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FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA PSICOLOGIA SOCIAL FERNANDA GÓES 2 Menu de Ícones O decorrer do texto desta apostila você encontrará alguns ícones que foram elaborados para facilitar o estudo e servir de ferramenta para sua compreensão Como intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo da apostila, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Elas são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada uma com uma função especifica, mostradas a seguir: 3 UNIDADE 01 Sumário REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 95 INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA SOCIAL 1.1 Conceitos da Psicologia Social 06 1.2 Qual o objeto de estudo da Psicologia Social? 15 1.3 As relações interpessoais seguindo a Psicologia Social 16 PROCEDIMENTOS HISTORICOS 2.1 A Psicologia Social e seu breve histórico 22 2.2. Principais teóricos da Psicologia Social 25 2.3.1. Psicologia Social no Brasil 31 2.4 Psicologia Social na contemporaneidade 34 UNIDADE 02 MÉTODOS E PRATICAS DE INTERVEÇÕES 3.1 Intervenções de ações coletivas 40 3.2 Intervenções psicossociais 43 3.3 Éticas de atuações 45 3.4 Métodos de investigação 48 UNIDADE 03 UNIDADE 04 CAMPOS DE ATUAÇÃO 4.1 Psicologia Social Organizacional 56 4.2 Psicologia Social escolar 58 4.3 Psicologia Social Comunitária 60 INDIVÍDUO E SOCIEDADE 5.1. A relação do sujeito com o meio social 67 5.2 Processos de socialização 69 5.3 Mediações psicossociais 73 COGNIÇÃO E MEIO SOCIAL 6.1 Cognição social 80 6.2 Comportamento antissocial: a agressão 84 6.3 Comportamento pró-social: o altruísmo 88 UNIDADE 05 UNIDADE 06 4 O percurso histórico que a psicologia social percorreu durante anos é muito importante para que possamos compreender a sua real finalidade. Nessa unidade vamos tentar pontuar, dentro dos caminhos da psicologia social, a sua origem até a sua chegada no Brasil. CONFIRA NO LIVRO UNIDADE Na primeira unidade, vamos destacar os conceitos abordados por autores, o objeto de estudo da psicologia social e as relações interpessoais. Nesse primeiro momento, tentaremos apresentar aspectos que possam facilitar o seu entendimento sobre o que de fato é a psicologia social e como podemos estudá- la adequadamente. Acreditamos que o conhecimento oferecido nessa unidade preparará você pra as próximas. Nessa unidade, apontaremos os métodos e meios de intervenções que podem ser utilizados em caso da aplicabilidade da psicologia social, analisando sua importância diante dos resultados que podem ser obtidos utilizando suas técnicas. Nesta unidade vamos focar nos campos de atuação, abordaremos o campo da psicologia social nas organizações, no trabalho, na comunidade e na escola, tentando apresentar um pouco das contribuições desta área para os âmbitos citados. A sociedade e o indivíduo são mencionados frequentemente em todo o texto, nesse sentido, nesta unidade ambos serão abordados de forma mais direta em relação as suas relações, seus processos e mediações psicossociais. Aqui será possível entender a cognição dentro dos processos psicossociais em relação aos comportamentos e como o meio pode influenciar isso tudo. A sexta unidade, “Filosofias contemporâneas”, objetivará apresentar o mundo em uma perspectiva atual. 5 INTRODUÇÃO A psicologia social apresenta uma ideia de que a sociedade e o comportamento do sujeito caminham sempre em conjunto. O homem é um sujeito social, e a cultura e os padrões sociais inflenciam muito em como ele se porta em seus meios de convivência. Nesse caso, entenderemos a psicologia social como uma ciência que consegue estudar os processos cognitivo, relacionando esses processos ao comportamento e a sociedade. Mesmo apresentando um objeto de estudo complexo, sabemos que ela tem se fundamentando em conceitos voltados para identidade, subjetividade e percepção que podem construir a visão de mundo do indivíduo. Nessa disciplina você aprenderá sobre os conceitos, histórias e temáticas relacionadas a psicologia social de uma forma que você possa comprender suas ideias e desenvolver a sua própria percepção a respeito do conteúdo. Bom estudo! 6 INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA SOCIAL 1.1 – Conceitos da Psicologia Social Desde o princípio da humanidade existem indícios de que nós, humanos, sempre vivemos em grupos. A socialização é um aspecto necessário para nossa sobrevivência e, com isso, podemos interagir e aprender uns com os outros. Essa forma de interação e de contribuição mútua pode resumir de forma breve o que é de fato a psicologia social. Os seus conceitos são estudados por vários autores na intenção de conseguir expressar as características, opiniões e pesquisas a respeito dessa área de conhecimento. Desde seu surgimento, no pensamento social europeu do século XIX, a Psicologia Social se definia como uma disciplina plural. A pluralidade, tanto de enfoques teóricos como de objetos de estudo, continuou caracterizando a Psicologia Social à medida que ocorria sua diferenciação e sua consolidação definitiva como disciplina científica independente, o que aconteceu simultaneamente na Psicologia e na Sociologia (ÁLVARO; GARRIDO, 2006, p. 40) Sendo assim, podemos afirmar que, segundo Lane (1981), a psicologia social busca entender o comportamento dos sujeitos, mostrando que existe uma influência social sobre eles. Essa influência ocorre desde o nascimento, e alguns estudos podem dizer que até antes, visto que, a família de origem desse sujeito também foi influenciada ao longo dos anos. Ou seja, é fácil compreender a psicologia social como uma área que estuda qual é a relação entre o sujeito e a sociedade, uma vez que essa necessita ser compreendida em nível histórico, isto é, como ocorre sua organização, costumes, valores e demais pontos que são necessários para que ela possa ter continuidade e se desenvolva. Diante disso, podemos compreender a psicologia social por meio de uma junção de ciências, como a psicologia e a sociologia. DeLamater (2003)dirá que, além disso, na atualidade a psicologia social é uma área que também tem procurado UNIDADE 7 entender a origem e as causas do comportamento social humano, a partir da hipótese de que os aspectos individuais e sociais se relacionam reciprocamente, sendo influenciados pelas condutas sociais e influenciando. Percebe-se que o outro nesse sentido, é bastante presente nas nossas ações. Essa associação da psicologia à sociedade também se baseia em uma ciência criada através de experimentos. Na perspectiva de Stephan e Stephan (1985)por exemplo, a psicologia social tem como objetivo estudar a experiência social que o sujeito obtém por meio da presença nos distintos grupos sociais em qual ele se inclui e participa. Na busca dos conceitos para mostrar como podemos definir melhor a psicologia social, também é importante apresentar a perspectiva de Torres e Neiva (2011), que pontuam a psicologia social como uma área de conhecimento que busca compreender o vínculo de reciprocidade entre o sujeito e o meio social que ele está presente. Por um lado, existe a influência que o indivíduo pratica sobre sua família, amigos e colegas ou até de pessoas que não conhece, e por outro lado, ela estuda o sujeito que recebe a influência de terceiros, em relação aos nossos comportamentos, experiências e sentimentos. É importante destacar que os processos cognitivostambém são estudados, uma vez que eles são intrínsecos ao comportamento humano. Ao contrário da psicologia, que foca na penalidade do indivíduo, a psicologia social tenta incluir outros aspectos voltados para a sociologia reforçando isso segundo Carvalho e Júnior (2017) que mencionam que distintamente da psicologia da personalidade, que estuda as características individuais do sujeito e, da sociologia, que busca compreender a influência cultural e institucional perante o comportamento dos sujeitos, a psicologia social procura entender as situações cotidianas, se interessando pela influência que Trabalhar como psicólogo social é um grande desafio, pois trabalhar com a comunidade para a comunidade apresenta algumas barreiras que devem ser enfrentadas, como podemos agir? Como criar políticas públicas de intervenção? O artigo sugerido vai nos ajudar a refletir mais sobre essas questões. Disponível em: https://bit.ly/3xgPLf2. Acesso em: 04 abr. 2020. 8 os ambientes sociais e as interações possuem nas atitudes e comportamentos individuais, como também levam em consideração fatores situacionais que podem afetar o comportamento social. Dessa forma, verifica-se que essas áreas possuem pontos semelhantes, porém analisam esses aspectos por meio de visões distintas. Com isso, entenderemos o conceito de psicologia social vinculado a algumas palavras chaves como: processos cognitivos e comportamentais dos sujeitos e relações sociais/interpessoais, que devem ser consideradas quando um profissional da área for atuar. Dessa forma, Ferreira (2010, p. 51) diz que: Em outras palavras, os psicólogos sociais da primeira vertente tendem a enfatizar principalmente os processos intraindividuais responsáveis pelo modo pelo qual os indivíduos respondem aos estímulos sociais, enquanto os últimos tendem a privilegiar os fenômenos que emergem dos diferentes grupos e sociedades. A ideia de que o comportamento humano pode ser afetado por suas interações faz da psicologia social uma área voltada para estudos psicossociais, esses aspectos citados relacionados ao seu conceito de ciência devem abranger também conceitos específicos que tem como finalidade explicar os processos envolvidos na psicologia social. Para que possamos compreender melhor, destacaremos de forma breve 6 (seis) conceitos presentes na definição da psicologia social, que são: subjetividade, identidade, grupos sociais, consciência, atitude e percepção. SUBJETIVIDADE Nesse vídeo disponibilizado no Youtube, podemos assistir uma breve introdução e resumo da psicologia social de acordo com os conceitos presentes em seu desenvolvimento como área de conhecimento. Disponível em: https://bit.ly/3wceO1M. Acesso em: 04 abr. 2020. O livro Psicologia Social Contemporânea está disponível através do link: https://bit.ly/3hxk6zx. Acesso em: 04 abr. 2020. 9 Figura 1: Cada mente tem sua carga Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2020) Cada um de nós apresenta características próprias e até mesmo opiniões sobre determinados assuntos, somos únicos em nossas particularidades como seres humanos. Todas essas características fazem parte da nossa subjetividade. A subjetividade indica o entendimento que possuímos sobre nós mesmos, nos permitindo elucidar a razão de um indivíduo se moldar a uma identidade única. “As posições que assumimos e com as quais nos identificamos constituem nossa identidade. A subjetividade inclui as dimensões inconscientes do eu, o que implica a existência de contradições” (WOODWARD, 2000, p. 55) Ao falar de subjetividade, Morais (1992) relata que se trata de algo interno para o externo em constante relação, é algo subjetivo, de uma relação essencial ao sujeito. Trata-se da propriedade constitutiva do fenômeno psíquico do sujeito autoconsciente e pensante, que só pode ser experimentado por ele. Caracteriza, pois a interioridade da pessoa, o seu caráter de individualidade irredutível a qualquer conceito geral. Por isso se usa também numa acepção concreta para indicar o campo das realidades subjetivas (MORAIS, 1992, p. 1321). Existe também uma relação dialética com a objetividade, além disso, a construção dessa subjetividade se dá através de suas relações pessoais, no viés da psicologia social o sujeito não constrói isso sem a ajuda do outro. IDENTIDADE 10 Figura 2: Cada sujeito tem suas particularidades Fonte: Acervo pessoal da Autora (2020) A identidade também é relacionada ao nosso “eu”, mas ela é mais específica, como por exemplo: Onde eu moro? Qual minha idade? Meu sexo? Qual a cor do meu cabelo? Da minha pele? Que classe eu pertenço? Quais meus gostos e posicionamentos? A identidade pode ser entendida pelas diferenças visíveis em relação ao outro. Para que possamos entender melhor sobre a identidade, Fialho (2017) relata que ela é formada por aspectos que podem leva-nos às especificidades e diferenças do caráter de um indivíduo ou o caráter de um grupo específico. Alguns pontos dessa identidade são advindos dos contextos em que o sujeito está incluso, que propiciam interações que vão contribuir e influenciar a construção de sua identidade. Sendo assim, é um processo que depende das relações sociais que o sujeito vai construindo ao decorrer da sua vida. Podemos trazer também a ideia de com Cuche (1999) pois além do que já foi dito, o autor ressalta que a identidade social do sujeito é caracterizada pela união dos seus vínculos em um sistema social que pode ser por classe sexual, classe de idade, classe social, nação, e etc. Dessa forma, podemos dizer que a identidade faz com que o sujeito se encontre no sistema social. Além disso, também devemos destacar a forma que esse ambiente possibilita as construções do eu, até mesmo no quesito emoção, pois essa identidade social pode ser entendida como propõe Tajfel (1978) como a que faz o sujeito se incluir em diversos grupos sociais construindo vínculos emocionais, englobando não só o que a natureza influencia, mas a importância subjetiva que os comportamentos presentes no ambiente físico e social dos grupos e individual proporcionam. 11 GRUPOS SOCIAIS Os grupos sociais são os grupos que se formam por algum motivo, seja pessoal ou profissional. As trocas de experiências e as relações constituídas oferecem vivências capazes de construir nossa personalidade. Figura 3: Vivemos nos comunicamos entre nós Fonte: Acervo pessoal da Autora (2020) Tajfel (1983) ao estudar grupos sociais constatou que tais grupos são fundamentais no processo de construção de uma realidade psicológica e de identidade social do indivíduo que faz parte dele. Esses grupos conseguem fazer parte de nossa vida desde o nosso nascimento, nossa família, nossa escola e mais tarde, teremos amigos e grupos de trabalhos. Nessa perspectiva, Lane (1981) aponta que precisamos de outras pessoas para sobreviver, no mínimo duas pessoas, isso já nos faz integrante de um grupo. Toda nossa vida será voltava para participar de diferentes grupos, sejam aqueles que precisamos para sobreviver ou aqueles circunstanciais ou esporádicos que participamos para atingir alguns objetivos. Nesse sentido, podemos entender grupos sociais como um agrupamento com mais de duas pessoas que interagem de maneira regular, compartilhando ideais, identidades, valores e interesses semelhantes. CONSCIÊNCIA 12 Na psicologia social, a consciência é onde é processado tudo que aprendemos com o meio em que vivemos. É com ela que guardamos o externo no interno e selecionamos o que de fato achamos coerente para praticar. Figura 4: Nossas vivencias nos permite escolher onde seguir Fonte: Acervo pessoal da Autora (2020) Fiuza (2011, p. 36) dirá que: A consciência é um fenômeno pessoal e representa uma propriedade de nosso corpo, provavelmente docérebro. Entendemos ainda que seu conteúdo é variado, englobando percepções, pensamentos, memórias, emoções e todo tipo de cognição. O autor também complementa dizendo que nossa consciência nos proporciona a noção que temos do mundo (visão de mundo), fazendo com que pudéssemos aprender a língua, conhecer locais e pessoas e presenciar situações, como também tornou possíveis as atitudes para nossa sobrevivência. Ela nos permite pensar, armazenar informações e emoções, perceber o mundo, também nos propicia uma noção básica sobre nós mesmos e auxilia a nos distinguir do restante das coisas, nos fornecendo a noção de indivíduo. ATITUDES Precisamos entender que as atitudes são aprendidas mediante ao meio em que vivemos, nossas atitudes dependem do nosso meio social. Rodrigues (1999)como também Savoia (1989), dirão que as atitudes podem ser aprendidas, nos auxiliam a lidar com o meio social e podem ter um viés que surtirá um efeito positivo ou negativo, tendo funcionalidade por meio da cognição, podendo ser entendida como as crenças, 13 o afeto, que são os sentimentos e emoções, e o comportamento, que está relacionado às intenções. As atitudes sociais são predisposições a comportamentos em determinadas situações, derivadas de valores internalizados durante o processo de desenvolvimento de cada pessoa (CHAHINI, 2012, p. 1) Nesse contexto podemos usar a definição de Rodrigues; Assmar e Jablonski (2009)sobre a atitude social dizendo que é uma organização permanente de crenças e cognições em geral, abastecida de uma carga afetiva, seja ela a favor ou contra determinado objeto social definido, que possui uma conduta harmônica com as cognições e afetos referentes a esse objeto. PERCEPÇÃO Stenberg (2000) menciona ainda que existem duas teorias principais de percepção: a percepção construtiva e a percepção direta. A primeira se refere a criação de uma percepção mediante um estímulo por meio de informações sensoriais e acrescenta outras informações já existentes. A segunda está relacionada com as informações provenientes dos receptores sensoriais, incluindo o ambiente. A percepção é um conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais. A percepção abrange muitos fenômenos psicológicos”. (STENBERG, 2000, p. 110) Já de acordo com Bock; Furtado e Teixeira (1999)a percepção é um processo iniciado no recebimento do estímulo pelo órgão sensorial e segue até a atribuição de significado ao estímulo. Ou seja, na percepção há um mecanismo pelo qual o sujeito vai selecionar, organizar e interpretar com objetivo de criar significados sobre o mundo. 1.2. Qual o objeto de estudo da Psicologia Social? 14 Não é difícil identificar que a psicologia social apresenta um objeto de estudo bem complexo, apesar de ser diferenciado ao comportamento social, sabemos que esse comportamento social abrange outras variáveis que podem dificultar a compreensão. Alguns autores defendem que existe mais de um objeto de estudo, Lane (1981), por exemplo, menciona que os comportamentos humanos se relacionam diretamente com aspectos sociais, e dificilmente não haverá relação entre eles, sendo esses aspectos o enfoque da psicologia social. Para a autora, existe mais de um objeto de estudo, sendo eles: Violência; Relação de gênero; Comunicação; Exclusão; Identidade social; Consciência de si; Família; Escola; Trabalho e classe social; Grupos; Status social; Liderança; Estereótipos; Motivação; Atitudes; Opiniões; Preconceitos. Segundo Ferreira (2010) as mudanças que ocorreram ao longo do surgimento da psicologia social e as diferentes abordagens teóricas utilizadas para geração dos seus conhecimentos dificultaram a definição do seu objeto de estudo, ou dos diversos objetos. Todavia o vínculo do indivíduo com a sociedade, sempre se manteve como foco principal entre os psicólogos sociais. 15 Dessa forma, podemos dizer então que o objeto de estudo da psicologia social são os comportamentos, pensamentos e sentimentos do sujeito quando ele se encontra em interação com outros indivíduos ou em um ambiente social. A confusão da psicologia social com a psicologia comunitária entre seus objetos e objetivos também existe com frequência, porém o artigo indicado a seguir pode nos ajudar a organizar melhor nosso pensamento a respeito: 1.3. As relações interpessoais Como já dito, nós somos sujeitos sociais, que precisamos nos relacionar em todo momento da vida para adquirir experiências e conhecimentos, e assim construir a nossa própria visão de mundo. As relações interpessoais fazem parte das relações humanas, que acontecem quando existe um grupo social (grupo de duas ou mais pessoas). Essas relações humanas são praticadas de forma que exista respeito ao outro, nesse sentido, Cordeiro (1961 )afirma que: Praticar relações humanas significa, portanto, muito mais do que estabelecermos e/ou mantermos contatos com outros indivíduos. Significa estarmos condicionados, nessas nossas relações, por uma atitude, um estado de espírito ou uma maneira de ver as coisas, que nos permita compreender o nosso interlocutor, respeitando a sua personalidade, cuja estrutura é, sem dúvida, diferente da nossa. Isto quer dizer que praticar relações humanas não equivale simplesmente a "amar ao próximo como a nós mesmos", pois o que é bom para uns não é necessariamente válido para outros, em decorrência das diferenças de composição e estrutura de suas necessidades. (CORDEIRO, 1961 , p. 20) O artigo indicado apresenta os pressupostos de estudos e prática de Psicologia Social e de Psicologia Comunitária segundo os autores Bock, Lane e Góis respectivamente. Também aborda os conceitos dessas práticas, bem como o campo de atuação e possíveis instrumentos de trabalho. Destaca que a Psicologia Social procura compreender os comos e os porquês do comportamento social. Já a Psicologia Comunitária atua na resolução de problemas da comunidade ao invés dos problemas particulares de indivíduos. Disponível em: https://bit.ly/3dEzJEe. Acesso em: 20 abr. 2021. 16 É preciso que exista interação entre as pessoas para que ocorra uma relação interpessoal, o diálogo e a comunicação são características presentes em seu conceito. Dentro desse relacionamento também existem conflitos devido às diferenças e as relações de poder. Essa temática é muito abordada em ambientes organizacionais, pois em empresas existe uma grande demanda em relação isso. Relação interpessoal se trata de uma temática muito usada para lidar com ambientes organizacionais, o artigo a seguir ajudara você a compreender mais sobre o assunto. Disponível em: https://bit.ly/3qHWhJs. Acesso em: 20 abr. 2021. Renata Tavares e Samon Noyama (2017), na obra “Textos clássicos de filosofia antiga: uma introdução a Platão e Aristóteles”, realizam uma importante leitura acerca dos tópicos principais dos pensamentos platônicos e aristotélicos. Disponível em: https://bit.ly/2UkYUox. Acesso em: 20 abr. 2021. 17 1) A psicologia social é uma área nova da Psicologia, voltada para estudos psicossociais, podendo ser considerada como a área responsável por estudar: a) A relação entre o comportamento humano do sujeito e sua família. b) O comportamento dos sujeitos, mostrando influência social existente sobre eles. c) A percepção que o sujeito tem do mundo e do seu meio social. d) As relações humanas existentes em determinado grupo. e) O comportamento individual do sujeito sem a interferência do meio social. 2) Existem alguns conceitos muito utilizados em psicologia social que ajudam a entender os processos envolvidos nela. Esses seis conceitos basicamentesão: a) Relacionamento, atitude, comportamento, percepção, subjetividade e consciência. b) Identidade, consciência, atitude, sensação, comportamento e grupos sociais. c) Atitudes sociais, comportamento, consciência, subjetividade, identidade e percepção. d) Percepção, consciência, identidade, atitude, grupos sociais e subjetividade. e) Grupos sociais, relações humanas, consciência, identidade, atitude e subjetividade. 3) Sternberg (2000) afirma que existem 2 tipos principais de percepção, sendo elas: I. A Percepção construtiva se refere a criação de uma percepção mediante um estímulo por meio de informações sensoriais e acrescenta outras informações já existentes e a Percepção direta que está relacionada com as informações provenientes dos receptores sensoriais, incluindo o ambiente. II. A Percepção direta que está relacionada com as informações provenientes dos receptores sensoriais, incluindo o ambiente e Propriocepção que é a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão III. A Percepção construtiva se refere a criação de uma percepção mediante 18 um estímulo por meio de informações sensoriais e acrescenta outras informações já existentes e a Percepção social que consiste na capacidade de ver e interpretar o comportamento de outros indivíduos e é essencial para a interação social. IV. A Percepção direta que está relacionada com as informações provenientes dos receptores sensoriais, incluindo o ambiente e a Percepção social que consiste na capacidade de ver e interpretar o comportamento de outros indivíduos e é essencial para a interação social. A alternativa correta é: a) III b) I c) II d) Nenhuma das alternativas e) IV 4) O conceito de “predisposições a comportamentos em determinadas situações, derivadas de valores internalizados durante o processo de desenvolvimento de cada pessoa” se refere a: a) Consciência b) Percepção c) Atitudes d) Pensamento e) Grupos sociais 5) O diálogo e a comunicação são características fundamentais que estão presentes em ___________. A afirmação refere-se ao conceito de: a) Grupos sociais b) Atitudes sociais. c) Percepção social. d) Relações interpessoais e) Nenhuma das alternativas 19 6) O local é onde é processado tudo o que aprendemos com o meio em que vivemos é conhecido na psicologia social como: a) Subjetividade. b) Consciência. c) Linguagem. d) Sistema Nervoso. e) Percepção. 7) Alguns autores afirmam que devido as diversas mudanças que ocorrem na psicologia social, seu objeto de estudo é difícil de identificar. Analise as opções abaixo sobre o objeto de estudo da psicologia social. I. Comportamentos, pensamentos e sentimentos do sujeito quando ele se encontra em interação com outros indivíduos ou em um ambiente social. II. Apenas a Violência; Relação de gênero; Comunicação; Exclusão; Identidade social; Consciência de si. III. O vínculo existente entre o indivíduo e a sociedade IV. A subjetividade humana, incluindo todos os elementos possíveis que podem existir e interferir. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) II e IV. c) Todas as alternativas. d) I e III. e) I, III e IV. 8) O conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais é conhecido como: a) Consciência. 20 b) Sensação. c) Percepção. d) Pensamento. e) Linguagem. 21 PROCEDIMENTOS HISTÓRICOS 2.1. Psicologia social e seu breve histórico Para entender os processos históricos vivenciados pela psicologia social precisamos compreender que essa área do conhecimento passou por uma série de estudos e perspectivas sociais para hoje, alcançar a visibilidade que tem na sociedade. Falar da psicologia social remete-se falar da sociedade, cultura e comportamento humano que possuem aspectos presentes na história desde os tempos primitivos. Nessa época começou o processo de civilização, onde se deu início às primeiras comunidades, estabelecendo relações sociais que foram resultantes do trabalho da agricultura e da criação de animais. Araújo (2006) afirma que nessa era primitiva as relações sociais começaram a se firmar através das trocas de bens que precisavam ser feitas, associando também isso às relações econômicas. Essas trocas poderiam ser “as trocas de favores, de presentes, de saberes, de informações, de afetos” ações essas que são essenciais desde sempre (ARAUJO, 2006). Essa relação com outro começou a ser estudada logo depois, sempre existiu, mas só teve visibilidade diante da psicologia durante o século XX. Para entender o trajeto da psicologia social é necessário compreender que a mesma partiu da origem da psicologia, Schultz e Schultz (2007) ressaltam que ela foi reconhecida como ciência na Alemanha em 1879, no Laboratório de Psicologia Experimental, por meio do médico Wilhem Wundt, permitindo assim um desmembramento da Filosofia, convertendo a Psicologia em uma ciência independente. UNIDADE 22 Após os estudos, “a psicologia é usualmente definida como ciência do comportamento humano e a psicologia social como aquele ramo dessa ciência que lida com a interação humana” (GERGEN, 2008, p. 475) Entender a psicologia social como um ramo da psicologia é de suma importância para saber que ela não é tão recente como imaginamos, mas que obteve força há pouco tempo. González Rey (2004) afirma que a psicologia social positivista originou-se no início do século XX, nos Estados Unidos, visando estudar o social exclusivamente por intermédio dos efeitos específicos de determinados aspectos no comportamento humano. O termo “psicologia social” foi usado pela primeira vez na primeira metade do século XX, em 1908, em dois livros distintos, motivo que levou esse ano a ser classificado por vários estudiosos como o de criação da disciplina de acordo com Torres ; Neiva (2011) Os dois livros considerados como principais na criação da psicologia moderna são “Uma introdução a psicologia social” (Introductionofsocial psychology) escrito por William McDougall e “Psicologia social: uma resenha e um livro texto” (Social Psychology) de Edward Ross, conforme Pepitone (1981) Contudo, Álvaro e Garrido (2006) afirmam que essa escolha foi aleatória e sem justificativa, pois, primeiramente não considerou as obras de Gabriel Tarde “Estudios de Psicología Social” (1898) e “Algunos prolegómenos a lapsicología social” (1901), “Estudando a psicologia numa dimensão histórico-social, é possível entender a sua constituição em ciência e entender seus debates atuais no interior mesmo das relações sociais desenvolvidas pelos homens. Concebemos, como primeiro ponto a ser levado em conta, que a psicologia não é uma criação mágica ou abstrata. Pelo contrário, é uma criação humana e bem concreta: inicialmente, enquanto ideias psicológicas imersas na filosofia; depois, enquanto disciplina científica, tendo, nos dois momentos, o objetivo de compreender as ações, as atitudes, os comportamentos e tantos outros estados subjetivos humanos que se revelam dinamicamente na relação dos homens entre si no mundo em que vivem”. Disponível em: https://bit.ly/3hcuePi. Acesso em: 20 abr. 2020. 23 de Charles Elwood, como também sugeriram que nem sempre o título do livro se relaciona diretamente com o seu conteúdo. A Psicologia Social, mesmo com suas origens na Europa, é um acontecimento particularmente americano, conforme comenta Farr (2002). Além disso, essa teoria é confirmada por Gonzaléz Rey (2004) onde relata em suas pesquisas que durante a década de 1930, diversos pesquisadoresmigraram para os Estados Unidos, o que causou profunda influência no desenvolvimento da psicologia social no país. Autores como Bernardes (1998)e Gonzaléz Rey (2004)mencionam que a migração dos psicólogos gestaltistas é considerada a mais importante, e que mesmo não realizando psicologia social em solo europeu, quando confrontados com o behaviorismo que, na época predominava nos Estados Unidos, foram responsáveis pela criação da Psicologia Social Cognitiva. Em seu percurso histórico ela se alimentou de muitas teorias e ciências que possibilitaram sua construção como ramo da psicologia. Torres e Neiva (2011) ressaltam que: A psicologia social se beneficia de teorizações oriundas dos grandes sistemas psicológicos (behaviorismo, gestalt, psicanálise, etc.), mas também apresenta teorizações próprias desenvolvidas a partir das pesquisas realizadas nos últimos 60 anos (TORRES; NEIVA, 2011, p. 31). Em síntese, Almeida (2012)afirma que a psicologia social teve sua imersão em terras norte-americanas durante o século XX. Na década de 1930, o behaviorismo era considerado dominante e promoveu um entendimento dos indivíduos na sociedade, uma vez que ele entendia que a psicologia individual poderia ser utilizada para entender a sociedade. O avanço de Hitler na Alemanha, acabou sendo o ápice para que os pesquisadores gestaltistas imigrassem, favorecendo o aparecimento da psicologia social cognitivista, que em comum com a behaviorista, defendia a postura individualizante, separando o sujeito e a sociedade. “A Psicologia social passou a ser compreendida como o estudo das interações humanas e debruçou-se sobre os problemas relativos às atitudes e aos valores, que podiam ser negativos, como o preconceito, ou positivos, como a liderança. Outro foco bastante abordado pela psicologia social norte-americana foi o funcionamento do grupo como dispositivo de produtividade, seguindo as demandas do capitalismo avançado daquele país.” (ALMEIDA, 2012, p. 126) 24 Além disso, o autor relata que a soberania da psicologia social norte-americana se deu na pós-segunda guerra, visto que as universidades europeias e japonesas estavam sendo reconstruídas, como também acontecia um processo de colonização cultural das Américas, fatos que antecederam o surgimento da crise da psicologia social na década de 70. 2.2. Principais teóricos da Psicologia Social A psicologia social foi fundamentada com base em diversos teóricos que tinham o objetivo de conhecer o comportamento social dos sujeitos e entender como funcionava a relação meio e indivíduo. Figura 5: Charles Darwin Fonte: Pixabay (2020) Torres e Neiva (2011) ressaltam que, a teoria da evolução proposta por Charles Darwin exerceu grande influência sobre a psicologia. Em seu livro "Origem das espécies", Darwin formulou a hipótese de que o ser humano é resultado de um processo evolutivo, e que desenvolveu a capacidade de se adaptar a ambientes físicos e sociais. “Ao longo das gerações, propunha Darwin, os hábitos que levam ao bem coletivo seriam mais frequentes e os que levam ao benefício individual desapareceriam” (PORTUGAL, 2007 , p. 140) 25 Figura 6: Herbert Spencer Fonte: Disponível em https://bit.ly/3w7y8ND. Acesso em: 20 abr. 2020. Ainda segundo Torres e Neiva (2011), Spencer publicou a obra "Princípios da psicologia", em que se baseava na teoria de Darwin e a aplicava em assuntos como desenvolvimento humano, culturas e grupos. Ele defendia a ideia de que nações mais evoluídas eram superiores as mais atrasadas em relação à escala de evolução, visto que possuíam maior capacidade de adaptação e organização. Tanto ele, como Darwin, influenciou a psicologia no século XX. Darwin esteve no Brasil na década de 1830 conheceu as florestas, insetos e botânica do país, nos trajetos de ida e de volta de sua viagem. Ao todo, ele permaneceu cinco meses. Disponível em: https://bit.ly/36c9y3z. Acesso em: 20 abr. 2020. 26 Os dois autores citados até agora foram os principais fundadores da psicologia social na Inglaterra. Figura 7: Wilhelm Wundt Fonte: Psicoativo (2020) Jacques (2014) menciona que Wilhelm Wundt criou entre 1900 e 1920 sua obra com 10 volumes, denominada "Psicologia das massas" Volkerpsycologie. Nessas obras ele abordava conteúdos como pensamento, cultura, linguagem, costumes e religião. Ele também é considerado o pai da psicologia, criando em 1879, na Alemanha, o laboratório em psicologia, tendo como objetivo estudar a experiência imediata à consciência. Para Mcgarty e Haslam, (1997)a psicologia dos povos visava estudar os principais aspectos em comum do pensamento coletivo do povo alemão. Na perspectiva de Torres e Neiva (2011)na sua obra, eles definem a mente como sendo proveniente da cultura e da linguagem de um poço específico, só podendo ser compreendida a partir de termos coletivos. A psicologia dos povos Herbert é considerado o fundador da teoria do darwinismo social que defendia que as classes diferenciadas formariam a seleção natural na sociedade. Teve grande influência em estudiosos como Durkheim. Disponível em: https://bit.ly/36c9y3z. Acesso em: 20 abr. 2020. 27 influenciou principalmente a psicologia social sociológica, sendo Wundt o principal percussor da psicologia social na Alemanha. Figura 8: Emile Durkeim Fonte: Infoescola (2020) Para Torres e Neiva (2011), Durkheim é considerado como um dos teóricos que fundou a sociologia, publicou vários livros que falam da evolução da sociedade. O teórico exerceu influência direta sobre Serve Moscovici, psicólogo social, que desenvolveu anos depois a teoria das representações sociais. Sua obra que influenciou diretamente a psicologia social europeia é intitulada “Representações Wilhelm Wundt (1832-1920) é geralmente celebrado nos manuais de história da psicologia como o fundador da psicologia científica. Como data para esta fundação, é frequentemente citado o ano de 1879, quando ele inaugurou o Laboratório de Psicologia Experimental na Universidade de Leipzig, supostamente o primeiro em seu gênero. Disponível em: https://bit.ly/369xd4w. Acesso em: 20 abr. 2020. O livro Psicologia Social está disponível através do link: https://bit.ly/3hmYJAQ. Acesso em: 20 abr. 2020. 28 individuais e representações coletivas” de 1898, onde de acordo com Melo Neto (2000) ele criou a ideia de representações coletivas. O teórico exerceu influência direta sobre Serve Moscovici, psicólogo social, que desenvolveu anos depois a teoria das representações sociais. Figura 9: Gabriel Tarde Fonte: Maestrovirtuale (2020) Gabriel Tarde publicou a obra denominada "As leis da imitação", em 1890, onde defendia a ideia de que a vida social tem como base a imitação. Segundo Álvaro e Garrido (2006) as pessoas tendem a imitar as outras, principalmente as de baixo status social que imitam as de maior status, iniciando a imitação pela cultura nacional Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo francês. É considerado o pai da Sociologia Moderna e chefe da chamada Escola Sociológica Francesa. É o criador da teoria da coesão social. Junto com Karl Marx e Max Weber, formam um dos pilares dos estudos sociológicos. Disponível em: https://bit.ly/3w7mKkI. Acesso em: 04 abr. 2020. A "psicologia social" que Tarde ajudou a construir foi uma temática que se difundiu entre o fim da década de 1880 e os primeiros anos do século XX, numa conjuntura intelectual de definição e de institucionalização de novas disciplinas na área de ciências sociais. Disponível em: https://bit.ly/3ygkXLz. Acesso em: 04 abr. 2021. 29 e seguindo para a estrangeira. A obra de Tarde influenciou Edward Ross, que publicou posteriormente um dos primeiros livros de psicologiasocial. Figura 10: Gustavo Le Bon Fonte: Infoescola (2020) Para Torres e Neiva (2011) Gustav Le Bom, que publicou em 1895 o livro intitulado "Psicologia das multidões", influenciou a atuação de diversos psicólogos sociais. O teórico defende a ideia de que quando o sujeito entra em contato com uma multidão, sua personalidade é reprimida e ele acaba sendo influenciado pelo comportamento coletivo. Ou seja, sua racionalidade entra em questão e o indivíduo pode tomar decisões que não tomaria se estivesse sozinho. Para o teórico os povos são compostos por sujeitos de personalidades diferentes, porém quando o sujeito está em contato com o grupo perde a autonomia e age de acordo com o comportamento coletivo. Os três teóricos citados acima são considerados os percussores da psicologia social na França. 2.3 Psicologia Social no Brasil 30 A história da psicologia social no Brasil foi marcada por uma longa jornada de conhecimento, mesmo que os primeiros estudos publicados que se referiam a aspectos psicossociais passaram a surgir a partir de 1930, de acordo com Bonfim (2003)apenas em 1962 teve a institucionalização da psicologia social, que segundo Ferreira (2010)foi realizada quando o Conselho Federal de Psicologia (CFP) emitiu o parecer 403/63, onde foi criado o currículo mínimo para os cursos de Psicologia, e assim tornando obrigatória a disciplina de psicologia social. Associação Brasileira de Psicologia Social - ABRAPSO (2009) relata que o início dos estudos da psicologia social no Brasil começou com a ideia dos Estados Unidos no século XX, aproximadamente no ano de 1960 a 1970. Porém, esse começo tratava-se de uma Psicologia Social muito extrema que foi motivo de movimentos contrários que pudessem propor uma nova ideia de psicologia social no Brasil. Essa onda iniciou em 1980 pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Reforçando tais ideias, Jacques et al. (2014) nas décadas de 1960/1970 no Brasil, a psicologia social seguia um caminho muito parecido com a forma de psicologia social vinda dos Estados Unidos, esse aspecto pode ser observado em alguns livros de psicologia social da época. A partir dessa falta de contextualização com o Brasil, em 1970 surgiu a crise denominada “crise da psicologia social” ou “crise de referência”. Depois de alguns movimentos criados pelos psicólogos sociais, em 1980, no Brasil, surge a Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), contando com pesquisadores como Silvia Lane. Lane e Codo (1984) organizam a obra considerada como fundamental para o rompimento da psicologia social brasileira “Psicologia social: o homem em movimento”, onde a ruptura com a psicologia social norte-americana é explicitada. Para Carvalho e Dunker (2006)esse movimento foi de extrema importância para a psicologia social no Brasil, pois integra nos tempos atuais uma das principais correntes da Psicologia brasileira, buscando abordar, acima de tudo, as dificuldades sociais encaradas, tais como: desigualdade social, pobreza, violência doméstica, moradores de rua e privação da escola. Hoje, podemos colocar a psicologia social complementada com avanços causados também pelo território brasileiro, pois segundo Bernardes (1998) a entrada da psicologia social no Brasil pode apresentar características próprias da cultura e valores presentes em nosso país. 31 Sobre a psicologia social no ano de 1964, Lane (1994) ressalta que esse momento histórico contribui bastante para as práticas sociais em relação ao trabalho do psicólogo, favorecendo o lado reflexivo dos profissionais enquanto atuantes a pessoas carentes. Ainda nesse cenário, Silva e Corgozinho (2011)afirmam que após um curto período de tempo, logo depois da Psicologia ser considerada como profissão no Brasil, a ditadura militar (1964) foi instaurada, censurando o processo de formação e exercício profissional dos psicólogos, vetando que o tema “social” fosse colocado e divulgado nos currículos. Segundo Cordeiro (2012)a psicologia social brasileira é um campo de conhecimento que possui diversas definições, objetos de estudo e abordagens teóricas. Alguns teóricos defendem a ideia de que ela seja um campo da Psicologia, já outros a consideram um encontro da sociologia com a psicologia, como ainda existem alguns que garantem que compromisso social do psicólogo é mais importante que o adjetivo social utilizado para a delimitar. Existindo diversos psicólogos sociais que são behavioristas, psicanalistas, cognitivistas e comunitários. A mesma autora, em suas pesquisas, identificou que alguns teóricos que realizaram textos sobre psicologia social no Brasil, como: Bernardes (2001), Tittoni, Jacques (2001), Bock (2008), Furtado (2001), Teixeira (2003), Mancebo (2000), Jacó- Vilela, Rocha (2003), Ferreira (2011), apud Cordeiro (2012), mencionam que existem dois momentos da psicologia social, um que a caracteriza antes da crise, em 1970, e outro após. Todos esses estudiosos comentam que o primeiro momento é sinalizado pela supremacia da psicologia social norte-americana, Rodrigues era o principal representante brasileiro, e era baseada no positivismo. O segundo momento foi caracterizado por realizar fortes críticas ao modelo biologicista, e, sobretudo, por legitimar que a psicologia social era uma ciência vinculada a mudanças sociais. Ferreira (2010) menciona que, da década de 1980 em diante, os cursos de pós- graduação em psicologia social começaram a surgir, que foram essenciais na O início da psicologia também foi marcado pela ditadura militar de 1964, esse contexto contribui de forma significativa para a construção dessa área de conhecimento, nesse contexto, as sequelas existentes no cenário da época deram espaço à atuação de psicólogos, que você pode entender mais nesse artigo sugerido. Disponível em: https://bit.ly/3xg7nYx. Acesso em: 04 abr. 2020. 32 construção de linhas distintas de pesquisa no campo da psicologia social, guiadas por padrões e tendências variadas, como também, nessa mesma época, a produção científica em psicologia social teve um avanço significativo. Nesse processo de crescimento da área, Araújo (2008)comenta que, o crescimento da psicologia social se deu no Brasil, frente aos alvoroços sociais e políticos do país. Foram surgindo nas organizações e instituições técnicas de dinâmicas de grupo e ações psicossociologias, dando prioridade as relações empresariais e interpessoais. Quando o país ainda enfrentava a ditadura militar e vivenciava confrontos frequentes, por volta da década de 1980, esse período foi de extrema importância para a psicologia social, pois, segundo Bonfim (2003)ela procurou criar sua independência científica, por meio de várias ações, tais como: aumento significativo do número de publicações, explicação minuciosa de assuntos já abordados e a inserção de outros, expansão da divulgação de aplicações da psicologia social, enfatizando sua atuação em comunidades necessitadas. Araújo (2008)afirma que essa década foi crucial para a psicologia social, pois houve um crescimento de publicações na área e foram criados os primeiros doutorados também na área, com a defesa de várias teses. 2.4 Psicologia Social na Contemporaneidade Falar do papel e das contribuições que a Psicologia social apresenta hoje é de suma importância para contextualizá-la melhor. Bernardes (1998)cita que a psicologia social, atualmente, se mostra mais histórica e contextualizada, preocupando-se mais com os valores, a cultura e os costumes tanto brasileiros quando latino-americanos. No estudo de Ferreira (2010)é possível verificar as diferentes realidades apresentadas da psicologia social nos mais diversos lugares, principalmente no Brasil, na América Latina, na América do Norte e na Europa. Na Europa há prevalência da Psicologia Social Sociológica, utilizando métodosexperimentais/não-experimentais, com objetivo de esclarecer os processos velados que existem nas relações dos grupos sociais e entre grupos sociais distintos. 33 Ainda na mesma perspectiva, na América do Norte, a Psicologia social psicológica é a que rege, tendo base cognitivista e experimental, enfatizando principalmente os acontecimentos e processos subconscientes que influenciam na relação do sujeito com a sociedade em que vive. Na América Latina e no Brasil, a psicologia social crítica é a predominante, se importando com as questões sociais, buscando criar um conhecimento próprio e entender fenômenos sociais. Todavia, no Brasil também existem publicações referentes às três visões da psicologia acima citadas. A Psicologia Social, atualmente conhecida nos mais distintos centros de estudo e trabalho, teve sua origem por meio de profissionais que se comprometeram em suas atuações, que conseguiram verificar as necessidades expostas em seus campos de atuação. São profissionais que presenciaram a crise da psicologia social, mencionada anteriormente, e que de alguma forma buscaram expor a realidade social distinta da mostrada nos centros de comando político, científico e econômico, menciona Freitas (2000) Podemos considerar que existiu uma grande evolução no percurso histórico da Psicologia social que contribuiu de forma significativa para sua construção como área do conhecimento, suas formas de construir conhecimentos a respeito do comportamento social estão sempre em constantes transformações. Psicologia social já evoluiu muito se compararmos com seu inicio, hoje ela apresenta vertentes que podem nos ajudar em questões sociais e melhorar nossos experimentos, dessa forma é muito importante à reflexão sobre seu papel e sobre os novos cenários que vão surgindo para que se busque formar de soluções no meio social. O artigo sugerido a seguir ajudará você a compreender e refletir sobre essas questões. Disponível em: https://bit.ly/3hrzLQM. Acesso em: 20 abr. 2020. 34 1) Apesar da psicologia social ter surgido na Europa, a mesma teve grande parte de seu desenvolvimento em outro país. Sendo o principal aspecto para esse fato: a) A criação da Psicologia social positivista na Itália. b) A mudança de pensamento dos pesquisadores, levando suas ideias para América Latina. c) A migração dos psicólogos gestaltistas para os Estados Unidos, o que causou profunda influência no desenvolvimento da psicologia social no país. d) O surgimento do behaviorismo na Europa, onde os pesquisadores decidiram levar suas ideias para América do Norte. e) Nenhuma das alternativas acima. 2) Em 1908, dois livros foram publicados se referindo ao termo “Psicologia social”, o que levou alguns estudiosos a definirem esse ano como o de criação da disciplina, esses livros são: a) Uma introdução a psicologia social” (Introductionofsocial psychology) de William McDougall e “Estudios de Psicología Social” de Gabriel Tarde. b) “Uma introdução a psicologia social” (Introductionofsocial psychology) escrito por William McDougall e “Psicologia social: uma resenha e um livro texto” (Social Psychology) de Edward Ross. c) “Psicologia social: uma resenha e um livro texto” (Social Psychology) de Edward Ross e “Algunos prolegómenos a lapsicología social” de Charles Elwood. d) “Algunos prolegómenos a lapsicología social” de Charles Elwood e Uma introdução a psicologia social” (Introductionofsocial psychology) de William McDougall. e) “Estudios de Psicología Social” de Gabriel Tarde e “Algunos prolegómenos a lapsicología social” de Charles Elwood. 35 3) A psicologia social tem como base diversos teóricos, que contribuíram com suas ideias e pesquisas ao longo dos anos. Um desses teóricos é considerado o principal percussor da psicologia social na Alemanha pela criação da obra “Psicologia das massas”. Essa afirmação refere-se a: a) Emile Durkeim b) Charles Darwin c) Wilhelm Wundt d) Herbert Spencer e) Gabriel Tarde 4) Considere as afirmações a seguir acerca da Psicologia Social no Brasil: I) O crescimento da psicologia social se deu no Brasil, frente aos alvoroços sociais e políticos do país. II) O período da ditadura militar por volta da década de 1980 foi de extrema importância para a psicologia social. III) A década de 1980 foi crucial para a psicologia social, pois houve um crescimento de publicações na área e foram criados os primeiros doutorados também na área. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I b) II c) II e III d) Todas as alternativas e) I e III. 5) Sobre a Psicologia Social contemporânea, considere as afirmações a seguir: I) Na Europa há prevalência da Psicologia Social Psicológica, utilizando métodos experimentais/não-experimentais; 36 II) Na América do Norte, a Psicologia social psicológica é a que rege, tendo base cognitivista e experimental; III) Na América Latina e no Brasil, a psicologia social crítica é a predominante, se importando com as questões sociais; IV) No Brasil a psicologia social sociológica é predominante. Estão corretas as afirmativas: a) I e II b) II e III c) II e III e IV d) Todas as Alternativas e) Nenhuma das alternativas 6) A ideia de que “quando o sujeito entra em contato com uma multidão, sua personalidade é reprimida e ele acaba sendo influenciado pelo comportamento coletivo” é defendida pelo teórico: a) Wilhelm Wundt b) Gabriel Tarde c) Gustavo Le Bon d) Edward Ross e) Charles Darwin 7) Nas décadas de 1960 e 1970, a psicologia social no Brasil seguia um caminho muito parecido com a forma de psicologia social vinda dos Estados Unidos. A partir dessa falta de contextualização com o Brasil, em 1970, surgiu a: a) Crise de identidade b) Crise de referência c) Crise de desenvolvimento d) Crise situacional e) Crise de reputação 37 8) A ideia “de que nações mais evoluídas eram superiores as mais atrasadas em relação à escala de evolução, visto que possuíam maior capacidade de adaptação e organização” era defendida pelo teórico: a) Charles Darwin b) Herbert Spencer c) Wilhelm Wundt d) Emile Durkeim e) Gabriel Tarde 38 MÉTODOS E PRÁTICAS DE INTERVEÇÕES 3.1. INTERVENÇÕES DE AÇÕES COLETIVAS Assim como as áreas que em conjunto fazem parte da psicologia, a psicologia social também apresenta seus próprios métodos e práticas que podem ajudar a modificar determinadas ações. Ações coletivas são atitudes realizadas por grupos de pessoas de determinada comunidade sobre determinada situação ou assunto. É muito comum alguns autores relacionarem essas ações como movimentos sociais, e outros, distinguirem justificando que podem existir ações coletivas em grupos sem que exista uma organização como é vista em movimentos. Conhecimento: Verdade ou Convencimento? Como vimos nas Unidades 1 e 2, a preocupação da filosofia na nascente sociedade grega tem uma preocupação genuína com o conhecimento verdadeiro, colocando a palavra movida pelo logos como ferramenta para o seu alcance. Contudo, há, na Grécia Clássica, outra classe de sujeitos que maneja a palavra racional: os sofistas. Para os sofistas, não há uma verdade conhecível, apenas convicções relativizáveis. Portanto, a palavra não é instrumento do conhecimento, mas sim, argumentação com a função de persuasão/convencimento com vistas à obtenção de poder político. Disponível em: https://bit.ly/3qHM3sn. Acesso em: 04 abr. 2020. Jesus (2012) diz que: Movimentos sociais se baseiam em orientações ideológicas e/ou políticas por meio de mobilizações conhecidas como ocupações e marchas. Ações coletivas apresentam um conceito mais amplo, os grupos usam o espaço público para reivindicar algo e mantêm uma relaçãodinâmica e conflituosa com a sociedade. UNIDADE 39 Sendo assim os movimentos sociais podem ser considerados um tipo de ação coletiva. Podem-se destacar também os protestos, que são presentes com mais intensidade na história desde o século XX. Sobre isso, Mutzenberg (2015)ressalta que: Considera-se que "protestos sociais" são um fenômeno ubíquo na história, nas mais diversas sociedades e processos civilizatórios. Tais manifestações foram e são classificadas e nomeadas a partir de posições sociais, de interesses, de concepções de quem as classifica ou as nomeia. Há, assim, condicionamentos sociais, culturais, políticos e de concepções do real subjacentes à produção de conhecimento/desconhecimento sobre os fenômenos aqui referidos (MUTZENBERG, 2015, p. 418) Dessa forma as ações sociais partem de interesses comuns em busca de mudanças que muitas vezes precisam ser solucionadas. Porém, também existe a ideia de desenvolver uma ação coletiva sobre determinado aspecto para um grupo específico, com isso, o papel da psicologia social se amplia bem mais, pois as análises devem também estar relacionadas em como sugerir algo que possa agradar o coletivo. Ao discutir sobre os movimentos de ações coletivas se faz necessário um olhar analítico e crítico baseado na Psicologia Social. Esses movimentos são alvos de investigações que podem trazer explicações e fatos sobre suas características. Jesus (2012) diz que os movimentos e ações coletivas contribuem na valorização da diversidade e das diferenças, pois é a partir disso que é possível criar uma visibilidade maior desses grupos. Além disso, as grandes mudanças que ocorreram em nossa sociedade foram ocasionadas pelas ações sociais, o direito das mulheres ao voto é um bom exemplo a ser citado. Em síntese, Mutzenberg (2015)afirma que: Os movimentos sociais apresentam uma história que vale a pena refletir para aprender mais sobre sua trajetória e poder entender como a influência das interações se desenrola. Disponível em: https://bit.ly/3jDc6PV. Acesso em: 20 abr. 2021. 40 Assim, as distinções entre movimentos sociais tradicionais, novas e novíssimas dizem respeito fundamentalmente às abordagens, perspectivas e nomeações que emergiram e compõem este campo teórico em seus contextos sociais, políticos, culturais e ideológicos. Reafirma-se, para evitar mal-entendidos, que as formas, intensidade, motivações e o alcance das manifestações são dinâmicas e se atualizam permanentemente em consonância com as transformações sociais, políticas, culturais, tecnológicas, etc (MUTZENBERG, 2015, p. 418). O comportamento humano pode ser identificado de diversas formas, assim como no individual no comportamento coletivo, os psicólogos têm um compromisso social e também podem intervir em grupos. Para entender o contexto do coletivo, Lima (2005) pontua alguns pontos para tal atuação: Interagir com a comunidade; Identificar os conflitos; Facilitar da “reflexão crítica” de ambos. A autora ainda ressalta a atuação psicológica coletiva baseada na escuta, filtrando o lado sociocultural e considerando a subjetividade. O psicólogo será um interventor-facilitador que “[...] é um profissional que busca provocar transformações nas formas de vida dos grupos em que atua, realizando esta tarefa de acordo com o desejo e as demandas do próprio grupo” (SILVA; CORGOZINHO, 2011, p. 17) Nesse Caso, podemos exemplificar o movimento LGBTQI+, em que Soares, Massaro e Campanini (2010) relatam que é imprescindível o psicólogo entender as construções sociais para evitar atitudes homofóbicas em sua prática. Além disso, devem ajudar nas questões polêmicas e conflituosas, seja de forma individual, para que o sujeito consiga lidar melhor com os grupos de opiniões diferentes, ou com os grupos, para que eles consigam estabelecer vínculos e trocar experiências. Perceba que o psicólogo social ajuda de forma dialética nos movimentos seja ele qual for, e é preciso entender suas particularidades para que não leve nada para o lado pessoal. 41 3.2 INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS As intervenções psicossociais são muito utilizadas em comunidades para resolver conflitos e melhorar as relações interpessoais dos grupos. Para fazer uma proposta de intervenção psicossocial é muito comum que se faça uma investigação antes de tudo. Essa investigação pode ser a IAP – Investigação Ação-Participativa – uma metodologia que segundo Ansara e Dantas (2010) pode ser entendida como: [...] um modelo participativo de intervenção social, parte da premissa de que os sujeitos com os quais os agentes externos trabalham devem estar ativamente presentes em todo o processo de intervenção, desde o levantamento das necessidades até as decisões que serão tomadas em conjunto para a solução de determinados problemas. O objetivo da intervenção tem por base a transformação das condições de vida da população e o compromisso político que visa à potencialização da comunidade (ANSARA; DANTAS, 2010, p. 100). Os autores frisam a importância do psicólogo, no processo de intervenção, conseguir respeitar os limites das instituições alvos no trabalho com a comunidade e os limites que a própria teoria nos oferece, pois é necessário fortalecer a comunidade oferecendo a elas programas sociais de investigação dos fatores que afetam os grupos em busca da transformação de vida, de forma que valorizem os agentes internos e externos. Sobre a teoria, Ploner et al. (2008) afirma que não é suficiente para causar uma mudança tanto social como política, pois é necessário que haja intervenções sociais e políticas que acarretem em práticas institucionalizadas, isto é, ações e trabalho prolongado. Ao falar dos movimentos grupais também precisamos entender sobre as relações que existem dentro desses movimentos de grupos sociais, pois o interpessoal e o intergrupal se relacionam de forma contínua, onde quanto mais forem estabelecidas relações entre os grupos, maior uniformidade comportamental. Disponível em: https://bit.ly/3xeY0Z1. Acesso em: 20 abr. 2020. Para entender mais sobre o universo da psicologia social leia “Psicologia social e a questão do hifém” disponível em: https://bit.ly/3dxrFFd. Acesso em: 20 abr. 2020. 42 Nesse sentido, Gobbi et al. (2004) ressalta que a intervenção psicossocial são conhecimentos que formam uma metodologia capaz de ajudar o sujeito a modificar suas dificuldades. Para o autor, a intervenção passa por um processo que é estabelecido em algumas etapas: a do contando do “interventor” com a comunidade a qual ele irá trabalhar – relação interventor-sistema social – nessa etapa é criado um vínculo entre as partes; a da participação do interventor com as ações realizadas na comunidade; e a da elaboração da estratégia de intervenção, que terá como objetivo encontrar o déficit. Baseando-se nos estudos Sánchez-Vidal (1991), para falar sobre os níveis de intervenção, Gobbi et al. (2004) ressalta que: Existem diversos níveis de intervenção possíveis. Alguns deles podem ser definidos através de estratégias: centradas nas pessoas, quando visam eliminar os déficits e aumentar a competência social e adaptativa do indivíduo; centradas em pequenos grupos, quando se considera que os problemas sociais são causados não por deficiências dos indivíduos, mas sim pelas relações interpessoais entre eles; centradas nas organizações, quando se entende que as causas dos problemas sociais estão na incapacidade das organizações sociais de prestar serviços e transmitir os valores e normas sociais em conseqüência da deficiência de sua estrutura e funcionamento; e, por fim, as centradas nas instituições e na comunidade, quando o nível de abordagem está nas instituições e na ideologia política social vigente. Nesses casos a indicação costuma ser a criação de instituiçõesparalelas. (SÁNCHEZ-VIDAL, 1991. apud. Gobbi, 2004, p. 92) Ainda na mesma linha de pensamento dos autores citados, existem as classificações dessas intervenções que vão depender do objetivo e função das mesmas, pois podem ser intervenções voltadas a serviços clínicos (terapias, trabalho reeducativo), intervenções focadas na área de recursos humanos, desenvolvendo os potenciais, pode ainda ser uma intervenção para prevenir determinados episódios que afetem a saúde ou bem-estar do sujeito em algum ambiente. Outros aspectos considerados é a modificação de sistemas sociais para apresentar melhores funcionamentos em suas atribuições e a transformação e reconstrução social- comunitária, onde um pode modificar a estrutura em prol de melhorias para os indivíduos e o outro organiza as redes de apoio. 43 3.3 ÉTICAS DE ATUAÇÕES Basicamente a ética é uma forma de orientar a atuação dos profissionais de forma que respeitem os indivíduos envolvidos, respeitando suas particularidades e subjetividades. A ética da psicologia apresenta normas e condutas que devem ser aderidas pelos profissionais diariamente enquanto atuantes, e para organizar melhor as orientações foi elaborado um código de ética para ser seguido. Segundo Reis, et al (2019)esse código de ética vai regimentar a prática profissional, assim como qualquer profissão que seja regularizada. É importante enfatizar que o sujeito e os seus contextos são o principal objeto de estudo da psicologia em si, sendo assim, são os principais aspectos resguardados pelo documento. O código de ética da psicologia (2005)expõe logo em seus três princípios fundamentais: I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005, p. 07). Atuar em concordância com código de ética deve fazer parte do cotidiano profissional. No entanto, ainda no pensamento de Reis (2019) “ser ético” é mais que seguir o que está escrito no código. O psicólogo traz uma bagagem de experiências sobre si e sobre o mundo que irão embasar sua atuação do modo mais imparcial O código de ética é um documento público que deve ser seguido por todos os profissionais a partir do momento que se consideram atuantes. Disponível em: https://bit.ly/3yi9vPy. Acesso em: 20 abr. 2021. 44 possível, uma vez que, suas reflexões farão com que ele perceba o sujeito como um todo, e assim respeitar o sujeito independente de suas opiniões pessoais. Para Silva (2013) o código de ética da psicologia é formado por alguns aspectos importantes da atuação profissional, tais como: O código de ética do psicólogo é composto por: responsabilidades gerais do psicólogo, responsabilidades e relações com instituições empregadoras e outras, das relações com outros profissionais ou psicólogos, das relações com a categoria, das relações com a justiça, do sigilo profissional, das comunidades científicas e da divulgação ao público, da publicidade profissional, dos honorários profissionais, da observância, aplicação e cumprimento do Código de Ética (SILVA, 2013, p. 06). Alguns órgãos relacionados à profissão compactuam também de orientar e impor normas que impedem algumas atitudes consideradas antiéticas. Silva (2013) menciona que o profissional da psicologia não deve, repetir, omitir ou consentir com ações que infrinjam a dignidade ou liberdade do ser humano, necessitando da colaboração de outros, para assegurar as atitudes éticas e incentivar ações sociais mais dignas, e consequentemente mais ética. Dos órgãos que convergem nessa orientação, podemos desacatar o conselho Federal de Psicologia (2005)que em seu Art. 2º explana que na atuação o psicólogo é vedado de: a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão; b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais; c) Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a utilização de práticas psicológicas como instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência; d) Acumpliciar-se com pessoas ou organizações que exerçam ou favoreçam o exercício ilegal da profissão de psicólogo ou de qualquer outra atividade profissional; e) Ser conivente com erros, faltas éticas, violação de direitos, crimes ou contravenções penais praticados por psicólogos na prestação de serviços profissionais; f) Prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços de atendimento psicológico cujos procedimentos, técnicas e meios não estejam regulamentados ou reconhecidos pela profissão; g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico científica; h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas; i) Induzir qualquer pessoa ou organização a recorrer a seus serviços; j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado; 45 k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos resultados da avaliação; l) Desviar para serviço particular ou de outra instituição, visando benefício próprio, pessoas ou organizações atendidas por instituição com a qual mantenha qualquer tipo de vínculo profissional; m) Prestar serviços profissionais a organizações concorrentes de modo que possam resultar em prejuízo para as partes envolvidas, decorrentes de informações privilegiadas; n) Prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais; o) Pleitear ou receber comissões, empréstimos, doações ou vantagens outras de qualquer espécie, além dos honorários contratados, assim como intermediar transações financeiras; p) Receber, pagar remuneração ou porcentagem por encaminhamento de serviços; q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações. Esse comportamento ético é construído na trajetória acadêmica até sua conclusão. Na perspectiva de Filho e Trisotto (2006) o comportamento ético é uma medida específica de conduta guiada por princípios, onde o indivíduo adota decisões em determinada área delimitada por limites e critérios pré-estabelecidos pela sociedade. Em suma, usará sua autonomia para tomar decisões, porém, levando em consideração suas responsabilidades para com a sociedade. Esses princípios devem ser intrínsecos da profissão, não se deve existir um profissional sem ética. Reis (2019) afirma que os psicólogos precisam conhecer e exercer sua profissão a partir desses princípios já estabelecidos, para não violarem a dignidade humana. Quando se fala em ética na psicologia social, ainda há muito o que considerar, principalmente pelo fato de que esse campo de atuação está em processo de desenvolvimento. As pesquisas a respeito da área social ajudam no crescimento e a estabelecer esses aspectos éticos na atuação. Outro ponto ressaltado sobre questões éticas é trazido por Ayres e Botelho (2009) ondemencionam que a escuta terapêutica deve receber a demanda do sujeito sem realizar julgamentos morais ou religiosos, até mesmo ideológicos, separando o pessoal do profissional, respeitando as diferenças, de modo que não se faça promessas de cura ou tente direcionar o indivíduo para vertentes que não lhe competem. 46 3.4 MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO Para que possa ser analisada a necessidade de uma intervenção em determinado ambiente é preciso que o profissional saiba observar e identificar os aspectos presentes no espaço que possibilite isso. Os métodos de investigação servem para que o psicólogo social conheça bem o meio, por meio deles, ele observa, levanta os dados, informações e também pode presenciar e participar das atividades, tudo com o objetivo de identificar conflitos e realizar experimentos de forma que associem a parte empírica e teórica. Dos métodos existentes, podemos pontuar como os principais: Método de observação, pesquisa de levantamento, pesquisa-ação, método correlacionais e estudo de campo. Sobre esses métodos, Nascimento-Schulze e Camargo (2000)dizem que nenhum método isoladamente será capaz de responder a todas as expectativas, por vezes, as observações são ideias para responder problemas mais simples e os métodos de experimentos são melhores para testar afirmações e confirmá-las, fazendo dos métodos da psicologia social ferramentas que podem ser usadas em conjunto se assim for necessário. O método observação tem o objetivo de colher informações acerca de certos elementos da realidade. Ele auxilia o pesquisador a “[...] identificar e obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento” (MARCONI; LAKATOS, 1996, p. 79) Para os autores, existem oito tipos de observação utilizados em pesquisa, sendo eles: observação assistemática, que é uma observação livre e simples; observação sistemática, que é mais minuciosa, usada para analisar as etapas existentes em algum processo; observação não-participante, quando o profissional apenas analisa sem participar das ações do ambiente; observação participante, que A investigação precisa ser minuciosa, e segundo Bandeira (2013) a observação deve ser feita no início, pois possibilita o pesquisador descrever os aspectos de fenômenos e criar hipóteses. 47 o profissional participa de forma ativa nas etapas do processo, mas sem envolvimento interventivo; observação individual, apena um profissional faz anotações a respeito; observação em equipe, onde mais de um profissional fazem as análises e partilham das visões; observação na vida real (sem intervenções) e observação em laboratório (o profissional pode manipular o ambiente). Para Cervo & Bervian (2002) “observar é aplicar atentamente os sentidos físicos a um amplo objeto, para dele adquirir um conhecimento claro e preciso”. De acordo com os autores, a observação é fundamental para estudar a realidade. Fato esse, reafirmado por Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012)onde mencionam que é possível se aprender bastante sobre o comportamento das pessoas apenas observando as atitudes delas. Na observação comum, não há o cuidado no controle sobre fatores que podem influenciar na observação. Em síntese, a observação é fundamental para estudar a realidade, pois segundo Cervo & Bervian (2002) “observar é aplicar atentamente os sentidos físicos a um amplo objeto, para dele adquirir um conhecimento claro e preciso” Fato esse, reafirmado por Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012)Na observação comum, não há o cuidado no controle sobre fatores que podem influenciar na observação. Em continuidade sobre os métodos de investigação, o de levantamento segundo Gil (2008) trata-se do questionamento, de forma direta, daquelas pessoas que se almeja entender o comportamento. Procede-se o requerimento de informações a um grupo significativo de indivíduos acerca da problemática pesquisada para que posteriormente, por meio de uma análise quantitativa, adquiram-se os resultados correspondentes as informações apuradas. Ao final, quando as informações de todos os participantes daquele determinado grupo são reunidas, obtêm-se um censo. Na pesquisa social esse levantamento favorece na coleta de informações relacionadas ao grupo. Bandeira (2013)pontua que também tem a finalidade de relatar o arranjo das especificidades que acontecem em determinados grupos populacionais. Para a autora, as principais características desse método de pesquisa são: Não consegue variar a variável independente e analisar seu efeito na variável dependente; Não possui controle sobre as variáveis interferentes; 48 Verifica somente uma série de variáveis que descrevem as especificidades de um grupo de indivíduos. Ainda na perspectiva da autora, a maior desvantagem desse tipo de método, é que é somente descritivo. Todavia, às vezes é simplesmente esse o objetivo: descrição seja de um grupo de pessoas para entender suas necessidades, problemas, demandas, etc. A pesquisa-ação é um método investigativo onde o profissional será participativo nos processos do ambiente. Oliveira (2011) menciona que esse tipo de método é usado para detectar demandas importantes dentro de uma determinada situação a ser averiguada, construir um plano de atuação para amenizar as problemáticas apresentadas e acompanhar os resultados alcançados. Ela também promove uma junção entre teoria e prática e permite que o profissional possa atuar diante da organização. As falhas que podemos encontrar em relação a teoria e a prática podem ser consertadas na pesquisa-ação, de acordo com Engel (2000) uma das peculiaridades desse método é que o pesquisador pode fazer uma intervenção prática durante o estudo e não somente fornecer resolução para após a conclusão da pesquisa Thiollent (2007) afirma que existem quatro etapas durante uma pesquisa ação: exploração, levantamento de dados, ação e avaliação, definindo pesquisa-ação como: [...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com a ação ou com resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2007, p. 16). As representações sociais também fazem parte do objeto de estudo da Psicologia social, os métodos utilizados para investigá-las podem ser a pesquisa empírica e os experimentos que nesse artigo podemos entender melhor. Disponível em: https://bit.ly/3hc7v5Z. Acesso em: 20 abr. 2021. 49 No método correlacional, Segundo Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012)seria quando acontece variação simultaneamente, entre duas medidas distintas, ou seja, quando certas pontuações de uma determinada variável pendem para uma associação de pontuações em outra variável. Por fim, temos o estudo de campo, que para Gil (2008) esse método de pesquisa busca um aperfeiçoamento em determinada realidade. Realiza-se principalmente através da observação direta das ações do grupo pesquisado e de entrevistas com terceiros, com objetivo de assimilar o que acontece na realidade daquele grupo. Para Marconi e Lakatos (1996) a pesquisa de campo é feita posteriormente ao levantamento bibliográfico para colher a teoria e partir para a prática com um conhecimento prévio, podendo se associar as pesquisas Quantitativas–Descritivas; Exploratórias; Experimentais, pesquisas essas que podem ser utilizadas para investigar aspectos da psicologia social, tendo como vantagem a criação de um banco de dados sobre fenômenos sociais, que posteriormente poderá ser usado por demais pesquisadores e partir da amostragem de sujeitos e a pesquisa de campo, será ainda mais viável. As desvantagens, segundo os
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