Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE ENSINO HERIKSON HANDREY DOS SANTOS A INCIDÊNCIA DAS FALSAS MEMÓRIAS NO RECONHECIMENTO DE PESSOAS. UMA ANÁLISE DO ARTIGO 226 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E AS FORMAS DE REDUÇÃO DE DANOS JOINVILLE 2018 HERIKSON HANDREY DOS SANTOS A INCIDÊNCIA DAS FALSAS MEMÓRIAS NO RECONHECIMENTO DE PESSOAS. UMA ANÁLISE DO ARTIGO 226 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E AS FORMAS DE REDUÇÃO DE DANOS Monografia submetida à banca examinadora do curso de Direito da Faculdade Guilherme Guimbala, da Associação Catarinense de Ensino, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Vagner Casagrande JOINVILLE 2018 PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão de Curso de Direito da FACULDADE GUILHERME GUIMBALA, elaborado pelo graduando HERIKSON HANDREY DOS SANTOS, sob o título A INCIDÊNCIA DAS FALSAS MEMÓRIAS NO RECONHECIMENTO DE PESSOAS. UMA ANÁLISE DO ARTIGO 226 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E AS FORMAS DE REDUÇÃO DE DANOS, foi submetido em _____de __________de 2018 à Banca Examinadora, obtendo a média final _____ (______________________________________), tendo sido considerada aprovada. Joinville, _____ de _________________ de 2018. _________________ __________________ ___________________ Prof. Prof. Prof. Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais Ary dos Santos Filho e Zelair Batista dos Santos, pois sem eles este trabalho e muitos dos meus sonhos não seriam realizados. Agradecimentos Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus pais Ary dos Santos Filho e Zelair Batista dos Santos, por todas as vezes que se sacrificaram para que eu pudesse ter a oportunidade de seguir em busca de meus sonhos e metas. Nem sempre foi fácil ou simples, mas através de seus exemplos e dedicação eu pude dar mais um passo. Em segundo lugar aos meus amigos, dizem que não é preciso ter muitos amigos, mas sim, que os poucos que tivermos em vida sejam os melhores possíveis. Dito isso só me resta agradecer a Nathani Cristina Cardoso Matias e Vania Reis, a primeira por toda a companhia, conversas, risadas, discussões, mas principalmente pela pessoa que é sempre foi sincera e honesta, não sabe esconder quando esta chateada ou frustrada, sem saber que é isso que a torna única e especial. A segunda me ensina pelo exemplo, não importa o quanto precise fazer para alcançar um objetivo, ela o faz, no mais fica meu agradecimento pelas conversas e apoio de sempre. “Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre.” Simone de Beauvoir DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Faculdade Guilherme Guimbala, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Joinville (SC), _____ de _________________ de 2018. HERIKSON HANDREY DOS SANTOS Graduando RESUMO Um dos meios de provas mais utilizados no processo penal brasileiro são as provas testemunhais, mais especificamente no reconhecimento de pessoas ou coisas. Isso ocorre por falta de recursos e estruturas técnicas para formação e coleta de outros meios probatórios. A problemática reside, na valoração excessiva deste meio de prova, as memórias humanas não são como uma câmera fotográfica ou uma filmadora, não possuindo tanta exatidão quanto à confiança do próprio individuo o faz acreditar. As falsas memórias são um fenômeno que ocorre quando a pessoa lembra-se de fatos que nunca aconteceram, acontecimentos que nunca presenciou e de regiões e lugares que jamais esteve, ou quando a lembrança que possui não condiz com a realidade fática. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar como a incidência das falsas memórias é mais comum do que se imagina e como a mesma pode interferir nas decisões da seara penal, bem como a forma de redução dos danos. Palavras-Chave: Falsas Memórias. Provas testemunhais. Reconhecimento de pessoas ou coisas. Memórias humanas. Redução dos danos. ABSTRACT One of the most commonly used means of proof in Brazilian criminal proceedings is witnessing evidence, more specifically in the recognition of persons or things. This is due to lack of resources and technical structures for training and collecting other evidence. The problem lies in the excessive valuation of this evidence, human memories are not like a camera or a camcorder, not having as much accuracy as the confidence of the individual himself makes him believe. False memories are a phenomenon that occurs when the person remembers facts that never happened, events that he has never witnessed and regions and places that he has never been, or when the memory he possesses is not in keeping with the factual reality. The present work aims to demonstrate how the incidence of false memories is more common than one imagines and how it can interfere in the decisions of the criminal court, as well as the way of reducing damages. Key-words: False Memories. Witness tests. Recognition of people or things. Human memories. Reduction of damage. ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil CLT Consolidação das Leis Trabalhista CAT Comunicação de Acidente de Trabalho CID Classificação Internacional de Doenças CTASP Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público INSS Instituto Nacional do Seguro Social NTEP Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário SUMÁRIO CAPÍTULO 1 .......................................................................................................................... 15 1. INTRODUÇÃO AO PROCESSO PENAL ..................................................................... 15 1.1. SISTEMAS DE PROCESSUAIS PENAIS ................................................................... 15 1.1.1. Sistema Inquisitório ................................................................................................ 16 1.1.2. Sistema Acusatório ................................................................................................. 17 1.1.3. Sistema Misto ......................................................................................................... 17 1.2. TERMINOLOGIA DA PALAVRA PROVA ............................................................... 19 1.2.1. Prova como atividade probatória ............................................................................ 19 1.2.2. Prova como Resultado ............................................................................................ 20 1.2.3. Prova como Meio.................................................................................................... 201.3. PRINCÍPIOS GERAIS DAS PROVAS ........................................................................ 20 1.4. A VALORIZAÇÃO EXCESSIVA DAS PROVAS ORAIS ......................................... 21 1.5. SISTEMAS DE VALORAÇÃO PROBATÓRIA ......................................................... 22 1.6. LIMITAÇÕES A AVALIAÇÃO DE PROVAS ........................................................... 23 1.7. A PROVA TESTEMUNHAL ....................................................................................... 26 1.7.1. Classificação das Testemunhas............................................................................... 26 1.7.2. Características da prova testemunhal. ..................................................................... 27 1.8. O RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS ................................................... 28 1.8.1. O Peso do Reconhecimento Enquanto Prova ......................................................... 31 CAPÍTULO 2 .......................................................................................................................... 32 2. INTRODUÇÃO A NEUROCIÊNCIA .............................................................................. 32 2.1. TEORIAS DA FRENOLOGIA E TEORIA DO CAMPO AGREGADO..................... 33 2.2. O SISTEMA NERVOSO .............................................................................................. 34 2.3 O SISTEMA LIMBICO ................................................................................................. 37 2.4 O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO ..................................................... 37 2.5 A MEMÓRIA ................................................................................................................. 38 2.6 NOÇÕES SOBRE OS NEURÔNIOS ............................................................................ 39 2.7. TIPOS E FORMAS DE MEMÓRIAS .......................................................................... 40 2.8. FALSAS MEMÓRIAS .................................................................................................. 41 2.8.1. Taxonomia das Falsas Memórias............................................................................ 43 2.8.2. Teorias Explicativas Sobre Falsas Memórias ......................................................... 43 CAPITULO 3 .......................................................................................................................... 45 3. A INCIDÊNCIA DAS FALSAS MEMÓRIAS NAS PROVAS PENAIS ...................... 45 3.1. OS REFLEXOS DAS FALSAS MEMÓRIAS NO RECONHECIMENTO ................. 46 3.2. CAUSAS DE CONTÁGIO DAS PROVAS ORAIS ..................................................... 49 3.3. A PASSAGEM DO TEMPO ......................................................................................... 50 3.3. ENTREVISTA COGNITIVA ....................................................................................... 52 3.3.1. Etapas da entrevista cognitiva ................................................................................ 54 3.4. A INFLUÊNCIA DAS ROTINAS E DOS HÁBITOS NA MANIFESTAÇÃO DAS FALSAS MEMÓRIAS ......................................................................................................... 56 3.5. JULGAMENTO DA APELAÇÃO CRIMINAL n. 0007342-93.2003.8.24.0008 ........ 56 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 63 13 INTRODUÇÃO Desde os primórdios, o cérebro tem sido objeto de fascínio para o homem, mais especificamente a memória e o seu funcionamento tem despertado grande interesse de diversos campos de conhecimento. Apesar disso, os estudos sobre a memória tiveram grande expansão e desenvolvimento somente na ultimas décadas. Ao se adentrar neste vasto mundo, muitos mitos foram criados e desmentidos, como por exemplo, o mito da memória fotográfica, hoje se sabe que a memória humana não funciona como uma câmera fotográfica ou uma filmadora. Os processos cognitivos relacionados a memória são formados por conta de uma comunicação eletroquímica entre neurônios e os pontos de ligação entre os mesmos são chamados de sinapses. Dentro deste processo não há armazenamento sons, imagens ou lembranças, mas sim sequências de ativação. O problema se manifesta quando requisitamos ao nosso cérebro recordar de algum fato ou coisa, neste momento, as sequências podem apresentar lacunas. As lacunas são preenchidas pelo cérebro resultando em recordações que, na verdade, nunca ocorreram, a isso é denominado de Falsas Memórias. Dentro da seara do direito brasileiro, mais especificamente do Direito Processual Penal, a prova mais utilizada é a prova testemunhal, como acontece no reconhecimento de pessoas, coisas, testemunhos, etc. Isso ocorre por conta da precariedade das Policias, em virtude disso e da obrigatoriedade de uma resposta rápida a sociedade, prioriza-se o referido meio de prova em detrimento de outros com maior tecnicidade e cientificidade. Considerando que o Código de processo penal é de 1941 e as deficiências estruturais, governamentais e cientificas da investigação policial no país, é comum que a autoridade policial utilize a prova testemunhal como principal forma de apuração da materialidade e autoria delitiva. Porém, entre a pratica do fato e a coleta do depoimento, ou ainda, pela forma como o interrogatório é conduzido, este meio de prova pode acabar viciado, deste fato resultam duas problemáticas. A primeira consiste em fundamentação do Inquérito Policial sobre base frágil, visto que o testemunho pode ser deficiente, podendo ser modificado pelo transcurso do tempo ou sugestionado pelo responsável pelo interrogatório. Já a segunda acontece na conclusão do processo em que, alicerçado em base débil, a persecução penal não conseguiu se aproximar de uma realidade fidedigna dos fatos, resultando em condenações injustas e ilegais, e por consequência, a liberdade do real autor do crime. 14 É preciso se discutir a confiabilidade da prova testemunhal durante o reconhecimento de pessoas ou coisas e sua importância dentro da persecução penal, uma vez que a mesma tem por objetivo a formação do convencimento do magistrado e a possível condenação de alguém. Este tipo de prova expõe fragilidades, considerando que as lembranças são um processo mnemônico suscetível a falhas e contaminações. 15 CAPÍTULO 1 1. INTRODUÇÃO AO PROCESSO PENAL Faz-se necessário, para uma maior compreensão sobre o tema, alguns apontamentos iniciais sobre o funcionamento do processo penal brasileiro. Ao se analisar o paragrafo único do artigo 1º da Constituição Federativa do Brasil e que trás o seguinte texto normativo: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988). Após a leitura desta frase se nota que o Constituinte originário tinha em seu consciente a manutenção do poder nas mãos do povo, sendo o Estado um titular desse poder em decorrência de uma vontade popular. Este poder conferido ao ente Estado não é absoluto, pois o mesmo deve respeitar o ordenamento jurídico então vigente, o que ocasiona em uma limitação ao poder estatal. Ao se adentrar especificamente na esfera penal é preciso compreender que a mesma é formada por três elementos distintos: o poder, que se caracteriza pelo poder atribuído, por vontade popular, ao Estado para que o mesmo exerça o jus puniendi; o direito que são os próprios direitos e garantias fundamentais concedidas aos cidadãos pela constituição federal; por fim temos o processo que é o instrumentoutilizado pelo Estado como forma de garantir o respeito as garantias individuais e o cumprimento efetivo do jus puniendi. 1.1. SISTEMAS DE PROCESSUAIS PENAIS Conforme o conhecimento da humanidade foi evoluindo, da mesma forma foi necessário uma maior especialização e aperfeiçoamento. Desta forma todos os elementos qualificadores do conhecimento, a saber: os conceitos, normas, regras e princípios, foram retirados e um núcleo genérico e reunidos em um sistema integralizado. Andrade (2013, p. 36) fala que o significado de sistema e seu sentido mais amplo direcionam para a existência de uma concentração de conhecimentos humanos em áreas especificas e especializadas, fazendo surgir dentro desta determinada área de conhecimento novas divisões. Gerando a existência de microssistemas ou subsistemas ligados ao sistema mais amplo, fato este característico de sistemas jurídicos. 16 1.1.1. Sistema Inquisitório Apesar de já se manifestar de forma embrionária durante as épocas e períodos do direito romano, a consolidação e perpetuação do referido sistema só foi possível graças ao acolhimento do Cristianismo como religião oficial. Razão esta que permitiu a sobrevivência do Sistema Inquisitivo mesmo com a queda do Império Romano, pois o mesmo foi anexado e difundido através do direito canônico. (ANDRADE, 2013, p.279) Segue o autor explicando que com a estabilidade proporcionada pelo sistema politico romano juntamente com as tradições populares, se desenvolveu um sistema de direito local. A persecução penal se assemelhava ao sistema acusatório, porém, possuía uma forma diferente da encontrada em Atenas, também no mesmo período. Andrade (2013, p. 279) explica que uma característica era a do ofendido ou seus familiares serem os legitimados para fazer a acusação, a solução de conflitos não se dava por uma tentativa de reedificar a verdade dos fatos, mas sim se valer de provas verbais, físicas e sociais. O papel de Juiz era exercido pelo soberano ou um intercessor (designado pelo monarca ou seus conselheiros). A existência do referido direito local, gerou um conflito entre os senhores feudais e a monarquia, tal fato se dava pela ultima tentar estabelecer mudanças profundas na organização politica, procurava centralizar todo o poder unicamente em suas mãos. Essa disputa interna terminou com os soberanos como vencedores nascendo a partir dai, a organização politica denominada de Absolutismo ou Monarquia Absolutista. (ANDRADE, 2013, p. 280) Explica Andrade (2013, p. 280) que para ser possível atingir a centralização nas mãos do monarca, foi preciso uma reforma no sistema de processamento, onde se retirava o poder dos senhores feudais e o unia todo na figura do rei. Na busca por esse sistema se encontrou no Direito Canônico o modelo que melhor se adequava as necessidades dos soberanos. Após isso, o sistema inquisitivo se expandiu e se consolidou rapidamente pela Europa, com grande ajuda das igrejas católicas, sua aplicação integral ou não, dependia muito de qual era o tamanho da influência das igrejas na região, por conta disso originou-se diferentes formas de regulamentação do Sistema Inquisitivo. (ANDRADE, 2013, p. 281) Acerca do Sistema Inquisitivo em si, destaca-se como sua característica mais marcante a união em uma única pessoa das funções de acusar, defender e julgar. Sem a necessidade de uma acusação prévia, podendo o processo criminal se iniciar de forma ex officio. (NUCCI, 2016, p. 75) 17 Destaca Avena (2015, p. 10) que no sistema inquisitivo não se fala em paridade de armas, ou seja, não existe igualdade entre as partes. A defesa, quando possível, não possuía muitas formas de resguardar, haja vista, a inexistência de Contraditória ou Ampla defesa. 1.1.2. Sistema Acusatório Os estudos quanto ao Sistema Acusatório, anteriores a 1990, em regra tinham como foco principal os estudos dos direitos Atenienses e Romano, também denominados de Direito Clássico. Após os anos noventa, a Alemanha passou a adotar um novo padrão processual, modificando da doutrina processualista tradicional do Sistema Misto Europeu, o referido sistema consistia na adoção de uma das características mais marcantes do Sistema Acusatório, em que durante as investigações criminais, anteriormente regidas por um Juiz-instrutor, passaram para o Ministério Público. (ANDRADE, 2013, p. 57) Observa Avena (2015, p.9) que em todos os regimes democráticos, tem como sistema vigente o Sistema Acusatório que tem como característica basilar a distinção entre acusar, defender e julgar, onde as mesmas ficam destinadas a pessoas também distintas. O termo acusatório que nomeia o sistema vem do ato em que ninguém poderá ser chamado em juízo sem prévia acusação tendo esta que destacar todo o fato narrado com todas as suas circunstâncias. Dentro do Sistema Acusatório dois princípios ganham grande força e se destacam os princípios do Contraditório e da Ampla Defesa, em virtude dos referidos princípios é que existe a garantia da defesa se manifestar unicamente com a existência de uma peça acusatória. Outro importante aspecto do Sistema Acusatório é o estrito cumprimento do modelo legal adotado no país. Em regra, os mesmos serão públicos, salvo exceções legalmente previstas. (AVENA, 2015 p. 9). 1.1.3. Sistema Misto Com a sobrevida do sistema inquisitivo pela igreja católica, baseado na ideologia de que o homem era um pecador por natureza e por isto a verdade era ocultada quando o mesmo era inquerido. O referido aspecto fui utilizado para fundamentar torturas, onde estas acabaram se destacando como fato marcante do Sistema Inquisitivo. A justificativa para a pratica de 18 torturas se encontrava na utilização deste meio como forma de se obter a verdade, uma vez que a dor provocada só teria fim com a confissão. (ANDRADE, 2013, p. 409) Por conta disto e dos mais variados tipos de erros judicias, se iniciou no século XVIII, um movimento que posteriormente viria a se conhecido como Movimento Iluminista, que tinham como finalidade especifica o fim do Sistema Inquisitivo. (ANDRADE, 2013, p. 410) Segue o autor explicando que as figuras centrais do movimento iluminista, se destacam Montesquieu, Rousseau, Verri, Voltaire e Becarria, que tinham como missão principal a busca pela igualdade entre os homens, extinção da tortura, complacência religiosa e um sistema processual similar ao acusatório romano. Conforme Andrade (2013, p. 410) Os acontecimentos e questionamentos do período formaram a base para a Revolução Francesa. Posteriormente, mais precisamente no ano de 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e Cidadão trouxeram em seu bojo alguns princípios de grande importância para o meio jurídico, a saber: Princípio da Legalidade e da Presunção de Inocência. Tais acontecimentos destacaram a importância de uma reforma processual como prioridade, fato este que marcou os debates na Assembleia Constituinte pós- revolucionária. Após extensos debates duas propostas foram feitas durante a Assembleia Constituinte, ainda no ano de 1789, a primeira delas defendia uma permanência do Sistema Inquisitivo, já a segunda e vitoriosa a adoção do Sistema Acusatório no modelo adotado pelos romanos este com uma maior participação popular. (ANDRADE, 2013, p. 411) Explica Andrade (2013, p. 413) que a adoção do novo sistema não demorou a destacar os mesmos problemas do sistema acusatório romano, que consistia em julgamentos públicos onde a legitimidade acusatória recaia sobre os cidadãos comuns, o que os tornava sujeitos a ameaças dos acusados, seus familiares e amigos. Com o intuito de resolver essa discrepância foi proposta a necessidade de se preservar uma figura como o acusador e este seria público e também a criação de uma fase previa ao julgamento, com um caráter mais rígido. Surgindo a partir dai o que viria a ser conhecido como SistemaMisto. Destaca Avena (2015, p. 10) que o Sistema Misto clássico se define como um modelo processual intermediário, entre os Sistemas Inquisitivo e Acusatório. Isto se dá pela miscigenação entre o respeito às garantias constitucionais, típico do sistema acusatório e características típicas do sistema inquisitivo, como por exemplo, um procedimento pré- processual denominado de Inquérito Policial. 19 1.2. TERMINOLOGIA DA PALAVRA PROVA A terminologia da palavra prova pode ser dividida, para uma maior compreensão, em dois sentidos. Um amplo e outro estrito. No primeiro sentido (Amplo) a palavra prova significa, constatar a veracidade de uma proposição incidente sobre um fato acontecido no mundo real. Já o segundo sentido (Estrito) possui várias definições possíveis, sendo necessário à análise de suas premissas básicas terminológicas. (BRASILEIRO, 2014, p. 549) Explica Brasileiro (2014, p. 549) Etimologicamente a palavra prova, possui o mesmo limiar de probo, que deriva do latim probatio e probus, trazendo a ideia de exame, aprovação, verificação ou confirmação. O ato de provar algo, constitui uma atividade intelectual que busca a procura pelo verdadeiro conhecimento. Existem três significados possíveis da palavra prova. 1.2.1. Prova como atividade probatória Segundo Brasileiro (2014, pág. 549) Consiste no conjunto de atividades de verificação e demonstração, mediante as quais se procura chegar à verdade dos fatos relevantes para o julgamento. Nesse sentido, identifica-se o conceito de prova com a produção dos meios e atos praticados no processo visando ao convencimento do juiz sobre a veracidade (ou não) de uma alegação sobre um fato que interesse à solução da causa. Sobre este aspecto, se percebe que existe para as partes um direito à prova, sendo este uma decorrência natural do direito de ação, não se limitando a uma simples proposição ou produção de provas, mas sim, na possibilidade de influenciar no convencimento do Magistrado. Tal fato, deriva da obrigação estatal, de não apenas garantir as partes o direito a utilização de provas possíveis e necessárias para fundamentar suas alegações durante o processo, mas também possibilitar as partes todos os recursos para a apresentação da matéria probatória, submetendo as mesmas ao crivo do contraditório, assegurando assim as garantias dispostas na Constituição Federal. 20 1.2.2. Prova como Resultado De acordo com Brasileiro (2014, p. 550) caracteriza-se pela formação da convicção do órgão julgador no curso do processo quanto à existência (ou não) de determinada situação fática. É a convicção sobre os fatos alegados em juízo pelas partes. Neste segundo aspecto, a prova tem como característica a demonstração ao Magistrado de que um determinado fato possui uma maior probabilidade de ter acontecido da forma como foi comprovada no processo. Não se é capaz de alcançar uma verdade inquestionável sobre fatos que já aconteceram, mas é possível, diminuir as dúvidas quanto a um acontecido duvidoso no processo. 1.2.3. Prova como Meio Define Brasileiro (2014, Pág. 550.) que “São os instrumentos idôneos à formação da convicção do órgão julgador à cerca da existência (ou não) de determinada situação fática.”. O terceiro sentido possível relaciona-se aos instrumentos que serão utilizados pelas partes, durante o processo, para persuadir o magistrado, sobre a possibilidade de determinado fato ter ou não acontecido, da forma como foi exposta. 1.3. PRINCÍPIOS GERAIS DAS PROVAS O código de processo penal considera, quanto à produção de provas, alguns princípios gerais que norteiam todos os tipos probatórios. O primeiro princípio em destaque é o princípio do Contraditório, segundo o mesmo qualquer prova que for produzida por uma das partes é passível de uma contraprova. (AVENA, 2015, p. 36) O segundo é o princípio da comunhão conforme o mesmo uma vez que uma prova é anexada aos autos do processo, a mesma deixa de pertencer à parte que a produziu e passa a poder ser utilizada a todos. O terceiro é o princípio da oralidade segundo o mesmo as provas devem ser materializadas oralmente dentro do processo, possibilitando assim ao magistrado e as partes participarem da realização da prova, ressalta-se que o mesmo deve ser priorizado sempre que houver a possibilidade da reprodução da prova em audiência. Segundo Avena (2015, p. 459) o 21 princípio da oralidade vai além de um mero principio, sendo também uma forma de condução processual, subdividindo-se em outros dois princípios: Subprincípio da Concentração segundo o qual a convecção de provas deve ser centralizada unicamente em uma audiência. Cumprir tal subprincípio é uma forma de padronizar o ordenamento, uma vez que, isso já se encontra previsto no artigo 81 da lei 9.099/95 e no procedimento ordinário, tribunal do júri e procedimento sumário, respectivamente artigos 400,411 e 431 do código de processo penal. O segundo Subprincípio é o da Imediação, segundo qual estabelece que é preferível que o magistrado tenha contato físico com as provas, como uma forma de melhor fixa-las em sua memória. Explica Avena (2015, p. 459) que o quarto é o princípio da publicidade, pela natureza do processo penal ser uma concessão do poder popular ao Estado, é natural que as provas possam ser disponibilizadas aos cidadãos, isso para garantir um maior credito ao procedimento administrativo da Justiça. O quinto é o princípio da autorresponsabilidade das partes, conforme Avena (2015, p. 460) as partes assumem de forma intrínseca a responsabilidade e consequências pela inatividade, erros e negligências quanto às provas que seguem suas alegações. Por fim, define Avena (2015, p. 460) que o sexto é o princípio da não autoincriminação, segundo o mesmo ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. 1.4. A VALORIZAÇÃO EXCESSIVA DAS PROVAS ORAIS O ordenamento jurídico processual, mais especificamente o processo penal, depende em demasia das provas verbais como forma de convencimento do magistrado. Porém, tal mecanismo de geração probatória trás como premissa as recordações de fatos, faces, pessoas e ambientes. Em decorrência deste peso concentrado no instituto do reconhecimento, é que a referida prova deve ser analisada com maior precaução, a fim de se evitar possíveis injustiças. (DI GESU, 2014, p. 69) Toda prova possui uma finalidade persuasiva e um limite de poder judicial considerando sua relevância e valoração. Di Gesu (2014, p. 69)) diz que provar, dentro de um processo, é persuadir o juiz a convicção de que determinado fato aconteceu como lhe foi exposto. Isso significa que dentro de um processo a parte acusadora deve apresentar um conjunto probatório que apresente nos autos a presença de elementos materiais dos fatos alegados e a sua conexão com o acusado, 22 comprovando sua culpabilidade. Com isso tem como finalidade forma um juízo de convencimento ao magistrado, para que tenha sua pretensão atendida. Desta análise se revela uma problemática, o juiz tem unicamente o contato com o que lhe é apresentando pelas partes, não possuindo uma visão direta sobre os fatos. Significando dizer que o magistrado pautará sua decisão em meios indiretos de provas. Assim, Cordeiro apud Di Gesu (2014, p. 71) a atividade de investigação judicial tem por base acontecimentos passados, onde sua reconstituição fática somente é possível por meios indiretos. 1.5. SISTEMAS DE VALORAÇÃO PROBATÓRIA Logo, recai sobre o magistrado a responsabilidade por valorar as provas, porém, é preciso se observar alguns critérios, que dependeram do sistema processual adotado. Quanto a análise das provas a doutrina, majoritariamente, pauta três sistemas, a saber: sistema da prova tarifada, sistema da intima convicção e sistema do livre convencimento motivado, também chamado de sistemade persuasão racional. Para Nucci (2015) no procedimento que é ligado ao sistema de prova tarifada ou valoração taxada, preexiste uma determinação valorativa para cada prova produzida dentro do processo, obrigando o magistrado a seguir critérios estabelecidos pelo legislador, além de reduzir a própria atividade de julgamento. Logo, o referido sistema pode ser compreendido como um sistema hierarquizado, que por determinar previamente o valor de cada prova, desconsidera as suas individualidades nos casos em concreto. Segundo Lopes (2016) a confissão era o meio de prova mais utilizado e tida como a prova absoluta, por conta disto o sistema de prova tarifada possui grave falha, eliminando a sensibilidade e eleições que seriam possíveis pelo magistrado. Destaca Nucci (2015) que o sistema de livre convicção ou sistema de intima convicção é o meio de valoração probatória em que ao magistrado inexiste a obrigação de motivar suas decisões, sendo este o sistema que impera o tribunal do júri, considerando que aos jurados não tem a obrigação de motivar sua decisão. Comparativamente o sistema de livre convicção é o completo oposto do sistema de prova tarifada, no primeiro o juiz não fica preso a uma regra preexistente o que não o obriga a fundamentar uma decisão nem a seguir um critério para analisar um prova, diferentemente do segundo. 23 Destaca Rangel (2015) que existe uma transferência de responsabilidade entre legislador e Juiz, o primeiro coloca sobre o segundo toda a obrigação de decidir, sem qualquer amarra legal, considerando apenas sua experiência pessoal e convicção particular. (apud. LIMA, 2017, p.4) O ultimo dos sistemas é chamado de persecução racional ou livre convencimento motivado. Segundo Nucci (2015) é um método misto, é o sistema majoritariamente adotado procedimento processual brasileiro, com fundamento no inciso IX, do artigo 93 da carta magna, destacando a permissão dada ao magistrado para que decida conforme seu convencimento, mas deve fundamenta-lo, com o intuito de demonstrar as partes e a comunidade o porque de sua decisão. Neste sistema não existe uma prova com maior peso que as demais, pois cada prova deverá ser analisada cada qual segundo sua relação com o caso concreto. 1.6. LIMITAÇÕES A AVALIAÇÃO DE PROVAS Além dos limites impostos pelo sistema de persecução racional no sistema processual brasileiro, em que as decisões dos magistrados se baseiam em seu convencimento, existem também limitações para que a sentença seja considerada valida. Destaque para a Legalidade e a fundamentação das decisões baseado nas provas que se encontram nos autos processuais. As provas do processo criminal são produzidas durante a primeira fase da persecução penal, chamada de inquérito policial, apesar de ser uma fase claramente inquisitória é exigido o respeito aos limites legais, com a finalidade de certificar as garantias processuais e constitucionais, haja vista, a busca por adequar da melhor forma o combate a impunidade e distanciar-se das arbitrariedades por parte do Estado. Por força do principio constitucional da presunção de inocência o caput, do artigo 156 do código de processo penal brasileiras trás a seguinte redação: “A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício” (BRASIL, 1941). Como o sistema misto condensa a acusação Ministério Público, como forma de segurança, recai sobre o mesmo a responsabilidade de apresentar provas que contenham indícios mínimos de materialidade e autoria. Apesar da determinação legal, parte da doutrina processual brasileira, defende que é cabível a defesa se manifestar quanto as suas causas de justificação. Lopes (2016) defende que analisar os fatos sobre está ótica é um grande erro, uma vez que, se recai sobre o acusar a 24 reponsabilidade de demonstrar a autoria e materialidade delitiva, o acusado está com o beneficio da duvida, não necessitando este a justificar qualquer coisa a aquele. A existência dessa duvida quanto ao fato delitivo estar ligado ao acusado, é o que origina o principio do in dubeo pro réu, determinando que em caso de duvidas deve prevalecer o que melhor beneficio o réu. O principio da presunção de inocência acarreta duas regras ao Estado em relação ao acusado no processo, segundo Oliveira (2014) o poder publico deve observar duas regras, uma diz respeito ao tratamento do acusado onde o mesmo em momento algum do processo deve sofrer qualquer tipo de limitação quanto a sua pessoa, fundado apenas em uma possibilidade de condenação. A segunda é o fundo probatório que recai exclusivamente para a acusação, para a defesa o que resta é a comprovação de que inexistem elementos da pratica de um tipo penal. Sendo assim, a mera possibilidade de condenação não pode limitar de qualquer forma o acusado, visto que qualquer momento o mesmo pode ser inocentado. Também, destaca-se o fato de que o ônus probatório é totalmente da acusação. Ainda sobre limitações, se encontra o principio da não obrigatoriedade da produção de provas contra si mesmo ou também conhecido como direito ao silêncio. Explica Greco (2013) que por força deste princípio, consagrado no Pacto de São José da Costa Rica de 1992, uma possível condenação deve ser alicerçada em provas robustas, mesmo que o convencimento do Magistrado tenha se dado por completo, só existe legitimidade a determinação de sanções penais fundamentadas de forma lógica. Ainda como elemento limitante, existe o princípio do contraditório, tal princípio é considerado como uma para sistemas garantistas, como é o caso do brasileiro. Sua aplicabilidade quantos as provas se encontram no momento em que à produção probatória, esta deve passar pelo crivo do contraditório, sob pena de ser considerada uma prova válida para embasar uma sentença penal condenatória. Fundamenta Capez (2018) é de direito do réu saber sobre o que está sendo acusado para que assim possa contrariar a acusação. Cabe ressaltar que para que uma defesa tenha plenos efeitos ela deve ser técnica, isso quer dizer que a mesma deve ser acompanhada de um advogado, mesmo com a negativa do acusado. Esclarece Greco Filho (2013) que diferentemente de outros sistemas processuais penais, tais como o norte-americano e inglês onde existe uma permissão para que o réu tome para si a sua defesa, o mesmo não acontece com o sistema processual penal brasileiro, onde por força constitucional, é indispensável a presença de um professional, externando assim a previsão legal do cumprimento do Contraditório e da Ampla Defesa. 25 Outra importante limitação valorativa de provas é o princípio da inadmissibilidade de provas ilícitas. Prevista no texto constitucional no inciso LVI, do artigo 5º da carta magna a qual trás a seguinte disposição: “São Inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios lícitos” (BRASIL, 1988). Doutrinariamente é importante destacar a diferenciação entre provas Ilícitas e Ilegítimas, cabe ressaltar que a lei 11.690 de 2008, modificou o texto do artigo 157 do código de processo penal, adequando-o a Constituição. Segundo Capez (2018) a ilicitude formal da prova, ou seja, as provas ilegítimas acontecem quando a prova é introduzida nos autos por procedimento ilegítimo o que a torna não aproveitável, mesmo que sua origem tenha sido licita. Já a ilicitude material, ou provas ilícitas, a ilicitude acontece na origem da prova, ou seja, a produção da referida prova se deu de forma ilegal. Ainda sobre o tema, destaca-se o entendimento de que além das provas que foram obtidas de forma ilícita não pode ser aceito no processo, o mesmo também ocorre com as denominadas ilícitas por derivação. São aquelas que mesmo que tenham nascidas licitas são de resultados derivados de provas ilícitas. Explica Leonardi (2017) que a não aceitação de provas ilícitas por derivação tem origem na Teoria dos frutos daárvore envenenada, que surgiu no direito norte-americano no ano de 1914 nos tribunais federais e em 1961 nas jurisdições estaduais. A referida teoria trás a ideia de que a mácula de uma fruta é transmitida aos demais frutos, no âmbito jurídico, um vicio em uma prova pode alcançar as demais que derivam desta. Outra importante limitação se encontra no artigo 155 do código de processo penal, trazendo o seguinte texto: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”. Conforme dispõe o texto legal não pode o juiz fundamentar sua decisão em elementos informativos obtidos unicamente da investigação, sem que estes observem o contraditório e a ampla defesa, salvo aqueles que são considerados irrepetíveis ou antecipados relacionados cautelarmente. Assim, ressalta-se que quanto à valoração de provas existem determinados limites legais a serem respeitados por poder judiciário, órgãos de investigação e Ministério Público. O magistrado deve pautar suas decisões com seu convencimento, mas este deve ser devidamente fundamentado e considerando as provas que se encontram no processo conforme 26 pressupõe o sistema de valoração de provas adotado no Brasil que é o sistema do livre convencimento motivado. 1.7. A PROVA TESTEMUNHAL Entende-se por testemunha, a pessoa isenta e capaz, que, declara saber sobre os fatos alegados, frente à autoridade judiciaria, sendo que estes foram captados por seus sentidos, e possuem relevância para à decisão. Assim, o objetivo da prova testemunhal é trazer para o processo, informações que provém da percepção sensorial, de um terceiro chamando a depor. (BRASILEIRO, 2014, p. 651). 1.7.1. Classificação das Testemunhas A doutrina dominante classifica as testemunhas em numerárias, extranumerárias, diretas, indiretas, referidas e informantes. Conforme Brasileiro (2014, p. 658) as testemunhas numerárias são aquelas que as partes definem no inicio do processo, e seu depoimento está sob compromisso legal. As extranumerárias são aquelas que podem ser ouvidas de oficio pelo Juiz (art. 208, caput, CPP), e não têm compromisso legal de dizer a verdade. Continua o autor a explicar de as testemunhas diretas são aquelas que testemunham sobre fatos que presenciaram ou visualizaram. Testemunhas indiretas são aquelas que não presenciaram o fato diretamente, mas ouviram falar sobre ele por meio de terceiros. Em regra, a testemunha é chamada a depor sobre fatos que tenha conhecimento pessoal, qualquer outro tipo de declaração será considerado como testemunho indireto, sendo ouvidas ou não a critério do Magistrado. As testemunhas informantes são as pessoas ouvidas, sem prestar o compromisso de falar a verdade. Definidas nos artigos 206 e 208 do código de processo penal. Cabe destacar que não respondem pelo crime de falso testemunho, uma vez que, são tratadas como informantes. (BRASILEIRO, 2014, p. 659) Por ultimo, aduz Brasileiro (2014, p. 659) determina-se testemunha referida aquela pessoa que foi referenciada por outra durante o processo. A testemunha referida pode ser 27 ouvida a pedido das partes ou de oficio pelo Juiz, conforme disposto no artigo 209, do código de processo penal. 1.7.2. Características da prova testemunhal. Ao se analisar o código de processo penal, se pode definir como características da prova testemunhal: a judicialidade, oralidade, objetividade, retrospectividade e individualidade. (BRASILEIRO, 2014, p. 651) Explica Brasileiro (2014, p. 651) que a judicialidade determina que a testemunha seja a pessoa ouvida perante o juiz, sobre fatos apresentados no processo. Essa característica define que mesmo se a pessoa for ouvida na fase investigativa, a mesma deve reproduzir o depoimento em juízo, cumprindo as efetivas garantias constitucionais do contraditório e ampla defesa. A oralidade estabelece que o depoimento deva ser prestado, em regra, de forma oral, na presença do juiz e das partes, sendo que ao fim será redigido a termo. Cabe ressaltar que existem exceções a característica da oralidade. Conforme destaca Brasileiro (2016, Pág. 652.) Apesar de a regra ser a oralidade, o próprio CPP prevê algumas exceções: 1) De acordo com o art. 221, § 1º, certas autoridades poderão optar pela prestação de depoimento por escrito: nesse caso, para que seja preservado o contraditório e a ampla defesa, as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes serão transmitidas por oficio; 2) Em se tratando de depoente mudo, surdo ou surdo-mudo, sua oitiva será realizada da seguinte forma(CPP, art. 223, paragrafo único, c/c art. 192): ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente; ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito; ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as respostas. Nesses casos, se o depoente não souber ler ou escrever, intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, a pessoa habilitada a entende-lo. A retrospectividade fixa que a testemunha é chamada ao processo para depor sobre acontecimentos passados e nunca para fazer previsões sobre fatos futuros.(BRASILEIRO, 2014, p. 652) Continua o autor a explicar que a individualidade segue o previsto no artigo 210, caput, do código de processo penal, onde determina que cada testemunha seja ouvida de 28 forma individual pelo magistrado, sem que seu depoimento, seja visto ou ouvido por outra que não depôs ainda. A objetividade estabelece que, a testemunha deve depor somente sobre fatos pertinentes a causa em questão, devendo se abster de fazer juízos de valor. A menos que, tais juízos sejam indivisíveis à própria narrativa dos acontecimentos, segundo dispõe art. 213 do código de processo penal. (BRASILEIRO, 2014, p. 652) Ainda sobre a objetividade, a mesma sofre critica por parte da doutrina, fundamentada no entendimento de que o código trata a testemunha de forma objetiva, o que é um erro, haja vista, não ser possível excluir da pessoa da testemunha sua natureza enquanto ser humano, com suas vivências e experiências. Isso levanta a questão sobre a falibilidade do testemunho. Conforme observa Altavilla (1946, Pág. 54.) A testemunha não se define pelo texto do seu depoimento, mas do que é em si mesma, na sua qualidade de ser humano, sujeita a inúmeros fatores que entram na sua formação físico-psíquica-social. As influências internas ou externas fazem de si um agente da verdade ou um elemento pernicioso e confuso na engrenagem processual. 1.8. O RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS Segundo Nucci (2017) o reconhecimento é o meio de prova em que uma pessoa comprova como certa a identidade de alguém ou qualidade de uma coisa. Para Avena (2017) reconhecimento abrange não somente vitimas ou testemunhas, como também acusados, numa pratica de identificação de um terceiro. Já Aranha (2016) explica que o reconhecimento é a confrontação entre elementos antigos e atuais que transportam a um juízo de identidade. Lopes (2017) explica que tudo que se pode perceber é reconhecível, ou seja, só existe reconhecimento daquilo que é percebido pelos sentidos. Os sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato) são a forma em que obtemos informações do meio em que nos encontramos e essas informações são levadas e processadas pelo o sistema nervoso central. Dentro do procedimento processual penal o sentido mais conceituado é o visual, porém, o código se cala aos reconhecimentos dependentes dos outros sentidos. Para Filho (2013) a prova derivada do reconhecimento é o meio mais falho entre todo, mesmo com a existência de um procedimento prévio para o seu cumprimento.Tal entendimento se confirma quando se considera as problemáticas que podem acontecer com 29 este meio de prova tais como: a ação do tempo, disfarce, má condições de observação, erros por semelhança, etc. O reconhecimento não se restringe apenas a pessoas, sendo aplicado também para coisas e sua previsão é encontrada nos artigos 226 a 228 do código de processo penal, podendo acontecer tanto na fase pré-processual, quanto na fase processual. Segundo Lopes (2017) apesar de possuir uma previsão legal o ponto mais controverso é o não cumprimento do previsto por parte de magistrados e delegados de policia. Ainda sobre esse ponto destaca Lopes (2017) o quanto é perigoso o não respeito a previsão do dispositivo legal, fato este constatado quando o juiz inquere a testemunha ou vitima com a seguinte afirmação “ reconhece o réu ali presente como sendo o autor do fato”, essa arbitrariedade por si só já configura o total desrespeito a formalidade do ato probatório, que além de não respeito as regras processuais ainda fere o direito de não produção de provas contra si mesmo. O inciso I do artigo 226 do código de processo penal trás o seguinte texto “ A pessoa que tiver que fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deve ser reconhecida”. Conforme Nucci (2016) o procedimento de reconhecimento se inicia com o convite para a pessoa que fará o reconhecimento para que a mesma descreva a pessoa a ser reconhecida. Isso se dá para que o Magistrado possa atestar que o reconhecedor possui lembranças suficientes sobre o possível culpado, “por exemplo se descrever que a pessoa tem dois metros de altura, não pode, em seguida, reconhecer o autor do crime como um anão”. Posteriormente conforme prevê o inciso II do artigo 226 do código de processo penal, a pessoa a ser reconhecida deve ser colocada ao lado de outras, com características semelhantes, quando possível, e então o reconhecedor é solicitado a indica-lo. Tal procedimento é difícil para o reconhecedor conforme observa Nucci (2016) o reconhecedor precisa realizar um processo de comparação pelo qual vai buscar em sua consciência a imagem daquele que praticou o ato delitivo e a quem possui relevância no processo. Independente de uma vitima ou testemunha é preciso encontrar um padrão de confronto para retirar a identidade correta ou de se colocar em completa duvida, sendo incapaz de proceder com o reconhecimento. Ainda sobre destaca Nucci (2016) que a expressão “se possível” do artigo 226, inciso II, diz respeito ao requisito de colocação de pessoas semelhantes entre a pessoa a ser reconhecida, não guardando ligação com exigência de se ter varias pessoas lado a lado umas as outras. Não se pode realizar o reconhecimento de forma individualizada, pois se assim o fosse, não estaria constituído um reconhecimento, mas sim um testemunho. 30 Destaca Lopes (2017) que o código não dispõe sobre o numero máximo de pessoas para o reconhecimento, mas trás um número que não seja inferior a 5 (cinco), ou seja, quatro pessoas mais o imputado, buscando assim uma redução na margem de erro e maior credibilidade ao procedimento. Quanto aos traços físicos semelhantes, se deve buscar o menor nível de indução possível, para garantir isso o Magistrado deve observar entre as pessoas que comporão o reconhecimento atributos como porte físico, estatura, pele e cor de cabelo, etc. As vestimentas também necessitam de atenção por parte do Juiz, as mesmas não devem ter diferenças gritantes. Segundo Lopes (2017) observar essas formalidades garantem ao instrumento probatório do reconhecimento maior credibilidade, qualidade e confiabilidade ao sistema judiciário pátrio. É possível que o reconhecedor possa de alguma forma ter receio em realizar o procedimento. Nestes casos o inciso III do artigo 226 do código de processo penal prevê que se deve isolar o reconhecedor da pessoa a ser reconhecida. Sobre este tema explica Nucci (2016, Pág. 293): O crescimento do crime organizado e o fortalecimento do delinquente diante da vítima e da testemunha fazem com que o Estado garanta fiel aplicação da lei penal, protegendo aqueles que colaboram com a descoberta da verdade real. Assim, havendo fundamento plausível, é preciso que a autoridade policial – trata-se do reconhecimento na fase extrajudicial neste caso – providencie o isolamento do reconhecedor. Cumpre mencionar que tal regra já se tornou habitual nos processos de reconhecimento, o que deflui natural, em nosso entender, pelo aumento da criminalidade e da violência com que agem os delinquentes. Ressalta-se que a proteção acima citada, só se aplica a fase extrajudicial. Na fase judicial, por força do paragrafo único do artigo 226, não existe essa possibilidade. Em decorrência desta previsão a doutrina se divide quanto ao tema. A favor da temática justifica Espindola Filho (1960, Pág. 234) E, apenas, quando o reconhecimento dever efetivar-se perante o julgador, quer na fase da instrução criminal, quer na do plenário de julgamento, não haverá motivo de providenciar desse modo, pois o ambiente em que se realiza o ato e a presença do juiz constituirão elementos de garantias suficientes, para nada temer o reconhecedor. Contrário a este posicionamento, destaca Nucci (2016) que o disposto no paragrafo único não condiz com a realidade enfrentada no Brasil atualmente, não é racional e nem se 31 encontra justificativas para se obrigar a vitima ou a testemunha ficar frente a frente com um possível autor de pratica delitiva, onde as primeiras precisaram apontar o dedo ao segundo e possivelmente o indicar como o culpado. Procurando por um fim a questão explana Nucci (2016, Pág. 294) Portanto, cremos que o referido art. 226, parágrafo único, do CPP, deve ser interpretado em sintonia com as demais normas existentes, no processo penal brasileiro, inclusive sob o espírito de proteção trazido pela Lei 9.807/99, permitindo até mesmo a troca de identidade de pessoa ameaçada, para que seu depoimento seja isento e idôneo. Defendemos que a leitura deste dispositivo deve ser no sentido da possibilidade do reconhecimento em juízo ser feito, com ou sem o isolamento do reconhecedor, conforme as condições locais, enquanto, na policia, isolamento é obrigatório. Por fim o inciso IV do artigo 226 do código de processo penal prevê o fim do procedimento probatório com a redução a termo dos acontecimentos. Além do reconhecedor é preciso a presença e de duas testemunhas durante o reconhecimento, mais a autoridade policial. 1.8.1. O Peso do Reconhecimento Enquanto Prova Como um meio de prova o reconhecimento possui seu peso, ou seja, dentro do processo ele pode ser utilizado como base de fundamentação para confirmação da materialidade e autoria de pratica delitiva. Porém, cabe ressaltar que tal prova pode ser produzida na primeira fase da persecução criminal, não sujeita assim ao crivo do contraditório, mesmo com a possibilidade de confirmação por parte das testemunhas presentes durante a oitiva, não deve ser o reconhecimento a única prova para confirmar um prisão ou a abertura de uma ação penal. Sobre o peso o reconhecimento enquanto meio probatório adverte Nucci (2016, Pág. 294) [...] Se testemunhas podem mentir em seus depoimentos, é natural que reconhecedores também podem fazê-lo, durante o reconhecimento de alguém, Além disso, é preciso contar com o fator de deturpação da memória, favorecendo o esquecimento e proporcionando identificações casuísticas e falsas. O juiz jamais deve condenar uma pessoa única e tão somente com base no reconhecimento[...] 32 CAPÍTULO 2 2. INTRODUÇÃO A NEUROCIÊNCIA O cérebro é sem sombra de duvidas a estrutura mais complexa conhecida no mundo, sendo ele que determina quem nós somos ou seremos. O planeta terra possui cerca de 4,5 bilhões de anos aproximadamente, e a primeiraforma de vida, segundo os biólogos seguidores das ideias evolucionistas, surgiu em menos de um bilhão de anos após a data estimada. Acredita-se que está forma de vida era unicelular procariótica, ou seja, não possuía um núcleo celular. O que mais se destaca nessa data é que os pesquisadores geofísicos acreditam que o resfriamento do planeta coincide com a existência da primeira forma de vida (AMTHOR, 2016, Pág. 12) Não se sabe ao certo os motivos que possibilitaram a evolução da vida, mas acredita- se que se passou mais de um bilhão de anos para o aparecimento de uma nova forma de vida, as eucarióticas ou vida com núcleo celular. E mais um bilhão de anos para que as eucarióticas evoluíssem para uma estrutura multicelular. E por fim, mais um bilhão de anos para que enfim viessem a surgir os primeiros humanos. (AMTHOR, 2016, Pág. 12) Segundo AMTHOR (2016) quando se trata de organismos multicelulares a ambientação das células internas do grupo é diferente do conjunto de células externas. Por conta disso foi necessário que as células desenvolvessem um modo de se aprimorar e se comunicar. Compreender esse aprimoramento é essencial para que entenda como o Sistema Nervoso funciona. Explica AMTHOR (2016) que para o desenvolvimento da vida multicelular era preciso que as células obtivessem um grau de especialização dentro do conjunto celular. Sendo assim, as células eucarióticas se desenvolveram para regular a manifestação do DNA de formas distintas entre as internas e externas. Durante este processo substancias eram secretadas como uma forma de sinal para que células próximas respondessem. Conforme diz Darwin, a existência da vida só é possível quando acontece uma adaptação biológica dos organismos que compõem o ambiente, sendo assim, esclarece AMTHOR (2016) que alguns organismos multicelulares possuíam uma vantagem em relação aos outros por conseguirem se mover de forma mais rápida se valendo dos flagelos. Porém, ao se analisar o conjunto, não é possível que um organismo sobreviva com diferentes células, em diferentes lugares, com flagelos se movendo de forma desalinhada. Para corrigir esse 33 desequilíbrio um grupo de células se especializou em redes de comunicação. A comunicação entre redes se dava por meio de sinalização elétrica entre as redes internas quanto externas. Com o passar do tempo bolas de células começaram a evoluir para organismos mais complexos e passaram a ter neurônios tantos especializados quanto sensoriais. Destaca AMTHOR (2016, Pág. 15) “Cerca de meio bilhão de anos atrás, invertebrados, como os insetos, rastejaram para a terra firme para devorar as plantas que cresciam lá há milhões de anos. Mais tarde, alguns peixes pulmonados vertebrados se aventuraram na terra por breves períodos, quando poças de maré e outros corpos rasos de água secaram, forçando-os a se contorcerem para chegar a uma poça maior. Alguns gostaram tanto que acabaram ficando na terra quase o tempo todo e se tornaram anfíbios, alguns dos quais se transformaram mais tarde em répteis. Alguns dos répteis deram origem aos mamíferos, cujos descendentes somos nós.” O cérebro humano atual é conhecido como “neocórtex”, isso se dá por ser uma manifestação nova entre os mamíferos. Antes da existência dos mamíferos os animais existentes tais como répteis e pássaros possuíam um cérebro menor com poucas áreas que se ocupavam de processar informações sensoriais e gerenciar comportamentos. Observa AMTHOR (2016) que a evolução no cérebro dos mamíferos se deu pelo aumento exponencial dos circuitos específicos, passando processar além das informações sensoriais e comportamentais, também as motoras. Os neurocientistas não sabem precisar em qual momento o cérebro passou a crescer ao tamanho atual, considerando que espécies anteriores se saiam muito bem com cérebros menores, além do fato de que o aumento acaba gerando um maior esforço do organismo como pode ser visto no metabolismo. O cérebro humano corresponde a apenas 5% do peso total corporal, porém, ele sozinho consome cerca de 20 % do metabolismo corporal. 2.1. TEORIAS DA FRENOLOGIA E TEORIA DO CAMPO AGREGADO No inicio da história das neurociências muitas teorias foram propostas com o intuito de explicar como o cérebro funciona. Dentre as teorias duas ganharam maior destaque, a teoria da frenologia e a teoria do campo agregado. 34 A teoria da frenologia surgiu em 1796, com o médico austríaco Franz Joseph Gall, antes, imperava o conceito de que as funções cerebrais tinham por base o pensamento filosófico de Galeno. Com o apoio da igreja católica as ideias de Galeno se difundiram por toda a Europa, o filosofo apresentou a doutrina ventricular segundo a qual o cérebro só exercia uma função, sendo esta exercida pelos ventrículos cerebrais. Galeno conceituava que eram regiões puras e como existiam três deles representavam a santíssima trindade manifesta no homem. Frenologia etimologicamente deriva das palavras phenos, que significa mente, e logos, que significa estudo. A teoria da frenologia buscava explicar o localizacionismo cerebral. Gall dividiu sua explicação em três partes, primeira Gall propõe que as faculdades intelectuais e morais dos seres humanos são a eles inatas, sendo assim, sua exteriorização necessita da organização cerebral. Segundo Gall diz que o cérebro é composto por subestruturas, cada qual responsável pela regulação de funções mentais especificas tais como o comportamento, as emoções e o pensamento. Terceiro Gall indicou que o desenvolvimento cerebral produz alterações na caixa craniana, mudando sua forma. A teoria do Campo Agregado vai ao outro extremo no que diz respeito ao funcionamento do cérebro. Segundo esta teoria o cérebro não é tem sua funções divididas em outras estruturas, mas é um único grande circuito neuronal e que suas capacidades e limites são definidos pelo seu tamanho total. Apesar de ser considerado um marco para a história das neurociências Gall teve diversas acusações contra ele levantadas, tais como pseudociência e charlatanismo. Em grande parte essas criticas derivaram da impossibilidade Gall em comprovar suas hipóteses por falta de robustas evidências cientificas. Segundo AMTHOR (2016) as teorias relacionadas ao campo agregado acreditavam que as estruturas internas do cérebro não possuíam grande importância ou relevância para a compreensão do seu funcionamento. 2.2. O SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso é formado pelo sistema nervoso central, que tem como componentes o cérebro, a retina e a medula espinhal, e o sistema nervoso periférico, composto por axônios motores e sensoriais que fazem a ligação do sistema nervoso central aos órgãos e 35 membros. Ainda sobre o sistema nervoso periférico faz parte do mesmo o sistema nervoso autônomo, responsável pela regulação dos processos de digestão e frequência cardíaca. Segundo observa AMTHOR (2016, Pág. 23) “A estrutura mais complexa do universo (que conhecemos) é a massa de 1,36kg dentro do crânio chamada cérebro. Ele consiste de cerca de 100 bilhões de neurônios, que é mais ou menos a mesma quantidade de estrelas na nossa Via Láctea e o número de galáxias no universo conhecido.” Justamente por ser uma maquina extremamente complexa o cérebro é composto por diversas partes, e cada uma delas com as suas correspondentes subdivisões e que vão se subdividindo até se chegar aos neurônios que são sua estrutura mais básica. Neocórtex deriva de duas palavras, a primeira vem de Neo que significa novo e a segunda vem de Córtex que significa casca ou escudo. De acordo com AMOTHOR (2016) apesar de parecer, em primeira vista uma massa tridimensional com ranhuras, o neocórtex é como uma grande folha de tecido bem fino. Possuindo uma área de cerca de 0,140 metros quadrados. A maior diferença dos mamíferos para com os outros animais se encontra justamenteno tamanho do neocórtex. Sendo o do ser humano tão grande que vela quase todo o cérebro, ficando a mostra uma parte protuberante atrás chamada de cerebelo. É justamente por seu tamanho e quantidade de ligações que ele é o responsável pela maior parte das atividades mentais de natureza complexa e as quais nos definem como seres humanos. As ranhuras visíveis no neocórtex são denominadas de sulcos e o topo entre os sulcos são chamados de giros. Destaca AMTHOR (2016) que não existe uma diferença digna de destaque entre os tecidos dos sulcos e giros. No cérebro é comum se ter uma maior interação entre áreas próximas umas as outras, fato este que não impede uma comunicação com áreas mais distantes. Dentre as características mais marcantes ao se observar o cérebro é que o mesmo é composto de dois lobos, que são extremamente parecidos e são denominados de hemisférios direito e hemisfério esquerdo. O primeiro possui maioria de entradas do lado esquerdo do corpo, sendo responsável por este lado e também é melhor no reconhecimento de padrões visuais. Já o segundo possui maioria das entradas do lado direito do corpo, e além de cuidar deste lado também possui maior especialização em raciocínio e regras analíticas e linguagem. Aduz AMTHOR (2016) “Na maioria das tarefas, os dois hemisférios usam uma estratégia de dividir e conquistar, na qual o hemisfério esquerdo processa os 36 detalhes e o direito absorve o cenário geral. Os dois hemisférios estão conectados pelo maior trato de fibras do cérebro, o corpo caloso, que contém 200 milhões de fibras.” O neocórtex é dividido em quatro partes, chamadas de lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e lobo temporal. O primeiro cuja a nomenclatura explica se encontra frente do crânio, sua extensão vai da frente do crânio até um sulco chamado de sulco central. Já o giro é o córtex motor primário. A parte anterior ao lobo frontal é denominada de córtex pré-frontal. O lobo frontal esta ligado a expressão de comportamentos. Sendo o lobo pré-frontal o responsável pela maior parte dos aspectos de planejamento abstrato. Existe uma parte do lobo pré-frontal que é nomeada de córtex pré-frontal dorsolateral que possui enorme grau de importância e relação com a memória operacional. No centro do córtex pré-frontal dorsolateral se encontra o córtex pré-frontal ventromedial que guarda grande relação com o processo de tomadas de decisões e analise de riscos. O segundo é titulado de lobo parietal é quem recebe as informações de natureza sensórias capitadas pela pele e língua, bem como é o responsável pelo processamento dessas informações vindas de outros lobos ligados aos olhos e orelhas. O terceiro é o lobo Occipital, localizado na parte de trás do cérebro sendo o responsável pelo processamento das informações visuais, que são transmitidas ao cérebro pelas retinas por intermédio do tálamo. Conforme AMTHOR(2016) a existência de um lobo inteiro destinado aos processos visuais, demonstra a importância de se ter uma ampla precisão visual e de seu destaque entre os demais sentidos. O quarto e ultimo lobo é conhecido como Temporal, é neste lobo que ocorre a combinação das informações visuais e auditivas. Ainda sobre o sistema nervoso, mais especificamente abaixo do neocórtex, se encontra o Tálamo. De todas as formas de interação do córtex com o restante do cérebro a mais utilizada é o Tálamo. Este ultimo, juntamente com o hipotálamo, responsável por controlar as funções homeostáticas do corpo, formam o que é conhecido como diencéfalo. Explica AMTHOR (2016, Pág. 50) “A raiz da palavra tálamo vem do grego (tholos) e está relacionada ao hall de entrada de uma construção, então você pode pensar no tálamo como a entrada para o córtex. Praticamente todos os sinais dos sentidos são transmitidos por meio do tálamo, assim como os sinais de outras áreas subcorticais. Muitas áreas do neocórtex também se comunicam umas com as outras por meio do tálamo.” 37 2.3 O SISTEMA LIMBICO Aduz AMTHOR (2016) que logo abaixo do neocórtex existem diversas áreas cerebrais subcorticais de grande importância, mas dentre todas, a mais importante é a rede de núcleos filogeneticamente antigos chamada de Sistema Límbico. Ao se dizer que o sistema límbico possui núcleos filogeneticamente antigos isso significa que estes núcleos existiram em espécies muito antigas que os mamíferos tais como répteis e pássaros. Segundo AMTHOR (2016, Pág. 52) “O sistema límbico evoluiu para incorporar a memória no controle geral de comportamento pelo hipocampo e pela amígdala. Essas estruturas de memória interagem não só com o neocórtex, mas também com um tipo mais antigo de córtex chamado córtex cingulado, ou, às vezes, de mesocórtex, um tipo de córtex que evoluiu como um controlador de alto nível, antes do neocórtex, para controlar o comportamento.” 2.4 O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO As divisões de todo o sistema nervoso estão baseadas nas funções dos neurônios. Estes que são células com a característica de processamento de informações. Cumpri destacar que dentre todos os sistemas nervosos de todos os seres tem basicamente quatro tipos de células funcionais básicas. A primeira são os neurônios motores, também conhecidos como efetuadores tem como função primordial a contração muscular, mediar comportamentos e estimulação de órgãos e glândulas. As segundas são os neurônios sensoriais, que tem como função básica informar todo o cérebro sobre o ambiente tanto interno quanto externo. As terceiras são os neurônios associativos, são o maior número dentre os tipos e tem como função de reconhecer e processar as informações oriundas dos sentidos, após isso, contrapor as informações com as memórias existentes se valendo disso para planejar e executar determinado comportamento. As quartas são chamadas de neurônios de comunicação e são os responsáveis por transmitir as informações entre as diversas áreas do cérebro. Explica AMTHOR (2016, Pág. 18) “O que realmente distingue o sistema nervoso de qualquer outro grupo de células funcionais é a complexidade das interconexões neurais. O cérebro humano tem cerca de 100 bilhões de neurônios, cada um com um conjunto único de cerca de 10 mil entradas sinápticas de outros neurônios, produzindo 38 cerca de um quadrilhão de sinapses. O número de estados distintos possíveis desse sistema é praticamente incontável.” Já o neocortex, que é a parte que é geralmente vista do cérebro possui um conjunto de neurônios que formam um perímetro neural complexo denominada de minicoluna, sendo a mesma replicada milhões de vezes na superfície cortical. O cérebro é composto por diversas áreas especializadas que estão associadas a sentidos próprios tais como audição, motora e visual. A atividade das variadas áreas do cérebro não é dependente de uma estrutura especializada, como as minicolunas, mas sim das entradas e saídas das ligações. Observa AMTHOR (2016) ainda que de existir uma similaridade entre o córtex auditivo, visual e motor, o primeiro só é auditivo por receber a informação pelas entradas cóclea e por enviar essas informações auditivas para áreas associadas que a processaram desta forma. Diversas partes do cérebro também são constituídas de circuitos e módulos repetidos, mesmo sendo localizados em locais distintos. Dentre os diversos dois acabam por ganhar um maior destaque, a Medula Espinhal e o Cerebelo. O primeiro é um conjunto de circuitos extremamente similares que tem sua estrutura repetida por toda a sua extensão, da borda ao topo da medula. O segundo é mais visível uma vez que fica mais protuberante na parte traseira do neocórtex, sendo o seu conjunto de circuitos responsável pelo sistema motor, ou seja, pelo seu planejamento, execução e equilíbrio. 2.5 A MEMÓRIA Na ideia de IZQUIERDO (2011, Pág. 18) “Memória” é todo o processo de aquisição,formação, conservação e evocação de informações por parte do cérebro. O primeiro também é conhecido como aprendizagem, uma vez que só é possível reter aquilo que foi aprendido. A ultima é reconhecida como lembrança ou recuperação, haja vista, se ser possível se lembrar do que foi armazenado e aprendido. Pode-se dizer que só existimos por conta do que lembramos, pensando sob a concepção do ser não é possível se fazer o que não conhecemos, nem transmitir o que não sabemos, em outras palavras aquilo que não temos como memórias. Analisando a memória em um aspecto amplo somos o que somos por conta do que lembramos, a distinção entre os indivíduos se faz pelo conjunto de memórias construídas por cada um, é o que torna cada um único no mundo. 39 Durante a vida a memória de cada individuo escolher o que lembrar e o que esquecer, essa totalidade de memórias é chamada de personalidade. Conforme IZQUIERDO (2011, Pág. 19) “Um humano ou um animal criado no medo será mais cuidadoso, introvertido, lutador ou ressentido, dependendo de suas lembranças especificas mais do que de suas propriedades congênitas. Nem sequer as memórias dos seres clonados (como gêmeos univitelinos) são iguais; as experiências de vida de cada um são diferentes. Uma vaca clonada de outra vaca terá mais ou menos acesso à comida do que a vaca original, ficará prenhe mais ou menos vezes, seus partos serão mais ou menos dolorosos, sofrerá mais a chuva ou o calor que a outra; e as duas não serão exatamente iguais, exceto pela aparência física.” A abundância de memórias é o que torna o ser em indivíduo, mas assim como a diversidade de animais o individuo não consegue viver muito bem sozinho, necessitando estar em um grupo. Esse convívio em grupo desenvolve no individuo a habilidade de comunicação, habilidade esta extremamente necessária para a felicidade, satisfação e segurança. Para que seja possível existir uma comunicação é preciso de indivíduos de um grupo compartilhem laços, estes geralmente ligados a afinidades e cultura. Esse compartilhar de memórias é o que define os povos, países e civilizações. Esta soma é chamada de história. 2.6 NOÇÕES SOBRE OS NEURÔNIOS Para melhor compreender a memória é preciso um estudo prévio sobre os neurônios, uma vez que eles são os responsáveis por armazenar, evocar e modular a memória. Acredita- se que o no cérebro humano existam cerca de oitenta bilhões de neurônios. Afirma IZQUIERDO (2011, Pág. 20) que os neurônios possuem prolongamentos e que estes por vezes podem possuir vários centímetros, é por meio destes prolongamentos que os neurônios constituem redes e conseguem se comunicar uns com os outros. Os prolongamentos que conseguem emitir informações na forma de sinais elétricos com outros são chamados de axônios. E sobre os axônios que se colocam essa informação são chamados de dendritos. Ainda sobre o tema, destaca IZQUIERDO (2011, Pág. 20) “ A „transferência” de informação dos axônios para os dendritos é feita através de substâncias químicas produzidas nas terminações dos axônios, denominadas de neurotransmissores. Os pontos onde as terminações axônicas mais se aproximam dos dendritos se chamam sinapses, e são os 40 pontos reais de intercomunicação de células nervosas. Do lado dendrítico, nas sinapses, há proteínas especificas para cada neurotransmissor, chamadas de receptores” 2.7. TIPOS E FORMAS DE MEMÓRIAS As memórias podem ser classificadas de diversas formas, como quanto a sua função, quanto ao tempo e quanto ao conteúdo. Apesar destas classificações as que recebem maior destaque a atenção dos pesquisadores são as memórias de longa e curta duração. Para alguns a memória de curta duração nada mais seria do que o gatilho para o processo de formação das memórias de longa duração. Porém, resultados mais atuais têm direcionado para a existência de mecanismos distintos entre estas memórias, o que as fazem funcionar de forma independente bem como em estruturas diversas. O processo de construção das memórias não se limita ao momento em que se aprende algo ou da lembrança de um fato especifico. Existem também as memória de curto prazo, também conhecidas por memória de trabalho, para alguns pesquisadores o nome mais apropriado para essas memória seria central de gerenciamento. A memória de trabalho não possui apenas capacidade de armazenamento de informações, ela existe para contextualizar o sujeito e gerenciar o fluxo de informações que percorrem o cérebro. Segundo JUNIOR e FARIA (2015, Pág. 4) “A duração da memória de trabalho é ultrarrápida porque ela nos permite armazenar uma informação apenas enquanto estamos fazendo uso dessa mesma informação, ou seja, apenas enquanto certo trabalho está sendo realizado ou enquanto precisamos elaborar determinado comportamento. Quando queremos encomendar uma pizza, por exemplo, olhamos o número no imã da geladeira e conseguimos guardá-lo tempo suficiente para que possamos chegar ao telefone e discar o número. Quando a informação temporariamente armazenada deixa de ser útil, ela é descartada e, normalmente, esquecida. Portanto, é provável que esqueçamos o número de telefone da pizzaria alguns minutos após termos discado. A memória de trabalho também entra em ação quando estamos conversando com alguém e, para que possamos encadear as ideias para que a conversa tenha sentido, temos que nos lembrar (temporariamente) da última e da penúltima palavra que foram ditas para que a frase e, posteriormente, a conversa façam sentido. Ao fim do diálogo, normalmente nos esquecemos da maioria das palavras e nos lembramos somente de seu conteúdo” Já a memória de longo prazo, também conhecida por memória referencial ou remota, é a que tem o poder de arquivamento e consolidação, podendo durar por tempo 41 indeterminado. Para uma melhor compreensão as memórias de longa duração podem ser divididas em: Memórias Declarativas/Explicitas e Memórias Não Declarativas/Implícitas. As primeiras são aquelas que ficam facilmente disponíveis na consciência, podendo ser evocadas por palavras. Já a segunda são memórias que estão em um nível mais profundo da consciência podendo ser evocadas por ações. Conforme JUNIOR e FARIA (2015, Pág. 6) “É na memória declarativa que estão "guardados" os episódios de nossa infância, as imagens de uma viagem que fizemos há muito tempo e os conhecimentos adquiridos na escola. Sobre o conteúdo da memória declarativa, podemos subdividi-la em duas categorias: (a) memória episódica, que diz respeito a experiências passadas, a "episódios" de nossas vidas (uma viagem, um momento muito triste, o primeiro beijo etc.). A memória episódica guarda informações relacionadas a um determinado momento no tempo, sendo, portanto, responsável pela nossa autobiografia; (b) memória semântica, que diz respeito a conhecimentos não relacionados a tempo e espaço específicos. Trata-se de uma memória que não guarda momentos, mas sim fatos (e.g. o significado das palavras, os conhecimentos de biologia, as regras gramaticais de um idioma, símbolos etc.).” 2.8. FALSAS MEMÓRIAS Com o passar dos anos, muitos estudiosos tem tomado interesse pelo estudo das falsas memórias, isso quer dizer, buscam compreender o porquê acabamos lembrando de fatos não ocorreram e qual o processo envolvido nisto. Estimulados pelas consequências de tal fato nas áreas clinicas e legais os estudos quanto às falsas memorias tem crescido com mais intensidade na última década, destacando-se no campo da Psicologia Experimental Cognitiva. No âmbito legal o crescimento do interesse pelas falsificações da memória está relacionado a indagações quanto à capacidade das pessoas em poderem relatar de forma fidedigna situações testemunhadas. Acontecimentos em infrações penais ligadas a vitimas de abusos físicos, sexual ou psicológicos, o reconhecimento ocular, entre outras, aumenta ainda
Compartilhar