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Aula Falência - Parte 1

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Falência e 
Recuperação de 
Empresas
8º Período
UBM – 2021.2
Prof. Vinícius Barbosa
Instagram: @profviniciusbarbosa
E-mail: vinicius@ronaldoeassociados.com.br
Conceito Falência
• A falência é mecanismo de preservação de benefícios
econômicos e sociais decorrentes da atividade empresarial, por
meio da liquidação imediata do devedor e da rápida
realocação útil de ativos na economia. – Art. 75, § 2º
• Para que os objetivos da falência sejam alçados, o processo
deve tramitar com máxima otimização de tempo e de recursos
financeiros, mas sem descuidar de que o devedor, os credores e
todos os interessados possam participar da atividade,
preservando o contraditório efetivo e constante
Objetivo da Falência
1) preservar e a otimizar a utilização produtiva dos
bens, dos ativos e dos recursos produtivos, inclusive os
intangíveis, da empresa;
2) permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas
à realocação eficiente de recursos na economia; e
3) fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da
viabilização do retorno célere do empreendedor falido à
atividade econômica.
Falência
• Para instaurar-se o estado de falência, que é um estado de
direito, a legislação brasileira reclama a concorrência de três
pressupostos:
1) a qualidade de empresário do devedor;
2) o estado de insolvência do empresário ou o estado de crise
econômico-financeira aguda;
3) decretação judicial da falência.
Falência
• A impontualidade foi adotada como critério para determinar o
estado de insolvência, ou seja, não pagamento da dívida na
data certa
• A nossa Lei de Recuperação e Falência preferiu adotar um
sistema misto:
a) a presunção da insolvência derivada da impontualidade do
devedor no pagamento de obrigação líquida (40 salários
mínimos), devidamente comprovada pelo protesto do título
executivo que a corporifica (art. 94, I); e
b) impossibilidade do devedor em cumprir as suas obrigações,
sem a verificação, necessariamente, da falta de pagamento
(art. 94, II e III)
Insolvência
• A situação ou estado de insolvência revela-se por carência de
meios próprios e por falta de crédito, de sorte que o empresário
se encontre impossibilitado de cumprir pontualmente as suas
obrigações.
• O seu ativo não é capaz de lhe gerar recursos necessários a
prontamente solver o seu passivo exigível, muito embora possa
ser a este superior.
• O estado de insolvência pode se manifestar pela confissão por
parte do devedor impontual – insolvência confessada –, ou;
• Pela sua presunção – insolvência presumida –, decorrente da
impontualidade, caracterizada nos termos do art. 94, I
Impontualidade
• A impontualidade encontra-se insculpida no inciso I do art. 94
da Lei n. 11.101/2005 que dispõe:
• “Art. 94 – Será decretada a falência do devedor que: I – sem
relevante razão de direito, não paga, no vencimento,
obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos
protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta)
salários mínimos na data do pedido de falência”
• Conforme se percebe claramente do preceito reproduzido, a
impontualidade, capaz de gerar a presunção de insolvência,
amparando a pretensão de se requerer e ver decretada a
falência do devedor empresário, não é a simples falta de
pagamento de uma obrigação.
Impontualidade
• A lei impõe, além do vencimento da obrigação, quando,
então, passa a ser exigível, a concorrência de certas condições
para restar caracterizada, a saber:
a) obrigação líquida;
b) materializada em título ou títulos executivos protestados;
c) soma que ultrapasse o equivalente a quarenta salários mínimos
na data do ajuizamento do pedido;
d) inexistência de relevante razão de direito a amparar o não
pagamento.
Relevante razão de direito
• O devedor que tiver relevante razão de direito para não pagar
poderá impedir a decretação de sua falência.
• A matéria relevante constitui defesa que fulmina o pressuposto
da falência amparado na impontualidade. Para esta
caracterizar-se faz-se necessário que a recusa do pagamento
não esteja estribada em justo motivo, em exceções legítimas.
• O art. 96 da Lei n. 11.101/2005 enumera as matérias de defesa
que devem ser provadas pelo devedor que as invoque, para
obstar a decretação de quebra
Processo pré-falimentar
• No sistema falimentar verifica-se a existência de dois processos
distintos: o pré-falimentar ou pré-falencial e o processo de
falência propriamente dito.
• Sendo a insolvência um estado de fato, sua apresentação ao
Juiz para que dele tome conhecimento e o transforme em um
estado de direito – a falência – reclama via própria que se
realiza por meio de procedimentos que constituem esse
processo prévio, preliminar, o pré-falimentar
• Sua iniciativa compete ao próprio devedor, ao credor ou
qualquer outro por lei legitimado, cujo escopo central é dar
conta ao magistrado dos atos ou fatos reveladores da crise da
insolvabilidade.
Processo pré-falimentar
• Assegurada a ampla defesa e o contraditório regular, superada
a fase instrutória, o juiz irá decretar ou denegar a falência.
• Neste último caso estará encerrado o processo pré-falencial,
não se instaurando a falência; na primeira situação, ao decretar
a falência, o julgador estará pondo termo ao processo
preliminar e iniciando o processo falimentar que se inaugura,
assim, com a sentença e não com a petição inicial.
• A natureza desse processo pré-falimentar é cognitiva. É
verdadeiro processo de conhecimento, sendo a lide nele
veiculada composta por uma sentença
Legitimação processual ativa
• O processo falimentar só pode ser instaurado mediante
provocação do interessado (art. 97), sendo eles:
1) Devedor;
2) Cônjuge sobrevivente, herdeiro ou inventariante;
3) Sócios; ou
4) Credores.
Iniciativa do Devedor
• Prescreve o art. 105 da Lei n. 11.101/2005: “O devedor em crise
econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos
para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo
sua falência, expondo as razões da impossibilidade de
prosseguimento da atividade empresarial”
• Na confissão da falência, o devedor instruirá sua petição inicial,
a qual deverá amoldar-se, no que for compatível com a sua
natureza.
• Ao requerente é possibilitada a desistência de seu pedido de
autofalência.
Iniciativa do Cônjuge Sobrevivente, 
do Herdeiro ou do Inventariante
• Encontram-se especialmente legitimados a requerer falência do
espólio do devedor que faleceu insolvente ou que a insolvência
posteriormente tenha aflorado, pessoas a ele diretamente
ligadas.
• A lei atual declara em favor de qualquer dos herdeiros, a
legitimação ativa (art. 97, II).
Iniciativa dos Sócios
• Podem requerer falência o cotista ou o acionista do devedor na
forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade
• O sócio deverá, portanto, vir a juízo em nome próprio para
pedir, com base em qualquer dos fundamentos legais, a
falência da sociedade
• Cumprir-lhe-á comprovar a sua condição, mediante a exibição,
conforme a hipótese, do contrato social ou das ações,
bastando, nesse último caso, que exiba cópia autêntica do livro
de registro das ações nominativas ou escriturais apontando sua
titularidade
Iniciativa dos Credores
• No dia a dia do foro, o mais comum são os pedidos de falência
emanados dos credores. Geralmente, as pretensões vêm
calcadas na impontualidade do devedor
• Se empresário for o credor, deverá, com o seu requerimento,
exibir certidão da Junta Comercial comprobatória da
regularidade de sua atividade
• Veda a lei que o empresário individual ou a sociedade
empresária irregular ou de fato (sociedade em comum)
requeiram falência de outro empresário
Defesa do Requerido
• O devedor empresário, citado no processo pré-falimentar,
poderá apresentar defesa no prazo de 10 (dez) dias – Art. 98
• Competirá ao requerido alegar, na contestação, toda a
matéria de sua defesa, expondo as razões de fato e de direito
com que impugna o pedido do autor, buscando, assim, elidir a
presunção de sua insolvência.
• Especificará as provas que pretende produzir, já fazendoa
juntada da prova documental, sem que, entretanto, isso
prejudique a juntada de documentos suplementares.
Defesa do Requerido
• Antes de discutir o mérito, poderá deduzir as denominadas
defesas processuais indiretas, como a alegação de
incompetência absoluta do juízo falimentar, a coisa julgada, a
ausência de legitimidade ou interesse processual
• No prazo de defesa, faculta-se requerer a recuperação judicial
(art. 95)
Depósito elisivo da falência
• Nos requerimentos baseados nos incisos I e II do art. 94, faculta a
lei ao devedor, no prazo de sua defesa, depositar o valor
correspondente ao total do crédito constante,
respectivamente, do título ou dos títulos executivos que arrimam
o pedido, ou daquele cobrado na ação de execução não
garantida pelo devedor.
• Realizado o depósito, a falência não mais será decretada, eis
que elidida a presunção de insolvabilidade do devedor
Decretação da falência – art. 99
• Refutados pelo juiz os elementos de defesa apresentados pelo
devedor, e, não tendo ele, nas hipóteses dos incisos I e II do art.
94, realizado o depósito elisivo, não restará ao magistrado outro
caminho senão o de decretar-lhe a falência
• O conteúdo da sentença implica uma série de consequências
no curso do processo falimentar, no próprio negócio e bens do
devedor e na relação com seus credores.
• Destacam-se a nomeação do administrador judicial, a fixação
de prazo para os credores que não constarem da listagem do
devedor se habilitem, a fixação do termo legal da falência, a
suspensão das ações e execuções e a manifestação a respeito
da continuação provisória das atividades do falido.
Credores concorrentes e concursais
• Credores concorrentes são aqueles que efetivamente
participam do processo
• São os que terão os seus créditos declarados no passivo
falimentar e que nutrem a expectativa de serem satisfeitos com
o ativo falencial
• Os credores concursais são todos aqueles que têm o direito de
participar do processo de falência
• Serão concorrentes na medida em que de fato e de direito
compareçam no processo.
• Caso não estejam na lista apresentada, devem se habilitar
Continuação das atividades
• A lei outorga ao juiz o poder de agir de ofício sobre a
continuidade das atividades empresariais
• Deverá o magistrado verificar a conveniência da continuação
provisória das atividades do devedor falido, atento ao fato de
que, em diversos episódios, a brusca cessação da atividade
poderá provocar inefáveis prejuízos de ordem econômica e
social
• Cumpre sejam avaliadas não apenas as razões de natureza
econômica da empresa, mas também as do pessoal dela
dependente, como empregados e fornecedores.
Continuação das atividades
• Optando-se pela continuidade, caberá ao administrador
judicial prosseguir na atividade, sendo-lhe facultado contratar
auxiliares para a execução do mister (§ 1o do art. 22)
• As despesas serão pagas pelo administrador judicial com os
recursos disponíveis em caixa (art. 150).
Termo legal da falência
• Determina a lei que o juiz, ao decretar a falência, fixe, na
respectiva sentença, o termo legal da falência
• Trata-se de reconhecer a ocasião exata em que as dificuldades
ou o procedimento incorreto do devedor começaram a
perturbar os seus negócios e a depositar neles o gérmen da
falência, influindo diretamente nas relações dos credores entre
si e também entre terceiros
• Na sentença deve o juiz, também, fixar o termo legal da
falência de cada um dos sócios de responsabilidade ilimitada
assim declarados falidos (art. 81)
Termo legal da falência
• No regime da lei atual, o termo legal não pode retroagir por
mais de 90 (noventa dias) contados do pedido de falência, do
pedido de recuperação judicial ou do primeiro protesto por
falta de pagamento
• Sua utilidade reside em permitir a declaração da ineficácia de
certos atos, sem a necessidade da prova de que foram
praticados em fraude contra os credores
Publicidade da sentença
• À sentença que decreta a falência, em função da
multiplicidade de efeitos que dela decorrem, deve ser dada
ampla publicidade
• Visa-se com a iniciativa a preservar os interesses dos credores e
de terceiros que possam vir a ser afetados pelo novo estado de
direito que resulta a falência para o devedor e seus bens
• Se dá ciência ao representante do Ministério Público, às
Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios
nos quais o devedor esteja estabelecido e ao Registro Público
de Empresas Mercantis, a este para que proceda a anotação
da falência no registro do devedor
Publicidade da sentença
• Outrossim, será publicada por edital, contendo sua íntegra e a
relação de credores
• O edital será publicado na imprensa oficial e, se a massa falida
comportar, em jornal ou revista de circulação regional ou
nacional, bem como em quaisquer periódicos que circulem em
todo o país.
Vencimento antecipado da dívida
• Em razão do caráter concursal de que desfruta o procedimento
falimentar, mister se faz possibilitar aos credores uma
participação temporal uniforme no respectivo processo, de
modo a possibilitar a formação da massa falida subjetiva,
assegurando-se a par conditio creditorum
• Para que possam todos os credores participar da execução
coletiva universal, atuando na defesa de seus direitos, é que se
preconiza o vencimento antecipado das dívidas do falido e dos
sócios solidária e ilimitadamente responsáveis
Suspensão das ações e execuções
• Se impõe a suspensão, a partir da decretação da falência, de
todas as ações e execuções individuais dos credores em face
do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares dos
sócios de responsabilidade solidária e ilimitada (arts. 99, V, e 6º)
• As ações que demandarem quantia ilíquida terão
prosseguimento no juízo que estiverem tramitando
Recurso
• Da sentença que decretar a falência caberá recurso de agravo
de instrumento (art. 100)
• Podem recorrer da decisão o devedor, os sócios de
responsabilidade ilimitada, os terceiros prejudicados, o próprio
credor requerente da quebra e o Ministério Público
• O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao Tribunal
competente
• Recebido o recurso, faculta-se ao relator atribuir-lhe efeito
suspensivo ou deferir, em antecipação de tutela, total ou
parcialmente, a pretensão recursal
Recurso
• A sentença que denegar a falência será apelável
• Os legitimados para o recurso são o credor requerente, o MP e
o devedor
Inabilitação empresarial
• A partir da decretação da falência, preceitua o art. 102, fica o
falido inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial
• Os efeitos se estendem até que se verifique o trânsito em
julgado da sentença extintiva de suas obrigações
• Poderão os sócios e os administradores, de fato e de direito, da
sociedade falida restarem atingidos por estas restrições
decorrentes de eventual condenação criminal
• Importante destacar que quem sofre a falência é a empresa,
excetuando os empresários individuais e empresas de
responsabilidade ilimitada
Obrigações do Falido
• A decretação da falência impõe ao devedor uma série de
obrigações e deveres legalmente dispostos, de modo a
viabilizar adequada ordenação processual e proficiente
administração dos interesses envolvidos na falência,
esclarecendo os fatos com ela relacionados, em atenção ao
seu íntimo conhecimento dos negócios de interesse da massa
• O art. 104 enumera deveres de ordem pessoal, administrativa e
processual
• Faltando ao cumprimento de qualquer dever, após
pessoalmente intimado pelo juiz para fazê-lo, responderá o
falido por crime de desobediência
Formação da Massa Falida
• A partir da decretação da falência, o devedor perde o direito
de livremente administrar os seus bens e deles dispor (art. 103)
• Eventuais transações referente aos bens serão consideradas
nulas
• O desapossamento dos bens do falido dá origem à massa falida
objetiva. Serão eles arrecadados pelo administrador judicial,
que os administrará, até que sejam liquidados.
• O falido permanece como proprietário dos bens, perdendo,entretanto, os direitos de diretamente possuí-los, administrá-los e
de livre disposição
Arrecadação dos Bens
• Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso de bem e
fielmente desempenhar o cargo, o administrador judicial
efetuará a arrecadação dos bens e documentos do falido no
local em que se encontrem
• Os bens deverão ser avaliados individualmente ou em bloco
• Para a realização da avaliação será possível ao administrador
judicial contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante
autorização judicial, caso não tenha qualificação técnica para
o mister
• Os bens ficarão sob a guarda do administrador judicial

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