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1 2 3 Lírios de Esperança Wanderley Soares de Oliveira pelo espírito Ermance Dufaux Série Atitudes de Amor Romance . Sociedade Espírita Ermance Dufaux - SED Editora Dufaux OUTUBRO-2005 4 ATENÇÃO: Este livro foi digitalizado por estar ESGOTADO na editora, e como é de fundamental valor para a educação espiritual e moral de todos nós, tomei essa liberdade. As pessoas de bom coração deveriam portanto encaminhar uma doação às obras assistenciais da Sociedade Espírita Ermance Du- faux." Contatos em: http://www.ermance.com.br/ 5 5.000 exemplares outubro/2005 Copyright © 2005 by Wanderley Soares de Oliveira Retrato de Ermance Dufaux José Reis Capa Paulo Mouran Revisão: Ana Maria de Souza Projeto Editorial e Gráfico Departamento Editorial Sociedade Espírita Ermance D ufaux Impresso no Brasil PEDIDOS: Rua Professor Baroni, 200/501 - Bairro Gutierrez Belo Horizonte - MG - Brasil CEP-30.440-140 (31) 3275-3953 ou editora@ermance.com.br internet: www.ermance.com.br D91I Dufaux, Ermance O45I Lírios de esperança / Ermance Dufaux (Espírito); psicografado por Wan- derley Soares de Oliveira. — Belo Horizonte : Dufaux, 2005. 304 p. (Série Atitudes de amor) 1. Espiritismo. 2. Psicografia. 3. Romance espírita, l. Oliveira, Wanderley Soares de. II. Título. CDD130 ISBN: 85-98080-35-7 "O produto desta edição é destinado à manuten- ção das atividades da Sociedade Espírita Ermance Dufaux." 6 "A Cidade de Corinto começou, então, a produzir os frutos mais ricos de espiritualidade. A cidade era famosa por sua devassidão, mas o Apóstolo costumava dizer que dos pântanos nasciam, muitas vezes, os lírios mais belos; e como onde há muito pecado há muito remorso e sofrimento, em identidade de circunstâncias, a comuni- dade cresceu, dia a dia, reunindo os crentes mais diversos, que che- gavam ansiosos por abandonar aquela Babilônia incendiada pelos vícios." Emmanuel. As Epístolas. Paulo e Estevão. "Todo o tesouro da literatura mediúnica produzida até hoje, apesar de sua excelsitude e valor, nada mais é que um mísero grão de areia na praia universal da imortalidade." Dufaux, Ermance. Lírios de Esperança. "A questão mais aflitiva para o espírito no além é a consciência do tempo perdido..." Baccelli; Carlos. O Evangelho de Chico Xavier. Item 11. 7 Sumário Lírios de Esperança........................................................ Prefácio............................................................................ Introdução...................................................................... 01. Olhai os Lírios........................................................... 02. Convocação de Eurípedes.......................................... 03. Medidas Impostergáveis............................................ 04. Novos Colaboradores.................................................. 05. Primeiras Entrevistas.................................................. 06. Encontro com Inácio Ferreira..................................... 07. Delicada Cirurgia........................................................ 08. Novas Motivações....................................................... 09. Ao Encontro de si Mesmo.......................................... 10. Os Ovóides................................................................. 11. Visão Ampliada.......................................................... 12. Nossas Obras............................................................. 13. Técnica Anímica........................................................ 14. Cargos e Responsabilidades..................................... 15. Projeto Essencial....................................................... 16. O Servo de Todos..................................................... 17. Horizontes Mentais.................................................. 18. Obra de Amor............................................................ 19. Ala restrita................................................................. 20. Segundo Andar......................................................... 21. Lição Áurea............................................................... 22. Subsolo 02................................................................. 23. Tribuna da humildade............................................... 24. Geração Solidária...................................................... 25. Planos para o Futuro................................................. Anexo I - A Proposta das Atitudes de Amor de Bezerra de Menezes As páginas aqui numeradas não correspondem a numeração da edição original. 8 Lírios de Esperança Os apontamentos desta obra são inspirados em fatos reais e re- fletem um trabalho de equipe. Coube-nos a tarefa de organizá-los e enviar à Terra sob chancela de Eurípedes Barsanulfo. Enveredamos pela trama somente até o ponto de tornar com- preensível a história, pois nosso objetivo é destacar as preciosas lições morais contidas nas experiências de vários corações. Para isso, dispomos da didática dos diálogos interativos, abdicando do enredo romanceado que poderia desviar-nos a atenção para o exte- rior, em detrimento das vivências interiores. Esforçamo-nos tanto quanto nos permitiram as condições, pa- ra retratar as peculiaridades de cada personagem, no intuito de re- construir os fatos com realismo. Em nome de nossa amizade, que a cada dia se consagra, e mantendo-me esperançosa em dias melhores para nossa humanida- de, recebam a bênção fraternal em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, endereçada aos leitores e amigos. Ermance Dufaux - 1° de maio de 2005. 9 Prefácio Nos Tempos de Transição "Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada” Jesus, Mateus, 24:2 Nos bastidores dos dramas sociais visíveis aos olhares huma- nos, trava-se uma batalha decisiva do bem contra o mal. Tirania e indiferença tomam conotações incomparáveis, estabelecendo uma hecatombe moral sem precedentes. Em meio dessa faina desairosa, os verdadeiros discípulos de Jesus são convocados à formação de trincheiras resistentes, de amor incondicional, em favor da paz e do bem. Não teremos regeneração sem retaguarda e defesa. Se existem os missionários do progresso cuja função é criar o bem de todos, é mister entender que, mesmo eles, somente terão êxito sob regime de amparo e motivação. Enorme contingente de criaturas com tare- fas definidas para o avanço social, em todos os campos das ativida- des humanas, tomba em armadilhas de perdição quando fustigadas pelos verdugos do mal que buscam, de todas as formas, reter o crescimento do planeta. Muita ingenuidade acreditar que os inesquecíveis baluartes da ciência e da cultura, da política e da religião, agiram à mercê de cuidados espirituais especiais em suas missões. Quanta ordem e disciplina preenchem os caminhos das almas que mourejam de mente afinada ao progresso coletivo! Quanta atenção e interesse fraterno despertam os que abrem seus corações ao amor sem fron- teiras! Como imaginar que Albert Schweitzer e Gandhi realizaram a messe de bênçãos sem enormes medidas de segurança do Mais Alto?! Einstein e Freud foram assessorados ininterruptamente. Kardec recebeu de Jesus a autorização para medidas de proteção jamais utilizadas a nenhum missionário na face da Terra. O bem, para ser espalhado, não prescinde de fileiras de defesa eficientes. Vivemos e respiramos sob os auspícios de uma rede de reflexos. 10 Quaisquer desordens, assim como uma oração, são capazes de alte- rar nosso psiquismo. Luzes que se acendem fortalecem toda a rede. Quaisquerlampejos de paz atraem esfomeada multidão de al- mas atormentadas, sob o jugo de tiranos dotados de uma longa tra- jetória de inteligência e perspicácia na perversidade. Essas almas escravizadas pela maldade procuram agir como astutos vigilantes para arruinar todos os focos de luz sobre a Terra. Essa a razão dos golpes sucessivos nas "atividades-amor" do Espiritismo cristão. Apesar da luz dos conhecimentos espíritas, o tesouro espiritu- al das informações não tem sido suficiente para despertar muitos adeptos a uma nova ordem de atitudes e idéias face aos desafios da hora presente... O intercâmbio interdimensional nesse contexto, que poderia servir de fortaleza aos mais auspiciosos projetos de liberdade e as- censão, em inumeráveis casos, não passa de enxada afiada em plena semeadura à espera do lavrador que a deseje manejar a contento. A história é a mãe da cultura, e a cultura é o conjunto das no- ções que os homens aceitam como referências para se conduzirem em seus grupos. A cultura espírita, em torno das questões mediúni- cas, responde por uma mentalidade que inspira práticas e posturas nem sempre ajustadas aos reclames do tempo espiritual da transi- ção. Transição é o tempo mental da renovação, a hora do recomeço e da reavaliação. Nesse cenário, os aprendizes da mediunidade se- rão aferidos com rigor. Muita coragem e sacrifício serão exigidos de quem realmente anseia servir sob novos e mais apropriados re- gimes, nesse tempo de contínuas mudanças. Indispensável romper conceitos, vencer barreiras intelectuais e ter a ousadia para esculpir os novos modelos de relação inter- mundos, retirando a mediunidade do dogmatismo que aprisiona o raciocínio humano, e da tristeza que estorcega o coração como se os médiuns cumprissem severa sanção. Sem exageros, vivemos um tempo em que as comportas me- diúnicas, a despeito de estarem em plena movimentação, não per- mitem que a linfa cristalina da imortalidade goteje com a necessária abundância por suas frestas, para dessedentar o homem aprisionado ao deserto das paixões materiais... 11 Vivemos uma nova proibição mosaica como a do Velho Tes- tamento!1 Proibição essa mais nociva que a dos velhos textos he- breus, porque não se faz por decretos formais, passíveis de serem revogados, mas sob a coação impiedosa do preconceito sutil, das convenções estéreis e de sofismas aprisionantes - hábitos de difícil extirpação da mente humana. Indispensável que haja um "Novo Tabor" em que Jesus, ao la- do de Moisés e Elias, revogue a proibição da comunicabilidade dos espíritos com os homens.2 O espírito Charles Rosma e as irmãs Fox protagonizaram o "Tabor da Era do Espírito". O drama de Rosma, assassinado há dé- cadas na residência dos Fox3, é o de bilhões de almas na humanida- de à espera de quem lhe possa estudar a dor e amparar os caminhos, presos a grilhões de maldade e infortúnio, ou em porões fétidos de amargura e dor. Só haverá renovação social, quando houver limpe- za psicosférica. É hora de abertura, desenvolvimento de parâmetros experi- mentais sem perder o caráter moral e educativo, para o qual as atu- ais práticas de intercâmbio se destinam. Nesse objetivo se firma a autora espiritual Ermance Dufaux em continuidade à série Atitudes de Amor4, sob os auspícios do venerável baluarte do amor fraternal, Adolpho Bezerra de Menezes. Um clamor ao serviço abnegado e consciente na regeneração da humanidade em ambas as esferas de vida, formação de frentes corajosas de amor, tarefas maiores de libertação e asseio psíquico da Terra. Eis os desafios delegados pelo Cristo a todos que O a- mam. Desafios que, em muitas oportunidades, são substituídos pela atitude impensada da acomodação... Enquanto inúmeros aprendizes da mediunidade optam pelo fascínio da mordomia para servirem, preferindo o exercício mediú- nico distante do sacrifício e nos braços do convencionalismo, Jesus 1 Kardec, Allan. Da proibição de evocar os mortos. O Céu e o Inferno. Cap.XI 2 Kardec, Allan. Da proibição de evocar os mortos. O Céu e o Inferno. Cap. XI 3 Doyle, Arthur Conan. O Episódio de Hydesville. A Historiado Espiritismo.Cap. IV 4 O primeiro livro da Série Atitude de Amor é Unidos pelo Amor. Editora Dufaux. 12 conta com os destemidos, dispostos à segunda milha das ações que ultrapassam o comodismo inspirado na rigidez da pureza filosófica. A atitude de amor sem lindes de Eurípedes Barsanulfo deve ser exemplo inspirador para nossas ações no legítimo bem. Somen- te nesse clima de testemunho sacrificial, encontraremos condições de plantio das sementes do mundo novo que sonhamos para o futu- ro da humanidade. Ao enfocar a história de líderes cristãos tombados no remorso sob o açoite da negligência com a qual se conduziram durante a vida física, Ermance Dufaux abdica da visão derrotista de falência e queda irremediável, para alertar ao homem terreno sobre quanto lhe compete realizar no clima do sacrifício e da renúncia em favor de si mesmo, quando bafejado pelas benesses da Doutrina Espírita. Seu enfoque é compassivo e pródigo de esperança ao destacar a exten- são da tolerância ativa das almas superiores para com nossas neces- sidades de aperfeiçoamento. Ao mesmo tempo, a autora convoca- nos aos mais árduos imperativos peculiares ao tempo da transição. Digno de nota, igualmente, é o seu esforço sacrificial em manter fidelidade ao pensamento e as características de seus personagens. Tarefa essa cumprida a contento segundo avaliação de nossa equipe espiritual. O sentimento da imortalidade precisa ser construído na inti- midade do homem reencarnado. É instrução a serviço da espiritua- lização. Essa instrução, no entanto, carece de aplicação prática que retrate quanto possível a realidade imortal. Daí o imperativo de vivências mediúnicas incomuns, para além dos rígidos padrões de segurança e utilidade consagrados pela comunidade doutrinária. Um desafio de investigação e fé espera os servidores da medi- unidade em tempos de transição. Nesses textos encontraremos uma preciosa reflexão a esse mister. Investigação para dentro e para fora de si mesmo. Conscientes de que evolução é processo íntimo e gradativo, não temos dúvida que certos ensinos nem sempre acompanham o tempo psicológico e espiritual de alguns aprendizes. Estou convic- ta, porém, de que, nessas linhas despretensiosas, existem motivos de sobra para endossá-los como convite inadiável ao tempo de maioridade das idéias espíritas, independente de aceitação e aco- 13 lhimento por parte de quantos se consideram os intelectuais do Es- piritismo. Perante a iniciativa dos discípulos sinceros ao mostrarem a es- trutura do templo para Jesus, Ele declarou: "Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.”5 O templo material simbolizava a concepção encharcada de materia- lismo por parte dos que ansiavam seguir o Cristo. Não deserdam dessa assertiva! Os conceitos e as práticas se renovam celeremente. Descerra-se um horizonte novo e belo, edu- cativo e libertador ante os olhos de quantos tenham olhos de ver e ouvidos de ouvir... Da amante do bem e servidora do Cristo, Maria Modesto Cravo* - 1° de janeiro de 2005. * Maria Modesto Cravo Nasceu em Uberaba, a 16 de abril de 1899 e desencarnou em Belo Hori- zonte, a 08 de agosto de 1964. Uma das pioneiras do Espiritismo em Uberaba, atuou com devotamento junto ao "Centro Espírita Uberabense" e ao "Lar Espíri- ta". Médium de excelentes qualidades, trabalhadora incansável do amor ao pró- ximo e mulher de muitas virtudes, dona Modesta, como era conhecida, foi a fundadora do "Sanatório Espírita de Uberaba", voltado para tratamento dos transtornos mentais, inaugurado em 31/12/ 1933, e em plena atividade até hoje. Foi nessa casa de amor que se tornou conhecido o valoroso companheiro Dr. Inácio Ferreira, médico psiquiatra e um baluarte do bem.5 Mateus, 24:2 14 Introdução A Quem Vamos Seguir? "E Pedro o seguiu de longe até o pátio do sumo sacerdote e, entrando, assentou-se entre os criados, para ver o fim” Mateus, 26:58 Em todos os tempos da humanidade, os cooperadores do bem e os missionários da vanguarda sempre contaram com retaguardas espirituais seguras para as tarefas que desempenharam, mesmo des- conhecendo, muitas vezes, o amparo do qual eram alvos. Toda luz que se acende requer cuidados especiais na continuidade de sua expansão. Uma escola e um hospital, assim como quaisquer instituições sociais do progresso, jamais se verão livres das lufadas cruéis do mal e da treva que tentam apagar-lhes o brilho da bondade e do amor. É da Lei: os que avançam atraem para si quantos tentam en- travar a ascensão. O objetivo é a multiplicação do bem através da cooperação sacrificial na renovação de almas. Uma educadora alinhada ou um aluno promissor podem tra- zer, no âmago, o peso cruel da "lama psíquica" em que se encontra- vam antes do renascimento, ligando-se aos expoentes do desequilí- brio. Assim sendo, a escola educativa passa a funcionar como posto de orientação de almas em crescimento, atraindo o séquito indisci- plinado de desencarnados para dentro de suas portas. Um médico carinhoso ou um paciente em convalescença po- dem carregar, na mente, os "monstros da insensatez e da loucura" em sintonia com os asseclas da impiedade e do ódio. Dessa forma, o lugar abençoado de recuperação torna-se também um celeiro de amparo a corações desorientados, abrindo campo para a ação dos oponentes da Verdade que enxameiam nos seus corredores e de- pendências. Em quaisquer rincões da Terra, nos dias da transição, existe sede e fome, tormenta e dor, esmolando mãos amigas e ins- 15 trução correta em favor da libertação. Um encarnado representa as enfermidades ou as necessidades de uma multidão. Nos bastidores imortais das tragédias e dramas da sociedade carnal, encontramos fatores causais ou influentes na ação organiza- da da maldade. As raízes do mal se alongam do visível para o invi- sível e vice-versa. O avanço tecnológico, a explosão da cultura e a busca de Deus no século XX provocaram um desconforto nos abismos em forma de comoções ostensivas. Como se fosse um vulcão, a pressão exercida nas sombras expeliu para a superfície do orbe as larvas do desespero e da angústia, da maldade e da desobediência. A Ordem Divina é limpeza, regeneração, liberdade e paz. Hoje, mais que nunca, o bem exige alicerces seguros e trin- cheiras eficazes. Essa a razão da oposição sistemática em relação aos esforços espíritas. Quaisquer projetos de elevação e consolo são alvos de atenções aguerridas dos adversários da luz. É nesse con- texto que podemos entender o valor inestimável das trincheiras de amor, construídas no desinteresse e na forja da coragem. Entre os homens, equipes que se amam e respeitam. E, além da matéria, grupos socorristas que operem quais pólos produtivos de lídimo serviço cristão em favor da libertação de consciências. Inúmeras atividades e metas espíritas têm sido boicotadas ou mantidas em retardo por faltarem esses círculos vibratórios de pro- teção. Sem retaguarda espiritual, até para manter um estudo do Evangelho no lar, será exigido da família a movimentação de forças incontáveis... Os grupos mediúnicos funcionam, nessa hora grave de asseio da psicosfera, como salutares ungüentos cicatrizantes ou medidas preventivas em favor da evolução e da ordem. A superação de parâmetros na aquisição de conhecimentos novos pode ser amealhada através da instauração de iniciativas ex- perimentais. Os contributos morais da compaixão, do desejo de auxiliar e de aprender são as únicas linhas morais a serem conser- vadas nessa modalidade de aprendizado. Quanto ao mais, bom sen- so, ousadia, rompimento com padrões e muito diálogo, serão os fios condutores de novos modelos de parceria entre mundos físico e espiritual. 16 Os grupos conscientes do momento pelo qual atravessamos, não se norteiem pelas convenções aceitáveis na coletividade doutri- nária que, quase sempre, mostra-se indisposta a andar a segunda milha...6 Trilhar vivências novas... O preconceito e a descrença alheia costumam arruinar muitos planos do bem! Jesus estabeleceu:"não vim ab-rogar a Lei, porém, cumpri-la.7 A maioria das práticas de intercâmbio se orienta pelos textos, poucos ousam a investigação, a observação, a experimentação fra- terna. O apego à letra é um rigoroso processo de engessamento re- lativamente a questões essencialmente subjetivas, portanto sem critérios definitivos de segurança. O estudo e a disciplina, conquan- to imprescindíveis, não deveriam se converter em cadeados para a espontaneidade... Sem produção de conhecimento novo sobre imortalidade, as práticas mediúnicas atolam em lamentável processo de estagnação, isto é, uma rotina de ação que estanca a mais preciosa qualidade dos médiuns e dos grupamentos: a criatividade - única habilidade capaz de ampliar os horizontes de análise sobre a profundidade das questões invisíveis que cercam a matéria palpável. Esse conheci- mento novo, entretanto, depende da aquisição de vivências novas, sem as amarras do convencionalismo. Uma questão credora de minuciosas reflexões aos companhei- ros de lide na vida física: que motivos estariam impedindo a forma- ção de trincheiras corajosas nos serviços de intercâmbio para além dos padrões? Conquanto essa seja uma valorosa questão de debates de vós outros, na carne, deixaremos nossa colaboração, incondicio- nalmente aberta a críticas, embora nutrida de clareza. Além da dogmatização, tal ordem de fatos na seara desembo- ca na formação moral do próprio grupo. Exigir-se-á uma convivên- cia muito cristalina e rica de confiança, para que se ergam pólos valorosos e destemidos de serviço com o Cristo nessa hora de tran- sição. 6 Mateus, 5:41 7 Mateus, 5:17 17 Por sua vez, o paciente labor de tecer essas relações duradou- ras e autênticas na convivência pedirá algumas condições, costu- meiramente desprezadas por variadas razões. Que conjunto doutri- nário esculpirá um clima familiar de confiança e honestidade sem ombrear desafios em comum, além da própria tarefa mediúnica? Que comunidade conseguirá vencer os ardis da vida emocional sem aprenderem a dialogar em grupo sobre seus sentimentos, com isen- ção de melindres? Quais grupamentos conseguirão diluir seus pa- péis na equipe para agirem como parceiros de uma jornada, sem desapegarem de suas expressões de personalismo no dia-a-dia do centro espírita? Quantos companheiros terão suficiente dignidade para colocarem suas dúvidas íntimas ou desconfiança em relação aos outros, sem recorrerem a terceiros, completamente fora do am- biente experimental em teste no seu grupo? Quantas iniciativas se- rão formuladas no clima da pureza de corações nas quais médiuns ou dirigentes, por mais experiência amealhada, disponham-se a "rasgarem" suas folhas de serviço e recriarem sempre o que apren- deram? Imprescindível superar conceitos e barreiras culturais erguidas no valioso laboratório do intercâmbio intermundos. Todo saber acumulado deverá conduzir às novas sondagens com propósitos educativos. Assim como Allan Kardec lançou-se na pesquisa ho- nesta dos fenômenos, contrariando todas as opiniões a respeito de sua atitude, hoje, os aprendizes da mediunidade que almejam servir à causa do Cristo são convocados a imprescindíveis discussões. Até onde a "cultura das convenções" que avassalou o psi- quismo de inúmeros cooperadores na seara terá penetrado, igual- mente, nesse campo sagrado da relação interdimensional? Os pa- râmetros estabelecidos como roteiros de segurança mediúnica não estarão, em verdade, constituindo fortes amarras ao progresso das práticas de intercâmbio? Que caminhos tomar para situar a tarefa mediúnica como laboratório educativo de almas, distante do dog- matismo?Como edificar grupos de servidores mais adequados aos imperativos da hora de transição? Como resgatar e como utilizar a espontaneidade? Que noções cristãs exarar sobre educação mediú- nica? Quais seriam os critérios na seleção dos componentes de uma frente de serviços mediúnicos em tempos de transição? 18 Sem as trincheiras espirituais do amor, o mundo padecerá ain- da mais as dores da transição. O Hospital Esperança, essa obra de amor erguida pelo Apóstolo da Benevolência, Eurípedes Barsanul- fo, constitui um dos mais avançados núcleos de defesa, orientação e abrigo para a comunidade espírita mundial. O Espírito Verdade, prudente em Sua tarefa de amor, projetou medidas preventivas para os desafios no transporte da árvore do Evangelho para o Brasil. A "Obra de Eurípedes" é um exemplo vivo da Bondade Celeste em suas expressões de compaixão sem lindes, uma "trincheira" do amor em favor da paz mundial. Importa-nos indagar: "a quem seguiremos?" Ao Cristo e a Sua proposta ou ao estreito pátio das formalidades que tanto atraem as almas tíbias e preguiçosas, interesseiras e vaidosas? Pedro, no instante crucial de sua decisão, preferiu camuflar-se entre os criados, amargando terrível culpa pelo resto da existência. Seguir Jesus de longe é fruir o clima das facilidades, submisso à aprovação da coletividade. É gozar das concessões concedidas pelo Senhor, recebendo um talento sem a aplicação desejável. Um "novo Tabor" apresenta-se aos lidadores da mediunidade. Nele transfiguram-se, além de infindáveis baluartes do mundo, gê- nios perversos. Desconheceram a erraticidade enquanto no corpo e agora anseiam por auxiliar a extinguir o estreito limite entre esferas de vida, cooperando com os planos do Mestre para o futuro da hu- manidade. Artistas e expoentes da cultura, políticos e educadores, mul- çumanos e evangélicos, índios e ecologistas, astrônomos e cientis- tas, poetas e escritores, economistas e pacificadores, todos eles têm procurado as tarefas interdimensionais sem serem ouvidos. Todos eles trabalham pela paz. Pelo Cristo. Imprescindível a abertura de mentes e conceitos. O Céu está mais próximo da Terra do que se imagina. Paulo Freire e Tarsila do Amaral, Jacques Cousteau e Charles Darwin, Albert Schweitzer e Osho, Tancredo Neves e Joaquim Na- buco, Carlos Prestes e Rousseau, Sri Aurobindo e Elisabet D'Espe- rance, Einstein e Sigmund Freud, Jung e Pierre Janet. São alguns dos infinitos nomes de quantos estão recorrendo aos pólos proteto- res das reuniões mediúnicas de vanguarda, para buscarem recurso e 19 amparo para as obras que edificaram ou para aquelas que se torna- ram tutores. Vivem todos eles nesse ecossistema intercontinental como artífices ativos dos tempos de regeneração, sob a tutela de almas nobres e mais elevadas, orientando-os na nova dimensão. Além do Tabor, esse símbolo de abertura das trocas psíquicas, espera-nos os campeões do mal, mas, igualmente, os mais gloriosos expoentes do bem, com tesouros de alívio e incentivo à ingente caminhada dos homens. Trabalhemos sem cessar pela formação desses postos avança- dos de ligação com a vida extrafísica, e um magnífico horizonte se abrirá aos nossos olhos. Somente então perceberemos com mais clareza a exuberância da mediunidade e a interpretaremos como canal por onde flui a Excelsa Misericórdia em favor da Obra da Criação para o bem de todos. Cícero dos Santos Pereira* - l" de janeiro de 2005. * Cícero dos Santos Pereira Nasceu em 14 de novembro de 1881, no povoado de Gorutuba, próximo à Di- amantina, Minas Gerais. Além do exercício do magistério, foi guarda-livros, taquí- grafo e bacharel em direito. Foi presidente da União Espírita Mineira (1937 a 1940) e fundador de vários centros espíritas em Belo Horizonte e Montes Claros. Foi um dos fundadores do "Abrigo Jesus", instituição espírita de amparo à criança carente, na capital mineira. Foi colaborador da imprensa espírita, especialmente "O Espírita Mineiro". Desencarnou em 04 de novembro de 1948, na cidade de Belo Horizonte. 20 01 Olhai os Lírios “A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus! Deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes" O Evangelho Segundo Espiritismo, capítulo XIII, item 17. A alta madrugada impunha silêncio. Sob o lençol alvinitente, encontrava-se o fiel servidor. A tez desfigurada pela dor física alte- rou-lhe os traços fisionômicos. Olhos semi-abertos digladiavam com a impiedosa febre da influenza. Era o primeiro dia de novembro, ano bom de 1918. No dia an- terior, a despeito de seu torpor, já havia previsto seu desenlace. Uma lufada de forças sublimes tomou-lhe a cabeça, estancando o avanço acelerado da enfermidade. O doente repentinamente abre os olhos, recosta-se melhor no leito e observa uma luminosidade irra- diante vinda do Alto. Mesmo abatido pela peleja física, emociona- se às lágrimas. Uma suave cantiga de sua predileção brotava-lhe na mente. As imagens inesquecíveis do coral entoando melodias... Recordava a inauguração do Colégio Allan Kardec. Sentia-se transportado ao vitorioso dia em que abriu aos caminhos humanos um significado novo para o ato de educar. Seu mundo mental agora se confundia entre a realidade das estreitas percepções físicas e os sentidos da alma. Dilatava-se a visão. Um vulto feminino desenha-se em meio ao clarão das ener- gias refazentes. Vestida com trajes típicos da era cristã primitiva, uma judia de olhos fulgurantes apresenta-se com ternura e sereni- dade: — Eurípedes, servo do Cristo, sabes quem sou? Surpreenden- temente refeito, ele responde: — És tu, Mãe Santíssima?! Tão jovial e bela?! — Venho em nome de meu Filho amado. 21 — Maria... Maria... - o discípulo fiel balbuciou o nome entre incontidas emoções que lhe afogaram as palavras. — Eurípedes, mestre de sacramento e servidor do amor, Jesus convoca-te a novos rumos. Uma classe de aprendizes empedernidos suplica educação e luz. Um submundo de atrocidades e loucura está à espera de serviços imediatos. Chega o tempo de banir a escuridão da Terra, separar o joio do trigo. Uma clarinada de paz desce das esferas maiores em direção aos pântanos da maldade. O Pastor con- clama teu coração generoso a esse mister. — Serva do amor, orienta-me, se posso auxiliar o Bem Maior. — Este século será o tempo da alforria para a humanidade ter- rena. Urge, entretanto, salvar os escravos da ignorância e converter os senhores da perversidade. Uma sanha enfermiça lança-se nesse momento sobre o Consolador. A sociedade assiste, angustiada e estarrecida, aos efeitos da guerra cruel que vitimou o mundo na epidemia do medo e da insegurança nesse primeiro quartel do sécu- lo XX. Um império de trevas aguarda o lume da bondade... O Se- nhor prepara as trilhas para um porvir de glórias à Sua Mensagem Rediviva. — Que fazer, Mãe Santíssima? — Os pântanos da maldade estão repletos de almas tíbias. São lírios encharcados pela lama pútrida das imperfeições, mas não perderam o viço, a exuberância. Não deixaram de ser lírios. Ali jazem, atolados nos lamaçais da insanidade, muitos laços de nossa trajetória pela cristianização nesse orbe. Vem, servidor do amor! Uma obra que já começaste na erraticidade aguarda-te! Um celeiro de esperança e promessa encontra-se à tua espera. O Senhor Com- passivo, no entanto, permite-te a continuidade junto ao templo cor- poral. Queres a cura ou aceitas a vereda da esperança? —Mãe Amantíssima - falou Eurípedes aos prantos -faça-se em mim a vontade do Pai! —Então, Filho Amado, recebe a unção prometida pelo Teu Senhor. O Espírito Verdade chama-te para o labor de implantação de Sua Leira Bendita. Nessa Terra abençoada, a mensagem do Con- solador será a luz do mundo para o século. Auxilia, meu filho, na tarefa redentora do transporte da árvore do Evangelho. Estruge um gritode pavor e remorso nas grutas da sordidez. Quais meninos 22 atormentados, suplicam socorro e alívio ante as bravatas de sangue e dor. — Mensageira Bendita, quem são os sofredores a que te refe- res? — Nos abismos, encontram-se os Lírios de Deus, aqueles que amam a mensagem do Cristo, todavia não souberam honrá-la. Inú- meras almas rebeldes que amam ao Cristo. Uma nação de exilados que o tempo não converteu. São lírios de esperança em pleno pân- tano de egoísmo. Olhai pelos lírios, meu filho. Jesus te chama para erguer-lhes abrigo acolhedor e oferecer-lhes descanso e elevação. Por quem o Senhor chorou naquela noite de abençoado encontro contigo? Lembras-te?8 — Sim, Digna Serva! Jesus chorou pelos que lhe conhecem os ensinos e não os vivenciam na atitude. — Esses serão teus novos filhos. Doravante, serás o Apóstolo da Esperança. Darás conforto educativo aos cristãos de todos os tempos, que foram atingidos pelo encanto da negligência e pela tirania da ilisão9. As Ovelhas Perdidas de Israel serão teus novos alunos. Ensina-lhes a pedagogia do amor. Restitui-lhes a Herança Divina de Filhos de Deus. Assegura-lhes suficiente misericórdia para testemunharem o roteiro de Meu Filho Amado: "Meus discípu- los serão conhecidos por muito se amarem." Todos ainda vão florir, serão lírios nos campos da vitória. Vão embelezar os destinos da humanidade. O Apóstolo sacramentano fora novamente surpreendido por novas visitações. Maria, a Mãe das dores do mundo, afastou-se de sua clarividência, e Doutor Bezerra de Menezes surgiu-lhe aos o- lhos do espírito. Não contendo mais as emoções, chorou como cri- ança, sem dizer palavra. O velho paladino do Cristo estendeu-lhe os braços. Um abraço amoroso e, com incomparável leveza e naturali- dade, Barsanulfo desprendeu-se do corpo como se deixasse uma veste de panos. A testa empapada de suor lívido decretou-lhe falên- cia instantânea. Eram seis horas da manhã do primeiro dia de no- 8 Silva, Hilário (Espírito). Visão de Eurípedes; psicografado por Francisco Cândido Xavier e Valdo Vieira. A Vida Escreve. 9 Nota do digitalizador: ILISÃO, como no original. 23 vembro. Trinta e oito anos10 na edificação de um monumento eter- no... Barsanulfo partiu para continuar. Partiu para servir com mais liberdade. A obra implantada na vida física teve continuadores hon- rosos. Seu desafio maior esperava-lhe nas esferas próximas ao orbe. Um enxame de doentes de outra natureza lhe bateria às portas. Uma nova dimensão de dores se lhe apresentaria ao coração bondoso. Uma nova ordem de lutas e armas a serem ensarilhadas. Um outro cortejo de aflitos para confortar. Uma classe de doentes empederni- dos suplicava-lhe a palavra salvadora, nos roteiros da educação de suas almas, clamando por piedade e compaixão. Passaram-se oitenta e dois anos desse momento glorioso na vida do Apóstolo da Esperança. Convocação de Eurípedes "Essa a estrada pela qual temos procurado, com esforço, fazer que o Espiritismo enverede. A bandeira que desfraldamos bem alto é a do Espiri- tismo cristão e humanitário, (...) " O Livro dos Médiuns, Capítulo XXI.X, item 350. Estamos nos primeiros dias do ano 2000. As atividades do Hospital Esperança intensificaram após ordenações maiores, des- cerradas por Bezerra de Menezes em nome do Espírito Verdade. Sua magistral palestra "Atitudes de Amor", proferida no mês de outubro de 199911 inaugurou um tempo de renovação e medidas promissoras para a causa do amor. O movimento em torno das idéias espíritas, no plano físico e na vida dos espíritos, não foi mais o mesmo depois da predica do 10 Euripedes Barsanulfo (1880-1918). 11 A referida palestra está contida na obra Seara Bendita- Editora Dufaux. 24 paladino do bem. Fazia-se urgente uma nova ordem de medidas para o sacrifício incondicional de quantos nutrem o desejo de servir à obra regenerativa da Era do Espírito na Terra. O iniciar do novo milênio constituía-se num apelo retumbante para o engrandecimen- to moral da Terra, perante a uniformidade das leis que regem o e- cossistema no cosmo universal. Eurípedes, por sua vez, recebeu diretriz urgente da Falange Verdade e convocou-nos sem demora. Nosso diretor já havia prepa- rado com antecedência um encontro no qual os trabalhadores e co- operadores ativos do Nosocômio Esperança reunir-se-iam no salão principal para ouvir-lhe os novos alvitres. À noite, pontualmente aos dez para as oito horas, adentrou Eurípedes, como de costume, acompanhado por dona Maria Mo- desto Cravo12, conhecida como Dona Modesta. Acomodamo-nos nas últimas fileiras, junto ao professor Cíce- ro13, apelido mantido na vida espiritual, e a Inácio Ferreira14. Dona Modesta, depois de sentida prece, notificou a todos, pela sua mediunidade, que a Equipe Verdade velava pelo nosso encon- tro. Sem formalidade de qualquer espécie, o diretor se postou atrás de um singelo púlpito e iniciou sua fala: "Amigos em Cristo, espe- rança em seus corações. Um fenômeno social irreversível vem ocorrendo nas relações: a superação dos modelos verticais de convivência. Contrapondo os velhos referenciais de autoridade para ditar o que fazer e como fazer, a família e a escola, a religião e a cultura, assim como todas as organizações humanas são convocadas a re- pensar as carcomidas formas de relacionamento. Ninguém estabe- lece as normas, ninguém tem certezas ou verdades definitivas. To- dos em busca de posicionamento a partir de suas necessidades mais profundas. O caminho atual aponta para a criação de relações hori- zontais, a diluição dos papéis e a formação de grupos cooperativos. Os clamores da alma retumbam no coração humano à procura de paz, equilíbrio, saúde e sossego interior. Um extenso labirinto apre- 12 Maria Modesto Cravo - fundadora do sanatório espírita uberabense. 13 Cícero dos Santos Pereira- espírita atuante no estado de Minas Gerais. 14 Inácio Ferreira - diretor do sanatório espírita uberabense. 25 senta-se, cujo percurso é individual, singular. É a saga da alma em crescimento, eterna perseguidora da felicidade e das respostas para ser em plenitude. Cartilhas e padrões, estatutos e regras sofrem golpes impiedo- sos. A nova ordem social conduz a uma decisiva derrocada na su- premacia de velhos e corroídos significados. Ressignificar... Dar sentido novo em direção a um porvir de esperanças e completude interior. Encontramo-nos em meio a essa turbulenta gestação de idéias, valores e referências. A humanidade prepara-se para adotar o con- ceito sistêmico, solidário. Enquanto isso, rui todos os paradigmas em verdadeira hecatombe de convenções hegemônicas. Os velhos parâmetros não atendem às necessidades do agora. Por outro ângu- lo, ainda não se formaram novos modelos de inspiração para que o homem se guie nas suas experiências e metas. O certo e o errado variaram totalmente seus sentidos, e ainda não se teve tempo bas- tante para estipular outros conceitos. Portanto, nutrir muita certeza sobre algo, cultivar rigidez de entendimento, é postura extremamente arriscada nessa fase de mu- tação. Não menos arriscado é assumir a desafiante atitude de "in- ventor" de novas formas de caminhar. Esse fenômeno social que nasce nas entranhas da alma exige siso moral, responsabilidade individual, coragem. É algo bem diferente. Antes se tinha alguém para ditar o caminhar, algum modelo, uma experiência em que se apoiar. Tornava-se cômodo responsabilizar o próximo ou alguma orientação institucional a fim de evadirmos ou esquivarmos dos efeitos nocivos de nossos atos. Esperam-se mudanças para melhor na humanidade, todavia poucos são os que perceberam uma realidade inquestionável: a Ter- ra mudou rapidamente. Seus habitantes não conseguiram ainda ava- liar a profundidade de tudo que ocorreu nas últimas três décadas. Em trinta anos, efetivaram-se séculosde mudanças. Atordoados e aflitos, sem direção e sem rumo, a humanidade debate-se à procura de bússolas que resgatem o sentimento de segurança. Nesse cenário global, repete-se, no iniciar do século XXI, a mesma experiência do Espiritismo prático no alvorecer do século XX. Naquele tempo, as bússolas não existiam, foram criadas. Ago- 26 ra, somos chamados a recriá-las. A mediunidade e seu exercício obedecem a esse ciclo inadiável e dinâmico. Os seareiros do inter- câmbio, em quaisquer patamares de conquistas, são convocados a construírem sentidos novos na utilização das forças psíquicas e mentais, que envolvem a relação interdimensional entre esferas de vida. A diversidade, conquanto, a princípio, cause insegurança, é propícia à expressão da criatividade. Criatividade que deverá sem- pre ser regida pelos valores morais da sensatez, da responsabilidade e do amor. Allan Kardec, o emissário da Era do Espírito, refere-se ao fermento da incredulidade que ainda tomaria conta da humanidade por duas ou três gerações.15 Incredulidade em relação à imortalida- de e comunicabilidade do ser espiritual. Adentramos exatamente essa terceira geração, dividida em três períodos de setenta anos, a partir da chegada do Espiritismo. É o período da sensibilidade, da fé que supera o medo humano de existir e progredir no bem. Fé é a adesão espontânea da alma na busca da Verdade. Me- diunidade é o ventre sagrado do fervor. Através dela, ocorre a su- blime gestação do patrimônio da crença lúcida e libertadora. Raciocínio é o dínamo da lógica e do bom senso. Quando ata- cado pela rigidez emocional, converte-se em preconceito e estagna- ção. Inúmeros grupos doutrinários transformaram o critério do ra- ciocínio em medida prática de defesa, para não serem enganados pelas bem urdidas mistificações. Com essa postura, se não são en- ganados nas suas produções mediúnicas, são ludibriados quanto ao significado abrangente das relações de amor entre as almas, cir- cunscrevendo a prática de intercâmbio à expressões superficiais de conversão de desencarnados, com espaço acanhado para a manifes- tação livre dos benfeitores e aprendizes da erraticidade. Vigilância excessiva é um cadeado nas portas da sensibilidade, aprisionando os sentimentos aos severos regimes de descrença e engessamento 15 Allan Kardec - comentário da questão 798 O Livro dos Espíritos. 27 mental. A cautela excessiva com a fantasia e o engodo manietaram inúmeros servidores. E o resultado mais infeliz de tanta censura é o enfermiço de- sânimo com as sagradas práticas de intercâmbio entre os mundos. O mais grave efeito do engessamento cultural das idéias espíritas é a paralisia da noção de imortalidade. Um plano espiritual estático e desconectado da vida na Terra. Jesus, o paradigma do Amor Universal, ao estabelecer pela Sua Atitude a era da ética aplicada e sentida, assegurou em suas palavras: "Não vim ab-rogar, porém, cumprir."16 Que definição mais precisa se pode ter de uma transição? Quando se fala em no- vos significados, estamos, em verdade, referindo-nos ao ingente desafio de viver a mensagem esquecida do amor. Transição, portan- to, muito antes que uma etapa que deflagra o novo, significa a su- blime decisão de afinar-se com o bailado cósmico do amor, o ritmo pulsante de Deus desde a origem dos tempos infinitos. No século XX, os espíritos procuraram os homens. Agora, os homens deverão ser os parceiros dos espíritos. Buscar-lhes para a vivência de uma relação mais consciente e educativa. O "telefone" tilinta daqui para lá, todavia, chega o instante de recebermos tam- bém os "chamados" do homem, cujos interesses repousem na trans- formação de si mesmo. A bondade celeste conferiu-me novos desafios nesta casa de amor. Imperioso refletirmos sobre os destinos da mediunidade ante o clímax da transição espiritual do planeta. Nossa missão consiste em avaliar medidas promissoras a nosso alcance, que facilitem a consolidação dos Planos do Espírito Verdade para a messe espírita do mundo físico no século XXI. Os primeiros cem anos do terceiro milênio serão os alicerces da Era do Espírito. Na condição de educadores da alma, importa-nos reconhecer o exato valor das instituições humanas, jamais as adotando como expressões absolutas da verdade. Tradições e valores estão em ace- lerado processo de metamorfose. Estamos atravessando uma crise de referências sem precedentes na seara. O movimento espírita está 16 Mateus, 5:17 28 sendo sacudido por um terremoto de diversidade. Porém conve- nhamos, é nesse cenário que vai emergir a rota da regeneração. "O Espiritismo não cria a renovação social”. As necessidades do homem elegerão seus princípios como senda indispensável. Não se deve deduzir, todavia, que seu perfil social servirá de modelo, porque a diversidade nesse terreno será avassaladora a tal ponto de diluir, apropriar e melhorar as características de suas práticas e conceitos. Ante essas mutações necessárias, os discípulos aferrados a modelos serão convidados a sofrido teste de desapego. A ciência e a religião, a arte e a filosofia serão caminhos pro- pulsores da força do pensamento espírita, sobrepujando o materia- lismo que grassa. Nenhum deles, no entanto, servirá de via prefe- rencial. Por essa razão, urge desenvolver um novo significado para a comunidade adepta da verdade consoladora face ao predominante caráter religiosista. Religião com religiosidade. Religião com edu- cação. Se a religião não educar, ficará retida no dogmatismo. Se a ciência não educar, será sovinice. Se a filosofia não educar, trans- formará em cátedra de vaidade. Se a arte não educar, constituirá um palco para exibicionismo. O momento converge todas as conquistas humanas para a espiritualização da criatura e pelo desenvolvimento de seus valores nobres e divinos. Amigos e trabalhadores, nessa hora tão decisiva, os médiuns maduros revestem-se de importância singular. O primeiro século de mediunidade orientada pelas luzes da doutrina, desde as reuniões realizadas nos núcleos familiares, ense- jou um nível de intercâmbio intermundos jamais deflagrado em qualquer tempo da história da Terra. Apesar disso, somente ao li- bertarmo-nos do corpo, averiguamos claramente quão rude ainda são nossos contatos com o mundo físico. Por esse motivo natural, não será exagero afirmar que o século XX, no que tange à mediuni- dade, foi o período de ensaios promissores, tendo em vista o futuro glorioso que espera o homem psíquico do século XXI. Os médiuns mais consagrados de nossa seara fizeram-se canais abençoados para que a linfa da Divina Providência jorrasse sobre o mundo. Eles próprios, contudo, sabem que estamos, indubitavelmente, na infân- cia dos contatos entre as esferas física e espiritual. 29 O século XX foi uma farta semeadura. Os grãos deram uns a trinta, outros... Outros foram sufocados, pisoteados... Que o oti- mismo e a bondade não entorpeçam nossa visão quanto às infelizes ciladas da maldade... Em meio à farta semeadura de bênçãos nasci- das do intercâmbio mediúnico, vicejou lastimável semente de joio... O que era apenas uma ameaça ao intercâmbio mediúnico res- ponsável, regido pela espontaneidade, hoje se concretiza como au- têntico cerceamento criado por padrões rígidos e institucionais nas leiras de serviço. Tais padrões, a princípio erigidos como "estacas de segurança", transformaram-se em "cartilhas" por sugestões de corações bem intencionados, porém, desprevenidos quanto ao sig- nificado da singularidade nos assuntos metafísicos. Além disso, a existência dos "mentores culturais" de sofismas, em ambos os pla- nos, multiplicaram as noções inconsistentes absorvidas pela comu- nidade em suas práticas e conteúdos. O resultado inevitável é o res- tringimento, ainda maior, das manifestações do céu para a vida ter- rena. Chega a hora de um novo chamado! A hora que atravessamos é similarà parábola das Bodas, nar- rada em Mateus, capítulo vinte e dois. Os convidados do Rei não compareceram para o evento. A eles, foi destinado o convite, a o- portunidade lhes pertencia, entretanto, por motivos pessoais, não compareceram. O Rei, perante a ocorrência, manda seus servos nas aldeias e campos a chamar quantos se apresentassem ao mister. O tempo e a aquisição do conhecimento têm causado pertur- badora sensação de grandeza a muitos aprendizes das frentes de labor mediúnico. Desse modo, afastam de si próprios os convites ininterruptos aos novos misteres que a cada época são dirigidos à vida física, destinados a promoverem o progresso e amadurecimen- to de nossas relações interdimensionais. Não se trata de criar novidades nas laboriosas frentes de inter- câmbio, e sim de resgatar a linfa cristalina da produção mediúnica, exonerando-a dos pedregulhos e impurezas provenientes dos "entu- lhos culturais" a ela infligidos. Em verdade, propomos um retorno ao exercício mediúnico conforme as propostas do Cristo de Deus. Somente a poder de trincheiras produtivas, implantadas em solo brasileiro no início do século XX, foi possível ampliar o raio 30 social de ação do pensamento espírita. De tudo fizeram os vales da sombra e da morte com fins hostis a esse projeto. As tarefas socor- ristas constituíram-se em "válvulas de alívio" às pressões ininter- ruptas e incansáveis. Passaram-se cem anos nesse campo de lutas acirradas. Ao penetrarmos esse terceiro período de mais setenta anos na busca da maioridade das idéias espíritas17, urge algumas medidas salvadoras. A vitalidade do movimento em torno dos postulados espíritas dependerá de uma nova ordem cultural em todos os seus setores de ação, especialmente na sementeira da mediunidade. A solidez da investigação fraterna requisita das equipes cristãs o gosto pela crítica, sincero apoio ao crescimento de todos, hones- tidade emocional em relação uns aos outros, tratamento responsável com todas as dúvidas. Somente nesse clima de relacionamentos sinceros e leais, respaldados pelo desejo de aprender e servir, a luz da misericórdia celeste brilhará, transformando a fragilidade huma- na em abundante celeiro de imorredouras venturas. Existem servidores sérios e vigilantes na seara, experimentan- do o açoite da calúnia de trabalhadores incautos e orgulhosos. O tempo indica aos tais servidores do amor a discrição a fim de não terem seus ideais esmagados pelo peso da chocarrice alheia. A tru- anice não merece resposta. Compete-nos destinar a eles, servos destemidos, um alerta para que, nesse momento, não declinem da oportunidade de colocarem a luz onde possa ser vista por todos, no velador. São as bússolas indicadoras para os caminhos do Cristo ante os tempos novos. O século XXI será o tempo do sentimento, e até as esferas a- bissais do planeta vivem esses momentos. Antes, dominavam pelas idéias, agora, com o avanço da ética e da cidadania, não conseguem usurpar, com a mesma facilidade, a inteligência humana, no entanto agridem o homem pelo coração. A inteligência avançou, mas a e- moção humana, com raras e honrosas exceções, estagia no instinto! É assim que atuam os hábeis manipuladores dos sentimentos perturbadores de desmerecimento e inferioridade. Fazem esquecer as conquistas para exacerbar a indignidade. Uma análise antropoló- 17 Referência contida na palestra "Atitude de Amor", Seara Bendita, Editora Dufaux 31 gica cuidadosa nos apontaria a intensidade com a qual as estruturas religiosas e políticas, de todos os tempos, exploraram a "cultura da indignidade" como instrumento de domínio. Os líderes das regiões abismais utilizaram de semelhante expediente na gestação desse estado deplorável das agremiações doutrinárias do Espiritismo no que tange às relações extrafísicas. Que esse foco não entorpeça nossa razão, por se tratar de rea- lidade previsível, considerando o caminhar lento, mas progressivo, da humanidade. Incentivemos os caminhos novos aos nossos parceiros no mundo físico! Os médiuns que melhor irão retratar as mensagens celestes são os que educarem seus sentimentos. As bússolas serão encontradas. É lei. O longo percurso de descoberta e criatividade solicita a aplicação de atitudes de amor condizentes com os novos tempos. Assinalemos algumas delas no intuito de estudar e debater as sendas da mediunidade em tempos de transição: — valorosa noção e aplicação do 'espírito' de equipe; — desapego de concepções; — coragem para experimentar; — adesão afetiva e espontânea na participação de novas vi- vências; — investigação nas conquistas da ciência; — acendrada postura de despretensão ante as vitórias com as novas práticas; — incansável abertura mental para ouvir, alterar, avaliar e discutir em clima de aprendizado e fraternidade; — superação dos limites filosóficos doutrinários em busca de conceitos universais aplicáveis à mediunidade." Nesta altura da palestra, Eurípedes alterou perceptivelmente o tom de voz. Uma luz de intenso brilho envolveu todo o seu corpo. O apóstolo parou de falar e fechou os olhos. Em meio à luminosi- dade, quase não podia ser mais percebido. Eurípedes transfigurou- se e surgiu um vulto de mulher. Uma Judia de roupagem similar ao cetim, com detalhes em azul claro. Rosto cândido e olhos verdes. Cabelos aos ombros. Uma paz indefínível tomou-nos a todos. Olhei para o professor ao meu lado e notei as lágrimas descendo pela fa- 32 ce. Doutor Inácio, em ato reflexo, trouxe as mãos à boca, recordan- do um menino surpreso. Uma voz terna, como se penetrasse nossa alma como um todo, dizia: — Filhos do amor! Perseverai nas veredas que meu Filho amado vos conclamou! Exultai em serdes os servos benditos do último instante, chama- dos à gloriosa missão! Recordem Seu chamado quando ao Seu lado encon- travam-se Moisés e Elias: "Levantai-vos; e não tenhais medo ".18 Sede soli- dários com a excelsa obra da regeneração humana. Dizei aos homens que Jesus está na Terra e convocai seus servidores ao ministério do amor incon- dicional, interligando dimensões, enaltecendo a vida! Dona Modesta, guardando equilíbrio e sensibilidade, descre- veu, pela clarividência que percebia, um enorme painel acima do Hospital Esperança. Era um retrato trazido por almas angelicais que reproduzia a cena do lava pés19 conforme o acontecimento original narrado no Evangelho. O encontro foi encerrado em clima de extrema sensibilidade e sentimentos elevados. Em poucos minutos, nosso diretor sintetizou uma previsão so- bre o que será o século XXI no que tange aos rumos da espirituali- zação, e Maria abriu-nos as portas do coração como a preparar-nos aos desideratos da hora nova... A ocasião foi um clamor do Mais Alto em favor do Espiritis- mo cristão e humanitário. 18 Mateus, 17:7 19 João, 13: l a 20 33 03 Medidas Impostergáveis "Ora, assim como, numa cidade, a população não se encontra toda nos hospitais ou nas prisões, também na Terra não está, a Humanidade inteira" O Evangelho Segundo Espiritismo, capítulo III, item 7. A palavra sábia de nosso diretor revestiu-se de caráter emer- gencial. Os cooperadores do Hospital Esperança, recebemo-la co- mo uma convocação para medidas inadiáveis. A hora presente reclamava maior soma de informações sobre a natureza das provas depois da morte. Diversas equipes se mobili- zaram ante os alvitres de Eurípedes para traçar planos. Após o termino da inspirada explanação, Dona Modesta con- vidou o Professor Cícero e o Doutor Inácio ao seu gabinete particu- lar, a fim de se organizarem. — Inácio, creio que acabamos de obter endosso a velhos an- seios! - abriu o diálogo Dona Modesta. — Modesta, você sabe, há quanto tempo, espero para levar ao plano físico um noticiário franco e destemido sobre a situação dos espíritas nesta casa. Adoraria assustar um bocadode gente... — Chega de sustos, Inácio! O momento nos pede clareza, en- tretanto com objetivos puramente educativos. De nada nos valerá surpreender e não educar. — Jamais deveremos esquecer esse foco - atalhou o profes- sor. Nossos confrades na Terra, especialmente os operários da me- diunidade, carecem de apontamentos sobre mediunidade e transi- ção. As colocações de Eurípedes foram decisivas. Imperioso ofere- cer-lhes mais vasta noção sobre o momento que atravessamos. De fato, as "cartilhas" e os "mentores culturais de sofismas" somente deixarão de existir quando fomentarmos a lucidez pelo bom senso. 34 — Continuo intrigado sobre como escalar essa montanha de condicionamentos sem "dinamitar". — Sim Inácio, sua assertiva não deixa de ter fundamento - aclarou Dona Modesta -, desde que apliquemos farta dose de lógica e instrução moral, junto às novidades contundentes que detonam os paradigmas. Entre uma xícara de chá e outra, os três seareiros continuavam a conversa. O professor, sempre muito ponderado, procurava ofere- cer um roteiro para as medidas da hora: — A evolução é uma Lei Natural norteada por ciclos. Ho- mens e instituições, idéias e fenômenos da natureza obedecem ao sublime princípio da "emancipação ordenada". Nascer e renascer, infância e maturidade, semeadura e colheita. O Espiritismo alcança seu período de maioridade. É a etapa na qual ocorre a ceifa. Instante divino de definições, tendo em vista o futuro de expansão e glória a que tudo e todos se destinam na vida. Esse ciclo da ceifa orienta-se pela separação do "joio e do trigo". Após crescerem juntos, é mister discernir para que servirá o fruto da plantação. Após mais de um século de Espiritismo prático em Terras bra- sileiras, desponta o momento de avaliação face aos horizontes no- vos que se descortinam para nossa abençoada colmeia doutrinária. Hora de pesar as conquistas e construir parâmetros adequados às necessidades no momento presente. Espiritismo é dinamismo e a- ção. Somos todos conclamados a ressignificar, repensar, avaliar e edifícar. Desde o surgimento do Guia dos Médiuns e Experimentado- res - O Livro dos Médiuns - lançado em janeiro de 1861, o mundo ganhou o mais lúcido roteiro de condução das forças psíquicas. Inspirados em suas abordagens profundas e seguras, médiuns e doutrinadores lançaram-se ao exercício. As conquistas foram ilimi- tadas. Mais de um século de vivências com o mundo espiritual, através das célebres reuniões mediúnicas, foi suficiente para conso- lidar uma noção clara e consciente de imortalidade entre os encar- nados. Embora acanhadas para um orbe que passou milênios na ignorância intencional sobre as realidades extra físicas, essas foram passos muito significativos. 35 A hora da maioridade é, no entanto, uma chamada à mais vasta investigação nos domínios da vida futura. Imprescindível superar conceitos e barreiras culturais erguidas no valioso laboratório do intercâmbio intermundos. Todo o saber acumulado deverá conduzir às novas sondagens com propósitos educativos. Assim como Allan Kardec lançou-se na pesquisa ho- nesta dos fenômenos, contrariando todas as opiniões a respeito de sua atitude, hoje, os aprendizes da mediunidade que almejam servir à causa do Cristo são convocados a imprescindíveis discussões. Até onde a "cultura das convenções" que avassalou o psi- quismo de inúmeros cooperadores na seara terá, igualmente, pene- trado nesse campo sagrado da relação interdimensional? Os parâ- metros estabelecidos como roteiros de segurança mediúnica não estarão, em verdade, constituindo fortes amarras ao progresso das práticas de intercâmbio? Que caminhos tomar para situar a tarefa mediúnica como laboratório educativo de almas, distante do dog- matismo? Como edificar grupos de servidores mais adequados aos imperativos da hora de transição? Como resgatar e como utilizar a espontaneidade? Que noções cristãs exarar sobre educação mediú- nica? Quais seriam os critérios na seleção dos componentes de uma frente de serviços mediúnicos em tempos de transição? — Excelente reflexão, professor! - manifestou Dona Modesta. — Sem dúvida, essas indagações são pertinentes ao contexto de muitas histórias que nós conhecemos neste Hospital! - exclamou o médico uberabense. Daí, por que não oferecer aos companheiros na carne uma nova série de obras que retratam os sucessos e insu- cessos dos espíritas? —Não só dos espíritas, mas dos amantes da mensagem Cristã. —Que seja, Modesta. O que importa é o casuísmo. Para mim, os escritores espirituais foram muito generosos, poupando notícias nesse particular- asseverou, com sua típica sinceridade, o Doutor Inácio. —Generosos, não, Inácio! Foram compassivos -retrucou o professor. —Pode ser! Ainda assim o momento pede um "susto" - insis- tiu o doutor. 36 — Tenho a certeza, Inácio, de que sua ligação com o médium uberabense será o caminho certo para os recados mais "diretos". Essa será uma vertente a seguir. Por outra análise, Eurípedes tem demonstrado enorme esforço na formação de trincheiras do amor cristão e humanitário. Fale-nos um pouco mais de sua experiência no assunto, professor - solicitou Dona Modesta. — Em todas as épocas, os inventores e descobridores, cientis- tas e expoentes da cultura, educadores e religiosos tiveram a prote- ção de frentes solícitas e benfazejas, a fim de exercerem suas mis- sões e compromissos. Trincheiras de amor sempre foram organiza- das em torno de quantos acalentaram e viveram pelos sonhos de progresso e amor. Se esse é o dinamismo do Mais Alto em favor de quantos cuidam do avanço linear do planeta, que se dirá daqueles cuja tarefa é abrir os olhos dos homens, verticalizando a mentalida- de e a ação para os destinos além da matéria? Os vanguardeiros da espiritualização sempre são alvos da Misericórdia Celeste no cum- primento de seus misteres. Por essa razão, nossa fala converge para um apelo clamoroso e urgente na formação de trincheiras de amor para o planeta. Tais medidas fizeram-se indispensáveis e, algumas vezes, insubstituíveis para com os projetos de caridade e resgate em tempos de transição planetária. Os serviços defensivos do bem, nessa etapa de mutações, são imprescindíveis. Urge a criação de pólos de retaguarda e refazimen- to espiritual. Toda pequenina luz que se acende no bem é tremen- damente procurada pelo movimento das trevas densas. Difícil a- vançar na direção da luz sem inspiração e equilíbrio. E, sem imuni- dade, não garantimos por muito tempo as aspirações nobres. Os ataques e a criatividade dos gênios da perversidade nunca foram tão pujantes. Essa é a lei. É preciso que o inferno procure o céu para exterminá-lo e acabe concluindo sobre a conveniência de aceitá-lo. Pesada nuvem se adensa na psicosfera terrena, proclamando a decisiva hora do ajuste. As espessas crostas do mal são cuspidas dos abismos e sobem à superfície em regime de higienização psí- quica do planeta. Uma marcha, jamais vista em todos os tempos, movimenta as regiões abissais da erraticidade. Tempo de transição! 37 Uma semicivilização se esconde nas entranhas da subcrosta. Por lá, enxameia a vida em estágios de precariedade e sordidez. São nossos irmãos. Nossa família. Nossas notícias não devem, porém, ser analisadas sob um prisma apocalíptico de decadência e ruína. Muito ao contrário! Se a humanidade "atrai" a sua parcela enfermiça "para cima", é porque adquiriu os recursos profíláticos para se curar. Essa é a ordem. Esse é o ciclo pelo qual passamos nessa Casa de Esperança, chamada Terra. Nos compromissos da espiritualização, despedem-se do mun- do físico os "desbravadores da Era do Espírito" para que assumam os "operários audaciosos da regeneração". Somente com muita co- ragem e desprendimento de convenções e padrões rígidos, seremos capazes de estabelecer ambientes para as sentinelas vigilantes do amor nesse turbilhão de lutas e conflitos. O espírita, nesse cenário, é convocado a severo chamado. "Muitoserá pedido a quem muito recebeu..."20 Hora de romper com as amarras do receio e, a exemplo do Senhor Allan Kardec, em plena Paris da cultura e do saber, lançar-se ao trabalho. Decerto todo espírita consciente, por fazer parte da sociedade encarnada, deverá agir como um cidadão cuja tarefa é realizar seu papel responsável na erradicação dos males coletivos em todas as esferas. Ledo engano, todavia, será ignorar que a origem de todos os males humanos, em todas as épocas, sempre teve como raiz os sítios da perversidade, organizados há mais de dez mil anos nas grotescas localidades da vida errática. Ninguém, em são juízo, vai querer resolver os problemas do mundo dentro de uma reunião mediúnica de amparo, descuidando da tarefa de responsabilidade social. Mas nosso apelo dessa hora é para a formação de grupos conscientes, dispostos a cooperarem em uma das mais árduas medidas de saneamento e solução, ante os destinos novos da humanidade. Há vida nesses antros fétidos e nauseantes. Cabe-nos enxerta- los de esperança para recobrarem a lucidez. 20 Lucas, 12:48 38 Há vida nesses pântanos de amargura, compete-nos nutri-los de carinho para sentirem que podem recomeçar. Nesses pântanos de dor, existem lírios exuberantes capazes de refletir a luz do sol. É nossa família que ficou no tempo, mendigan- do nosso amor. Apresentam-se iludidos pelo orgulho e, fazendo-se de fortes e vingativos, entretanto, amam e amam muito. Nosso de- safio é amá-los ainda mais para descobrirem o quanto vale a pena viver plenamente e retomar nossos caminhos para Deus. Busque- mos os nossos lírios. Depois de uma pausa em que se mostrava, sobremaneira, e- mocionado, continuou o professor: — Nossos números de censo são muito próximos do censo humano. No período da vinda do Cristo à Terra, a faixa estimativa po- pulacional girava na ordem de trezentos milhões de almas reencar- nadas. Nessa ocasião, os censos do Mais Alto notificam fel que, entre encarnados e desencarnados, a Terra possuía uma w população geral na ordem de vinte bilhões de almas. Nunca aconteceram tan- tas reencarnações na humanidade até essa época. Depois houve um declínio acentuado em virtude da precária condição de vida na der- rocada do império Romano, reduzindo a população humana a me- nos de duzentos milhões de criaturas no corpo. Somente no segun- do milênio da Era Cristã, a população voltou a crescer vertiginosa- mente, atingindo pouco mais de quinhentos milhões de almas na carne até o século XV Em 1900, o contingente girava em torno de um bilhão e seiscentos milhões. Mas somente após 1950, encon- tramos o período decisivo da humanidade. Viramos o milênio com a estimativa da população terrena de seis e meio bilhões de espíri- tos no corpo e com uma população geral de trinta bilhões de criatu- ras. Essa projeção nos auxilia a concluir que, em certas épocas, os serviços socorristas realizaram-se totalmente na vida espiritual, considerando ser inexequível efetivá-lo com a participação humana. Depois da Doutrina Espírita e da experiência adquirida em mais de cem anos de atividades mediúnicas, o cenário é outro. Hoje são mais de seis bilhões de espíritos no corpo e nunca a Terra passou 39 por tão diferenciado processo de êxodo, migração e emigração de espíritos entre o mundo dos sentidos físicos e extra-sensoriais. A senhora tem reflexões mais claras, Dona Modesta, sobre o significado desses dados! — É verdade, professor. Venho analisando-os para ter uma noção mais fiel sobre a extensão do trabalho que nos aguarda nesse século, junto aos servidores da mediunidade em ambas as esferas. A Terra tem hoje um pouco mais de seis bilhões de almas, en- vergando o corpo carnal. Sua população geral, conforme os "cen- sos" do Mais Alto, chega à faixa de trinta bilhões de criaturas atraí- das pelo magnetismo e lutas do planeta. Do contingente geral, temos vinte por cento dos habitantes re- encarnados. O que possibilita pensar em quatro almas de cá para cada uma na vida física. Através de controles bem mais elaborados e sem margens de falhas, as equipes de celestes sociólogos, que orientam os destinos dos continentes, destacam que quatro bilhões desses seis bilhões reencarnados são almas doentes que purgam dolorosos processos de reeducação. Os outros dois bilhões são corações na busca osten- siva de sua recuperação, entre os quais, pouquíssimas vezes, encon- tramos os chamados "missionários coletivos", ou "encarregados de outorgas específicas" que venham a corroborar com o planejamento do progresso e bem-estar social. Algo muito similar sucede-se com os outros vinte e quatro bi- lhões da população terrena na erraticidade. Temos doze bilhões de desencarnados em patamares de luta e sofrimento, seis bilhões de almas medianas que já cooperam eficazmente na tarefa regenerativa de outros, e mais seis bilhões de condutores elevados, entre os quais se encontram os "avatares" que velam pelo grande plano do Cristo para o orbe, missionários, guias espirituais, avalizadores, espíritos superiores, auxiliares galácticos. A maioria deles liberados da reencarnação ou ainda inúmeros homens e mulheres comuns, que venceram as provas expiatórias no suceder das reencarnações. Algumas inferências tornam-se necessárias para que possamos apresentar propostas de serviço e cooperação inadiáveis aos amigos no corpo. Somando-se à aglomeração de seres em franca condição de dor e doença, temos um total de dezesseis bilhões, em ambos os 40 planos devida, distribuídos em quatro bilhões no corpo e mais doze bilhões nas regiões de pavor e desequilíbrio de nosso plano. Uma média de três almas em crise para cada uma em tormenta na vida física, totalizando um pouco mais de cinqüenta por cento da popu- lação geral do orbe. Desses dezesseis bilhões encontramos quatro bilhões de al- mas, apesar de enfermas, em franca busca do bem. Outros quatro bilhões são criaturas perversas que deliberadamente agem no mal. Os oito bilhões restantes se encontram em postura de indiferença ou indecisão, com fortes apelos para a apatia é o desânimo. Essa faixa de doze bilhões de enfermos traz em comum a falta de idea- lismo superior e o apego às questões materiais, dois traços que se distribuem de conformidade com a individualidade, seus pendores, seus valores e sua cultura. E daqueles quatro bilhões de irmãos nos- sos que gerenciam o mal através da perversidade, temos hoje nada menos que um bilhão deles em plena sociedade terrena, destilando o fel da cultura nociva e da atitude insana, enquanto outros três bi- lhões ainda guardam os postos mais elevados nas "ordenações in- fernais" juntos às esferas extrafísicas. Imaginem uma casa terrena com cinco membros na família e considerem que, no mínimo, mais vinte entidades ali transitam qua- se que diuturnamente. O critério que define essas aproximações são variados e multifacetados, criando as mais infinitas formas de inte- ração e convivência. Tomando por base a colocação de O Livro dos Médiuns, item 232, temos: Consideremos agora o estado moral do nosso planeta e compreende- remos de que gênero devem ser os que predominam entre os espíritos erran- tes. Se tomarmos cada povo em particular, poderemos, pelo caráter domi- nante dos habitantes, pelas suas preocupações, seus sentimentos mais ou menos morais e humanitários, dizer de que ordem são os espíritos que de preferência se reúnem no seio dele. O Brasil insere-se como grande pólo magnético que renova e alivia as dores humanas pela força natural que irradia de seu povo e de seu solo. Fé espontânea e natureza rica são fontes inesgotáveis 41 de atração para quantos se encontram sem norte na vida espiritual. Razão pela qual esse torrão tem funcionado como um centro de gravidade para todas as questões que dizem respeito à história e aos caminhos da Terra. Nessa etapa chamada transição, torna-se imprescindível alar- gar os horizontes dos depositáriosda revelação espírita, a fim de não reduzirem, em míseros informes literários, a complexidade das operações de que se revestem esses períodos decisivos para o futu- ro. Transição é o período que separa dois ciclos. Passamos, neste instante, pela transição entre o ciclo provacional-expiatório para o ciclo regenerativo. Além de fatores sócio-políticos e econômicos, o traço indelé- vel dessa metamorfose é, antes de tudo, espiritual. Os caracteres do homem civilizado são claros conforme a questão 793, de O Livro dos Espíritos: Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os v/dos que a deson- ram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até en- tão, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primara fase da civilização. Homens civilizados, na acepção integral da palavra, são aque- les que integram moral e inteligência a serviço do bem de todos. A moralização do planeta é condição essencial para que se instale a Era da Regeneração. — Esses dados deveriam ser os primeiros a serem revelados ao plano físico! - intercedeu Doutor Inácio. Somente estando por aqui para se ter noção do significado de uma tarefa de intercâmbio nesse cenário de lutas globais. — Exatamente, Inácio. Esse é um foco importantíssimo! — Volto a insistir... — Lá vem o cabeça dura!... - descontraiu Dona Modesta. — Você já sabe Modesta... — Claro que sim! Você adoraria dar notícias sobre os infer- nos. — Que sabem os espíritas sobre dragões, as sete organizações do mal, a origem de Lúcifer, a influência das falanges perversas na 42 raiz do mal?... Que noções possuem sobre a antropologia da malda- de organizada no planeta? Será que já ouviram sobre as "escórias", o "vampirismo assistido" e os "vibriões"? Quem revelou algo sobre os sete vales da perversidade e o cinturão vibratório que agasalha a humanidade? Quantos conhecem sobre as relações entre religião e as ordenações das hostes do mal? Quais informações possuem so- bre a vida social nessa semicivilização? Que conhecem além do umbral? — E acreditariam? - aparteou o professor. __ Certamente teriam dificuldade. Se eu mesmo, estando aqui, me assusto ainda com o que vejo, que se dirá no plano físico?! A- pesar disso, a hora chegou e estamos convocados a novos procedi- mentos. — Inácio tem razão, professor! Eurípedes referiu-se à Parábo- la das Bodas. Não podemos pensar naqueles que são considerados os "aprovadores da pureza doutrinária" se desejamos servir ao Cris- to. Se nossos propósitos forem honestos e consistentes, serão ouvi- dos pelas almas livres de amarras culturais e dispostas a dilatar sua visão espiritual. Só não podemos ser ingênuos... - concluiu Dona Modesta. — Nossa coragem não pode ser ingênua! Nisso concordo... - completou Doutor Inácio. — E o professor, que pensa? — Realmente compete-nos informar sobre a extensão do mal para chamar os homens a dimensionar o serviço que nos aguarda. Entretanto, haveremos, igualmente, de noticiar sobre as medidas salvadoras do bem a fim de incentivar o otimismo. O "excremento mental" de expressiva parcela da humanidade geral, decorrente de hábitos primitivos e de atitudes perversas, con- tamina a psicosfera terrena com espessa "nuvem bacteriana" capaz de provocar desequilíbrios de variado matiz. Organizações que envelheceram nas técnicas do mal e da sor- didez, da crueldade e da inteligência beligerante, mais que nunca, agitam seus "bastonetes de ódio" contra as felizes investidas do Mais Alto em seus "Túmulos de Maldade". Essa matéria mental, por si só, representa pesado ônus para o psiquismo humano que, para se ver livre de seu contágio, carece de 43 severo regime de asseio nos pensamentos, nos costumes, na oração defensiva, na meditação e na ação benfazeja. Estamos todos, sem exceção, a serviço do programa regenera- tivo da humanidade, planejado pelo Cristo para instauração da Era do Espírito na Terra. Os corações apaixonados pelos interesses maiores assumem espontâneos retornos à vida material no desafio dos testemunhos. Outros tantos, que já se encontram nos ofícios de espiritualização, são convidados a trabalhar pela "escória das trevas" em ambos os planos de vida. Uma encarnação nesse clímax vale por mais duas, conside- rando o aproveitamento que se fará. Essa é a mensagem contida no Evangelho quanto aos traba- lhadores da última hora, que recebem salário igual, mas que suam com mais intensidade os seus membros no trabalho ativo. Quem desdenhar semelhante quadro aqui apresentado por nós, certamente estará optando pela ilusão que prefere tirar-nos a chance de enxergar e vislumbrar o desafio mais difícil e doloroso, em de- trimento das leiras confortáveis de labor, assemelhando-se ao la- vrador que, pretextando prudência, não sai ao sol, nem vai aos campos, aguardando farta colheita de frutos somente porque tem em seus celeiros os divinos grãos do espiritismo... Mensagens como essas ainda não devem ser dirigidas a uma comunidade que não se sente sensibilizada por trocar horas de lazer pela edificação moral. Se muitos aprendizes ainda vacilam em a- creditar que as trevas podem com grande mestria reencarnar os ver- dugos do vício e da veleidade, como acreditarão em propostas vol- tadas para o sacrifício e o desprendimento? Se muitos médiuns ain- da vacilam em deixar seus prazeres de fim de semana, corno rece- berão semelhantes notícias? Certamente, nesses casos, os "velhos chavões" funcionarão como escape e justificativa: "Por que mensagens tão desastrosas quando o espiritismo devem confortar?!" "Por que notícias tão tris- tes quando a função da Boa Nova é dar a boa notícia?!" Outros mais dirão: "A que pode nos conduzir essas idéias senão ao medo e terror?!" Ainda outros vão asseverar: "Com que fim, algum espírito do bem trataria desses assuntos?!" 44 As perguntas se multiplicarão, embaladas pelo desculpismo e pela invigilância dos que se acostumaram aos regimes de "dever cumprido" no limite das folgas. Porém, aos que destinamos essa convocação em regime de ur- gência, será pedido muito equilíbrio ante o medo de dar novos pas- sos e a prudência que, nós próprios, os conclamamos para não se perderem nos labirintos da fascinação e do fanatismo. — Tomaremos, portanto, medidas no intuito de apressar a formação de novos horizontes aos lidadores espíritas no que con- cerne à mediunidade. Que cada qual reúna sua equipe e defina os passos - arrematou Dona Modesta. 04 Novos Colaboradores Aliás, que importam algumas dissidências, mais deforma que de fun- do! Notai que os princípios fundamentais são os mesmos por toda parte e vos hão de unir num pensamento comum: o amor a Deus e a prática do bem" O Livro dos Espíritos, conclusão, item IX. Era chegado o momento de levarmos ao mundo físico um no- vo contingente de reflexões acerca das relações interdimensionais. Todas as atividades do nosocômio, especialmente as alas destinadas a médiuns e dirigentes, passariam por avaliações profundas no in- tuito de melhor atenderem aos desígnios dos Planos Maiores. Entre nós, os desencarnados, havia muito a ser feito. No dia posterior à palestra, reunimos com o professor Cícero Pereira. Discutimos algumas medidas para as tarefas de rotina junto ao pavilhão dos dirigentes espíritas. Seria de bom alvitre ampliar o raio das discussões, oferecendo maior liberdade aos recém- ingressos no Hospital. Suas impressões, ainda carregadas pelo teor 45 das idéias geradas no plano físico, constituem farto material educa- tivo. Nas atividades matinais, cujo objetivo é realizar o processo gradativo de adaptação e desilusão posf morfem, reunimos pequeno grupo de líderes espíritas recentemente desencarnados e passamos ao labor. O Professor Cícero fez breve resumo da predica "Atitudes de Amor", de Bezerra de Menezes21, passando em seguida a debater a seguinte questão: "Que dizer aos amigos na leira
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