyen el motivo por el cual toma la pluma. Trasmitir todo este material espiritual es el objetivo principal del espectáculo. De ahora en adelante convendremos en llamar a este fin essencial, que moviliza a todas las fuerzas psíquicas y elementos de la actitud del actor en su personaje. el superobjetivo de la obra. (STANISLAVSKI, 1980, p. 320) 208 El objetivo del teatro es crear la vida interior de la obra y del personaje y la encarnación escénica del núcleo fundamental y de la idea que hicieron nacer la creación del poeta y del compositor. Cada trabajador del teatro, empezando por el portero, el encargado del guardarropa, el taquillero, el cajero, con los que primero se encuentra el espectador que viene a vernos, y terminando por la administración, la intendência, el director y finalmente, los mismos artistas, que son co-creadores del poeta y el compositor, por cuya obra se ha reunido el público, todos sirven al fin fundamental del arte y están íntegramente subordinados a él. Todos, sin excepción, son participantes del espectáculo. (STANISLAVSKI, 1983, p. 257) 102 Moscou: O objetivo essencial de nossa arte consiste em criar a vida humana interior dos personagens da obra e em personificar artisticamente esta vida na cena. Todos os que trabalham no teatro, sem exceção, estão obrigados a ajudar em tal ou qual medida para que se consiga este objetivo essencial da arte e do espetáculo. (STANISLAVSKI, 1983, p. 257, nota 11) 209 A Análise Ativa oferece, na qualidade de condutor do processo criativo do ator, um meio de acessar a integralidade psicofísica na utilização de seu aparato em cena, no estabelecimento de uma dramaturgia do espetáculo. Além de se mostrar um excelente conector entre o imaginário do ator e a realidade ficcional, a Análise Ativa se apresenta como uma alternativa de ordenaçãodramatúrgica para os mais diversos gêneros literários. Isso oferece, no meu entendimento, uma maior possibilidade de plasmação cênica em relação aos experimentos que não se apoiam nesse procedimento. Com isso, o diretor, homem de teatro, pode apropriar-se do elemento dramático do texto para a construção da dramaturgia do espetáculo, bem como fugir dos psicologismos e clichês geralmente associados à utilização do „Sistema Stanislávski‟. Quando executa o esquema teórico da Análise, o diretor vai se imbuindo do material que irá se condensar e dar a forma e a unidade do espetáculo. Nesta aproximação inicial o diretor deve estudar, além do texto em si, o autor e seu período, não para uma reconstrução histórica de cenários e figurinos, mas para melhor entender as expressões utilizadas pelo autor, o que ele realmente quis dizer com o que disse, para familiarizar-se com o universo da obra e com a ideia central que ela carrega. É claro que nesta tarefa são muitos os fatores que influenciam na profundidade a que a Análise pode chegar: o grau de informação que se tem acerca do tema tratado modifica o resultado, bem como a vivência da pessoa que a realiza. As circunstâncias estão dadas pelo autor, no caso de um texto, ou pelos atores, no caso de improvisação temática, e dependendo do ponto de vista que se as observam, elas tomam novas cores. O primeiro passo da Análise Ativa é dividir o texto em partes menores, chamadas „Acontecimentos‟. O critério para a definição dos acontecimentos é o 209 El objetivo essencial de nuestro arte consiste en crear la vida humana interior de los personajes de la obra y en encarnar artisticamente esta vida en la escena.Todos los que trabajan en el teatro, sin excepción, están obligados a ayudar en tal o cual medida que se consiga este objetivo essencial del arte y del espectáculo. (STANISLAVSKI, 1983, p. 257, nota 11) 103 cerne da estrutura dita dramática, de causa e consequência – início, desenvolvimento, clímax e final. Em cada acontecimento se tem definidos estes quatro momentos denominados Momento Inicial, Momento Fundamental, Momento Central e Momento Final. Em cada acontecimento são identificados os personagens, sua ação, seus objetivos imediatos e também sua contra ação, o obstáculo que determina sua luta para atingir o superobjetivo, aquilo para que o personagem foi escrito. Como num fractal, esta mesma estrutura se repete no todo. Separados os acontecimentos, detecta-se qual deles corresponde, no texto, ao Acontecimento Inicial; identifica-se onde está a Principal Circunstância Dada, e ali será o Acontecimento Fundamental; em sequência o Acontecimento Central e o Acontecimento Final. No Acontecimento Inicial encontra-se a Circunstância inicial, que define o Universo, que deve obrigatoriamente ser antagônico à Principal Circunstância Dada, onde surge o Tema. A Principal Circunstância Dada marca o início da Linha Transversal de Ação, que é “o caminho por onde o superobjetivo se afirma ao longo da obra” (DAGOSTINI, 2007, p. 31-32)210. Cada acontecimento possui seu caráter objetivo e subjetivo, e é a trama baseada no ponto de vista individual do diretor e que o ajuda a se aproximar das circunstâncias dadas, da linha transversal de ação e do superobjetivo da peça. Depois de dividido o texto, cada acontecimento é analisado em separado, buscando seu Objetivo, a Circunstância Dada que o gerou, a identificação dos personagens que nele estão envolvidos, seus objetivos e ações211. A estrutura dos acontecimentos da peça é o núcleo do método da análise ativa. Dentre os acontecimentos, determina-se quais são os acontecimentos principais – inicial; fundamental; central e final. Da união do Universo (Acontecimento Anterior), do Tema (que surge com a Principal Circunstância Dada [P.C.D.]), da Linha Transversal de Ação (que inicia no Acontecimento Fundamental no qual está a P.C.D.) e do Acontecimento Final, obtém-se a Idéia do texto. Nas palavras de Dagostini (2007, p. 50): Ao determinar a estrutura básica da obra, o diretor já tem condições de vislumbrar o tema e a idéia da obra, mas é aconselhável não os formular ainda. A análise detalhada de cada acontecimento exige do 210 Os conceitos de “superobjetivo”, “linha transversal de ação” e “circunstâncias dadas” são esclarecidos por DAGOSTINI, 2007, p. 26-35. 211 A descrição do processo de Análise Ativa da estrutura da obra é descrita por DAGOSTINI, 2007, p. 49-57. 104 diretor a seleção exata da circunstância única que o determina, a qual dá origem ao acontecimento e, conseqüentemente, gera o conflito entre todas as personagens que dele participam. Em cada acontecimento, além de ser determinada a circunstância que lhe deu origem, deve ser desvendado o objetivo do mesmo para a história, no projeto de composição do autor, as personagens que participam dele, seus objetivos e obstáculos. A circunstância e o acontecimento devem abarcar todas as personagens que estão envolvidas no conflito naquele determinado momento. (DAGOSTINI, 2007, p. 50) Stanislávski (1980, p. 177), chama a atenção para a escolha acertada na denominação dos acontecimentos e dos objetivos de cada um deles. Os acontecimentos devem sempre ser nomeados por um verbo de ação substantivado, ou então, por um provérbio ou dito popular, que deverá contemplar a “essência interior” do acontecimento, o que ele realmente quer dizer, o que está por detrás das palavras. Enquanto o diretor procura a palavra mais acertada, “ao mesmo tempo sonda e estuda o pedaço [do texto], o cristaliza, obtém sua síntese. Na escolha do nome se encontra o próprio objetivo. Uma denominação correta, que determina a essência do fragmento, descobre o seu objetivo oculto”212. Uma nomeação “precisa” atribui “força e importância” ao acontecimento, reforça Stanislávski (1980, p. 323): “[...] dissemos também que a troca do substantivo por um verbo, reforça o ímpeto da aspiração criadora. Estas condições se manifestam em grau ainda maior na denominação verbal do superobjetivo”213. A concretização desse trabalho exige um esforço imenso do diretor, pois, além do entendimento coerente das personagens com aquilo que o autor fornece na obra, é necessário, para preencher os vazios da mesma, uma grande imaginação. Considerada esta a principal força do diretor, que deve ser coerente com o cerne das personagens e do universo em que elas estão inseridas 214 : o mundo cultural, artístico, econômico, político, histórico, costumes, mentalidade da época, etc. O diretor tem que realizar um grande trabalho de preparação que ultrapasse a primeira visão, adquirindo “um enfoque imaginativo” do texto, próprio de um artista. (DAGOSTINI, 2007, p. 37) De posse da Análise Ativa, o diretor, de uso dos verbos utilizados para a nomeação de cada situação, apresenta aos atores uma proposta de jogo improvisacional, levando em conta o objetivo de cada personagem. Segundo a 212 [...] al mismo tempo sondea y estudia el trozo, lo cristaliza y hace su sínteses. En la elección del nombre se encuentra el objetivo mismo. Uma denominación correcta, que determina la esencia del fragmento, descubre el objetivo que encierra. (STANISLAVSKI 1980, p. 177) 213 [...] dijimos también que el remplazo del substantivo por un verbo refuerza el ímpetu de la aspiración credora. Estas condiciones se manifiestan em grado aun mayor durante la denominación verbal del superobjetivo. (STANISLAVSKI 1980, p. 177) 214 Grifos meus. 105 Professora Nair D‟Agostini, a partir da análise do texto, o ator realiza études sobre as situações do texto - ou tangenciais a este215 - que é dividido em unidades de ação e motivação. Ele investiga ações físicas em circunstâncias e situações que viabilizema composição do personagem através de partituras de ações. Constrói uma linha contínua de ações físicas através de uma partitura, justificadas pelo objetivo. Cria uma dramaturgia interna própria pelo pensamento e ação (subtexto) que gera um texto próximo àquele construído pelo autor, através da visualização ativa das falas construídas. A ação psicofísica se compõe de todos os elementos da ação (são as leis orgânicas e a percepção) e o subtexto é o resultado do uso de todos esses elementos. As ações físicas estimulam as emoções, o inconsciente, onde o aparato físico está totalmente relacionado com o mental. Em acordo com a exposição oral de Dagostini, Tovstonógov demarca três círculos de circunstâncias – o GRANDE (relacionado com o superobjetivo e ultrapassa os limites da peça – o contexto do diretor e sua equipe), o MÉDIO (estritamente relacionado com as circunstâncias e com a linha transversal de ação da peça) e os PEQUENOS (relativos aos acontecimento localizados e com a ação local). Analisando a peça, o diretor vai do geral (grande círculo) para o específico (pequeno círculo), e depois retorna ao geral. O grande círculo é o universo da peça, enquanto que o médio círculo é o padrão de inter-relações das pessoas dentro desse universo. A Linha Transversal de Ação demarca o início e fim do „médio círculo‟ e os Acontecimentos são os „pequenos círculos. Depois de realizada a análise da peça pelo diretor, isso não significa que ele deva falar sobre os resultados dessa análise com seus atores. Conforme Dagostini, Tovstonógov aconselha os diretores a manter o ator dentro do pequeno círculo de circunstâncias e dar a ele um impulso para começar uma ação concreta dentro do acontecimento local. Esse procedimento irá manter o diretor dentro de seus próprios tema e idéia, e vai deixar essa idéia (superobjetivo) desenvolver-se através do conflito dramático e do conjunto dos acontecimentos, que estão todos interrelacionados. Seguindo as postulações de Stanislávski, Tovstonógov sugere começar com a determinação do tema e da idéia da montagem, bem como com a 215 Situações tangenciais são as referências no texto sobre o passado dos acontecimentos, não explícitos, que devem ser construídos com o ator. 106 criação do “romance da vida”216 (o “passado, presente e futuro” de Stanislávski) – com a recriação detalhada da vida do personagem. Em acordo com Dagostini: Tovstonógov aconselha a não partir imediatamente para a fase analítica da estrutura da ação, mas desvendar a vida da peça, entrar no universo das personagens, situar-se no mundo delas, perscrutar seus desejos, suas alegrias, tristezas, conflitos, amores, ódios, relações e inter-relações. Esse processo de envolvimento com a vida da obra é concretizado através da chamada criação da “novela da vida” da obra, na qual o diretor completa todas as informações que estão ausentes na mesma, do passado, do presente e até do futuro das personagens. (DAGOSTINI, 2007, p. 37) O “romance da vida” faz com que o diretor possa “entender os motivos dos atos e das ações das personagens”, justificando cada mudança na ação e nos “ínfimos movimentos da alma”. Ainda em conformidade com Dagostini (2007, p. 38), “penetrando através dos fatos, da fábula, que se dão na superfície ou no comportamento das personagens” o diretor pode decifrar a natureza interna do conflito. Para ela, as respostas às perguntas “que surgem durante o processo de criação do “romance da vida”, vêm do maior entendimento da vida das personagens”: [...] O diretor deve realizar um estudo detalhado da vida dessa obra, das personagens, para, só depois, determinar os acontecimentos, as circunstâncias dadas, idéia, o tema, a linha transversal de ação, os objetivos, etc. Somente depois de o diretor ter realizado essa importante etapa do estudo do texto, “o romance da vida”, o qual possibilita ao diretor dialogar com o autor, explicando zonas obscuras da obra e, decifrar, nos próprios acontecimentos, a natureza interna dos motivos das personagens, pode passar para a análise da estrutura dessa obra, determinando, assim, os acontecimentos, as circunstâncias e os demais elementos que constituem a ação e a composição da mesma. (DAGOSTINI, 2007, P. 38-39) O universo da peça está sempre „prenhe‟ do conflito e gradualmente esse conflito cresce e então ocorre o choque da circunstância dada inicial com a principal circunstância dada. Este conflito toma o seu lugar no acontecimento fundamental. Por exemplo, em “Romeu e Julieta” o acontecimento inicial é a inimizade entre as famílias. Aqui a circunstância inicial, ou o universo (de hostilidade e de ódio) se revela. Neste universo, Romeu, que está apto para o amor, decide que vai ao baile organizado pelo inimigo de seu pai e se apaixona por Julieta – o acontecimento fundamental da peça. Dessa forma acontece o choque da circunstância dada inicial 216 A Drª. Nair Dagostini utiliza também o termo “novela da vida” da obra. (DAGOSTINI, 2007, p. 37) 107 e da principal circunstância dada – o amor entre os filhos de duas famílias rivais. Eis de onde surge a linha transversal de ação, a luta pelo direito de amar. O próximo passo no conflito é o acontecimento central, a morte dos apaixonados. Todos os conflitos são expostos, o retorno de Romeu do exílio, o casamento às escondidas. Aqui termina a linha transversal de ação; Os jovens amantes estão mortos, não há ninguém para lutar pelo amor. Na sequência temos o acontecimento final. O universo ainda ecoa os acontecimentos anteriores. Montecchio e Capuletto se reconciliam ou talvez só estabeleçam uma trégua momentânea. Para ilustrar o processo descrito com Romeu e Julieta, utilizo o texto escolhido para o exercício deste terceiro semestre de Encenação, a crônica Enquanto Dure, das Comédias da Vida Privada, de Luís Fernando Veríssimo217. Apresento a seguir a divisão do texto em acontecimentos em acordo com a teoria da Análise Ativa. No caso específico de Enquanto Dure, temos somente os quatro acontecimentos principais, estando o acontecimento central dividido em dois momentos. 3. 3. 2 O TEXTO E SEUS ACONTECIMENTOS PRINCIPAIS: UM EXEMPLO 1º ACONTECIMENTO: Separação (Universo – Circunstância Inicial) Acontecimento Inicial: Desgaste do relacionamento. Circunstância Dada: A divisão dos bens. “Depois da separação veio aquele momento difícil que é o da divisão das coisas. Tudo o que eles tinham acumulado juntos, ou trazido das suas vidas separadas para compartilharem, de repente, precisava ser reidentificado como “Meu” ou “Seu”. Mais prática, como sempre, Taís já tinha tudo organizado quando José Eduardo chegou no apartamento.” 2º ACONTECIMENTO: Reencontro (Acontecimento Fundamental – P. C. D.) Acontecimento Inicial: Separação Circunstância Dada: Chegada de José Eduardo “– Esta pilha aqui é das minhas coisas, essa pilha é das suas coisas, esta caixa é para as coisas que vão fora. 217 VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias da Vida Privada. Porto Alegre : L & PM Ed., 1994. 108 – Me parece justo. – Como, “justo”? Não tem nada a ver com justiça. O que é meu é meu e o que é seu é seu. Isto não é redistribuição de renda. – Me expressei mal. Desculpe. Não quis dizer “justo”. Quis dizer “tá”. De acordo. – Se fosse uma questão de justiça, eu é que tinha que reclamar. Sua pilha é muito maior do que a minha. – Está certo, Taís. – O que você tinha de papel velho... Só de suplemento cultural guardado para ler depois tem mais de um metro. – Está bem, Taís. – Você quer a Efigênia? Era uma pequena escultura, um busto de mulher que ele apelidara de Efigênia. – Não, não. – Você sempre gostou dela. – Pode ficar. – Alguma coisada cozinha? – Não. – A mostarda? – Não. Nada. Bom, talvez aquelas alcaparras italianas. – Que alcaparras italianas? – Aquele vidrinho. As alcaparras pequeninhas. – José Eduardo, aquele vidrinho acabou há mais de um ano. – É? Então não quero nada. – Você quer examinar a minha pilha?” 3º ACONTECIMENTO: O Desacordo (Acontecimento Central) Acontecimento Inicial: Divisão dos bens Circunstância Dada: Possível desconfiança de José Eduardo quanto à divisão 1º Momento: Impasse. “– Não precisa, eu... Espera aí. Esse Vinícius de Moraes é meu. – É meu. 109 – Não senhora. Tenho certeza de ter comprado esse livro. Lembro até a livraria. – Eu ganhei esse livro, José Eduardo. – De quem? – Não me lembro. – Arrá! – Como “arrá”? – Arrá. A, erre, erre, a. Você não lembra porque não ganhou de ninguém. O livro é meu. Taís não disse nada. Pegou o livro da sua pilha, irritada, e abriu na primeira página. – Está aqui. Tem até dedicatória. “Taís. Que o nosso amor seja eterno enquanto dure. Um beijo carinhoso do...” Ela parou. Ele perguntou: – Quem? Taís hesitou. Depois respondeu. – Você. – Eu?! – Você me deu o livro. Vinte de outubro de 86. Nós éramos namorados.” 2º Momento: Possibilidade de reconciliação. “Ele pegou o livro das mãos dela, leu a dedicatória, depois fechou o livro e recolocou na pilha. Os dois ficaram em silêncio, emocionados. Ela foi olhar pela janela, para disfarçar. Ele espiou dentro da caixa de coisas que iam fora, só para ter o que fazer.” 4º ACONTECIMENTO: Indignação (Acontecimento Final) Acontecimento Inicial: Desconforto/Recaída Circunstância Dada: O time de botão no lixo “– Taís! Meu time de botão! – O quê?! – Você ia botar meu time de botão no lixo! – Francamente, José Eduardo. Estava no fundo do armário. – Olha aqui! Olha aqui! 110 Ele tinha resgatado um botão de dentro da caixa e o brandia como prova acusatória. – O Rivelino! Você ia jogar fora o Rivelino! 3. 3. 3 ESQUEMA DA „ANÁLISE ATIVA‟ DO TEXTO Nº 1 - Acontecimento: SEPARAÇÃO Palavras-chave: “Tudo o que eles tinham acumulado juntos, ou trazido das suas vidas separadas para compartilharem, de repente, precisava ser reidentificado como “Meu” ou “Seu”.”. Objetivo do Acontecimento: Apresentar o Universo do texto. Circunstância dada que gerou o acontecimento: A divisão dos bens. Objetivo de Taís: Reidentificar o que é dela e o que é do ex-marido. Obstáculo de Taís: Saber o que é de quem. Ação de Taís: Dividir; Separar; Organizar; Esperar. Nº 2 - Acontecimento: REENCONTRO Palavras-chave: “– Esta pilha aqui é das minhas coisas, essa pilha é das suas coisas, esta caixa é para as coisas que vão fora.” Objetivo do Acontecimento: Possibilitar um acordo. Circunstância dada que gerou o acontecimento: A chegada de José Eduardo. Objetivo de Taís: Mostrar sua organização. Obstáculo de Taís: O descaso de José Eduardo com a situação. Ação de Taís:Reencontrar; Mostrar; Discutir; Argumentar. Objetivo de José Eduardo: Pegar seus pertences. Obstáculo de José Eduardo: A insistência de Taís em discutir a divisão. Ação de José Eduardo: Chegar; Observar; Reecontrar; Aceitar. Nº 3- Acontecimento: O DESACORDO. 1º Momento:Impasse Palavras-chave: “– Não precisa, eu... Espera aí. Esse Vinícius de Moraes é meu. – É meu. – Não senhora. Tenho certeza de ter comprado esse livro. Lembro até a livraria. – Eu ganhei esse livro, José Eduardo”. 111 2º Momento: Possibilidade de reconciliação Palavras-chave: “Ela foi olhar pela janela, para disfarçar. Ele espiou dentro da caixa de coisas que iam fora, só para ter o que fazer.” Objetivo do Acontecimento: Mostrar que a reconcialiação é possível. Circunstância dada que gerou o acontecimento: A possível desconfiaça de José Eduardo com relação à posse do livro. Objetivo de Taís: Comprovar que o livro é seu. Obstáculo de Taís: José Eduardo. Ação de Taís: Disputar; Discordar; Ler; Argumentar; Lembrar. Objetivo de José Eduardo: Comprovar a posse do livro. Obstáculo de José Eduardo: Taís. Ação de José Eduardo: Recolocar; Ler; Espiar; Surpreender, Disputar; Concordar; Lembrar; Disfarçar. Nº 4 - Acontecimento: INDIGNAÇÃO Palavras-chave: “– Você ia botar meu time de botão no lixo! – Francamente, José Eduardo. Estava no fundo do armário. – Olha aqui! Olha aqui!” Objetivo do Acontecimento: Mostrar que mesmo reconcialiados, as diferenças continuam. Circunstância dada que gerou o acontecimento: O time de botão no lixo. Objetivo de Taís: Mostrar que a culpa pelo fim do relacionamento é do outro. Obstáculo de Taís: Indignação e insistência de José Eduardo. Ação de Taís: Esclarecer; Discutir; Disputar; Objetivo de José Eduardo: Responsabilizar as ações de Taís pelo fim do relacionamento. Obstáculo de José Eduardo: O pouco caso de Taís. Ação de José Eduardo: Questionar; Disputar; Discutir. IDÉIA: Num mundo de relações matrimoniais conflituosas, a luta pela determinação da propriedade e da identidade pessoal, reaproxima as pessoas e gera novos conflitos. 112 O gráfico abaixo, elaborado a partir das indicações de Dagostini obtidas no Seminário de conhecimento teórico do Método da Análise Ativa, na graduação, demonstra os círculos circunstanciais do texto Enquanto Dure: Na montagem da crônica utilizei como objetos de cena diversas malas de tamanhos e cores diferentes, que a atriz ia trazendo ou jogando na cena e dividindo de acordo com as indicações do texto, tomando mais cuidado com aquelas que seriam as suas e sendo menos cuidadosa com as malas que seriam do marido. A relação estabelecida pela atriz com as malas, ora jogadas, ora chutadas ou colocadas com cuidado dava o tom cômico dessa apresentação do universo da separação e deixava claro qual monte era de quem. Seu metodismo na arrumação de suas malas dava pistas sobre seu caráter e o motivo das possíveis desavenças com o marido. Os atores foram Aline Castaman e Joel Cambraia Machado, meus colegas de turma. Inicialmente, trabalhei com uma atriz iniciante, mas ela precisou ser substituída pouco antes da apresentação pública porque apresentou muitas dificuldades em atuar, pois ainda não dominava a psicotécnica, prerrogativa para uma atuação orgânica. Seu problema foi, no meu entender, a dificuldade em usar a imaginação e em adaptar as ações concretas de manipulação das malas ao Principal Circunstância Dada Acontecimento Final Circunstância Incial Acontecimento Inicial Acontecimento Fundamental Acontecimento Central L I N H A T R A N S V E R S A L D E A Ç Ã O 113 universo ficcional. Não era possível afinar a cena de modo convincente, sem que o que se visse parecesse mecânico e forjado, falso. O domínio da psicotécnica pelos atores é imprescindível para alcançar resultados satisfatórios ao se trabalhar pelo método da Análise Ativa, do contrário, os atores não conseguirão desenvolver études aproveitáveis e consequentemente, a estrutura do espetáculo fica comprometida. A maneira como o ator se relaciona com o mundo imaginário, ou a capacidade do ator de relacionar-se com situações propostas vão dar a medida da organicidade na cena. Se o ator transita bem entre a realidade da cena e as circunstâncias propostas pelo autor, tornadas realidade pelo processo imaginativo, a comunicação do conteúdo sensível se dá de forma natural, orgânica. Isso nos faz concluir que a imaginação é um dos principais elementos do sistema na condução do ator pelo universo ficcional. Fotos: Paulo Fernando Machado
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