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Anatomia geral do tórax e do coração (Aula 1) Caso clínico 1: - Paciente masculino, 19 anos, vítima de FAF com orifício de entrada em linha hemiclavicular média em primeiro espaço intercostal direito, com orifício de saída infraescapular D. Está agitado, taquicárdico (FR: 110 bpm), descorado, relativamente anêmico, PA: 120 X 80 mmHg, murmúrio vesicular presente, diminuído em hemitórax direito, FR: 24, sem outras lesões. 1) Que estruturas anatômicas mais facilmente podem ter sido lesadas? A partir do espaço intercostal direito: pleura, parênquima pulmonar, eventualmente algum brônquio mais importante, alguma terminação vascular que o acompanha (variável), saindo rente a coluna. Não lesionou estruturas centrais ou à esquerda, como veia cava, esôfago, etc. Houve penetração da cavidade torácica, podendo ter lesado pleuras, tecido pulmonar (lobo médio e inferior), pode ter tangenciado artéria e veia subclávia, sem pegar estruturas de mediastino. 2) Cite duas condições que provavelmente ocorrem nesse momento e que podem colocar esse paciente em risco. Hemotórax e pneumotórax. É possível observar em uma radiografia que a cavidade pulmonar está preta (não se vê o parênquima pulmonar), mostrando a presença de ar na região (pneumotórax) e coleção hemorrágica (hemotórax)- condiz com a situação clínica de murmúrio vesicular diminuído à direita. 3) Cite duas condutas iniciais. No pronto socorro, realiza-se a drenagem de tórax, hidratação rápida devido ao sangramento, podendo ser necessária a intubação ou não do paciente. Para a drenagem do tórax, é necessário realizar: incisão em pele, anestésico local (bloqueio do feixe vásculo nervoso), diérese (subcutâneo, camada muscular, identificação de costela, abertura da pleura parietal na borda superior da costela), posicionar o dreno rente à borda superior da costela e realizar a drenagem. Caso clínico 2: - Paciente feminino, 65 anos, natural e proveniente de Paulínia. Queixa de emagrecimento (10kg último ano), com quadro de rouquidão e tosse irritativa há 3 meses. Medicada com IVAS (infecção de via área superior) em CS. Possui antecedente pessoal de epigastralgia por hérnia de hiato esofágico grau I e câncer de mama operado à esquerda (quadrantectomia + quimioterapia + radioterapia há 12 anos). Faz uso de omeprazol e sinvastatina (para colesterol). Exame físico: bulhas rítmicas normofonéticas (BRNF) sem sopros (ausculta cardíaca normal), murmúrio vesicular Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar presente (MV +) sem ruídos adventícios (RAs) (ausculta pulmonar normal), abdome normal, PA: 140 x 80 mmHg, descorada. - Apresenta como exames: laringoscopia - mostra paralisia da prega vocal a esquerda; endoscopia - gastrite enantematosa leve; raio X e tomografia: lesão paramediastinal à esquerda. 1) Qual a relação anatômica que explica esses achados? Pode-se entender que a rouquidão é devido a paralisia da prega vocal E, podendo ser causada por alguma expansão da região do arco aórtico, onde está o nervo vago (à esquerda), junto com a alça do nervo laríngeo-recorrente, que passa por baixo do arco aórtico e sobre para inervar as pregas vocais. Um processo expansivo nessa região pode está relacionado com o emagrecimento também, em um possível comprometimento neoplásico recidivado, sendo também uma região com muitos linfonodos. Anatomia do coração: Visão semelhante de quando se abre um esterno anteriormente: ventrículo direito anterior, AD, VCS na porção intrapericárdica desembocando no AD, tendo rente à desembocadura do átrio o tecido correspondente ao nó sinusal. Paralelamente a VCS temos a aorta ascendente, na porção intrapericárdica; paralelamente mas no sentido ântero-posterior temos a artéria pulmonar, se dividindo no ramo direito (passa por baixo do aorta ascendente e da VCS) e ramo esquerdo. Uma pequena porção da VCI fica anteriorizada, dentro do saco pericárdico, não sendo possível uma grande visualização (o VE fica mais posteriorizado). Visão posterior: é possível visualizar o arco aórtico gerando os seus vasos da base (subclávia esquerda, carótida e tronco cefálico), fazendo uma curva gerando a aorta torácica descendente. Um pouco anteriorizado tem-se a artéria pulmonar que já bifurcou nos ramos e progressivamente esses ramos vão se dividindo. A VCS desemboca no AD, veia braquiocefálica desemboca na VCS e bem posterior é possível visualizar a veia ázigos, Daniella von Zuben - Medicina 56 responsável pela irrigação venosa das intercostais, desembocando também na VCS. Também se observa nessa visão as veias pulmonares (superior e inferior esquerdas, superior e inferior direitas), que desembocam no AE (bem posterior). Observa-se a veia cardíaca que vai formar o seio coronário, que vai desembocar no AD (drenagem venosa do coração). Visão com saco pericárdico íntegro (lado esquerdo): observa-se o nervo frênico inervando a porção torácica do diafragma, a porção extra pericárdica do final do arco aórtico, com carótida, porção final da subclávia esquerda e que faz a volta como aorta torácica descendente, com diversos ramos intercostais que acompanham as veias intercostais (drenam para hemiázigos → ázigos → VCS). Também é possível observar a cadeia ganglionar de caráter simpático (autônomo), enquanto que as estruturas torácicas são inervadas em seu caráter parassimpático pelo nervo vago. Visão das coronárias: observa-se o VD, VE e o sistema coronariano dividido em 3: coronária direita (irriga o VD), que também gera o ramo descendente posterior 60% das vezes (irriga a parede inferior do VE) e coronária esquerda - forma um tronco que se divide em ramo interventricular anterior (ou descendente anterior) que vai irrigar a parede anterior e o septo Daniella von Zuben - Medicina 56 interventricular, junto com seus ramos diagonais; e ramo circunflexo que passa pelo sulco átrio-ventricular esquerdo e vai irrigar a parede lateral do VE; possui ramos marginais, que vão irrigar a parede lateral do VE. Em 40% dos casos, o ramo descendente posterior será ramo direto do ramo circunflexo. Existe uma rede de colaterais importante entre esses 3 sistemas que se comunicam a todo momento. Assim, apesar de existirem 2 coronárias, temos fisiologicamente 3 sistemas. Há proximidade das coronárias com as valvas atrioventriculares (mitral - esquerda e tricúspide - direita). Próximo da coronária direita, na porção inferior, no AD, encontra-se um pequeno óstio - óstio do seio coronário (drenagem venosa do coração). Relação das coronárias com os ventrículos: observa-se uma extensa gama de colaterais, que levam o sangue, a perfusão ocorre predominantemente durante a diástole (coração relaxado), sendo mais intenso no VE, que possui uma massa ventricular mais importante. Os ramos coronários irrigam o epicárdio, miocárdio e endocárdio em toda sua extensão. Apesar de haver uma extensa rede de colaterais, essa irrigação ocorre em diferentes topografias: a coronária direita vai irrigar o VD, e eventualmente a porção inferior do VE (60% dos casos); o ramo interventricular anterior com seus ramos diagonais vai irrigar a paredeanterior e o septo interventricular, tendo uma grande importância. Se ocorrer um infarto nessa região, o comprometimento hemodinâmico será muito mais severo do que se for em outras localizações. Já o ramo circunflexo irá irrigar a parede lateral, passando pelo sulco atrioventricular esquerdo e seus ramos marginais vão irrigar a parede lateral. Se a descendente posterior for ramo da circunflexa, a parede inferior do VE será irrigada por ela. Relação das coronárias com a musculatura: a cavidade ventricular direita possui um formato cônico, após a entrada pela valva tricúspide, com via de saída para a artéria pulmonar, enquanto o VE não tem esses limites tão bem definidos (mais circular). É clara a maior espessura do VE (6 a 8 vezes mais espesso) mas em ambos o casos depende-se de um sistema papilar em que as válvulas estarão fixas na musculatura papilar, garantindo um funcionamento perfeito e adequado delas. Na porção mais alta do septo interventricular (com uma porção muscular em sua maioria) observa-se uma porção perimembranosa, sendo nessa região que ocorre 80% das comunicações interventriculares de origem congênita (cardiopatia congênita CIV). Relação das válvulas com a musculatura papilar: na mitral, observa-se a papilar anterior (irrigado por ramo da interventricular anterior e ramo circunflexo) e posterior (irrigado ou por ramo da coronária direita ou por ramo do circunflexo), fixas nas cúspides e sua proximidade com a valva aórtica e pulmonar, sendo importante para entender inteiramente a relação e como tudo deve ser sincronizado. Se o músculo papilar não for irrigado corretamente pelas coronárias, pode levar a uma disfunção do funcionamento das válvulas, que devem funcionar perfeitamente. Qualquer isquemia na região de fixação das válvulas nos papilares vai gerar disfunção grave, podendo ter repercussão importante. Infarto agudo do miocárdio (IAM): Ocorre o desenvolvimento de uma oclusão, secundária a uma instabilização de uma placa de aterosclerose, que pode ocorrer em qualquer indivíduo mas, evidentemente, é Daniella von Zuben - Medicina 56 acelerado com fatores de risco (hipertensão, diabetes, idade). Forma-se, então, um tampão de fibrina (plaquetas) que irão obstruir o fluxo de sangue, podendo levar à morte celular (formam-se áreas de necrose com perda funcional) caso não seja interrompido. O exame que deve ser realizado para observar essas ocorrências é o cateterismo. Anatomia do tórax com ênfase em vasos cardíacos (Aula 2) → Ênfase no sistema excito-condutor e valvas do coração. Caso clínico 1: - Paciente de 68 anos, histórico de tonturas esporádicas há 1 ano. Há 1 semana apresentou queda da própria altura ao levantar no banheiro da sua casa. É hipertenso, faz uso regular de enalapril (anti hipertensivo - inibidor de enzima conversora de angiotensina) e sinvastatina (medicamento para colesterol). Antecedente de cirurgia em coluna lombar há 4 anos. Etilista social, tabagista 10 cigarros/dia há 40 anos. Exame físico: BANF (bulhas arrítmicas normofonéticas) sem sopros, FC em torno de 40 bpm, MV (murmúrio vesicular) sem RAs (ruídos adventícios), abdome nada digno de nota (ndn), fígado não palpável. 1) Qual sintoma predominante? O sintoma predominante são as tonturas e a síncope. 2) Qual o sinal clínico importante? O sinal clínico importante é a bradiarritmia. Apresenta um baixo débito cardíaco. 3) Qual é a provável relação entre este sintoma e este sinal clínico? O baixo débito cardíaco faz com que a perfusão cerebral diminua, podendo levar ao sintoma de tontura e síncope. Sistema excito-condutor: na anatomia, não se vê diferença entre as fibras excito-condutoras e o cardiomiócito. Esse estímulo elétrico nasce no nó sinusal (ou sinoatrial), que fica na parte anterior onde a VCS se une ao AD, e é transmitido por fibras intra-atriais (tanto do átrio direito quanto do esquerdo), que vão se unir no nó atrioventricular - AV (tendo uma relação íntima com a valva tricúspide). Saindo do nó AV, vai para o Feixe de His, que faz relação com a valva aórtica; passa para os ramos direito e esquerdo, se propagando mais rapidamente. Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Nos cardiomiócitos, esse estímulo dissemina a variação no potencial de ação (ddp em repouso: -90mV). Com a transmissão do estímulo, ocorre uma despolarização que vai permitir a entrada de cálcio pelos canais nos cardiomiócitos, resultando, finalmente, na contração muscular. Quando temos um estímulo que nasce no nó sinusal e se propaga, gera no átrio um traçado eletrocardiográfico com as características: forma uma onda P (contração do átrio); com a chegada do estímulo elétrico no nó AV (em Q), nota-se a formação do complexo QRS (formado com um pequeno atraso após a chegada do estímulo no nó AV), de transmissão da despolarização da massa ventricular, com uma deflexão em S, caracterizando a despolarização final da massa ventricular esquerda - leva a contração dos ventrículos; ocorre a repolarização dos átrios (oculta pelo complexo QRS) e a repolarização da massa ventricular que vai gerar a onda T. Com a abertura dos canais de cálcio, ocorre o deslizamento das membranas de actina e miosina, levando a contração dos cardiomiócitos (células se extendem e contraem). Daniella von Zuben - Medicina 56 No eletrocardiograma: o estímulo começa no nó sinusal; quando atinge a massa atrial, irá gerar uma contração (onda P); o complexo QRS está relacionado com a transmissão do estímulo no nó AV, ramos esquerdo e direito, transmitindo até o VE (deflexão S), até a onda T, que mostra a repolarização da grande massa ventricular. Assim, o traçado de ECG normal mostra que P-QRS-T se sucedem com uma configuração natural. Quando se tem um problema por degeneração (como ao nível do feixe de His) ou isquemia, por diferentes etiologias, em que o defeito ocorre na ativação do estímulo elétrico, pode ocorrer, dentre outras coisas, um bloqueio atrioventricular: Bloqueio atrioventricular grau 2, tipo 2 (Mobitz II) → nota-se ausência do complexo QRS, dado que houve bloqueio do estímulo elétrico no nó AV. Há uma atividade normal no nó sinusal (contração atrial normal). Bloqueio atrioventricular grau 2, tipo 1 (Mobitz I) → ocorre um atraso crescente entre a onda P (aumento progressivo do intervalo P-R) e o complexo QRS, até o momento em que o complexo QRS está ausente (fenômeno de Wenckebach); ocorre depois um batimento normal, e a sequência se repete. Essas alterações, por alterarem a FC, o ritmo cardíaco, levam a uma sintomatologia de tonturas e síncopes. Caso clínico 2: Daniella von Zuben - Medicina 56 - Paciente JVS, masculino, 62 anos, dá entrada no PS com dor precordial de moderada intensidade com migração para axila esquerda (dor no peito - angina). Refere que dor iniciou-se mais forte há 12 horas, fez um uso de buscopan, sem melhora inicialmente. Agora, já melhorando, permanece discreto desconforto; possui antecedente de HAS (hipertensão arterial sistêmica com uso irregular de medicação), tabagismo 1 maço por dia há 45 anos. Seu traçado eletrocardiográficomostra uma variação: desnivelamento do complexo QRS e do segmento S-T, dado que o complexo está com o vetor invertido (sem o pico de R) e o segmento S-T está com a amplitude aumentada → alterações observadas de V1 a V4. 1) Qual a hipótese diagnóstica? O paciente está tendo uma síndrome coronariana aguda. Na visão anatomopatológica, nota-se um comprometimento significativo da parede anterior e do septo do VE. Já no corte coronal, com VE aberto e a musculatura de parede e septo de boa dimensão, é possível observar área necrótica na região do infarto, fina, inativa, não contraindo mais; nota-se a valva mitral fixa no músculo papilar e essa disfunção que vai acontecer devido a não contração/regeneração desse tecido necrosado. Como quadro clínico, pelo paciente ter apresentado dor por 12 horas, a artéria ficou muito tempo comprometida, acarretando na região necrótica, podendo ser muito sério para o paciente. 2) Qual artéria responsável pelo quadro? A artéria interventricular anterior (analisada de V1 a V4 no eletro) foi a responsável pelo quadro obstrutivo. Quanto tem-se uma oclusão dessa artéria, é possível observar, com o contraste no tronco da coronária esquerda, somente o ramo do circunflexo, sendo que a artéria aparece de forma fraca e tardiamente no exame, devido a uma obstrução completa na sua porção proximal, e gerou um infarto em que houve comprometimento da parede anterior e do septo do VE. É possível observar que a “ponta” do VE não contrai como o restante da musculatura, indicando o quadro obstrutivo. Em eventuais situações, é possível reverter esse quadro, através da revascularização do miocárdio (ponte com a artéria torácica interna (ramo da subclávia) para a artéria interventricular anterior - ponte de mamária ou de safena), normalizando o fluxo sanguíneo. → Anatomia valvar: Na sístole ventricular: em condição normal, temos o fechamento perfeito das valvas AV, esquerda (mitral) e direita (tricúspide) e as valvas semilunares (pulmonar - anterior e aórtica) se abrem, com a contração o fluxo de sangue é ejetado, essas valvas vão permitir a passagem de sangue dos ventrículos para a artéria pulmonar e a aorta, respectivamente. Na proximidade da valva mitral, observa-se o ramo circunflexo da artéria coronária esquerda, que irriga essa porção e passa pelo sulco atrioventricular. Também é possível Daniella von Zuben - Medicina 56 observar (no local que seria o das 5 horas, se pensarmos na valva como um relógio) a veia cardíaca e o seio coronário, a drenagem venosa com o coração. Uma relação anatômica de grande importância das valvas: a mitral terá sua cúspide posterior e anterior; a tricúspide terá sua cúspide posterior, anterior e septal; a valva pulmonar terá as 3 valvas semilunares; a valva aórtica terá sua cúspide coronariana esquerda, cúspide coronariana direita (relação com os óstios das coronárias com essas cúspides) e a cúspide não coronariana. É possível observar o tecido correspondente ao nó AV e o feixe de His, onde lesões iatrogênicas, alterações no intraoperatório podem causar diferentes graus de bloqueio AV (círculo preto no desenho). Na diástole ventricular: período de relaxamento ventricular, tendo um enchimento dos ventrículos, sendo inicialmente passivo, porque as valvas AV vão se abrir, enquanto que as valvas aórticas e pulmonar vão se fechar pois já ejetaram sangue; existe uma coluna de sangue que tenta refluir naturalmente, sendo impedido de retornar por essas valvas para dentro dos ventrículos. Em condições normais, nenhuma quantidade de sangue irá voltar para dentro dos ventrículos. Todo sangue que vinha retornando sai dos átrios e chega nos ventrículos. Posteriormente, há ainda um aumento desse enchimento quando ocorre a sístole atrial (onda P). Os músculos papilares (2 na mitral e 3 na tricúspide) possuem relação com as valvas AV: a mitral, observa-se cada papilar com cordoalhas mantendo uma relação íntima dos papilares com a borda das cúspides (posterior e anterior), sendo um sistema que deve ser perfeito para impedir que uma quantidade de sangue volte para os átrios durante a sístole. Daniella von Zuben - Medicina 56 Valva aórtica: do ponto de vista de patologia, são importantes as estenoses da valva aórtica e as insuficiências (regurgitações) da valva; também se aplicam à valva mitral. Em relação a anatomia, a valva é constituída de 3 válvulas (cúspides), relacionada com o óstio esquerdo e direito da coronária; no esquema anatômico, é possível observar 2 óstios (pequenos buracos) dos vasos. Abaixo da valva aórtica, temos o esqueleto fibroso do coração, que faz uma relação íntima com a valva mitral, por isso que quadros de infecções graves no coração podem acometer a valva aórtica e se estenderem pela valva mitral, em casos de endocardites. Para que as valvas funcionem perfeitamente, a musculatura papilar deve estar sendo perfeitamente irrigada; déficits de irrigação, síndromes coronarianas agudas que interrompem o fluxo na artéria interventricular anterior ou descendente anterior vão alterar a irrigação da parede anterior e papilar anterolateral ou papilar posterior (em caso de obstrução do ramo circunflexo), podendo fazer o sistema valvar não funcionar porque se o músculo deixa de contrair; pode gerar insuficiência da valva, com importantes graus de regurgitação, resultando em diferentes sintomas e consequências que podem ser graves. As valvas tricúspide e pulmonar possuem relação anatômica semelhante ao caso anterior, porém sem a presença dos óstios. Durante a diástole, temos a valva AV aberta, com ventrículos se enchendo. Quando começa a sístole, temos a contração ventricular e há um fechamento das valvas AV. No VE, por exemplo, há fechamento da valva mitral, abrindo-se a valva aórtica que ejeta todo o sangue pela aorta; com o relaxamento do VE, volta a haver a uma pressão do fluxo de sangue pela aorta; quando existe uma equalização das pressões do VE com a aorta, ocorre um fechamento da valva aórtica e as valvas AV vão se abrir. No traçado eletrocardiográfico (ciclo cardíaco), pensando no VE (mas vale para ambos): - Na onda P (diástole): aumento do enchimento que acontece no ventrículo (contração atrial), levando a aumento de volume no ventrículo; - QRS: se relaciona com a contração ventricular (sístole ventricular); a partir de um certo momento na fase de contração isovolúmica, a pressão ventricular vai subindo e há o fechamento das valvas AV → gera a primeira bulha cardíaca. Com a persistência da sístole na fase isovolúmica, há um momento em que, finalmente, a pressão ejetada é maior do que a pressão na aorta, ocorrendo abertura da valva aórtica e a ejeção de sangue para todo o corpo; o volume intraventricular despenca nesse momento. Nesse momento de sístole, começa a ter a repolarização ventricular (preparação para a próxima sístole) - O pico da pressão (aórtica e ventricular) vai caindo (momento da onda T), até que ocorre o fechamento da valva aórtica, iniciando a diástole. Com isso, temos a segunda bulha cardíaca. Vamos ter uma fasede enchimento passivo dos ventrículos, com o sangue presente nos átrios, com abertura das valvas AV. Vamos ter novamente uma nova onda P (sístole atrial), uma nova contração dos ventrículos, repetindo o ciclo cardíaco. Daniella von Zuben - Medicina 56 → Ausculta das bulhas cardíacas relacionadas com uma valva: - Foco aórtico (valva aórtica): segundo espaço intercostal, logo abaixo do ângulo de Louis, entre o corpo e a cabeça do esterno; - Foco pulmonar (valva pulmonar): na mesma topografia do aórtico, à esquerda; - Foco tricúspide (valva tricúspide): quinto espaço intercostal à esquerda, na borda da cartilagem com o corpo do esterno; - Foco mitral (valva mitral): topografia do precórdio (região torácica anterior esquerda). Uma ausculta normal é ouvida com o ritmo “tum-ta”, que se repete. A presença de sopros vai se relacionar justamente com o turbilhonamento de fluxo, que pode estar associado Daniella von Zuben - Medicina 56 a uma série de condições patológicas ou fisiológicas, dependendo das características do sopro (na sístole ou diástole), podendo acarretar em diferentes manifestações clínicas. Caso clínico 3: - Paciente JVS, 68 anos, tem história de tonturas esporádicas há 1 ano. Refere precordialgia (dor no peito) e dispnéia (falta de ar) há moderados esforços há 2 meses. Há 1 semana, apresentou queda de própria altura ao levantar no banheiro da sua casa. É hipertenso, faz uso regular de enalapril (inibidor da enzima conversora de angiotensina) e sinvastatina (colesterol). Antecedente de cirurgia em coluna lombar há 4 anos. Paciente com antecedente de etilismo, ex-tabagista há 20 anos; apresenta bulhas cardíacas rítmicas normofonéticas (BRNF), e a presença de um sopro sistólico (++/4) em foco aórtico (FA0), FC em torno de 70 bpm, MV sem RAs, sem alterações abdome e fígado. 1) Qual hipótese diagnóstica mais provável? Trata-se de um caso de estenose aórtica. É possível observar, nesses casos, as cúspides com fusão das comissuras, muito espessadas e calcificadas, e um orifício efetivo minúsculo (acarretando na sintomatologia apresentada) 2) Explique a sintomatologia em relação a essa hipótese diagnóstica. A tríade de sintomas (dor no peito, cansaço aos esforços, tonturas e síncopes) com a presença de um sopro auscultado no foco aórtico (sistólico), devido ao turbilhão causado pela estenose apresentada (ao invés do “tum-ta” normal, escuta-se “tumsh-ta”). Dessa forma, acaba sendo simples correlacionar esse sopro com os sintomas. Ocorre a hipertrofia do VE, além do normal, demandando mais sangue oxigenado, havendo um desbalanço dessa oferta de sangue oxigenado o paciente pode ter um quadro de angina e precordialgia. Aquela dificuldade de passagem de sangue pelo orifício muito diminuto pode gerar sintomas de baixo DC sem ter alteração de ritmo cardíaco, acarretando em sintomas de tontura e síncope. A falta de ar progressivamente se instala pela dilatação ventricular, com enfraquecimento da musculatura do VE. Daniella von Zuben - Medicina 56 Opções de tratamento: troca de valva aórtica; mais recentemente, têm-se utilizado a opção TAVI transfemural, com a valva percutânea, através do cateterismo - passa-se um cateter pela artéria femoral, subindo até a aorta e chega na valva aórtica, dilatando-a; em seguida, uma prótese é colocada na topografia da valva aórtica, corrigindo a estenose; é um procedimento menos invasivo. → Silhueta cardíaca no raio-X de tórax: É importante entender um radiograma de tórax para observar as impressões que vão ficar no mediastino anterior, as alterações do tamanho do coração, aumento de câmaras, para, assim, entender o diagnóstico e possíveis alterações. Em um radiograma PA, observa-se na extensão: topografia do AD, VD (anteriormente, basicamente se vê o VD); a ponta mais distal, rente ao diafragma à esquerda corresponde ao VE; de forma mais proximal, temos 2 protuberâncias - uma em que se vê a transmissão da topografia do tronco da artéria pulmonar e mais superiormente do arco aórtico. Com isso, é possível entender uma série de condições em que pode haver aumento da silhueta cardíaca (cardiomegalia), podendo ter relação com doenças. Deve-se observar também a transparência correta do parênquima pulmonar, em condições normais, a trama vascular-pulmonar e a relação com o diafragma - no lado esquerdo do paciente, é possível observar a bolha gástrica, o que não ocorre do lado direito pela presença do fígado. No caso abaixo, é possível observar aumento discreto do coração, predominantemente do VD e a perda de diferença entre a protuberância da artéria pulmonar com o arco aórtico, evidenciando uma situação de aumento do tronco da artéria pulmonar, possivelmente causado por uma hipertensão pulmonar, com discreto aumento do VD. É comum em situações como, por exemplo, uma estenose de valva mitral, com aumento da trama vascular-pulmonar; não há aumento do VE, mas ocorre comprometimento da artéria pulmonar (aumento da pressão de capilar pulmonar pelo aumento de fluxo de sangue na pequena circulação), gerando, de maneira retrógrada, a dilatação das câmaras direitas do coração, principalmente, no caso, VD. Daniella von Zuben - Medicina 56 Já no radiograma abaixo, nota-se um aumento predominante de VE (coração mais pontudo). A artéria pulmonar não está muito pronunciada, sendo possível observar esse aspecto radiopaco (mais branco) devido ao aumento do AE, que só vai aparecer em condições patológicas (em condições normais, em PA, o AE não aparece), demonstrando uma condição anormal. No caso abaixo, observa-se um caso de cardiomegalia importante, em que se nota o aumento do VD, do VE, da proeminência da artéria pulmonar; o AD se desloca mais para a direita; pode ter relação com diferentes patologias, dificilmente sendo uma condição fisiológica. Daniella von Zuben - Medicina 56 Em um outro exemplo, ocorre um aumento de VD, VE, até um alargamento do mediastino, por diferentes causas. É importante entender que não é uma condição normal. Anatomia da parede torácica e diafragma (Aula 3.1) Todos os pacientes na UTI e/ou em estado grave necessitam de um acesso venoso central. Para pegar esse acesso, deve-se pensar em duas veias principais: a veia jugular interna (punção no pescoço, tentando pegar a veia jugular que vai desembocar na veia subclávia) ou diretamente na veia subclávia (abaixo da clavícula). Nos dois métodos pode ocorrer perfuração da pleura parietal, da pleura visceral, acarretando em pneumotórax (ar na cavidade pleural). Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Nesses casos, deve-se colocar um dreno de tórax para retirada do ar, para que o pulmão volte a expandir e funcionar normalmente. Caso clínico 1: - Se o paciente tiver com líquido pleural e febre há 5 dias, necessita de toracocentese (punção do espaço pleural) para diagnóstico para saber se não é pus. No raio x, mostra-se opacidade da imagem (mancha branca), com linha semicircular, elíptica, muito sugestiva de derrame pleural. Acontece em pacientes de UTI e/ou doença respiratória grave. A punção do líquido pleural ocorre da seguinte forma: deve-sepuncionar dentro da cavidade pleural, passando pela borda superior da costela (menos vasos), no ponto mais baixo (onde está o líquido), tomando cuidado para não puncionar a base do diafragma (não consegue puncionar o líquido, e pode puncionar no LD o fígado e no LE o baço, ou até os cólons transverso ou descendente). Caso clínico 2: Daniella von Zuben - Medicina 56 - Homem, 37 anos, chegou alcoolizado no PS depois de tentar agredir a esposa; referia dor nas costas e dificuldade de deitar de barriga para cima devido a um FAB. Para estudar o paciente com o ferimento, é necessário saber os limites do tórax e, nesse caso, também é importante saber onde se insere o diafragma, para sabermos se o ferimento é torácico ou abdominal. - Limites do tórax (cavidade torácica): são definidos mais ou menos pelas estruturas ósseas. O limite superior é justo às clavículas, inseridas no manúbrio esternal; a face anterior é basicamente o esterno e a parte cartilaginosa das costelas; a face posterior corresponde à coluna torácica; a parte inferior corresponde ao diafragma. A parede torácica possui 2 funções principais: (1) auxiliar na respiração → expande a cavidade torácica na inspiração, gerando uma pressão negativa, entrando ar pela boca e pelo nariz até o alvéolo; já durante a expiração, a cavidade pleural diminui e o ar será colocado para fora. (2) proteção física contra agressões, sendo também muito importante. Ocorre variação do volume pulmonar conforme a expansão ou a diminuição do tamanho da cavidade pleural. Caso clínico 3: - Homem, 30 anos, chega ao PS com múltiplos FAF; ausculta com MV abolido à direita; macicez na percussão (tórax com líquido - sangue); suspeita de hemotórax. O coração é protegido pelo esterno, fazendo com que, no caso descrito, o paciente não tenha tido o órgão perfurado, o que acarretaria em óbito. O paciente teve um ferimento no parênquima pulmonar do lado direito e conseguiu sobreviver. Anatomia da superfície do tórax Existem algumas linhas de orientação do tórax. A primeira delas é a que passa no meio do esterno, até o umbigo (aproximadamente), sendo a linha mediana anterior. Paralela a essa linha, temos uma que passa no meio da clavícula, às vezes pelo mamilo, sendo as linhas hemiclaviculares - esquerda e direita. O dreno de tórax, por exemplo, pode ser drenado no terceiro espaço da linha hemiclavicular. Na face lateral do tórax, temos a linha axilar média (que passa bem no centro da axila), a linha axilar anterior (próxima ao peitoral maior, paralela à média) e na prega cutânea que forma a axila temos a linha axilar posterior. Na face posterior, temos os processo espinhoso de C7 em uma linha pela coluna, que delimita a linha mediana posterior. Duas linhas paralelas a ela são as linhas escapulares - direita e esquerda, passando pela ponta da escápula. Essas linhas raramente são utilizadas para procedimento mas sim para localização de ferimentos. Em relação ao esterno, temos a junção da clavícula ao esterno na extremidade superior, sendo que a primeira costela fica praticamente “soldada” com a clavícula. A parte superior do esterno é chamada de manúbrio esternal, sendo limitada pela incisura jugular (superiormente). Daniella von Zuben - Medicina 56 Há uma articulação a nível da segunda costela, e uma outra estrutura esternal que é o corpo. O final do esterno é chamado de apêndice xifóide, que pode ser cartilaginoso, principalmente nos jovens, delimitando a parte inferior da cavidade torácica anterior. A parede torácica é composta por pele, músculos, arcabouço ósseo e o revestimento pleural. - Músculos (importantes principalmente na fixação do ombro e na força muscular do braço; a grande maioria não tem função respiratória): escalenos e intercostais possuem função respiratória, enquanto que peitorais, serrátil anterior, serrátil posterior, trapézio, paravertebral possuem outras funções como estabilização da coluna e aumento da força do membro superior. Não é necessário no dia a dia do médico geral conhecer inserção, inervação, vascularização. O músculo latíssimo do dorso (grande dorsal), que começa na linha lateral até embaixo do trapézio, é amplamente utilizado para reparos anatômicos musculares devido a retirada de tumores, por exemplo. - Arcabouço ósteo-cartilaginoso da parede torácica: é composto por 12 pares de costelas, divididas em - vertebrocostais (7 pares), que saem da coluna e anastomosam com o esterno; vertebrocondrais (3 pares), que começam na coluna e se unem à costela de cima) e livres (2 pares), que começam na coluna mas não terminam em outra estrutura. O esterno é composto pelo manúbrio, corpo e processo xifóide. Além disso, temos 12 vértebras (T1 a T12), duas escápulas, com papel importante de proteção e duas clavículas, que faz o limite entre o tórax e a região cervical. Caso clínico 4: - Paciente feminina, com história de queda de cavalo, apresenta dor torácica e dispnéia. Tomografia mostra ausência de hemopneumotórax ou contusão pulmonar. A paciente apresentava múltiplas fraturas das costelas, mas impediram lesões no parênquima pulmonar (função importante do gradeado costal - proteção do pulmão e das demais estruturas torácicas). Obs. O esterno também protege o coração. A saída da aorta (junto à coluna), que também recebe proteção do corpo vertebral. Caso clínico 5: - Paciente mulher, 67 anos, tabagista, com escarro com sangue. Apresenta neoplasia de pulmão (patologia muito comum no Brasil). Na tomografia, a imagem do tumor começava no campo médio superior esquerdo e na broncoscopia é possível ver o tumor na entrada do lobo superior. A paciente foi submetida a uma cirurgia chamada toracotomia: a paciente fica em decúbito lateral, com o braço estendido, e uma incisão é feita ao redor do quinto e sexto Daniella von Zuben - Medicina 56 espaço intercostal; abaixo da pele, observam-se os músculos que serão rebatidos - grande dorsal, serrátil; em seguida, observa-se as costelas e o espaço intercostal. Entre as costelas teremos 2 tipos de músculo: o intercostal externo, que é voltado para frente, e o intercostal interno, para o sentido oposto. Possuem funções opostas (contração e relaxamento) durante a respiração. Esses músculos são soltos da borda superior da costela, para evitar os vasos e a inervação simpática presentes próximos da borda inferior, e uma parte da costela é retirada para facilitar a abertura. Caso clínico 6: - Homem. 50 anos, agricultor, apresenta lesão ulcerada na altura do manúbrio; conta cirurgia anterior no local para retirada de lesão em cidade de origem; exame anatomopatológico da cirurgia anterior mostrou carcinoma epidermóide com margem profunda comprometida; foi proposto cirurgia com ressecção da da lesão e da parte do manúbrio esternal que foi acometido. (professor só mostrou fotos da cirurgia) Artérias e veias da parede do tórax Presentes na borda inferior das costelas. Todas as artérias são ramos da aorta, com exceção das artérias mamárias (ramos da subclávia), sendo importantes pois são usadas na revascularizaçãodas artérias coronárias no caso de infarto, por exemplo, com as mamárias sendo anastomosadas na coronária. As intercostais (12) nutrem a pleura, parte muscular e pele da região, possuindo, portanto, grande importância. Já na parte venosa, todas as veias irão drenar para a ázigos (direita) e hemiázigos (esquerda), com exceção das veias mamárias, que caem na veia subclávia. Dermátomos e miótomos Uma parte do tórax superior é inervada por raízes nervosas que estão no pescoço, enquanto que as raízes nervosas que saem de T1 a T12 vão inervar regiões que vão até quase o períneo (abdome anterior, face anterior do braço, face posterior do tórax até a região lombar). Assim, de cada forame da coluna torácica irá sair um nervo, que vai ter um componente motor, sensitivo e simpático, mas não necessariamente inervam somente o tórax, podendo inervar também o abdome (parte anterior e posterior). O tronco simpático corre paralelo à coluna, bilateralmente, dando ramos que vão acompanhar os nervos intercostais, sendo muito importante por estar ligado a alterações como batimento cardíaco, sudorese. Pleuras Consiste em uma membrana extremamente fina e transparente, com função de proteção e absorção de líquidos. A pleura parietal é inervada por ramos dos nervos intercostais, enquanto que a pleura visceral possui inervação da cadeia simpática. Assim, toda Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar vez que realiza-se uma punção ou coloca-se um dreno de tórax, a dor está relacionada com a pleura parietal e a pleura visceral associa-se ao reflexo de tosse. Processos inflamatórios na pleura parietal são extremamente dolorosos por ser uma região muito inervada. A pleura parietal e visceral possuem grande variação de tamanho entre si, acompanhando a movimentação pulmonar durante o processo respiratório, assim como a cavidade torácica. Em condições normais, não é possível visualizar as pleuras nos exames de imagem, apenas se vê o limite do pulmão. Mas, no caso do pneumotórax, é possível visualizar as pleuras. Em processos inflamatórios e/ou infecciosos, a pleura pode ser espessada, mudando seu aspecto e podendo chegar a 2 cm de espessura, dependendo do tempo de infecção. Em condições normais, a pleura é muito fina, permitindo a completa expansão pulmonar, situação em que ele ocupa toda a cavidade torácica. Diafragma Faz a divisão entre o tórax e o abdome. Sua inserção acontece no apêndice xifóide (superiormente), nas 6 costelas superiores (7-12) e nas cartilagens costais correspondentes (lateralmente), 3 vértebras lombares (posteriormente), não se inserindo na vértebra torácica. A 12ª vértebra fica livre na cavidade torácica, pois o diafragma vai até o final dessa vértebra. Em uma vista de cima do diafragma, observa-se o saco pericárdico, o diafragma com sua porção muscular e o centro tendíneo (maior resistência). O diafragma possui 3 orifícios de passagem: a aorta, o esôfago e a VCI. Assim, a cavidade abdominal fica isolada da torácica pelo diafragma mas ele permite a passagem desses componentes. Toda vez que ocorre flacidez nessas estruturas, um aumento desse local em que passa a estrutura, principalmente do esôfago, ocorre uma estrutura abdominal que pode passar pelo lado da víscera, sendo chamada de hérnia (por exemplo, hérnia hiatal). Caso clínico 7: Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Branda Destacar - Homem, 35 anos, vem ao PS com falta de ar, dor torácica e abdominal súbita, vômitos e parada de evacuações; referiu ter caído de árvore há 3 anos, mas não procurou serviço médico na ocasião; na ausculta, o paciente tinha ruído hidroaéreo (esperado na barriga) no hemitórax esquerdo e, com uma sonda e contraste, observou-se que o estômago paciente estava na região do tórax. Na queda, ele provavelmente sofreu uma lesão no diafragma e, com o passar do tempo, a lesão foi aumentando e permitiu a passagem do estômago. Pode ocorrer até necrose nesses casos. Realiza-se cirurgia para fechar a lesão no diafragma e o prognóstico é positivo. Caso clínico 8: - Mulher, 60 anos, vem à UBS com falta de ar progressiva; possui o antecedente de cirurgia de tumor cervical à 6 meses; No raio X, o diafragma se mostra elevado, possivelmente por lesão do nervo frênico durante a cirurgia anterior; assim, o músculo diafragmático perde o estímulo e fica “mole”, sem contração. Com a pressão abdominal positiva, o diafragma acaba sendo empurrado para cima, diminuindo o tamanho da cavidade torácica. Deve-se realizar cirurgia para restabelecer o tamanho da cavidade torácica, ainda que o diafragma não esteja funcionante. Anatomia aplicada nas doenças malignas e benignas torácicas (Aula 3.2) Mortalidade por câncer no mundo: neoplasia de pulmão mata mais do câncer de próstata, mama e colorretal juntos. Assim, o estadiamento (processo para determinar a localização e a extensão do câncer presente no corpo de uma pessoa) e as opções de tratamento para cada tipo de doença são importantes para que haja um progresso na sobrevida dos pacientes. A anatomia, base da classificação TNM, deve ser amplamente conhecida e aplicada. A sobrevida do câncer de pulmão melhorou em torno de 50% nos últimos 40 anos, mas ainda há muito o que melhorar. O estadiamento TNM (classificação de tumores malignos) é importante porque a neoplasia de pulmão possui um comportamento tumoral não uniforme, geralmente provocando metástases à distância, de uma forma relativamente precoce; as regras do estadiamento baseiam-se especificamente em todos os órgãos sólidos, seguindo critérios anatômicos; o tipo histológico e a extensão anatômica são fundamentais para o tratamento e o prognóstico. Essa classificação para câncer de pulmão é antiga, estando hoje em sua oitava edição, sendo muito dinâmica, à medida que o diagnóstico, tratamento, sobrevida alteram a classificação ao longo do tempo. O descritor T indica o tamanho e a posição do tumor, o N indica a presença e a localização de linfonodos acometidos, e o M indica a presença de metástases à distância. Apesar das alterações nas edições, esses conceitos anatômicos básicos são mantidos. O estadiamento TNM possui objetivos como: auxiliar no planejamento terapêutico; avaliar os resultados do tratamento; facilitar o intercâmbio de informação; contribuir para Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar contínua investigação do câncer; apoio às atividades dos centro de tratamento de câncer, incluindo os registros. Cada descritor possui subtipos, de acordo com as variações: ● Descritor T: varia de TX a T4 (TX, TO, Tis, T1, T2, T3 e T4), possuindo como principais estruturas torácicas que vão determinar esse descritor em uma situação de neoplasia de pulmão - pleura visceral, pleura parietal, parede torácica, carina traqueal, esôfago, cava superior, aorta e vasos da base, coluna, coração, pericárdio, diafragma, estruturas neurais. ● Descritor N: varia de 0 a 3, possuindo como principais estruturas de determinação - linfonodos hilares, mediastinais subcarinais,contra-laterais. ● Descritor M: varia de 0 a 1, possuindo 4 principais órgãos que mais sofrem com a metástase à distância, em decorrência da neoplasia pulmonar - cérebro, fígado, ossos e adrenal. → Estadiamento TNM x Tratamento: a classificação é importante para já indicar o tratamento que é sabido ser mais eficiente, diminuindo o tempo de ação e favorecendo o prognóstico positivo. Por exemplo: Estadio I: dividido em IA e IB IA - T1 N0 M0 → Cirurgia IB - T2 N0 M0 → Cirurgia Estadio II: dividido em IIA e IIB IIA - T1 N1 M0 → Cirurgia IIB - T2 N1 M0 → Cirurgia + Quimioterapia + Radioterapia T3 N0 M0 → Cirurgia + Quimioterapia + Radioterapia Estadio III: dividido IIIA e IIIB IIIA - T1 N2 M0 T2 N2 M0 → Cirurgia + Quimioterapia + Radioterapia (os 4) T3 N2 M0 T3 N1 M0 IIIB - T4 Nx M0 → Quimioterapia + Radioterapia (os 2) Tx N3 M0 Estadio IV: Tx Nx M1 → Quimioterapia + Radioterapia Anatomia das Vias Áreas Inferiores As estruturas anatômicas do pulmão: o pulmão direito é dividido em três lobos - superior (segmentos anterior, posterior e apical), médio (segmentos lateral e medial) e inferior (segmentos ântero-lateral, basal lateral, basal medial, basal anterior e basal posterior); o pulmão esquerdo é dividido em dois lobos - inferior (segmentação semelhante do lobo inferior direito) e superior (segmentos ápico-posterior, anterior, lingular superior e lingular inferior). São Daniella von Zuben - Medicina 56 informações muito importantes, não só do ponto de vista do estadiamento mas também para alternativas terapêuticas/cirúrgicas. Obs. Considerando somente o descritor T, a sobrevida dos pacientes com lesões até 1cm de diâmetro conseguem sobrevida em torno de 90% das vezes; se tivermos uma sobrevida global de 25% em 5 anos, quando se trata de lesões iniciais e sem comprometimento linfonodal, temos uma expectativa de 5 anos em 90% dos casos ou mais. Descritor T Variações: Tx - lesão primária não identificada, isto é, na broncoscopia, no lavado brônquico ou no escarro foi identificada uma célula neoplásica (citologia oncótica positiva), no entanto, a lesão não é visualizada na broncoscopia e nem na tomografia. Tis - carcinoma in situ. T1 - tumor menor ou igual a 3 cm, circundado por pulmão ou pleura visceral, sem evidência de invasão do brônquio lobar. T1a: tumor menor ou igual 2 cm T1b: tumor maior que 2 e menor/igual a 3 cm T2 - tumor maior que 3 cm, mas menor/igual a 7 cm; envolvimento do brônquio principal, maior/igual a 2 cm distal à carina; invasão de pleura visceral; atelectasia (colapso pulmonar) ou pneumonia obstrutiva com extensão à região hilar, mas sem envolver o pulmão inteiro. T2a: tumor maior que 3 e menor/igual a 5 cm T2b: tumor maior que 5 e menor/igual a 7 cm T3 - tumor maior que 7 cm ou com invasão de: pleura parietal, parede torácica, diafragma, nervo frênico, pleura mediastinal, pericárdio parietal; tumor envolvendo o brônquio principal (menos de 2 cm da carina, mas sem envolvê-la); atelectasia ou pneumonia obstrutiva do pulmão inteiro; nódulos no mesmo lobo. T4 - tumor com invasão de mediastino, coração, grandes vasos, traqueia, nervo laríngeo recorrente, esôfago, corpo vertebral, carina, nódulos em lobos diferentes, ipsilaterais. Alguns descritores vão mudando com o passar do tempo, à medida em que vão ocorrendo revisões sobre o estadiamento (processo dinâmico). Mas, geralmente, são mudanças pontuais. → Descritor T1: nódulos pulmonares (lesões até 3 cm), sem comprometimento da pleura visceral, dentro de um dos lobos. → Descritor T2: pode ser uma massa (lesões maiores que 3 cm), ou tumor com invasão da pleura visceral, ou tumor de qualquer tamanho em brônquio lobar. Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Obs. Pleura - invólucro, película interna da cavidade torácica, recebendo o nome de pleura mediastinal (quando recobre o mediastino), pleura parietal (quando recobre a parede torácica) pleura visceral (quando recobre o parênquima pulmonar) e pleura diafragmática (quando recobre o diafragma). Possui aproximadamente 50mL de líquido, com a finalidade de lubrificar e facilitar o deslizamento da superfície pleural visceral com a parede torácica, evitando atritos. → Descritor T3: tumores com invasão da parede torácica, do sulco superior (tumor de Pancoast), lesões do diafragma, do pericárdio, comprometimento da pleura mediastinal ou tumor menor de 2 cm da carina. Pode ser necessária a realização da ressecção e reconstrução da parede torácica para retirada do tumor, podendo levar a um quadro de tórax instável e respiração paradoxal (comum em traumas de tórax). Estruturas neurais envolvidas nas neoplasias São três principais: o nervo vago, bem próximo ao arco aórtico; o nervo frênico, que se insere na porção tendinosa do diafragma; cadeia simpática, atrás da coluna. Quando há comprometimento da região do sulco superior (tumor de Pancoast), pode invadir o gânglio estrelado, que é a fusão de células neurais dos níveis C7 e T1 da coluna. Nesses casos, pode ocorrer desenvolvimento da Síndrome de Horner, composta pela tríade de Horner: ptose, miose e anidrose. (prof disse que esses nomes são importantes pra saber) → Descritor T4: tumores que, eventualmente, invadem o mediastino, o coração, grandes vasos (cava, aorta), traquéia, esôfago, corpos vertebrais, carina; com ocorrência de derrame pleural na cavidade (com citologia oncótica positiva). Todos os tumores T4 são centrais mas que, ao crescerem, podem invadir estruturas nobres adjacentes rapidamente, podendo até serem irressecáveis. Assim, na investigação de outras manifestações clínicas, pode-se descobrir uma neolplasia pulmonar primária, como paraplegia de membros inferiores por comprometimento medular e do corpo vertebral, em decorrência do tumor. Descritor N Variações: Nx - linfonodos regionais que não podem ser acessados. NO - sem metástases linfonodais. N1 - metástases para linfonodos peribrônquicos e/ou hilares ipsilaterais, e linfonodos intrapulmonares por extensão direta (dentro da pleura visceral, do lobo pulmonar). N2 - metástases para linfonodos mediastinais ipsilaterais e/ou subcarinais. N3 - metástases em linfonodos mediastinais, hilares contralaterais, linfonodos escalenos ou supraclaviculares. Assim, por exemplo, uma neoplasia de lobo superior direito pode ser N1 quando tem linfonodos comprometidos dentro do lobo; quando se tem uma lesão com linfonodos hilares ou Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar infracarinais, recebe-se o descritor N2; e se ocorre manifestação linfonodal contralateral, escaleno ou supraclavicular, essa neoplasia do lobo superior direito recebe o descritor N3. No exame de mediastinoscopia, ocorre incisão na região cervical, entrando pela parede anterior da traquéia para colher espécimes dos linfonodos da região, para avaliação do comprometimento de linfonodos metastáticos. Esse exame é importante porque essa avaliação, quando há suspeita na tomografia e pet-tc (tomografia com emissão de pósitrons), busca a certificação da biópsia, da avaliação histológica, dado que o descritor N, isoladamente, é um dos mais importantesdo ponto de vista prognóstico para neoplasias do pulmão. Descritor M Metástase por vias hematogênicas, em que os principais órgãos acometidos são: SNC, ossos, fígado, adrenal, além de outros sítios como pele, tireóide e pâncreas. Variações: M0 - ausência de metástase. M1 - presença de metástase; possui 3 subtipos (M1a, M1b, M1c) com diferentes sítios de metástases (será discutido no sexto ano). Ducto torácico - Quilotórax Muitas vezes esquecido, sendo uma estrutura extremamente importante porque leva todo o conteúdo de gordura, linfócitos (muito rico). Se inicia/se forma na cisterna quilosa ("bolsa" no abdômen por onde fluem a linfa de três vasos linfáticos: tronco intestinal, tronco lombar esquerdo e tronco lombar direito), no andar superior do abdome, passa pelo hiato esofágico, tende ao hemitórax direito até o nível de T5, onde cruza para o hemitórax esquerdo e vai desembocar no ângulo venoso (fusão entre veia subclávia esquerda e a veia jugular esquerda), retornando para a circulação sistêmica. É importante porque qualquer tipo de lesão do ducto torácico pode levar a um derrame pleural quiloso, tanto do lado esquerdo como direito, geralmente ocorrendo após cirurgias esofágicas, traumatismos (FAB, FAF) ou até algum procedimento acidental. É uma estrutura muito fina, e se não for devidamente tensionado no pré-operatório podem ocorrer complicações desagradáveis, em que o tratamento implica reposição nutricional, sonda enteral e até uma nova cirurgia para religar o ducto torácico. Síndrome de cava superior Circunstância encontrada em pacientes com manifestações de circulação colateral superficial (geralmente veia ázigos), normalmente se concentrando acima da região do mamilo, com muito edema, pletora (superabundância de sangue), rubor - características clínicas desta síndrome. É causada, na maioria das vezes, por lesões neoplásicas, sendo o mais comum o Daniella von Zuben - Medicina 56 carcinoma de pequenas células - primário do pulmão - e linfoma. Mas também pode ser provocada por outros fenômenos menos frequentes como cicatrizes por tratamento de tuberculose, histoplasmose, doenças do sistema de caráter infeccioso que comprometam, eventualmente, os linfonodos mediastinais e cujo processo cicatricial de resolução podem causar algum processo obstrutivo nessa região, que apresenta muitos linfonodos. Esses linfonodos podem involuir no processo de tratamento, levando a uma obstrução do tronco braquiocefálico venoso esquerdo e direito, que se juntam formando a VCS. Assim, qualquer processo obstrutivo nessa região, pode caracterizar como uma síndrome de cava superior, dificultando o retorno venoso para o coração (como observado em TC). Os tratamentos para essa síndrome podem ser endovascular, com uma dilatação para desobstruir ou substituição por um implante do tronco. Síndrome do desfiladeiro torácico (áudio da aula não funcionou e prof passou o slide) A síndrome do desfiladeiro torácico afeta o espaço entre a clavícula e a primeira costela (desfiladeiro torácico). As causas comuns incluem traumas, lesões repetitivas, gravidez e defeitos anatômicos, como ter uma costela a mais. Os sintomas incluem dor nos ombros e no pescoço e dormência, fraqueza e frieza nos dedos. O tratamento envolve fisioterapia e alívio da dor. Em casos raros, a cirurgia pode ser necessária para aliviar a compressão. Obs. De forma didática, o mediastino pode ser dividido em região anterior, média e posterior (o áudio também foi cortado e ele só falou isso). → A partir daqui, inclusive, ele ficou exemplificando cirurgias. O que ele explicou está anotado. Vias de abordagem cirúrgica Hoje, 70% das doenças torácicas, não necessariamente cardíacas, são abordadas por videocirurgia. O paciente deve permanecer em decúbito lateral, direito ou esquerdo, a depender do hemitórax que será abordado. Realiza-se então a assepsia e antissepsia; insere-se um tubo seletivo, para manter a ventilação no lado que não será abordado na cirurgia (contralateral). O pulmão do lado da cirurgia é excluído desse processo ventilatório. Utiliza-se o método para cirurgias mediastinais, ou até problemas que acometem diretamente o parênquima pulmonar. A cirurgia aberta também pode ser realizada, como mini toracotomia (incisão de 5 a 10 cm na parede lateral) em que é abordada a pele, o subcutâneo, o arco costal e a cavidade Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar torácica é aberta. Utilizada para procedimentos pequenos como uma biópsia pulmonar, para uma doença intersticial, retirada de um nódulo, etc. A toracotomia postero-lateral ou clássica (pouco utilizada atualmente), em que é feita uma incisão no músculo grande dorsal e no músculo serrátil. Hoje, prefere-se poupar essa musculatura, preferindo-se dissecar para expor a região intercostal, ao invés da secção. A abertura costuma ser feita na altura do quinto espaço intercostal. Outra via de abordagem seria a dupla toracotomia anterior, com secção do osso esternal (incisão de Clamshell), quando vai ser abordado as duas cavidades pleurais simultaneamente, para ressecções maiores ou até transplantes. A esternotomia mediana ou toracotomia mediana longitudinal são para lesões em que é necessário abordar o mediastino anterior ou lesões cardíacas (coração, aorta). Cervico-toracotomia para abordagem de tumores do sulco superior, com uma boa amostragem de dissecção para retirada de tumor de vasos como a subclávia, nervos do plexo braquial, músculo esternocleidomastóideo. Tipos de ressecções pulmonares Pode-se realizar a segmentectomia regrada, respeitando os segmentos anatômicos iniciais, para tratamento de câncer primário de pulmão, câncer metastático; pode-se utilizar a lobectomia - retirada do lobo pulmonar; a bi-lobectomia - só aplicada do lado direito para retirada do lobo médio e superior ou lobo médio e inferior (não se deixa só o médio porque ele é muito pequeno e pode rodar dentro do seu eixo principal); a pneumonectomia - retirada de um pulmão. Nas cirurgias em que as ressecções são feitas por caráter oncológico, também é realizado um esvaziamento linfonodal mediastinal radical para que se tenha uma adequada análise do comprometimento dos linfonodos mediastinais, porque isso irá dar melhor clareza no estadiamento, podendo-se oferecer algum tratamento adjuvante, além da cirurgia, como radio ou quimioterapia. Anatomia relacionada ao trauma torácico (Aula 4) As estruturas presentes no tórax, de maneira resumida, são: o arcabouço esquelético, composto por esterno, manúbrio, clavículas, costelas, escápulas e coluna vertebral; vasos sanguíneos arteriais e venosos; medula espinal e raízes nervosas; coração, pulmões, pleuras parietal e visceral, estruturas da região cérvico-torácica; aorta, traquéia, brônquios-fontes, esôfago; camada muscular superficial e profunda. Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Mecanismos de trauma Contuso: representado por eventos de trânsito, quedas e agressões físicas; Penetrante: representado por ferimentos por arma branca (FAB) ou ferimentos por projétil de arma de fogo; Misto: representado por explosões e queimaduras; há lesões de níveis primário(decorre pelo deslocamento da energia da explosão, que quando atinge a vítima causa um barotrauma - variações de pressão no interior do corpo -, podendo ocasionar ruptura de tímpano, pneumotórax, ruptura de órgãos ocos, como o intestino), secundário (ocasionadas por estilhaços lançados pela explosão, caracterizando uma lesão penetrante), terciário (decorre da queda ou da projeção da vítima contra um anteparo fixo, caracterizando um mecanismo contuso) e quaternário (lesão térmica pelo calor, queimaduras). Nem sempre os quatro níveis de lesão estão presentes. Situações decorrentes de lesões no tórax 1) Fraturas de costela: Dentre as lesões mais comuns no trauma de tórax, temos as fraturas de costela. Causa dor durante os movimentos respiratórios, podendo levar a graus de desconforto e até à dispnéia, acarretando em taquipnéia compensatória. Essas fraturas podem vir acompanhadas de outras lesões, como lesões de vasos intercostais, das pleuras (parietal e visceral), além de estruturas intratorácicas como pulmão, coração, vasos e musculatura. 2) Pneumotórax: Outra situação comum é o pneumotórax - presença de ar no espaço pleural. O espaço pleural é um espaço virtual, e o ar pode vir de uma lesão das pleuras. Um trauma penetrante pode acarretar em lesão de uma das pleuras, ou das duas pleuras; um trauma contuso geralmente acomete a pleura visceral. A cada movimento respiratório, um pouco do ar de dentro dos pulmões ou do meio externo entra na cavidade torácica, aumentando a quantidade de ar no espaço pleural. É importante, durante o atendimento de um trauma, diferenciar um pneumotórax simples de um pneumotórax hipertensivo. A diferença está na quantidade de ar presente no espaço pleural, sendo a quantidade menor no caso do pneumotórax simples. Nesses casos, é possível observar uma diminuição pulmonar, cada vez que o ar ocupa o espaço pleural, o pulmão apresenta maior dificuldade de expansão; o aumento da pressão concomitante leva ao desvio do mediastino de forma contralateral. No pneumotórax hipertensivo, o diagnóstico é clínico, devido ao tamanho do pneumotórax; o paciente vai, então, desenvolver um quadro de insuficiência respiratória progressivamente, não restando tempo hábil para exames complementares. Para realizar o diagnóstico, deve-se realizar a ausculta torácica e a percussão do tórax. Como não ocorre Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar expansão pulmonar, o MV estará abolido (ausculta) e hipertimpânico (percussão) pela grande quantidade de ar no tórax acometido. Além desses achados, o paciente apresentará turgência jugular (dificuldade do retorno venoso), hipotensão arterial (afeta o DC) e desvio de traquéia (devido ao desvio do mediastino, perceptível no exame físico do pescoço). A situação do pneumotórax hipertensivo é emergencial, sendo necessária uma conduta imediata - toracocentese de alívio, isto é, uma punção do tórax utilizando um abocath (jelco) de grosso calibre (número 14 ou 16), podendo-se utilizar uma seringa para ajudar a introduzir, deixando apenas o abocath para a saída espontânea do ar. É introduzido no quinto espaço intercostal, entre as linhas axilar anterior e axilar média, sendo o mesmo local em que, posteriormente, será realizada a drenagem do tórax (localização segundo a 10ª edição do ATLS). O objetivo desse procedimento é transformar o pneumotórax hipertensivo em pneumotórax simples, para que haja tempo de preparar o material para a drenagem do tórax do paciente. 3) Hemotórax: Pode-se observar também outra situação torácica: o hemotórax. Deve ser diferenciado em hemotórax maciço (grande volume - presença de mais de 1500 mL de sangue no momento da drenagem de tórax) ou de menor volume. O diagnóstico do hemotórax maciço é clínico (o erro de um raio-x de hemotórax maciço é a existência dele), feito pela ausculta torácica e a percussão. Como apresenta um grande volume de líquido (sangue) no tórax, o pulmão tem dificuldade de expansão e, assim, a ausculta estará com MV abolido; no entanto, diferente da lesão anterior, a grande quantidade de líquido presente irá acarretar em macicez à percussão. Além desses dois achados, o paciente terá hipotensão arterial (perda grande de sangue no tórax, hipovolemia) e veias jugulares colabadas (também devido a hipovolemia). Para auxiliar no diagnóstico de hemotórax de pequeno volume ou de pneumotórax simples na sala de emergência, pode-se utilizar o ultrassom direcionado ao trauma - FAST: ele irá avaliar a presença de líquido no espaço hepatorrenal, esplenorrenal, saco pericárdico e fundo de saco (pelve). Já no e-FAST (forma estendida), avalia-se também o tórax, para verificar a presença de hemotórax pequeno ou de pneumotórax simples. → A conduta para casos de hemotórax, pneumotórax traumático, derrames pleurais (com presença de empiema - pus) é a drenagem torácica. Ela deve ser realizada no quinto espaço intercostal, entre as linhas axilar anterior e axilar média; o dreno deve ser introduzido em um sentido posterior e cefálico, sendo que o último “furo” do tubo deve estar dentro da cavidade pleural do paciente, para que o ar externo não passe por ali e vá para a cavidade torácica ou para o subcutâneo; o dreno deve ser conectado a um sistema na qual o suspiro que vem do paciente fique submerso no selo d'água (o dreno deve ser inserido aproximadamente 2 cm abaixo do nível da água) no frasco, para que a cada movimento respiratório o sangue/ar residual tenha facilidade em sair, borbulhando o selo d´água. Essa coluna de água não pode ser muita alta, pois irá dificultar essa saída; por isso, é importante trocar o frasco quando este estiver preenchido quase que totalmente por sangue (no caso do hemotórax), colocando um novo selo d´água com o nível correto. Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Branda Destacar 4) Pneumotórax aberto: O pneumotórax aberto consiste em mais uma possível situação por lesão torácica. É definido como em decorrência de uma lesão maior que ⅔ da traquéia, pois o ar possui maior facilidade de entrar por essa lesão do que pela traquéia. A lesão pode ser circular, retangular, quadrada ou até linear, em que a área de abertura seja maior que ⅔ do diâmetro da traquéia. Como o paciente não consegue respirar adequadamente, é necessário, de forma imediata, realizar o curativo de três pontas - coloca-se um material estéril sobre o ferimento, vedando três partes do curativo, com o intuito do ar sair pela aba não vedada durante a expansão pulmonar e, no movimento contrário, o material irá vedar o ferimento, não permitindo a entrada de ar pelo local (válvula unidirecional), estabilizando o paciente e não permitindo a piora do pneumotórax. Em seguida, deve ocorrer a conduta definitiva, com a drenagem torácica para retirada do ar residual, seguida de um curativo oclusivo ou tratamento definitivo da lesão. 5) Trauma de aorta, traqueobrônquica e de esôfago: Trauma de aorta, traqueobrônquica e de esôfago: são lesões mais raras, porém importantes, devendo-se suspeitarde sua presença a partir de três pilares: - Mecanismo do trauma (como foi o trauma); Daniella von Zuben - Medicina 56 - Quadro clínico (exuberante ou assintomático); - Anatomia (o que foi acometido na hipótese). Por exemplo, na lesão de aorta: a aorta possui um segmento fixo feito pelo ligamento arterioso (Botallo) - seta amarela; até esse ponto, o arco aórtico é móvel e se um paciente estiver em alta velocidade e, de repente, sofrer um processo de desaceleração brusca, o coração continua o movimento; essa parte fixa não acompanha o coração e acaba seccionando a aorta nesse segmento. Se a ruptura for total, o paciente entra em óbito no local por perda de sangue; porém, há uma porcentagem de pacientes que chegam vivos na UER, na qual o hematoma local ou adventício da aorta mostram a não ruptura. Assim, quando o paciente apresenta história de desaceleração brusca ou uma queda acima de 4 metros, mesmo com um raio x de mediastino normal, deve-se suspeitar de lesão de aorta. Quando se tem um raio x com alargamento de mediastino, associado a biomecânica do trauma que justifica a suspeita, realiza-se uma angiotomografia para confirmar a presença da lesão de aorta; uma TC pode apenas evidenciar a presença de um hematoma no mediastino, não indicando o local do sangramento, ao contrário da angiotomografia de tórax, em que é possível observar de modo adequado a aorta. Portanto, as recomendações de diagnóstico e conduta para situações que ocorrem em decorrência de lesões traumáticas no tórax devem levar em consideração (valem para os outros segmentos corpóreos também): - Mecanismo do trauma; - Estabilidade hemodinâmica (mediando a agressividade e velocidade da conduta, como solicitar exames complementares); - Nível de consciência (se o paciente estiver inconsciente, fica difícil saber os sintomas e a história do mecanismo de trauma; uma boa história facilita condutas adicionais); - Anatomia (hipóteses diagnósticas de lesões, para definir os melhores exames, sua interpretação e a melhor conduta). Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Branda Destacar Anatomia aplicada aos vasos arteriais e venosos (Aula 5.1) Conhecer essa anatomia é importante porque as doenças cardiovasculares estão entre as maiores causas de morte no mundo. Cabe ao médico buscar o diagnóstico de diversas dessas doenças, a partir dos sintomas apresentados, sendo a anatomia essencial nesse processo. Além disso, esse conhecimento é essencial para a execução de procedimentos rotineiros na prática médica, como um acesso venoso central. Assim, é importante que, topograficamente, o médico conheça as áreas da anatomia vascular: na parte arterial, temos o arco aórtico (variações anatômicas, relação com o esterno); bifurcação carotídea (localização); artéria braquial, radial e ulnar; aorta abdominal; artéria femoral, poplítea, pediosa e tibial posterior (relação topográfica no triângulo femoral - por onde passa a artéria femoral, canal adutores - onde a artéria femoral dará origem à artéria poplítea e compartimentos da perna). Já se pensarmos na parte venosa, temos a veia jugular interna e externa; veia subclávia; VCS (essas três são importantes para realização de acessos centrais); veia femoral e poplítea (localização mais comum das tromboses venosas); veia porta/supra hepáticas; VCI (essas duas costumam estar acometidas em doenças gastroenterológicas); veias gonadais (importante o reconhecimento para análises patológicas ginecológicas e urológicas); síndromes do Cockett/May-Thurner e do quebra nozes. Revisão arterial A doença cardiovascular mais prevalente no mundo é o IAM, onde ocorre obstrução de artéria coronária, levando a formação de uma região de infarto no coração. O arco aórtico é formado por: tronco braquiocefálico à direita, bifurcando em artéria subclávia direita (que bifurca em artéria mamária direita e artéria vertebral direita) e artéria carótida direita; no topo, sai a artéria carótida esquerda; na porção descendente do arco, sai a artéria subclávia esquerda, que bifurca em artéria mamária esquerda e artéria vertebral esquerda. As artérias coronárias saem no início da aorta ascendente. Uma variação anatômica comum ocorre quando a artéria carótida esquerda sai do tronco braquiocefálico. O sistema arterial é complexo e as artérias estão altamente relacionadas, de tal forma que se ocorre obstrução de um ponto de uma artéria, a extensa rede de comunicação entre os ramos das artérias mantém a circulação distal do, apesar da obstrução proximal. É por isso que o organismo consegue lidar com as obstruções arteriais. Síndrome do desfiladeiro torácico: doença do sistema arterial, com compressão nervosa, podendo ser causada por traumas na região, variações anatômicas, lesões repetitivas; causa dor, fraqueza/dormência do membro e frieza nos dedos. Nessa região, a artéria faz um caminho para sair do tórax (pelo arco da primeira costela) e entrar no membro superior, até a região lateral do músculo peitoral menor. A artéria e os cabos do plexo braquial percorrem por entre as duas cabeças dos escalenos (anterior e médio), e a veia subclávia passa na frente do escaleno anterior, por baixo da clavícula e por cima da primeira costela. Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar Uma doença muito comum é o acidente vascular cerebral (AVC): uma das causas é acúmulo de gordura na bifurcação carotídea, especialmente na região alargada - o bulbo carotídeo. Assim, é importante saber a localização do bulbo, para auscultar sopros que sugerem estenoses das carótidas e o local onde é realizado o tratamento (angioplastia ou cirurgia de carótida). A circulação colateral do cérebro é baseada no polígono de Willis (interligação entre a artéria basilar + artérias carótidas (2), através das comunicantes posterior e anterior). Daniella von Zuben - Medicina 56 Nos membros inferiores, são comuns doenças arteriais periféricas. São várias as áreas de obstrução arterial preferenciais: obstrução aorto-ilíaca (aorta abdominal) - síndrome de Leriche; obstrução fêmoro-poplítea - artéria femoral superficial e poplítea, sendo a mais comum; obstrução poplíteo-distal - obstrução de pernas; obstrução ilíaco-femoral. Esses tipos de obstrução arterial possuem um padrão bem característico, sendo importante examinar a aorta abdominal, artérias femorais, artérias poplíteas e pulsos pediosos para que essa pulsação indique o território de obstrução e as implicações. Canal dos adutores: músculo sartório (da espinha ilíaca ântero superior até a face medial da tíbia), caminha por cima da artéria femoral. Essa artéria percorre anteriormente a coxa, e forma a artéria poplítea, posteriormente no joelho. Para isso, precisa atravessar a musculatura adutora da coxa, sendo esse local o canal dos adutores, sendo um canal comum de obstrução arterial nos membros inferiores. Aneurismas de aorta abdominal: a aorta abdominal está compreendida abaixo das artérias renais, até a bifurcação, onde começam as artérias ilíacas comuns. Possui como ramos a artéria mesentérica inferior, e os 3 pares
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